O outro capítulo 38 Lurdes

Um conto erótico de Arthur Miguel
Categoria: Gay
Contém 7610 palavras
Data: 26/07/2022 12:06:11
Assuntos: Amor, Carinho, Desejo, Gay

Capítulo 38

Quando a bela moça entrou na confeitaria perguntando por Lurdes, essa a atendeu esbanjando alegria. Via naquela bela jovem de cabelos negros e cacheados, pele escura e corpo escultural uma esperança.

O seu nome era Fernanda. Lurdes a conheceu na academia que passou a frequentar para praticar pilates. Fernanda tinha 26 anos, era saudável e o melhor de tudo, solteira.

Entre conversas, Lurdes mostrou a nova amiga a fotografia de seu filho Abner, que de primeira, despertou o interesse da jovem.

Lurdes viu nela a possibilidade do filho construir uma família, talvez até lhe dar netos e esquecer Leandro de uma vez por todas.

Para ajudar a unir o tão sonhado casal, Lurdes convidou Fernanda para conhecer a confeitaria do filho no horário em que ele estivesse presente.

Apresentou os dois empolgada.

Abner percebeu a intenção da mãe. Tratou a moça com muita gentileza, mas tinha a intenção de repreender Lurdes assim que Fernanda partisse. Não estava disposto a aceitar ninguém que não fosse Leandro.

_ Filho, por que vocês não se sentam? Poderia contar a Fernanda como fez para elaborar o cardápio._ Lurdes sugeriu, e Abner não teve jeito de recusar.

Os dois conversaram por alguns minutos, para a alegria de Lurdes, que os observava sorrindo do balcão.

Essa alegria foi a óbito, quando Lurdes viu Leandro entrando na confeitaria. Ele foi direto para a mesa onde Abner e Fernanda estavam sentados.

_ Bom dia._ Leandro cumprimentou Fernanda com gentileza._ Desculpe incomodar, mas eu gostaria de te mostrar os banners do evento. Eles acabaram de chegar e... você está ocupado, né? Bom...assim que você puder, dê uma passada lá na livraria.

Abner levantou no mesmo instante.

_ Não. Eu vou contigo. Desculpe, Fernanda... não é? É que tenho que ir, é trabalho. Mas a minha mãe te faz companhia.

_ Sem problema._ respondeu Fernanda, sorrindo para ocultar sua frustração.

Lurdes foi acionada pelo filho para substituí-lo á mesa com Fernanda. A mulher foi a contra gosto e não fez questão nenhuma de ocultar sua insatisfação, o que deixou Leandro envergonhado.

Em seguida, os dois partiram em direção á livraria.

O acontecido pela manhã retirou de Lurdes o sono da noite. Ela revirava na cama, nervosa, incomodando o marido.

_ O que foi, mulher?_ resmungou Martins, impaciente.

Lurdes desabafou sua aflição ao marido.

_ Abner ainda vai acabar com os meus nervos. Esse menino não tem um pingo de amor por mim. Põe a vida em risco, sem preocupar que tem mãe.

_ Hum!

_ Amanhã mesmo vou resolver isso. Vou falar com Leandro.

_ Vai falar o que, mulher? Não se meta nisso. Abner já está grandinho.

_ Ele é o meu filho! Não vou permitir que corra riscos! E se aquele endemoniado do Júlio fizer alguma coisa com ele? A culpa será toda do Leandro. Ele é mais velho e conhece o marido que tem.

Lurdes não era mulher de ficar só na promessa. Assim que amanheceu, foi direto á Livraria.

Leandro ainda estava abrindo as portas da loja quando Lurdes chegou. Era tão cedo que Patrícia e Nicolau ainda estavam a caminho.

_ Bom dia, dona Lurdes. Que bom vê -la!_ Leandro exclamou com sincera simpatia. Mas se surpreendeu ao ver a expressão carrancuda da mulher.

_ Eu vou dispensar qualquer conversinha mole e vou direto ao ponto. O meu filho é jovem. Só tem 25 anos. É desajuizado. Mas você já é adulto, pai de uma adolescente e sabe muito bem o que está fazendo. É um homem casado! E deveria ter vergonha na cara! Eu exijo que se afaste do meu filho. Não é justo que você ponha a vida dele em risco. Você conhece o marido que tem e sabe muito bem o perigo que o Abner corre por se envolver com você.

Leandro sorrir, balançando a cabeça negativamente, não querendo crer no absurdo daquela situação.

_Acho que estamos tendo um equívoco aqui. Eu mais do que ninguém não quero nada com o seu filho. Ou a senhora se esqueceu de tudo que ele aprontou comigo?

_ Ah conta outra, Leandro. Não se faça de sonso comigo. Você acha que não percebo que você vive indo lá na confeitaria atrás do Abner? Ele tá sempre aqui.

_ Nós estamos trabalhando juntos. É só isso.

_ Não é! Abner gosta de você. Você sabe disso e faz joguinhos.

_ Joguinhos?! Eu?! Que absurdo!

_ Júlio tentou matar o meu filho uma vez. Enfiou uma bala nele por culpa sua. Abner também errou... não vou negar. Mas você também! Você é casado, o Júlio também. Cabia a vocês dois se darem ao respeito. Depois teve aquela briga horrorosa aqui na livraria. Porque você de uma certa forma dá esperanças pro Abner.

_ Eu nunca dei esperanças pro Abner!

_ Você conhece o marido que tem. Quer que uma tragédia aconteça?

_ De jeito nenhum.

_ Então se afaste do meu filho. Abner não tem juízo. Ele está apaixonado por você. É teimoso e vai insistir. Não dê esperanças a ele! Seja firme e o expulse da sua vida! Tenha juízo, Leandro. Não envolva o meu filho nos seus problemas.

_ Não é justo que a senhora me faça essas acusações absurdas. Não é mesmo.

_ Então faça o que deva ser feito, antes que uma tragédia aconteça.

Lurdes não deu a Leandro nenhuma chance de defesa. Saiu da livraria como um jato, com a mesma dureza que entrou.

_ Que merda!_ Exclamou Leandro, socando o balcão.

