O outro capítulo 23 Acerto de contas

Um conto erótico de Arthur Miguel
Categoria: Gay
Contém 3688 palavras
Data: 07/01/2022 15:07:07
Assuntos: Amor, Carinho, Desejo, Gay

Capítulo 23

_Doutor, Júlio, o senhor vem agora?_perguntou um dos advogados. Eles tinham uma audiência marcada para dali a uma hora. No entanto, Júlio estava tão nervoso com a ligação de Lorena, que não pensava em mais nada.

_ Não vou em porra de audiência nenhuma! Chame o Genaro ou o Rubens para ir no meu lugar.

_ Mas...

Júlio saiu com tanto ódio, que ignorou qualquer coisa que o funcionário disse.

Foi direto para a casa. Entrou como um furacão, não retribuindo o "bom dia" de Patrícia.

Passou pelo quarto, indo para o closet, onde estava o seu cofre. Abriu com os dedos trêmulos. Bufava de raiva e tinha os olhos vermelhos. No local havia algumas notas de dólares e reais, alguns relógios caros entre outras coisas.

Júlio ignorou tudo de valor e pôs a mão no seu objetivo, um revólver. Ao lado dele, havia uma caixinha de chumbo com as munições. Recarregou o tambor, a deixando ao ponto para realizar o seu desejo. Estava tão sedento por sangue, que sorria lembrando do gosto dele.

Respirava ofegante olhando a arma. As lágrimas desciam intensas. A dor da traição o perturbava. Ela era cruel com o seu coração.

Pôs a arma na parte de trás da calça, por baixo do paletó. Saiu no mesmo instante, decido a castigar os traidores.

Patrícia estranhou o estado do patrão. Nunca o viu nervoso daquele jeito, muito menos o viu chorando. Ela sentiu que algo muito ruim estava preste a acontecer.

...

_ Pode parecer estranho, mas é a verdade. Por todo esse tempo eu menti pra você. Eu tenho total consciência de que fiz uma coisa horrível e gostaria muito que você me perdoasse.

_ Que palhaçada é essa?

_ Leandro, meu amor, eu tive um caso com o Júlio...ele era um dos meus clientes, mas os nossos encontros foram ficando mais frequentes até que fomos nos envolvendo e... aconteceu de eu me apaixonar por ele.

Leandro estava tão assustado, que respirava fundo, esfregando o peito. Estava pálido e sério. Abner ficou preocupado. Quanto mais falava, mais aumentavam os seus batimentos cardíacos.

_ Júlio mentia que também gostava de mim, que ia se separar de você para se casar comigo. Diversas vezes, Júlio me disse que tentava falar com você a respeito do divórcio, mas você fazia chantagem emocional, chegando até a ameaçar a se matar.

_ O quê?!_Leandro gritou, revoltado.

_ Meu bem, na época eu acreditei nele, mas hoje eu sei que é mentira daquele crápula! Hoje eu te conheço, meu amor. Mas naquela época, Júlio era tão dissimulado, que até chorava, dizendo que você era abusivo.

_ Agora eu sou o abusivo?!_ Leandro deu passo para trás, penetrando os dedos entre os cabelos.

_ Eu fiquei revoltado. Tive ódio de você, porque acreditava que era o meu impedimento de ficar com o Júlio.

Abner se assustou com os gritos que Leandro deu.

_ Aí, você resolveu brincar de Dimitri só para tirar onda com a minha cara?

_ Não! Eu te amo!_Abner tinha mais coisas para dizer naquela frase, mas foi interrompido pelo soco que levou de Leandro, que o acertou com tanta força, o fazendo cair no chão.

_ Não se atreva a falar que me ama depois de todas as canalhices que você fez! Já não basta o tanto que me fez de palhaço?! O que que você tá armando, hein? É alguma emboscada? Saiba que tem gente que sabe que eu estou aqui. Se eu sumir a polícia vai direto em cima de você!

Abner levantou, segurando o nariz sangrando.

_ Eu jamais faria qualquer mal a você. Eu não minto quando digo que te amo! Eu não esperava que acontecesse, mas aconteceu! Eu me apaixonei por você.

