O outro 17 Uma mão lava a outra.

Um conto erótico de Arthur Miguel
Categoria: Gay
Contém 6034 palavras
Data: 10/12/2021 16:37:52

Capítulo 17

O som das balas disparadas assustaram todos em volta, que corriam e gritavam.

Abner correu o mais depressa que pode. E Franklin ia em sua direção, determinado a tirar a vida do responsável pela morte da sua amada esposa. Disparava sem pensar em nada.

eu em direção a um hospital, onde havia alguns guardas. Vendo a presença dos policiais, Franklin recuou correndo com medo de ser preso.

Entrou num táxi que estava estacionado.

_ Bora! Bora! Bora! Me leve para o centro da cidade._ disse ao taxista. Quis sair dali com medo de ser capturado.

_ Sim, senhor.

_ Mais uma vez você deu sorte, Dimitri. Merda!_ gritou socando a própria perna._ Mas da próxima, você não me escapa! Eu vou te pegar, desgraçado! Eu vou te pegar.

Para a sua sorte, quando se aproximou do hospital não havia disparado nenhum tiro. Logo, os policiais não notaram a sua presença. Estavam focados em Abner, queriam saber o porquê corria.

Ao ser abordado, Abner mentiu que houve uma tentativa de assalto no bar. Que um homem louco atirou em sua direção. A versão foi confirmada pelas outras pessoas que estavam no bar. Todos foram encaminhados para a delegacia para prestar queixa.

Em seu depoimento, Abner mentiu dizendo que não conhecia o atirador. Só foi prestar queixa porque os guardas o disseram para fazer.

Ele sabia que Franklin era filho de um ex delegado de São Paulo. Morria de medo de que o homem tivesse algum amigo policial no Rio de Janeiro e isso o trouxesse dores de cabeça.

...

_ Como assim ele te achou, Abner?! Como o Franklin sabe o seu número e que está no Rio?

_ Eu não sei! Só sei que aquele filho da puta me encontrou e sabe o meu telefone.

Lorena e Abner estavam trancados no quarto. Os parentes haviam saído para ir a um bloco de carnaval.

Há três anos, Abner decidiu fazer um curso de gastronomia francesa em São Paulo. Havia juntado uma quantia em dinheiro o suficiente para viver na capital da cidade por um tempo. Alugou um apartamento modesto e mobiliado, que ficava próximo a instituição que estudava.

A principio, tinha a intenção de voltar ao Rio de janeiro assim que concluísse o curso.

No entanto, simpatizou com a cidade, vendo ali grandes oportunidades para quiçá conseguir um bom emprego nos muitos restaurantes renomados da cidade.

Além disso, a vida noturna o agradava. Nas baladas luxuosas teve grandes oportunidades de conseguir bons clientes e aumentar um pouco mais a sua conta bancária e ajudar a sua família, enviando dinheiro. Para jusfica-lo, Abner mentiu para os pais que estava trabalhando num restaurante.

Passou a anunciar os seus serviços num site exclusivo para garotos e garotas de programa, onde os profissionais do sexo postavam suas fotos e telefone para contato e pagavam uma pequena taxa ao site para fazer a divulgação.

Devido a sua beleza e ser fotogênico, Abner conseguiu aumentar a clientela.

Em meios a tantos, foi solicitado por Franklin, um comerciante classe média, proprietário de uma loja de sapatos femininos. Ele tinha um fetiche que mantinha em segredos por todos a sua volta, se sentia excitado vendo Laura, sua mulher, transar com outros homens em sua frente, enquanto se masturbava.

Para Abner não havia nada de estranho nisso. Por causa da sua profissão, já havia presenciado diversos tipos de fetiches. Diante de tantas coisas estranhas, esse foi o mais leve para ele.

Laura era uma mulher fogosa, adorava poder transar com o outros e o marido ainda pagar por isso. No entanto, o trato do casal era que ela só poderia se relacionar com os garotos de programa que ele pagasse. Nada de casos extra conjugais e se envolver sentimentalmente com outro homem.

Abner viu no casal uma oportunidade de conseguir dinheiro. A mulher, escondido do marido, o procurou por outras vezes e tiveram tórridas noites de sexo. Ela se viu tão envolvida por Abner, que não se importava em gastar o dinheiro todo com ele. Desviava verba dos negócios do marido para presentear o amante com roupas de grifes, relógio caro, iPhone e a moto que Abner tem atualmente.

Ele gostava de transar com ela. Era bonita e boa de cama, mas não a correspondia nos sentimentos. Com o decorrer da relação, Assustou-se com o temperamento instável da mulher e o seu ciúme possessivo.

Se suspeitasse que Abner tinha outra, quebrava o apartamento inteiro, partindo para cima dele com unhadas e qualquer objeto que tivesse em mãos.