Alguns dias depois...

Ódio. Essa era a palavra que definia o que consumia cada fibra do corpo de Júlio. Os seus olhos eram como tempestades no oceano. O motivo de tudo isso? Era o que via através da tela do seu celular.

Era uma noite de sexta-feira. Enquanto ele estava trancafiado por trás das grades enferrujadas, Vanessa transmitia, via stories, a imagem de Leandro sorrindo e cantando a música Ana Júlia, num karaokê de um bar, ao lado de Patrícia e Valéria. "O poder do álcool é tão bom que faz até um príncipe perder a compostura KKKK" Essa era a legenda em que Vanessa se referia ao pai em tom de brincadeira.

Leandro sorria como não fazia há tempos, irradiava brilho de felicidade. O motivo de sua alegria não vinha só do álcool e sim por estar entre pessoas queridas por ele.

Tudo isso provocava em Júlio um sentimento de ofensa. Ele não se conformava que Leandro poderia sim viver sem ele, ser feliz...e pior, talvez, naquele momento, nem pensasse na sua existência. Desejou apagar aquele sorriso com as próprias mãos, apertando aquele belo pescoço alvo, que, mesmo com ódio, cobiçava para beijar. Júlio queria devorar a felicidade do ex marido, estraçalha-la com fúria. Sentia o peito arder, socava as grades da prisão como uma besta fera sedenta por sangue, mas era impedida de se aproximar da presa.

Há dois atrás, Júlio recebia a visita de Rubens, que sorriu ao vê-lo. Sorriso esse que provocou mais irritação em Júlio. "Como esse idiota tem a pachorra de sorrir enquanto estou trancafiado neste inferno?" Foi o que pensou, olhando para Rubens expressando todo o seu ódio.

_ E aí, bicha? Gostou dos garotos de programa que te mandei? Escolhi os melhores. Só carne de primeira.

_ Eu acho um absurdo eu ter que pagar uma fortuna para comer esses putos, ainda ter que molhar a mão do delegado, enquanto eu tenho o Leandro como marido. Porra! Ele deveria cumprir com as obrigações conjugais e vir aqui me satisfazer. Mas prefere se esfregar com aquele michê de quinta do Abner.

_ Júlio, pelo amor de deus homem! Esqueça o Leandro! Você pode ter o homem que quiser.

_ Eu quero o Leandro, porra!

_ Mas ele não te quer! Aceite isso de uma vez por todas!

_ Ele não tem querer! É o meu marido!

_ Não será por muito tempo.

Rubens respirou fundo, prevendo a reação nada agradável de Júlio. Retirou da pasta uns papéis e entregou ao patrão.

_ Chegou essa intimação para a primeira audiência do divórcio. Está marcada para daqui a um mês. Até lá você já não estará mais aqui.

Júlio tomou os papéis e os observava com os olhos enfurecidos. Franzia a testa numa expressão dura e medonha. Sem dizer uma palavra, rasgou-os violentamente, deixando Rubens admirado.

....

Não havia nenhum motivo especial para que Leandro pudesse comemorar. Naquela noite só estava feliz e ponto.

No final do expediente Patrícia se espantou ao ver que o seu pagamento do mês veio a mais do que o esperado.

_ É só um bônus. Em vista do tanto que você me ajuda, isso nem é nada. Mas é o que posso dar no momento.

_ Não é nada?! Lê, você me deu 500 reais a mais!_ Patrícia disse alegre._ Você não sabe o quanto isso vai me ajudar. Aliás, bem que poderíamos fazer uma farrinha hoje, hein. Que tal o bar do Chico?

_ Ah não sei. A Vanessa está comigo e...

_ Leva ela ora! A menina fica no refri e nós na cervejinha. Qual é, Lê? Você quase nunca se diverte.

De tanto Patrícia insistir, Leandro acabou cedendo. Ligou para Valéria a convidando. E marcou de encontrar com ela e Patrícia no bar, dali a duas horas.

Ao chegar em casa, convidou a filha para ir com eles. Quando soube que o bar era popular e que ficava na zona Norte, Vanessa não recebeu a notícia com bom agrado.

_ Eu não gosto desse seu jeito elitista, Vanessa.

_ Não é elitismo, pai. Eu não sou obrigada a gostar de estar perto de pessoas diferentes de mim e muito menos a frequentar boteco de quinta.

_ Ninguém é diferente de você. Porque o dinheiro do Júlio não te torna melhor do que as pessoas menos favorecidas.

_ Você se tornou mesmo um suburbano. Daqui a pouco vai estar usando Android. Que decadência, Leandro.

_ Quer saber, Vanessa? Eu sou um suburbano sim, desci do salto mesmo, moro na zona norte, aproveito as promoções para fazer compras, não uso mais grifes e até frequento botecos de quinta, como você disse. E não me envergonho nem um pouco disso. Pela primeira vez na minha vida, eu tenho orgulho de mim mesmo por, mesmo vivendo com pouco, me sustento com os frutos do meu trabalho e não dependo mais de um real vindo de ninguém.

_ O meu pai não é ninguém! É o seu marido. E você é burro de estar nesta pobreza, enquanto o Luciano está desfrutando do que é seu.

_ Eu não ligo! E Luciano não está desfrutando do que é meu! Está desfrutando do que é do Júlio. E eu não me importo com nada do que aquele canalha faça, desde que fique longe de mim!

_ Você deve tá muito feliz com a prisão dele não é?

_ Sim. Estou.

_ Como você tem coragem de me dizer isso?

_ Vanessa, eu já estou farto desta conversa. Eu vou ao bar sim. Se você quiser, me acompanhe, se não quiser, fique em casa. A escolha é sua.

Vanessa bufou, cruzando os braços. Apesar de não querer acompanhar o pai no bar do Chico, ela também não queria passar a noite em casa. Acabou aceitando, mesmo contra a gosto.

_ Que pé sujo!_ Vanessa disse com ar de arrogância ao chegar no bar, vestida com um vestido justo de cor rosa e saltos brancos.

