Reencontro do trio A.B.O.

Um conto erótico de Kherr
Categoria: Homossexual
Contém 20242 palavras
Data: 27/03/2021 08:01:59

Reencontro do trio ABO

Havia pouco mais de um ano que eu regressara a minha cidade natal no interior paulista após a conclusão do curso de medicina e da residência médica, que me privaram do convívio com ex-colegas de colégio que foram ficando cada vez mais apenas nas lembranças. O tênis clube da cidade continuava sendo um ponto de encontro das famílias, onde ocorriam os eventos sociais que costumavam preencher a coluna de fofocas do jornal da cidade. Tinha sido meu lugar favorito na cidade quando criança. Foi à beira das piscinas dele que fiz minhas primeiras amizades, foi nas águas delas que iniciei a prática da natação e onde conquistei minhas primeiras medalhas no esporte, foi onde dei meu primeiro beijo numa garota durante o concorrido baile anual da primavera quando já me julgava um homem e não mais um adolescente, embora minha idade comprovasse o contrário.

- Ora, ora, o bom filho à casa torna! Otávio Breton! Ei-lo de volta às origens! – a voz festiva e alegre não me era desconhecida, embora estivesse alguns timbres mais grave.

- Ben! Benício Tardelli! O cara mais tarado que esta cidade já criou! Não dá nem para acreditar, saca só a beca do mauricinho! – exclamei quando encarei a cara risonha do garoto mais mulherengo do colégio, agora um homem com direito a uma barba bem desenhada na cara, o que lhe conferia um ar de astro de cinema. A garota que estava com ele me encarou com reservas, depois de eu ter chamado seu namorado de tarado.

- Você acredita que a gente chamava esse baita cara de Tavinho, amor? Bicampeão de natação dos jogos interestaduais de estudantes! De que ano mesmo? – continuou ele, me elogiando por feitos do passado.

- E você Ben! Cestinha do time de basquete, responsável por três taças de campeão do colégio! – devolvi, retribuindo o elogio e lhe dando os merecidos créditos que ainda deviam estar expostos na estante da sala do diretor.

Depois de uma meia hora nessa troca de confetes, questionamentos sobre nossas atuais profissões, indagações sobre nossos familiares, me dei conta de que havia esquecido por completo da minha prima que me acompanhava no baile e, a quem tinha deixado num grupinho para buscar umas bebidas. Ao arrastar meu amigo Ben e a namorada comigo até a mesa onde eu a havia deixado, constatei que meu esquecimento tinha sido providencial para ela, pois o carinha que não tirava os olhos de cima dela, acabou criando coragem com a minha ausência para se aproximar dela. Acho que foi por isso também que ela, me lançou um sorriso amarelo quando voltei acompanhado, fazendo as devidas apresentações, enquanto o que ela queria era ficar a sós com o sujeito boa-pinta que a chavecava. Outra descontente com aquela situação era a namorada do Ben, visivelmente incomodada pelo namorado estar dando mais bola para mim do que para ela. Para não estragar a noite da minha prima e, dar uma chance para o sujeito a deixar impressionada e convencida o suficiente para um futuro encontro, eu e o Ben procuramos um canto mais reservado do salão, enquanto a namorada entediada já começava a dar sinais de chilique iminente. Ele realmente não demorou a acontecer. Primeiro ela deu um tempo dizendo que ia ao toilette, levou uns vinte minutos para voltar, se enganchou no braço dele e, não duvido, deu alguns beliscões, pois o Ben perdeu por uns segundos o rumo do que estava dizendo para se voltar para o braço atacado pela leoa enciumada. Depois, deixou a tromba de descontentamento escancarada para quem quisesse ver, enquanto enchia o saco do Ben para que a levasse para casa, o que ele nem se deu ao trabalho de registrar, deixando-a tão puta que ela resolveu dar adeus e sumir no meio do salão lotado.

Eu não estava nem aí para a garota e, pelo visto, o Ben também não, tanto que nem um ‘tchau’ deu quando ela saiu pisando firme. Era bem o estilo dele, de início corria atrás delas feito um garanhão que sentiu o cheiro do cio no ar, quando elas caiam da lábia dele, não dava trégua às visitas em suas bucetas e, quando se cansava do brinquedo, ou achava que estava perdendo coisa melhor, vinha a indiferença que acabava por afugentá-las. Isso fez a fama de tarado se espalhar por todo colégio e, mesmo assim, sempre havia garotas candidatas ao posto de ficante da vez. A balada bombava à medida que a madrugada ia avançando, quase alheios a tudo ao redor, o Ben e eu íamos falando e rindo dos episódios do passado, quando quase simultaneamente, avistamos ninguém menos do que o terceiro mosqueteiro daquele trio popular que formávamos no colégio, Alex, Alex Dekaoury; que, ao nos avistar pelo escandaloso agitar de braços do Ben, veio direto em nossa direção com seu sorriso econômico e ponderado.

- Se não são meus dois escravos preferidos! – exclamou, quando chegou junto a nós, nos fazendo rememorar que, de certa forma, ele sempre tinha feito de ambos uma espécie de seus serviçais, quando aprontava alguma de suas inúmeras traquinagens e, pelas quais, muitas vezes, fomos o Ben e eu que acabamos parando na sala do diretor e, levando vexatórias cartas de advertência para casa. – Não sabia que estavam na cidade! Achei que estivessem perdidos mundo afora! – emendou, enquanto nos abraçava festivamente.

Fomos praticamente expulsos do clube pelos seguranças exaustos e de mau-humor que queriam fechar as instalações ao final do baile, quando o alvorecer já se anunciava entre as nuvens cinzentas que começavam a se iluminar e ganhar tons multicoloridos. Não fomos longe, uma mureta baixa na calçada do lado de fora do gradil do clube serviu de sala para o bate-papo saudoso que não encontrava fim, e onde terminamos de entornar as latas de cerveja surrupiadas, ainda geladas, enquanto o pessoal que tinha comandado o bar se ocupava de fechar o balanço da festa. Fazia tempo que eu não me sentia tão feliz, tão completo. O reencontro do trio me transportou a um tempo onde aqueles meus gigantescos problemas agora me pareciam apenas um grãozinho de areia na vastidão da praia e, onde mesmo assim, era na amizade deles que tudo encontrava solução.

- Tratem de ir curar essa bebedeira em suas casas! – ordenou zangado o segurança da guarita de entrada do clube. – Não me obriguem a chamar a polícia para fazer isso! – emendou, ante nossas caras abobalhadas que caíram na risada depois da ordem que nem sequer era cogitada acatar.

Afastamo-nos alguns metros, e foi só. O efeito diurético das cervejas já se fazia presente, banheiros só dentro do clube onde não seríamos aceitos nem que estivéssemos tendo um infarto ou, em nossas casas, para onde nem pensamos voltar antes do bate-papo estar concluído. As mini-azaléias do canteiro da mureta foram as agraciadas com o nosso mijo volumoso, enquanto a familiaridade daquela cena começava a deixar nossas palavras cada vez mais sinceras.

- Saca só a bunda do Tavinho! Você já viu bunda mais gostosa que essa? Pergunta se um rabão desses é coisa de homem. Meu caralho sempre foi tarado por esse bundão lisinho, e o seu Alex? – sentenciou o Ben quando foi a minha vez de aliviar a bexiga e, minha calça escorregou até os joelhos enquanto eu tentava acertar o canteiro com o jato do mijo e não os meus pés.

- Vai procurar a garota que você deixou na mão, ela deve estar interessada na tua pica, não eu! – devolvi, fazendo-o cair na risada.

- Lembra dessa bundinha pelada, Alex, no vestiário da quadra de esportes? A molecada ficava de pau duro quando o Tavinho tirava a sunga e ia para os chuveiros. Quantas noites não acordei todo esporrado na cama, sonhando com esse rabo. – revelou o Ben.

- Eu tô lá interessado em rabo de macho? Isso é coisa para tarados feito você! – retrucou o Alex, de forma tão enfática e desprovida de interesse que me deixou o restante do dia rememorando um episódio do passado, quando já me encontrava em casa e cuidando da ressaca por não estar habituado a beber.

