Capítulo 8
_ Eu não acredito, Matheus! Eu não quero acreditar que isso não seja algum tipo de brincadeira!
Matheus abaixou a cabeça. Não tinha coragem de encarar o companheiro. Patrick não estava inconformado em ter que sair da própria casa para viver na casa do sogra.
_ Amor, é necessário! Não dar para arcar com as nossas despesas pessoais e as suas despesas médicas. É necessário abrir mão de uma pela outra mais importante. O dinheiro que vamos economizar no aluguel vai ser muito útil.
A expressão de tristeza de Patrick deixava Matheus ainda mais arrasado. Segurou novamente em sua mão e disse:
_ Meu bem, não será pra sempre. Nós vamos conseguir nos reeguer. É só uma fase ruim que vamos enfrentar juntos. E além do mais, você e a minha se adoram e se dão muito bem. Creio que teremos uma boa convivência.
_ É verdade que eu adoro a sua mãe. Mas, desde que saí da casa de dona Chiquinha eu prometi a mim mesmo que nunca mais voltaria a viver de favor. E eu fracassei. Novamente, eu vou viver de favor na casa de outra pessoa.
_ Não é bem assim, Patrick. Nós não vamos viver de favor. Aquela casa também é minha. Só vamos dividir com a minha mãe. Você é o meu marido e não será um agregado. É da família.
_ Matheus, a casa é da sua mãe enquanto ela estiver viva!
_ A minha mãe comprou a casa e pôs no meu nome. Logo, a casa também é minha.
_ Nós somos um casal e precisamos de privacidade! A sua mãe também precisa de privacidade! E as nossas coisas? Elas não vão caber na casa da sua mãe.
_ Eu pensei em vendermos e...
_ O quê?! Enlouqueu? Além de sem teto, eu vou ficar com uma mão na frente e outra atrás?!
_ Dar pra você me ouvir?
Patrick bateu com as mãos nas pernas, girando a cabeça num sinal negativo.
_ Patrick, podemos ficar com a mobília do quarto e pensei em vender o restante. Nós não vamos precisar de uma geladeira por exemplo...as coisas vão ficar paradas e vão se danificar. Mas, se vendermos podemos pôr o dinheiro no banco e ir juntando para comprarmos uma casa futuramente, ou um terreno. Amor, o que é mais importante ter mobília e não ter onde por, ou não ter mobília e investir numa casa própria e comprar tudo de novo futuramente?
_ Esse discurso seria muito lindo se eu não te conhecesse. Eu adoro a Renata, mas nunca concordei de ela te dar tudo de mão beijada, porque você é um irresponsável. Gastava o seu dinheiro com ostentação bestas, porque tinha a certeza que a fonte Renata nunca secaria. Agora imagine você vivendo sob o teto da sua mãe, ela te mimando ainda mais. Você vai fazer muito mais merdas do que fazia antes.
Matheus estava se sentindo irritado com as afirmações do marido. Queria esbravejar o quanto Patrick estava sendo injusto. Contudo, respirou fundo e percebeu que as acusações de Patrick eram compreensíveis, já que foi irresponsável em muitas vezes na vida.
Com a voz terna e suave, Matheus tentou argumentar de um jeito pacífico para não piorar a situação.
_ Meu bem...Você tem toda razão. Eu fui um babaca irresponsável, fiz merda, sou um mimado e imaturo, mas eu vou mudar. Eu juro que vou mudar. A partir de agora será diferente. A nossa estadia na casa da minha mãe não será para sempre. Eu vou batalhar muito para te oferecer o melhor. Vou cuidar para que você tenha um excelente atendimento médico, para que faça terapia, afinal você passou por um momento pavoroso e não quero que isso te leve a uma depressão.
"No momento, o que importa é a sua saúde física e mental. Ao mesmo tempo, eu vou batalhar para que, futuramente, conquistarmos a nossa casa própria e a nossa independência financeira. Meu amorzinho, eu só te peço que me compreenda e que encare tudo isso como uma fase."
