Meu Preço - Capítulo Três

Um conto erótico de Samuel
Categoria: Gay
Contém 3404 palavras
Data: 18/11/2022 23:58:05

**CAPÍTULO TRÊS ***

O sol entra pela janela do meu quarto. Meus olhos ardem de sono, além do excesso de choro.

Ouço uma batida à porta.

— Entre. — Ouço minha voz sair quase falhando.

— Bom dia, querido. — Minha mãe entra no quarto com uma bandeja de café da manhã. — Você precisa comer.

Nem sei que horas comi ontem e, mesmo assim estou sem fome.

— Não quero.

— Vai ficar doente, filho, se não comer. E se esse homem forçar alguma coisa? Você tem que estar forte para se defender.

Não deixa de ser uma verdade.

Pego a bandeja e começo a comer o pão feito em casa, na companhia de uma xícara de café fresquinho.

Ele vai ter que me amarrar se for... Nem quero pensar, porque não vai ser fácil. Só porque é bonito, não quer dizer que vou me derreter por ele.

Maldito seja!

— Soube alguma coisa do Lucas? — Tento mudar de assunto para evitar esses pensamentos inúteis.

— Quer mesmo saber?

Não, mas preciso... Preciso muito ocupar a minha cabeça.

— Acho que esse é o meu castigo por magoar um cara tão gentil como Lucas.

— Não, você está enganado, querido. Vocês dois são as vítimas aqui, o culpado disso tudo é o seu pai. — Ela coloca um fio de cabelo solto atrás da minha orelha.

— Não o culpe, mãe.

— Como não se ele é o culpado de tudo? Mentiu sobre o emprego e ainda é viciado em jogos. Como não percebi aquele monte de dinheiro? — Ela se martiriza.

Nisso ela tem razão, mas ainda não consigo culpar o meu pai. A única coisa que penso é que farei tudo pela vida dele. Não suportaria vê-lo morrer na minha frente, sabendo que posso ser a solução dos problemas.

— Não foi ele quem me envolveu na história, foi aquele homem horrendo, maldito.

Ele me quer. Ai, que ódio dos meus pensamentos que sempre voam para um lugar onde não quero estar!

Se aquele demônio me tocar, vou vomitar na cara dele.

Pela Santíssima Trindade, vou morrer.

Por que não tenho um ataque do coração agora? Porque seu pai vai morrer se ele não tiver você. Obrigado, subconsciente de merda.

— Verdade, não sabe o quanto o odeio. — Minha mãe rebate. Será que está tendo os mesmos pensamentos sangrentos que os meus? Acho que ela ajudaria com o corpo.

Quem eu quero enganar? Não mataria nem uma mosca, ainda mais uma pessoa.

— Também não gosto dele, mãe. Mas me fale sobre o Lucas.

Estou ficando irritado só de me lembrar daquele homem perverso.

— Ele destruiu a festa inteira, gritou com os pais dele e deu um soco no primo por ter falado alguma coisa sobre você.

Fecho os olhos imaginando a cena, isso não se encaixa com o Lucas que conheço.

— O que foi que eu fiz, mãe? — Cubro o rosto com as mãos.

— Fez o certo. Por mais doloroso que tenha sido, foi melhor assim. Imagina se ele se envolvesse nessa história? Ia sofrer muito ou faria uma besteira. Esse homem seria capaz até de matá-lo.

Me encolho de medo pelo Lucas, não suportaria vê-lo ferido ou morto.

— Acho que doeria menos se ele soubesse que não estou indo por vontade própria, e que não transei com ninguém.

Pensei nisso a noite toda, mas sempre vinha o pensamento de ver o Lucas em perigo, então desisti.

— E sobre isso, fiquei pensando... — Ela me olha e suspira, ganhando coragem.

Não é o momento para ter uma conversa sobre sexo, não quando minha cabeça está fervilhando por causa daquele homem que saiu do inferno. Mas é a minha mãe, e acho que seria bom ter uma conversa franca com ela.

— Mãe, a gente nunca, eu nunca... Sabe, nós nunca transamos — digo envergonhado.

— Caramba, Samuel, mas não faz dois anos que estão juntos?

Não entendo a surpresa dela, não sou o tipo de garoto assanhado. Me ajeito na cama, sem graça, até um pouco ofendido.

— Sim, mas queria esperar o casamento. — Sinto minha bochecha quente de vergonha.

— E falou justo isso para ele, que esperou tanto? Coitado, ele pensa que você se entregou para outro homem em vez dele.