Os jogos interestaduais de estudantes aconteceram noutro Estado naquele ano, o que levou o colégio a fretar dois ônibus para levar os esportistas até o evento. Ficamos alojados em duplas, em barracas montadas na quadra de esportes de um colégio participante que havia cedido suas instalações para as equipes. Eu dividi a minha com o Alex por toda a semana dos torneios, e tive que abrir meu saco de dormir ao lado do dele, no espaço confinado da barraca. Findos os jogos, fazia tempo que nosso colégio não tinha um desempenho tão bom como naquele ano. O Alex trouxe o primeiro troféu do colégio como campeão de judô, e sua segunda medalha de ouro no esporte pendurada no pescoço. O Ben, cestinha disparado dos jogos, com mais do que o dobro da pontuação do segundo colocado, fez com que o troféu de bicampeões daquele ano viesse para o nosso colégio. Eu, trouxe na bagagem o primeiro troféu do colégio de campeão de natação modalidade crawl, e vice-campeão individual nos 200 metros no nado Medley. A galera apesar de exausta devido as competições, embarcou nos ônibus de volta cantando, zoando e se vangloriando de como tinham vencido os adversários nesse ou naquele esporte. Os quilômetros de estrada que pareciam não ter fim, foram ajudando a derrubar um aqui outro acolá até que, já noite escura, só se ouvia o sussurro monótono do motor e do ar deslocado pela velocidade do ônibus e, de quando em vez, alguém roncando embalado na despreocupação da juventude. Como alguns pais de estudantes tinham ido participar da cerimônia de encerramento e entrega dos troféus, o ônibus tinha muitos lugares vazios; mesmo assim, o Alex e eu ocupávamos um par de bancos quase no final da cabine. Em determinada hora o sono também nos venceu. Eu me enrodilhei no assento voltado para a janela e contava com o embalo da vibração da carroceria para pegar no sono. Estava me arrependendo de não ter ocupado uma fileira de bancos vazia ao invés de ficar disputando aquele espaço exíguo com um cara tão grande quanto eu, quando senti o Alex encostado nas minhas costas e, constrangedoramente encaixado na curvatura saliente da minha bunda. Fizera um dia quente, por isso vesti apenas um short e uma camiseta, como a maioria da galera, para enfrentar a viagem de volta. Apesar do ar-condicionado ligado, o abafado da noite também estava presente na cabine que, somado ao calor que minava do corpão parrudo do Alex, me impediu de cair no sono profundo, e tive que me contentar com breves instantes de cochilo. Durante um deles, quando não ficava claro se estava realmente dormindo ou apenas sonhando, senti que uma mão puxava meu short para baixo e punha minha bunda a descoberto. Fatigado demais para dar importância a isso, encaixei meu rosto na concha que minhas mãos formavam abrigando minha cabeça junto ao espaldar da poltrona. Também tinha algo se insinuando entre as minhas coxas, nada que valesse apena conferir, uma vez que isso me tiraria aquele estado de torpor gostoso que ia ganhando força e me fazendo relaxar. No entanto, aquilo que começou como um tênue resvalar, começou a se intensificar e agora já era possível distinguir sensivelmente que alguém, sem roupa, estava me encoxando e que, aquele algo, antes flácido, estava tão rijo quanto uma barra de aço me cutucando muito próximo do cuzinho desprotegido. Melhor tentar outra posição, talvez o incômodo fosse embora e eu pudesse continuar dormindo. Porém, ao tentar pôr esse pensamento fugaz em prática, aquela coisa rija e molhada se posicionou sobre a minha rosquinha anal e, com um movimento abrupto, penetrou meu cu, me obrigando a soltar um ganido, tanto pelo susto, quanto pela dor de sentir algo se rasgando naquele lugar tão íntimo e resguardado. Eu conhecia aquele arfar, conhecia aquele hálito, conhecia aquele cheiro que estava junto à minha nuca, enquanto aquela coisa descomunal deslizava para dentro do meu cu. Não havia dúvida alguma de quem era o dono daqueles braços musculosos que envolviam meu tronco e me seguravam tão junto daquele tórax robusto que eu podia sentir o coração dele batendo numa cadência agitada ecoando nas minhas costas. À medida que aquela coisa enorme entrava em mim, a dor aumentava e eu precisava urgentemente encontrar outra posição, pois nas minhas entranhas as estruturas iam sendo deslocadas para alojar aquela coisa roliça e latejante, que eu bem sabia o que era. Para abafar minha respiração que se transformara num ganido constante e alto o suficiente para fazer alguém despertar e voltar sua atenção para onde estávamos, uma mão pesada cobriu meus lábios, sufocando minha agonia. A penetração em profundidade terminou quando senti que, além daquilo que estava entalado no meu cu, minhas nádegas aprisionavam algo do tamanho de uma bola de tênis, pois não só o volume, como a textura, a pelagem macia e a consistência se assemelhavam a ela. Por alguma razão eu não reagia. Eu sabia o que estava acontecendo, sabia quem estava fazendo aquilo comigo, mas não reagia. Até curti aquele vaivém que começou a mover o troço roliço e quente através dos meus esfíncteres, me proporcionando uma sensação ímpar e inusitada. Até aquela agonia inicial deu lugar a uma calmaria que me mantinha encaixado no meio daquelas coxas peludas e fortes, fazendo com que da mão pesada que cobria minha boca, apenas dois dedos inquietos penetrassem nela. Eu os chupei, pois mesmo naquela escuridão eu seria capaz de descrevê-los em detalhes, já os tinha visto centenas de vezes e, sabia a quem pertenciam. Um repentino trecho de ondulações na pista fez o ônibus sacolejar, transmitindo a reverberação para aquilo que estava no meu cu. O vaivém cessou, ficaram apenas as vibrações, houve uma estocada bruta que garantiu a penetração completa e, logo em seguida, aquela umidade escorrendo para dentro de mim, morna, pegajosa e tão abundante que me senti encharcado por dentro. O arfar na minha nuca estava tão próximo que o ar exalado roçava minha pele, uma lambida e uma mordiscada que a prendeu entre dentes afiados me fez gemer, não de dor, mas causada por uma sensação prazerosa que eu até então desconhecia. Aos poucos, e com a vibração da carroceria, senti aquilo deslizando lentamente para fora do meu cu, deixando nele a umidade, a ardência, e o enorme vazio. Eu estava mais desperto do que nunca, estava imobilizado num estado de puro êxtase, mesmo quando Alex virou seu corpo para o outro lado e caiu no sono. Jamais, em tempo algum, qualquer um de nós fez qualquer alusão ao que aconteceu naquelas poltronas, o que o passar dos anos foi deixando aquilo mais parecido com alguma cena de um filme, um pensamento passageiro e delirante, um algo que na realidade talvez nunca tivesse acontecido de fato. De qualquer modo, a fala do Alex em relação a observação do Ben, trouxe esse episódio à tona das minhas memórias.

No segundo verão depois disso, cada um de nós seguiu seu caminho com a conclusão do colégio e o ingresso nas faculdades em outras cidades. Antes disso, ainda trouxemos mais alguns troféus para ornar a sala do diretor e, de certa forma, imortalizar nossa passagem por ali.

O reencontro daquela noite, uma década depois, foi tão especial justamente por conta desses feitos durante a adolescência. Não éramos mais os garotos a poucos anos da fase adulta que desde a infância foram construindo aquela amizade, estávamos de volta como homens feitos com suas carreiras tomando impulso. O curioso é que durante todo esse tempo não mantivemos contato, mas no reencontro ficou evidente que as coisas pareciam ter ficado paradas apenas um breve lapso de tempo, como acontecia quando dizíamos – até amanhã – ao voltarmos para nossas casas depois de um dia cheio de acontecimentos.

Na mesma semana retomamos a amizade, combinando um chope ao cair da tarde, onde aquela década obscura foi sendo desvendada papo após papo. Foi seguindo assim por alguns meses, quando fomos percebendo que nenhum de nós estava feliz com a maneira como nossas carreiras se desenvolviam naquela cidade. Era como se estivéssemos pisando no freio ao invés do acelerador. Eu trabalhava num hospital privado da cidade, cumprindo uma jornada exaustiva e dando três plantões de vinte e quatro horas durante os finais de semana, restando-me apenas um para curtir a vida, os amigos e a família. Geralmente estava tão cansado que era como se eu não estivesse ao lado deles por inteiro. Os melhores cargos, com menos horas e mais bem remunerados, estavam nas mãos dos filhos de médicos renomados da cidade que também eram donos dos hospitais, laboratórios e clinicas privadas deixando para quem, como eu, que não tinha nenhum parente nessa condição, sujeitos a pegar o que havia disponível. Com o Alex, que cursou direito e se especializou em direito empresarial internacional também não havia onde aplicar todos seus conhecimentos, atuando como advogado assistente num escritório tradicional da cidade, uma vez que no dele, apareciam alguns gatos pingados com questões simples que mal davam como cobrir os custos de aluguel e secretária. A situação do Ben se assemelhava à nossa. Engenheiro de software, pós-graduado em inteligência artificial, sua atuação se restringia à prestação de assistência técnica às poucas industrias da cidade com capacidade de requerer seus serviços.

Nossa conversa daquele final de tarde, que foi avançando noite adentro, na mesa dos jardins de um badalado barzinho versava sobre essa insatisfação coletiva. Éramos intrépidos, ousados, e aquela cidade se mostrava pequena e provinciana demais para acomodar nossos sonhos. Ao sermos convidados a nos retirar pelos garçons que queriam fechar o estabelecimento depois de um dia cansativo, e vermos que éramos os últimos a ocupar uma mesa, fechamos a questão. Íamos juntos procurar outro lugar para viver e prosperar. A capital se afigurou a opção mais promissora, mas a batida do martelo ainda ia depender de mais algumas rodadas de chope na mesa de um bar, antes de darmos início à grande mudança.

Tudo acertado, chegamos à capital na véspera de um feriadão, quando meio mundo parecia fazer o trajeto inverso, congestionando as pistas da rodovia no sentido contrário, numa sexta-feira de chuva fina. Teríamos feito a opção certa? Foi o que nos perguntamos ao ver todos aqueles carros seguindo rumo ao interior do Estado. Chegar ao apartamento alugado algumas semanas antes foi um calvário, e vê-lo completamente vazio, desolador. Havia muito o que fazer antes de termos um mínimo de conforto entre aquelas paredes. Porém, éramos otimistas, estávamos ali para dar a cara a bater, seja o que Deus quiser dissemos quando, sentados no chão da sala, devorávamos uma pizza e brindávamos com o tilintar das próprias latinhas de cerveja o nosso novo endereço.

O Ben foi o primeiro a se empregar. O currículo que enviara quando ainda estava no interior e nossas conversas não passavam de suposições, levou-o a uma conceituada empresa do ramo, e a uma posição bem-remunerada. Eu fui o segundo, um contrato junto a um hospital de porte me levou a assumir a chefia dos médicos intensivistas e, menos de um mês depois, outro convite para integrar a equipe assessores clínicos de uma rede de laboratórios, acabou por ocupar todo meu tempo disponível que, apesar disso, ainda tinha uma carga horária bem menos estafante do que aquela que eu cumpria no interior. O Alex foi o último a ser recompensado por sua dedicação na procura de um bom emprego. Um escritório especializado em fusões e aquisições o chamou para reforçar o time de advogados, acenando com uma participação como sócio dentro de vinte e quatro meses, se ele se adaptasse bem à equipe.

