Virgínia - Um Amor Inesquecível no Ano que não Terminou

Um conto erótico de Paulo_Claudia
Categoria: Heterossexual
Contém 6012 palavras
Data: 30/07/2022 17:54:31
Última revisão: 03/08/2022 05:56:23

Virgínia - Um Amor Inesquecível no Ano que não Terminou

“The Rain, The Park and Other Things”. Era a música que estava tocando na Rádio Difusora de São Paulo. O ano, 1967. Lembro como se fosse ontem. Mas esse ontem já faz quanto tempo, mesmo? Nem é bom lembrar.

Eu morava perto do Museu do Ipiranga, ficava a umas três ou quatro quadras da casa onde eu morava. A vida era relativamente tranquila para um adolescente como eu, embora minha mãe vivesse reclamando que eu precisava cortar o cabelo, e da calça de brim que eu havia recém-comprado com uns “bicos “ que eu fazia, desenhando para um jornal ou mesmo cobrando pouco para fazer desenhos para os trabalhos da escola de colegas sem essa habilidade.

As músicas que tocavam nas rádios eram predominantemente da “Invasão Britânica”, Beatles, Rolling Stones, Moody Blues, mas curtíamos essas bandas com nomes diferentes, como Iron Butterfly, Steppenwolf, The Zombies, Creedence Clearwater Revival, 1910 Fruitgum Company, Pink Floyd, Electric Prunes. Ah, e tinha o Shocking Blue, com a gata da Mariska Veres, o Jefferson Airplane com a Grace Slick, e o Aphrodite´s Child. Também curtíamos artistas nacionais, mas havia todo um problema com a censura, que não permitia determinados tipos de letras nas músicas.

Nessa época, ir à escola podia ser meio perigoso. Lembro de algumas vezes onde o inspetor de alunos pedia para a gente sair devagar da sala, todo mundo abaixado, pelo portão dos fundos, enquanto tiros ecoavam pelas paredes. De vez em quando um professor sumia de repente, e ficávamos alguns dias sem aquela matéria até aparecer outro.

Eu poderia escrever sobre o que aconteceu mais no início da década, mas aí não seria um conto erótico. Foi mais para o final dos anos 60 que meus hormônios estavam “a todo vapor”.

Os colegas da turma sempre davam um jeito de conseguir um exemplar da revista Playboy, ou os famosos “catecismos” com histórias em quadrinhos com sexo explícito.

Mas estou divagando. Nessa época, aconteciam os festivais de música popular, jogos estudantis, entre outros eventos. Foi em um desses campeonatos de jogos entre colégios que dei o primeiro beijo na boca, na verdade foi a menina que me beijou de surpresa. E já foi dizendo que era minha “namorada”. Eu admito que era meio bobão, não sabia quase nada sobre sexo. Esse “namoro” acabou alguns dias depois, porque um menino do meu colégio veio chorando falar comigo, dizendo que a amava, e eu respondi que ele podia ficar tranquilo, eu não pretendia namorar ninguém. Na verdade, eu estava “gamado” em uma professora de Biologia, uma canadense que usava minissaia, e tinha pernas maravilhosas.

Também comecei a gostar de uma outra “mina”, que tinha um sorriso lindo, mas não passou de alguns abraços e beijos. E havia a irmã de um colega de turma, muito linda também. Claro que eu não sabia nada sobre namoro de verdade ou sexo.

Meu pai havia começado um negócio novo, uma pequena agência de turismo. Na loja alugada, perto da Rodoviária antiga (Terminal Rodoviário da Luz), também havia uma pequena banca de revistas, e eu, que estudava de manhã, costumava passar a tarde por lá, ajudando o pai, saindo para ir aos bancos, aproveitando para ler gibis e, claro, os “catecismos”. Eu também gostava muito de desenhar, e foi em uma tarde dessas que um jornalista ( o apelido dele era “Marquês”) me viu desenhando e me pediu para fazer uns desenhos, que depois foram publicados em um jornal local ( acho que era “O Dia” , mas minha memória pode não estar certa). De qualquer maneira, aquilo me animou a ganhar uma grana com os rabiscos.

E foi justamente nessa agência de turismo que eu conheci uma “Rodomoça”. Isso já no início de 1968. Para quem desconhece o termo, “Rodomoças” eram o equivalente às comissárias de bordo das companhias aéreas, e faziam o mesmo trabalho, só que em ônibus intermunicipais, principalmente nas viagens mais longas. Como a agência do meu pai vendia passagens de ônibus interestaduais e mesmo internacionais ( Paraguai, Uruguai, Argentina) , e era perto da Rodoviária, nada mais natural que ver as belas moças uniformizadas passando na rua.

Enfim, comecei a reparar em uma delas, que devia ter poucos anos a mais que eu. Dizer “mais velha” seria um absurdo, pois teria vinte, vinte e um anos no máximo. E eu, com dezesseis, já era alto, com barba e bigode, passava fácil por adulto.

A menina era linda. Não, dizer que ela era linda é muito pouco. Era belíssima. Chamava a atenção por onde andava. No início, não dava bola, sempre parecia meio apressada, mas um dia ela me viu através da vitrine, eu sorri para ela, ela retribuiu o sorriso. Uma outra tarde, entrou na agência, viu a prateleira de revistas e gibis, e comprou uma dessas revistas femininas. Ela certamente percebeu meu olhar de interesse. A gente chamava isso de “paquera”.