Assinto.

— O que poderia dizer? A senhora ouviu quando ele dizendo que não importava? Nada o afastaria de mim se não fosse algo sério. Tipo: amar outra pessoa.

— Sinto tanto, filho.

— Eu também.

Ouvimos batidas fortes na porta. Parece que quinta-feira voltou a acontecer.

— Já? — Me levanto e vou me trocando rapidamente. — Merda!

— Assim que Lucas foi embora, seu pai saiu para conseguir o restante do dinheiro.

— Ele não desistiu? — Fico surpresa.

— Não, ainda temos uma chance e vamos lutar por você, querido.

As batidas aumentam.

— Melhor abrirmos, antes que ele arranque a porta — afirmo, terminando de arrumar o cabelo.

Chego à sala e vejo minha mãe abrir a porta.

Observo a forma imponente do homem abrindo espaço para entrar. Ele está de terno azul-escuro, com alguns botões abertos no peito, e o mesmo sorriso diabólico: aquele típico de vencedor.

Não deixa de ser bonito, mas sua alma continua negra e feia.

— Vim buscar o que é meu.

— Entre. — Minha mãe dá espaço para ele passar. O homem vem em minha direção, com seus olhos pecaminosos me analisando. Olho feio para ele, não vou abaixar a cabeça.

— Bom dia, anjo. — Sua voz derrama sensualidade. Será que faz de propósito?

— Não me chame assim.

Ergo o queixo deixando claro que não gosto. Ele apenas ri.

— O que vai fazer com o meu filho? — Minha mãe pergunta diretamente, como se fosse uma intimação. Fico de boca aberta.

— Bom, minha senhora, não acho que eu devo explicações do que farei com o que é meu, mas para te deixar mais tranquila, e estou de bom humor, eu digo: vou me casar com ele.

— O quê? — dizemos em uníssono.

— Não vou me casar com você — afirmo, enfrentando-o.

— Claro que vai. Esqueceu que será meu? Fará o que eu mandar.

Ele não é só autoritário e egocêntrico. É um tremendo filho da puta!

— Vai sonhando. — Cruzo os braços para deixar claro que não será nem um pouco fácil me controlar.

— Rebelde? Hum, assim que eu gosto — diz, com desejo nos olhos.

— Cretino.

Ele dá de ombros.

— Já me chamaram de coisas piores.

— Tipo, demônio?

— Não, essa é a primeira vez, mas gostei.

— Idiota — resmungo no momento em que ele lança um sorriso atrevido para mim.

— Onde está o seu marido? — questiona, falando com a minha mãe.

— Saiu, e você pode esperar lá fora se quiser.

Mesmo que minha mãe aja curta e grossa, infelizmente ainda consegue arrancar mais risos dele.

— Não, vou esperar aqui mesmo. — Ele se senta no sofá e coloca os pés, exibindo seus sapatos caros na mesinha de centro. — E pode me servir um café forte sem açúcar, por gentileza?

Amargo como ele. Folgado.

Minha mãe fuzila-o com os olhos antes de ir para cozinha. Ela pode odiá-lo, mas jamais perderá o bom costume.

— Sente-se aqui. — Ele aponta o seu lado vazio no sofá.

— Não quero vomitar no seu terno caro.

Olho com desdém para ele, erguendo uma sobrancelha, mostrando que não me amedronta.

— Você é engraçado.

— E você é patético.

— Acho que podemos ser felizes no fim das contas. — Ele abre um meio sorriso.

Reviro os olhos, tentando ignorar aquele sorriso e olhar malicioso que estão presos à minha frente.

— É mesmo, é?

— Você é lindo.

Olho em sua direção, surpreso. Não estava esperando um elogio dele.

Dou um sorriso falso em troca.

— Pena que não posso dizer o mesmo.

Ele ri.

Minha mãe entra na sala e coloca uma bandeja de café na mesinha de centro, empurrando o pé dele do lugar.

— Obrigado, agora pode se retirar, estou gostando do papo com o seu filho — diz ele, ousado e sem noção.

Já disse que eu o odeio?

— Não vai me tratar assim dentro da minha casa, rapaz. Sinto muito por você, mas ficarei aqui.

Minha mãe senta no sofá de frente para ele e ainda se serve de uma xícara de café.

Essa é minha heroína.

— Por que quer se casar com o meu filho?

Não, mãe.