Já durante o primeiro ano, fomos constatando que o apartamento não atendia integralmente nossas necessidades. O fato de haver apenas uma suíte e dois quartos nos levou a sorteá-la nos palitos, o maior ficou com o Alex e, portanto, ele assumiu o espaço mais privilegiado. A disposição dos cômodos também foi se mostrando pouco prática para as atividades que fazíamos no apê e, a necessidade de encontrar um lugar que tivesse mais a nossa cara, foi se tornando mais urgente.

- Dá para você cobrir essa coisa com o básico para que não sejamos obrigados a dar de cara com esse bagulho cada vez que você sai do banheiro, Ben? Caralho! Já te pedi isso umas mil vezes, cara! – protestei, mais uma vez, ao entrar em casa e dar de cara com a pica do Ben oscilando feito o pêndulo de um relógio entre as suas pernas. O safado se limitou a rir.

- Quem sabe você acaba se encantando com ele e me dando uma chance nessa bundona gostosa! – exclamou, procurando com o olhar a conivência do Alex que, como sempre, estava mais interessado em seus problemas do que nos de qualquer outro.

- Fala alguma coisa, cara! Manda ele parar com isso. As janelas dos prédios vizinhos estão tão próximas que qualquer hora dessas a polícia vem tocar aqui nos acusando de atentando violento ao pudor. Você bem sabe que isso é crime. – pedi ao Alex, uma vez que durante aqueles meses de convívio, foi ele que começava a despontar como a liderança no apartamento.

- Há controvérsias se trata-se mesmo de atentado violento ao pudor ou, se estamos falando das complexidades do crime de importunação sexual – devolveu ele, indiferente às minhas queixas.

- É crime, seja lá a ladainha que vocês advogados inventam para safar seus clientes. E, para mim, você é cumplice desse tarado doente! – exclamei zangado, fazendo com que os dois se entreolhassem como se estivessem realmente mancomunados.

Afora essas pequenas rusgas, comuns quando os relacionamentos perdem aquele crivo social e se tornam tão íntimos que permitem discordâncias sem perderem sua força motriz, vivíamos muito bem adaptados às manias uns dos outros.

Fui o primeiro a anunciar que estava namorando. Tinha conhecido a Luiza no hospital durante um dos meus plantões. Ela estava de plantão no Pronto-Socorro infantil quando nos conhecemos, atendendo a uma criança vítima de atropelamento que havia entrado em estado comatoso e precisava ser transferida para acompanhamento na UTI. Ela era bonita, alta, loira natural, tinha um sorriso de arrasar quarteirões e um par de olhos que eram pura bondade. Por cerca de um mês ficamos naquele chove-não-molha, tomando café juntos na lanchonete do hospital durante os breves intervalos de pausa, fingindo que os encontros para o almoço eram apenas uma coincidência e trocando emojis diários pelo celular. Na primeira oportunidade, convidei-a para um cineminha, ela retribuiu me convidando para um churrasco na casa de um casal amigo, alguns dias depois. Ao deixa-la em casa nele final de tarde rolou o beijo que já não foi o mesmo de quando nos despedimos após a sessão de cinema. Havia nele um acordão de que tínhamos passado para um estágio mais avançado e, dali em diante, entendemos que estávamos compromissados. Contudo, só fiz o anúncio dentro de casa quando completamos três meses de encontros, e eles começaram a ser objeto de curiosidade por parte do Alex e do Ben.

As saídas do Ben não eram levadas a sério, uma vez que a garota sempre tinha outro nome novo, o que nos levava a nem nos darmos ao trabalho de cravar o nome da garota com a qual ele estava saindo. Tal qual na época do colégio, quando seguramente mais da metade das meninas já agasalhou a jeba do Ben nas bucetas, o Alex e eu sabíamos que a mulherada da empresa na qual o Ben trabalhava estava entrando para a mesma estatística.

Sempre o mais reservado de todos, o Alex não fazia comentários sobre suas saídas, seus encontros, onde tinha passado a noite ou o final de semana inteiro. Quando o colocávamos contra a parede, ele dissimulava inventando uma estória qualquer. Mas, havia alguém, ao menos eu tinha certeza que sim, pois vi o nome Bia na tela do celular dele, em duas ocasiões em que estava distante do aparelho quando ele tocou. Para atender as ligações, ele se enfiava em seu quarto e, nem as tentativas do Ben ouvir a conversa atrás da porta deram resultado. E assim, nos conformamos com aquela aura de mistério que sempre rondou a personalidade do Alex. Ele era assim, esquivo, taciturno, misterioso e, pronto. Não havia o que fazer para mudar isso.

No dia em que fui ao churrasco com a Luiza na casa do casal amigo dela, passamos por uma casa com placa de – Vende-se – na mesma rua. O imóvel estava meio decadente, mas o quintal do casal, que estava localizado num terreno com a mesma metragem, despertou meu interesse pela casa.

- Uma reforma? Isso é um porre! É o jeito mais fácil de foder com as nossas contas bancárias, uma vez que você começa achando que vai ser uma coisa simples e quando se dá conta teve que refazer praticamente tudo.

- E você, Alex, qual seu veredicto? – questionei, uma vez que o Ben hesitava com a ideia.

- Concordo com o Ben. Porém, seria um desafio bem legal encarar um projeto desses. Já vimos que o apê não nos atende e que uma mudança terá que ser encarada mais cedo ou mais tarde. Eu topo, se não for algo muito grande. – afirmou

- Dois contra um, vencemos! – exclamei, contente.

- Dois contra um o caralho! O Alex não concordou, só disse o que pensava a respeito. Daí a se enfiar numa reforma custosa tem muito chão! – retrucou ele. Olhei para o Alex. Ele meio que esperava por isso. Cada vez que os três entravam num impasse, eu lançava esse olhar na direção dele, pois parecia que ele sempre ia tomar meu partido.

- Vamos ver a casa primeiro! Depois me decido por quem vou apoiar. – sentenciou, ao que lhe dirigi um sorriso, pois estava quase certo que ele me apoiaria. Já o Ben começava a entender que tinha perdido a batalha.

Unanimemente gostamos da casa. Havia muito a fazer, mas ela tinha caído nas graças dos três, cada um ao seu modo, projetou o que esperava dela após a reforma. Contratamos um engenheiro e pusemos mãos à obra. A previsão de entrega, conforme nossos desejos, aconteceu dois meses antes do combinado e, a um custo ligeiramente maior que orçado sem arruinar nossas finanças. Enfim, estávamos satisfeitos. Cada um tinha sua suíte, bastante ampla, que garantia privacidade, e as áreas comuns bem planejadas e decoradas com a ajuda da irmã do Alex, que era arquiteta, eram motivo de elogios para todos os amigos que passamos a convidar regularmente para festinhas, churrascos, ou mesmo visitas ocasionais.

Quem basicamente cuidava das refeições que fazíamos em comum era o Alex e eu, pois o Ben era uma negação na cozinha, para não dizer um verdadeiro desastre. Num dos costumeiros conselhos nos quais nos reuníamos para discutir algum tópico, o condenamos a se manter o mais afastado dela possível, pois até as louças e aparelhos portáteis ele conseguia quebrar com uma facilidade tremenda. Para nos recompensar por isso, ele assumia a churrasqueira quando promovíamos os encontros com os amigos, e era muito bom nisso.

A presença de um quintal espaçoso no imóvel nos levou a instalar uma jacuzzi a céu aberto num deque que a irmã do Alex nos sugeriu construir por achar que era o toque que faltava para deixar o espaço aconchegante. Virou meu calvário toda vez que a usava. Desde os tempos do colégio, o Ben se assanhava para o meu lado toda vez que não encontrava em quem meter a rola insaciável. Chegamos a nos engalfinhar algumas vezes, mas isso nunca o intimidou ou o fez parar de me assediar. Com o tempo, deixei de me irritar com ele, só contornando suas investidas ora com mais firmeza, ora dando de ombros.

Domingo lindo de sol, quente desde cedo, nada a fazer a não ser aproveitar para descansar. A Luiza estava de férias e viajou com os pais por três semanas para a Turquia. Portanto, sem namorada. O Alex tinha sumido na sexta-feira logo após regressar do trabalho, para um de seus compromissos misteriosos. Não dormira em casa desde então. Sunga, óculos de sol, fones de ouvido e celular, fui tomar sol no deque após uma breve imersão na jacuzzi. Não se passou nem um quarto de hora e o Ben estava ao meu lado, falante, irrequieto, cheio de piadas pornográficas. E, conhecendo-o como o conhecia, certamente sem ter estado dentro de uma buceta há alguns dias. O comportamento atirado dele nessas situações era quase uma marca registrada.

- Sunga nova? – começou, assim que se sentou ao meu lado sobre o tabuado do deque.

- Não começa, Ben, que saco! – exclamei, tentando me fazer de zangado.

- Calma! Só fiz uma pergunta!

- É, eu sei onde você quer chegar com essa pergunta.

- Se sabe, por que não facilita as coisas, estou matando cachorro a grito! – ele era tão safado e cativante ao mesmo tempo que não dava para ficar verdadeiramente furioso com ele. Era seu jeito, nada mais.

- Vai procurar um puteiro!

- Já conheço tudo que tem num puteiro. Não adianta procurar outros, pois são todos iguais. Quero novidades. – retrucou

- Vai bater uma punheta e depois se enfia debaixo da água fria. – devolvi, sem prestar muita atenção nele.

