Aqueles Olhos Azuis - Cap. 14

Um conto erótico de GuiiDuque
Categoria: Homossexual
Contém 3772 palavras
Data: 06/05/2021 02:34:36
Última revisão: 06/05/2021 16:58:21

~ continuando ~

#Sem Tempo para Dizer Adeus#

ㅤSetembro já estava aí, toda vez que eu passava pelo negão, ele dava uma boa olhada e piscava. Ele, definitivamente, estava querendo mais, mas ficar com mais e mais homens me fazia apenas me lembrar cada vez mais de Philip, comparando-os com ele, como beijavam, como me abraçavam, me tocavam, enfim, nenhum era igual a ele, por mais que existissem cópias do meu Davi de Michelangelo, nenhum teria a mesma perfeição...

ㅤNa metade do mês, tive outra crise enquanto estava na casa do Celo e do Bruno e assistíamos Ghost: Do Outro Lado da Vida. Eu, simplesmente, comecei a chorar e não parei mais. Ninguém acreditou quando eu disse que era por causa do filme e realmente não era. Ninguém mais assistiu o filme e ficaram todos me consolando e rogando pragas no Philip. Não adiantava nada, já havia se passado quase um ano que não estávamos mais juntos e, mesmo assim, a falta que ele me fazia só se fazia aumentar.

ㅤNaquele dia, quando cheguei em casa, meus avós estavam sentados na sala um de frente para o outro. Pareciam muito estranhos e suas expressões indicavam que alguma coisa muito séria havia acontecido.

- Vini? – Disse minha avó virando o rosto para me observar. Logo depois levantou-se e foi até mim, segurando minha mão e me levanto até o sofá onde sentei ao seu lado.

- O que aconteceu? – Perguntei a ela.

ㅤVi meu avô balançando a cabeça e então me virei para ele.

- Vini, seu pai... Seu pai foi encontrado morto, hoje, escritório dele.

ㅤEu, de repente, fiquei sério. Não havia entendido direito o que ele falara.

- Como? - Perguntei.

- Ele teve um enfarte fulminante e sequer deu tempo de o levarem para o hospital, já estava morto. – Disse meu avô.

ㅤEu não sabia o que dizer. Por mais que ele estivesse me expulsado da família, era meu pai. Por mais raiva que sentisse dele, ele continuava a ser meu pai. Talvez tenha sido por isso, pela raiva que eu sentia mais do que qualquer outro sentimento, que eu não derramei uma lágrima sequer. Eu fiquei apenas chocado. Parecia que meu pai era alguém próximo da família, como um tio do qual eu não falava muito. O que era verdade, pelo menos no último ano.

- Vini? Você está bem? – Perguntou meu avô preocupado com minha reação.

- Eu... Eu não sei o que dizer ou o que fazer. – Confessei.

- Nós compramos passagens para irmos a Porto Alegre hoje à noite. Amanhã será realizado o enterro e seria, realmente, muito bom se você estivesse lá com sua família!

- Que família? – Perguntei olhando em direção ao chão.

ㅤEles não responderam.

- Vini, seria bom...

- Eu sei, vou fazer a minha mala! – Respondi automaticamente enquanto me levantava e seguia em direção ao meu quarto.

ㅤLá fiquei parado em frente ao meu guarda-roupa. Sequer conseguia entender o que se passava em minha cabeça. Será que eu era normal por não ter chorado pela morte de meu pai? Ele havia me feito sofrer tanto, que eu só conseguia sentir pena pela sua morte. Pena por ele ter tido uma vida inteira apenas para o trabalho e não para sua família. Pela primeira vez me perguntei se ele era feliz. Não soube responder.

ㅤHoras mais tarde pousávamos no Aeroporto Salgado Filho.

(Fim da Parte 33)

-

#Confissões#

ㅤQuando chegamos em casa, já haviam alguns parentes e pessoas próximas da família. Entrei sem ao menos tocar a campainha ou bater na porta. Eu ainda tinha as chaves. Todos se viraram para saber quem era, ao me virem, ficaram muito surpresos, principalmente minha irmã que se levantou de onde estava e foi cochichar alguma coisa para seu noivo.