_ Eu não tenho outra alternativa, Matheus. Eu dependo de você pra tudo. Dependo que me sustente, que me der banho, me ajude a me vestir, a ir ao banheiro... para tudo! Eu sou um inválido que não tenho controle da minha própria vida. Você é o senhor da situação.
Matheus o abraçou forte.
_ Amorzinho, não fale assim. Eu odeio te ver desse jeito. Você não é um inválido! Essa palavra é horrível. Eu prometo que tudo isso é passageiro. Lá na frente , nós vamos estar felizes, dentro da nossa própria casa.
Matheus deu um selinho nele, que se manteve imóvel.
_ Você vai voltar a ser feliz. Eu vou fazer de tudo para que isso aconteça.
Sorrindo, Matheus acarinhou o rosto de Patrick.
_ Amor, eu tenho uma boa notícia. A minha mãe contratou um advogado para dar entrada na sua aposentadoria. Você vai poder ter o seu dinheirinho.
_ Que boa notícia, Matheus!_ Patrick deu sorriso sarcástico e bateu palmas._ Olha só que magnífico! Eu batalhei muito para cursar uma faculdade e trabalhar no cargo dos meus sonhos para acabar aposentando com 31 anos de idade por invalidez! É uma notícia maravilhosa! Onde você deixou a sua noção? Na lata do lixo?
_ Amor!
Matheus tentou beijá-lo, mas Patrick desviou o rosto.
_ Eu vou para o quarto. Preciso ficar sozinho.
A estadia de Daniel não agradou em nada a Neide. A empregada doméstica não via com bons olhos o jovem andar pela casa como se fosse um dos donos.
Na presença de Bruno e Jonas, Dani era prestativo. Mostrava eficiência limpando a casa, preparando o café da manhã e sempre perguntando se poderia fazer algo por eles. O casal dizia para Dani que ele não precisava realizar nenhuma tarefa doméstica, mesmo assim ele exercia.
No entanto, quando o casal não estava em casa, Dani caminhava pelos cômodos com ar de superioridade vestindo um roupão branco, assistia TV com os pés no sofá, usufruia da piscina e sauna como se o fosse o dono da casa, o que incomodava Neide.
A mulher dizia a Bruno a sua insatisfação e antipatia por Dani, mas ele a ignorava julgando ser uma cisma boba da empregada.
O passa tempo preferido do jovem era desfrutar do closet de Bruno as escondidas, vestindo suas roupas, cheirando os perfumes. Quando olhava as fotografias se imaginava no lugar de Bruno na foto, ao lado de Jonas.
Dani direcionava a Jonas um tratamento especial. Era sempre gentil e solícito. Estava sempre pronto para agradá-lo.
Se Jonas precisasse de algum objeto, Dani oferecia um, se Jonas não sabia onde havia colocado algo, Dani procurava e encontrava.
Em uma das conversas com Bruno, descobriu que macarrão à bolonhesa era o prato preferido de Jonas.
Numa tarde, entrou na cozinha trazendo em mãos sacolas contendo os ingredientes para o preparo do prato. Ele havia acabado de chegar do supermercado e entrou sem cumprimentar Neide, que vestia o avental para preparar o jantar.
Dani pôs o outro avental preto e uma toca de redes na cabeça.
_ Você não precisa se preocupar com o jantar. Hoje sou eu quem vou prepará-lo. Aproveite e passe a camisa social do Jonas. Ele terá uma reunião no final de semana e vai precisar dela.
A prepotência de Dani a irritou.
_ Quem você pensa que é para me dar ordens? Tá se achando o Bruno?
Dani ergueu a sobrancelha de um jeito debochado.
_ Você é paga para cuidar das roupas do Jonas. Quando ele for usar a blusa e ver que não estão passadas, cobrará de você. Quem avisa amigo é. _ Dani disse erguendo os ombros e inclinando a cabeça para o lado.