- Não estou precisando de um médico me prescrevendo tratamento. – afirmou.

- Disso eu sei! Você precisa de um psiquiatra e um psicólogo, e tem que ser dos bons. Quem sabe consigam dar um jeito nessa compulsão doentia. – asseverei.

- Você sabe que não preciso nada disso! Só preciso de você, que seja carinhoso comigo, que quebre meu galho.

- Pirou? Só pode! Está me achando com cara de puta?

- Jamais ia pensar isso de você. Você é meu amigo, é meu parça, meu quase irmão, podia se comover com a minha situação, se gostasse de mim nem que fosse um tantinho assim. – o pilantra não era fácil. Eu ri.

- Essa é a questão, não gosto de você! – provoquei. Ele soltou uma gargalhada.

- Você me ama, só não descobriu ainda! – exclamou. Foi minha vez de soltar uma gargalhada nervosa.

Desde que estávamos morando sob o mesmo teto, eu ainda não tinha chegado a uma conclusão se esse tanto que eu gostava dele era um gostar de colegas afinados, um gostar fraternal de irmãos que não conhece limites, ou um gostar inspirado na transformação que o corpo dele sofreu, de menino para homem, o que positivamente tinha modificado minha maneira de enxergá-lo. O fato de eu ter ficado repentinamente em silêncio, parecendo não encontrar uma maneira de contra-argumentar, deixou tudo mais estranho. Para disfarçar, liguei os jatos da jacuzzi e entrei nela, pensando estar seguro ali dentro. Ledo engano, ele me seguiu, e nem se preocupou em esconder a descarada ereção dentro da sunga. Não sendo gay, por que o cacete duro de um cara me deixava desconfortável? Aliás, por que certos tipos de caras me deixavam desconfortável? Era embaraçoso demais procurar uma explicação para isso.

- Seja sincero comigo. – recomeçou ele.

- Lá vem besteira!

- Não! Seja sincero. Se eu estivesse precisando de respiração boca-a-boca numa eventual emergência qualquer e só você estivesse comigo, você ia me salvar? – indagou.

- Te deixava morrer!

- Mentira! Você jurou por Hipócrates! Pedi para você ser sincero, porra! – retrucou irado.

- Sabe por que você está enchendo meu saco com essa conversa? Porque você sabe a resposta e porque você está dando voltas e voltas para dizer que está a fim da minha bunda. – devolvi. Ele ficou alguns minutos em silêncio dando petelecos na superfície da água.

- Ao contrário de você, eu sou sincero! Estou a fim de sua bunda, nunca escondi isso. A questão é, você sabendo disso e do quanto gosto de você, vai liberar ela para mim?

- Não sou gay! – respondi enfático.

- Não foi isso que perguntei! Também não é o fato de você ser ou não ser gay que está sendo discutido. Caralho, eu só quero saber se você deixa eu colocar meu pau na sua bunda, só isso, simples pra caralho. – retrucou ele.

- Saco, Ben! Eu não sei! Está contente agora? Eu não sei! Tá feliz! – exclamei exasperado. Nossos braços já estavam se roçando há algum tempo, depois da minha explosão, ele se virou para mim e me abraçou.

- Vamos descobrir juntos? – senti os lábios dele tocando os meus e, junto com um calafrio na coluna, senti o peso dele se debruçando sobre mim.

Minhas mãos seguiram tímidas em direção ao tronco dele e o seguraram hesitantes a princípio, antes de o envolverem. Ele se deliciava cada vez mais com o sabor da minha boca, ousava enfiando nela a língua impudica e safada da mesma maneira como fazia com as mulheres para deixar suas vaginas molhadas. Obviamente eu não tinha uma para ficar úmida, mas comecei a sentir o tesão me excitando, endurecendo meu pau, convulsionando meu cu. O Ben é um homem bonito, atlético, másculo, atraentemente sacudo, o que fazia com que os mais primitivos desejos lascivos aflorassem. Meu corpo nunca estivera em suas mãos como naquele momento, tão cheio de energia, encantadoramente esculpido pela natureza, definido e voluptuoso a ponto de incitar o tesão de qualquer um. O Ben não se privou de explorá-lo, não sabia se aquela seria a única oportunidade que teria para isso, e tratou de aproveitá-la ao máximo, tirando de sua sensualidade um prazer novo. Ele comprimia minhas costas contra a lateral da jacuzzi exatamente sobre uma das saídas dos jatos d’água, o que massageava minha pele que, em conjunto com o movimento de suas mãos, me deixava todo arrepiado. Também contribuía para esse estado alucinado, a visão de sua pica enrijecida ganhando volume e tamanho pela refração da água. Aos poucos ele foi puxando minhas pernas para cima, abrindo-as para se encaixar no meio delas, dobrando meus joelhos assim que eles emergiram. Eu parecia estar numa mesa ginecológica com ele libidinosamente encastoado nas minhas coxas. Enquanto me beijava impulsivo e determinado, sentindo como minha boca retribuía generosa às suas investidas, o movimento de sua pelve desvairada fazia com que o cacete dele deslizasse ao longo do meu rego lisinho. Eu chegava a ficar sem ar quando sentia a jeba dele pincelando minha rosquinha. Me encarando e ajoelhado na jacuzzi, ele guiou o caralho até a cabeça estufada ficar sobre a fendinha raiada do meu cu, colocou um beijo suave nos meus lábios e meteu seu falo em mim. Soltei um ganido que o deixou doido de tanto prazer. Eu precisei de uns segundos para me acostumar com aquele pinto do meu rabo, o que ele concedeu com um olhar embevecido antes de enfiar a caceta toda no meu cu. Ambos delirávamos de prazer com aquela conjunção tão perfeita. Acariciei o rosto dele sentindo as pontas dos meus dedos sendo pinicadas pela barba hirsuta que lhe conferia uma virilidade generosa. Deixei que o Ben estocasse meu cuzinho com toda a vastidão de sua tara, que crescia à medida que os meus espasmos anais mastigavam e sugavam sua rola para o interior do meu corpo. Meus gemidos o excitavam, faziam-no grunhir, exteriorizando luxuria e devassidão. Aquele par de olhos em encarando tão singelos e sedutores, implantavam no meu peito algo que até então eu nunca tinha sentido pelo Ben, cumplicidade e ternura. Envolto por esses sentimentos e por seu membro esfolando minha mucosa anal, comecei a gozar, ganindo e ejaculando até que toda a aquela tensão acumulada se dissipasse do meu corpo. Ele me lançou um sorriso ladino, quase tão perverso quanto a sevícia com a qual me fodia, o que o tornava ainda mais sedutor.

- Deixa eu gozar em você Tavinho? – murmurou, procurando segurar o urro que crescia em seus pulmões junto com a iminência do gozo.

Sem esperar pela resposta, talvez pela urgência, ele começou a esporrar meu cu, liberando naquele som roufenho todo o prazer que minha rosquinha apertada tinha lhe proporcionado. Nenhuma outra troca podia ser mais preciosa do que a que estávamos vivenciando, não apenas o prazer que comungávamos, mas a consolidação de algo que até então não existia em nosso relacionamento. Naquele instante percebi que ambos fazíamos descobertas, ele de como era prazeroso estar dentro de um cuzinho, e eu do quanto era fantástico estar conectado daquela maneira com o Ben, com um macho.

O que parecia ser apenas mais um dia comum de preguiça e descanso, acabou se tornando um dia cheio de significado para ambos. Ainda abrasados com os efeitos do coito inusitado, ele e eu passamos o dia trocando carícias, tocando nossas partes íntimas, desvendando os prazeres escondidos em nossos corpos. O que, em determinado momento, me levou a colocar a jeba dele na boca. Eu nunca havia feito sexo oral, muito menos com outro cara. No entanto, a anatomia do cacete dele, tão perfeita e bonita, aliado ao aroma nucífero que ele emanava, me incitou a experimentar algo novo. O Ben parecia não acreditar no que estava vendo. Aquele seu amigo de longa data, sempre tão comportado, discreto e recatado, repentinamente lhe fazendo as mais libidinosas carícias na pica, lambendo-a e ao sumo que sua excitação fazia verter, mordiscando-a zelosamente com aqueles dentes enormes que sempre iluminavam seu sorriso, chupando-a com ardor fazendo com que sua espinha fosse percorrida por uma descarga elétrica que rumava direto para a base da rola provocando nela movimentos pulsáteis e deleitantes. Ele quase podia sentir as vesículas seminais, a próstata e os testículos trabalhando tresloucadamente, umas produzindo o líquido viscoso e alcalino e os outros os espermatozoides que faziam dele um macho cobiçado, enquanto aquela boca sedosa trabalhando devotamente parecia estar enaltecendo sua masculinidade. Ele avisou que sentia o gozo chegando, protelou-o usurpando o cacete daquela boca aveludada que não o soltava e, vencido pelo olhar que lhe lancei, gozou contemplando em êxtase como seu sêmen ia sendo engolido à medida que os jatões de porra explodiam entre meus lábios vorazes.

- Por que nunca fizemos isso antes Tavinho? Por quê? Tivemos tantas chances. Sua bunda sempre me seduziu. Cara, você não faz ideia de quantas vezes tive vontade de enfiar minha rola nela, de quantas vezes me punhetei pensando nela. E agora descubro que você é capaz de ser muito mais generoso do que eu imaginei, muito mais gostoso do que muita buceta que fodi. – afirmou ele.

- Não sei! Para te falar a verdade, estou assustado com tudo isso. – respondi.

- Assustado? Você não curtiu? – questionou

- Não, não é isso! Justamente o contrário, eu curti muito. Assustado porque foi maravilhoso, e por eu ter sentido algo que nunca tinha sentido antes. – revelei.