ㅤMinha mãe, ao me ver, veio quase que correndo em minha direção e quando chegou, me abraçou fortemente sem dizer nenhuma palavra. Depois, afastou-se e pôs as mãos em meu rosto.

- Meu filho, como você está? Tu não sabes a falta que sinto de ti! - Disse ela enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto.

- Como tu consegues ser tão falsa? – Perguntei sussurrando.

ㅤEla abaixou o rosto durante algum tempo e depois voltou a me encarar.

- Nós precisamos conversar, vamos até o seu quarto!

ㅤEla virou-se e seguiu para o segundo andar. Eu passei por meus parentes e mal os cumprimentei. Não estava com cabeça para me fazer de bom anfitrião, uma vez que aquela não era mais minha casa. Eu era apenas o filho que fora expulso de casa pelo próprio pai por ser homossexual.

ㅤAo entrar em meu quarto, pude ver que tudo estava da mesma forma que deixei na última vez, nada havia mudado, nem as gavetas que eu havia mudado. Provavelmente eles mal entravam ali, ou melhor, evitavam entrar ali.

ㅤMinha mãe estava sentada em minha cama e eu fui até lá, e me sentei ao seu lado. Ficamos quietos por algum tempo até que ela tomou iniciativa e perguntou:

- Como estão os estudos?

- Bem. – Respondi.

- Que bom! – Ela respirou fundo e soltou um longo suspiro. – Sinto-me a pior de todas as mãos por não ter defendido você aquele dia! Eu nunca fui contra sua opção sexual, muito pelo contrário, eu o criei para ser um homem de caráter, idôneo... – Ela respirou fundo e pude perceber que estava se segurando para não chorar. Quando fui começar a falar, ela fez sinal para eu não dizer nada e assim obedeci. – Eu, quando aceitei não ir atrás de você, foi porquê implorei ao seu pai que ele continuasse a pagar os teus estudos. Depois de muito pedir e chorar, ele aceitou, mas implorei para meus pais dizerem que eram eles que estavam pagando, seu pai pediu isso.

ㅤEu não acreditei no que ela estava falando. Eu estava muito surpreso e tinha certeza que havia muito mais coisas a serem ditas.

- Eu e seu pai nunca nos amamos, apenas nos respeitávamos e vivíamos de aparência para mostrar aos outros que éramos uma família normal, e infelizmente, quem acabou sofrendo com tudo isso foi você, enquanto sua irmã acreditava nestas mentiras mesmo sabendo que não eram verdades! – Ela pausou por alguns segundos e depois continuou. – Eu aguentei todos esses anos por causa de vocês, de ti e de sua irmã! Eu queria que vocês tivessem tudo do bom e do melhor. Estudo, viagens, tudo, tudo mesmo, mas quando o vi sair daquela porta, expulso pelo seu próprio pai, eu estava pronta a largar tudo, pedir a separação e viver minha vida. Não os culpo de nada, mas eu escolhi isso para mim, por isso aguentei até o final. Eu errei em também ter optado pelo luxo do que pelo meu próprio filho...

- Por que você está me dizendo tudo isso agora? – Perguntei chocado. Era a primeira vez em toda minha vida que tínhamos uma conversa tão verdadeira, ou pelo menos ela para comigo.

