POR ESSE AMOR - EP. 35: RECUPERAÇÃO

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2084 palavras
Data: 14/04/2021 02:24:10

ESCRITO POR KLEBER VIANA:

Ah, Cara. Que merda. A loucura do Kiko foi longe demais. Nunca pensei que ele teria coragem de me fazer mal, quer dizer, além do normal. Não consigo lembrar de muitos momentos do acidente, mas umas das coisas que me marcou foi o desespero do Santino, provavelmente, causado pelos meus gritos de dor.

No primeiro dia de recuperação, recebi a visita da mamãe. Ela trouxe uma sopa de mandioca, a minha preferida e, também, uma pedido de desculpas regado à muita lágrima. Eu a perdoei, no lugar dela, teria reagido da mesma maneira. Já imaginou receber uma notícia chocante sem ter o contexto necessário?

— Mãe, olha para mim. — pedi pegando em sua mão com dificuldade. — Eu estou bem. Nada de grave aconteceu.

— Mas, se algo tivesse acontecido. — mamãe falou apertando forte na minha mão e precisei disfarçar a dor para não quebrar o desabafo dela. — Kleber, a minha mão no teu rosto seria a tua última lembrança. Eu nunca te bati, filho.

— Ei, a senhora não sabia a verdade. Ninguém sabia. Infelizmente, eu me envolvi com a pessoa errada e paguei o preço. Eu não tenho que encontrar motivos para perdoa-la. A senhora abdicou de tantas coisas por mim. Eu só sinto gratidão. — afirmei me emocionando e recebendo um abraço da Dona Bruna.

O momento entre mãe e filho foi atrapalhado com a chegada de policiais. Eles fizeram uma série de perguntas e me mantive firme, porque a única vítima, com danos morais, materiais e físicos, fui eu. Queria que o Kiko pagasse por toda dor e transtorno que causou nos últimos dias.

A equipe da polícia, liderada por um policial gordinho, mostrou as imagens do circuito de segurança da faculdade. A minha coluna ficou gelada. Não imaginei que a batida tinha sido com tamanha violência.

Fechei os olhos. Não conseguia ver mais aquela barbárie. Como uma pessoa que diz amar a outra tem a coragem de machuca-la? Porém, uma outra cena chamou a minha atenção, após verificar o meu estado, o Santino andou em direção ao carro do Kiko.

Eu não consegui acreditar. O meu namorado agiu de forma violenta e espancou o Kiko. O que eu fiz? O Santino fez algo horrível para me defender. O meu estomago embrulhou. Fiquei mal, não pelo Kiko, ele mereceu a surra, porém, não queria ter feito o Santino passar por isso.

— E agora? — perguntei ao policial que anotava algumas informações.

— Bem, Sr. Viana. — ele soltou e eu senti uma certa estranheza, pois, quase ninguém me chama pelo sobrenome. — O seu Francisco já está aguardando o julgamento. As provas são concretas, ele tentou te matar.

— Obrigado, policial. — respirei aliviado, porém, a paz durou pouco, porque comecei a sentir dores no meu ombro.

— Com licença. — pediu o policial se retirando do quarto.

— Filho, você está desconfortável? — perguntou a mamãe arrumando o travesseiro.

— Não, estou ótimo. — respondi, mentindo, porque não queria preocupá-la.

— Com licença, senhora? — uma enfermeira gordinha chamou a atenção de mamãe. — O horário de visita acabou, infelizmente, a senhora precisa ir. Os pacientes vão tomar banho. Cadê, o acompanhante? — ela quis saber.

— Ele está chegando. Vou mandar uma mensagem, um minuto. — avisou mamãe digitando uma mensagem para o Santino, que nos surpreendeu e entrou no quarto. — Olha só.

— Oi, Bruna. Oi, bebê. — Santino nos cumprimentou e colocou a mochila ao lado da minha cama.

Antes de ir embora, a mamãe passou mil recomendações para o Santino. O lado leoa falava mais alto nos piores momentos. Até sobre o meu banho (que vergonha meu Deus!).

Quem continuou do nosso lado foi a enfermeira gordinha. Aparentemente, o Santino já a conhecia. Ela aproveitou uns carinhos que o meu namorado me deu e tirou uma foto escondida, quer dizer, a gente percebeu e a coitada se assustou.

— Desculpa, desculpa! — pediu a moça, colocando o celular no bolso da farda e mexendo as mãos de maneira engraçada. — Eu gosto de amor entre garotos. Tenho uma página nas redes sociais onde posto fotos de namorados e...