Fazia inúmeras ligações por dia, o deixando sufocado. Até o seguia sem que soubesse. E pôs um rastreador em seu smartphone.

Devido a sua obssessão, Laura já não era mais a mulher dedicada ao lar como era outrora. Não cuidava mais da casa, deixando a sujeira e desorganização tomar conta do ambiente. Ao marido, não dava nem um pouco de atenção e negava fogo.

Desconfiado da infidelidade da mulher, Franklin contratou um detetive particular, que provou com fotos a infidelidade de sua esposa. Pensou em procurar Abner e lavar a honra com sangue. No entanto, ao chegar no apartamento, soube que o michê já havia partido.

Abner não fazia ideia que foi descoberto por Franklin. O motivo da sua fuga não era o medo da fúria de um marido traído. Fugiu porque não aguentava mais os desequilíbrios e perseguições da amante agressiva.

Algum tempo depois, já de volta ao Rio de janeiro, soube por um colega de profissão, que vive em São Paulo, que Laura havia sido encontrada morta em seu quarto por overdose de medicamentos diversos. Ela havia deixado uma carta, dizendo que não conseguiria viver sem o amante. Abner também foi informado da fúria de Franklin e da sua promessa que faria Abner pagar com a vida por ter destruido a sua família.

_ É óbvio! Por que eu não pensei nisso antes? Ele conseguiu o seu número através do site! Aquele site de GP que você anunciou os seus serviços. Tanto é que ele ligou para o número do Dimitri e não do seu pessoal.

_ Puta que pariu! Porra!

_ Abner, você tem que se livrar desse cara.

_ Isso eu sei.

_ Você tem que pedir ajuda para a única pessoa que pode ajudar: o Júlio. Eu o conheço. Sei que ele tem uns contatos que conseguem se livrar de alguns probleminhas dele sem deixar rastros. O cerco apertou, Abner. Esse Franklin é perigoso e está com sangue nos olhos. Se você der mole, ele acaba contigo.

_ Pedir ajuda para o Júlio? Tá louca né? Ele vai me transformar num escravo sexual dele.

_ E daí? Você já trepa com ele mesmo. Não vai fazer diferença.

_ Vai sim! Não quero mais transar com o Júlio e nem com ninguém que não seja o Leandro.

Lorena arregalou os olhos furiosa. Para ela era inaceitável ver o seu amor apaixonado por outra pessoa.

_ E eu? O que será de nós?_ perguntou com os olhos lacrimejando._ Você não tem o direito de fazer isso comigo!

Lorena gritava, partindo para cima de Abner, distribuindo tapas. Ele a segurou pelos pulsos.

_ Não tem nós. Esqueceu que não somos um casal? Foi você mesma que estabeleceu essas regras quando eu dizia que te amava e quis me casar com você.

'Você mesma me disse que não se casaria com um pobretão como eu. Que era só sexo e tava muito bom. Até me trocou por aquele play boy ricasso. Por te amar, eu aceitei as suas condições. Me acostumei."

_ Eu não estou mais com o Maurício há muitos anos. Eu sempre tive ao seu lado! Você não pode me abandonar por causa de veadinho de merda!

_ Ei! Ei! Não ofenda o Leandro! Ele não tem culpa de nada! Eu me apaixonei e você deveria me apoiar, como eu sempre te apoio.

_ Te apoiar?!_ Lorena penetrou os dedos entre os longos cabelos, andando de um lado para o outro, revoltada._ Como você quer o meu apoio? Quer que eu diga "isso mesmo, querido. Vá lá e fale para a songa monga que você não se chama Dimitri e sim Abner. Isso mesmo, Eu sou o Abner, o amante do seu marido. Mas eu fiz a burrice de te comer e me apaixonar por você. Agora que você já sabe a verdade, vamos fugir? Sim, querido. Largue a sua vida de luxo para fugir com um fodido como eu, porque um louco está atrás de mim, querendo me matar."

_ Parece loucura, mas é o melhor a fazer. Eu amo tanto o Leandro. Não é justo que eu continue mentindo para ele. E eu tenho um pouco de dinheiro guardado e posso vender essa droga de apartamento, levo o Leandro para bem longe, onde o louco do Franklin não vai me encontrar.

Lorena sacudiu Abner pelos ombros e gritou:

_ Suponhamos que a songa monga seja burra o suficiente para te perdoar e largar o luxo para viver com você. Você tem noção do que o Júlio vai fazer? Ele vai vasculhar esse planeta inteiro atrás da "mulherzinha" dele e vai achar! Quando isso acontecer, ele vai meter uma bala na sua cabeça! Serão dois maridos cornos querendo te matar! Deixa de ser burro, Abner!