_ Cala a boca, pilantra._ as lágrimas começaram a cair dos olhos de Leandro._ Eu já tô começando a entender tudo, você quer ficar com o Júlio, aí me seduziu para acabar com o meu casamento e deixar o caminho livre pra você.

_ Não! Não é nada disso, Leandro!

_ Parabéns! Você venceu! O Júlio é todo seu! Vocês se merecem!

_ Eu já falei que não quero o Júlio, porra! Eu quero você!

_ Acho melhor você calar a boca, antes que eu perca o pouquinho da paciência que me resta e quebro a sua cara. O seu cinismo está me enojando.

Leandro entrou na casa, subiu as escadas correndo com a intenção de se arrumar, pegar as suas malas e sair dali.

Abner foi atrás. Precisava se explicar.

Entrou no quarto fechando a porta. Leandro estava nu, retirando a sunga molhada.

_ Amor, nós precisamos conversar._ Abner chorava desesperado._ Por favor!

_ Saia daqui!

Leandro se vestiu rápido. Queria se adiantar ao máximo para sair da presença de Abner. Após vestir a bermuda e uma blusa, parou e olhou para Abner.

_ Você me espionava?

_ Não!

_ E como sabia que eu estaria na festa de Ivan Matarazzo? Aliás...o próprio Ivan me apresentou a você como amigo dele...que merda é essa?

Abner não queria contar essa parte para Leandro, não queria que ele sofresse ainda mais. No entanto, deveria aproveitar aquele momento para acabar com todas as mentiras.

_ É uma longa história.

_ Eu estou com tempo para ouvir. Já que me machucou, desaba tudo de uma vez.

Leandro sentou na beira da cama, com os braços cruzados. Olhava para Abner com a cabeça erguida e um olhar de decepção, o que fez Abner desabar em choro, sentando ao seu lado.

_ Quando eu liguei para o Júlio, na noite da véspera de Natal, você atendeu.

Leandro fechou os olhos, espremendo as palbebras. As lembranças daquela noite eram como dar uma tropeçada num dedo ferido.

_ Você atendeu e isso deixou o Júlio furioso. Nós discutimos muito no dia seguinte e Júlio rompeu comigo. Eu fiquei com ódio...durante o nosso relacionamento eu...

_ "nossa putaria." você quer dizer? Isso não pode ser chamado de relacionamento, já que ele era casado comigo e eu estava sofrendo por conta disso.

Abner apoiou as mãos nos joelhos e abaixou a cabeça para chorar.

_ Eu sinto muito, meu amor...eu sinto muito por todo o sofrimento que te causei.

_ Conta logo!_gritou Leandro, impaciente.

_ Depois que comecei ficar com o Júlio, parei de fazer programa. Ele havia conseguido emprego pra mim num restaurante e pagou a minha faculdade de gastronomia. Mas com a nossa briga no natal, ele sumiu e eu resolvi voltar a fazer programa. O Ivan, que era um cliente antigo, me contratou. Disse que tinha um amigo que estava carente e com problemas conjugais...me pediu para que se aproximasse de você, te seduzisse sem dizer que era um GP.

_ Puta que pariu! Puta que pariu! Quem esse merda do Ivan pensa que é para fazer isso comigo? É claro! Valéria! Ele é amigo dela. É óbvio que a ideia foi dela! Por isso me pediu para não dar o meu nome verdadeiro.

_ Eu não sabia que você era o marido do Júlio.

_ E eu tão otário acreditando que aquela noite foi especial...era tudo por dinheiro!

_ Foi especial! Eu me envolvi contigo naquela noite, mesmo sendo por dinheiro. Tanto que te procurei uns dias depois.

_ O que você foi fazer na minha casa na noite de réveillon? Foi zombar de mim sob o meu próprio teto?

_ Eu fui te falar a verdade e desmascarar o Júlio. Eu descobri pela Lorena que o Júlio mentiu pra mim, que nunca teve a intenção de se separar de você. Eu me senti enganado e quis me vingar!