— Tudo bem. — falei tentando acalma-la. — Você pode tirar uma foto, mas pode colocar uma legenda específica? — perguntei deixando o Santino agoniado.

— Claro! — exclamou a enfermeira batendo palmas e dando pulinhos.

O gay panic do Santino foi maravilhoso. Ele arrumou os cabelos, se posicionou ao meu lado e passou o braço direito em volta do meu pescoço, porém, com cuidado para não me machucar.

A moça pegou o celular e tirou várias fotos. Eu podia ver no seu sorriso que aquele ato era genuíno. Animada, ela se aproximou e mostrou todas as opções. Fiquei impressionado com a qualidade da câmera e, cara, as imagens ficaram incríveis.

— Qual o seu nome? — perguntei, fazendo uma careta, porque o meu ombro doeu.

— Ester. E, Kleber, qual a legenda? — ela questionou abrindo o bloco de notas.

— "Entre todas as chances que eu tive na vida, a melhor de todas, foi a chance de ter escolhido você", declaração de Kleber Viana para Santino Peixoto. — repeti a frase que ele me falou um tempo atrás.

— Que lindo!!! — gritou a moça chamando a atenção dos outros pacientes do quarto. — Desculpa.

Vermelho pimentão. O Santino entrou no modo monossilábico e ficou muito vermelho. Ele fingiu estar arrumando algumas roupas da mochila, porém, não conseguiu disfarçar. A enfermeira Ester postou a foto no grupo "Boys Love (BL)" e nos agradeceu. Entre os aplausos e gritinhos, ela orientou a melhor maneira do Santino me banhar.

— Ainda bem que vocês tem intimidade, né? Facilita mais. — soltou Ester para o desespero do Santino. — E tenha cuidado com os ferimentos. Sem movimentos bruscos. Às 18h, venho fazer os curativos e te dar os remédios para dor.

— Obrigado, Ester. — agradeci, sorrindo ao ver o Santino dobrando a mesma blusa pela quinta vez, provavelmente, envergonhado por demonstrar o nosso amor na frente de uma desconhecida.

— Até daqui a pouco. — para o alivio de Santino a enfermeira se despediu e saiu do quarto.

À sós, finalmente. Quer dizer, tirando os outros pacientes e seus acompanhantes que estavam cansados demais para reparar no casal gay que se declarava para a enfermeira maluquinha.

Com o auxilio do Santino, sentei em uma cadeira de rodas e a minha perna esquerda encostou no apoio de ferro, precisei fazer um esforço descomunal para não gritar. A equipe médica retirou as aturadas para o banho e a ferida não havia nem cicatrizado.

Eu percebi que naquele fim de tarde, o hospital estava mais movimentados. Médicos e enfermeiros passavam correndo pelo corredor apertado, então, o Santino precisava parar e afastar a cadeira do caminho.

O banheiro do hospital é aceitável. Haviam dois boxes, um pequeno e outro maior, no caso, o chuveiro. O Santino colocou a cadeira de rodas com dificuldade, entrou e trancou a porta de metal. Em seguida, ele pendurou a toalha no suporte e arrumou os produtos de limpeza que estavam em uma nécessaire azul.

Eu percebi que o meu namorado continuava calado demais. Quando ele deixou o sabonete no meu colo pude observar os seus dedos e todos estavam roxos. Apesar da dor no pulso, usei a única mão livre e segurei sua mão direita e levei até minha boca, então, a beijei. Uma lágrima escorreu no meu rosto. Eu senti como se tivesse falhado com o Santino. Prometi protege-lo e o fiz agir como um troglodita.

— Eu sinto muito, Santino. Eu sei como deve ter sido difícil para você. — falei fazendo carinho nos hematomas com o dedo indicador e chorando.

— Quando eu te vi caído no chão, uma raiva fora do controle tomou de conta do meu corpo. Eu queria causar a mesma dor no Francisco. Não é só você que precisa me proteger, Kleber. Eu vou te defender com unhas e dentes. Eu te amo e nada vai mudar isso. — Santino declarou respirando fundo. — Agora vamos tomar banho? — sorrindo e pegando o sabonete.

Sessão de tortura. Nunca tomei um banho tão doído. O sabonete era especial e as feridas não foram lavadas com água, mas sim com o soro fisiológico. Apesar de todo o cuidado do Santino, ardeu pra cacete.

Não vou mentir, eu chorei. Principalmente, na área do ombro. Pedi para o Santino contar e levei 15 pontos. Agora, a desgraça estava completa, além do pé podre, o ombro seguia para um caminho parecido.