"Abner, homem de Deus, você tem duas opções: uma ou morrer pelo Júlio ou pelo Franklin. Outra, pedir ajuda pro Júlio, ele se livra do Franklin, e aceita a condição dele, que com certeza será parar de fazer programa e se dedicar só a ele. Você pode fechar um bom acordo e ganhar uma boa mesada para viver. Pra você não é sacrifício nenhum transar com o Júlio. Eu acho que não são duas propostas difíceis de escolher."

_ Eu escolho o Leandro.

_ Caralho! Esquece essa songa monga, Abner! Você quer morrer, filho da puta? _ gritou Lorena.

_ Eu não suporto mais olhar na cara do Júlio. Tenho raiva e nojo dele por estar com o homem que é meu. Como você quer que eu me deite com o meu rival?

_ O homem que é seu?_ Lorena perguntou em tom de deboche._ O homem é dele! Ele é o marido, porra! Deixe de ser cabeça dura!

_ Homem dele é o caralho! O Júlio não merece o Leandro! Eu não vou conseguir viver com um homem que eu odeio.

_ Então, morra nas mãos do Franklin ou do Júlio. Foda-se.

Lorena agarrou a bolsa e saiu batendo a porta.

Dentro do carro, gritava com histeria, socando o volante.

_ Que merdaaaaa! Que merda!

....

_ Que cara é essa, Vanessa?_perguntou Leandro, quando a filha entrou na biblioteca com a cara amarrada e os braços cruzados.

Ele fechou o livro que estava lendo, permanecendo sentado.

_ Eu não aguento mais ficar presa dentro desta casa! O meu pai não quer me deixar ir ao clube com as minhas amigas! Que merda! Eu virei prisioneira!_ A menina se jogou em um dos sofás, sentando com um dos pés para cima, quase chorando.

Leandro respirou fundo. Achava um exagero o castigo que Júlio aplicou em Vanessa. E ao mesmo tempo não queria ter que confrontar o marido mais uma vez. Estava exausto demais para isso.

_ Você bem que poderia fazer alguma coisa.

_ E o que você quer que eu faça, Vanessa?

_ Eu garanto que se o meu pai transasse ele não estaria puto porque eu transo. Volte para o quarto e acalme o velho. Quem sabe assim ele me deixe em paz?

Leandro a olhava atônito. Perguntava-se se tinha realmente ouvido aquilo.

_ Olha, eu vou fingir que nem ouvi essa sandice.

_ Não é sandice! Sexo faz bem pra saúde sabia? Vocês deveriam aproveitar que se amam e pararem com essa briga.

_ Vanessa, os problemas conjugais só desrespeitam a mim e o seu pai.

_ Ai que grosso! Mas e eu? Até quando o meu pai vai pegar no meu pé?

_ Eu não sei.

Vanessa abaixou entristecida, deixando Leandro compadecido.

_ Tudo bem, meu amor. Pode ir ao clube.

Vanessa abriu um sorriso.

_ Sério?!

_ Pode sim. Como a motorista não veio, eu te deixo lá e volto para te pegar depois.

_ Mas e o meu pai?

_ Eu também sou o seu pai. Posso te autorizar a ir. Depois eu me entendo com o Júlio.

_ Aaaaaa! Eu te amo, paizinho! Te amooooo!

Vanessa o abraçou forte, enchendo o seu rosto de beijos.

Ainda no carro, Leandro se despediu da filha com um beijo no rosto. Ela estava tão empolgada e feliz, que isso o satisfez, mesmo sabendo que, como consequência, poderia ter uma exaustiva discussão com Júlio.

Permaneceu a observando pelo vidro do carro. Como ela havia crescido! De longe nem era mais aquela menininha magricela que Júlio trouxe para a sua casa há dez anos, a apresentando como filha do casal.

Leandro se espantou na época. Ele não esperava ser pai tão jovem. Júlio não explicou muito bem a origem da menina. Disse que era filha de uma garota de programa viciada em drogas. A menina tinha um olhar assustado.

Vira e mexe perguntava pela mãe. Contudo, com o tempo, foi desenvolvendo um amor pelos pais, devido ao carinho que recebia deles. De Paloma passou a se chamar Vanessa, nome escolhido por Júlio como homenagem a sua falecida mãe.

Aos poucos, a menina tímida e assustada foi se tornando uma criança alegre, falante, carinhosa e mimada (em muitos casos chegando a ser birrenta).

Dos s3t3 anos para cá, nunca mais falou na mãe e Leandro nunca quis perguntar. Se apegou tanto a menina, que teve medo de que um dia, uma desconhecida mulher aparecesse e a levasse embora.

Agora a menininha cresceu. Hoje é uma bela adolescente, quase uma mulher formada. Foi iniciada ao mundo dos prazeres sexuais e isso o assustava.

_ Eu te amo tanto, minha flor._ Leandro disse enquanto a observava abraçando as amigas no clube.