_ Você conhece a Lorena?_ Leandro perguntou espantado.

_ Ela é a filha do meu padrasto. Foi ela que me apresentou ao Júlio.

_ Você é filho da Lurdes?! Caralho! O Júlio colocou os pais do amante para trabalhar no nosso sítio?! Que filho da puta! Todo mundo sabia e eu fazendo papel de palhaço duas vezes! Aaaaaah! Que ódioooooo! Vocês tem que pagar por toda essa maldade que estão fazendo comigo!

_ Me perdoe, meu amor? Eu tô tão arrependido.

_ E por que não me contou tudo naquele dia, desgraçado?

_ Porque eu vi que você era o cara que eu havia me apaixonado. Tive medo de te perder.

_ Aaaah que lindo! Que nobre e sentimental! Vai tomar no cu, seu merda! Porra, Abner! Porraaaaa!

Eles ficaram em silêncio de palavras por alguns segundos. Os únicos sons emitidos no quarto eram o barulho dos seus choros.

_ E você ainda tá se esfregando com ele?

_ Não. Eu tomei nojo do Júlio e só queria você. Mas ele me chantageava, ameaçando me entregar para o Franklin, aquele que eu te falei.

_ Esse tal de Franklin deveria ter metido uma bala na sua cara pra você parar de brincar com os sentimentos das pessoas. Primeiro a mulher dele, depois o Júlio e agora eu. Você adoro um casado, né? Eu só queria entender como vocês, putinhas, conseguem separar sentimentos de sexo... Como você consegue fingir que ama alguém? E como você conseguiu conter o riso quando eu dizia que te amava?

_ Eu menti pra você de muitas coisas: meu nome, escondi o meu caso com o Júlio, mas toda vez que te disse que te amo foi verdade. Como eu disse, a última coisa que eu esperava era me apaixonar pelo marido do meu amante. Mas aconteceu. Com você é amor, coisa que nunca senti por ninguém.

_ Por que você continua mentindo? Já não riu o bastante da minha cara, palhaço? O Júlio tá livre. Eu prefiro morrer do que voltar para aquele sem vergonha. Você pode ficar com ele e o seu maldito dinheiro.

_ Eu não tô mentindo. Você tem toda razão de me odiar e duvidar de mim.

_ Tenho mesmo. Agora saia daqui. Eu preciso acabar de me arrumar e ajeitar a mala. Nunca mais quero te ver.

_ Espere se acalmar um pouco. Você está nervoso demais para dirigir.

_ Saia daqui, por favor, Abner...que horror ter que pronunciar o seu nome...sabe eu sempre imaginei que um dia estaria cara a cara contigo? Ensaiei milhões de coisas para te dizer. Agora só consigo sentir uma coisa estranha...um misto de raiva, nojo e medo. Me deixe sozinho, por favor.

_ Tá bom.

O que Abner mais desejava era abraçar Leandro. Mas se conteve e saiu por respeito, indo chorar no outro quarto.

Leandro deitou na cama e chorou também. Gritava, se sentindo angustiado e sufocado. O seu sofrimento era ouvido por Abner e isso o deixava com mais remorso.

Leandro demorou uma hora para se recompor e descer as escadas portando a mala de viagem. Os olhos vermelhos e inchados denunciavam que chorou por muito tempo no quarto.

Abner estava na sala, também de malas prontas, aguardando Leandro descer.

_ Eu também tô indo. Você precisa levar as chaves da casa para a Val._ Abner disse, segurando a vontade de abraçar o amado.

Leandro nada respondeu, apenas esticou a mão para pegar as chaves.

_ Eu espero que um dia você possa me perdoar.

_ Eu nunca vou te perdoar. Espero nunca mais te ver.

_ Você não vai me ver por um bom tempo. Júlio descobriu do nosso caso e, com certeza, vai me entregar para o Franklin. Eu preciso meter o pé até a poeira abaixar. Mas eu vou voltar e vou te reconquistar. Vou me redimir com você e vou fazer de tudo para ser digno do seu perdão. Eu vou lutar pelo seu amor, ele é muito importante pra mim.