Nesse tempo, as coisas eram demoradas, e muitas vezes uma chance era desperdiçada. As pessoas se mudavam, os pais conseguiam empregos em outros Estados. Eu mesmo já havia morado no Rio de Janeiro por alguns anos. Eu queria muito namorar aquela moça...mas não tinha coragem de chegar diretamente nela.

No entanto, ela começou a aparecer mais vezes, e passamos a conversar por mais tempo. Eu procurava economizar o que ganhava desenhando e somava com o pequeno salário que meu pai me dava para cuidar da agência quando ele não estava ( Isto é importante para o que vou contar depois ). Inicialmente, eu usava o meu ( pouco) dinheiro para comprar discos de vinil e uma ou outra calça, porque minha mãe achava que calça de brim ( que hoje chamamos de Jeans) era coisa de “Transviado”, uma palavra que nem de longe significa o que vocês possam estar pensando. “Transviado” era o jovem rebelde, que gostava de Rock and Roll, de som de guitarra em vez de violão. Até havia quem protestasse contra o uso de guitarras em música brasileira. Acredite se quiser.

Mas, continuando... a Rodomoça, vamos chamá-la de Virgínia (eu ia dizer o nome verdadeiro dela, mas ninguém sabe, nem ela, nem minha primeira mulher, nem as seguintes, que eu dei o nome dela, quase igual, só mudando uma letra, para minha primeira filha , tão marcante foi esse breve caso). Pois bem, Virgínia era uma moça linda e adorável. Mas, certamente, mais experiente do que eu. Porque eu pensava em convidá-la para ir ao cinema, tomar sorvete na lanchonete, coisas inocentes assim, mas ela reparava no volume na minha calça justa, dava umas olhadas maliciosas nas revistas adultas que havia na banquinha.

Conversando com um amigo do colégio, recebi alguns “toques”. Esse cara, o Borges, era o tipo bonitão, parecido com um cantor famoso, as meninas iam atrás dele, e ele, muito mais desinibido que eu, já havia namorado algumas garotas. E dava a entender que já havia feito sexo com duas delas. Sexo, bem entendido, nessa época era mais oral ou anal, porque a virgindade ainda era um tabu. Claro que havia moças que engravidavam jovens, mas aí o casamento era algo obrigatório. A menos que o rapaz fugisse para bem longe, aí vinha o estigma da mãe solteira.

Mas estou divagando novamente. Virgínia já devia ter namorado. Seria impossível uma moça linda como aquela não estar comprometida com alguém. Só que ela aparecia sempre, e nossas conversas foram ficando mais longas, vieram alguns toques nas mãos, beijos no rosto, abraços de despedida, e finalmente os beijos na boca. Com os dentes fechados, inicialmente. Depois, abrindo levemente os lábios e os dentes deixando passar a ponta da língua. Tudo com cuidado, e sempre meio às escondidas, porque quem passasse na rua poderia ficar escandalizado.

Eu estava ficando apaixonado, mas ela dava a entender que nosso flerte não era algo que deveria ser levado a sério, não no sentido de levar a um noivado e casamento. Ela dizia que casar não estava em seus planos.

Estranhamente, as coisas mudaram, e tudo aconteceu muito rápido. Do nada, ela finalmente decidiu aceitar meu convite para tomar um sorvete na lanchonete. E ir ao cinema pela primeira vez. Estava “tudo azul”, era o que dizíamos então. E eu acreditei que poderia ser feliz.

No domingo, fomos a um cinema na Praça da República. O filme era “Dois Mil e Um - Uma Odisseia no Espaço “, e eu obviamente não entendi patavina. Principalmente porque ficava olhando para Virgínia, tão linda, suas longas pernas expostas pela minissaia, os pés perfeitos . Ela segurava minha mão de uma maneira suave, apertando-a de vez em quando.

- Você acha que a humanidade é isso? – ela me perguntou, depois que saímos.

- Isso, o que?

-Violência. A inteligência humana parece ter se desenvolvido, mas sempre acompanhada pela violência contra seus semelhantes. Veja logo no início, o Monolito e os macacos descobrindo que podiam usar ossos como armas. A História da Humanidade é feita de guerras, conquistas de territórios, escravidão, atos bárbaros... O ser humano vai ao espaço, mas a sede de poder faz com que sempre tentem dominar os outros.

- Você está falando da Guerra Fria?

- Disso e da nossa situação.

- Nós dois?

- Não, bobinho, mas tem a ver com a gente. Veja a dominação cultural. Filmes americanos , música americana, e um governo alinhado com esse Império. Temos músicas maravilhosas, mas as rádios nos bombardeiam com coisas enlatadas.

- Nisso você tem razão. É o que mais ouço. E os filmes da tevê.

- Você deveria escutar o nosso samba, música popular. Música latino-americana. Você conhece o Movimento Tropicalista?

- Já ouvi falar, teve aquele festival de música no ano passado.

- Você precisa se inteirar do que está acontecendo de verdade em nosso País, por trás do “Pão e Circo” há uma ditadura militar que foi financiada pelos Estados Unidos. Há quatro anos, derrubaram o Presidente e impuseram um governo baseado em armas e violência. Não percebe a analogia com o filme?

- Mas os jornais dizem que a ameaça comunista iria acabar com nosso país.

- Qual é a pior ameaça? Não podemos simplesmente ser um país independente, sem estar submisso a nenhum outro? Há pouco mais de quatrocentos anos, Portugal e Espanha dividiram o mundo em duas metades. Agora, são Estados Unidos e Rússia. Saímos da dependência de Portugal para cairmos em outra?