O seu celular tocou. Era o número de Dimitri, o que logo fez despertar um sorriso em seus lábios.

_ Oi, meu amor.

_ Oi, minha vida. Eu preciso muito falar com você. É urgente.

_ Aconteceu alguma coisa, amor?

_ Tem como você dá um pulinho aqui agora? Aqui eu te explico.

_ Tá bom. Tô indo pra aí. Beijos.

_ Outro.

...

Leandro foi recebido com um beijo intenso e um abraço apertado. Abner demorou alguns segundos para liberta-lo dos seus braços. Desejava muito tê-lo para sempre. Que a relação deles fosse oficial e nunca mais precisassem ter medo de nada.

_ Você tá me deixando preocupado. O que houve, meu amor?

Abner acariciava o seu rosto, sentindo o coração apertado. Não entendia o porquê deixou a situação chegar naquele ponto.

_ Precisamos conversar.

Leandro foi conduzido até quarto, onde a porta foi fechada. Abner sentou ao seu lado, segurando a sua mão e a pondo no peito.

Contou a ele sobre Franklin e do quanto temia pela vida de Abner. Abraçou-o forte.

_ Você precisa procurar a polícia, Dimitri! Está correndo risco de vida!

_ Eu já procurei. Mas eles não vão montar guarda para me proteger. E o louco está solto.

_ Mas você não pode ficar vulnerável! Alguém tem que fazer alguma coisa!

_ Eu tenho uma grana guardada. Coisa pouca. Uns dez mil reais. Dá para me segurar por um tempo. E também pretendo vender este apartamento.

_ Pra aonde você vai?

_ A nenhum lugar sem você. Amor, venha comigo? Podemos recomeçar as nossas vidas longe daqui. Sem Franklin...sem Júlio. Só nós dois.

_ Eu não posso.

_ Como assim não pode? Você diz que me ama. Não é feliz com aquele sujeito, que não te respeita e nem te satisfaz. Você deve fugir comigo.

_ Dimitri, eu tenho uma filha! Estou procurando emprego, já fiz até algumas entrevistas e estou aguardando ser chamado. Eu quero me separar do Júlio e quero ficar com você. Mas, eu não posso trocar os pés pelas mãos.

Abner levantou nervoso. Andando de um lado para o outro.

_ Leandro, a sua filha não é nenhuma criança! Pode muito bem se virar. Além do mais, ela não vai ficar sozinha. Tem o Júlio e muita grana.

_ Eu também sou o pai dela tanto quanto o Júlio! Não quero ficar longe da Vanessa!

_ Você tá usando isso como desculpas para continuar se mantendo num casamento infeliz, mas muito lucrativo._ Abner gritou, deixando Leandro nervoso.

_ O que você tá dizendo?

_ A verdade! Eu te amo, caralho! Quero ficar numa boa contigo! Mas, você não quer abrir mão da sua cobertura de luxo, do seu carro do ano e da sua gorda conta bancária! Tá usando a sua filha como desculpa. Você já deveria ter dado um pé na bunda do desgraçado do Júlio há muito tempo! Mas fica se prendendo. Só pode ser por dinheiro.

_ Você tá me ofendendo!

_ Quem está me ofendendo é você! Eu te amo! Mas infelizmente não tenho grana como o doutor seu marido.

_Abaixe o tom de voz para falar comigo! Você não tem o direito de fazer acusações estapafurdias a meu respeito. Eu não mereço isso! Eu sou um homem com trinta e dois anos de idade e pai de uma garota. Eu não sou um moleque inconsequente, que larga tudo para cair no mundo com um homem cheio de segredos. Primeiro essa história de ser garoto de programa e agora um corno querendo te matar. O que mais você tem a me esconder, Dimitri? Eu quero refazer a minha vida sim! Eu vou conseguir um emprego e vou me livrar do Júlio e acabar de criar a minha filha, mas não será dessa forma que você está querendo.

_ Se você me amasse, não me deixaria na mão.

_ Eu te amo! Mas amo a minha filha muito mais. Eu posso te ajudar. Podemos vender aquele relógio que te falei no outro dia e podemos pagar um detetive particular, esse encontra o Franklin e damos o paradeiro dele para a polícia.

_ Não tem como eu esperar tanto tempo. Ou eu fujo ou ele me mata! Será que você não percebe isso? Deixe de ser burro!

_ Eu não vou ficar aqui ouvindo os seus insultos.

Leandro saiu correndo e Abner foi atrás.

Na porta do elevador, Leandro teve o braço puxado pelo amante.

_ Leandro, me desculpe. Eu tava nervoso... tô com ciúmes, porra! Eu não suporto mais saber que você divide o mesmo teto com aquele filho da puta! Você é meu, caralho! Eu te quero só pra mim!

Leandro não respondeu. Puxou o próprio braço e entrou no elevador, descendo.

