UM VENEZUELANO NA MINHA VIDA - 3: RECUPERAÇÃO

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2465 palavras
Data: 26/08/2022 04:51:55

O Hospital 28 de Agosto é um dos principais de Manaus, diariamente, a unidade recebe milhares de pessoas com os mais diversos casos, mas naquela manhã de sábado, o lugar recebeu uma visita um tanto inusitada. Como eu disse anteriormente, para Ian D'ávila a entrada triunfal era sempre necessária, quase uma questão de honra. Ele chegou carregando vários buquês de flores em suas mãos e quando viu Enzo, correu e o abraçou dramaticamente.

— Oh, Enzo, quase não dormi. Nunca mais faça isso comigo. — ele disse em lágrimas, fazendo a atuação de sua vida.

— Tá, Ian, cara, tipo, para. — pediu Enzo se afastando de Ian, não gostando do escândalo feito pelo sócio.

— Oh, perdão. Vi tudo pelos noticiários, se eu fosse sedentário e feio, com certeza, estaria enfartado com tal situação. Temos uma reunião hoje, mas não desmarquei, eu faço questão de ir. — explicou Ian, enviando uma mensagem para Diana preparar o material para a reunião.

— Tudo bem, eu ia pedir para o Kleber, mas você pode ir. — sugeriu Enzo, mais preocupado com a saúde de Noslen.

— Ainda bem que não aconteceu o pior. — mudando de tom. — Bem, você não está ferido ou morto, então, eu preciso ir. Tenho uma reunião para organizar, tchauzinho. — Ian se despediu e saiu do hospital.

— Que cara pirado. — murmurou Enzo. — Pelo menos é bom no que faz. — pensou, antes de olhar para o relógio. — Droga, nenhuma notícia do Noslen. Será que ele morreu?

Do lado de fora, Ian, aproveitava uma ligação da Diana para ajustar os últimos detalhes da reunião. No caso, uma armação para tirar o nome de Enzo do slide que seria apresentado para novos investidores. Só que uma moça magra e, bastante, suja se aproximou do empresário.

— Senhor, você pode ajudar uma mulher necessitada? — perguntou a mulher que usava roupas imundas e não tinha nenhum dos dentes.

— Ah, sua maluca! — gritou Ian, que demorou um tempo para se recompor. — Tá pensando o quê? Tá escrito 'caridade' na minha testa? Eu, hein. — ele reclamou se afastando da mulher. — Isso não é um hospital, é um hospício. — mandando uma mensagem de áudio para Diana. — Ei, inútil. Preciso dos dados da última reunião que o Enzo participou. Tive uma ideia genial. — rindo, maliciosamente, e indo em direção à mendiga. – Desculpe, senhora. Eu não queria parecer rude. — entregando algumas moedas nas mãos dela.

— O que é isso? Não parece as moedas daqui. — protestou a mendiga sem entender nada.

— Amada! São euros, realmente, você nunca viu. Faça bom proveito. — entrando no carro e rindo. — Ian D'ávila, você é perfeito.

Através de um jornal matutino, Nico, viu a foto de Noslen e soube que o amigo havia sido baleado em um assalto. Ele atravessava pelo estacionamento do hospital e quase foi atropelado por Ian. Ainda em choque, o rapaz venezuelano seguiu para a recepção do hospital, porém, ninguém conseguia entendê-lo.

Por sorte, Enzo, interveio e a situação não ficou pior. Ele traduziu todos os questionamentos de Nico, por isso, logo reparou que o paciente em questão era Noslen. Eles seguiram para o refeitório do hospital e pediram café da manhã, enquanto aguardavam, conversaram sobre a situação no ônibus.

— O Noslen foi um herói. Se jogou na frente do bandido. — falando em espanhol com Nico.

— Esse é meu amigo, gente boa, mas inocente demais. Se não fosse por mim, nem sei onde ele estaria. — disse Nico, orgulhoso de Noslen.

— Entendi, bem, Nico, vou ficar esperando notícias de Noslen, posso te ligar assim que...

— Não se preocupe, mais tarde eu passo aqui. Preciso correr para conseguir cobrir a parte do aluguel dele. — ele falou se levantando e abraçando Enzo.

A mente humana costuma pregar várias peças. Naquela manhã, Erick, tomou um banho de 30 minutos. Ele não conseguia esquecer a dor nos olhos do homem que executou. Quando terminou, o irmão de Enzo ligou para uma amiga que trabalhava no Instituto Médico Legal (IML) e perguntou sobre o corpo do bandido.