Leandro decidiu ignorar a filha, e seguiu com ela de mãos dadas até a mesa em que as amigas estavam.

Ao contrário do que Vanessa disse, o bar do Chico não era nenhum pé sujo. Era um bar tradicional, fundado no início dos anos 50 por Franscisco Alves, um sambista conhecido como seu Chico. Após a sua morte, os seus descendentes prosseguiram na administração do local.

O chão era de pisos que se alternavam entre branco e preto, semelhante a um tabuleiro de xadrez. As paredes eram brancas e possuiam TVS e ar condicionados. No teto alguns globos de luzes e lâmpadas de iluminação focadas.

Em frente ao balcão imenso ficava um enorme telão que transmitia as letras das músicas que os clientes cantavam no karaokê.

No centro do bar uma fileira de cadeiras e mesas estavam unidas com microfones sobre a mesa e alguns instrumentos musicais em volta. Era o local onde os sambistas se apresentariam mais tarde.

O prato mais requisitado da casa era a famosa feijoada, que o caldo borbulhava na cozinha, exalando o cheiro apetitoso por todo o ambiente, despertando o desejo até mesmo da soberba Vanessa.

Algunas horas depois, estamos na cena em que Júlio avistou pelo story do perfil do Instagram de Vanessa.

Leandro, depois de ter tomado algumas cervejas com as amigas, criou coragem para cantar Ana Júlia no karaokê. Sentia-se alegre como não se sentia há tempos.

Aos poucos Vanessa foi se soltando. A menina não resistiu ao ritmo do samba e foi dançar no meio do salão do bar com Patrícia e Valéria.

No entanto, o seu sorriso se desfez ao ver Abner e um grupo de um amigos entrando no local. Ele acenou para Patricia, que retribuiu.

_ Eu não sabia que vocês tinham se tornado amiguinhos._ disse Vanessa com arrogância.

_ Sim. Nós somos amigos. Algum problema?_ Patrícia respondeu com firmeza. Ela não gostou do tom usado por Vanessa.

_ O problema é seu. É você quem vai andar com gentinha de baixo nível.

_ E nem vem, garota. Estou com zero paciência pra seus chiliques.

Mesmo percebendo a presença de Abner, Leandro procurou ignorar. Ele percebeu que Vanessa marcava em cima vigiando se o pai corresponderia aos olhares de Abner e a última coisa que Leandro queria era ter uma discussão com Vanessa.

Incomodada com a presença do ex amante dos pais, Vanessa esperou um momento de distração de Leandro e foi até o balcão do bar, onde Abner estava para pedir uma torre de shop e levar até a mesa dos amigos.

_ Você tá sabendo que eu não vou com a sua cara, né?_Perguntou Vanessa em tom desafiador.

_ E por acaso a minha cara está te convidando para ir a algum lugar?

_ Ah, ainda é metido a engraçadinho! Bem baixo nível mesmo. Olha aqui oh, biscate, fique longe do meu pai.

_ É mesmo? E por que devo obedecer as ordens de vossa majestade?

_ Você não me conhece.

_ E não tenho o mínimo interesse em conhecer. E pode baixando a crista comigo. Eu não sou o Luciano que você pisa e fala o que quer.

Por Patrícia, Abner soube dos desentendimentos entre Vanessa e Luciano.

_ Não. Você não é o Luciano, apesar de ser da mesma laia. Você é pior. É uma praga destruidora das plantações alheias. É um sujeitinho qualquer que tira a roupa por qualquer trocado.

_ Para o Leandro eu tirei de graça._ Abner debochou com um sorriso ousado, deixando a menina ainda mais irritada.

_ Seu...

_ Ah, garota, eu tenho mais o que fazer. Passar bem._ após dizer isso, Abner pagou pela torre e se afastou, voltando para a sua mesa.

_ Vá tomar no cu!_ Vanessa gritou e Abner respondeu com um sorriso.

...

_ Eu vou ao banheiro._assim que acabou de dizer essas palavras as amigas, Leandro levantou sentindo as pernas um pouco bambas, devido ao efeito do álcool.

Abner o acompanhou com o olhar. Disse aos amigos que precisava ir ao banheiro.

O local estava vazio. Leandro lavava o rosto, agachado, com o peito apoiado sobre a pia, quando Abner entrou. Visualizou-o através do espelho, e abaixou o olhar, fingindo ignora-lo.

Abner mordeu o canto do lábio inferior e se aproximou olhando para Leandro com desejo de devora-lo. Encaixou deitou o peito sobre as costas de Leandro, e esse se arrepiou por inteiro ao sentir o pescoço sendo levemente mordido por Abner, que também, deslizava as mãos sobre as coxas de Leandro.

Tentando escapar, Leandro levantou o corpo e deu um passo para trás. Mas foi impedido de se movimentar, quando Abner encaixou os quadris em suas nádegas, o aprisionando num abraço por trás.

_ Você tá uma delícia com esse perfume. Tá me deixando louco!_ Abner sussurrou com a voz grossa, ao pé do ouvido de Leandro, que sentia o membro do cozinheiro enrijecer, se roçando entre as suas nádegas.

Abner penetrou os dedos entre os cabelos negros de Leandro, os puxando para trás, fazendo com o amado erguesse a cabeça e o seu pescoço ficasse mais a sua disposição.

_ Que saudade desse pescocinho._ disse Abner, se deliciando o máximo que podia, deslizando a língua sobre aquela pele macia, o beijando.

Leandro sentia o corpo amolecer quando os dentes de Abner cravaram na carne do seu pescoço, dando leves mordidinhas.

_ Me solta!_ Leandro ordenou, o empurrando com as costas. Afastou-se indo em direção á porta, mas foi detido por Abner, que o segurou pelo braço com força.

O olhar sério e penetrante de Abner o fez tremer da cabeça aos pés. Entre as pernas, sentia o pênis molhar endurecido. Mirou os lábios de Abner sedento por eles. Contudo quis fugir.

Abner o puxou para si. Jogou-o contra a parede. Ergueu suas pernas encaixando nos próprios quadris e deslizou o dedo indicador sobre os lábios de Leandro.