Estava indo tão bem, provocá-lo agora só vai piorar a situação...

— Porque eu posso.

Me sento ao lado dela no sofá, coloco um pouco de café na xícara.

Provo um gole. Estou com medo de que não desça bem.

— O que vai fazer com ele?

Cuspo todo o café de volta, tossindo.

O que minha mãe pensa que está fazendo? Meu Deus, me salve dessa vida triste!

Ele tira um lenço do bolso do terno e me entrega. Quase jogo de volta na cara dele; porém, estou todo babado. Preciso do maldito pano.

Cheira tão bem quanto ele. De onde sai esses pensamentos?

Ele volta a falar, como se eu não tivesse cuspido nos seus belos sapatos.

— Ninguém nunca te explicou o que se faz em um casamento? E, se a senhora não sabe, seu marido deve estar fazendo alguma coisa errada.

Odeio o jeito debochado dele.

Se não tem o que falar, mãe, não fale...

Imploro em pensamento para ela ficar quieta. Dizem que mãe tem sexto sentido com os filhos, desejo que isso realmente funcione agora.

— Mais respeito na minha casa, mocinho. Sei bem o que se faz em um casamento, só espero que não use a força com o meu Samuel.

Claro, mas é claro que isso não funcionaria, não comigo, não quando a vida é uma desgraça.

— Não sou assim, senhora, a não ser que ele queira.

Puta merda!

Nunca pensei em tantos palavrões. Ele consegue tirar o pior de mim.

— Já chega! — Fico em pé. — Você é um nojento, e a senhora, mãe, pare de fazer essas perguntas estranhas.

— Só não quero que ele te machuque. — Ela fala meio tristonha, como se fosse impedir caso ele realmente me force a fazer algo.

— Ele já me machucou.

O canalha ri. Maldito.

Ouço a porta se abrir, meu pai entra em casa.

— Ge, consegui mais um... — Meu pai fala, abrindo caminho, com tom de desgosto na voz assim que vê o homem em nossa casa. — E você já está aqui?

— Vejo que conseguiu algo. É o meu dinheiro? — Ele questiona com autoridade.

— Falta pouco para completar, se me der mais um tempo consigo o resto. — A voz do meu pai está esperançosa.

— O seu tempo acabou, e não aceito metade.

Sei, nesta hora, que ele só brincou com o nosso sofrimento. Ele sabia que meu pai não conseguiria o dinheiro, acho até que não aceitaria se fosse o

valor todo.

— Mas só faltam cinco mil, você nem precisa desse...

— Pai — Nego com a cabeça. Melhor ele não se humilhar, precisamos sair dessa com honra.

— Esse dinheiro é meu, e você deve ter se esquecido de que teria juros. Não achou que eu iria facilitar, achou?

Sabia, ele não aceitaria o dinheiro. Ele me queria desde que me viu, e ganhou.

— Você é um... — Meu pai fala, mas o cara o interrompe.

— Não vamos começar com os elogios, isso é um negócio e vocês perderam. Aceitem o fato de que o garoto é meu.

— Não sou um negócio, sou um ser humano! — protesto, em vão.

— Mesma coisa. — Dá com a mão, desdenhando, como se eu não fosse nada.

— Não leve o meu filho, por favor. — Meu pai implora. — Me leve, me mate, mas não o leve.

— Já passamos dessa fase, estamos em outro acordo. Agora me diga:

quanto quer mensalmente? — Continua, ignorando a dor que estamos sentindo.

— Não vou vender meu filho! — Meu pai berra, e minha mãe chora sentada no sofá. Ela sabe que não tem outra opção.

— Você já fez isso, ele me pertence. E isso quer dizer que você é um péssimo pai. — Joga na cara dele, como se tivesse direito de julgar alguém.

— Cale a boca, seu... Imundo! — Aponto o dedo na cara dele. — Precisa lavar a boca para falar do meu pai.

— Nossa, que selvagem. Chega a arrepiar.

Malícia escorre de sua boca, me deixando puto da vida.

Ele é dominador e sabe provocar, com certeza é o demônio em pessoa, mas não vou cair em sua lábia, mesmo que seja manso e doce.

— Vou matar você. — Minha mãe se levanta e olha nos olhos dele, vingativa.

Amo a minha mãe, sempre foi uma mulher forte e protetora. Espero poder um dia ser como ela.

— Vou esperar alegremente você tentar. — Ele se levanta do sofá, o qual há pouco estava sentado com toda calma do mundo. — Vamos, garoto.