O nome do meliante era José Ribamar, de 23 anos. Em choque, Erick decidiu ir ao velório do marginal. Mas antes passou no hospital para saber como estava seu irmão.

— Você está bem? — perguntou Erick, parecendo abatido e ofegante.

— Eu que devia perguntar isso a você, que olheiras são essas. Tá, eu sei, sou o teu irmão querido e ...

— Enzo. — soltou Erick cortando o irmão e o abraçando forte, sem se importar com as pessoas que passavam pela recepção.

— Erick... eu... você sabe que odeio abraços. — tentando se afastar do irmão, mas não consegue, já que Erick tem o dobro do tamanho de Enzo. — Irmão, a minha costela.

— Ele tinha a sua idade. — falou Erick para Enzo.

— Ele quem?

— O bandido do ônibus. Eu o matei. Ele tinha a sua idade. — repetiu Erick, dessa vez, com um voz mais triste que o habitual.

— Erick. — disse Enzo, sem saber como aconselhar o irmão, apostando no improviso. — Você salvou várias vidas, incluindo a minha. Você sabia que isso era uma possibilidade.

— Eu sei, mas foi a primeira vez. — lamentou Erick ainda abraçado com o Enzo.

— Erick, se você quiser sair da polícia, não tem problema. O papai não está mais aqui. Esse não é um fardo que você precisa carregar. — garantiu Enzo se afastando do irmão e pegando em seu ombro.

— E o teu namorado? — perguntou Erick mudando de assunto.

— Na... na... namorado... — gaguejou Enzo ficando vermelho e desesperado.

— O cara se lançou na frente de uma bala, né?

— Ele é só um amigo. — garantiu o jovem ficando vermelho e sem graça.

— Um amigo que gosta muito de você. — observou Erick, abençoando a relação, sem saber que Enzo e Noslen haviam se conhecido no ônibus.

— Bem irmão, eu preciso ir.

— Erick, você está bem? — questionou Enzo, sentindo uma vibração negativa do irmão.

— Estou, pode deixar. Hoje te pago uma pizza. Tchau.

Aparentemente, ninguém dormiu bem por causa do assalto no ônibus. Depois de algumas visitas, Enzo sentou e sucumbiu ao cansaço. Ele parecia um zumbi, porém, ele avistou os médicos que cuidaram de Noslen e correu para saber alguma informação. De acordo com a equipe, o venezuelano passou por uma cirurgia e descansava em uma das alas do hospital.

Enzo foi até a administração da unidade para conseguir um passe de visita, já que não era parente do venezuelano. Uma enfermeira o levou até Noslen, que se encontrava em corredor cheio de outros pacientes. Sem pensar muito, Enzo segura a mão direita do amigo.

— Noslen? — perguntou Enzo se aproximando e pegando na mão do colega.

— O quê? — questionou o venezuelano, um pouco confuso. — Onde estou?

— Está no hospital. Você recebeu um tiro.

— A última coisa que lembro era uma música. E seu rosto. Que horas são? — perguntou Nosle, ainda sonolento e confuso.

— São 10h20. — disse Erick, olhando o celular.

— Eu. — tentando levantar. — Preciso ir, onde está minha caixa?

— Qual é, você não pode. Acabou de levar um tiro. O seu amigo, Nico, veio até aqui. Ele falou que ia cuidar de tudo.

— É que precisamos pagar o aluguel hoje, coitado do Nico, eu só dou trabalho. — disse Noslen, segurando para não chorar e parecer fraco.

— Ei, você salvou a minha vida. Eu posso pagar seu aluguel. — sugeriu Enzo, tentando achar uma solução para o dilema de Noslen.

— Eu não posso, nem lembro o seu nome.

— Me chamo Enzo Gabriel. — esticando a mão.

— Noslen. — apertando a mão de Enzo e reclamando da dor no ombro esquerdo.

— Eu ofereço, você me salvou. Faço com prazer. Apenas descansa, precisa de alguma coisa?

A dor de perder um parente é a mesma, seja ele uma boa ou má pessoa. Infelizmente, a vida nos leva para caminhos desconhecidos. Naquela tarde, uma família lamentava a morte de um dos seus. Um jovem com um futuro brilhante pela frente, só que se envolveu com pessoas erradas e preferiu o caminho tortuoso.