Deu uma leve mordidinha no lábio inferior de Leandro, que não resistiu e gemeu no mesmo instante. Em seguida, deu um selinho, segurando o seu queixo.

_ Eu não vou resistir a essa boquinha gostosa._ Após dizer essas palavras, Abner o devorou com um beijo intenso, molhado, profundo e arrebatador. Leandro cedeu aos desejos, envolvendo os braços sobre o pescoço de Abner e se entregando por completo. Seu corpo implorava para que Abner entrasse nele e o preenchesse.

Sua respiração estava ofegante e gemia, deixando Abner louco de tesão.

_ Não adianta fugir de mim. Eu sei que você me quer da mesma proporção que eu te quero.

Abner voltou a beijá-lo. Leandro seguía sem nenhuma resistência, com os olhos fechados.

As palavras de Lurdes o fez despertar do êxtase. Pensou em Júlio o olhando com ódio e temeu que Lurdes pudesse ter razão. Ele sabia que a vida de Abner corría perigo por toca-lo.

Mais uma vez, empurrou o cozinheiro e se livrou dos seus braços.

_ Eu não vou deixar que escape de mim.

Abner estava inconformado com a resistência de Leandro.

_ Eu sei que você me quer. Pra que esse rancor idiota, porra?!

Leandro o olhou lamentando. Sentiu as lágrimas se formando nos olhos e correu antes que elas desabassem.

_ Merda! Merda!_ Abner gritou, socando a parede.

_Gente, eu preciso ir embora. Não me sinto muito bem.

_ O que você sentindo, meu Bijuzinho?_ Valéria perguntou preocupada.

_ Estou um pouco enjoado.

_ Mas você nem bebeu tanto assim._ Patrícia pontuou.

_ Ah, pai. Ir embora justo agora, que está tão bom.

_ Outro dia nós voltamos, filha. Eu vou chamar um táxi.

_ Nada disso. Eu te levo._ disse Valéria.

Leandro permaneceu em silêncio durante todo o caminho percorrido até em casa. Deitou a cabeça na janela do carro. Valéria percebeu que havia algo errado, mas decidiu perguntar quando chegaram em casa e Vanessa já adormecia em seu quarto.

Leandro convidou Valéria para dormir com ele. Na cama, ele narrou todo o acontecido no banheiro.

_ Que filho da puta! Isso é covardia usar da gostosura e da boa pegada para te fisgar. Você sabe que não quero que você se envolva com o Abner. Aquilo lá é uma biscate mentirosa. Eu ainda tenho ranço por ele ter sido o amante do Júlio e ter te enganado. Ainda bem que você resistiu.

_ Eu vou te confessar que por pouco fraquejei...eu queria.

_ Eu te entendo. O cara é lindo, jovem e pica delícia... é difícil resistir mesmo. Mas o importante é que você resistiu. Estou orgulhosa de você. Agora essa Lurdes está precisando ouvir umas boas verdades... aliás, ela deveria saber disso. Que é o filho dela que te persegue e quase te agarrou no banheiro.

_ Parcialmente ela tem razão. Tanto o Abner quanto qualquer homem correm risco de vida ao se envolverem comigo. Júlio não vai se conformar. Eu não tenho direito de pôr a vida de ninguém em risco.

_ Mas isso não é justo! Mesmo que você não fique com o Abner. Você tem o direito de ser feliz com quem quiser. O demônio do Júlio não deve se intrometer. Ele mesmo não está com o tal do Luciano?! Eu odeio tanto esse homem!

_ Eu só queria ter liberdade... só isso.

Leandro virou para o lado oposto a Valéria e fechou os olhos, deixando as lágrimas caírem em silêncio.

Leandro passou o dia silencioso.

Questionado pelas pessoas o motivo da sua quietude, ele desviava o assunto inventando uma desculpa trivial. Passou o dia mergulhado em seus pensamentos. No perigo que representava para Abner ou qualquer homem que se aproximasse dele. Chegou a desejar a morte de Júlio, vendo nela a única possibilidade de liberdade. No entanto, se reprimiu no mesmo instante, pois sabia que isso causaria muito sofrimento em Vanessa. Sentiu-se péssimo por ter sido egoísta de pensar só em si e ter esquecido da filha.

A noite, Vanessa pediu para ir á uma festa Julina que estava acontecendo na rua do seu condomínio.

_ Por favor, pai! Eu vou com a Rebeca.

_ Tudo bem, mas as onze esteja em casa.

_ Credo! É muito cedo. A Cinderela tinha que estar em casa meia noite.

_ A Cinderela não era a minha filha.

_ Que saco!

_ Ou isso, ou nada!

_ Ok! Ok!_ Vanessa exclamou revirando os olhos para cima.

Pela janela do seu apartamento, Leandro conseguia visualizar a festa. A noite era fria e a lua estava cheia e azulada.

Algumas bandeirinhas foram penduradas na rua, com barraquinhas com quitutes e um palco foi posto para as apresentações musicais e a dança de quadrilha.

Leandro observava, com os braços cruzados, Vanessa sorrindo em círculo com algumas meninas da sua idade. Ele a admirava como estava crescida e bela. Sentia-se feliz por tê-la ao seu lado.

Decidiu esperar a chegada da filha sentado no sofá e ligou a TV. Relaxou o corpo, deitando no sofá e cobrindo o corpo com uma manta. Tinha a intenção de assistir ao filme que estava sendo exibido numa emissora, mas acabou pegando no sono.

Leandro acordou assustado. Levantou às pressas e olhou para um relógio cuco, que estava pendurado na parede ao lado do painel da TV. Já passava da meia noite e Vanessa não havia chegado.

Correu para a janela e não avistou a filha e o seu coração disparou de preocupação. Ligou para ela, mas a ligação não foi atendida. Na certa, Vanessa não ouviu o celular tocar já que o som da festa estava muito alto.

Leandro foi até o quarto e trocou o pijama por um conjunto de moletom preto. Desceu do prédio e foi á festa a procura da filha. Olhava para todos os lados preocupado.

Seu coração bateu ainda mais forte ao sentir que era puxado por uma mão máscula, que o conduziu até um beco escuro e silencioso.

