O outro capítulo 15 Angela

Um conto erótico de Arthur Miguel
Categoria: Gay
Contém 9033 palavras
Data: 28/11/2021 19:22:14
Última revisão: 28/11/2021 22:12:11

Angela não é o tipo de mulher que costuma desistir de lutar pelo que almeja, mesmo que a batalha esteja dada como perdida.

_ Ele não vai vir._ foi o que Genaro disse quando ouviu da mulher que compraria um peru para assar no almoço de domingo para receber o filho.

Angela não respondeu com palavras e sim com um olhar de ódio, como sempre olhava para o marido e a empregada nunca sabia o porquê de tanto ódio.

Temperou a ave com ervas verdes e manteiga derretida, deixando marinar por dois dias.

_ Quer que eu faça, dona Angela?

_ Não. Sou eu sei preparar o peru do jeito que o Leandro gosta.

Angela não se dava por vencida, mesmo tendo as ligações ignoradas e não ser recebida pelo filho quando esteve em sua casa, ela insistia em deixar recado no Whatsapp pedindo para vê-lo.

"Filho, eu preciso muito te ver. Sinto a sua falta. Venha almoçar comigo neste domingo. Vou preparar um prato que você adora. Eu te amo tanto, meu bem." A mensagem nunca foi respondida.

A ave foi posta á mesa, sobre uma toalha branca e o aparelho de porcelana em volta. Seria servido com legumes assados, salada de alface, tomates secos e molho parmesão e arroz branco. Para a sobremesa, salada de frutas. Para ela o importante era não só o sabor dos pratos, mas também a importância nutricional.

Com o cigarro entre os dedos, Angela olhava para a entrada do quintal, triste pela ausência do filho.

Genaro entrou na sala vestindo uma bermuda de moletom, camiseta e chinelos. Em casa, ele se sentia livre, sem precisar usar o terno preto que sua função de advogado o obrigou a usar durante mais de trinta anos.

_ Olha só! Caprichou na mesa, minha querida._ Genaro disse, se aproximando da mulher e segurando o seu queixo, com a intenção de beijá-la. Enojada, ela se afastou.

_ Que cara é essa, mulher?

Genaro recebeu um olhar carregado de ódio, dor e mágoa.

_ Estou com saudades do meu filho.

_ Eu te disse que ele não viria. Mas, você foi teimosa.

O advogado sentou á mesa despreocupado, se servindo.

_ A ausência do Leandro não te incomoda?

Ele a olhou sem dizer e expressar nada. Ao mastigar, gemeu com o bom sabor do peru.

_ Está delicioso! Leandro não sabe o que perdeu.

_ Eu não aguento mais essa situação. A sua frieza me dá asco.

O toque do interfone fez com que Genaro interrompesse o almoço para atender.

_ Não sei o porquê empregada doméstica tem que ter folga no domingo. Nem almoçar em paz , eu posso... Alô! Júlio, meu genro! Eu vou liberar o portão para que você possa entrar.

Angela sorriu acreditando que Leandro estava junto do marido. Mas, para a sua decepção, Júlio entrou só em sua casa, com o rosto coberto por hematomas e uma expressão de mau humor.

_ Meu deus! O que aconteceu com você?

_ Agora não tenho tempo e nem vontade de te explicar nada,Genaro. O Leandro saiu de casa e vocês têm que me ajudar a trazê-lo de volta.

_ Como assim saiu de casa? Cadê o meu filho?_ Angela perguntou, aflita.

_ Viajou com a puta da Valéria! Foram para Maceió! Ele passou por cima das minhas ordens e foi.

_ Ultimamente, Leandro só está me arrumando problemas. _ Genaro disse servindo uma taça de vinho e entregando a Júlio, que andava de um lado para o outro, nervoso.

_ Ele nunca me desobedeceu. Sempre foi correto! Agora está cheio de si. Me ignora! Me trata como se eu fosse um estranho. Agora essa viagem. Ele tá querendo me deixar.

_ Não se preocupe, meu genro. Assim que Leandro voltar de viagem, eu mesmo vou ter uma conversa franca com ele. De homem para homem. Vou botar juízo na cabeça do meu filho.

_ Você não. É muito frouxo para isso. Ela fará._ Júlio disse apontando para Angela._ Angela tem mais domínio sobre o meu marido. Você vai convencer o Leandro a não me deixar.

Angela se aproximou de Júlio, com a cabeça erguida. Mirou em seus olhos e sorriu.

_ Você não sabe o quanto eu torci para que o meu filho se libertasse de você.

Genaro a olhou de um jeito repreensivo.

_ Angela!

Júlio a encarava com ódio.

_ Júlio, não liga para o que ela diz. Esta mulher está louca.

_ Eu sempre estou louca, não é? Sempre sou a louca quando digo a verdade que não agrada a vocês. Eu tô de saco cheio de ver o meu filho ser humilhado e sofrer nas mãos desse cafajeste! O meu Leandro não merece isso. Eu não vou mais compactuar com essa patifaria. Eu nunca gostei de você, Júlio. Você nunca foi homem para o meu filho. Você só o fez sofrer por todos esses anos. Assumo que ajudei nisso. Mas, já chega! Eu quero que o meu filho tenha a vida que merece e longe de você.

_ Angela, pare de dizer besteiras! Júlio, ignore o que a minha mulher está dizendo. Ela só está nervosa porque Leandro está a ignorando.

_ Genaro, me dê licença para falar a sós com a minha "querida" sogrinha?

_Eu acho melhor vocês não conversarem agora. Ela está nervosa.

_ Genaro, saia!_ Júlio ordenou sem retirar os olhos dos de Angela.

_ Tudo bem. Qualquer coisa, estou no jardim._ Genaro respondeu antes de se retirar.

_ Angela, esta é uma péssima hora para você ter uma crise de consciência. Tá querendo o quê? O prêmio de mãe do ano?

_ Eu quero que o meu filho seja feliz. E isso não vai acontecer enquanto ele estiver vivendo sob o mesmo teto que você. Naquele dia, Leandro chegou aqui em casa em estado de desespero, tinha manchas roxas pelo corpo... você acha que foi fácil pra mim ter que empurrá-lo para os seus braços? Eu fiz com muita dó no coração._ Angela se controlava para não chorar. Não queria demonstrar fraqueza para Júlio.

_ Você sempre foi muito bem paga por todas as vezes que me ajudou. Se não fosse por mim, não teria uma casa como esta, uma vida confortável e uma reputação respeitável. Angela, não me faça perder a paciência contigo. Você sabe que eu posso te tirar tudo que te dei.

_ Tire. Pegue todo o seu dinheiro e enfie no olho do seu cu!

_ Não me provoque, ou eu acabo com você! Acabo com o seu casamento revelando o seu caso com um homem que tem a metade da sua idade. O que você acha que o Leandro vai pensar quando souber que a mamãezinha dele é uma puta? E pior... além de puta, ela é uma assassina! Você ficaria tão bonitinha de uniforme de presidiária...isso se você sobreviver na cadeia. Porque pela gravidade do seu crime, seria linchada na mesma hora.