- Ufa! Que alívio! Por uns segundos pensei que nunca mais teríamos a chance de repetir o que fizemos, e eu quero muito, Tavinho. Quero muito continuar comendo seu cuzinho. – a última frase ele sussurrou cheio de tesão, como se ela fosse uma promessa para a qual queria meu aval.

Tínhamos acabado de sair da ducha, depois da terceira trepada do dia, e preparávamos um jantar tardio quando o Alex voltou de seu fim-de-semana sigiloso, seguindo direto para seu quarto, após um rápido cumprimento quando passou pela cozinha. Às vezes eu tinha a impressão que ele nos evitava, que nós o entediávamos, que estava acima daquilo que a nossa amizade lhe dedicava. Essa furtiva passagem pela cozinha, após um fim de semana inteiro sem nossa companhia, era mais uma prova disso.

- É o jeito dele! – respondeu o Ben, quando lhe expus minha impressão. – Você sabe que ele se importa conosco. – emendou, para defender o amigo.

- Tenho a impressão de que ele não era assim quando ainda estávamos no interior. Eu nunca estranhei o comportamento dele naquela época. – devolvi.

- Éramos moleques naquele tempo, a gente muda! Mas, tenho certeza que a amizade dele continua sendo sincera.

- Sim, eu sei. Também acho que é. Mas ele podia ser mais dado, participar um pouco mais do tempo que dispomos para ficar juntos.

- Está começando a me deixar com ciúmes, ainda mais depois do dia maravilhoso de hoje! – exclamou o Ben, me dando uma gostosa encoxada contra a pia, onde consegui sentir o volume dentro do short dele se insinuando no meu rego.

- Você não vai contar nada, não é? – subitamente tive receio de ter revelada a minha devassidão. – Não quero que os outros saibam do que aconteceu hoje aqui.

- Os outros, ou o Alex?

- Dá na mesma, não dá?

- Por que tem medo que ele fique sabendo? Acha que não vai entender o que fizemos?

- Não sei! Só sei que não quero que ele saiba o que eu fiz.

- Nós fizemos! – corrigiu ele, de imediato.

- Tá bom, nós fizemos! O que não muda nada. – ele apenas riu e, ainda abraçado a mim, deu um chupão no meu pescoço, cuja marca deixada na minha pele carreguei constrangido por todo o dia seguinte.

Foi estranho ir para a cama naquela noite sentindo a porra do Ben no meu cuzinho, assim como durante toda a manhã do dia seguinte. Estranho porque não quis me livrar dela, estranho porque a presença dela, enquanto atendia meus pacientes na correria diária, me era prazerosa e me fazia sentir como se a pele do Ben ainda continuasse tocando a minha. Talvez eu devesse mudar o adjetivo, de estranho para constrangedor, uma vez que, enquanto homem, eu não deveria estar me sentindo tão plenamente feliz por estar com o esperma de outro homem nas minhas entranhas. Mas, eu estava.

Minha implicância com o Ben por ele andar pela casa de cueca ou, às vezes, completamente nu, ficou no passado. Aquele sacão e rola relaxada balançando entre suas coxas agora me parecia sexy. Ao mesmo tempo, ele que já era bem abusado, começou a me dar abraços, encoxadas, beliscões ou lascivas passadas de mão na bunda sem o menor pudor. Disso, também comecei a gostar. Aliás, passei a gostar do toque dele, de sentir seu corpo enroscado no meu. Eu só me esquivava ou protestava sem muita ênfase, quando o Alex estava presente. Diante dele eu me recolhia, como se estivesse fazendo algo errado, à semelhança de um filho que diante dos pais se mostra mais comportado do que na realidade é.

Outra coisa que me incomodava, e isso com um fundamento irrefutável, eram os casinhos sexuais que o Ben continuava mantendo a pleno vapor fora de casa. Embora ele nunca o confessasse, era certo que o rodízio de mulheres em sua vida era bem constante. Não se passavam dois meses entre a menção repetida de um nome de mulher para outro. E, tanto o Alex quanto eu sabíamos que ele certamente estava engambelando duas ou mais ao mesmo tempo. Como médico, eu reprovava esse rodízio por questões de saúde, mais do que pela moralidade. Ficava preocupado por ele e por mim, com seu cacete visitando sabe-se lá que bucetas e o meu cuzinho simultaneamente. Por diversas vezes toquei no assunto com ele, que me garantiu que sempre fazia sexo seguro com elas, encapando a caceta.

- Não me prive desse prazer. Você é especial, com você eu sou eu mesmo, tal como vim ao mundo. Eu me sentiria rejeitado se você não me aceitasse ao natural, compreende? Eu jamais faria qualquer coisa que te colocasse em perigo, gosto demais de você para lhe causar dor ou sofrimento. Deixa eu continuar gozando no seu cuzinho, deixa? Metade do meu prazer me seria negado se tivesse que usar uma camisinha encapando minha pica e diminuindo a sensação de aconchego que sua mucosa aveludada me proporciona. – argumentou.

- Nesse papo manso caíram muitos incautos e incautas. Só se deram conta de que estavam fodidos quando diagnosticados com alguma doença venérea. É bem o papinho que todo macho malandro usa, você é único, você é especial, só com você é que transo sem proteção porque é você que eu amo, e por aí vai. Desculpas não faltam, a criatividade para inventá-las vai longe. – retruquei, pouco confiante em suas palavras.

- Eu sei que tem muito cara fazendo isso, até eu já me vali dessas desculpas. Mas, juro, com você é diferente. É diferente mesmo. Eu quero que as nossas transas sejam plenas para nós dois, sem mentiras, sem subterfúgios, sem falsidades. Você não acredita em mim?

- Malandro que é malandro sabe ser convincente. – respondi. Ele se zangou.

- Tudo bem! Se depois de todos esses anos de amizade, você só consegue me enxergar como sendo um malandro, o que é que posso fazer? De agora em diante só com camisinha! – sentenciou emburrado.

Eu não o achava um malandro, sabia que não era um mau-caráter, sabia que era um amigo sincero e tinha a nossa amizade acima de quaisquer outros valores, e fiz o que achava certo, expressar minha desconfiança e preocupação. Ele ficou uns dias zangado comigo, fingia ter perdido a atração e o desejo por mim, alegou estar cansado numa ocasião e indisposto com alguma coisa que havia comido noutra, para recusar minhas carícias quando quis seduzi-lo para irmos para a cama.

- Continua bravo comigo, porque falei para você usar proteção?

- Não fiquei bravo com você! De onde tirou essa ideia?

- Ah, não, deve ter sido impressão minha então.

- Com certeza é! – precisei rir daquela suposta convicção. – O que foi, eu disse algo engraçado?

- Não, claro que não! Me lembrei de uma piada que o pessoal contou no trabalho esta tarde. – devolvi, ao mesmo tempo em que aleguei estar com muito calor, fazia mesmo bastante calor naquela noite abafada quando estávamos assistindo juntos a um filme após o jantar, e tirei a camiseta ficando apenas com o short de aberturas nas laterais.

- Verdade, tá um calor da porra! – exclamou ele, que estava só de cueca e diante do ventilador ligado.

Ergui uma perna e apoiei o pé no assento da poltrona, as fendas laterais do short abriram expondo a dobra entre a minha coxa e a nádega. Da ponta do sofá onde ele estava, tinha uma visão que chegava até metade da minha nádega, que ele disfarçou e fingiu não lhe causar qualquer impacto. Minutos depois, estava enfiando uma das mãos pelo cós da cueca e coçando o saco ou ajeitando a rola. Eu fazia força para não rir. Ergui a outra perna e me virei de lado na poltrona, deixando a bunda virada na direção do olhar cobiçoso dele. Mais umas coçadas no saco me fizeram saber que estava tentando controlar a ereção que começou a ficar insidiosa, após uma das abas do meu short se dobrar para cima deixando a nádega daquele lado atentando sua masculinidade.

- Cazzo de calor! – exclamou, sem tirar os olhos do meu rabo, que o deixava excitado desde os tempos do colégio.

- Devíamos pensar em instalar um ar-condicionado também aqui na sala. – ponderei, ao que ele nem deu atenção. Ele estava concentrado no pau dele que estava duro, latejando, por minha bunda o enfeitiçando. Tinha perdido o fio da trama do filme, estava com muito tesão, queria trepar, queria meter na minha bunda sem precisar ceder em seu plano de se fazer de ofendido.

- Não vai ser um ar-condicionado que vai dar conta desse tipo de calor. Por que você precisa ser sempre tão complicado, Tavinho?

- Não entendi? O que tem o calor a ver comigo? – questionei, sabendo muito bem onde ele queria chegar com aquela conversa.

- Tem tudo a ver, porra! Tem que essa bunda gostosa deixou meu pau tão duro que está acabando comigo. – confessou.

- E por que você não vem até aqui para eu cuidar dele? – provoquei. Minutos depois eu estava deitado de bruços debaixo dele no sofá, sentindo aquela vara desencapada entrando e saindo do meu cuzinho, enquanto chupava e beijava seus dedos, gemendo sensualmente para enlouquecê-lo de vez.

- Puto! Você deveria ser punido por castigar a gente dessa maneira, sabia - afirmou, enquanto terminava de galar meu cuzinho e se abraçava ao meu tórax arfando feito um touro bravio. O assunto camisinha nunca mais foi mencionado. Sabendo dos riscos, mesmo assim achei que deixa-lo saber que confiava nele alicerçava nossa amizade.