_ Precisamos conversar._ Abner disse sério.

_ Eu não tenho nada para conversar contigo. Me deixe em paz que preciso procurar a minha filha! Pode ter acontecido alguma coisa.

_ Não se preocupe que não aconteceu nada com ela. Acabei de ver a Vanessa aos beijos com um rapaz.

Apesar de conhecer muito bem o comportamento da filha, Leandro ainda se sentia desconfortável diante dessas atitudes de Vanessa. Para ele, ainda era difícil lidar com o crescimento dela.

_ Leandro, eu sei que errei contigo, mas eu tô tentando mudar! Eu tô me esforçando, cara! Eu sei que você não me odeia. Muito pelo contrário, eu sei que gosta de mim e que me deseja tanto o quanto eu te desejo. Só não consigo entender o porquê de tanta resistência._ Abner pôs as duas mãos sobre as bochechas de Leandro e o olhou com doçura._ Eu te amo tanto! Só quero te fazer feliz, meu amor.

_ Eu não preciso que ninguém me faça feliz! A felicidade é minha por direito e sou perfeitamente capaz de conquista-la sozinho.

Leandro retirou as mãos de Abner do seu rosto.

_ Por que você está me perseguindo? Não era o Júlio que você queria? Então fique com ele. Por que eu, hein? Que obssessão!

_ Eu não quero o Júlio! Quero você. E não é obssessão, é amor. Eu gosto de você...muito. você me arrebatou de um jeito que não sei explicar. Você é como um lago, meu amor. É belo e profundo... tão intenso.

_ Que brega!

_ Pode até ser brega! Mas é sincero.

_ A palavra sinceridade não combina com você.

_ Você sabe que estou dizendo a verdade.

_ Não...eu não sei. A única coisa que sei é que de você quero distância. Você é um mentiroso, manipulador e destruidor de lares. Um sujeitinho qualquer que usa o corpo e a beleza para obter dinheiro. Dorme com os maridos alheios sem se importar que tem um corno sofrendo por isso. Você é sádico e cruel! Se estou tendo algum tipo de contato contigo é por motivos profissionais e nada além disso. Só quero que me deixe em paz!

_ O que acontecendo? Você não é assim. Por que está me tratando dessa forma?

_ É a forma que você merece ser tratado! E nunca mais tente me agarrar de novo! Da próxima vez, eu vou quebrar a sua cara.

_ O Júlio está te ameaçando?

Leandro não sabia o que dizer. Permaneceu em silêncio com o rosto sério.

_ Se ele tiver fazendo isso, eu posso resolver. Já tô de saco cheio do Júlio mesmo. E eu não tenho medo dele.

_ Se afaste de mim!

_ Me dê um motivo pra isso.

_ Eu...eu...eu tenho uma pessoa.

Abner soltou uma gargalhada.

_ Qual é graça?

_ Meu amor, você é um péssimo mentiroso.

_ O único mentiroso aqui é você.

_ Qual é, Leandro. Você vive atarefado com aquela Livraria e a menina, como vai ter tempo pra outro cara?

_ Isso não é da sua conta.

_ Mesmo mentindo, os seus lábios ficam tão lindos...morro de vontade de beijá-los.

_ Não ousa.

_ Eu ouso sim.

Abner o puxou pelo braço e o empurrou contra a parede, o imprenssou com o corpo e o beijou. Leandro se contorcia querendo sair, mas Abner não permitia.

No impulso, Leandro levantou o joelho e atingiu em cheio os testículos de Abner, que se afastou gritando de dor. Abaixou-se, segurando o local dolorido.

_ Puta que pariu, Leandro!

_ Da próxima vez arranco o seu pau fora.

_ Filho da puta! Você está sendo um babaca!

_ Vá á merda, Abner! Me deixe em paz!

Leandro se afastou furioso. Andou mais um pouco até encontrar Vanessa e Rebeca numa barraquinha.

_ Eu disse para chegar em casa às onze horas!

Vanessa se assustou ao ver a expressão brava do pai. Dissimulada, pegou o celular no bolso e disse:

_ Caramba! Eu perdi a hora. Desculpa, paizinho?

_ Vamos embora! E nem pense em protestar.

_ Tá bom.

Leandro levou as meninas de volta para a casa, sem dizer uma palavra. Sentia uma raiva imensa da vida, principalmente de Júlio, que mesmo na cadeia, o impedia de fazer as suas próprias escolhas.

Olhou para o lado nervoso, temia encontrar algum detetive particular contratado pelo ex marido. Pensar na possibilidade de estar observado por um estranho o fez gelar de medo.

...

Avançamos uns dias. O mês de julho se foi e com ela as férias escolares.

Vanessa entrou no apartamento uniformizada, com a mochila nas costas, dando pulos de alegria. Chamava por Leandro eufórica para dar a boa nova. Encontrou-o na cozinha, de pé em frente a pia, ralando a cenoura para pôr na salada do almoço.

_ Pai! Pai! O meu pai Júlio acabou de sair da cadeiaaaaa!_ Vanessa deu a notícia se jogando nos braços de Leandro, que não compartilhou da mesma alegria da filha.

_ Quando?

_ Agora de manhã. Eu recebi uma mensagem do Rubens me avisando. O meu pai quer que eu vá pra casa. Eu vou arrumar as minhas coisas. Estou morrendo de saudades do meu paizinho. Você me leva?

_ Claro, meu amor. Depois do almoço nós vamos.

_ Ah não! Eu vou almoçar com ele. Vai todo mundo lá pra casa: a vó Dirce, o Rubens e até o Luciano._ o último nome foi dito revirando os olhos para cima.

Leandro lamentou por não poder almoçar com a filha. Tinha preparado a carne assada com tanto carinho. Mas ele não estava disposto a estragar a alegria da filha.

_ Tudo bem.

_ Paizinho, você pode fazer o favorzinho de arrumar as minhas coisas, enquanto eu tomo banho?_Vanessa pediu juntando as mãos e fazendo biquinho.

_ Tá bom. Vai lá.