Naquela tarde, Erick se dirigiu para uma pequena igreja localizada no bairro Jorge Teixeira, Zona Leste de Manaus. Muitas pessoas choravam e lamentavam a perda de um ente querido e, cada vez mais, a culpa consumia o policial.

Os familiares de José não sabiam que o filho fazia parte de uma gangue, ele já havia assaltado outros coletivos pela cidade e todos ficaram chocados com a notícia. A igreja que sediava o velório era simples, um grupo conversava na parte frontal do templo. De cabeça baixa, Erick entrou e sentou em silêncio.

****

Se tu olhares senhor pra dentro de mim, nada encontrarás de bom

Mas um desejo eu tenho de ser transformado preciso tanto do seu perdão

Dá-me um novo coração

Dá-me um coração igual ao teu, meu mestre

Dá-me um coração igual ao teu, coração disposto a obedecer

Cumprir todo o teu querer

Dá-me um coração igual ao teu

****

— Porquê, meu filho?!! — questionou a mãe do rapaz aos prantos. — Não faltava nada para você, faltava?

— Mamãe, por favor. A senhora precisa se acalmar. — pediu a irmã do jovem, chorando por causa da dor da mãe.

— Celina, onde eu errei? — questionou a senhora, passando mal e sendo amparada pelos parentes.

— Não errou, mamãe, a senhora fez tudo certo, infelizmente, foi o caminho que o Zé escolheu. — disse Celina, abraçando a mãe.

— Vem, titia. Vou levar a senhora para descansar. — avisou uma das sobrinhas da mulher.

Os familiares levaram a senhora para dormir, mesmo com dor no coração, era necessário descansar. Celina percebeu a presença de Erick, ela se aproximou e fez vários questionamentos, afinal, José nunca faria amizade com uma pessoa parecida com o irmão de Enzo.

O policial inventou uma história e quis saber mais sobre José. De repente, um grupo entrou e deixou todos intimidados, Celina, se aproximou de um deles.

— Com licença, não queremos problema. — pediu a irmã de José, temerosa, mas sem deixar que os homens percebessem.

— E nem a gente. Queremos o dinheiro que o teu irmão nos devia. — avisou o líder do grupo aumentando o tom.

— Como assim? — questionou Celina, com um semblante de preocupação.

— Escuta, princesa. — segurando no braço de Celina de forma violenta.

— Ei. — gritou Erick, levantando e empurrando o marginal. — Isso não é jeito de tratar uma mulher.

Erick levou um soco, mas revidou com extrema violência, os homens nem tiveram a chance de se defender. O irmão de Enzo deu uma surra em todos, em seguida, ligou para um amigo que era policial. Celina, impressionada, levou Erick para a cozinha da igreja.

Ela limpou o sangue nas mãos do rapaz. A prima de Celina atrapalha a interação entre os dois, pois havia acabado o café. A jovem se preparou para comprar tudo e Erick se ofereceu para acompanhá-la.

— De verdade, Erick. De onde você conhecia o meu irmão?

— Eu, eu sou policial. E quis ver se estava tudo bem. — ele disse olhando para frente.

— Faz parte do trabalho de vocês?

— Mais ou menos, o teu irmão, ele, fazia parte de uma gangue...

— O José teve tantas oportunidades. — ela disse chorando e relembrando das oportunidades que o irmão teve. — Desculpa, mas é que dói, sabe?

— Eu sei. Tenho um irmãozinho, entendo perfeitamente você. — garantiu Erick, sendo sincero com Celina e a abraçando.

Naquele fim de tarde, Ian usou todo o seu carisma para arrasar na reunião. Aos poucos, ele se tornou o rosto e alma da Tech Land. Depois de uma tarde trabalhosa, Ian decidiu aproveitar da melhor maneira que podia, ou seja, comprando e gastando.

No shopping, ele escolheu roupas, calçados e perfumes, afinal, quando Enzo caísse da presidência, Ian precisaria de um guarda-roupa novo. Claro, que para isso, o jovem queria ser bajulado.

— Vendedora, essa calça me deixa com o estilo da Rihanna ou Beyoncé? — se olhando no espelho e empinando o bumbum.

— Beyoncé, eu adoro ela e... — falando com um sotaque espanhol carregado.