- Bom, eu acho que devíamos ser uma democracia.

- Não temos uma democracia. Democracia vem do grego, e quer dizer “Governo do Povo”. O povo elege seus líderes. Mas o que existe aqui é uma ditadura. Com governantes que são títeres de um outro país, recebem ordens diretas...

Ela ficou quieta de repente, havia se dado conta que as pessoas ao redor poderiam estar ouvindo, e seria muito perigoso se alguém denunciasse nossa conversa.

- Acho que poderíamos conversar em algum lugar com mais privacidade.

A ideia do hotel partiu dela. E havia vários hotéis perto da Rodoviária. Como ela era uma Rodomoça, não seria nada incomum ela passar um dia em um hotel perto da agência , o “Hotel Bristol”. Felizmente, o dinheiro que eu tinha guardado era mais que suficiente. Ela queria pagar, mas eu me adiantei:

- Deixa comigo, eu pago.

Subimos uma escadinha estreita e fomos para um quarto pequeno com banheiro. Virgínia sentou-se na beira da cama, tirando as sandálias, e continuou a nossa conversa. Para ela, isso era muito importante.

- Olha, o que vou dizer a partir de agora precisa ser um segredo entre nós, está bem?

- Claro. Você estava falando sobre a ditadura.

- Eles chamaram isso de “revolução”, mas na verdade foi um golpe militar , dentro do contexto da Guerra Fria e para evitar que os países da América Latina se alinhassem com o outro lado, o da Rússia. O governo de Washington esteve por trás disso o tempo todo. Lyndon Johnson dava ordens diretas aos marechais.

- Isso eu não sabia. Mas você, pelo jeito, está bem por dentro dessas coisas.

- O povo em geral está alienado, preocupado com as coisas do dia a dia, estudo, trabalho, namoro, diversão. Mas existem os que deixam isso de lado para tentar melhorar a vida de todos.

- Como você?

- Você acredita que hoje foi a primeira vez que fui ao cinema nos últimos anos?

- E por que aceitou, então?

- Vim por você. E pelo sorvete(risos).

- Sabe...Virgínia, encontrar você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida.

- Para mim, você me fez ter a certeza que preciso lutar por um mundo melhor.

- Lutar?

Ela ficou em silêncio por alguns instantes. Depois pegou na minha mão.

- Vem aqui.

Virgínia me beijou docemente. Eu a abracei. Estávamos sozinhos ali, poderíamos fazer o que quiséssemos. Ela se soltou mais, nossas línguas se entrelaçaram. As mãos dela me apertavam com força, em um abraço apaixonado. Ela beijava meu rosto, minhas orelhas, meu pescoço. E eu ia retribuindo. Ela gemeu quando beijei e lambi o pescoço dela e fui descendo.

Ela soltou um longo suspiro, e foi erguendo seu vestido lentamente, como se estivesse em dúvida se realmente queria aquilo ou não. Mas tomou coragem e tirou, ficando apenas com um conjunto de renda, soutien e calcinha, bem discretos para a época, mas que me pareceram extremamente sensuais.

Voltamos a nos beijar, ela foi abrindo minha camisa, e beijando meu peito. Fui fazendo o mesmo, e desajeitadamente tentando soltar os colchetes de trás. Ela teve que me ajudar, e seus belíssimos seios, redondos com os biquinhos bem durinhos, despontaram. Eu beijei e lambi, tentando ser o mais delicado possível. Fui descendo com a boca até o seu umbigo, ela gemia e suspirava.

Virgínia se sentou na cama, e eu fui descendo sua calcinha de renda, Em um primeiro momento, segurou na minha mão, eu aproveitei e beijei cada um de seus dedos, longamente. A calcinha foi descendo, e a retirei completamente, pousando-a ao lado dela. Sua bucetinha era linda, peludinha. Fiquei admirando –a por alguns instantes, depois passei a beijar seu ventre, o interior de suas coxas, enquanto aspirava aquele perfume de mulher. Meu Deus, que perfume inesquecível! Eu ardia de desejo. Já havia lido a respeito nos livros eróticos que eu lera, e fui beijando cada parte daquela linda vagina. Quando cheguei no seu botãozinho, ela estremeceu.

Ingênuamente, perguntei:

- É aqui?

- Ahannn – ela gemeu.

Continuei beijando e lambendo, mas não fazia ideia de como seria a partir dali. Fiz menção de subir beijando novamente, mas ela segurou minha cabeça com as duas mãos.

- Continue assim, continue...

Continuei lambendo o clitóris dela, e levei um susto quando ela endureceu todo o corpo e tremeu inteira, suas coxas apertando minha cabeça com força. Pensei em parar, talvez ela estivesse tendo uma convulsão, sei lá, mas ela gemeu com a voz entrecortada:

- Não para...não para....

Ela estava tendo um orgasmo forte, o primeiro que eu havia presenciado em toda a minha vida. Ela ainda atingiu o clímax mais uma vez. Fui subindo com meus beijos, e voltei a beijar aquela boquinha maravilhosa até ela relaxar.

- Aiii...estou formigando inteira...

Eu estava com meu cacete duríssimo, tirei rapidamente minha calça e cueca. Os sapatos já haviam saído antes. Ela se recuperou um pouco, e disse:

- Espere! Não pode ser sem proteção! Não estou usando a “pílula”!

Virgínia abriu sua bolsa e pegou um pequeno envelope, que me entregou.

- Sabe usar?

- Eu já li a respeito. Mas nunca usei.