Leandro ficou em silêncio, com o rosto abaixado, contendo a vontade de chorar. Não queria demonstrar fraqueza diante de Abner.

Um estrondo fez com que os dois se assustassem. Júlio, havia arrancado o portão com o carro, amassando o veículo.

Saiu do automóvel furioso, batendo a porta e gritando.

_ Leandroooo! Abneeeeer! Nem adianta se esconderem. Eu vou matar os dois, seus merdas!

Júlio entrou na sala, arrombando a porta com um chute. Sem pensar, retirou o revólver de trás da calça e apontou para a direção do dois.

Para tentar proteger o amado, Abner se pôs de frente a Leandro, com os braços abertos.

_ Calma, Júlio! Vamos conversar!

_ Ah, agora a putinha quer conversar, é? Cadê aquele machão que me enfrentou no apartamento? Cadê? Cadê, hein?

Júlio tinha fogo nos olhos e a cólera deixou sua expressão facial mais severa e cruel. Os seus caninos estavam erguidos, como de uma fera preste a estrassalhar a sua presa. Os olhos arregalados e tinha um sorriso macabra, com lábios trêmulos, quase babando.

_ Na hora de pegar o meu homem você foi macho, mas agora tá com essa carinha de garotinho assustado, filho da puta?

_ Júlio, o seu problema é comigo. Deixe o Leandro ir.

_ O meu problema é com os dois, caralho!_Julio gritou com uma voz estridente.

Quando o carro de Valéria se aproximou da casa, ela pode ver o portão destruido por cima de um carro, que ela conseguiu identificar como o de Júlio. Ficou trêmula de susto, ouvindo os gritos dele.

De imediato, estacionou e retirou o celular da bolsa, ligando para a polícia.

_ Vocês precisam vir urgente! Há um homem armado fazendo outros dois de reféns.

Ela não tinha certeza se Júlio estava armado ou não. Mas sabia que as chances dele estar eram muitas, por isso afirmou para a polícia, para que eles chegassem mais depressa.

Mesmo não sendo uma mulher religiosa, Valéria rezava no carro para que nada de mau acontesse ao seu Bijuzinho.

Decidiu aguardar pela polícia dentro do carro, aflita.

_ Cadê essas porras, que não chegam?

Leandro não conseguia se mexer, estava paralisado, assustado com a face demoníaca de Júlio, que até então, ele desconhecia.

_ O que deu na sua cabeça de tocar no que é meu? Tudo o que eu te dei não foi o suficiente? Você poderia ter me roubado todo o dinheiro que conquistei, mas não o Leandro! Não ele, caralho!

"E você?_ Júlio mirou a arma para Leandro. Abner se pôs mais a frente para protegê-lo._ Eu fiz tudo por você, seu ingrato! Eu suportei as humilhações dos seus pais, trabalhei com afinco para enriquecer e te dar uma vida de rei! Eu suportei as perturbações daquele velho maldito só para subir na vida e provar que eu era digno de ter você, porra! Mas você me agradeceu como? Me traindo! Me apunhalando pelas costas! Seu adúltero cretino! Você é o único homem que eu amei na vidaaaa! Por você eu sou capaz de tudo e você fez o que fez?

Você é meu! Me pertence! Eu tenho direito sobre você, porque batalhei muito para te ter!

Vocês não merecem viver! Não depois do que me fizeram!"

_ Júlio, pelo amor de Deus! Vamos conversar! Você tem uma filha. Não faça nenhuma besteira. Pense nela. Se tem alguém culpado nessa história, esse alguém é somente eu! O Leandro não tem culpa de nada. Não faça nada com ele. Eu o seduzi...

_ Você não devia ter tocado neleeeee! Leandro é meuuuu!

Valéria arregalou os olhos assustada, ouvindo os barulhos de tiros vindo da casa.

Por imaginar que poderia ser Leandro o atingido, saiu do carro correndo e entrou na casa.