_ Eu já tô farta das suas ameaças.

_ Então, não me ajude a reconquistar o Leandro, que nunca mais vou te ameaçar. Vou te mandar direto para a cadeia. Vou transformar a sua vida num inferno. Nem mesmo o Leandro vai mais querer te ver. Você acha que ele vai te perdoar, sogrinha?

Angela se afastou, dando uma tragada no cigarro.

_ A decisão é sua. Vai me ajudar ou não?

_ Vou._ ela respondeu entre os dentes e de cabeça abaixada.

_ Perfeito. Eu vou dar um jantar de boas vindas ao meu marido. Fui rude com ele, antes de viajar, exigindo que me entregasse os cartões de crédito e débito. Eu achei que fazendo isso o impediria de sair, mas ele foi mesmo assim. Eu sou péssimo para organizar jantares. Quero que você faça isso. E que esteja lá junto com o paspalho do seu marido. Depois, você vai dar um jeito de convencer o Leandro a ficar comigo como você sempre fez.

_ Leandro não quer falar comigo. Não será fácil convencê-lo.

_ Dê o seu jeito. Se vira!

_ Já acabou o que tinha para me dizer em segredo? Você me autoriza a chamar o dono da casa para entrar e continuar a almoçar, senhor meu genro?

Júlio a olhava com raiva, sem responder nada. Odiava deboches quando estava de mau humor.

Genaro entrou e convidou Júlio para se juntar á mesa com eles, mas o convite foi recusado. Ainda de pé, contou ao sogro sobre o jantar que pretende dar para receber o marido.

_ Pode contar conosco. Eu também posso conversar com o Leandro. Posso não ser tão bom em persuasão como a minha esposa, mas ele há de me ouvir. Afinal, sou o pai dele.

_ Espero que vocês sejam muito convincentes.

Alguns minutos depois, Júlio se despediu, partindo. Genaro o acompanhou até o portão da casa.

Quando retornou, encontrou Angela sentada á mesa, fumando outro cigarro.

_ Essa porcaria ainda vai te matar.

_ Como se você se importasse.

_ Você ficou louca de encarar o Júlio daquele jeito?! Tem noção da burrice que fez?

_ Não me chame de burra!

_ É o que você é. Tanto você quanto o seu filho. Dois burros! Que ideia do Leandro de querer se separar e perder tudo. Aquele imbecil tá pensando que vai viver de quê? Com um salário de professor? Nem para se formar no que eu sonhei pra ele, ou qualquer outra profissão que tivesse um mínimo de valor no mercado.

_ O único burro aqui é você, que é tão ambicioso que praticamente obrigou o Leandro a assinar um acordo pré nupcial. Se o Leandro pode sair desse casamento com uma mão na frente e outra atrás a culpa é toda sua.

_ Como que eu ia advinhar que o morto de fome do Júlio ia se tornar quem se tornou? Eu quis proteger os bens da família.

_ Bens esses que você destruiu por pura incompetência. Você conseguiu falir o escritório de advocacia que o seu pai fundou. Agora vive aí, dependendo do salário pago por um homem que transforma a vida do nosso filho um inferno. E você não aprendeu com a velhice. Pensa que não sei que gasta rios de dinheiro com a sua amante?

_ Que amante? Está louca!

_ Uma mulher traída é sempre louca.

_ Você é injusta comigo isso sim. Posso até ter errado no passado. Mas eu mudei.

_ Mudou porra nenhuma, Genaro! Você sempre gostou de gastar dinheiro com garotinhas. É o jeito patético que você rejeita a sua velhice. Foi por isso que se casou comigo. Porque eu sou mais jovem que você. Mas, agora não tenho mais vinte anos e você saiu para procurar uma garotinha para torrar o nosso dinheiro. Eu não me importo se você mete o seu pau murcho numa ninfeta qualquer. Só não quero que ponha o pouco de dinheiro que nos restou nas mãos de uma putinha qualquer.

_ Você precisa se tratar. Está doente, Angela.

_ A única coisa que me importa é o meu filho. É a única pessoa que eu amo nessa vida. Ele não merece passar por tudo que está passando. E você não se importa, só pensa em bajular o Júlio para conseguir dinheiro e enfiar na boceta da sua puta.

_ Eu me importo sim. Eu amo o meu filho e quero o melhor para ele. Você acha que Leandro todo molenga vai ser alguma coisa na vida só por ele? Vai ser um zero a esquerda. Um nada, assim como você. Ele tem que dar graças a deus que tem um marido rico como o Júlio.

_ Graças a Deus pelo o quê? Por ser infeliz?

_ Ah, frescura dele. Leandro pensa que só porque é gay tem que ser frágil. Ah, faça-me um favor! Vive chorando de barriga cheia. Tem tudo que quer sem fazer esforço nenhum.

_ Às vezes, eu acho que o melhor para o meu filho é ficar viúvo. Assim, ele se livra do Júlio, herda a porra do dinheiro e você fica feliz, porque é só isso que te importa.

Angela saiu da mesa, deixando Genaro em silêncio.

...

Leandro olhava em volta, espantado com a quantidade de buquês de flores na sala e uma faixa colada na parede de vidro escrito "Seja bem-vindo, meu amor!"

No sofá Vanessa estava sentada ao lado do avô, abraçados. Angela levantou-se para vê-lo.

Todos estavam bem vestidos de acordo com um jantar especial. Além deles, dona Dirce estava sentada ao lado de Angela. Rubens e Lorena de pé conversando com uma taça de champanhe nas mãos.

Uma mesa grande foi posta na sala, arrumada com taças e aparelhos de jantar, com guardanapos de tecido vermelho. Júlio havia contrato um buffet para preparar o jantar de boas vindas.

Vanessa levantou às pressas, correndo para o pai com os braços abertos.

_ Papai! Que saudades!

Angela foi em seguida, o abraçando com força.

_ Eu senti tanto a sua falta, meu amor._ para ela era tão bom ter o filho nos braços novamente, que desejou que ele retornasse ao seu ventre para que pudesse protegê-lo.

Vestia um longo vestido vermelho com um decote V e os cabelos estavam presos num coque.

Júlio se aproximou sorrindo, segurou em seu queixo e o beijou.

_ Eu fico muito feliz que esteja de volta, coração!

Leandro reparou que os hematomas do marido estavam sarando.

Achou aquela situação muito estranha. Não esperava ser recebido com festa, já que soube que Júlio teve raiva da sua viagem.

Aquele homem gentil e amoroso era de longe o homem egoísta, mesquinho e bravo que deixou antes de viajar. E isso o assustava.

Todos os outros o cumprimentou. E mesmo, assustado e confuso, ele correspondeu de forma cordial, influenciado pela boa educação que recebera dos pais.

_ Como foi de viagem, querido? Pelo que me dizem, Maceió é um lugar maravilhoso._ Lorena disse sorrindo de um jeito gentil. Tudo era uma máscara para esconder a tamanha raiva que sentia do rival. Ela adorou ser convidada para o jantar, assim poderia contar a Abner o quanto Leandro era mimado pelo marido rico, tirando dele qualquer esperança de ter um relacionamento sério com Leandro.