_ Eu sei muito bem o que devo fazer. Trabalho para o Jonas há muitos anos. Desde que ele era solteiro. Então, ponha-se no seu lugar de encostado nesta casa e não venha me dar ordens.
O sorriso debochado de Dani a deixou ainda mais irritada.
_ Agora saia da minha cozinha que eu não tenho tempo a perder. Daqui a pouco, o casal chega para jantar e o estrogonofe deve estar pronto.
_ Eu vou preparar o jantar e...
_ Eu vou ter que ligar para o Bruno e dizer que você está me atrapalhando?
_ Tudo bem. Eu não quero incomodar.
Dani retirou o avental e saiu sorrindo da cozinha.
_ Onde já se viu. Xingi ling abusado. Eu hein!
Antes de sair, Neide avisou a Bruno que havia preparado estrogonofe de filé mignon para o jantar. Deixou tudo em ordem na casa antes de partir.
Dani entrou na cozinha como se fosse beber água. Certificou que ninguém estava olhando e abriu a panela de estrogonofe provando um pouco do caldo com uma colher.
_ Hum! Até que a miss vassoura cozinha bem.
Ele pegou o saleiro e abriu.
_ Coitada. A idade está chegando e a veia está ficando caduca. A pobrezinha acabou errando a mão no sal.
Dani despejou todo o conteúdo na panela e misturando.
Na hora do jantar. Ele fez questão de ajudar Bruno a arrumar a mesa.
Devido ao dia exaustivo de trabalho, Jonas estava faminto e foi o primeiro a pôr uma garfada na boca. Bruno estranhou a careta que o marido fez, levantou imediatamente para ir ao lavado cospir o estrogonofe.
_ O que houve?_ perguntou Bruno, quando Jonas retornou para à mesa.
_ Isto está que é só sal!
Dani fingiu espanto e provou um pouco fazendo careta.
_ Está muito salgado! Bruno, não é bom que você prove. Pode fazer mal a sua saúde.
_ Puta que pariu! Neide foi errar a mão no sal justo hoje que estou morrendo de fome!
_ Eu não entendo. Ela cozinha muito bem. Estou aqui há poucos dias e tudo que comi feito por ela estava maravilhoso. A coitadinha deve estar com algum problema pessoal. Isso deve ter a deixado desligada.
_ Ela que deixe os problemas em casa. Porra!
_ Calma, amor! Não precisa ficar nervoso. Eu vou pedir comida pelo Ifood. Num instante chega.
_ Nem pensar! Vocês são tão generosos comigo, que faço questão de preparar algo para que vocês possam comer.
_ Não precisa se incomodar, Dani. Eu peço e ...
_ Por favor, Bruno, me deixe cozinhar pra vocês. Eu amo cozinhar. Pra mim é um ato de amor. Faço num instante.
Bruno acabou cedendo as insistências de Daniel e o autorizou a cozinhar.
Em alguns minutos, Dani pôs na mesa um delicioso e bonito prato de macarrão à bolonhesa.
Seus pequenos olhos brilharam ao ver a satisfação deles ao provarem o prato. Principalmente a de Jonas.
Neide não conseguiu compreender quando chegou no trabalho no dia seguinte e ouviu Bruno pedir para que ela se atentasse a quantidade de sal posta na comida.
A mulher tinha certeza que havia feito tudo do jeito certo. Desconfiou que Dani poderia ter sabotado a sua comida, quando ouviu de Bruno que o jovem havia preparado o jantar.
Neide quis acusar Dani por ter salgado o estrogonofe, mas concluiu que seria inútil, já que não possuía provas e temeu que Bruno não acreditasse nela a acusando de implicar com o rapaz.
Optou por se calar e prometeu ao patrão que tomaria mais cuidado da próxima vez.