_ Merda!_ Abner exclamou, socando a porta do elevadorEra dez da manhã quando Abner despertou, ouvindo um barulho de alguém entrando no seu apartamento. Levantou nervoso, pegando a faca que guardava debaixo do travesseiro.

_ Abner! Abner!

Ele respirou aliviado quando ouviu o som da voz de Lorena chamando pelo seu nome.

Saiu vestido só com uma cueca boxer cinza e uma camiseta branca. Para a sua desagradável surpresa, avistou Júlio sentado no sofá, o olhando por cima e os braços cruzados.

Conteve-se para não explodir de ciúmes. Sentiu tanto ódio por estar diante do homem que dormia sob o mesmo teto que o seu amado Leandro e era o empecilho para a relação dos dois.

Lembrou-se da fotografia que Lorena o mostrou em que Júlio beijava o seu Leandro próximo ao carro que o presenteou. Com isso, o seu ódio aumentou ainda mais. Sentiu desejo de derramar o sangue do rival com as próprias mãos.

_ Eu contei para o Júlio sobre o Franklin. Ele vai te ajudar, Abner.

Abner teve tanta raiva pela intromissão de Lorena, quis gritar e expulsar os dois dali.

Mas se conteve em silêncio. Afinal, precisava dele. Leandro não quis fugir com ele e Franklin estava cada vez mais próximo. Era Júlio ou a morte.

_ Que mancada, heim Abner. Justo você que é tão esperto. Foi logo comer uma mulher louca e casada._ Júlio gargalhou._ Mas aí, que sinuca de bico. Um corno de orgulho ferido é o pior inimigo que um homem pode ter. Se fosse comigo, eu te caçava até no inferno.

Lorena olhou para Abner assustada. Temia hipótese do caso de Leandro e Abner ser descoberto.

_ Vem cá, não rola nada para beber?

_ Só tenho cerveja na geladeira. E vossa magestade não toma bebidas de pobre.

_ Cerveja nem pensar. Já tomei muito essa merda na vida quando era pobre. Tem um gosto horrível. _ Júlio abriu a carteira e retirou algumas notas de cem reais e entregou a Abner._ Compre uma garrafa de Whisky e deixe aqui para que eu possa beber toda vez que vier aqui. Agora me fale mais sobre esse tal de Franklin.

Abner sentou na poltrona em frente a Júlio e Lorena na poltrona ao lado. Ele relatou tudo sobre o caso com a Laura, o seu suicídio e a perseguição de Franklin. Respondeu todas as perguntas referente ao homem, fornecendo o seu endereço residencial e o da sua loja em São Paulo.

_ Ele é um desequilibrado! Tentou me matar em público! Saiu distribuindo tiros a torto e a direita. Ele não vai sossegar até me caçar. Não soube segurar a mulher, agora fica atrás de mim! Que merda!

_ Você pode ajudar o meu irmão, Júlio?

Abner e Lorena olhavam para Júlio aflitos. Enquanto ele manteve a expressão séria e indecifrável, acendeu um cigarro, se encostando na poltrona.

_ Vai depender de você._ disse apontando para Abner.

_ Como assim depende de mim?

_ Eu posso me livrar desse problema com facilidade. Posso garantir que esse cara nunca mais vai te perturbar. Mas isso não vai sair de graça.

_ Bom, isso eu já esperava. Caridade não é bem o seu forte.

_ Exato. Não sou um homem de caridade. Sou um homem de investimentos. Eu vou gastar dinheiro e energia para limpar a merda que você fez, mas preciso de um retorno. Quero que você seja só meu. Com total exclusividade. Nada de clientes, namoradinhos ou namoradinhas, contatinhos e muito menos a putaria que rola entre vocês dois.

Lorena o olhou espantada. Ela não fazia ideia que Júlio sabia do caso deles.

_ Acabou para você, Lorena. Já comeu e se lambuzou muito. Agora, o Abner será só meu. Caso me desobedeçam, eu fodo com a vida dos dois.

Abner a olhou como quem diz "eu avisei" e a secretária abaixou a cabeça para tentar não demonstrar a raiva.

_ Sem chance.

Lorena o olhou de um jeito repreendedor. Não era possível que Abner ainda ia insistir com a história de Leandro.

_ Eu não posso me dedicar exclusivamente a você. Preciso de grana. Como vou sobreviver? Estou desembargado!

_ Eu vou te pagar uma boa mesada. Você não precisará de clientes para porra nenhuma! Eu vou comprar o teu passe. Serei o seu cliente exclusivo.

_ Meu passe é caro, doutor Júlio Medeiros._ Abner disse erguendo a sobrancelha.

_ Vale a pena.

_ Tudo bem. Então, vamos falar de valores? Trinta mil por mês na minha conta.

