Relatos de um Escravo - Parte 14

Um conto erótico de Bruno Silva
Categoria: Homossexual
Contém 2476 palavras
Data: 28/06/2021 23:16:30
Última revisão: 28/06/2021 23:39:25

Cap. 18 – No fim é apenas solidão, nada além disso

Jorge não havia gostado que Jonas havia gozado, mas parecia cansado de mais para discutir isso naquele momento. A noite havia sido cansativa também, pensou Jonas. Cansado ele deitou na cama e acabou adormecendo. Jorge logo estava ao seu lado, parecia cansado também. O sono pesado veio sem demora e Jonas nem percebeu os roncos audíveis de Jorge ou o jeito bruto que o mesmo o abraçou durante a tarde.

Quando Jonas acordou estava escuro, Jorge aparentemente estava tomando banho. Era possível escutar o barulho do chuveiro e ver a luz clara na fresta da porta. Sentindo-se cansado e com dor Jonas esfregou os olhos. Naquele momento deu falta do celular. Não mexia nele desde a noite anterior. Pegou e viu se havia alguma mensagem. Como de costume não havia nada, nem mesmo de Adriano.

Os últimos dias de sexo pesado cobravam seu preço. Sentia todo o seu corpo doendo. Na região da bunda sentia ardência próximo ao ânus, era como se estivesse ferido. A forma bruta que as nádegas eram afastadas para enfiar o pau nele provavelmente deixou lesões. O corpo estava cheio de hematomas escuros devidos as cintadas e os tapas. Estava com medo de olhar no espelho. E agora, sem tesão algum, um forte remorso batia nele: sentir dor e puramente dor era algo vergonhoso e lhe deixava com uma espécie de ressaca moral. Estava com zero tesão naquela hora.

Havia gozado sem tocar o pau, não era algo comum para ele. Mas naquele momento tudo parecia vergonhoso e vexatório. Com Adriano não sentia isso. Nem mesmo com tharick. Mas com Jorge sentia vergonha dele mesmo, sentia-se mal por estar ali. Se sentia um lixo.

Jorge saiu do banheiro com a tolha enrolada. Parecia um tanto apressado.

- Dormiu de mais puta – disse ele. – Agora vou ter que sair, tenho que resolver umas paradas agora e preciso que vá embora.

Meio tonto Jonas se levantou. Saiu do quarto e foi até o sofá, onde estava sua roupa.

- Vamos agora? – perguntou Jonas.

- Vamos? – perguntou Jorge enquanto abotoava uma camisa. – Você vai sozinho. Deve lembrar o caminho. So passar pelas ruas movimentadas que ninguém mexe com você.

- Mas eu não lembro caminho – disse jonas sentindo medo tomar conta dele. Não fazia a menor idéia de onde estava. E o bairro em questão era perigoso. Tanto Adriano quanto o próprio Jorge havia dito isso.

- Se vira. E saia logo da minha casa, estou com pressa! – disse Jorge se levantando e indo na direção de Jonas. E isso fez Jonas recuar.

Com muito custo Jonas chegou ao metrô. Jorge morava em um lugar perigoso, onde as ruas em sua maioria eram desertas e escutas, bem próximas a linha do trem. Mesmo que Jonas estivesse com os documentos e no máximo o celular, que não era um top de linha, estava com medo de ser assaltado. Estava suando frio, sentia dor na região do anus e sua respiração estava ofegante.

Quando estava chegando próximo ao metrô pode perceber três homens lhe seguindo. Com medo e bem próxima a estação apertou o passo, sentindo a região do anus arder ainda mais. Os homens começaram a lhe seguir mais rápido e foi possível ouvir seus passos. Estava a menos de cem metro da passarela para o metrô, faltava pouco.

Jonas estava no chão tentando se levantar. Foi tudo muito rápido, eles se aproximaram, Jonas tentou reagir ao assalto – uma decisão não muito inteligente – e acabou levando uma coronhada na nuca. Por um breve instante ficou desacordado, não antes de sentir chutes na região das costelas e nas pernas. Sua carteira e seu celular foram levados.