- O seu pai o amava mais do que tudo nessa vida, ele confessou que não suportou a ideia de lhe ver escolher uma vida que se não a que ele escolheu por ti. Ele não suportou ver você fazer aquilo que ele gostaria de ter feito com os pais dele, ter tido atitude para escolher o caminho a seguir e tomar suas próprias decisões sem pedir a ajuda de ninguém, dele, de mim. Ele não queria ver você sofrer, pois você vai sofrer com essa sociedade preconceituosa que existe lá fora e em qualquer lugar. Ele o aceitava como você era, como você é, mas acima de tudo, ele era pai e queria lhe proteger de tudo e de todos. – Então quando comecei a chorar, ela pôs uma de suas mãos em meus cabelos e os afastou para trás, aproximando-se de mim e me abraçando como jamais havia feito. – Diversas foram as vezes que o vi entrar por essa porta e chorar como uma criança, pedindo para que aquele menininho que um dia ele pegou no colo voltasse e o perdoasse pelo o que ele havia feito, pela vergonha que ele havia feito você passar. Com o passar do tempo, ele foi pagando todas as suas despesas sem você saber, fazendo seus avós jurarem que nunca contariam nada para você! Ele achava que, desse modo, poderia amenizar tudo o que havia feito para você como ele sempre fez, demonstrando o amor dele lhe dando tudo o que queria. Dinheiro! Ele nunca foi até você, pois tinha medo de ouvir um não ou de você bater a porta na cara dele. Ele foi covarde desde o primeiro momento... E eu mais ainda.

ㅤLogo me veio à cabeça o Philip e a dor que eu sentia por sua falta aumentou mais ainda, me fazendo cair naquele profundo abismo. Como eu o queria ali comigo, me abraçando, dizendo palavras doces de conforto e que sempre estaria ao meu lado, mas não, ele não estava comigo, estava em Londres, namorando uma mulher que nunca sentiria o que eu sinto por ele.

ㅤEu e minha mãe ficamos por um bom tempo conversando ali. Pela primeira vez pude contar a ela o que se passava em minha vida e o que eu sentia. Falei sobre o fim do namoro com o Philip e tudo o que aconteceu comigo. Falei de cada um dos meus amigos e evitei falar sobre algumas coisas que eram realmente desnecessárias. Mais tarde ela me deixou sozinho para que eu pudesse descansar e no outro dia ir ao velório, onde estariam presentes aquelas pessoas insuportáveis que se diziam amigas do meu pai, mas que, na verdade, não passavam de urubus.

(Fim da Parte 34)

-

#Para Sempre, Adeus#

ㅤEra mais ou menos 5hs30min da manhã quando me levantei. O silêncio tomava conta de toda aquela casa. Fiquei algum tempo observando o teto do meu quarto até que finalmente resolvi me levantar para ir beber ou comer alguma coisa. No corredor, passei em frente à porta entreaberta do quarto de minha mãe e pude ver que ela estava sentada na cama, tapada até a cintura enquanto lia algumas cartas.

- Mãe? – Disse batendo na porta e logo a abrindo para que eu pudesse entrar.

ㅤEla levantou a cabeça e fez sinal para que eu fosse até ela e me sentasse ao seu lado. Assim o fiz.

- Estas são as cartas do meu primeiro namorado, quem eu amei muito e sem medo, digo que ainda o amo. Quando me casei com seu pai, nunca mais nos vimos. – Disse ela me entregando uma carta onde havia escrito: “Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar.”

- William Shakespeare? – Perguntei em terminar de ler.

- Essa frase resume tudo. – Disse ela. – Eu tive medo de me arriscar e viver aquele amor!

- Por quê? – Perguntei curioso.

- Eu havia conhecido seu pai em uma das minhas vindas aqui para Porto Alegre enquanto morava em São Paulo com meus pais, senti-me atraída por ele e acabamos por passar uma noite juntos e ai engravidei de sua irmã. Senti-me na obrigação de casar com Henrique. Estava deslumbrada com tudo aquilo que seu pai podia me proporcionar, por mais que eu tenha vindo de uma família de classe alta, mas seu pai pertencia a uma realidade diferente da minha, a qual eu queria fazer parte. – Confessou.

- E por isso deixou este seu namorado de lado? – Revirei os olhos. – Por que a Vanessa está sempre atrapalhando tudo? – Perguntei rindo.

ㅤMinha mãe apenas balançou a cabeça negativamente enquanto colocava as cartas dentro de uma caixa com uma fechadura que ela guardava dentro de seu closet.

- O que você pretende fazer? – Perguntei.

- Seguir os teus passos, tentar agora ser mais feliz do que nunca! – Disse enquanto se aproximava e beijava meu rosto. – Lutar pelos meus sonhos.