_ Foi muito boa, Lorena. Eu estou revigorado.

_ Dar para perceber pela sua pele de pêssego, Léo! Bicha, como a senhora consegue ficar ainda mais bonita?

Leandro sorriu envergonhado. O puxa saquismo de Rubens o deixava desconfortável. Para sair da situação embaraçosa, foi até a dona Dirce e a abraçou.

_ Dona Dirce! Como a senhora está? É tão bom vê-la.

_ Tirando esse calor infernal que queima o Rio de Janeiro nesta época do ano, eu estou ótima. Aliás, você e o meu sobrinho estão me devendo uma visita. Há tanto tempo não vão á minha casa. E nem vem com essa conversa que Júlio é muito ocupado. Já estou velha. É bom tirar um tempinho para me ver enquanto estou viva.

_ A senhora tem toda razão. Andamos um pouco ausentes mesmo. Mas, eu prometo que vou visitá-la ainda esta semana. Eu e a Vanessa iremos no dia em que a senhora achar mais apropriado.

_ Vai fazer aquela torta de maçã, vovó?

_ Vanessa! Não dê trabalho a sua avó.

_ Que trabalho nada, querido. Será um prazer fazer uma torta de maçã para a minha netinha._ ela disse dando um beijo no rosto de Vanessa._ E também vou preparar aquele frango recheado com creme cheese que você e o Júlio adoram.

_ Nossa! É impossível recusar uma proposta tão tentadora assim.

_ Aliás, querido, você me disse que irá á minha casa com a Vanessa. O Júlio não vai com vocês?

_ Claro que vou, tia. Prometo que vou._ Júlio disse, abraçando Leandro por trás e beijando o seu rosto. Ele se sentiu incomodado com o toque do marido, mas se manteve firme para não transparecer a sua crise conjugal.

_ Eu agradeço a todos por estarem aqui e me receberem de um jeito tão carinhoso. Obrigado mesmo. Mas eu vou pedir licença para poder me ausentar um pouquinho. Acabei de chegar de viagem e preciso tomar um banho. Daqui a pouco, eu volto.

_ Claro! Fique á vontade, Léo. Aliás, como você está ótimo com esse bronzeado. Esse tempinho longe do marido, garanto que vão matar em grande estilo._ disse Lorena, sorrindo, imaginando a cara de ódio que Abner faria ao ouvi-la falar aquilo.

_ A cobertura vai tremer._ Vanessa disse provocando gargalhadas em todos.

_ Vanessa, tenha compostura!_ advertiu Leandro.

_ Ah, deixe a menina. É normal que um casal apaixonado mate a saudade com noites quentes.

_ Você tá se saindo muito saidinho, seu genaro._ Angela disse.

_ Com licença.

De banho tomado e enrolado na toalha, Leandro tentava processar o susto que recebeu com a recepção em sua casa. Ainda estava tenso com toda a situação.

Júlio entrou no quarto sem bater. Nessa hora, Leandro temeu que o marido retirasse a máscara e iniciasse uma discussão, ou fizesse algum comentário desagradável.

_ Amor, você vai demorar muito? O jantar já vai ser servido.

_ O que significa isso, Júlio?

_ Como assim? É um jeito apropriado de te receber de volta. Eu senti tanto a sua falta.

_ Por que você é tão falso?

_ O quê?

_ Antes de eu ir viajar, você me tratou como um cachorro de rua e agora faz um jantarzinho para vender a todos a falsa imagem de casal perfeito. Você é o marido exemplar! O homem maravilhoso, que recebe o marido ingrato de braços abertos, mesmo depois dele o ter te deixado todo machucado para curtir o carnaval com a melhor amiga.

Como sempre, você dá um jeito de reverter a situação. Eu sempre saio como o vilão e você o bonzinho da história.

_ Leandro, não é nada disso. Eu estou realmente arrependido pelo que fiz com você. Esse jantar foi um meio de te pedir desculpas.

Júlio tentou tocá-lo, mas Leandro se desviou.

_ Acho melhor você voltar para a sala. Não é nada educado o anfitrião deixar os convidados sozinhos. Daqui a pouco, eu estou descendo.

_ Você tá certo. Mas, antes precisamos resolver uma coisinha._ Júlio retirou a aliança de Leandro do bolso._ As pessoas vão reparar que você está sem a aliança e podem perguntar ou fazer comentários a respeito. É melhor que use...pelo menos esta noite.

Júlio pôs a aliança no dedo do marido e beijou a sua mão.

_ Peço que não me toque na frente dos convidados. Eu vou te ajudar a manter a sua adorada hipocrisia. Não vou transparecer que não estamos bem, mas isso não te dá o direito de me tocar.

Júlio o olhava sem dizer nada.

_ Agora me dê licença para me vestir.

O advogado concordou com a cabeça e saiu frustrado, pois esperava amolecer o coração de Leandro com a sua surpresa.

Ao chegar na sala, se aproximou de Angela, que conversava com Lorena e Rubens.

_ Com licença. Mas, vou ter que roubar a minha sogrinha por um instante.

_ Claro, chefe. Ela é toda sua. Use e abuse._ Rubens respondeu piscando o olho.

Júlio a segurou de leve pelo braço e a levou para um canto mais reservado da sala.

_ Aproveite que Leandro está lá em cima e fale com ele. Está no segundo quarto a esquerda.

_ Uh, é! Vocês não dormem mais no mesmo quarto?

_ Sem perguntinhas idiotas, Angela. Vá lá e fale com ele. Espero que seja bem persuasiva.

_Pode deixar, "genrinho".

Júlio odiou o tom irônico da sogra.

Ver o nome de Dimitri na tela do celular fez brotar um sorriso no rosto triste de Leandro. Estava com tanta saudade que ouvir a sua voz o deixou nas nuvens.

_ Meu amor, é tão bom ouvir a sua voz!

_ Se ouvir a minha voz fosse tão bom pra vc, Leandro, não teria me ignorado durante a viagem de carnaval._ Abner disse enciumado.

_ Oh, meu bem. Eu sinto muito. Tive que desligar o celular porque o Júlio estava me infernizando. Ele ficou furioso por eu ter viajado. Até me tirou o carro e os cartões de crédito. Tive que viajar tenso. Foi péssimo. Se eu não desligasse o celular, não teria um minuto de sossêgo.

Abner sorriu, feliz por saber que Leandro não estava o evitando.

_ Ele não deveria ter feito isso contigo. Você não merece esse miserável.

_ Eu tô louco pra te ver.

_ Eu também. Você ficou com alguém?_ mesmo com medo da resposta ser positiva, Abner decidiu arriscar.

_ Não! Eu só pensei em você.

_ Sério?_ Abner perguntou sorrindo.

_ Claro! E você? Ficou com alguém?

_ Fiquei.

