Nota da autora: Oie gente! Depois de muito tempo parada vi uma homenagem ao universo da Melissa que me emocionou tanto que me fez sair da zona de conforto e continuar a escrever essa estória. Recomecei meio lentinha mas vou esquentando aos poucos. Agradeço a todas as meninas que me acompanham principalmente e em especial a Suellen Fielding e Veronica Keylane. Um leitorzinho especial que sempre me acompanhou até aqui é o Arthurzinho que sempre comentou cada capítulo da “História da Melissa”.
Capítulo 26
Era um domingo ensolarado, mamãe pediu pra todos os filhotes estivesse presentes no almoço de domingo. Não tinham nenhum motivo especial era só uma coisa que ela gostava de fazer de tempos em tempos pois sentia falta da gente. Uma mesa enorme quadrada, que agregava toda a família, foi posta e decorada de forma simples, mas com muito bom gosto. Eu e da Marcela ocupávamos um dos lados da mesa, Ricardo e Letícia outro, Mammy e titia o terceiro lado e a novidade se encontravam no quarto lado da mesa, Renato com sua noiva assentadinhos bem juntinhos. De primeira eu não a reconheci, mas depois de um tempo me lembrei dela na inauguração do bar. Renato a conheceu lá e bem discreto a convidou pra sair pois morria de medo de que Ricardo passasse na frente. Ela se chamava Sabrina, linda, elegante, inteligente e órfã. Perdeu os pais em acidente de avião quando ela tinha pouco mais de 7 anos de idade e foi cuidada por uma legião de empregados já que antes do acidente eles já eram muito ricos e após o acidente ela ainda recebeu uma fortuna em indenização. Até os 18 anos Sabrina era conhecida como Jeffrey e era um rapaz bonito de olhos claros, pele claríssima e porte esguio. Foi tratado com muito mimos pelos empregados e sempre soube que era uma moça que nascera no corpo de um rapaz. Ao completar 18 anos pode se emancipar dos tutores, que diferentemente dos filmes souberam administrar muito bem o espólio da família deixando-a mais rica que já era quando perdera os pais. Nessa época Jeffrey contou com ajuda de Clio, sua dama de companhia e confidente, uma sábia senhorinha com seus cabelos grisalhos e sorriso encantador. Clio ajudou Jeffrey se transformar em Sabrina em todas as dimensões do ser humano, tanto do ponto de vista físico e estético, quanto psicológico e até mesmo legal. Sabrina foi auxiliada na sua transição pelos melhores médicos que o dinheiro pudesse pagar. Aos 19 anos fez uma viagem de seis para a Tailândia e voltou com sua transição completa. Uma das atividades profissionais de Sabrina, e a sua preferida era o planejamento e a implementação da sua Fundação.
A Fundação Arco-íris foi uma fundação criada como o objetivo de apoiar garotas trans a se estabelecerem na sociedade, apoiando as meninas tanto financeiramente, quanto psicologicamente e profissionalmente. A fundação fornecia alimentação, moradia e uma ajuda de custos para aquelas garotas que a família não aceitava a condição delas, ou seja, eram expulsas de casa depois que a família delas ficavam sabendo que elas eram garotas trans. Outra atividade importante era na área de saúde, neste caso não só as moradoras da fundação, mas para qualquer menina trans que precisasse. Haviam profissionais das mais diversas áreas como psicólogas, endocrinologistas, cirurgiões plásticos entre outros profissionais. A fundação fornecia toda a medicação que o elas precisavam inclusive medicação para hormonioterapia. Muitos dos profissionais eram mulheres trans que tiveram apoio da fundação no passado e hoje são médicas, advogadas, psicólogas e assistentes sociais e de uma forma voluntária ajudam a fundação. O Trabalho de Sabrina era tão incrível que eu poderia falar sobre ele por horas.
O assunto da fundação de Sabrina me levou para um labirinto mental, talvez por achar um trabalho de um cunho social muito bonito, mas também por questões pessoais. Uma dessas questões é que desde que o cirurgião da Marcela ter me tratado daquela forma estúpida eu coloquei o projeto de dar uma turbinada nos seios na geladeira e talvez minha cunhadinha pudesse me ajudar neste quesito. Outra coisa, está mais de foro íntimo, era um sentimento de um certo vazio que eu sentia. Minha maior vontade era de ser mãe e de ter uma alguém para dividir a minha vida, as minhas angustias e com certeza as minhas alegrias e conquistas. Em outras palavras eu me sentia só e queria ter alguém para dividir minha vida. Mesmo tendo o bar, fazendo faculdade e tendo todas minhas amigas e amigos eu queria um dia chegar em casa as 2 e meia da manhã depois de ficar em pé dando ordens no bar e ter uma pessoa me esperando mesmo que fosse para fazer uma massagem nos meus pés e conversar sobre como foi seu dia. Sobre a vontade de ser mãe era algo impossível pois nenhum juiz daria a guarda de uma criança para uma mulher trans. E sobre ter uma companhia eu andava pensando mais sobre isso, sabia que a maioria dos homens se aproximava de mim com interesses puramente sexuais. Poderia ser uma mulher talvez, mas eu sentia nenhuma atração por uma xana, tinha até um certo nojinho. O jeito seria esperar um pouco para que o universo conspirasse ao meu favor, ele sempre conspirava. Todas essas angustias de ter uma companhia, de ser mãe, de ter uma ocupação e de ter seios eram coisas que talvez aquela fundação de Sabrina poderia me ajudar.
Fui despertada da minha viagem interna pela minha mãe me perguntando sobre a faculdade e a conversa fluiu para várias áreas. Só uma coisa me deixou encucada, aqueles devaneios me mostraram que mesmo sendo uma pessoa que adorava fazer sexo casual e tinha uma certa independência eu estava só e precisava de alguém para dividir minha vida.