Com o tempo, comecei a me questionar sobre o namoro com a Luiza. Já estava claro para mim que o sexo com o Ben era muito mais prazeroso do que com ela. O grau de cumplicidade e entrosamento que eu sentia ao me deitar com o Ben nem podia ser comparado ao que acontecia com ela. Se eu não era gay, como explicar essa tamanha diferença de prazer que eu sentia com um e não com o outro? Contudo, a Luiza era uma pessoa incrível, cheia de qualidades, eu gostava dela, e muito. Já tinha pensado até em elevar a nossa relação para um patamar mais alto, acenar com um compromisso maior para dali a algum tempo. A cada encontro eu ficava mais convencido de que era o certo a fazer. Porém, ao chegar em casa, bastava eu pôr os olhos sobre o Ben, sobre aquele seu jeitão despudorado, sobre aquele volume dentro das calças, sobre o sorriso libidinoso dele para minha convicção se esvair como a água no ralo. Já não bastasse isso, uma atração pelo Alex também começou a me atormentar as noites sob a forma de sonhos pecaminosos carregados de lascívia. Ora eram aqueles pelos sensuais que forravam o peito vigoroso dele, ora era sua voz grave e pausada, ora eram aqueles movimentos cautelosos, porém firmes, que caracterizavam seu jeito de caminhar e fazer as coisas, tudo me dava tesão. Quando ele e o Ben se punham a assistir aos jogos de futebol, relaxados e descontraídos, apenas xingando algum jogador por um lance malconduzido, instruindo em voz alta o que o outro dominando a bola deveria fazer, ou dando socos de felicidade no ar quando uma bola entrava na trave, se esquecendo completamente dos modos e do pudor, manipulando suas vergas dentro das bermudas, eu tinha vontade de me atirar nu no meio deles e deixar que me fodessem até estarem saciados. Eu não me reconhecia mais. Alguém saberia me dizer o que está acontecendo comigo?

Era impossível o Alex não saber o que estava rolando entre o Ben e eu. Inúmeras vezes ele tinha nos flagrado imediatamente após uma transa, quando ainda estávamos sob a euforia do tesão. Ele não era nenhum tolo, muito menos um alienado que demora a perceber o que rola a sua volta. Por que nunca fazia nenhum comentário? Por que fingia não saber que o Ben estava me enrabando? Por que se fazia de difícil, evitando minha companhia, fingindo não dar importância aos pequenos cuidados que eu tinha para com ele, como uma forma de lhe dar carinho que, de outro jeito ele certamente não aceitaria? Eu tinha que descobrir qual era a dele.

- Oi! Posso entrar? Trouxe um pedaço de torta para você, não quis se juntar a nós no jantar? – perguntei, ao bater em sua porta, invadir seu refúgio e encontra-lo diante do notebook.

- Estou sem fome! E, também muito ocupado. Tive que trazer trabalho para casa. – respondeu ele, sem desviar os olhos da tela.

- É a terceira vez esta semana que não janta conosco, faz mal ficar tanto tempo sem se alimentar direito. – devolvi, disposto a não sair do quarto dele tão cedo, ao menos até ele comer o pedaço da torta, o que me daria um tempinho para ficar junto dele. Ainda mais enfiado apenas naquele short azul-marinho desbotado que o deixava tremendamente sexy.

- Está controlando meus horários? – eu não esperava essa reação.

- Não! Estou preocupado com a sua saúde, mania de médico. – respondi.

- Pois te garanto que não tem com que se preocupar!

- Fico feliz em saber, mas deixar um hábito não é tão fácil assim. Portanto, vou continuar vigiando sua saúde. – essa afirmação ele não esperava.

- Hã! Faça como quiser! – devolveu. Outro já teria deixado ele falando com as paredes, mas não eu, que sentia estar sendo atraído para ele desde que descobri essa aura de mistério que o envolvia ao passarmos a dividir o mesmo teto.

- Está gostando do trabalho no escritório? – perguntei, a fim de ver se conseguia fazer com que me dirigisse o olhar, nem que fosse por uns míseros segundos.

- Sim.

- Você tem chegado tarde todos os dias, agora trouxe trabalho para casa, devem estar sendo bastante requisitado, o que é bom eu acho, não é? – engana-se ele, se pensa que não vou conseguir sua atenção.

- Mais ou menos!

- Mais ou menos, como? É bom para os negócios ter bastante trabalho! – afirmei

- Dependendo do ponto de vista!

- E qual é o seu ponto de vista?

- Uma hora qualquer te explico. – ele sabia ser desagradável, sabia como fazer alguém sentir que está sobrando, sabia como se livrar de uma conversa que não estava disposto a ter.

- Faça uma pausa e experimente a torta, o Ben adorou, incrementei uma recita básica e, modéstia à parte, ficou muito saborosa, vou fazer outras vezes. – sentenciei, simplesmente enfiando o prato sobre o teclado, enquanto apoiava a outra mão sobre seu ombro largo e nu.

No instante que toquei seu ombro, podia jurar que ele sentiu um calafrio perpassando seu corpo, tanto que a mantive ali, movendo sutil e delicadamente os dedos sobre aquela rigidez musculosa. Consegui o que queria, ele abandonou o trabalho e começou a comer, mas ainda não se atrevia a olhar na minha direção. Isso me deixou mais seguro, se o fizesse, ia acabar cedendo a sabe lá o que eu estivesse tentando com ele.

- Sua pele está fria! Talvez fosse prudente fechar um pouco a janela, você está sentado diretamente na corrente de ar. – afirmei, ao mesmo tempo em que fazia minha mão deslizar suavemente até o mamilo esquerdo dele.

- É o médico falando? Já disse que não precisa se preocupar com a minha saúde! – devolveu

- Não, não é o médico falando! É o velho amigo que quer seu bem-estar. – minhas respostas estavam mexendo com ele, mais do que ele queria admitir.

- Então esse velho amigo deveria ser mais cauteloso com essa mão para não enveredar por caminhos perigosos. – retrucou, ao engolir a última garfada da torta.

- Sei que estou seguro estando com você! E aí, gostou?

- Da torta?

- Claro! Do que mais seria? – de repente, ele girou a cadeira e ficou frente a frente comigo. Eu tinha conseguido o que queria, ele não apenas me encarava inquisitivo, como estava com os pensamentos todos embaralhados na cabeça.

- O que quer comigo? Com essa visita ao meu quarto, todo dengoso e gentil?

- Te trazer para mais perto de nós! – eu ia dizer para mais perto de mim, mas achei prudente ser menos taxativo.

- Não quero atrapalhar o lance de vocês! – devolveu. Então ele sabe do Ben e eu, como suspeitei.

- Pode me responder algo com toda a sinceridade?

- Claro!

- Por que nunca falou nada sobre esse lance, sabendo que ele está acontecendo?

- Não é da minha conta!

- É uma pena! – subitamente, me senti sem forças para continuar aquela conversa. Me sentia sensível demais para ouvir algo que talvez viesse a me magoar.

- Boa noite! Não vá se esquecer de dormir, acho que já trabalhou bastante por hoje! – afirmei, ao deixar o quarto. – E, Ah! Cuidado com a janela aberta! – emendei, antes de fechar a porta, me encostar nela e respirar fundo, como se me faltassem as forças.

- Boa noite! – devolveu ele, voltando-se novamente para o notebook. – Obrigado pela torta! – exclamou, em voz mais alta, pois eu já havia encostado a porta.

Fui à cozinha, lavei o prato e os talheres, desliguei as luzes, pois vi que já era tarde e que o Ben já havia se recolhido. Tomei uma ducha e tentei dormir. Uma hora e meia depois, entrei no quarto do Ben, ele dormia como um anjo pecaminoso, a bermuda do pijama distendida por uma ereção e a respiração tranquila de um bebê. Tirei o pijama e entrei nu sob o lençol que o cobria. Minutos depois, a respiração dele roçava minha nuca, seu braço envolvia minha cintura e a pica se apoiava na minha nádega, melhor sonífero impossível.

A ousadia teve seu preço. Assim que o dia raiou e o alarme do celular do Ben tocou, ele enfiou vagarosamente a pica no meu cuzinho, enquanto eu me espreguiçava. Acabamos nos atrasando, uma vez que a pressa de seguir para o trabalho estava disputando a preferência com um coito moroso. Quando finalmente saí do quarto dele, após o banho conjunto, enrolado com uma de suas toalhas na cintura e os cabelos ainda molhados, dei de cara com o Alex no corredor, saindo para o trabalho.

- Dormiu bem? O café está pronto lá na cozinha! Se vocês não se apressarem vão perder a hora! – exclamou, me deixando sem graça.

Ele sabia. Desde quando eu não fazia ideia, mas ele sabia que o Ben estava me fodendo. Mais uma vez fiquei intrigado com esse aparente descaso dele. Nenhum comentário, nenhum gracejo, nenhuma piada sobre o assunto, não era o estilo dele. Sabendo que eu estava dando o cu, por que nunca se mostrou interessado em tirar pelo menos uma casquinha da oportunidade? Totalmente indiferente à minha bunda eu sabia que ele não era, já tinha me enrabado, tinha tirado meu cabaço. Será que adulto pensava de modo diverso daquele que o motivou a me enrabar na surdina dentro daquele ônibus?

- Você não acha estranho o Alex não tirar nenhum sarro com a nossa cara sabendo do que está rolando entre a gente? – questionei o Ben, enquanto tomávamos apressadamente nosso café preparado pelo Alex.

- Por que ele tiraria uma com a nossa cara? Deve estar achando natural, sempre soube que eu sou fissurado na sua bunda. – respondeu ele.

- Porque não é do perfil dele deixar algo assim passar batido. Você o conhece, sabe que ele não perde uma chance de zoar com alguma situação que fuja dos padrões. – argumentei.

- Por que você está tão preocupado com a opinião dele? – eis aí uma boa pergunta, para a qual eu evidentemente não tinha uma resposta.