Leandro ficou decepcionado com a resposta. A tristeza bateu com força e ao mesmo tentou se conter para demonstrar o ciúme. Ele não tinha esse direito, já que não tinha uma relação sólida com Abner.

_Fiquei com saudades de você.

Sorriu aliviado.

_ Bobo!

_ Eu tô na tua, meu amor. Tô caído por você. É real mesmo. Nunca senti isso por ninguém. Quero te ver agora. Me encontre na rua do seu condomínio.

_ Não! Tá louco?! Eu tô tendo um jantar aqui em casa. O meu marido tá em casa.

_ E daí? Dá um perdido em todo mundo.

_ Não, Dimitri. É muito arriscado.

_ Ah, qual é? Eu preciso muito te ver.

_ Eu também quero te ver. Vamos fazer o seguinte: vamos nos encontrar amanhã.

_ Claro! Vou te pegar onde?

_ As dez da manhã, na cafeteria Luiza Matarazzo, conhece? Fica no shopping da Barra da Tijuca.

_ Conheço sim. Não vejo a hora de chegar amanhã para te ter nos meus braços, te encher de beijos e te amar gostoso, do jeito que você merece.

Leandro sorriu feliz.

_ Eu te adoro, Dimitri. Até amanhã.

_ Ah, já vai desligar? Não! Me fale um pouquinho de como foi a sua viagem.

_ Amor, amanhã eu te falo. Agora tenho que ir.

_ Fala de novo?

_ O quê?

_ Me chame de amor.

_ Amor! Amor! Amor!

_ Aaaah, eu amo tanto esse homem, meu deeeeeus!

_ Eu vou ter que ir. Tchau. Muitos beijos.

_ Outros, meu nenê. Te amo.

Leandro desligou encerrou a ligação suspirando, abraçando o celular. Olhou para o dedo e se incomodou com a aliança posta por Júlio. Retirou e jogou na lata de lixo de Inox, que ficava ao lado da cama.

Do outro lado da porta, Angela ouviu toda a conversa admirada com o fato do filho está tendo um caso extra conjugal com um tal de Dimitri. O pior era que não era um simples caso de sexo casual, Leandro estava envolvido sentimentalmente pelo amante e isso poderia gerar uma tragédia caso Júlio descobrissem, o que a deixou apavorada.

De primeira, pensou em invadir o quarto e tirar satisfações com o filho e o obrigar a terminar o caso. No entanto, se tocou que Leandro não era mais aquele menininho que a obedecia em tudo. Se Leandro estivesse realmente apaixonado não abriria mão do caso, assim como não abriu mão de Júlio no passado. Era preciso ser cautelosa. Fingir que não sabe de nada e investigar mais a fundo sobre esse tal de Dimitri.

Bateu na porta, com gentileza.

_ Quem é?

_ Sou eu, meu filho. Abra, meu amor. Preciso falar com você. Eu sei que está chateado comigo. Mas vamos conversar um pouquinho?

Leandro abriu a porta sério.

_ Mãe, as pessoas estão me esperando. Outra hora a gente conversa.

_ Por favor?

A expressão triste da mãe o comoveu, e o fez a convidar para entrar.

_ Entre.

Angela entrou e o abraçou forte, ficando assim por alguns segundos.

_ Eu senti tanto a sua falta. Eu te amo demais.

_ Se amasse não me jogaria para a boca do leão por puro interesse financeiro.

_ Você está sendo injusto, Leandro.

_ Eu estou sendo injusto?! Você não tá nem aí pra mim. Não quer saber se estou infeliz, não se importa com o meu sofrimento. A única coisa que sempre foca é na porra do dinheiro do Júlio.

_ Leandro, olha a boca!

_ Desculpe, se fui rude contigo, mãe. Mas eu não suporto mais você defender o Júlio.

_ Meu amor, eu não defendo o Júlio. Se dependesse de mim ele estaria morto há muito tempo. Nunca gostei dele._ Angela disse com doçura, segurando nas mãos do filho.

_ Também não é para tanto.

_ Eu me preocupo com você. Eu sei que o Júlio não é um poço de fidelidade, mas querido, se você se separar, ele pode se casar com esse tal de Abner e esse sujeito ficar com tudo que é seu por direito.

_ Eu não me importo, mãe!_ Leandro gritou irritado.

_ Até mesmo se ele se tornar o padrastro da sua filha?

Leandro arregalou os olhos espantado. Nunca tinha parado para pensar nessa possibilidade.

_ Você não conhece esse rapaz. Não sabe da índole dele. Provavelmente, não deve ser uma boa pessoa, para se envolver com um homem casado e ter a petulância de ligar para a sua casa. Leandro, meu amor, nós não sabemos o tipo de influencia ruim que esse homem pode ser para a sua filha. Ou se é algum tipo de tarado ou violento. Há tantas adolescentes que sofrem nas mãos dos padrastos.

_ Não... não! Eu nunca vou permitir que ninguém toque na minha filha.

_ Mas você não poderá fazer nada, meu bem. Você acha que Júlio não vai usar todo talento dele de advogado, mais as influencias para ficar com a guarda da menina?

_ Mesmo que ele fique com a Vanessa, Júlio pode ser o que for, mas é um bom pai e ama a nossa filha. Ele não vai permitir que esse tal de Abner faça qualquer coisa ruim a ela.

_ Se ele souber. Há tantos psicopatas que maltratam as enteadas e as ameaçam para que elas não contem nada para os pais.

As lágrimas se formavam nos olhos de Leandro. Estava apavorado.

_ Isso também inclui a parte financeira. Você pode não se importar com o dinheiro para você, mas e a Vanessa? Afinal, ela é a herdeira do patrimônio do Júlio. E se esse Abner for um golpista e torrar todo o dinheiro da menina?

_ Qual é a sua, hein mãe? Você nem gosta da Vanessa.

_ Mas amo você. E sei que também ama essa menina. Se ela sofrer, você sofrerá também.

_ Escute uma coisa: eu não sou tão idiota como as pessoas pensam e muito menos tão dócil. Se alguém encostar um dedo da minha filha, eu sou capaz de qualquer coisa para defendê-la. Até mesmo de chegar ao extremo.

_ Seguro morreu de velho. Continue mantendo o seu lugar de marido do Júlio, que a segurança da Vanessa estará garantida.

_ Eu não quero mais falar sobre isso. Tenho que descer. As pessoas estão me esperando.

_ Eu também não quero mais falar sobre isso. Eu sinto muito que esteja com ódio de mim.

_ Eu não estou com ódio de você. Só estou chateado.

_ É capaz de me perdoar?_ Angela perguntou, beijando o seu rosto.

_ Sou sim._ Leandro respondeu sorrindo, beijando a sua testa.

_ Eu te amo, meu filho.

_ Eu também te amo, mãe.

Leandro se afastou dos braços da mãe, dizendo que ia ao closet para terminar de se vestir.

Angela decidiu ir ao banheiro para retocar a maquiagem. Repôs mais batom nos lábios.

Ao olhar no espelho, sentiu uma vontade estranha de abrir o armarinho.