Ela me olhou nos olhos, e abriu o envelope. Depois, pegou no meu membro.

- Nossa, é bem grosso!

Notei que ela estava meio insegura. Parecia que também não sabia como colocar aquele negócio.

- Espere, eu ajudo – falei.

Juntos, fomos vestindo meu cacete com a “Camisa de Vênus”. Quando estava colocada, perguntei:

- Na frente ou atrás?

- Não sei. Nunca levei no cuzinho, e o seu pênis é muito grande.

- Então na frente.

- Espere, eu ...

- Você não quer? Se não quiser, eu não me importo. Podemos ficar só abraçados e nos beijando.

- Não...vem.

Ela se deitou, abrindo devagar as pernas , sua bucetinha peludinha e úmida aguardando. Procurei ser bem delicado, fui introduzindo devagar a cabeça do meu membro, ela suspirava e gemia de tesão. Deitei-me sobre ela, beijando seus lábios, e fui movimentando devagar meu pênis. Fui enfiando um pouco mais, e senti uma resistência. Comecei a fazer os movimentos de vai e vem, tentando colocar todo o meu membro. A vagina dela estava bem lubrificada pelo tesão, então ela soltou um gritinho,parecia que estava doendo.

- Uiiiii...

- O que foi? Machuquei você. Desculpe...

Fiz que ia parar, mas ela me abraçou forte, apertando minhas costas.

- Não...Continue....

Eu estava nervoso. Muito nervoso. Mas fiz o que ela pediu, continuei bombando. Ela então revirou os olhos, gemeu forte, e teve um outro orgasmo.

Fui ajeitar meu membro e senti algo quente e viscoso na minha mão. Quase gritei quando vi o que era.

- Mas é sangue! Virgínia, desculpe!

- Não, meu amor! Eu queria que minha primeira vez fosse com você! Continue!

Continuei até que ela atingisse o clímax novamente. Percebi, naquele momento, que ela era virgem. Não consegui gozar. Eu havia ouvido falar em “Negar fogo” antes, mas eu estava tão preocupado com ela que ejacular era o que menos importava naquela hora.

Virgínia suspirou e relaxou, me olhando nos olhos. Notei que os dela estavam marejados.

- Foi tão bom...eu poderia ficar uma vida toda com você.

- Eu também, você é maravilhosa! Nunca imaginei que você iria querer alguma coisa comigo.

- Você precisa acreditar mais em si mesmo.

Eu ia falar mais, mas ela me calou com um longo beijo. Ficamos assim, abraçados, meu cacete ainda duro e latejante dentro dela, por muito tempo. Depois deitamos de ladinho, ainda agarrados, meu membro duro encostando na bundinha dela, que fiquei acariciando.

- Você gostou da minha bundinha?

- Eu amo a sua bundinha. Amo você inteira.

Então, tentei penetrar o cuzinho dela. Mas era muito apertadinho, mal entrou a cabeça do meu cacete. Decidi não forçar, já bastava o sangue que havia manchado os lençóis.

- Acho que o hotel já deve estar acostumado com isso. Mas eu preciso de um banho.

Fomos ao banheiro, tomamos banho juntos, nos beijando e acariciando o tempo todo. Nem vimos o tempo passar.

De repente, ela se deu conta que já havia escurecido há muito tempo.

- Meu Deus! Você precisa ir para sua casa! Menores de idade não podem ficar nas ruas neste horário!

- Mas e você, Virgínia?

- Eu sou maior de idade e trabalho em uma empresa de ônibus que faz viagens noturnas. E ainda tenho isto...

Ela mostrou sua bolsa, abrindo-a. Dentro havia uma arma, uma pequena pistola que quase cabia na palma da mão.

- Para que isso?

- Para você ver que não sou indefesa. Posso me proteger. Mas você precisa voltar, imagino o que sua mãe deve estar pensando. Venha cá.

Ela me abraçou e me beijou longamente. Depois tirou da bolsa uma pulseira de tecido, colocando-a no meu pulso esquerdo e amarrando com um nó.

- Eu nunca vou esquecer este dia.

- E também, nunca vou esquecer de você .

- Eu amo você, sabe?

- Também te amo, Virgínia.

Ela se vestiu rapidamente, e falou:

- Temos que ir, eu acompanho você até o ponto de ônibus.

O recepcionista do hotel estranhou:

- Os pombinhos não vão passar a noite? A diária é até meio-dia, e tem o café da manhã.

- Não, obrigada. Tenho uma viagem para o Rio de Janeiro. Rodomoça, o senhor sabe...

- Entendo.

O homem deu uma piscadela para mim, como que me cumprimentando. Assim era naquele tempo.

Na Estação Rodoviária, ela me beijou de novo, um beijo apaixonado, me abraçando por um longo tempo. Desconfiei.

- O que está acontecendo?

- Nada. Estou muito feliz porque estivemos juntos.

Mas notei seus olhos marejados.

- Virgínia...você está chorando!

- É de alegria, meu amor. Estou alegre por termos nos encontrado e partilhado estes momentos tão maravilhosos.

Entrei no ônibus com o coração apertado. Eu queria ter passado a noite inteira com ela. Mas era verdade, meus pais iriam ficar furiosos, e talvez eu levasse uma surra. Fiquei me perguntando como seria com a família dela.

Minha chegada em casa foi previsível. O trânsito já era complicado naquela época, ao menos no centro da cidade. Para chegar em casa, perto do Museu do Ipiranga, demorou mais de meia hora. Minha mãe já estava no portão, aflita, e me recebeu aos gritos.