Ao chegar no metrô, ainda zonzo uma das funcionários correu até ele. Sem entender Jonas disse que foi assaltado. Ela se dirigiu com ele até o banheiro e perguntou se ele queria que chamasse a policia. Ele disse que não e perguntou a ela se poderia pagar sua passagem para ele voltar para casa, pois havia perdido tudo. Com um olhar de pena a moça foi até a roleta, conversou com um homem que estava sentado e ele fez que sim com a cabeça, liberando a passagem para Jonas.

Jonas não sabe a hora que chegou em casa. Por sorte a chave estava no bolso da calça. Ele subiu os degraus da escada, abriu a porta e foi para o banheiro. Com lágrimas nos olhos ele abriu o chuveiro no quente sentou debaixo da água. Estava com frio, o corpo estava todo marcado. A dor não importava tanto. Enquanto a água quente caia ele sentia as lagrimas nos olhos. Chorou em silêncio, sem qualquer barulho, sem saber por quanto tempo.

Quando acordou no dia estava quase na hora do almoço, não sabia por quanto tempo havia dormido. Sendo como fosse era segunda feira e deveria estar no trabalho. Estava sem celular, sem documentos e ainda sentia muita dor. A região do ânus e toda a região entre as nádegas ardia muito. Estava enjoado e sentia muito frio, provavelmente estava com febre. Tomou um antitérmico e tentou dormir novamente, sendo como fosse resolveria o que tivesse de resolver depois.

No dia seguinte estava se sentindo enjoado. Havia vomitado na noite anterior e qualquer movimento que fazia sentia dor. Não estava conseguindo deitar de barriga para cima ou sentar-se sem sentir dor. Ao olhar no espelho do banheiro pode ver que a bunda estava vermelha e um tanto irritada.

Ao se olhar no espelho pode ver olheiras fundas e um olhar quebrado e cansado. Infelizmente teria de ir ao médico.

Foi ao pronto de socorro que havia ido uma vez. Como tinha convênio pode ir um hospital onde sabia que tinha a especialidade proctologia e não teve de esperar muito. Era um fim de dia. Estava frio, ou talvez era a febre. Tudo estava tão quieto e silencioso.

Sentado ali, sozinho, ele pensava nos últimos dias. Na vida que estava levando. Era isso mesmo que ele queria? Estava no hospital sozinho, sem um amigo, sem ninguém. Onde havia errado na vida? Por que aquela solidão toda? Por qual motivo havia fracassado na vida a ponto de não ter ninguém ali com ele?

Adriano... Era seu sonho encontrar um dominador, alguem para lhe preencher. E o que ganhou com isso? Adriano nem não deu noticias e nem se preocupou em saber como ele estava, na verdade Adriano havia prometido fazer algo com relação ao Jorge mas não fez... Adriano era uma completa decepção.

E havia gostado de ficar com Jorge? Jorge havia machucado seu corpo, havia exporto ele ao perigo, tratou ele como um pedaço de carne que ele usou e dispensou depois. Era essa vida que ele queria? Ser submisso? Até que ponto valia a pena?

Fica com Jorge lhe deu tesão, muito tesão, mas lhe trazia sentimentos ruins. Vergonha, arrependimento...

E agora, olhando aquele corredor vazio e silencioso tinha mais que certeza que estava só, ne com Jorge, nem com Adriano e nem com ninguém. Era ele e ele apenas. E tudo que pensou sobre Adriano não passou de ilusão e romantização. Sentia dor no cú, nas nádegas, uma ardência sem fim que lhe fazia ter vontade de chorar, mas a dor que sentia no peito era infinitamente maior. Seu coração estava apertado, o ar parecia fugir do seu pulmão.

No fim sou apenas eu e eu mesmo... pensou ele. Sempre fui sozinho, foi inocência achar que isso mudaria.

- Lucas Jonas...

O médico lhe chamou e ele entrou na sala.

O doutor era um velho gorducho e baixinho. Tinha um aspecto gentil e olhos bondosos. Primeiramente avaliou Jonas com o olhar, depois pediu que se sentasse.

- Em que posso ajudar?

Jonas contou o que ocorreu sem citar o BDSM ou qualquer coisa do gênero, minimizando tudo que ocorreu. O médico ouviu tudo atentamente e pediu que ele deitasse na cama.