Júlio deu uma gargalhada.

_ Tá maluco, né?

_ Uh, é! Você gasta muito mais com o Leandro. Ainda estou pedindo pouco.

_ Outra coisa que não quero mais é que pronuncie o nome do meu marido.

Ouvir Júlio se referi a Leandro como "meu marido" o deixou ainda mais enfurecido de ciúmes.

_ Eu é que não quero que se refere ao Leandro como seu marido. Eu não sou capaz de me conter toda vez que você fala desse jeito.

_ Olha só! Meu ciumentinho.

Júlio se aproximou, segurando em seu queixo e o beijou. Abner conteve a vontade soca-lo. Lorena olhou para o lado oposto, evitando ver o amado beijar outra pessoa.

_ Trinta mil não rola.

_ Vinte e cinco.

_ Quinze.

_ Só isso?!

_ Quinze mil e a cabeça do Franklin. Tá muito bom para a sua cara. É pegar ou largar. Mas lembre-se, por mais que você seja lindo e uma delicinha, há muitos iguais a você por aí. Eu consigo com facilidade e gastando muito menos. Já a sua vida é única. Se o corno te matar já era.

Abner tinha a intenção de arrecadar muito mais dinheiro de Júlio para juntar no banco e futuramente viver com Leandro. No entanto, acabou aceitando a proposta de Júlio. Mesmo contrariado.

_ Bom garoto.

_ Eu quero outra coisa.

_ Ah, é? Tá exigente heim!

_ Quero que demita os meus pais. Mas que pague todos os direitos deles.

Tanto Lorena quanto Júlio o olhou com espanto. Além de Abner não querer que os pais ficassem reféns de Júlio, ele não queria correr o risco de Leandro descobri a sua verdadeira identidade.

_ E como eles vão viver, Abner? Os nossos pais precisam de dinheiro!

_ Eu dou uma parte da minha mesada para eles.

_ Por mim, tanto faz. Se essa é a sua vontade.

_ E como você vai fazer para se livrar do Franklin, Júlio?_ perguntou Lorena.

_ Isso é problema meu. Para a sua segurança, é melhor se manter ignorante nesse assunto. Agora vá embora, Lorena. Já que vou pagar pelo produto, tenho que desfrutar._ Júlio disse olhando para Abner sem fazer questão nenhuma de esconder o tesão.

Lorena saiu furiosa.

Júlio se aproximou de Abner, beijando o seu pescoço. O moreno se manteve imóvel com muito ódio.

_ "Já que vou pagar pelo produto, tenho que desfrutar." Você fala como se eu fosse uma coisa.

_ Mas você é... é a minha coisinha gostosa.

Júlio segurou em sua face com uma mão e a outro foi de encontro com as suas nádegas. Apertava-as sendeto por elas, sentindo o membro pulsar por dentro da cueca.

Diferente de outrora, em que Abner adorava ser tocado por Júlio, ele só sentia incômodo.

No entanto, precisava fingir que estava gostando, afinal precisava de Júlio para se livrar de Franklin.

"Aguenta, Abner. Assim que esse merda se livrar do Franklin, eu dou um pé nesse otário e fico com o meu Leandro só pra mim." Foi o que tentava se convencer para poder suportar as carícias do rival.

Quando ambos estavam nus, Júlio sentou na poltrona com as pernas abertas, e Abner se posicionou entre elas de joelhos para chupá-lo.

Era perceptível que Abner não estava excitado, o seu pau não dava sinal de vida, permanecendo mole. Mas Júlio nem percebeu, estava mais preocupado com o próprio prazer. Abner fechou os olhos, imaginando que era Leandro quem estava no lugar de Júlio. Isso o ajudou a se animar para prosseguir com o sexo oral. Tentava ser eficiente para que Júlio gozasse o mais rápido possível.

_ Aaaaaa! Que delícia! Que saudade que eu tava dessa boquinha deliciosa!

Como estava de olhos fechados, Abner não percebeu o momento em que o amante gozava. Tentou retirar a cabeça a tempo, mas Júlio a segurou forçando-o a engolir, o que deixou Abner furioso.

_ Porra! Você gozou pra caralho!_ reclamou limpando o rosto, num paninho._ Parece que não fode há tempos.

_ Não fodo mesmo. Leandro se trancou que tá difícil.

Como estava de costa, Abner sorriu. Então, era realmente verdade! Leandro não mais permitia que o Júlio o tocasse! Isso o alegrou muito! "Ele é só meu!"

Revirou os olhos para cima quando Júlio o abraçou por trás, beijando a sua nuca e esfregando o membro meio duro na sua bunda. Subia a boca mordendo de leve as orelhas, penetrando os dedos nos cabelos lisos e pretos.

_ Hoje, eu vou acabar com esse cuzinho gostoso! Vou meter muito nesse rabo!_ Prometeu Júlio, dando um tapa na bunda de Abner.