_ Meu deus!_ exclamou assustada ao olhar a grande quantidade de remédios que Leandro consumia. A maioria era calmantes e medicamentos para dormir.

Socou a pia revoltada.

_ Esse maldito está acabando com o meu filho. Merda!

....

Leandro retornou á sala de braços dados com a mãe.

_ Até que enfim. Pensei que você tinha fugido.

_ Ainda não, pai._ Leandro respondeu olhando para Júlio. Estava satisfeito em ver que o marido não gostou da provocação.

_ Até que enfim digo eu. Que demora hein, pai. Nem eu, que sou mulher demoro tanto para me arrumar. Bom, acho que já podemos mandar servir o jantar. Estou varada de fome.

_ Ainda não._ respondeu Júlio._ Antes eu tenho que dizer algumas palavras.

_ Ah, sério isso?_ Vanessa perguntou com ironia._ Tipo, não dá para você discursar durante ou depois do jantar?

_ Leandro, eu sei que não fui o marido que você mereceu, mas...

_ Júlio, pelo amor de deus, vamos conversar sobre isso depois._ Leandro estava envergonhado. Detestava exposição da sua vida pessoal.

_ Não. Eu errei muito e quero consertar as coisas. Sei que fui um péssimo marido para um homem tão bom. Você sempre me deu o seu melhor e merecia receber o melhor.

Leandro ficou sério, irritado com a situação.

_ Mas eu reconheço o meu erro e vou fazer de tudo para reverter a situação. Eu te amo muito, meu amor. Quero pedir diante de todos que me perdoe.

Leandro sentia a raiva e a vergonha aumentarem na mesma proporção.

_ Eu te perdôo, Júlio. Agora vamos jantar? Todos estamos com fome e pelo cheiro o menu está ótimo._ disse para tentar sair daquela situação constrangedora.

_ Ainda não. Tenho uma surpresinha para você._ Júlio retirou uma venda do bolso do paletó e pôs nós olhos do marido, que estava trêmulo de tensão.

Tanto Leandro quanto os outros foram conduzidos ao estacionamento. Quando a venda foi retirada, Leandro pode ver o carro luxuoso preto com um grande laço vermelho no teto do carro.

Todos murmuravam e aplaudiam.

_ Ca-ra-lhooooo! Exclamou, Vanessa com as duas mãos na boca.

_ Vanessa! Não diga palavrões._ Leandro advertiu.

_ Pai, você ganha uma máquina dessas e fica preocupado com o meu palavrão?! Genteeee! Eu também quero.

_ Até o momento você não está merecendo._ Júlio respondeu, fazendo Vanessa revirar os olhos para cima.

_ Genteeee! Tô chocada! Júlio, será que não tem uma cópia sua por aí para ser o meu marido?_ Rubens perguntou com os olhos vibrados no carro._ Isso não é um carro! É um espetáculo.

Lorena arqueou a sobrancelha, sorrindo maliciosa com a ideia que teve. Retirou o iPhone da bolsa e disse:

_ Esse momento lindo pede uma fotinho do casal apaixonado.

Todos concordaram. Exceto Leandro, mas preferiu ocultar o descontentamento.

O casal parou diante do carro e Júlio o abraçou sorrindo.

_ Assim não. Com um beijo fica melhor.

_ É melhor não._ Leandro respondeu.

_ Ah, é melhor sim, pai. Vai ficar mais bonito. Beija! Beija!

Todos gritavam "beija" junto com a menina.

Envergonhado, Leandro aceitou, para a felicidade de Júlio.

O advogado, envolveu uma das mãos na sua cintura e a outra na face, e o beijou. Leandro o abraçou, enquanto era beijado. Todos aplaudiram.

_ A foto ficou ótima.

_ Deixa eu ver._ Vanessa pediu._ Ficou ótima mesmo, gente.

Enquanto todos se preparavam para subir, Lorena enviou a foto para Abner com a seguinte mensagem:

"olha como o Leandrinho ficou apaixonadinho pelo marido depois de ganhar um carro de presente."

Ao olhar a mensagem, Abner sentiu um ódio tão grande que socou a parede, machucando a mão.

_ Porraaaaa!

_ Trocou de celular, Amapô?_ Rubens perguntou, olhando desconfiado para Lorena.

_ Sim. Gostou?

_ Adorei. Estou seriamente pensando em pedir demissão do meu emprego de advogado, para tentar um de secretária. Afinal o salário deve ser muito bom para você comprar um iPhone 13 pro max.

Lorena não gostou do tom irônico de Rubens e muito menos do seu olhar desconfiado.

_ Eu dividi em muitas parcelas. Afinal, eu mereço um pouco de auto mimo não é, Rubens?

_ Claro que merece. Só cuidado para não perder o aparelho na lancha do velho._ Rubens disse se retirando. Lorena o fitava com os seus belos olhos verdes raivosos.

Leandro não conseguiu tocar na comida. Estava tão tenso que sentia um nó na garganta. Disfarçava cortando os pedaços das carnes diversas vezes e fingia prestar atenção quando alguém lhe dizia algo.

Na hora da despedida, Rubens apertou a sua mão.

_ Você não está usando aliança, querido?_ perguntou sem nenhuma descrição.

_ Menino, sabe que eu perdi durante a viagem? Foi uma lástima! Fiquei tão chateado._ Leandro disse olhando para o dedo vazio.

_ Ah, não se preocupe. Essas coisas acontecem. Com o marido rico e bondoso como o seu, logo logo estará com outra no dedo. E até com mais quilates.

....

Leandro saia do banho, vestindo um roupão branco quando Júlio entrou em seu quarto. Os seus cabelos estavam molhados cheirando a shampoo e a fragrância do sabonete dominava o local.

_ Querido, eu tava com tanta saudade! Os últimos dias foram horríveis sem você.

Júlio se aproximou, o olhando com carinho, acariciava o seu rosto.

_ Você é tão lindo! Tão perfeito! Como pude ser tão rude com você? Me perdoe?

As carícias no rosto, evoluíram para o toque nos cabelos, enquanto o abraçava, sentindo o cheiro do seu pescoço. Leandro não correspondia ao abraço.

_ Eu sei que você está chateado comigo. E tem toda razão de estar. Eu realmente errei de ter te falado aquelas coisas. Mas, eu estava tão assustado. Você está frio, Leandro. Há um mês não temos relações, você se afastou de mim, até dormir em quarto separado você dorme e do nada você me fala que vai viajar com a Valéria! Eu tive medo de te perder. Medo de que houvesse outro querendo te roubar de mim.

Leandro permanecia em silêncio, fitando os olhos tristes do marido. As lágrimas desceram.

_ Eu te amo! Quero ser o marido que você merece. Me dê uma chance? Eu sei que você me ama, o que temos é uma conexão muito forte! Você é a minha alma gêmea.

_ Que tipo de ateu é você, que acredita em alma gêmea, Júlio? Você precisa melhorar nas suas mentiras. Me admiro você dar esse vacilo, logo você que é um bom advogado. Domina a habilidade da manipulação, mas parece que está perdendo a mão.