Minha mãe me segura.

— Não dificulte as coisas, senhora.

— Calma, mãe, vai ficar tudo bem. — A única certeza que eu tenho, é que, no minuto em que sair por aquela porta, nada ficará bem. — Vou pegar as minhas coisas.

Ele olha para as minhas roupas com desdém.

— Não precisa usar nada daqui, terá tudo novo.

— Não quero nada seu.

— Tudo bem, não vou me opor se quiser andar pelado pela casa. Os empregados, os seguranças, todas as pessoas vão te agradecer. E eu mais ainda.

— Filho da puta! — Meu pai vai para cima do homem e tenta desferir um soco violento; porém, tudo que consegue fazer é garantir o mesmo resultado da última vez: cair no chão com o seu próprio movimento.

— Pai! — Corro para ajudá-lo a se levantar.

Ouvimos uma batida à porta. O homem revira os olhos e senta de volta

no sofá.

— Melhor acalmarmos os ânimos.

Fico olhando para ele, sem acreditar em como consegue ser tão calmo.

Tudo está indo “relativamente” bem, consigo ajudar meu pai a se recompor, mas estremeço quando ouço a voz do Lucas vindo da porta.

— Samuel está?

Ouço minha mãe dizer:

— Não é uma boa hora, Lucas.

O que vou fazer?

Mal penso, já estou ao lado do homem no sofá. Preciso acabar logo com isso.

— O que foi? — Ele não se afasta, continua com o seu sorriso idiota.

— Cale a boca. Finja que está apaixonado por mim. — Puxo a mão dele, colocando-a sobre a minha barriga. Sua mão é forte e macia, sem nenhum calo. Esse inútil não deve fazer nada da vida.

— Por que isso?

Vejo que está se divertindo com o meu desespero, e se aproveitando.

Estou bem perto dele, a ponto de sentir o seu cheiro amadeirado, o mesmo da outra noite.

— Me deixe vê-lo, Geise — implora. — Samuel! — Ele esbraveja.

O desgraçado olha feio para a porta e depois, aos poucos, seu sorriso diabólico se abre.

— Já entendi.

Lucas passa pela minha mãe e entra na sala. Ele me olha, ao mesmo tempo em que observa o homem sentado ao meu lado.

— Então é verdade mesmo? — Lucas se segura na lateral do outro sofá. Meu pai tenta ajudá-lo com a situação, mas ele o empurra.

— O que faz aqui, Lucas? — pergunto, ainda segurando a mão do cara na minha barriga.

— Esse é o Lucas? — interroga, como se falássemos dele todos os dias. — Prazer, sou o Daniel.

Não acredito que se atreve a se levantar e cumprimentar o meu... Não, ele não é mais o meu...

Lucas olha para a mão estendida e, como meu pai, tenta dar um soco na cara de Daniel — quer dizer, não sei se é realmente o nome dele. O tal Daniel deve fazer algum tipo de luta ou defesa pessoal, porque é muito rápido; desvia-se do soco e segura o próximo.

Lucas está furioso por não conseguir atingi-lo.

— Por que todo mundo tenta me bater nessa casa? — questiona, franzindo a testa.

Como se ele não soubesse.

— Porque você é um maldito aproveitador de menininhos... — O quê? Lucas acabou de me chamar de menininho? — Que sai por aí fudendo garotos comprometidos.

Enquanto fala, tenta atingir Daniel, que se esquiva outra vez.

— Fudendo? — Ele olha para mim e sorri. — É o que acontece quando pessoas transam com frequência, muita frequência no nosso caso. — Ele dá de ombros.

É um ótimo ator.

Maldito!

Sinto o rosto esquentar. Não é possível que eu esteja corando.

— Acontece? Frequência? Quantas vezes vocês... — Lucas para no meio da pergunta, acho que não quer saber a resposta.

— Bom, você quer saber desde que começamos a sair, ou quantas vezes transamos em apenas um dia? — provoca. Ele nem gosta disso, né? Só piorou as coisas ainda mais.

— Desde quando está com ele, Samuel? — Lucas indaga, expressando sua raiva, falando alto comigo, aparentemente com toda razão. A dor dele é a minha dor. Dói demais ver como ele está sofrendo, e tudo por culpa desse homem.

— Lucas, eu...

O que posso dizer que não vá feri-lo mais do que já está?

— Não precisa se explicar, anjo.

Vejo a cor do rosto do Lucas sumir.