Jogou-o com violência no sofá. Ajustou as suas pernas para que ficassem bem abertas com o ânus a amostra. Abner apoiou o peito e as mãos nas costas do sofá.

_ Pegue o lubrificante. Eu não vou aguentar esse pau imenso a seco.

Júlio sorriu, puxando os cabelos de Abner para trás e beijando a sua boca.

Depois do seu pau e o cu de Abner devidamente lubrificados, Júlio meteu de uma vez. Bombava com a mesma força que meteu em Leandro da última vez que transaram, enquanto puxava os cabelos dele para trás.

Ao contrário de Leandro, Abner não reclamou da dor. A sua vida de garoto de programa o fez se acostumar com muitas coisas.

_ Puta safada! Piranha!_ disse Júlio, metendo acelerado.

Mesmo não gostando nada de Júlio dentro dele, Abner começou a rebolar para acelerar o gozo de Júlio.

Sentiu alívio depois que Júlio saiu de dentro dele, deixando os espermas no seu interior. Cansado, se jogou no sofá, deitando de barriga para cima. Júlio sentou na poltrona ao lado, sorrindo. Era prazeroso demais comer um cuzinho, coisa que não fazia há tempos.

Ele gostava e muito de comer Abner. Mas, ficou pensando o quão bom seria se fosse Leandro que estivesse no lugar do michê. Sentia saudades do corpo do marido_O doutor Júlio o aguarda em seu escritório. _ Lorena disse com gentileza para o detetive particular, que aguardava na sala de espera.

A secretária o conduziu até o corredor principal, onde ficava a luxuosa sala do chefe. Ela caminhava em cima dos saltos altos, vestindo um paletó azul e uma saia justa preta que iam até os joelhos e era justa ao corpo, valorizando as coxas grossas e o bumbum carnudo, o que despertou o desejo do detetive, que a olhava sentindo uma pulsação entre as pernas.

Lorena abriu a porta e sorriu, indicando para que o homem pudesse entrar.

_ Bom dia, doutor Júlio.

_ Bom dia. Sente-se._ Júlio respondeu sem desviar os olhos da papelada que assinava.

_ Eu fico muito grato pelo senhor ter contratado os meus serviços mais uma vez.

_ Eu gosto de eficiência. E você me mostrou isso.

_ E farei desta vez também.

_ Assim espero. Vou direto ao ponto._ Júlio mostrou uma foto da loja de sapato Sonhos dos pés. _ Essa loja fica em São José do Rio Preto, em São Paulo. O nome do proprietário é Franklin Dias Machado. Quero que descubra tudo sobre ele. Tanto do passado, quanto do presente. Quero endereço de casa, da família, se tem passagem pela polícia, se a loja está em dia ou não com os impostos, se tem algum podre na vida pessoal...enfim, a ficha completa.

_ Pode deixar. Não será difícil.

_ Além disso, ele está no Rio de Janeiro. Veio atrás de um ex garoto de programa que teve um caso com a sua falecida esposa. Ele quer matar o rapaz. Quero que descubra onde ele está hospedado. Essa informação é a que tenho mais urgência.

_ Ok, doutor. Em um mês eu te dou o relatório completo.

_ Que mané um mês? Quero pra ontem!

_ Com todo respeito, doutor Júlio. Mas eu tenho outros casos para resolver.

_ Eu cubro tudo. Pago o quanto for necessário para ter exclusividade.

_ Se for assim, beleza._ o detetive respondeu sorrindo.

Júlio o olhou sério por um instante.

_ O senhor tem mais alguma coisa para me dizer?

_ Tenho. Além desse serviço...quero outro.

_ Diga. Quanto mais trabalho para o senhor melhor. É um dos meus melhores clientes.

Júlio o olhava girando a aliança no dedo. Tentava obter coragem. Para ele humilhante demais a possibilidade de está sendo traído. Procurou reunir coragem para passar por cima do seu orgulho masculino e dizer:

_ Eu ando desconfiado que o meu companheiro não anda se comportando como deveria.

_ O senhor quer que eu descubra se o seu companheiro tem um caso?

_ Exato. Eu quero saber se há o caso, quando e onde se encontram e quem é o desgraçado que está com ele...quero a ficha completa do infeliz.

_ Perfeito. Eu só vou precisar que o senhor responda algumas perguntas referente ao seu esposo. Para poder dar o ponta pé inicial nas investigações.

Uma semana depois, o detetive retornou ao escritório contendo todas as informações possíveis sobre Franklin.

Júlio ouvia o detetive observando o dossiê, que o profissional o entregou.

_ Então, é nesse hotel que esse tal de Franklin está hospedado?

_ Exato. Pelo que fiquei sabendo ele passa o dia inteiro fora e só volta para dormir.