Leandro se afastou, voltou ao banheiro e passou creme hidratante nas mãos.

Júlio se aproximou, o abraçando por trás, encostando o queixo em seu ombro.

_ Você não gostou do carro? Se quiser, posso te dar outro modelo._ Júlio beijava os ombros do marido._ Eu amo quando você usa esse sabonete. Me deixa louco. Sabia? Eu tava pensando em darmos um tempo para nós dois. Já pedi a Lorena para entrar em contato com a agência de viagens e comprar as passagens para Londres. Podemos ficar naquele hotel que você tanto ama. O clima lá está perfeito e você adora o inverno. Vai ser bom para nós. Ficarmos longe de tudo e todos, como fazíamos no começo do nosso casamento... só que naquela época fazíamos mochilão. Dois pobretões explorando a América Latina, passando perrengues chiques. Eramos tão felizes. Você lembra?

_ Eu sei do Abner._ disse Leandro, olhando para Júlio através do espelho.

Júlio interrompeu os beijos e o olhou sério.

_ Eu sei que você contratou atores para fingir ser o seu cliente e a sua esposa. Você armou todo um teatro só para ter o prazer de me fazer de bobo. Deve ter se divertido em me ver constrangido, acreditando que fui ridículo por gritar com ele ao telefone.

_ Leandro, meu amor, eu...

_ Não minta pra mim, Júlio. Acabou. Eu descobri tudo.

Apesar da seriedade inexpressiva, internamente Júlio sentia o coração bater acelerado. Estava apavorado, com medo de perder o homem que ama.

_ E não adianta negar nada. A farsa acabou. Eu sei que vocês estão juntos há mais de um ano. Seja homem pelo menos uma vez na vida e fale a verdade.

O olhar de Leandro o amedrontava.

Júlio abaixou a cabeça, em silêncio.

_ Quem diria? O advogado Júlio Medeiros ficou sem argumentos! Você não é nada sem as suas mentiras, não é?

Leandro se afastou, indo para o quarto. Sentou na cama, abraçando as pernas.

Júlio ergueu a cabeça e respirou fundo. Sabia que havia chegado no fim da linha.

Foi para o quarto e sentou ao lado do marido. Não conseguiu conter as lágrimas.

_ Eu sinto muito...sinto muito._ Abraçou Leandro desabando em choro.

_ Por favor, me solte._ Leandro pediu sem olhar para ele.

O pedido foi atendido. Júlio chorava descontrolado.

_ Desde quando vocês dois estão juntos?

_ Nós não estamos mais juntos. Eu terminei tudo no natal. Depois daquela ligação, eu percebi o quanto o meu erro estava prejudicando o nosso casamento e estive com ele na manhã do dia vinte e cinco. Acabei com tudo. Leandro, isso tudo foi um erro. Um erro horrível da minha parte. Mas, já acabou. Eu nunca mais vou fazer isso e nem ver o Abner. Eu juro.

_ É uma pena. Por tudo que vocês viveram, provavelmente ele seria um ótimo substituto.

_ Ninguém vai te substituir. É a você que eu amo e sempre vou amar. Eu errei...confesso que errei. Não deveria ter te magoado desta forma. Mas, nós não estávamos bem. Muitas brigas e eu me senti perdido. Acabei fazendo merda. Não tava fácil pra mim!

_ E para mim tava fácil?_ Leandro gritou._ Tava fácil pra mim, Júlio?! Você acha que foi fácil saber que o homem que eu amava estava no motel com outro? Que sonhava com o outro e falava o seu nome enquanto dormia? Eu passei noites em claro te esperando e você estava la, na orgia com aquele desgraçado!

"Você me humilhou de um jeito tão cruel! O seu amante ligava para a nossa casa! Se duvidar até esteve aqui e vocês foderam na nossa cama!"

_ Isso não! Isso nunca aconteceu. Eu não sou o monstro que você acha que sou. O que aconteceu foi um erro. Mas, é passado, meu amor. Eu te amo muito. E você também me ama.

_ Você me ama? Você me ama, Júlio? Me ama como você ama o Abner?

_ Eu nunca amei nenhum outro homem. Como eu disse foi um erro, eu fui cabeça fraca, mas amor de verdade, só por você. Você é único.

Dessa vez foram as lágrimas de Leandro que caíam.

_ Como ele é?

_ Leandro, não precisamos falar nele. Já acabou! Faz meses que não o vejo.

_ Como ele é?_ Leandro gritou. Sentia-se no direito de ser respondido.

_ Leandro...

_ Ele é bonito? Nossa! Como eu sou burro de fazer essa pergunta! É lógico que ele é bonito...bem mais bonito e jovem do que eu.

_ Ele não chega aos seus pés. É só um cara qualquer.

_ Não. Ele não é um cara qualquer. Ele é o seu amante! O cara que você facilitou para que me machucasse. Você tem noção do quanto eu me senti humilhado quando ele te ligou naquele churrasco? As nossas famílias e amigos estavam lá! Todo mundo me viu naquela situação ridícula._ Leandro abaixou a cabeça para chorar.

_ Meu amor, ele foi só um corpo. O que temos é precioso. Você é o pai da minha filha! É o homem da minha vida! Foi só uma aventura.

_ Aventura! O meu sofrimento é uma aventura para vocês dois? É isso?

_ Leandro, se acalme! Eu não disse isso.

_ Traição dói, Júlio! O coração fica dilacerado quando alguém que amamos nos machuca! Eu te amava tanto, Júlio! Eu era capaz de te dar a minha vida! Eu me doei pra você! E como você me pagou? Me humilhando, me traindo com uma pessoa qualquereu... não.... não tenho palavras para descrever a dor que estou sentindo, Júlio! Dói demais!

_ Meu amor..._ Júlio disse chorando, tocando em seu rosto.

Num rompante, Leandro se afasta.

_ Não me toque! Eu só consigo sentir nojo de você! Nojo do seu maldito amante! Eu sinto raiva! Que ódio! Ele debocha da minha cara e o pior é que eu nem faço ideia de quem seja! Ele pode ser qualquer um! Pode até já ter cruzado comigo e eu o cumprimentado feito um imbecil, sem saber que o desgraçado é o amante do meu marido!

_ Não houve essa possibilidade. Eu nunca deixei que o Abner se aproximasse de você.

_ Não diga esse maldito nome! Eu odeio tanto esse nome, quanto o dono dele! Você vai contar para a Vanessa.

_ Meu amor, não precisa envolver a menina nisso. É o nosso problema. Ela é só uma criança.

_ Você vai contar para a Vanessa sim. Ela vai saber ou por você, ou por mim. Eu não vou sair deste casamento como vilão. Ela vai ter que saber o porquê eu vou embora.

Júlio arregalou os olhos.

_ Você não vai a lugar nenhum! Não vai ter divórcio.

_ Essa decisão não é sua e ela já tá tomada.

