POR ESSE AMOR - EP. 36: O PODER DO PERDÃO

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 3757 palavras
Data: 15/04/2021 01:09:12

— Eu posso falar com você, por favor. — pediu Sérgio, aparecendo do nada na nossa frente.

Eu odeio discutir, principalmente, com pessoas que eu gosto. Querendo ou não, o Sérgio fez parte da minha vida, seja para bem ou mal. Olhei para o Kleber, ele deu com os ombros, mas, no fundo, sei que não queria a nossa aproximação.

Todos ficaram na expectativa da resposta. Através da telepatia, a Giovanna me aconselhou a conversar com o Sérgio e colocar os pingos nos i's de uma vez por todas. Respirei fundo, levantei e levei o Sérgio para uma parte mais afastada.

— O que você quer? — questionei a Sérgio, sem olhar para ele.

— Me redimir. Santino, eu sei que errei feio, mas, ao ver aquela foto... eu não sei...

— Porquê? Porquê tinha que ser daquele jeito? Na frente de todos. Você sabe como foi humilhante? — perguntei, agora tendo coragem de olhar diretamente para o Sérgio.

— Eu só não queria que você fosse enganado. — explicou Sérgio, andando de um lado para o outro. — Eu gosto de você, ok. Você é quase um irmão para mim. Eu errei no começo e, apesar de todas as humilhações, você ficou ao lado da minha mãe. — Sérgio começou a chorar e aquela conversa me deixou mal.

— Não é justo, Sérgio. — o repreendi ficando com os olhos marejados, pois, ele apelou para a Carla.

— Eu sei, Santino. Porém, eu não tenho ninguém, ok. Todos me abandonaram...

— Sérgio, você poderia ter vindo conversar comigo.

— O Francisco veio conversar comigo, Santino. Eu acreditei em todas as mentiras dele. Ele falou que você era muito inocente e não conseguiria enxergar maldade no Kleber...

— Atrelado a isso, a sua raiva do menino. O Kleber nunca te fez nada, Sérgio. Ele sempre tentou ser o teu amigo. Que droga. — esbravejei, zangado e ficando vermelho.

— Eu não sou perfeito, Santino. Sou cheio de defeitos. Talvez, seja esse o meu destino. Eu vou viver sozinho, mas, antes queria tentar conversar contigo.

— Eu lamento, Sérgio. Acho melhor a gente ficar afastado por um tempo. Eu preciso pensar. — falei, com uma dor no coração, porém, achando necessário um tempo para colocar os pensamentos em ordem.

— Eu vou cantar no show. Vem me ver, por favor. Não tenho ninguém torcendo por mim. — ele pediu enxugando às lágrimas.

— A Giovanna vai cantar também. Se der eu assisto a tua apresentação. Preciso voltar. Com licença. — saí e o meu coração ficou apertado pela situação dele.

Merda! Eu não conseguia resistir ao Sérgio. Estava em uma encruzilhada. Por um lado, continuava chateado pela besteira que ele aprontou, pelo outro, lembrava da promessa que fiz a Carla, mãe dele. Qual caminho devo escolher?

Voltei para a mesa e, depois da torta de climão, os meus amigos decidiram ir para a casa de Giovanna. O Yuri estava preparando um churrasco para comemorar o emprego novo do Zedu. Eles iriam se mudar para o Sul do país para iniciar uma vida juntos, longe de todos os traumas do passado.

— Ah, caras. Eu não acredito que vocês vão para tão longe! — exclamou Brutus, melhor amigo do Zedu, parecendo chateado. — Mas, por favor, façam amizades com as gatinhas de Porto Alegre e consigam um casamento para mim.

— Tinha que ser o idiotão. — brincou Luciana, passando a mão na cabeça de Brutus que começou a rir.

— E o casamento? — perguntou Helder de uma forma dramática e com os lábios trêmulos.

— Calma, tudo no seu tempo. O casamento vai acontecer, mas agora vamos focar nas nossas carreiras. — respondeu Zedu, levantando às mãos em forma de rendição.