— Será que ainda vou poder nadar? — perguntei para Santino, que deu com os ombros, mas lembrou da fisioterapia e garantiu que tudo daria certo.

À noite, com o banho tomado e alimentado, o Santino me mostrou várias mensagens de pessoas que estavam preocupadas comigo. Em seguida, ele abriu uma vídeo chamada e todos os nossos amigos estavam lá, a Giovanna, Enzo, André, Zedu, Yuri e o Richard. Conversamos por um bom tempo, até esqueci das dores.

Felizmente, a minha recuperação dentro do hospital durou apenas dois dias. Os médicos verificaram meus ferimentos e assinaram a carta de alforria daquele lugar. Achei uma pena que a enfermeira Ester não conseguiu se despedir de nós, mas foi bom saber que alguém torcia pelo nosso amor.

Para a minha surpresa, a mãe do Santino propôs que eu ficasse na casa deles, uma vez que o Sérgio não ocupava mais um dos quartos. O Sérgio, esse maldito, outro que merecia uns bons tapas.

Enfim, mesmo todo remendado compareci aos últimos dias de aula para as avaliações finais. Todos ficaram curiosos com o caso do aluno que foi atropelado pelo professor. Dei até entrevista para o jornal da faculdade, ou seja, uma verdadeira celebridade. #desculpa, Geisy Arruda.

Um dos momentos mais tensos da semana foi um encontro que eu tive com o Kiko na delegacia. Um juiz analisaria toda a papelada, além de conversar com as testemunhas do acidente. A surpresa ficou para com o Sérgio. Ele decidiu se entregar para as autoridades como um dos culpados pela foto vazar no casamento.

No coração, eu sentia um misto de pena com raiva. O Sérgio nunca gostou de mim, isso é um fato, porém, o sentimento que ele nutria pelo Santino era verdadeiro e de uma forma bem distorcida, ele pensou no bem do meu namorado. Afinal, eu não gostaria que outra pessoa enganasse o Santino.

Como resultado do primeiro julgamento, o Sérgio pegou uma pena branda, apenas sete meses de serviço comunitário. Antes de sair da delegacia, ele passou por nós, mas a única que o cumprimentou foi a Úrsula, que havia se apegado e o considerava um filho. Só, que pela primeira vez na vida, a minha sogra decidiu apoiar o filho e não permitia o retorno de Sérgio em casa.

O Kiko fez um escândalo quando me viu. Ele estava sendo escoltado por um grupo de policiais armados. Gritando, o meu ex-namorado implorou por perdão e garantiu que se trataria. Infelizmente, ele buscou esse futuro sombrio, tentei me afastar de todos os jeitos, entretanto, a nossa história encerrou dessa maneira tão triste.

Os meus amigos seguraram uma barra para cuidar de mim quando o Santino não podia. A parte mais complicada era ir ao banheiro, porém, eles não dispensaram me ajudar.

Naquela altura do campeonato, a única coisa que me preocupava era o trabalho. Consegui uma dispensa de um mês, entretanto, não ficava confortável por saber que o meu salário seria deposito na minha conta e eu não tinha ajudado em nada.

No último dia de aula, nós resolvemos ficar de boas na área de convivência dos estudantes. Santino e eu, sentamos no chão, um fazendo carinho no outro; Giovanna, gravando um vídeo para as redes sociais, enquanto, o André e Enzo, procuravam por prédios para iniciar uma startup.

Eu fiquei muito orgulhoso do Santino. Apesar de trabalhar dobrado, uma vez que cuidou de mim e estudava para as provas, conseguiu sair como um dos melhores alunos da turma. Sabe quem foi a primeira?

— Meus súditos! — exclamou Giovanna fazendo uma pose que envergonharia até a Rainha Elizabeth. — Essa semana, vou participar do concurso de música da faculdade. A torcida conta ponto, então, vocês já sabem, né?

— Devemos correr para as colinas? — perguntei rindo da minha própria piada ruim.

— Muita boa, o Zé do ponto. — brincou Giovanna se referendo ao meu ferimento no ombro.

— Santino, amigo lindo e querido, eu quero vários cartazes escrito "Giovanna" com letras enormes. Ou melhor, cada um de vocês seguram uma letra do meu nome: G-I-O-V-A-N-N-A. Vai ser épico. — continuou Giovanna mexendo os braços de forma engraçada.

— Santino. — Sérgio chamou a atenção do Santino, que estava sentado ao meu lado.

— Sérgio. — soltou Santino olhando para mim.

— Eu posso falar com você, por favor. — ele pediu, nem parecendo o mesmo babaca arrogante que era.

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