_ Eu não posso viver sem você, meu amor! Me perdoa, por favor? Eu faço o que você quiser. Mas, por favor, me perdoe? Eu não vou desistir de você. Nunca.

_ por quê?

Júlio permaneceu em silêncio.

_ Por quê?! Por que? Por que, caralho? Eu quero saber o porquê. Eu tenho esse direito!

Você é muito cruel! Eu te odeio tanto. Saia daqui! Saia!

Júlio achou mais prudente se retirar. Tinha a intenção de conversar depois que o marido se acalmasse.

...

Angela chegou no shopping antes que Abner e Leandro. Usou óculos escuros e uma peruca ruiva para não ser reconhecida. Sentou em uma das mesas da cafeteria e pediu um capuccino de chocolate, aguardando a chegada de um dos dois.

Disfarçadamente, olhava em volta. Em meio a tantos rostos masculinos, se perguntava qual deles era o tal Dimitri que conquistou o coração do seu filho e que poderia vir a ser a sua perdição.

Ao ver Leandro, entrar no local, abaixou a cabeça fingindo estar distraída com o celular. Para facilitar o seu trabalho de espionagem, Leandro se sentou numa das mesas afastadas, ao lado de um rapaz moreno, que levantou para abraça-lo.

_ Como é bom te ver, Dimitri!_ ao olhar a mão enfaixada do amante, Leandro perguntou preocupado_ O que aconteceu?

_ Isso aqui? Não foi nada demais. Eu quis bancar o pedreiro, ajudando o meu padrasto e acabei me machucando.

_ Deve ter doido muito.

_ Doer doeu. Mas já estou muito melhor.

Abner o olhou sério percebendo a tristeza no rosto do amante.

_ O que aconteceu, meu anjo? Está triste?

Leandro quis negar, mas não conseguiu falar. Apenas enxugou as lágrimas que se formavam nos seus olhos.

_ Leandro, aquele desgraçado do seu marido te magoou? Se ele te fez mal, eu juro que...

_ É melhor não falarmos sobre isso.

_ Não! Vamos falar sim. Você não pode ficar triste desse jeito.

Leandro sentou e Abner fez o mesmo.

_ Vamos conversar depois de fazer o pedido?

_ Claro, meu anjo.

Leandro fez um sinal para que a garçonete se aproximasse. Pediu um dubble tea e Abner um capuccino. Os pedidos não demoraram muito a chegar.

_ Agora me diga o que tanto te aflige, meu anjo._ Abner falou pondo as mãos sobre as de Leandro.

_ O que tanto me aflige tem um nome, mas não tem um rosto.

_ Como assim?!

_ Eu nunca o vi, mas sei que se chama Abner. Ele é o amante do meu marido.

Abner permaneceu sério, tentando ocultar o nervosismo.

_ Você não tem noção o quanto a existência desse cara me machuca._ Leandro não conseguiu conter as lágrimas, o que deixou Abner de coração partido._ Eu me sinto tão perdido sabe. Como se eu não pudesse me proteger do meu inimigo porque não o vejo. Não sei como é o seu rosto. Ele pode estar em qualquer lugar, pronto para me atacar e me destruir e eu não tenho como me defender.

_ Ei, ei! Ninguém vai te atacar. Eu não vou permitir.

_ Você não o conhece tanto quanto eu. Também não pode fazer nada. Mas eu tenho certeza que ele sabe quem eu sou, onde moro e se duvidar deve até conhecer a minha filha!

"Dimitri, me dói muito sabe. Eu me sinto muito humilhado. Ferido. Como se eu fosse um monte de lixo que um cara qualquer debocha de mim e fica por isso mesmo. Ele já ligou para a minha casa duas vezes!"_ Leandro exclamou fazendo sinal de dois.

Abner sentia raiva de si mesmo por ser o responsável pelo sofrimento do amado. Levantou-se e sentou ao seu lado, o abraçando, enquanto Leandro chorava.

Ver o filho em prantos deixou Angela muito preocupada. Quis levantar, ir até a mesa para saber o que estava acontecendo. Mas achou melhor se controlar e manter o disfarce.

_ Leandro, ponha uma coisa nessa cabecinha linda, você não é pior que ninguém. Muito menos que esse talzinho de Abner. Seu coração é precioso demais para qualquer palhaço o quebrar. Esqueça tudo isso e foque em você. Foque na sua vida. Você é tão inteligente, talentoso, gentil e nem preciso dizer o quanto é lindo, que o seu espelho diz isso todos os dias. Você tem competência para conseguir tudo o que quiser. Pode se libertar de toda essa merda que te faz mal. Oh, meu anjo, você merece ser amado. Eu tenho esse amor para te dar.

_ Obrigado, Dimitri. Me desculpe por estar tocando neste assunto justo contigo._ Leandro disse enxugando as lágrimas.

_ Realmente te ver chorando por causa da traição do seu marido não é nada agradável para mim.

"Em vez de você ficar pensando nele

Em vez de você viver chorando por ele

Pense em mim, chore por mim

Liga pra mim, não, não liga pra ele…"

Leandro gargalhou.

_ Estou me sentindo num musical da Disney. Só não vale levantar e começar a dançar no meio da cafeteria.

_ Se for para arrancar um sorriso nesse rostinho lindo, eu danço mesmo.

_ Não! Não! Já estou sorrindo, ó.

Abner se inclinou para beija-lo, mas Leandro se afastou.

_ Não! Esqueceu que estamos num país extremamente homofóbico? Podemos ser agredidos por isso.

_ Que se fodam os homofóbicos! Vamos a um lugar reservado. Quero muito te foder todinho.

_ Eu sinto muito. Estou muito triste. Não tenho cabeça pra isso.

Abner acariciou os seus cabelos.

_ Tudo bem. Se não quiser transar, eu entendo.

_ Sério? Que bom! Obrigado pela compreensão.

_ Vamos ao meu apartamento? Eu quero tirar o dia para cuidar de você. Eu posso te emprestar uma roupa confortável, cozinhar pra você, te mimar e ficarmos agarradinho vendo um filme da sua preferência.

Leandro se sentiu tão bem recebendo essa proposta. Precisava tanto de um colo.

_ A sua família não vai se incomodar em me ver?

_ Um dia, eles vão te conhecer. Mas não será hoje. Eu moro sozinho.

_ É mesmo? Então, me leve para conhecer o seu lar.

_ Será um prazer._ Abner disse sorrindo, beijando a mão de Leandro.

_ Só não repare a bagunça._ Abner disse abrindo a porta do apartamento.

Leandro entrou e reparou que o apartamento estava muito bem arrumado e cheirando a limpeza. Concluiu que a frase de Abner deve ter sido dita por força do hábito.

_ Bonitinho e aconchegante também.

Abner o abraçou por trás e o beijou.

_ Quero que fique á vontade. A casa é sua.

_ Obrigado.

O moreno gostou da boa sensação que sentiu ao imaginar Leandro morando naquele apartamento com ele. Seria maravilhoso encontrar Leandro todos os dias quando chegasse do trabalho, jantarem juntos, dormirem abraçados todas as noites e foderem onde é que sentissem vontade.