- Onde você estava, menino??

Meu pai já veio bufando, mas mudou sua expressão quando ouviu o que minha mãe falou em seguida.

- Mas você está com cheiro de perfume! E de... de... nem quero pensar!

- Cheiro de quê?

- (Cheiro de sexo) – ela falou baixinho.

Meu pai, sempre carrancudo, me olhou e tentou fazer um ar de censura.

- Filho, você sabe que estamos em uma época difícil. Os subversivos estão em toda parte! O que você esteve fazendo?

- Fui ao cinema com uma menina...

- E esse cheiro?

- Bom, depois... depois...

- Já entendi. Você sabe que pode pegar Sífilis ou Gonorréia? Cancro Mole?

- Mas ela é uma moça certinha, não é da “zona”!

- Se fosse certinha vocês não tinham feito isso!

- E os pais dela, o que vão dizer?

- Ela trabalha. O Senhor já a viu algumas vezes.

Ele se aproximou de mim, e sussurrou:

- Aquela moça linda? A Rodomoça?

- É...

- Pensei eu vocês só conversavam. Afinal ela é mais velha que você.

- Velha nada, vinte anos não é velha.

Minha mãe endureceu com ele:

- Você tem que fazer alguma coisa! Dar um castigo, pelo menos!

- Então, hoje não tem televisão!

Fiz cara de chateado, porque eu gostava de assistir “Jornada nas Estrelas” e “Bonanza”, mas no fundo eu estava nas nuvens, afinal eu havia tido a experiência mais maravilhosa do mundo.

Demorei para dormir, fiquei relembrando por horas aqueles momentos, eu queria guardar cada instante dentro da minha memória e do meu coração.

Foi então que tudo desmoronou.

De madrugada, ouvi pessoas falando alto. Levantei-me da cama, mas minha mãe abriu a porta do meu quarto e me disse para não sair de jeito nenhum, depois fechou de novo. Fiquei me perguntando o que poderia ser.

Pela manhã, pulei da cama e me vesti para ir ao colégio. Mas minha mãe estava na cozinha, muito séria. Ela falou:

- Você não vai para a escola hoje.

- O que aconteceu?

- Uma pessoa foi encontrada morta na Agência de Turismo. Alguém ouviu tiros, e chamou a polícia. Seu pai teve que ir até lá.

- Ai Meu Deus! Quem foi que morreu? Mãe, me diga!

- Foi um homem de uns trinta anos. A polícia disse que ele arrebentou a porta de vidro, entrou lá e se matou.

- Mas por que ele iria entrar justamente lá? E por que iria entrar lá só para se matar??

- Devia ser algum desses guerrilheiros subversivos, deve ter sido encurralado e resolveu dar um tiro no peito.

- Não acredito nisso. Ouvi dizer que eles fazem parecer suicídio.

- “Eles” quem, filho? Nem pense em falar alguma coisa desse tipo, nunca! Quer ser preso?

- Mas nem todo jovem é subversivo, mãe. Existem pessoas que só querem um país livre, onde se possa votar para eleger...

- Cale essa boca, guri!! Quem colocou essas ideias na sua cabeça oca?? Aquela... aquela China??

( “China” era um termo pejorativo usado antigamente, em especial no Rio Grande do Sul, de onde vinha minha mãe)

- Ela não é nenhuma China, mãe!

- E essa coisa aí no seu pulso? Uma pulseira??? Agora virou transviado?

- Não, mãe. Ela me deu. E disse que me ama.

- Ama? Você não faz ideia do que é o amor! É só um guri, não sabe nada! Vai se apaixonando pela primeira que aparece!

- Mãe, se não vou para a aula, então vou até lá, para ver se o pai precisa de alguma coisa. Hoje era o dia de ir ao banco pagar umas contas.

- Não sei, não sei mesmo. Pode ser perigoso.

Acabei por convencê-la a me deixar ir. Fui até a agência de turismo. As prateleiras da banca de revistas estavam vazias, uns poucos exemplares estavam no chão. Havia respingos de sangue em vários lugares, embora já tivessem tentado limpar. O corpo já havia sido levado de madrugada mesmo.

Meu pai estava perto dali, conversando com alguns vizinhos de lojas próximas. Um deles, um senhor de uns 50 anos com quem eu conversava regularmente, se aproximou de mim e falou:

- Sua namorada esteve aqui bem cedo, parecia muito abalada. Mas só ficou um pouquinho, e saiu apressada.

- De manhã cedo? Mas nesse horário eu estou normalmente na escola.

- Por isso estou te avisando. Ela pode ser uma subversiva. Tome cuidado. É uma moça muito linda, mas pode ser perigoso para você e seu pai ter contato com ela.

Eu fiquei chocado. Mas não foi tudo.

- Sabe aquele jornalista que encomendava seus desenhos? O “Marquês”?

- O que aconteceu?

- Foi preso ontem à noite. E o jornal foi fechado.

- Ah não!

Lá se foi meu emprego. Aliás, os dois. A agência de turismo fechou, e o jornal que comprava meus desenhos também.

Enquanto eles conversavam, fui a pé até a Rodoviária. Talvez eu encontrasse Virgínia. Ela havia me pedido para evitar de ir até lá, porque os patrões não gostavam de rapazes rondando as “Rodomoças”. A gente só se encontrava nos horários livres dela. Mas fui mesmo assim.

Na empresa onde ela trabalhava, fui perguntar por ela para uma moça no balcão.

- Não podemos dar informações sobre nossas funcionárias, é norma da Empresa.