_ Aaaaah! Obrigadinha.

Ao chegarem na portaria, Vanessa correu com os braços abertos em direção a Júlio. Ele a recebeu com um sorriso e a abraçou com força, distribuindo beijos pelo rosto da filha.

_ Que saudades, paizinho!

Ao ver Leandro se aproximando para entregar a mochila de Vanessa, o sorriso de Júlio se desfez se transformou numa expressão de ódio, que fez Leandro gelar dos pés a cabeça.

Mesmo tenso, Leandro não quis demonstrar. Manteve a expressão firme.

_ Boa tarde, Júlio.

Leandro não obteve resposta, somente o olhar severo de Júlio.

_ Você já deve ter recebido a intimação para comparecer á audiência de divórcio.

_ Jura? Sério mesmo? Eu recebi uma intimação sim, mas como não sei ler, eu não sabia dessas informações. Obrigado por me avisar._debochou Júlio.

Vanessa não gostou do rumo que a conversa estava tomando. Ela ainda não gostava da ideia da separação definitiva dos pais.

_ Vamos subir? Estou morrendo de fome._ a menina comentou para fugir do assunto.

_ Eu quero me certificar de que você vai comparecer. Será melhor resolvermos esse assunto de uma vez por todas.

_Sim. Eu irei e finalmente vamos resolver esse assunto.

_ Que bom._ Leandro disse aliviado.

Júlio olhou para Leandro de cima para baixo, retorcendo o rosto numa expressão de desprezo. Olhou para Vanessa sorrindo, envolveu o seu braço no ombro da filha.

_ Vamos subir, meu amor. Também estou morrendo de fome.

Caminhou ignorando Leandro.

Pai e filha entraram na cobertura abraçados. Vanessa estava empolgada contando todas as novidades que sucederam durantes aqueles dias em que Júlio esteve na cadeia.

Além das pessoas citadas por Vanessa, haviam outras mais (amigos e parentes de Júlio) na casa. Estavam reunidas ao redor da piscina.

Para a preparação do almoço foi contratado um serviço especializado de buffet.

Vanessa cumprimentou a todos com beijos e abraços. Exceto Luciano, que ela o olhou com desprezo, empinando o nariz numa expressão de nojo. Ele respondeu com um sorriso debochado, arqueando a sobrancelha.

_Pai, posso convidar a Marcinha?

_ Claro, meu amor.

_ Tá bom. Vou pôr o meu biquíni e ligar pra ela.

Luciano decidiu se afastar um pouco. Sentou na balaustre da cobertura e fitava o mar da praia do Leblon em silêncio. Ainda não compreendia o que estava fazendo ali.

Naquele dia, assim que chegou no trabalho, foi solicitado por Rubens para comparecer na cobertura na hora do almoço.

_ O chefinho sai da cadeia hoje e quer falar contigo.

_ Sério? Sobre o quê?

_ Sei lá, veado! Deve ser alguma coisa sobre a empresa. Você é o secretário dele. Deve te requisitar para algum trabalho ou querer saber sobre o que ocorreu por aqui enquanto esteve fora.

Luciano ficou surpreso ao encontrar pessoas íntimas do patrão vestidas de um jeito informal na área gourmet da piscina da casa. Dona Dirce o recebeu com um abraço.

_ Querido, que bom que você chegou. Eu não entendo nada de vinhos. Esse povo do buffet quer que eu decido. Júlio é tão enjoado com essas coisas. Diz que existe um tipo de vinho para cada prato, mas eu não sei de nada disso. Pra mim vinho é vinho e pronto. Quem cuidava dessas coisas era o Leandro. Aquele lá sim é um homem chique, entende dessas coisas.

Dona Dirce foi arrastando Luciano para a cozinha. Ele estava tão confuso quanto ela, também não entendia nada de combinações de vinhos e alta gastronomia.

Luciano quis fugir daquela situação, mas não sabia como. Não queria ser mal educado com a dona Dirce. No nervosismo, escolheu entre a garrafa mais bonita, torcendo para que fosse a adequada.

Sua distração foi interrompida ao sentir uma mão masculina deslizar por sua coxa. Ao olhar para o lado, viu Júlio sorrindo para ele. Era um sorriso gentil, que nunca havia recebido do patrão.

Luciano afastou da coxa da mão de Júlio e manteve a seriedade.

_ Obrigado, querido.

_ Pelo quê?_ Luciano perguntou um pouco irritado.

_ Por cuidar de tudo tão bem enquanto estive preso.

_ Só fiz o meu trabalho. E sobre a sua filha, eu não pude fazer nada. Leandro também é pai dela._ Luciano dizia áspero. Ainda estava com raiva de Júlio.

Júlio sentou ao seu lado, segurou em seu queixo e se inclinou para beijá-lo. Mas Luciano desviou a boca.

_ O que foi? Por acaso não tenho direito de beijar o meu namorado?_ Júlio perguntou sorrindo.

_ Você sabe que isso é fingimento né? É uma ideia ridícula da minha mãe.

_ Mas as pessoas pensam que é verdade.

_ Mas é uma mentira.

_ Eu não gosto de mentiras. Acho melhor nós namoramos de verdade para resolvermos isso.

_ Eu não gosto desse tipo de brincadeira.

_ Eu não estou brincando._ Júlio respondeu sério, segurando a mão de Luciano.

_ Tá querendo transar, Júlio? Aí você me come e depois volta a dar chiliques por causa do seu marido. O meu coração não é circo para palhaço brincar. E tira essa mão com a aliança de cima da minha mão. Eu mesmo já quero acabar com essa palhaçada de namoro de fachada. Chega dessa porra!

_ Aliança? Você tá falando disto aqui?

Júlio retirou a aliança e atirou para baixo da balaústre.

_ O meu casamento acabou. Eu não quero mais sofrer pelo Leandro. Quero reconstruir a minha vida. Esse amor que senti por ele só me fez mal. Fui parar na cadeia por causa disso, perdi a minha dignidade. Acabou. Agora quero ser feliz. Deixar o passado para trás.