Fiquei muito feliz com a decisão do Yuri. Eu percebi que os relacionamentos são feitos de escolhas e renuncias, ou seja, o Yuri abriu mão de morar em Manaus para seguir o noivo em uma jornada de cura.

Todos os amigos do Yuri estavam na festa. Daqui uns anos, eu esperava que fosse a minha vez, não de casar, mas de preservar às amizades que cativei como a Giovanna, Enzo e André.

Aproveitei à noite para beber, uma pena que o meu namorado não pode me acompanhar nos drinks. Ele continuava tomando remédios e teria fisioterapia para o ombro, então, foi a vez dele de cuidar de mim.

— Eu te amo. — falei com uma voz que mais lembrava o tradutor do google e beijei a bochecha do Kleber.

— Eu te amo, meu ursão lindo, gostoso e bêbado. — enumerou Kleber retribuindo o beijo.

— Amigo. — Enzo se aproximou cambaleando e sentando no chão de frente para nós. — Eu vou começar minha empresa e quero chamar você para ser um dos funcionários. Ainda vou regulamentar tudo, mas seria uma honra ter você ao meu lado.

— Sério, tem, tem certeza? — questionou Kleber mudando de fisionomia e gaguejando. — Enzo, você está louco, acho melhor conversamos outro dia.

— Deve ser Uó não poder beber, né? Mas, a gente conversa com mais calma. A Tech Land vai virar uma realidade. — afirmou Enzo que levantou, depois que André o chamou para tomar shots de tequila.

Do nada, os meninos começaram a dançar, de uma forma maluca e desorganizada. Mesmo machucado, o Kleber quis arriscar uns passos, ou melhor, dançou o dois-pra-lá-dois-pra-cá com os pés.

A parte engraçada? Ficou por conta da Giovanna, sempre ela. Para preservar a voz, a minha amiga resolveu fazer um voto de silêncio, pois, no dia seguinte faria uma performance no festival de música da faculdade, o evento marcaria o fim das atividades, ou seja, doces férias.

Comida, bebida e pessoas sorrindo. Não existe nada melhor para fechar um ciclo. Uma das cenas que me tocou foi um beijo entre Yuri e Zedu. Eles pareciam felizes, leves e prontos para enfrentar os obstáculos da vida.

****

Eu quero amor

Eu quero tudo que for bem colorido

Tudo que for leve

Não me atrapalhe

Eu tenho um objetivo

E a vida é breve

***

Eu amo a vida. Eu posso garantir isso sem medo. Foi preciso de uma viagem para o Ceará para me fazer entender o verdadeiro sentido de viver. Uma junção de belos momentos, até aqueles que não eram tão belos assim, construíram a pessoa que sou hoje.

Os meninos fizeram um bar improvisado e decidi fazer um drink de morango, o meu favorito. Peguei um copo de plástico, em seguida, adicionei vodka e suco de morango. O Yuri se aproximou e me deu um abraço super apertado.

— Você é um cara extraordinário, Tino. E nunca deixe ninguém dizer o contrário. — me abraçando e olhando para o Kleber. — Sabe, a vida não vai ser fácil, mas continue desse jeito, um cara doce e forte. Ele é um cara de sorte, pois, conseguiu um namorado muito bom.

— Yuri. — falei emocionado e aproveitando o abraço. — Eu te conheço muito antes de te conhecer. Parece confuso, eu sei, porém, você me deu forças para seguir até aqui. Eu nunca vou esquecer você, mesmo com a distância.

— Ei, eu não vou sumir. Vai ter um casamento. Pode não ser em breve, entretanto, vai rolar, então, peço que agende na sua agenda, bem, talvez, daqui uns quatro anos. — garantiu Yuri, se afastando e passando a mão no meu cabelo.

Três gerações de amizades do Yuri se reuniram para celebrar suas conquistas com o Zedu. A família, os amigos do ensino médio e os amigos da vida. Se estivéssemos em uma comédia romântica esse seria o final perfeito.

***

Faço dos meus dias uma festa

E os meus amigos eu levo no bolso (no bolso)

No coração os meus parentes e entes

E os presentes que a vida me dá!