- Mas é importante, fomos ao cinema ontem, passamos a tarde juntos, vimos o filme 2001 e...

- Ah, então é você o sortudo!

Ela abriu um sorriso.

- Não quero incomodar. Só quero saber se ela está bem. Aconteceu uma coisa nesta madrugada...

- Fiquei sabendo, uma coisa horrível. Espere um pouquinho, vou ver.

- Muito obrigado, eu espero.

Alguns instantes depois, ela retornou.

- Ela saiu faz uma meia hora, no ônibus para o Rio de Janeiro. Só vai voltar à noite.

- Sei, são seis horas e meia de viagem. Ela me contou. Mas esse não é o horário normal dela...

- Ela teve que trocar o horário com uma colega. Por causa de ontem.

- Ela trocou seu horário só para ficar comigo?

- Por isso eu disse que você é sortudo. Ela nunca havia feito isso antes, disse que ia ao cinema com um rapaz muito especial.

- Nossa. Obrigado.

Se ela iria voltar à noite, eu não iria vê-la. E agora seria complicado, porque a agência estava fechada. Deixei um bilhete para ela, com o número de telefone da minha casa, e pedi para ela ligar a cobrar. Naquele tempo, as ligações telefônicas eram cobradas por minuto, e só havia o telefone fixo. Não dava para ficar muito tempo falando, era muito caro. Mas não havia outro jeito, Falei com meu pai que se ela ligasse era para atender, e eu pagaria. Eu ainda ganhava algum dinheiro fazendo desenhos para colegas do colégio, daria para pagar essa ligação. Teríamos que marcar algum dia e hora para nos encontrarmos.

Depois disso, fui aos bancos para pagar algumas contas. As filas para os caixas eram enormes. Boa parte do dia foi assim.

Assim que pude, voltei para casa. Fiquei ouvindo música no rádio. Eu tinha um gravador portátil “Bigston”, com fita cassette. Eu colocava perto do rádio, e gravava as músicas que queria ouvir novamente. Fiquei assim o resto da tarde. À noite, eu me postei ao lado do telefone, lendo algumas revistas em quadrinhos.

- Filho, vai ficar aí a noite toda?

Expliquei à minha mãe que, como a agência estava fechada, Virgínia poderia ligar.

- Duvido que aquela China ligue para você. Já deve ter se enrabichado com outro. Essas moças de hoje em dia são assim. E dê graças se não tiver...ai meu Deus!

- Ela não é China, mãe. E o que eu tenho que dar graças?

- E se você engravidou a moça? Vai ter que casar!

- Não, mãe. Usamos Camisa de Vênus.

- Se foi ela quem levou isso para a cama , já sabia o que ia acontecer. É uma mulher da vida!

- Mãe, não diga isso!

Eu não iria contar, justo para a minha mãe, detalhes do que aconteceu, que ela era virgem e eu havia sido seu primeiro homem. Muito menos ao meu pai. E nem aos colegas de escola, iriam pensar mal dela. Apenas o Borges, que mencionei antes, sabia que eu havia feito sexo, mas ele nunca havia visto a Virgínia pessoalmente.

Fiquei quase até uma da manhã ali, esperando a ligação, e nada. Fui para a escola na manhã seguinte cansado, os olhos ardendo, desolado. Nem a professora de Biologia conseguiu me animar, embora sua minissaia estivesse especialmente curta naquele dia.

Quando as aulas terminaram, peguei o ônibus e fui até a Rodoviária. A moça que havia me atendido na manhã anterior me olhou com um ar de pena.

- Olha, não sei como dizer isso, mas a Virgínia não voltou do Rio.

- Não voltou?? Como assim??

- Ela foi fazer o intervalo antes da viagem de volta, só que não retornou. Todos procuraram por ela, mas ela simplesmente sumiu.

- Mas como??

Eu estava completamente desnorteado.

- Será que ela não foi assaltada? Avisaram a Polícia?

- Os policiais de plantão da Rodoviária foram avisados, a empresa tentou ligar para o telefone que consta na ficha dela, mas ela parece que morava sozinha, porque ninguém atendeu.

- Meu Deus! E agora???

- Só podemos esperar. Sinto muito.

Eu nem de longe podia pensar em ir para o Rio de Janeiro, embora já tivesse morado lá alguns anos antes. A cidade era enorme, e ela nunca havia me falado sobre seus parentes. Peguei o ônibus para casa totalmente arrasado.

No caminho de casa, tive um sobressalto. Pareceu-me ter visto uma imagem de Virgínia. Era uma foto em preto e branco. Mas onde? Olhei pela janela do ônibus, haviam colocado cartazes em postes e muros:

“ TERRORISTAS PROCURADOS!”

“TERRORISTAS ASSASSINOS PROCURADOS! AJUDE A PROTEGER SUA VIDA E A DE SEUS FAMILIARES”

“ ASSALTARAM - ROUBARAM - MATARAM!”

“BANDIDOS TERRORISTAS PROCURADOS PELOS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA NACIONAL”

Os cartazes traziam fotos.

Desci no primeiro ponto, o coração aos pulos. A mudança repentina no comportamento dela, aceitando meu convite para o sorvete e o cinema. As coisas que ela havia dito após o filme. Ela iria fazer alguma coisa perigosa, e sabia que poderia ser presa, talvez até torturada e morta. Por isso decidiu ficar aquela tarde comigo. Para termos um dia feliz antes do...fim. Não. Eu não podia acreditar naquilo.