Quando corria do jardim em direção á casa, avistou uma garrafa de vidro, que na noite anterior tinha vinho dentro. Pegou-a e entrou na casa pelos fundos.

Entrou sorrateiramente. Pela soleira da porta da cozinha, viu Júlio de costas apontando a arma para Leandro, que estava ajoelhado diante do corpo ensanguentado de Abner.

Leandro não conseguia dizer nada, apenas chorava gritando, com a cabeça de Abner em seus braços.

O rapaz emitia um som de grunido, os olhos semi-cerrados e a pele muito pálida, mergulhado em sangue.

Júlio mirou a arma em sua direção, chorando.

Leandro sentiu que ia morrer e não protestou. Apenas chorava, olhando para Júlio, em choque pelo que aconteceu.

Júlio fechou os olhos. Abaixou a arma e gritou:

_ Porra! Apesar de tudo o que você me fez, o meu amor por você me impede de te matar! Você é um bruxo! Você me enfeitiça. Porraaaaa!

Valéria se aproximou ainda mais de Júlio. Em silêncio, quase prendendo a respiração. Ela estava vestida com as armaduras da coragem e não pensou o quanto estava arriscando a própria vida, quando acertou em cheio a cabeça de Júlio com a garrafa de vinho.

Ele caiu para o lado, desmaiado e o revólver foi parar ao seu lado. Valéria o chutou para longe de Júlio e correu para abraçar Leandro.

_ Meu amor!

Abner fechou os olhos, perdendo os sentidos, o que deixou Leandro mais desesperado.

_ Abner! Abner, fica, por favor! Não me deixaaaaa!

Vendo o amigo em estado de choque, Valéria o afastou do corpo. Mas ele fez resistência.

Eles ouviram um barulho de sirene se aproximando da casa. Pelas paredes envidraçadas era possível ver as luzes azul e vermelha se mesclando.

Vizinhos curiosos cercavam a casa, dificultando a passagem dos policiais.

....

_ A senhora não deveria ter se arriscado desse jeito. Não é seguro entrar numa casa com um homem armado.

_ E o senhor queria que eu fizesse o quê? Deixasse o meu Bijuzinho morrer?

O detetive ficou sem respostas para dar a Valéria, que estava sentada diante dele. O homem moreno, que usava óculos redondos, recolhia o depoimento dele, após ter interrogado Leandro. Dele não conseguiu extrair muita coisa. Leandro estava muito nervoso e só chorava. Mas, prometeu voltar á delegacia para prestar depoimento dali a alguns dias.

_ Então, o Júlio é um homem possessivo?

_ Possessivo é pouco! Ele é cruel. Sempre deu sinais que poderia cometer um assassinato. Ele sempre dizia "Leandro, você só se separa de mim morrendo." Mas o Bijuzinho, bobo como só ele, achava que Júlio demônio dizia no sentido figurado.

_ Bom, por hoje é só. A senhora poderia vir sempre que for solicitada? Isso pode ajudar na conclusão do inquérito.

_ Se for para aquele canalha ir para a cadeia, virei sempre. Nem que eu crie asas para voar da minha casa até aqui. Mas me diz uma coisa, o Júlio vai ser preso?

_ Sim. Ele foi pego em flagrante. Como se machucou, foi encaminhado para um hospital e de lá será voltará para a delegacia.

_ Ufa! Graças a deusa!

Após prestar depoimento, Valéria saiu da Delegacia para comprar um copo de café num quiosque em frente.

Ao retornar, encontrou Leandro sentado na sala de espera da delegacia. Ele estava enrolado numa manta, que levou na viagem.

Já não chorava como antes. Mas tinha os olhos lacrimejando e fitava um canto da parede como se não estivesse ali, com um olhar perdido.

Ela se aproximou, entregando o copo de café.

_ Beba. Você precisa de algo que te dê energia antes de voltarmos para a casa. Eu já liguei para a Roberta, ela vai vir de táxi para voltar dirigindo o seu carro. Você vem comigo. Não tem condições nenhuma de dirigir.

"Bijuzinho, você precisa reagir. O pior já passou."_ Valéria disse o olhando com doçura e segurando a sua mão.