Abner apresentou a Leandro cada cômodo do apartamento.

_ Eu gostei mesmo. Tem um ar mais jovial.

_ Só faltou os seus livros, as suas esculturas, vinis, desenhos e as suas roupas no meu guarda-roupa.

Leandro sorriu.

_ Seria um sonho.

_ Que um dia, vamos realizar._ Abner o puxou pelo braço e o beijou. Encerrou o beijo de língua com vários selinhos._ Ah, ainda não podemos esquecer do nosso cachorro e da nossa gatinha.

_ O Enzo e a Lorena.

_ Exato.

Leandro não resistiu a piscada de olho de Abner e o beijou.

Tomaram banho juntos e Leandro escolheu um pijama de blusa cinza e short azul xadrez. Abner ficou só de cueca cinza boxer.

Para o almoço, Abner serviu filé mignon feito com vinho e pimenta rosa por cima do purê de maçã. Os alimentos se localizavam no meio do prato com pouco de molho respingado ao lado para decorar o prato e uma erva verde por cima.

_ Nossa! Que capricho! Me sinto num restaurante da alta gastronomia.

_ Pode se acostumando. Quando nos casarmos vou fazer o possível para te fazer sentir num restaurante todos os dias.

_ Casarmos?

_ Sim. Um dia, eu vou me casar com você.

_ É um pedido ou um ultimato?_ Leandro perguntou sorrindo.

_ É uma profecia._ Abner respondeu, o beijando.

Leandro provou um pouco pouco da carne com o purê. Fechou os olhos, gemendo, satisfeito com o paladar delicioso que presenteava a sua língua.

_ Huuum! Muito bom! Perfeito! Dimitri, eu gostaria de saber mais sobre você. Eu sei tão pouco.

_ Bom, eu sou flamenguista, trabalho num restaurante, mas ainda terei o meu próprio, não sou um leitor voraz como você e muito menos tão culto, mas prometo fazer um esforço para ser digno do seu amor.

_ Não seja bobo. Eu não me importo com isso. E a sua família?

_ Eu não sou rico. A minha mãe é empregada doméstica e o meu padrasto já fez de tudo na vida. Tenho uma irmã que é uma pessoa maravilhosa.

_ Eles te aceitam sendo bissexual?

_ Tem que aceitar. O mundo está mudando.

_ É verdade.

Para a sobremesa, Abner não havia preparado nada especial. Serviu duas bolas de sorvete de flocos com calda de chocolate.

Leandro fez questão de ajudá-lo a lavar a louça. Gostou da sensação de se sentir útil.

Passou a tarde nos braços de Abner, maratonando os episódios de uma série. Era tão bom ficar ali! Abner não sabia, mas o fazia se sentir seguro, o fez esquecer das aflições que tinha quando chegou na casa.

Ao anoitecer, recebeu uma ligação de Vanessa perguntando onde estava. Mentiu que estava na casa de Valéria.

_ Vai demorar aí? O meu pai tá preocupado. Ele disse que você não quer atender o celular.

_ Eu não vou demorar. Estou indo.

_ Tá bom então. Beijos.

_ Beijos, meu amor.

Assim que Leandro encerrou a ligação, Abner o abraçou e entrelaçou as pernas entre as dele.

_ Você não vai embora.

_ Ah, meu amor, eu tenho que ir.

_ Não tem não. Fique comigo. Foi tão bom passar o dia contigo. Agora que você está mais calminho, podíamos até fazer aquele amorzinho gostoso._ Abner propôs beijando o seu pescoço. Leandro se arrepiava, sentindo o membro duro._ Tô louco para comer o seu cuzinho.

Leandro gemeu, sentindo a orelha ser mordida levemente.

_ Não vai dar, amorzinho. Eu preciso ir. Já fiquei tempo demais fora de casa.

_ Isso não é justo. Ter um príncipe lindo e delicinha na minha cama e não poder foder com ele. Isso é muita maldade do senhorito.

_ Olha o drama do meu bebê._ Leandro o beijou._ Prometo que dá próxima vez, vou sentar muito nessa piroca gostosa.

_ Huuum! Que delícia! Vou cobrar.

_ Pode cobrar com juros e correção monetária.

_ Eu te amo tanto, homem! Te amo demais!

_ Eu também te amo, Dimitri.

Ao se declarar, Leandro envolveu os braços no pescoço de Abner e o beijou.

Abner se despediu com calorosos beijos. Tinha uma vontade imensa de o impedir de ir embora. Permaneceu na portaria do prédio, observando a ir embora no carro. Estava tão apaixonado que suspirava. Não via nada além de Leandro, o que o impediu de perceber que Angela o observava do outro lado da rua dentro do carro.

No dia seguinte, Abner acordou disposto para fazer a sua corrida matinal. Vestia roupas esportivas e levava uma garrafa com água na mão. Estava nas nuvens de felicidade.

Antes de levantar da cama, trocou mensagens carinhosas com Leandro, o que fez melhorar muito o seu dia.

_ Dimitri.

Olhou para trás para ver de quem era a voz feminina que chamava pelo seu nome de guerra.

_ Pois não. _Sorriu ao ver Angela. Uma mulher mais velha, bonita e bem vestida, concluiu que fosse alguma cliente a procura dos seus serviços._ Em que posso ser útil, madame?_ perguntou sorrindo e beijando a mão de Angela.

_ Eu me chamo Angela. Muito prazer em conhece-lo.

_ Encantado. Você veio pelo site?

Angela não sabia o que responder e concordou com a cabeça.

_ Ah, claro. Então, eu costumo agendar os programas. A senhora tem que ligar para o número e falar com a minha secretária.

Angela ficou ainda mais espantada por saber que o amante do seu filho era um garoto de programa.

Estando cara a cara com Abner pode perceber que era jovem e muito bonito. Como falou em secretária, seria um prostituto de luxo, que na certa estava ganhando muito dinheiro do seu filho. Um golpista mau caráter, que seduziu um homem rico e carente para se aproveitar dele e arrancar muito dinheiro. A situação era pior do que ela pensava! Ela precisava fazer algo! Não poderia deixar o filho sofrer nas mãos de um aproveitador.

_ Tudo bem. Eu imagino mesmo que você seja um homem muito ocupado. Mas eu só queria dar uma palavrinha. Podemos tomar um café? Eu pago tanto o café quanto o tempo da nossa conversa.

_ Tudo bem.

_ Perfeito._ Angela disse sorrindo.

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Comentários

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Quente demais! Fantástico.

Nossa, maravilhoso! Me deixou acesa.

Dedicado a você mulher, que busca descobrir e apresentar ao seu homem, ao seu amor,

um novo mundo de prazer, delírio, paixão e luxúria!

Entre no site: https://bit.ly/2Zijetx_livro_vermelho

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Lá vai a Ângela fazer merda e se meter onde não deve, pqp...

Isso mesmo Leandro, continue firme no seu propósito de se libertar e viver a vida!

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