Corri até um muro onde estavam vários cartazes. Meus olhos se encheram de lágrimas. Era uma foto dela! Estava meio desfocada, o nome embaixo da imagem era outro, mas era ela!

Fiquei ali olhando, as mãos apoiadas no muro, chorando. Algumas pessoas começaram a olhar esquisito.

Então, senti uma mão se apoiando em meu ombro. Virei-me rapidamente, assustado. Era um rapaz da minha idade.

- Algum parente? Amigo?

- Minha namorada – respondi sem pensar, mas já era tarde.

- Esse aí do lado é meu irmão. Mas está morto.

- Como assim? Não estão sendo procurados?

- Eles fazem assim para parecer que são fugitivos. Mas meu irmão foi levado pelos policiais de dentro da sala de aula. Um conhecido do meu pai disse que viu quando ele foi morto num prédio, na Rua Tutóia.

- Não! Não pode ser!

- Meu amigo, se ela sumiu de repente, pode ter acontecido o pior.

Fiquei transtornado, aquele desconhecido me abraçou, e choramos juntos. Mas isso durou apenas alguns momentos, porque vimos ao longe alguns policiais que se aproximavam. Peguei o primeiro ônibus que vi, e fui até o ponto final. Eu não me importava onde poderia estar naquele momento.

Totalmente atordoado, peguei outro ônibus, desta vez na direção correta, mas a parada era a umas oito quadras da minha casa.

No caminho, passei pelo Museu do Ipiranga.

“Independência ou Morte!” foi ( supostamente) o grito dado por Dom Pedro. Com raiva, eu havia percebido que quem desejasse independência do “Império” acabaria morrendo. Como Virgínia.

Olhei para a pulseira que ela me havia dado. Com a agitação, havia virado um pouco do avesso. Parecia haver algo escrito nela.

Com certa dificuldade, desfiz o nó que ela havia dado. Estiquei a pulseira de tecido. No lado interno, estava escrito:

“ AMOR - ADEUS”

Eu queria , tanto quanto vocês, leitores, dar um final feliz para esta história. Mas nada disso aconteceu, nada depois do “AMOR – ADEUS”. Imaginei como seria se, anos depois, ela estivesse viva, talvez morando em outro país, tendo se casado e tido filhos, mesmo deixando o amor de sua vida para trás. E eu iria tentar conviver com isso.

No entanto, a triste e cruel verdade é que Virgínia morreu. Retornei à empresa de ônibus, e insisti tanto que acabaram me passando, por pura pena, o telefone da mãe dela, Dona Norma. Quando liguei, ela bateu o telefone na minha cara. Eu devia saber, afinal a filha dela havia desaparecido, e certamente os militares já haviam estado na casa dela.

Tive que procurar o endereço na lista telefônica, rezando para que o nome dela estivesse lá. Ela morava em um bairro meio distante, mas nada mais me importava, eu poderia perder aulas, reprovar de ano, mas eu precisava saber se ela estava viva.

Quando cheguei à casa da mãe de Virgínia, ela me atendeu, principalmente pelo estado miserável em que eu me encontrava. Aos prantos, perguntei se ela sabia onde a filha estava. Dona Norma também havia chorado muito, e me contou que sabia que a filha estava envolvida com um grupo revolucionário, e que vários de seus companheiros já haviam sido capturados, torturados e mortos. Seria apenas questão de tempo para que o mesmo acontecesse com ela.

Por isso ela havia decidido passar o domingo comigo! Ela sabia o que poderia acontecer. Mas poderia ter, de alguma forma, conseguido sair do país pelo aeroporto do Rio de Janeiro.

Dona Norma também me contou que Virgínia havia falado a meu respeito, inclusive que, se as coisas fossem diferentes, poderíamos namorar a sério e mesmo pensar em casar. Não sei se ela havia dito isso apenas para me consolar, mas me pareceu sincera.

Os dias se tornaram semanas, as semanas em meses. Uma noite, a mãe de Virgínia telefonou, e meu pai atendeu, me chamando urgente. Corri até a sala. Ela me contou que havia recebido um comunicado do Exército, informando que Virgínia havia sido morta durante uma tentativa de ato terrorista. O que não era em absoluto verdade, já que ela havia desaparecido muito antes. Mas não podíamos questionar em hipótese alguma, já que em dezembro de 68 houve o Ato Institucional Número 5, que institucionalizou torturas, assassinatos, perseguições e violações de direitos humanos. Seria impossível entrar com uma ação judicial.

Algum tempo mais tarde, fui visitá-la pessoalmente. Dona Norma me chamou para um canto de sua sala, e me segredou que um companheiro de grupo de sua filha havia lhe contado que ela havia sido presa já naquela noite, no Rio. E que havia sido torturada seguidas vezes, sendo morta alguns meses depois.

Sabendo disso, procurei um tio que estava no Exército, pedindo encarecidamente para que ele confirmasse a veracidade dessas informações. Dada a situação da época, ele obviamente repassou o que ouviu para os seus superiores. E novamente a mãe de Virgínia recebeu um comunicado oficial, negando que tivesse havido qualquer tipo de tortura.

Algum tempo depois, meu pai decidiu se mudar de São Paulo, fomos morar em um sítio nos arredores de uma outra cidade. O contato com Dona Norma ficou mais difícil, porque o Exército podia abrir qualquer tipo de correspondência, e o telefone DDD recém implantado ( Discagem Direta à Distância) era muito caro.