- E não está se importando nem um pouco com o que os outros vão falar? – Perguntei surpreso.

ㅤMinha mãe apenas me olhou de canto e deu de ombros.

- Falem bem ou falem mal...

- Mas falem de mim! – Concluí.

- Vou tomar um banho, durma um pouco, o enterro será agora pela manhã! – Disse ela indo em direção ao banheiro.

ㅤEu, então, me ajeitei em sua cama e alguns minutos depois acabei por dormir novamente, acordando horas mais tarde com um café da manhã preparado por minha avó, trazido pela empregada enquanto minha vó entrava logo depois com meu terno e o colocava numa poltrona.

- Vini, tome seu café e depois vá para o banho. Não demore muito, sua mãe e sua irmã o aguardam lá embaixo. – Disse ela.

- Certo!

ㅤTomei o café rapidamente e logo depois fui tomar meu banho. Quando voltei, minha avó já havia saído. Coloquei o terno e fui em direção a janela ver como estava o céu lá fora. O dia cinzento e frio fazia com que toda aquela situação se tornasse mais triste ainda.

ㅤQuando estava me preparando para descer, ouço de longe o toque de meu celular e saio em direção ao meu quarto. Lá vejo no visor que era o Celo que me ligava. Contou-me que meus avós haviam lhe falado sobre o que havia ocorrido, disse que lamentava muito e que todos estavam lá torcendo por mim e que se eu precisasse, pegariam o primeiro avião e viriam para Porto Alegre. Agradeci imensamente por estarem comigo e acima de tudo por serem meus amigos, irmãos, e a família que eu escolhi.

ㅤQuando terminamos de falar, recebo outra ligação. Um número desconhecido. Atendi.

- Vini? – Disse Philip.

- Philip...

- Você está bem? – Perguntou ele.

- Não!

- Eu soube o que aconteceu! – Falou.

- Como? – Perguntei sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

- A Fê e a Flávia estão agora com o Celo e com o Bruno e, antes de ligaram para você, elas me ligaram contando.

- O que você quer? – Perguntei.

ㅤEle ficou sem falar por alguns segundos. Podia sentir sua respiração.

- Eu não... Eu não sei! – Disse ele com a voz falhada.

- Você só faz a minha ferida aumentar cada vez mais. – Disse.

- Desculpa, eu realmente não queria...

- Philip, se um dia eu fui um erro para você, tu também foste um erro para mim, mas ao contrário do que pensas, foi o erro que eu quis cometer e que cometeria quantas vezes fosse preciso para poder viver aqueles meses que passamos juntos. – Disse secando as lágrimas de meus olhos enquanto tentava me acalmar.

- Vini...

- Eu perdi você de repente e agora eu perdi meu pai. A única pessoa que eu queria que estivesse aqui comigo e que faria toda a diferença era você. – Disse ouvindo minha mãe me chamar ao pé da escada. – Preciso ir... Adeus. – Desliguei o celular e o joguei na cama enquanto seguia para o térreo de casa.

ㅤO Antônio já nos esperava e, então, eu e minha mãe fomos com ele. Minha irmã disse que iria com o noivo, mas sei que era para me evitar. Ela nunca gostou de mim, não seria agora que iria mudar de ideia.

ㅤLá no velório, estavam presentes os familiares do meu pai, amigos, funcionários, colegas de trabalho e etc. Muita gente, muita gente mesmo. Eu fiquei do lado de minha mãe em todo momento. Alguns, ou melhor, muitos me observavam de canto do olho. Todos sabiam o que havia acontecido, na época meu pai fez questão de contar a todos que havia expulsado o filho de casa e provavelmente minha irmã também. O velório de meu pai havia sido organizado com toda a pompa que ele merecia, que minha mãe achava que merecia.

ㅤMeus tios estavam muito arrasados. Mais, até mesmo, que nós que éramos da família. Eu podia apontar um por um e dizer quem realmente sentiria sua falta e os que apenas estavam fingindo. A situação era deplorável, lamentável e triste.