_ E sobre o meu marido? O que você tem de informação?

_ Bom, doutor, eu me dediquei totalmente ao Franklin para entregar tudo ao senhor o mais depressa possível. Agora que já estou livre desse caso, posso me dedicar ao caso do seu companheiro.

_ Beleza. Quero a mesma eficiência que teve no caso do Franklin.

_ Como eu já entreguei tudo ao senhor, podemos falar em pagamento.

_ Entregue o número da sua conta bancária para a minha secretária que ela vai resolver tudo para você.

_ Obrigado, doutor. Logo eu voltarei aqui com informações sobre o outro serviço.

Uma hora depois que o detetive saiu do escritório, três homens mau encarados receberam a autorização de Júlio para entrarem no seu escritório.

Lorena não fazia de quem eram, mas acreditava que eles seriam os homens que resolveriam o problema de Abner.

Eles ficaram no escritório por quase uma hora. Saíram tão sérios como entraram.

Lorena foi para a soleira da porta, da sala de Júlio logo em seguida, levando uma pasta com alguns documentos.

_ Júlio, posso entrar? Aqui estão os documentos que você me pediu.

Júlio fez um sinal com a mão para que ela se aproximasse. Ela deixou a pasta na mesa.

_ Homens estranhos esses que saíram daqui. Quem São?

_ Para a sua segurança, é melhor você nem querer saber.

O relógio marcava nove da noite, quando Franklin se aproximou do hotel. Tinha em mãos um pacote de pães de queijo e um copo de café. Andava distraído, sem fazer ideia que era observado por três homens que estavam dentro de um carro preto do outro lado da calçada.

Eles saíram do carro e caminharam, às pressas, em direção a Franklin.

_ Franklin!

Ele olhou para trás para ver quem o chamava. Os homens se aproximaram. Um deles pôs a mão em seu ombro e disse sorrindo:

_ Venha conosco. Vamos ter uma conversinha.

....

Abner levou um susto quando chegou na sala e encontrou Júlio sentado no sofá, fumando um cigarro.

_ Caralho! Que susto! Como você entra aqui em casa sem avisar?

_ E eu lá preciso avisar para entrar no meu apartamento? Quem comprou e banca esta porra sou eu.

_ Precisa jogar na cara sempre?

_ Eu resolvi o seu problema. O Franklin não vai mais te incomodar._ disse Júlio tragando um cigarro.

Abner sorriu no mesmo instante, pondo as mãos na boca. Pulou comemorando.

_ Ele morreu! Ele morreu! Eu tô livre! Livre!

_ Eu não disse que ele morreu.

_ Não?! Você acabou de me dizer que resolveu o problema, que o Franklin não ia mais me incomodar.

_ Sim. Eu dei um jeito para que ele não te incomode...por enquanto.

_ Como assim por enquanto?! Júlio, esse cara é obcecado por mim! Ele não vai desistir até me matar. Você deveria ter dado um fim nele, porra!

Júlio jogou no cinzeiro a última ponta do cigarro. Sorrindo, levantou e se aproximou de Abner, o beijando no pescoço.

_ O fato do Franklin te perturbar ou não só depende de você, minha putinha.

_ Como assim?_ Abner perguntou desconfiado.

_ Eu não sou idiota de matar o cara e você se vê livre e não cumpre a sua promessa de ser só meu. Não, não, querido. Se você se comportar direitinho na cama e fora dela, o Franklin nunca mais vai te perturbar. Agora...se você desviar um pouquinho e fizer merda, eu te entrego para ele numa bandeja. Estamos combinado, meu gostosinho?

O sorriso de Júlio era extremamente irritante para Abner. O michê direcionava a ele o seus olhos negros, que expressavam a sua insatisfação.

_ Uma mão lava a outra, querido._ disse Júlio antes de beija-lo.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 21 estrelas.
Incentive Arthur Miguel a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Este comentário não está disponível
Foto de perfil genérica

Adoro essa história! é a única que eu leio aqui, mas pra mim ela ta perdendo o sentido. O Abner não soube armar toda aquela situação para o Julio levar uma surra? Ele mesmo não poderia ter contratado o detetive e resolvido a questão do Franklin? Ficou contraditório ele de repente depender do Julio pra tudo... Afinal de contas o que ele faz com aquele dinheiro todo que ele ganha? Compra roupa de grife toda semana? Ele sempre se gaba que todo mundo paga rios de dinheiro pra fuder com ele, mas age como se estivesse passando fome todo dia...

0 0
Foto de perfil de Ana_Escritora

Uma coisa não se pode negar: o Júlio tem uma engenhosidade incrível para virar o jogo ao próprio favor. Está sempre a uma passo à frente.

Quisera eu ter todo mês 15 mil na minha conta. Sonho😍

1 0