_ Por mais que eu me esforce, eu não consigo entender o porquê Júlio sempre foi tão cruel comigo. A única coisa que eu queria era ser feliz ao lado dele, construir uma família e realizar sonhos. Eu me dediquei para que isso acontecesse. Cuidei da nossa família, abri mão dos meus objetivos achando que todo o esforço valeria a pena. Eu acreditava que, por amor, deveríamos ser capazes de nos dedicar ao máximo.

"Mas ele foi me matando aos poucos. Meus sonhos morreram, minha autoestima foi destruída e a alegra de viver extinta. Júlio me faz sentir ser o pior dos seres humanos, um incompetente e ter vergonha de mim mesmo, do inútil que me tornei. Ele fodeu a minha mente por puro sadismo.

"Sabe, eu não sou uma pessoa religiosa, mas gostaria muito de acreditar que as pessoas pagam pelo mal que fazem...mas infelizmente, a vida não é assim._ nessa hora o choro ficou mais forte e a dor emocional mais aguda._ pessoas como o Júlio nunca se ferram! Pisam nos outros e ainda recebem apoio pra isso. Os meus próprios pais o apoiam! A minha filha o venera cegamente e me odeia!

Dimitri era uma válvula de escape. Quando eu estava com ele, poderia me sentir um pouquinho mais valioso. Ele era a esperança de um futuro melhor. Eu acreditava que com ele eu poderia viver um relacionamento saudável, coisa que nunca vive, mas sempre sonhei em viver. Mas era tudo mentira! Dimitri nem existe...tudo não passou de um curtição com a minha cara. Era só para me humilhar! Amiga, acho que a felicidade não foi feita pra mim. Eu só queria saber o porquê ele é assim."

_ Isso só o Júlio sabe a resposta. Não vale a pena se esforçar e se matar para entender como funciona a cabeça perversa dele. Talvez essa seja a sua natureza? Vai saber. Você vai adoecer tentando achar as respostas, mas nunca vai obte-las. E pare com isso de dizer que a felicidade não é pra você! Meu amor, a sua felicidade não está no Júlio, nem no Dimitri e homem nenhum. Está em você mesmo. Você é capaz de se reeguer.

_ Como vou me reeguer, Valéria, depois dessa tragédia?! Aconteceu tudo na minha frente!

_ Esse tal de Abner também procurou. Quis brincar de Danny Bond e acabou tendo o mesmo destino que ela. Uma coisa que não me confirmo é que o demônio do Júlio sempre foi infiel. Mas armou tudo isso só porque levou chifres? Tomara que apodreça na cadeia.

_ Não vai não, amiga. Eu não dou um mês pro Júlio tá na rua de novo. Este mundo é muito injusto! Eu não queria que essa tragédia acontecesse...coitado do Abner.

Leandro se jogou nos braços de Valéria, em prantos e desespero.

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Comentários

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Se no início este conto pareceu um pouco surreal, ao longo do mesmo assumiu um clímax de complexidade com uma consistência assinalável. Este último capítulo merece o meu aplauso incondicional. Só lamento a demora na publicação do próximo capítulo. Faço votos para que não se repita o que já tem acontecido por aqui quando alguns autores conduzem os seus contos para becos sem saída e depois abandonam-nos. Recordo-me do conto "O Pai do Meu Filho" que nunca teve fim...Mas não me parece o caso deste, em que o autor ainda tem muitas alternativas para desemaranhar este grande enriço!

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Devo postar ainda no fim de semana. Eu tive um início de ano agitado e estou escrevendo aos poucos.

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Engraçado a Val dizer que a felicidade não está em homem nenhum quando toda essa situação com o "Dimitri" Foi armada por ela desde o começo. Eu acho que o Leandro vai morrer de desidratação. A reação dele pra tudo é chorar e deixar que o os outros decidam a vida dele...

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Uau! Tenso demais esse capítulo. Será que o Abner vai morrer? Coitado do Leandro, tudo que ele estava construindo em nome do seu bem estar está se desmoronando...

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