Meu aniversário estava se aproximando. Fazia tempo que eu estava curioso para conhecer a Bia, a maior razão para que o Alex passasse quase todos os finais de semana fora de casa, e a desculpa para não nos acompanhar em inúmeras saídas. Eu já havia comentado com ele a minha curiosidade em conhecê-la, pedi que ele a trouxesse para um jantarzinho que prometi preparar, e a resposta foi surpreendente – ‘aqui não é ambiente para ela’. Como assim, aqui não é ambiente para ela? Por acaso o Ben e eu somos alguma espécie alienígena? Tarados pervertidos? Desclassificados que não sabem se comportar diante de uma mulher? Qual é a desse cara? Que marcássemos num barzinho então, sugeri, pois estava entusiasmado para conhecer a garota que conquistara o coração inflexível do meu amigo. Mas, em resposta recebi apenas desculpas sem fundamento. Então resolvi eu dar o primeiro passo, fazendo uma festinha pelo meu aniversário, apresentando a Luiza para eles, pois até então também ainda não a conheciam pessoalmente e, reiterando mais uma vez que o Alex trouxesse a Bia.

Fazia tempo que a casa não via tanto movimento. Eu havia juntado uma galera animada e apresentado a Luiza a eles, numa noitada bem festiva. A promessa de também conhecermos a Bia ia desaparecendo à medida que a noite avançava e ela não chegava.

- E a Bia? Será que ela não vem? – perguntei ao Alex.

- Deve estar um pouco atrasada, sabe como são as mulheres. – respondeu ele, na primeira vez que indaguei por ela.

Na segunda, a resposta foi definitiva, ela não viria. Havia surgido um problema inesperado e ela não podia vir, foi o que o Alex afirmou. Algo me dizia que ele nem a havia comunicado do meu convite. Por que outra razão ela deixaria de comparecer a um encontro para conhecer os amigos do namorado?

Era madrugada quando os últimos convidados se foram deixando a casa uma verdadeira zorra, mas a mim tremendamente feliz por estar cercado de pessoas com as quais me importava e que sabia também gostarem imensamente de mim. Embora a festa não tivesse o objetivo de receber presentes, havia uma porção deles sobre o aparador da sala quando eles se foram. Cada um dos meus amigos e amigas trouxe uma recordação, exceto o Alex. Não que eu estivesse esperando por algo dele; porém, o fato de não ter sido nem cumprimentado direito naquela manhã, tinha me deixado chateado. O Ben fez uma verdadeira festa quando se juntou a nós no café da manhã, além do presente, tascou-me um beijo libidinoso e sob o olhar do Alex, passou a mão na minha bunda com a mesma voluptuosidade que o fazia quando estávamos trepando.

- Tenho mais um presentinho te esperando! – disse o Ben, pouco antes de nos recolhermos, pegando na benga para deixar claro que tipo de presente era.

- Desculpe, Ben, hoje não! Acabei pegando uma puta dor de cabeça com toda essa agitação, além de estar caindo de cansaço. Não vou ser um bom parceiro nesse estado. – devolvi.

- Não tem como você não ser um bom parceiro! Só o fato de ficar enroscado no seu corpo já é motivo suficiente para eu me sentir satisfeito. – retrucou ele, compreensivo. Não era à toa que eu gostava tanto dele.

Eu tinha acabado de me despir e estava estirado sobre a cama com a cabeça apoiada sobre as mãos cruzadas no travesseiro, olhando pensativo para o teto, rememorando os acontecimentos daquele dia cheio de emoções. Quase não ouvi as batidas sutis na porta, e só percebi a presença do Alex quando a cabeça dele apontou entre a fresta da porta que ele cuidadosamente abriu.

- Oi! Posso entrar? Desculpe se te acordei.

- Ainda não estava dormindo. Precisa de alguma coisa? – era tão inusitada a presença dele no meu quarto que me surpreendi com aquela aparição àquela hora.

- Não, não preciso de nada! Só queria te entregar isso. – disse, me estendendo um pacote embrulhado em papel de presente. Ele afinal não havia se esquecido de mim.

- Obrigado! Você sabe que não era preciso. Meu maior presente é poder conviver com você todos os dias dentro dessa casa, não sabe? – devolvi, quando ele já estava sentado na beira da minha cama.

Ao desfazer o embrulho, me deparei com um porta-retrato no qual estava encaixada uma fotografia de nós dois nos tempos do colégio, posando abraçados e erguendo os troféus que havíamos conquistado, ao lado daquele ônibus que nos trouxe de volta para casa após os Jogos Interestaduais de Estudantes. Fiquei alguns minutos sem palavras, tentando sufocar um repentino nó que subia pela minha garganta.

- Lembra desse dia? Gostou? – questionou ele, percebendo que eu fazia um esforço gigantesco para controlar as emoções. O que ele estava pretendendo com esse presente?

- Claro! Gostei muito! Não sabia que você tinha essa fotografia. – respondi entusiasmado. Será que ele se lembrava de tudo daquele dia? – Nunca vou me esquecer de um só lance dos acontecimentos desse dia, nem que eu viva cem anos! – acrescentei, para ver qual seria sua reação.

- Nem eu! Foi o dia mais feliz da minha vida! – retrucou ele, me encarando com os olhos brilhando por algo que estava em seu peito, prestes a explodir.

Me inclinei cauteloso na direção dele e o abracei, me dando conta, só então, que ele estava metido apenas numa cueca, e que todo aquele tronco viril e nu estava envolto nos meus braços, pois meu primeiro instinto foi me atirar de encontro aqueles pelos sensuais que o revestiam. Assim que suas mãos se fecharam ao redor do meu torso, nossas bocas se encontraram, e o beijo longo e molhado nos acompanhou até ele ficar deitado em cima de mim, se mexendo impaciente de forma que nossas quase nudez se roçassem como numa dança de acasalamento. Ambos começamos a sentir nossas ereções se formando. Ele puxou minha bermuda do pijama para baixo e com a voracidade estampada na expressão de seu rosto, agarrou minhas nádegas, amassando-as com força e determinação. Eu nunca quis tanto alguma coisa quanto aquele cacete que roçava minhas coxas, quanto aquele macho entrando em mim e devassando minhas entranhas. Comecei a abrir as pernas trazendo os joelhos até quase a altura dos ombros dele, me abrindo e me oferecendo à sua devassidão, que brilhava no olhar compenetrado e cobiçoso. O Alex foi descendo beijos, lambidas, chupões dos meus mamilos para o peito, deste para o ventre e dali para o rego que ele mantinha aberto segurando minhas pernas no ar. Achei que fosse desmaiar de tanto tesão quanto senti a primeira lambida dele sobre as minhas pregas anais. Gemi ensandecido. O Ben nunca lambeu meu cu, e o Alex o fazia não só cheio de tesão, mas com a mesma diligência que um lobo fareja o cio de uma fêmea. Inebriado pelo êxtase de vê-lo e senti-lo ali me farejando feito um animal selvagem, eu rebolava assinalando que estava pronto e sôfrego para levar seu caralho no cu. Ele parecia não ter pressa, estava satisfeito ao ver minha submissão, e enfiou um dedo no meu cuzinho. Por sorte me lembrei que o Ben estava no quarto ao lado e controlei a intensidade do grito que soltei, pois o tesão que senti naquele instante, com o dedo entrando e o Alex estudando minha reação, não tinha preço. Enquanto aquele dedo se movia em círculos entre meus esfíncteres apertados, ele enfiava outro na minha boca, me instigando a chupá-lo para diminuir o ruído dos meus gemidos. Eu havia perdido completamente o controle do meu corpo, que apenas reagia aos estímulos, tremendo num frenesi que ganhava força. Como quem idolatra um deus, eu deslizava minhas mãos espalmadas sobre o peito dele, acariciando os pelos másculos. Eu queria descer e pegar naquele cacete duro que tinha armado uma barraca na cueca dele, mas na posição que me encontrava meus braços não o alcançavam.

- Fala para mim o que você quer? – indagou lascivo

- Teu cacetão! – respondi gemendo.

Ele tirou a cueca, se aproximou de mim quase sentando no meu peito e me deu seu falo babando. Eu sempre desconfiei que o Alex era bem-dotado. O volume que ele trazia debaixo das calças, a ferida que levou quase uma semana para cicatrizar quando ele me descabaçou, e o contorno quase obsceno que se desenhava quando ele perambulava pela casa dentro de um short, eram sinais óbvios de que seu falo fugia aos padrões. Agora eu tinha certeza disso. A centímetros do meu rosto estava uma jeba colossal, cabeçuda, grossa, peluda, reta embora ligeiramente desviada para a esquerda, nutrida por grossas veias dilatadas que formavam desenhos, sob a pele que a revestia, como se fosse o percurso de um rio e seus afluentes. Não era apenas linda, mas instigante e sedutora, exalando um perfume amendoado e selvagem. Com um sorriso no rosto ele acompanhou a delicadeza com a qual a minha mão se fechou ao redor dela, levando-a à minha boca. Antes de eu conseguir abocanhá-la, um espesso e viscoso fio de pré-gozo caiu sobre o meu queixo. Um outro já se formava, vertendo lento do largo orifício uretral, mas esse eu sorvi antes que se desperdiçasse, fazendo o Alex soltar um longo e rouco sibilo entre os dentes cerrados. Eu já não era tão desajeitado e inexperiente num boquete quanto tinha sido nas primeiras vezes em que chupei o Ben. Eu tinha aprendido a acarinhar com a boca a caceta de um macho, e a tirar um prazer enorme com isso. O Ben demorava cada vez menos tempo para esporrar quando eu o mamava, tão habilidosa havia se tornado a minha língua e meus lábios trabalhando numa rola. Todo esse aprendizado eu estava aplicando na pica do Alex, fazendo-o contorcer-se, gemer, e sussurrar meu nome, imerso em puro êxtase.