_ E você quer que eu acredite nisso? Até parece que você vai querer alguma coisa comigo. Logo eu que estou te chantageando...quer saber? Eu tô de saco cheio dessa história toda. Hoje mesmo vou acabar com isso. Nem na sua empresa quero ficar mais e...

Júlio o interrompeu o beijando. Puxou-lo pela cintura com uma das mãos e a outra segurou a cabeça, para impedi-lo de que escapasse do seu beijo.

Ao ouvir os gritos e palmas das outras pessoas, Luciano usou as duas mãos para empurrar o peito de Júlio e se afastar. Estava envergonhado.

_ O negócio tá pegando fogo aí._ gritou um dos primos de Júlio.

_ Com um homem desses não tem como não ficar aceso._ Júlio respondeu com um sorriso safado, deixando Luciano ainda mais envergonhado.

_ Júlio, pare com isso!_ Luciano disse baixinho.

_ Eu tô falando sério. Quero investir numa relação contigo. Eu não me importo com chantagem. Sei que isso não vem de você e sim da sua mãe. Ela é ambiciosa e está te manipulando. E tudo isso é culpa minha. Eu comecei com o pé esquerdo. Não te valorizei, te machuquei e estava obcecado pelo Leandro. Mas passar tantos dias preso me fez refletir sobre muitas coisas. Que se foda tudo! Eu mereço ser feliz! Eu enxerguei o quão bom você foi pra mim! Desculpa por ter jogado tudo fora? Vamos recomeçar?

_ O que você tá aprontando?

_ Nada. Só quero ficar contigo.

_ Sei...

_ Eu prometo que tudo será diferente dessa vez. Eu não vou mais permitir que a Vanessa e nem ninguém te maltrate. Vou exigir que todos te respeitem como meu namorado.

_ Júlio, acho melhor pararmos com essa conversa. Eu não sou idiota.

Vanessa se aproximou sorrindo.

_ Venha, pai! O almoço já vai ser servido.

Júlio levantou e segurou na mão de Luciano.

_ Vamos, meu amor.

Vanessa olhou brava e se afastou. Luciano sorriu gostando de ver a insatisfação da menina.

Marcinha chegou na hora em que o almoço seria servido. Ela vestia um biquíni cor de rosa e um short de crochê de mesma cor. Ao ver Júlio, se atirou em seus braços.

_ Tio, é tão bom te ver! Eu e a minha família ficamos muito felizes com a sua liberdade. Os meus pais são muito gratos a você por ter resolvido a causa dos processos que a empresa do meu pai levou dos funcionários. Eu achei injusta a sua prisão. É um absurdo que mantenham um homem de bem na cadeia, enquanto há muitos bandidos soltos por aí. Ah, os meus pais mandaram entregar este presente.

Ela o entregou uma caixa aveludada de cor preta, contendo dentro uma garrafa achatada de uísque Dalmore 50 anos. Júlio sorriu satisfeito, era um dos seus Uísques favoritos.

_Muito obrigado, minha querida._ Júlio agradeceu beijando o alto da cabeça da menina._ Agradeça aos seus pais por mim.

Vanessa puxou Marcinha às pressas, a convidando para ir para até a piscina. Em seguida, as duas se aproximaram de Luciano sorrindo.

_ Oiiii Leandro...ops Luciano. Me desculpe._ disse Marcinha, dissimulada.

Luciano respondeu com um sorriso para ocultar a insatisfação.

_ Tá cega, amiga? Tá confundindo ovo frito com caviar?_provocou Vanessa, olhando para Luciano sorrindo e arqueando a sobrancelha.

Ambas gargalharam e Luciano se afastou, para tentar manter o mínimo de paciência que restava com Vanessa.

O prato principal do almoço foi salmão ao molho de maracujá. Todos sentavam á mesa, apreciando o delicioso prato, enquanto conversavam alegres.

O garçom chegou com uma garrafa de vinho tinto, pondo sobre as taças dos convidados.

Júlio permaneceu conversando com Rubens, não demonstrando o seu incômodo.

No entanto, Vanessa não quis permanecer em silêncio.

_ O que tá acontecendo aqui? Isso é vinho tinto! Não é o tipo de vinho adequado para peixes.

O garçom ficou parado, envergonhado. Não sabia o que dizer.

_ Minha querida, creio que isso não seja relevante. O importante mesmo é que esse salmão está uma delícia._ dona Dirce comentou, para tentar aliviar a tensão.

_ Claro que isso é relevante, vó. Há tipos de vinhos para cada prato. E isso influencia muito no sabor da comida. O vinho branco por ser mais leve é mais adequado para peixes e frutos do mar, o tinto é para carnes vermelha de preferência. Na época que esta casa era administrada pelo meu pai Leandro, esse tipo de garfe não acontecia. Quem escolheu esse vinho?

_ Isso não importa._ Júlio disse sério, quase repreendendo a filha.

Luciano não se conteve. Sentía-se envergonhado com a situação.

_ Fui eu. Eu não entendo nada de vinhos e alta gastronomia. Só escolhi para ajudar a dona Dirce. A senhora me desculpe?

_ Não há do que se desculpar, querido. Ninguém vai morrer por causa disso.

_ É compreensível que você não entenda de vinhos. Afinal só está acostumado a tomar cerveja barata em botecos de quinta.

Júlio perdeu a paciência e gritou:

_ Já chega, Vanessa! Peça desculpas agora!

_ Você tá louco, né?_ debochou a adolescente.

_ Ou você vai pedir desculpas para o Luciano agora, ou vai se retirar e ir para o seu quarto.

_ Eu não vou pedir desculpas a esse João ninguém.

_ Luciano não é um João ninguém. Gostando você ou não ele é o meu namorado! Você terá que aceitar isso!

_ Ele não é o seu namorado! É o seu amante! Legalmente você ainda está casado com o meu pai!

_ Por pouco tempo! Agora peça desculpas ou saia!

Revoltada, Vanessa jogou o garfo e a faca sobre o prato e saiu bufando.

_ Amiga, me espera._ disse Marcinha, levantando e indo atrás de Vanessa.