Grite comigo

A, a, e, i, o, u.

A, e, i, o, u.

Y, y.

***

Como não estamos em uma comédia romântica, preciso encarar a forte ressaca no dia seguinte. Por favor, Santino, não misture mais vodka, tequila e cerveja. Esses itens juntos resultam em uma bomba dentro da sua cabeça.

Como eu me mexo muito durante à noite, o Kleber estava dormindo em outro quarto. Resolvi tomar um banho para afastar toda a preguiça do meu corpo, pois, no fim da tarde teria o festival da faculdade.

"Outro homem", pensei comigo mesmo, após um banho demorado. Coloquei uma blusa verde do Donkey Kong e um shots preto. Ao descer, encontrei a mamãe paquerando o fisioterapeuta do Kleber. Um homem moreno, alto e com algumas tatuagens pelo corpo como, por exemplo, uma tribal que ficou fora das proporções. Aquele era o tipo ideal dela.

A recuperação do Kleber parecia ser dolorida. Ele precisava esticar ao máximo o músculo machucado para não atrofiar, pelo menos, foi isso que eu entendi, enquanto, comia uma tapioca com queijo.

— Você não pode começar a fisioterapia quando ele estiver melhor? — perguntei, ficando agoniado com os gemidos de dor do Kleber.

— Infelizmente, não. — disse o fisioterapeuta, sem olhar para mim.

— Santino, meu filho, o Anderson precisa se concentrar. — pediu mamãe, me informando que o nome do fisioterapeuta era Anderson. Ela parecia uma leoa prestes a atacar.

— O caso do Kleber foi muito severo, por esse motivo, após a fratura precisávamos reverter os efeitos negativos da imobilização, que pode causar a perda do movimento e força. — dessa vez, as palavras do Anderson pareceram mais assustadoras. — Mas, por isso que estou aqui. Em breve, o Kleber vai voltar para as piscinas.

— Assim eu espero. — soltou Kleber, falando pouco, com certeza, por causa da dor que sentia. Naquela tarde, a Bruna trouxe o Thor para ver o irmão humano. O encontro foi contido, pois, o Pastor Alemão poderia machucar o Kleber. Ele gruninha baixinho e cheirou os pés do Kleber. Gostava de ver aquela relação, de certa forma, o Thor fazia falta para ele.

As sogras se tornaram melhores amigas. Estavam até fofocando sobre homens, no caso, o Anderson. A mamãe exaltou os seus atributos físicos e mostrou vários fotos que tirou do fisioterapeuta.

Aproveitamos a distração das duas para passear pelo condomínio com o Thor. Ele é um cachorro forte, precisei segurar firme na coleira. O Kleber estava esperançoso com o tratamento oferecido pela faculdade.

— Amanhã vou ver o Kiko. — avisou Kleber parando um pouco e respirando fundo.

— É o dia da segunda audiência, né? Eu vou contigo, se ele tentar qualquer gracinha...

— Meu urso bobão. Apesar da situação, eu espero que o Kiko evolua. Querendo ou não, eu já senti algo por ele. — comentou Kleber voltando a andar e eu o acompanho.

— Complicado. Imaginar que a pessoa que um dia amou a gente é capaz de nos machucar. Nunca teria coragem de fazer isso contigo. — falei, apertando forte a coleira do Thor que latiu para um carro.

— Santino. Você vai perdoar o Sérgio? — Kleber perguntou me fazendo suspirar fundo.

— Eu não sei. A minha história com o Sérgio é uma montanha russa de emoções. Eu fiz uma promessa para a mãe dele, Kleber. No fundo, nós somos parecidos. Dois garotos ricos, que não tem o amor do pai e buscam uma chance de ser feliz. — eu disse, com um tom baixo e querendo muito negar qualquer oportunidade de aproximação.

— Eu pensei bastante. Acho que deveria conversar com ele. Não que eu fosse te proibir, porém, eu senti que o Sérgio estava de fato arrependido. E, justamente, por não ter mais ninguém, acho que você precisa estender a mão. — Kleber aconselhou, antes de pedir calma para o Thor que se animou ao ver outros cachorros.