ㅤQuase três horas depois, já voltávamos para casa. Minha mãe usava óculos escuros para esconder os olhos vermelhos. Eles a denunciavam. Apesar de nunca terem se amado, como ela mesmo disse, respeitavam-se acima de tudo e eram parceiros. Tenho certeza de que ela sentiria falta, como eu sentiria. Pouco chorei. Não queria demonstrar fraqueza, queria era ajudar minha mãe neste momento tão difícil, mas não nego que, a cada minuto que se passava, suas palavras martelavam em minha cabeça e a memória de meu pai se fazia mais e mais presente.

ㅤQuando chegamos em casa, não falei nada, apenas segui até seu escritório e lá me sentei em sua poltrona enquanto deslizava a ponta dos dedos por sua mesa, seus pertences, objetos. Fazia com que eu sentisse que ele estivesse ali, em cada pedacinho, cada centímetro daquela ambiente. Levantei-me e tranquei a porta e me sentei ao chão em frente a sua escrivaninha, lembrando-me que sempre fazia isso altas horas da noite quando era menor para observá-lo enquanto trabalhava. Ele havia se ido sem poder dizer que me amava e eu sem poder dizer adeus. Tentei segurar mais uma vez as lágrimas, mas dessa vez o sentimento foi mais forte. Havia perdido mais uma pessoa que fazia parte da minha vida, só que dessa vez, sem nenhuma possibilidade de volta...

(Fim da Parte 35)

-

#Testamento#

- Pedi para fazerem aquelas batatas com carne assada que tu gostas! – Disse minha mãe enquanto eu me sentava à mesa ao seu lado.

- Obrigado, mãe! – Disse para ela enquanto observava uma empregada me servir. – Amanhã eu voltarei com o vô e com a vó para São Paulo, não posso me atrasar nos estudos.

- Mas já?! – Perguntou minha mãe parecendo um pouco chateada.

- É mãe, eu não posso me atrasar, estamos praticamente no final do ano e estamos cheios de trabalhos e provas. – Disse fazendo sinal de agradecimento para a empregada que logo se retirou.

- Vini você pode ficar mais alguns dias! – Disse minha avó. – Só temos que ir, pois trabalhamos e qualquer coisa passamos na faculdade avisamos que você ficará ausente por mais alguns dias.

- Senhora? – Chamou a atenção uma empregada. – O Sr. Luís os aguarda na sala de visitas, parece ser urgente.

- Hum, certo, eu já esperava por isso, bem, deixemos para jantar depois, vamos! – Disse minha mãe se levantando e seguindo em direção a sala.

ㅤQuando chegamos lá, vi que o Luís era o advogado do meu pai. Ele parecia um pouco cansado e suas olheiras eram visíveis. Ele trazia em suas mãos uma maleta de couro e um envelope lacrado.

- Aconteceu alguma coisa? – Perguntou minha mãe fazendo sinal para ele se sentar.

- Passei o dia inteiro ontem tentando agilizar a leitura do testamento que seu marido deixou, bem como a liberação com o Juiz, você entende... – Disse ele se sentando.

- Testamento? Como assim? – Perguntou minha irmã surpresa.

ㅤEu e minha irmã nos sentamos em lados opostos da sala. O namorado dela com ela e meus avós comigo.

- Sim, ele já vinha preparando o mesmo há alguns anos para que não houvesse briga entre os familiares! – Disse ele. – Estou esperando que as testemunhas cheguem, ao todo são quatro que assinaram o testamento que ele mesmo fez e mais o juiz que fará a leitura.

- Não seria melhor vermos isso amanhã? Estamos todos muito esgotados... – Disse minha mãe que provavelmente sabia o que estava escrito no testamento.

- É melhor agora, filha, assim podemos acabar com isso logo de uma vez! – Falou meu avô.

- Está bem! – Disse ela.

ㅤO Juiz chegara pouco tempo depois, junto com ele um dos amigos de meu pai de infância (Mauro) que trabalhava com ele, meu tio Hélio (único tio com quem eu me dava bem) e o Antônio, nosso motorista.