As conquistas de Dani se estenderam a família de Jonas. Sempre que dona Chiquinha ia visitar o casal, Dani se mostrava atencioso com a idosa fingindo interesse pelos assuntos que ela comentava.
Soube que era professora de literatura francesa e em dois dias devorou Madame Bovary e pesquisou sobre o livro, lendo as análises literárias de dona Chiquinha sobre o livro. Agradando a mulher, que acreditava no falso interesse de Dani.
Fingia achar graça nas piadas de Jorge e se mostrava interessado nos jogos do Enzo, irmão caçula de Jonas.
Sua gentileza também era destinada a Rafael, Olívia, Rose e os amigos do casal.
A única que não engoliu a bondade de Dani foi Cinthia. Que fez questão de alertar a Bruno.
_ Eu não fui com a cara dessa bicha. Eu se fosse você abria o olho.
_ O Dani é um amor. Você deveria conhecê-lo melhor antes de julgá-lo.
_ Buba, essa bicha respira falsidade. Coé! Ninguém é bonzinho o tempo inteiro. Vive de agradinho pra lá, agradinho pra cá. Ah, pelo amor de deus!
_ Você não ia com a minha cara e agora é uma das minhas melhores amigas. O seu mal é julgar as pessoas.
_ É diferente, Bruno! Não é que não ia com a sua cara. Eu só não aprovava a traição com o Matheus e tinha ranço de ti por ter sumido fazendo o Jonas sofrer. Mas, com essa bicha é diferente. Há algo nela que me incomoda.
_ Você serve para dar a mão a Neide. O Dani sofreu muito. Eu te falei que...
_ Eu já sei da história. Mas, eu vou verificar se isso é real. Se você quer bancar idiota, eu, como sua amiga, não vou te deixar cair numa furada.
Bruno decidiu oferecer um churrasco na psicina no domingo para a família e amigos.
Para que Bruno não reclamasse, Jonas tirou o dia de folga.
Betinho estranhou a presença de Dani na festa, que sorria sendo simpático com todos como se fosse o anfrião.
_ O que a Daniela está fazendo aqui?
Ele perguntou a Isabel, que contou toda a história de Dani.
_ Brunosa é tão inteligente, estudada e caiu na lábia daquela bicha 171?
_ Como assim "bicha 171"?_ Quis saber Cinthia.
_ Mulher, essa bicha aí é da pista. Ela é conhecida por ser mercenária e batedoura de carteira. Eu ouvi dizer, que ela dar molhe para os coroas que não pode ver uma bichinha novinha e dar boa Cinderela para eles. Aí a bicha nipônica vai lá e faz a limpa nos objetos de valores dos veios. _ Betinho disse gargalhando.
Jonas foi até a cozinha preparar um drink a pedido do seu pai. Dani entrou em seguida, usando apenas um sunga preta, que valorizava a sua bundinha empinada.
Jonas tentou conter o tesão ao vê-lo.
_ O que você está fazendo aí, Jonas? Algo especial?
_ Pau na coxa.
Dani o olhou de um jeito interrogativo.
_ É uma mistura de vinho tinto com leite condensado.
_ Hum! Deve ser uma delícia. Posso provar?
Dani perguntou de um jeito infantil e delicado, o deixando ainda mais sexy.
Nervoso, Jonas pôs o líquido num copo e o entregou. Ele bebeu olhando para Jonas de um jeito inocente e entregou o copo.
_ Muito bom! É uma delícia!
Jonas reparou que no lábio superior de Dani havia um respingo do líquido.
_ A sua boca está suja.
_ Sério? Onde?
Jonas apontou na própria boca.
Seu pênis se enrijeceu quando Dani a limpou com a ponta da língua que deslizou sobre o lábio, o direcionando um olhar sexy e penetrante.
_ Obrigado, Jonas.
Saiu da cozinha com um andar rebolativo.
Jonas pôs a mão no pau.
_ Caralho! Se comporta, Jonas! Você é casado.