Perdoar. Durante vários anos, a presença do Sérgio me causava pânico. Ele já me humilhou de várias formas, até com agressões físicas. Por causa dele, eu andava de cabeça baixa nos corredores, por causa dele, eu não conseguia conversar com os outros alunos.

Realmente, eu não tinha o amor do meu pai, mas, a cada dia, a minha relação com a mamãe melhorava. E agora, eu tinha amigos para chamar de meus e, claro, um namorado maravilhoso que me completa em todos os sentidos.

Voltamos para casa e deixamos o Thor no jardim com um belo jantar, cortesia da chef vegana que adorava cachorros. As nossas mães foram conosco para a Ufam, prestigiar o show da Giovanna, assim que ela anunciou nas redes sociais.

Tive um pouco de dificuldade para estacionar, pois, o estacionamento estava lotado de carros. O Kleber precisou sair e guiar o caminho para que eu não batesse, geralmente, ele fica com a parte da baliza.

Seguimos para o auditório e a maioria das pessoas já estavam sentadas. A família da Giovanna guardou os nossos lugares. Eles usavam camisetas com o rosto da Giovanna e sobrou até para nós.

A tia da Giovanna explicou que aquilo era uma ordem e nós como meros mortais tivemos que obedecer. Ainda não acredito que uma garota tão legal como a Giovanna fez amizade com um zero à esquerda. Nesses momentos, me sinto um verdadeiro azarão.

O palco do auditório estava diferente, com uma luzes legais e a banda devidamente espalhada para o show. Aquele era o momento da equipe de musica para brilhar. Havia um cartaz enorme no fundo escrito "29º Festival de Música da UFAM" e as fotos de todos os participantes, incluindo, Giovanna e Sérgio.

Para a minha surpresa, o apresentador do festival foi o Well. Ele estava tão fofinho com um terno azul e uma gravata borboleta vermelha. Na real, eu quase não o reconheci com os cabelos penteados e sem óculos de grau.

— Boa noite! — exclamou Well de maneira firme e tirando um "boa noite" da plateia. — Hoje é uma noite especial para o clube de música da Ufam. Depois de meses treinando em eventos da universidade, eles terão uma chance para competir para saber quem é o melhor.

Serão 10 atrações. Para começar em grande estilo, vamos ouvir a primeira aluna, Luana Carvalho! — ele anunciou e saiu do palco.

Eu conhecia um pouco da Luana, quer dizer, aquilo que a Giovanna falava dela, que na maioria do tempo era algo ruim. Que a minha melhor amiga não escute, mas a Luana estava deslumbrante. Usava um vestido vermelho e um batom da mesma cor. Os seus cabelos encaracolados presos em um trança a deixava ainda mais linda.

— Boa noite. — desejou Luana com uma voz doce e baixa. — Eu vou cantar "Moon River". — ela contou olhando para a banda e balançando a cabeça, um sinal para eles começarem.

Uau. Que voz. Perdão, Giovanna, mas é a verdade. Em parte da música, o Kleber pegou na minha mão e eu segurei a dele com delicadeza, pois, o seu pulso continuava desmentido, principalmente, após a sessão de tortura, digo, a fisioterapia.

— Eu te amo. — falei baixinho e piscando.

— Eu te amo mais. — respondeu o Kleber.

Após uma apresentação excelente, a Luana deixou o palco e Well apareceu para apresentar a segunda atração. Antes, para fazer um suspense, ele anunciou que as notas das avaliações estariam disponíveis no sistema da universidade no dia seguinte.

— Bem. Com o recado dado, vamos torcer para todos passarmos de ano. — desejou Well cruzando os dedos. — A segunda apresentação da noite será de Sérgio Abdalla Neto. Ele vai cantar "Sweet Child O' Mine", do Guns N' Roses.

A plateia aplaudiu e Sérgio subiu ao palco carregando um violão. Ele parecia nervoso, mas desejei que ele fosse melhor que a Luana. Será que ele estava bem? Parecia tão mais magro.