- Bem, já que todos estão presentes, sem mais, podemos começar a leitura! – Disse o Juiz.

- Não são quatro? – Perguntei.

- Eu sou uma delas! – Disse o Juiz.

ㅤCalei-me.

ㅤEnfim, meu pai já havia deixado tudo pronto para caso um dia acontecesse alguma coisa. Ele não estava se preparando para a própria morte, mas sim para um futuro incerto. À medida que o Juiz ia lendo, eu me sentia cada vez pior com as palavras de meu pai. Ele falava um pouco sobre sua própria vida, suas vontades e de nós mesmos.

ㅤAo chegar à parte do inventário e a quantidade que cada um dos filhos, no caso eu e minha irmã, teríamos direito, ele pediu para que todos se retirassem e ficassem apenas ele e Vanessa na sala. Quando ela saiu da sala, esbanjava um sorriso no rosto. Parecia que havia ganhado na loteria. Pude perceber o olhar de reprovação que minha mãe olhou para ela.

ㅤLogo depois eu entrei e me sentei em frente ao juiz. Ele me olhou e depois sorriu enquanto folheava alguns papeis a sua frente. Ficamos quietos por alguns minutos até que ele puxou um papel e o leu silenciosamente.

- Bem, Vinícius, você é um caso um pouco mais sério. Serei direto com você e tentarei simplificar o máximo que puder. – Disse ele me observando. – [...] Seu pai deixou, exatamente, 65% do patrimônio dele em seu nome e 15% para sua irmã. Em testamento os conjugues, neste caso, sua mãe, não pode ser beneficiária, ou seja, em outras palavras, ela não tem direito a nada. Os outros 20% restante se resumem a algumas propriedades, como esta casa e outros bens que estão no nome de sua mãe e dele, ou seja, para não nos complicarmos, é um pedido do seu próprio pai é que esses bens fiquem com ela [...]

ㅤEu e o Juiz ficamos durante muito tempo conversando sobre minha situação e da minha irmã. Meu pai sempre soube que quando acontecesse de ele vir falecer, a briga seria enorme entre mim e minha irmã, pelo menos da parte dela, uma vez que eu pouco me importava com o que acontecesse com o patrimônio do meu pai, já que vivia fugindo deste mundo. Minha mãe, uma vez que trabalhava com meu pai, tomaria conta da empresa em meu nome, vendendo-a mais tarde para um grupo, triplicando o seu valor atual na época.

ㅤDepois ele pediu para o advogado do meu pai entrar e ele explicou que, por mais que minha irmã perguntasse qual foi a minha porcentagem sobre a herança ou patrimônio (como preferirem falar), eu não deveria responder ou então mentir que era o mesmo que o dela, pois eles confirmariam. Mesmo que ela viesse a descobrir, nada poderia fazer. Eu fiquei muito surpreso com esta imagem que meu pai tinha de minha irmã, o que era verdade, ela era gananciosa demais e só pensava e pensa ainda em dinheiro. Foi quando, então, que eles me disseram em valores quanto valia para cada um aqueles tantos por cento. Eu sai mudo da sala de visitas.

(Fim da Parte 36)

-

~ 4 partes hoje, meu povo! espero que gostem e comentem. até amanhã <3

Esqueci de responder o CaioD86, desculpa! Então, eu olhei aqui na pasta que tenho e nenhum título bate com esse tema que você passou :( ~

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Comentários

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Philip continua ali, cercando, não volta nem vai embora de vez. Muito triste ele e o pai não poderem ter se reconciliado em vida. Gostaria também de te perguntar se vc tem um conto que foi postado na época do Orkut também, não lembro o título mas deve ter algo a ver com exército/militar/forças armadas/bandeira/brasil porque o Conto se passava no contexto do Serviço Militar Obrigatório, os personagens centrais eram o Mendes (também chamado de Alves por alguns) rapaz que tinha que passar um ano no exército e o Lancastre que infernizava a vida dele, os 2 não se bicavam mas se apaixonavam um pelo outro, gostava muito desse conto, procuro ele há anos mas não consegui resgatá-lo.