— Xiu, não quero saber como você cruzou a fronteira da Venezuela com o Brasil. Acho que vou levar essa. — soltou Ian, dando uma voltinha e escolhendo a calça.

— Mas eu sou do México...

— Ei, teimosinha. Quem está pagando seu salário? — ele perguntou fazendo uma voz infantil.

— Você... — soltou a mulher confusa e olhando para os lados.

— Isso mesmo, então, vamos ficar cala...

— Dinha?

— Olha, não sabia que faziam adestramentos na Venezuela. Muito bem. — olhando mais uma vez no espelho. — Vou querer todas, eu mereço depois de todo o trabalho que eu tive.

Com várias sacolas, Ian se dirigiu em direção ao estacionamento, mas quando chegou próximo ao seu carro, uma moça surgiu do nada, pedindo para ele segurar um bebezinho. A tal mulher havia deixado a bolsa em uma das lojas, meio desconcertado, Ian aceitou e ficou com a criança. O bebê fez uma bolinha de babá e melou a jaqueta dele.

— Ei, garoto. Isso é couro. Falando nisso, a tua mãe é louca, né? Deixa um negocinho desses com um estranho. — segurando o bebê de uma maneira engraçada, quando o celular toca. — Mais essa agora. — atendendo. — Alô? Sim, Diana. Deu tudo certo. Escuta o que eu estou te falando, essa empresa vai ser minha. O Enzo nem vai saber quem acertou ele. — rindo. — Agora, escuta, eu preciso daquela planilha com as negociações, tive uma ideia maravilhosa. Preciso ir, estou de babá. — desligando na 'cara' de Diana. — O que foi fedelho? Tá me julgando, né? Deixa eu te contar um segredinho, nesse mundo é vencer ou perder. Olha só para você, todo fofinho, sorridente, isso vai acabar quando chegar no mundo real.

— Desculpa a demora moço, achei a minha bolsa. — disse a mãe do garoto ofegante e estendendo as mãos para pegar a criança.

— Tudo bem, pegue logo essa criaturinha linda. — fazendo cara de nojo e entregando o bebê.

Nos dois dias em que Noslen ficou no hospital, Enzo o acompanhou de perto. Como um falcão, o irmão de Erick vigiou o venezuelano. Eles também se conheceram bastante, quer dizer, Noslen não lembrava de muita coisa, mas foi o mais sincero que pôde com o amigo.

Enzo, a cada momento, ficava ainda mais apaixonado, porém, temia a reação de Noslen. Por causa do ferimento, que ainda precisaria de cuidados, o estrangeiro ficaria na casa de Enzo.

— Entra. — pediu Enzo colocando a mochila no chão. — Não é muito grande, mas é um bom apartamento.

Antes de entrar no apartamento, Noslen parou e sentiu uma tontura. Ele segurou na parede, pois ficou com medo de desmaiar. Ao invés disso, ele teve flashes de algum momento de sua vida. O jovem viu uma mulher morena, alta e bonita.

Na lembrança, a tal mulher entregou um casaco para Noslen e reclamou do clima frio da Venezuela. Ele olhou em volta e viu árvores de Natal, porém, não conseguia recordar os rostos das pessoas.

— Noslen, você está bem? — quis saber Enzo pegando no ombro do amigo.

— Sim, estou. — respondeu Noslen ofegante. — Estou só cansado. Estou só cansado.

***

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Comentários

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Nem vou rasgar muita seda porque você já sabe que sou seu fã de carteirinha, adorando esse início de história e percebendo as várias tramas paralelas que estás construindo. Obrigado e parabéns.

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Amando o conto!!!!

E a trama começa a se complicar... Será que Ian conseguirá derrubar Enzo???? E essa Diana, tem que se fud... muito por dar apoio a um canalha...

Ele agora essa falta de memória de Noslen, será que ele esqueceu os sentimentos que começava a ter por Enzo??? provavelmente sim, pois nem lembrou o nome dele...

Acho que essa história de Erick com a irmã do morto vai acabar em romance, mas ele vai precisar ser bem sincero com ela se isso realmente acontecer...

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Enredo está cada vez mais interessante, tem muita coisa a se desenvolver. Please continue assim.ok

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Gosto da tua narrativa. Essa histeria de Ian, a culpa é possível envolvimento de Erick com a irmã do morto, a amnésia de Noslen, claro que você fará Enzo desmascarar Ian, não é?! Pois...

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