Todos estavam em silêncio. Não tinha reação diante do constrangimento. Luciano tentava conter o riso. Estava feliz por ter sido defendido por Júlio.

_ Essa menina está demais. Culpa do Leandro. Ele sempre foi um péssimo educador. Eu errei em ter confiado a educação da minha filha a ele._ Júlio disse, tomando uma taça de vinho em seguida.

Vanessa passou a tarde inteira no quarto resmungando com Marcinha. Depois de um tempo, ambas caíram no sono e adormeceram até o anoitecer. Acordaram famintas e decidiram ir até a cozinha para comer um sanduíche.

Ao descerem as escadas, Vanessa ficou revoltada ao ver Luciano sentado no sofá ao lado de dona Dirce e de Júlio.

_ você ainda está aqui._ Vanessa comentou retorcendo os lábios. Olhava para Luciano como se olhasse um inseto repugnante.

_ Sim. Ele ainda está. Como esta casa é minha, ele vai poder entrar e sair daqui a hora que bem entender._ Júlio pontuou com firmeza.

Luciano a olhava prendendo um sorriso.

_ Tio, posso dormir aqui hoje?_perguntou Marcinha.

_ Claro, querida. Considera-se aqui como a sua segunda casa.

Vanessa sentou ao lado de Júlio, separando ele de Luciano.

_ Pai, eu tô com fome. Prepare um sanduíche pra mim e pra Marcinha, por favorzinho?

_ Claro, meu bem. Quer de quê?

_ Presunto de Parma.

Júlio levantou indo até a cozinha.

Enquanto aguardava, Vanessa pôs os pés no sofá, pegou o celular e começou a assistir alguns vídeos no Tik Tok. Marcinha fez o mesmo.

Assim que Júlio retornou, trazendo uma bandeja com os sanduíches e dois copos com limonadas suíças feitas com leite de coco, uma das poucas habilidades gastronómicas de Júlio.

Os olhos de Marcinha brilharam de alegria ao ver a comida. Gemeu fechando os olhos, apreciando o bom gosto do sanduíche.

_ Huuum! Isso tá muito bom, tio._ a menina elogiou com a boca cheia.

Vanessa deu uma mordida e interrompeu a alimentação para o expressar o seu desejo em estudar no Lycée Saint Vincent. Tentando ser persuasiva, ela pontuava as vantagens de estudar na escola tradicional.

Luciano encheu o peito de orgulho. Estava feliz por estar prestes a desapontar a menina.

_ Sinto muito, querida, mas isso não vai ser possível. O seu pai deu a mim a missão de encontrar uma nova escola pra você. Eu providenciei tudo e você começa na nova escola semana que vem.

_ O quê?!_ gritou Vanessa.

_ É uma escola ótima! Fica na Barra da Tijuca. É uma escola também tradicional e muito rígida. Mas é somente para meninas.

_ Que porra é essa?!

_ Olha a boca, Vanessa!_ repeliu dona Dirce.

_ Isso mesmo, Vanessa. Respeite a sua avó.

_ Pai, e quem vai me respeitar? O que essa criatura infernal tinha que se meter na escolha da minha escola?!

_ Eu que pedi. Já que estava preso e não podia resolver isso.

_ Eu não sei se você sabe, mas o Leandro também é o meu pai. Por que você não pediu a ele para resolver esse assunto?

_ Eu não quis incomodar o Leandro.

_ Ah conta outra, pai! Você não tinha o direito de mandar essa poia escolher a minha escola.

_ Vanessa, eu não vou admitir que você desrespeite o Luciano.

_ Pro caralho esse bosta!

_ Já chega, Vanessa!_ gritou dona Dirce.

_ Vanessa, eu fiz o que achei melhor.

_ Mas não cabia a você decidir isso, porra! Eu não sou uma largada! Eu tenho dois pais e três avós! Porra! Eu já havia dito que queria estudar no Lycée Saint Vincent.

_ Eu não achei adequado, porque essa é uma escola bilíngue. O ideal seria se você estudasse lá desde pequena.

_ Ah é mesmo? Pro seu governo, eu não sou só um rostinho bonito e um corpinho gostoso. Eu sou poliglota! Falo 4 línguas e o francês é uma delas. O meu pai Leandro me ensinou, porque ele também é poliglota e o Júlio já gostou de homens inteligentes! Garanto que nem o inglês você sabe.

_ É...eu não sei. Mas isso não muda o fato que você não vai estudar no Lycée Saint Vincent, de sim no Colégio nossa senhora de Fátima. Sinto muito...a não ser que o Júlio mude de ideia.

_ Desgraçado, debochado!

_ Vanessa, pare!_ Júlio gritou._ Se havia uma pequena chance de você estudar no Lycée Saint Vincent, essa chance acabou agora! Vai estudar onde o Luciano escolheu. E nenhuma palavra. E mais, se continuar humilhando o meu namorado, eu vou cortar os seus cartões de crédito outra vez!

_ Foda-se! Pegue os meus cartões de crédito e enfie no cu dessa bicha ridícula!

_ Vanessa!_ Exclamou dona Dirce.

Vanessa saiu da sala, indo para o quarto correndo.

Marcinha permanecia sentada mastigando, sem saber como agir.

_ Sinceramente! Eu sou contra violência, mas a Vanessa está precisando de uma boa surra! Vocês dois a mimaram muito._ dona Dirce disse indignada.

Todos permaneceram num silêncio constrangedor, que foi quebrado quando Marcinha disse:

_ Ela quase nem tocou no sanduíche. Posso comer?

_ Claro, querida._ autorizou Júlio.

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Comentários

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Eu consigo entender a posição da Lurdes. Esse capitulo pareceu incompleto. Espero que a historia desenrole a partir daqui, pois acho que ja segurou o suspense por muito tempo

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Ameeeeei o Leandro desprezando o Abner em todos os momentos hahahahahahaha. Pisa mais, Leandro. Tem todo o meu apoio!

Marcinha no finalzinho do capítulo encarnou totalmente a minha ruiva amada 🤣 Não julgo, jogar comida fora ou até mesmo desperdiçar deveria ser crime!

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