Ficando de quatro para o medico ele avaliou toda a região anal de Jonas. Jonas sentiu muita dor quando ele tocou. Ardia muito. Sentia muita vergonha também, o médico provavelmente estava vendo as marcas de cinto e os chupões.

Jonas se vestiu novamente e sentou-se de frente para o médico.

- Ocorreram algumas lesões – disse o médico. – Muitas delas na região externa do ânus e algumas na região interna. Essa região é muito propensa a infecção devido a alta quantida de bactérias e foi isso que ocorreu. A ardência que esta sentindo está relacionada a infecção. Vamos tomar uma injeção hoje, vou passar três remédios, um para tomar de oito em oito horas, é um antibiótico. Vou te passar um remédio para tomar em caso de dor e uma pomada que vai passar do lado externo do ânus duas vezes ao dia. Você vai voltar aqui na semana que vem.

Jonas fez um sinal positivo e agradeceu.

- Certo – disse o medico desligando o monitor. Ele se afastou um pouco com a cadeira de rodinhas, entrelaçou os dedos e colocou sobre a mesa. – Acho que precisamos conversar um pouco sobre o que aconteceu.

- Não ocorreu qualquer tipo de violência sexual, tudo foi consensual – disse Jonas prontamente. Parecia um pouco exasperado na forma de falar. O médico ficou em silêncio e parecia esperar essa resposta.

- Não foi Lucas – disse chamando Jonas pelo seu primeiro nome. Isso soava muito estranho. – O esfíncter está lesionado e você provavelmente vai sentir dor durante um tempo para evacuar. O corpo não mente, as marcas, a forma com a qual as nádegas foram separadas, as lesões externas. Esse sexo foi forçado e te machucou.

- Mas isso não quer dizer que não tenha sido consensual... que eu não tenha sentido prazer... que eu... – disse Jonas com os olhos cheios de lágrimas. Ele respirou fundo mas as lágrimas caíram.

E sem entender porque ele desabou. Sem entender por que, sem conseguir segurar ele começou a chorar e de repente tudo que ocorreu nos últimos dias veio a sua mente. O momento exato que conheceu Adriano até aquele momento que se encontrava agora: chorando diante de um estranho.

O medico lhe deu um papel toalha bem delicado para ele enxugar as lágrimas.

- Isso tudo é bom para mim doutor, é tudo que eu quero! – disse quase gritando, sem saber por que, parecia louco, era vergonhoso. – Só assim eu me sinto preenchido, só assim eu me sinto bem!

- Se põem em risco a sua saúde não te faz bem – disse o médico. As palavra saíram em um tom de voz gentil, mas eram duras em sua essência. – Eu te desejo melhoras e te espero aqui novamente. Não deixe de vir.

Jonas estava em casa deitado na cama. Estava envergonhado pela forma que explodiu com o médico, estava envergonhado por ter sido assaltado, por ter aceitado o que Jorge fez com ele, por ter gostado daquilo, estava com raiva por Adriano não ter cumprido sua palavra. Estava cansado de ser tão sozinho.

O médico havia lhe dado uma semana de atestado. Foi cuidadoso e preocupado ao ponto de não colocar o CID no atestado para preservar a intimidade de Jonas. No dia seguinte Jonas fez um boletim de ocorrência, tirou novos documentos e foi até o trabalho entregar o atestado.

Naquela noite o irmão foi até sua casa. Eles conversaram muito. Eram apenas ele e o irmão dele e somente depois de três dias o irmão sentiu sua falta. Estava envergonhado com isso. No mesmo dia comprou um celular novo para Jonas e queria ir atrás de quem assaltou ele. Jonas disse que não se lembrava quem foi.

Foi então que ao recuperar seu chipe recebeu uma enxurrada de mensagens. Adriano,Tarick, Leo e até mesmo Jorge. No instante em que colocou o chipe o celular tocou, era Adriano. Jonas sentiu ódio de si mesmo ao sentir o coração bater mais rápido quando Adriano ligou.

- O QUE ACONTECEU? – perguntou ele preocupado.

- Oi...