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TARDE DEMAIS PARA ARREPENDIMENTOS. O PAI DEVERIA TER SE RECONCILIADO EM VIDA COM O VINI E NÃO POST MORTEM. MAS... NÃO ENTENDO MUITO BEM DE TESTAMENTOS E DE HERANÇAS MAS CREIO QUE DEVERIA SER 50% PARA ESOSA E 50% PARA OS FILHOS. CREIO QUE A FILHA SAIU PREJUDICADA. MUITO ESTRANHO UM JUIZ DIZER ISSO PRO VINI SE CALAR SOBRE PORCENTAGENS. RSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS MAS VAMOS PRA FRENTE... NEM QUERO ACREDITAR QUE VINI AINDA SINTA ALGO POR PHIL. QUE O PHIL MORRA COM A BOCA CHEIA DE FORMIGAS. ELE MERECE. PAI COVARDE, MÃE COVARDE, PHIL COVARDE. POBRE VINI SEMPRE RODEADO DE COVARDES. COM RELAÇÃO A ESSA IRMÃ, QUEM TUDO QUER NADA TEM. MERECIA FICAR COM NADA. MAS SEI QUE ISSO É IMPOSSÍVEL. RSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS AQUI AGUARDANDO PRÓXIMO CAPÍTULO.

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P.S²: Espero que possa considerar essas observações e ao menos pensar ou testar uma revisão/edição dos próximos capítulos. Pois temos aqui um bom texto sendo mal utilizado. Novamente, grande abraço e sucesso! Que você possa expandir sua mente e que não se aborreça com minhas observações!

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P.S: Não vou desistir ou parar de ler pois é um bom texto (apesar das falhas de um autor original adolescente) e me sinto sim no direito de parabenizar ou pontuar defeitos e fazer críticas boas ou ruins. Esse espaço de comentários existe para essa função.

E principalmente, penso que se os leitores estão ansiando por coerência e lógica no texto, o editor (GuiiDuque) poderia resolver isso ou ao menos tentar. Grande abraço e sucesso!

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A história é boa (muito até).

Particularmente, eu faria ajustes se estivesse respostando pois há muitas incoerência, bastante até. Infelizmente, o GuiiDuque discorda e tampouco me pareceu aberto a opinião de terceiros (o que lhe resta alguma críticas). É uma história antiga e que deveria ter sido revisada e ajustada pelo autor/editor que está respostando, seria um direito dele. E é como o Abduzeedo disse: escrita por um adolescente que, na época, não tinha tanta qualidade apesar de ter estrutura criativa. Eu faria sim ajustes e tomaria liberdade criativa para atrair mais leitores e a história não ficar rasa e confusa como está, obviamente atraiu muitos adolescentes o que não é o caso dos leitores aqui e o editor (que deveria editar), não percebe ou não importa. Talvez, não seja criativo, talvez não saiba como conduzir, talvez tenha receio de estragar o texto... Muitos "e se". Entretanto, reforço que existe uma boa narrativa e que temos aqui uma boa história de um adolescente que, na época, não pensava como um adulto que acredito que o editor deva ser. Enfim, mais um capítulo bom que poderia ter sido melhor revisado, melhor editado e melhor utilizado pelo GuiiDuque.

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Alguém mais percebeu o festival de besteiras que foi esse capitulo? Na ultima visita dele a casa dos pais, a irmã falou que reformou o quarto dele pra ficar pra ela. se não me engano ele foi dormir no quarto de hospedes. E agora ele diz que tava tudo do mesmo jeito? E outra coisa, leitura de testamento não é feito dessa maneira. Nem por um Juiz. Em geral o advogado da familia faz a leitura E na presença de todos os mencionados. Eu me lembro de contos bem melhores no Orkut. Pelo menos que não eram escritos por adolescentes...

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Ganância, luxúria e futilidade sensações que tornam o homem um lixo

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