Enfim, esse dever não era mais meu. Agora, o Sérgio deveria seguir o seu próprio caminho.

— Boa noite. — desejou Sérgio que se assustou com sua voz ecoando pelo auditório. — Bem, eu decidi não cantar mais "Sweet Child O' Mine", e sei que isso implica na minha desclassificação, mas preciso compartilhar algo com vocês. — a voz de Sérgio estava tremula, ele pegou o violão e ajustou a alça. — Eu não fui um garoto fácil. Desde o início fui muito influenciável. Andei com pessoas erradas e machuquei quem me queria bem. No início deste ano, sofri um grande golpe e perdi a minha mãe. As más companhias ficaram ao meu lado? Bem, a resposta é não. Dentre todas as pessoas, a única que se levantou e me estendeu a mão, foi justamente a quem eu mais prejudiquei. — Sérgio parou o discurso e respirou fundo. — Santino, eu sei que você me odeia, eu te dei todos os motivos para tal, mas, queria que você viesse ao palco se possível.

Puta merda, Sérgio. Além de me humilhar na escola, vai querer acabar com o pouco de dignidade que sobrou na faculdade? Todo mundo olhou para mim, de repente, um dos holofotes do palco virou na minha direção, quase fiquei cego.

— O que eu faço? — perguntei para Kleber, que também estava chocado. — Vai.

— Vai, meu filho. Arranca logo esse curativo. — pediu mamãe pegando no meu ombro. — Vai de coração aberto.

Ok. Levantei e os olhares se voltaram para mim. Caminhei na direção do palco e subi por uma escadinha do lado direito. Agora imagine, eu estava usando uma camiseta escrita, "Giovanna", em letras garrafais e, claro, uma foto duvidosa da minha melhor amiga.

Fiquei assustado ao me dar conta de quantas pessoas se faziam presente no festival. Graças a Deus, alguém ligou às luzes e o público ficou difícil de enxergar.

Frente a frente. De um lado, um garoto que sofreu a vida todo por ser diferente e do outro, alguém que buscava por remissão.

— Eu errei contigo. Errei com o Kleber. Nada vai mudar a burrada que eu fiz, Santino. Me senti tão culpado pelo acidente. Eu sinto saudade de você. Das nossas conversas. Você é o irmão que eu nunca tive. — confessou Sérgio deixando às lágrimas escorrerem pelo seu rosto. — Como dizem, a família é aquela que se constrói, quer você queira quer não, nós somos a família que escolhemos. Eu escolhi você para ser minha família. Irmãos, brigam, né? Pegam no pé do outro e erram, afinal, atire a primeira pedra aquele que nunca errou. Diante de todas essas pessoas que estão no festival te peço perdão. — declarou o Kleber me fazendo chorar e dedilhando algumas notas.

***

Me conte a sua história e eu te conto a minha

Sou todo ouvidos, não se apresse, nós temos a noite toda

Me mostre os rios cruzados, as montanhas escaladas

Me mostre quem fez você andar até aqui

Ooh

Se acalme, coloque suas malas

Ooh

Você está bem agora

Não precisamos ser parentes para nos entendermos

Nós não precisamos compartilhar genes ou um sobrenome

Vocês são, vocês são

A família, a família que eu escolhi

E daí se não parecemos iguais?

Nós estamos passando pela mesma coisa

Sim, vocês são, vocês são

A família, a família que eu escolhi

***

Inferno! Porque você precisa ser tão irresistível, Sérgio. A cada nota, uma lágrima escorria do meu rosto. Com certeza, eu estava vermelho como um pimentão, afinal, estava sendo exposto e, com certeza, alguém filmava aquela declaração.

Um flash dos últimos meses invadiu os meus pensamentos. Lembrei do dia em que dormi com o Sérgio no resort do Ceará, após a notícia da morte de Carla. Ou da forma como o acalentei durante o velório. Porém, o que marcou a nossa amizade eram às noites que assistíamos seriados ruins comendo sushi ou sanduíches.