No entanto, mantive uma troca de cartas com ela, usando artifícios como perguntas indiretas, que ela, sendo uma mulher inteligente, respondia como podia. O que se sabia é que Virgínia teria sido torturada e morta nas dependências do DOI-CODI.

Cerca de vinte anos depois, em setembro de 1990, quando o Cemitério de Perus foi descoberto, foi feito o reconhecimento da ossada de Virgínia. Dona Norma faleceu pouco tempo após, tendo finalmente descoberto a verdade. E eu...

Eu poderia dizer que finalmente tive paz, ao saber o que realmente havia acontecido. Mas não. Uma história dessas deixa marcas profundas para o resto da vida.

Para aqueles que acreditam que não houve ditadura militar, ou que houve uma “ditabranda”, uma “revolução nacionalista”, eu só posso dizer que sinto pena. E uma dor imensa no coração.

FIM

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Comentários

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Que coisa emocionante! É disso que precisamos neste site! Precisamos que entendam que sexo tem contexto, que as pessoas não saem tirando suas roupas e trepando do nada, sem qualquer traço de contextualização em volta.

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História muito interessante, com crítica social e política, passada nos "anos de chumbo". Mas, do ponto de vista literário, gênero conto, um pouco longa e didática demais. Abraços.

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Agradeço seu comentário. Não procurei ser didático, apenas contei o que me lembro da época...

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Fiquei me lembrando das rodomocas! Das visgens de cabine de trem e ate de uma visgem de litorina que fiz qdo criança! Conto nostálgico

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Excelente texto. Nuances eróticas, mas e mais um conto dos anos negros deste pais, que atualmente insiste em voltar! ⭐⭐⭐

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Parabéns pela história, não vivi nessa época infelizmente uma triste história, um primeiro amor, uma primeira vez infelizmente acabou dessa maneira, parabéns pelo seu desabafo

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Paulo_Claudia, o texto me leva do céu ao inferno. Era uma história perfeita de primeiro amor e a primeira vez e vira um horror absurdo. Senti sua felicidade em conhecer Virgínia e pelas experiências com ela e sentia a agonia de quando ela desaparece. Eu estou escrevendo esse comentário, ainda preso naquele ano, querendo abraçar o rapaz que descobriu o destino trágico de sua namorada. Não é qualquer texto que faz a gente se sentir assim.

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Caro Turin, muito obrigado pelo seu comentário. Agradeço imensamente. Escrever sobre aquele tempo mexeu muito comigo. Acho que consegui passar um pouco da emoção daqueles momentos.

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Maravilhoso texto.

Eu era muito novo na primeira fase da repressão, mas por contatos familiares captei algo do que estava acontecendo. Com o passar do tempo, tive uma visão ampla do terror que nos circundava. Garanto, o primeiro gás lacrimogênio ninguém nunca esquece...

Nunca imaginei que essa sombra voltasse para ameaçar a liberdade de meus filhos e netos. No que depender de mim, de novo, NÃO.

"Eu era alegre como um rio

Um bicho, um bando de pardais

Como um galo, quando havia

Quando havia galos, noites e quintais

Mas veio o tempo negro e, à força, fez comigo

O mal que a força sempre faz

Não sou feliz, mas não sou mudo

Hoje eu canto muito mais..."

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Muito obrigado, Old Ted. Muito obrigado mesmo pelo seu comentário.Abraço.

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Fantástico.

Ainda era criança nessa época mas lembro de coisas parecidas acontecidas com Anvisa da minha irmã.

Parabéns e todas as estrelas

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Parabéns. Perfeito o retrato político da época. Branda apenas a punição para os criminosos e torturadores. Todas as estrelas

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Muito obrigado, Wilberto. Realmente, acho que se tivessem punido exemplarmente os torturadores, não estaríamos como estamos, sob a ameaça de ema nova era de repressão.

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Obrigado pelo conto que reporta parte da história da sua vida e do seu país e que me transportou para a minha adolescência, quando por razões não muito diferentes da sua amada, fui detido pela polícia política portuguesa no ano de 1971. Desde Portugal, um forte abraço meu caro

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Paulo-Claudia. Belíssimo conto, espetacular resgate de uma época em que vivemos clandestinos, com nomes fictícios, documentos falsos, lutamos com estilingues e bolas de gude contra militares armados com balas de verdade, nas passeatas e manifestações, tomamos muita bomba de gás lacrimogênio no olho e nariz e cassetete no lombo e na cabeça. Quem passou pelos porões do DOI-CODI ali perto da antiga rodoviária no centro de SP sabe o terror que foi. E muitos de nós foram presos, torturados e mortos. Os que restaram, estão até hoje lutando para que a democracia, tão frágil e difícil de obter, não se acabe novamente. Nota Mil com todas as estrelas.

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Leon, seu comentário vale mais que mil estrelas. Eu nem tenho palavras para agradecer.

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Confesso que chorei emocionado ao lembrar de tantos companheiros mortos, não terroristas como foram chamados, mas jovens estudantes que eram apenas contrários à perda de nossa liberdade e direitos. Além de uma história bonita e bem escrita, uma homenagem às centenas ou milhares de vítimas de militares criminosos. E que querem voltar a oprimir nosso povo. Muito bom mesmo.

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Eu escrevi chorando, admito, e ainda estou. Eu não achava que relembrar tudo o que aconteceu iria mexer tanto comigo. Mas é verdade, os anos de chumbo estão mais perto do que nunca. Só peço a Deus que nossos jovens sejam poupados.

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Desafio 3: Anos 60
Relação dos contos participantes do terceiro desafio com tema Anos 60.