- Oi! Você está bem? Eu estava preocupado – disse ele. E pelo tom de voz deu para perceber que era verdade.

- Estou sim – disse Jonas sentindo-se feliz com a reação de Adriano. E sentir-se feliz com ele automaticamente lhe fez sentir raiva de si mesmo.

- O que aconteceu?

- Estava voltando da casa do Jorge fui assaltado – disse Jonas. – Levaram meu dinheiro, celular, consegui outro celular hoje e estou totalmente sem dinheiro. Pedi um cartão novo mas leva dez dias úteis para chegar.

- Assaltado? Como assim? Machucaram você? – perguntou ele.

- Me deram uma coronhada, eu desmaiei na hora, mas estou bem.

- O maldito do Jorge me paga! – Adriano parecia enfurecido do outro lado da linha. – Era para ter cuidado de você. Esse foi o... – Adriana se calou de maneira abrupta, o típico ar de alguém que se cala quando percebe que falou de mais.

Jonas ficou em silêncio por alguns segundos. Então era isso, Adriano sabia. De alguma forma ele queria que o Jorge ficasse com ele. Como Jonas não pensou nisso? Como pode se deixar manipular a ponto de se quer cogitar isso?

- Jonas – chamou Adriano. – Precisamos conversar e resolver tudo. Eu vou dar um jeito em tudo.

A mente de Jonas vaga nas palavras “era para ele ter cuidado de você. Esse foi o... ACORDO”, a próxima palavra só poderia ser “acordo”. Aquele teatro todo sobre dominação, contrato, sobre se submisso e pertencer a ele. Era tudo encenação para deixar o amigo dominador ficar com ele. E ele acreditou em cada palavra de Adriano.

- Jonas... esse silêncio, não é o que você está pensando – disse Adriano. – Precisamos conversar, por favor. O que o Jorge fez não tem perdão. Eu vou dar um jeito nele hoje mesmo. Mas preciso te ver. Você vai entender tudo errado.

- ENTENDER O QUE ERRADO? – gritou Jonas. – Era tudo para isso, desde o começo, você me entregou para o seu amigo para ele poder me usar e me jogar para fora da casa dele depois!

- Não é isso Jonas, todos os Dominado...

- NÃO FINJA QUE VOCÊ NÃO SABIA QUE ELE FARIA O QUE ELE FEZ?

- Calma...

- EU ESTOU TODO MACHUCADO, SEM CONSEGUIR IR AO BANHEIRO, SEM CONSEGUIR ME SENTAR POR QUE ME CU ESTA ARROMBADO, TOMANDO REMEDIOS POR CAUSA DOS MACHUCADOS QUE ELE ME DEIXOU! – gritou Jonas chorando. – E VOCÊ ME MANDA TER CALMA?

- Não era para ter sido desse jeito...

- Deveria ter sido como Adriano, ele me dominando, pegando eu de você? Era esse o plano? Arrumar um submisso para o amigo estúpido e burro que não sabe nem conversar? Eu estava tão iludido que tive de ouvir de um médico que essa PORRA DESSA RELAÇÃO E NÃO TEM NADA DE CONSENSUAL!

- Jonas...

- Quer saber de coisa Adriano, VAI PRA PUTA QUE TE PARIU! – disse Jonas desligando o telefone.

Com raiva e ofegante jonas cobriu o rosto com as duas mãos. Estava com raiva, o coração agora ardia inflamado. Respirava fundo, sentia falta de ar. Desajeitado ele e sentado na berada da cama e começou a chorar. Em silêncio, no escuro e sozinho.

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Comentários

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É uma pena que não tenha um final. Espero que seja fictício e vc n tenha passado por isso, mas caso sim… sinto muito

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Own. Tadinho do Jonas. Teve nem um after care.

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Meu Deus.... agora eu quero saber oq acontece depois pq eu to sentindo muita empatia pelo Jonas

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Olá Bruno, tudo bem? Sinto muito por tudo o que você teve que passar... Espero que as coisas já estejam melhores pra você, é difícil mesurar por tudo que já passou ou sentiu nesse tempo. Pelo pouco que li, acho que Tarick é um amigo confiável, espero que ele tenha te apoiado.

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