— Anjo? Tem até apelido carinhoso. Como sou trouxa! — Ele passa as mãos pelos cabelos, derrotado.

— Talvez, amigo.

— Não me chame de amigo! — Lucas esbraveja, tentando ir de novo para cima de Daniel, sem sucesso. Meus pais o seguram, sabendo que é em vão.

— Chega, Lucas! — Estou com medo de Daniel revidar, Lucas sairia muito mais machucado nessa história. — Nós conversamos ontem. O que mais você quer saber?

Seguro as lágrimas, não iria demonstrar fraqueza na frente do canalha do Daniel.

— É que... Por um momento... Achei que pudesse ser mentira.

Ele fala entre respirações pesadas, provavelmente segurando o choro pelo mesmo motivo que o meu.

Meu Deus, como dói.

— Viu que não é mentira, então é melhor você ir embora. — Não quero ser escroto, mas é o único jeito de fazê-lo sair daqui antes que as coisas comecem a se complicar mais.

Nem imagino como vai ser quando esse cara chamar aqueles dois brutamontes de novo.

— Vamos embora, anjo.

Nossa, como eu odeio esse Daniel! Ele não sabe a hora de parar nem de ser um imbecil.

Está se divertindo às nossas custas.

Parece que Lucas está com um punhal cravado no peito, a dor em seu rosto é uma tormenta.

— Como assim? Vai embora com ele?

— Sim, vamos nos casar — Daniel responde por mim quando percebe que eu não conseguiria fazê-lo.

— Vai casar com ele?

— Você é idiota ou o quê? Vai ficar repetindo as coisas que estou falando ou vai prestar atenção na nossa situação? Qual é a parte que você ainda não conseguiu entender?

Daniel queria ferir o Lucas de todas as formas, e finalmente conseguiu.

As palavras batem nele como socos violentos no rosto.

— Não precisa ser cruel, Daniel — digo, tentando amenizar.

É estranho chamá-lo pelo nome e, pela cara que está fazendo, ele gostou. — Não fui nem um pouco cruel, seria cruel se fizesse isso.

Daniel me puxa para os seus braços e me beija. Não retribuo, mas também não o afasto. Não posso fazer cena, tenho que mostrar para o Lucas que amo outro homem.

Só encostamos nossos lábios. Ele tenta aprofundar o beijo, infiltrar sua língua na minha boca, mas se eu deixar, com certeza vou vomitar na cara dele, e acabaremos com a farsa.

Nunca beijei ninguém que não fosse o Lucas, então agora imagino a expressão de descontentamento dele tendo que aceitar nosso beijo.

Meu Senhor, me perdoe por magoá-lo.

Me separo de Daniel, empurrando-o gentilmente. Ele tem o peito duro, é mais forte do que pensei.

— Lucas...

Quando penso em dar uma explicação, percebo que ele não está mais aqui; ele foi embora. Se foi para sempre.

Essa é a minha nova realidade agora e, nela não existe o Lucas nem felicidade, não existe nada.

— Vai ficar me devendo essa — Daniel cochicha no meu ouvido.

— Filho, o pobrezinho estava arrasado. — Minha mãe está morrendo de dó e eu também. Uma dor tão profunda que é como se tivesse um buraco no meio do peito.

— Não vai ajudar dizer isso para menino, Ge. — Meu pai chama a atenção dela.

— Me desculpe, querido.

— Tudo bem.

Não está tudo bem. Isso não está certo, não deveria acontecer com ninguém; porém, infelizmente está acontecendo comigo.

— Chega de papo furado, tenho que ir. — Daniel nos interrompe, com a voz fria como gelo.

E mais uma vez começa o caos, gritaria e choro.

— Não, por favor, não. Nos leve com você. Vamos morrer sem notícias do nosso filho — Mamãe implora.

— Todo mês, quando eu mandar o dinheiro, deixarei que ele escreva uma carta e, quem vier trazer, levará a de vocês para ele.

Uau!

— Que bondade a sua — digo, irônico.

— Posso ser um homem bom às vezes. Agora, vamos por bem ou posso chamar os meus seguranças — ameaça, mostrando o quão bom ele pode ser.

— Tudo bem, vamos.

Abraço meus pais. Eles são tudo o que eu tenho. Sei que um dia voltarei, sei que um dia isso vai acabar.

Serei feliz de novo.

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Comentários

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Não vale escrever um conto pequeno assim e me matar de curiosidade e ansiedade 😢

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