No palco, o Sérgio continuava a expressar os seus sentimentos através da canção, uma muito boa inclusive. Fiquei curioso para saber quem cantava aquela obra de arte, mas no fim, ia querer ouvir a versão do Sérgio, na minha opinião, o cover sempre supera a original.

***

Me dê uma caneta e eu irei reescrever a dor

Quando vocês estiverem prontos, nós vamos virar a página juntos

Abra uma garrafa, é hora de celebrarmos

Quem você foi, quem você é

Nós somos um e o mesmo, sim, sim

Não precisamos ser parentes para nos entendermos

Nós não precisamos compartilhar genes ou um sobrenome

Vocês são, vocês são

A família, a família que eu escolhi

E daí se não parecemos iguais?

Nós estamos passando pela mesma coisa

Sim, vocês são, vocês são

A família, a família que eu escolhi

Eu escolho vocês

Vocês me escolhem

Eu escolho (família escolhida)

Eu escolho vocês

Vocês me escolhem

Nós estamos bem agora

Não precisamos ser parentes para nos entendermos

Nós não precisamos compartilhar genes ou um sobrenome

Vocês são, vocês são

A família, a família que eu escolhi

E daí se não parecemos iguais?

Nós estamos passando pela mesma coisa

Sim, vocês são, vocês são

A família, a família que eu escolhi

***

Ao termino da música, o público levantou e aplaudiu a apresentação de Sérgio. Sério, foram quase cinco minutos de aplausos e gritos. Em seguida, alguém puxou um coro de "perdoa". "Perdoa", "Perdoa", "Perdoa".

Eita, público insistente. O Sérgio deixou o violão no suporte, andou na minha direção e nos abraçamos. Sim, ganhei uma declaração de amor do meu irmão de criação. É, Kleber, aparentemente, o nível para me surpreender subiu. #vocequelute!

Com o fim da apresentação, o Well apareceu e pediu com gentileza que saíssemos do palco. Fomos para os bastidores e ficamos nos olhando.

— Onde você está morando? — perguntei limpando às lágrimas do Sérgio.

— Em um hotel. A corretora ainda não achou um apartamento descente. — ele explicou pegando no meu ombro.

— É agora que a gente se beija? — perguntei deixando o Sérgio constrangido. — É brincadeira. Volta pra casa. A sua chatice faz falta e preciso de você para me defender da mamãe.

— Tem certeza? — ele questionou com os olhos vermelhos.

— Sim. Afinal, eu preciso do meu irmão. — o abracei forte.

— Tá bom, tá bom. — pediu Kleber aparecendo na coxia e nos separando, parecendo estar com ciúmes.

— Baixa renda! — exclamou Sérgio mudando sua postura de menino arrependido. — Estávamos acertando a minha volta para casa.

— Sérgio! — esbravejei, enquanto abraçava o Kleber.

— Desculpa. — revirando os olhos. — Kleber. Quero te pedir desculpa também. Eu caí na armação do professor Corrida Maluca. De verdade, espero que você me perdoe. — esticando a mão para Kleber.

— Isso é estranho até para você. — falou Kleber fazendo uma careta e se afastando. — A Giovanna vai ser a próxima. Vamos sentar. — ele pediu me indicando a saída.

Perdão. Uma palavra tão simples de escrever, mas tão complicada de por em prática. Naquela noite, uma coisa improvável aconteceu. Santino Peixoto, Kleber Viana e Sérgio Abdalla iniciaram uma irmandade e ela seria para a vida toda.

Nesses últimos meses, a minha vida se tornou uma loucura. Amei, me aventurei, chorei e perdoei. Era para ser mais um ano comum, só que o comum pode se tornar extraordinário.

Entrei na faculdade com a intenção de passar despercebido, mas nos seis primeiros meses aconteceram mais coisas do que em toda minha vida. E o perdão sempre fez parte dela. Por isso eu digo, nunca desista do perdão, pois, ele pode te surpreender.

Será que o Kleber pensa da mesma maneira? Bem, para saber, vocês terão que esperar a versão dele.

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