- Caralho, Tavinho! Minha pica, Tavinho. Que delícia! – grunhia ele, tentando protelar o gozo que vinha com a mesma potência de uma onda, e o retesava todo.

Por três vezes ele conseguiu frear seus instintos, mas na quarta a sugada generosa e com a minha língua deslizando sobre a glande ficou impossível se conter, e ele começou a gozar. Antes me agarrou pelos cabelos, firmou minha cabeça diante da virilha e empurrou o caralhão para dentro, fazendo-o parar na minha garganta, e ejaculou a porra cremosa e abundante. Afagando a barriga dele, eu engolia jato após jato, me deleitando com aquele néctar viril e cheiroso.

Ele sorria feito um moleque travesso quando terminei de limpar o caralhão lambuzado dele. Voltou a se deitar sobre o meu corpo e me abraçou, me puxando para junto dele, de modo que suas mãos alcançassem minhas nádegas e ele pudesse ficar apertando e acariciando aquela profusão de carne rija e quente. Quando uma delas deslizava sorrateira para dentro do meu reguinho, eu empinava a bunda e me abria, franqueando o buraquinho assanhado à sua tara. Desde a gozada na boca, a rola dele quase não tinha amolecido, eu a sentia dura e pulsando comprimida entre nossas coxas. Quis me virar para ficar de bruços, mas ele relutava em abandonar minha boca que cobria seu rosto de beijos curtos, depositados sem pressa por toda extensão daquela pele barbada e deliciosamente viril. Percebendo minha excitação e disposição para me entregar, ele se ergueu o suficiente para meu corpo girar livre debaixo do dele e, tão logo estava de bruços, deixou seu peso cair sobre mim. Com o movimento, meus glúteos acabaram aprisionando a pica dele no meu rego. Ele a deslizava cuidadosamente na fenda profunda e estreita, para que não escapasse, obrigando-o a usar as mãos para apartá-los, que ele usava nas carícias ao redor dos meus mamilos, cujos biquinhos ele amassava entre o polegar e o indicador, tracionando-os até ouvir meu gemido de tesão. Eu rebolava querendo que ele sentisse onde estava minha rosquinha pregueada e carente, indicando-lhe o caminho para possuí-la. Os chupões no meu pescoço foram ficando mais enérgicos, de quando em quando, se transformavam numa mordida que deixava cravada a marca de seus dentes na minha pele. Eu gania. Icei o rabo o mais que pude, oferecendo o rego aberto à sua lascívia. Um de seus braços me envolvia e me ajudava a ficar naquela posição, o outro conduzia o caralhão em pinceladas úmidas sobre a portinha quente do meu cu. Uma estocada certeira meteu a cabeçorra através dos meus esfíncteres. Eu soltei o grito ao mesmo tempo que mordia o travesseiro. O mesmo esperar agoniado, a mesma incerteza daquele dia, a dor bem mais intensa agora que o cacetão atingira sua dimensão colossal definitiva, o mesmo arfar agitado e morno na minha nuca me transportaram a um dèjá vu nas poltronas de um ônibus que devorava veloz a rodovia varando a noite. Pouco antes da chegada dos convidados para a festa, o Ben tinha me pego no chuveiro e laceado meu cuzinho, deixando seu sumo viril impregnado nele. A despeito disso, o cacetão do Alex me abria, me rasgava distendendo as pregas, lacerando minha mucosa anal para conseguir chegar ao seu objetivo. Achei que a qualquer momento a empalada faria aquela cabeçorra aflorar dos meus lábios, vinda no sentido contrário de quando eu a mamei há pouco. O vaivém começou lento, entre os ‘ais’ que eu soltava toda vez que as estocadas comprimiam minha próstata, foi ganhando vigor à medida que o Alex não controlava mais seu tesão acumulado, e viraram bombadas potentes que faziam meu corpo todo vibrar e o sacão dele bater sonoramente nas minhas nádegas. Meus dedos crispados afundavam no travesseiro onde eu me agarrava e, ao qual mordia para amenizar a dor que tomava conta da minha pelve contraída.

- Ai, Alex! – Como expressar tudo o que eu estava sentindo naquele momento com ele entalado inteiro em mim? Só gemendo e me entregando àquele prazer insidioso que começava a me dominar. De quatro, franqueando o cu feito uma cadela no cio, eu quase enlouqueci de prazer com a rola do Alex entrando e saindo de mim. Esporrei uma gozada farta sobre o lençol, envolto numa felicidade imensa.

- Tavinho, seu tesudinho da porra, eu vou leitar nesse rabinho! – grunhiu ele, transformando imediatamente o grunhido num urro, enquanto gozava no meu cuzinho, me encharcando com sua virilidade.

Acordei tarde e sozinho na cama. Tinha me espreguiçado algumas vezes, ainda sonolento, sem perceber que faltava alguma coisa, de tão condicionado e habituado a ter a cama só para mim. Foram apenas alguns segundos para eu sentir o cuzinho, que ardia, empapado de porra, e então percebi o que estava faltando, aquele ombro largo onde deitei a cabeça e adormeci numa felicidade sem tamanho. O domingo nublado estava um pouco frio, só fui perceber isso quando rumei, num short curto e camiseta, em direção à cozinha, de onde vinha o som de uma conversa animada. Quando as palavras começaram a chegar aos meus ouvidos mais nítidas, imprimi passos mais lentos e tão leves quanto o caminhar de um gato. Eu era o foco da conversa.

- Comeu? – foi a primeira palavra que ouvi, saída da boca do Ben.

- Duas! Bem comidas! – até achei que não ir dar conta no meio da segunda. – foi a resposta do Alex.

- Também penso que algumas vezes não vou conseguir, mas aí, vem ou um sorriso doce, uma frase carinhosa, um enaltecimento sem bajulação, uma travada de musculatura que suga a rola lá para o fundo e o impossível acontece, mais uma baita gozada. – retrucou o Ben.

- Foi bem por aí, a sugada e o beijo de língua, e eu já estava esporrando naquela delicinha de cu. – revelou o Alex. – Cara, não sei como aguentei tanto tempo sem dar um trato naquele cuzinho! – exclamou em continuidade.

- Nem eu! Olha que você merecia um prêmio por isso! Vá ser controlado assim na casa do caralho! Eu já teria entregue os pontos há muito tempo, ainda mais ele estando tão perto com aquele jeitinho de querer cuidar de todos. – sentenciou o Ben. – E como vai ser agora? – emendou, antes do Alex formular a resposta.

- Fica do jeito que está! Ele ainda nem se deu conta de que é gay. Você pode comprovar ontem quanto trouxe a namorada e a apresentou para gente como se fosse a coisa mais natural desse mundo. Por hora, fica como está. Não adianta colocar os bois adiante da carroça. – afirmou o Alex.

- Sério? Acha que ele não vai te procurar? Basta ver como fica preocupado com o seu paradeiro, com a sua saúde, com o teu excesso de trabalho.

- Talvez até procure. Acho que vai depender mais de você do que de mim. Deixa rolar!

- E você vai continuar aguentando firme?

- Enquanto tiver forças para isso e não tiver uma recaída como ontem, vou tentar. – fiquei me questionando qual era o meu papel nessa trama que os dois haviam armado. Sim, isso era uma trama, sem sombra de dúvida. Mas, com que finalidade?

- O madrugador mor finalmente acordou! – exclamou o Ben, assim que toquei suas costas e expressei um sonoro – bom dia – embora os ponteiros do relógio na parede indicassem que já havia passado do meio-dia.

- Que papo maluco é esse de vocês dois? Alguém pode me explicar o que é que eu faço no meio dessa tramoia que estão fazendo? – questionei.

- Não tem tramoia alguma! Dormiu bem? – retrucou o Alex, que da expressão inocente com a qual revestiu a cara só se identificava a sacanagem. Eu lhe devolvi um risinho irônico, diante da pergunta capciosa.

- Que tal almoçarmos juntos nalgum lugar legal por aí? Faz tempo que não saímos os três juntos! – sugeriu o Ben, ao que o Alex e eu assentimos. Acabei tendo um dos mais memoráveis finais-de-semana da minha vida.

Eu estava louco para encontrar a Luiza, perguntar o que tinha achado dos dois, se tinha gostado deles. Não sei o que me levou a dar tanta importância a opinião dela sobre esse assunto, uma vez que nossa amizade era algo já bastante consolidada e não precisava de palpites alheios para ser uma das coisas mais importantes de nossas vidas. Mesmo assim, eu a procurei e pedi seu parecer.

- O Ben é um cara super-divertido, impossível ficar ao lado dele sem rir com as coisas engraçadas que ele fala, você deve saber disso mais do que eu. Por que quer meu parecer?

- Sei lá, porque somos namorados, porque quero que todos se deem bem.

- Então não se zangue sobre o que eu acho do Alex. – ela estudou minhas feições antes de continuar.

- Porquê?

- Vocês dois parecem orbitar ao redor dele como os planetas em volta do sol, como se dependessem da luz dele para ter vidas próprias. Tipo numa matilha de lobos, onde todos os machos seguem o macho-alfa sem afrontá-lo, sem contestá-lo, assumindo uma posição submissa para a harmonia e a força da matilha, saca? E ele parece saber como se aproveitar disso. Posso estar me precipitando, por isso, não leve minhas palavras ao pé da letra; talvez o conhecendo melhor perceba que me enganei, mas a primeira impressão que ele me causou não foi das melhores. Bem ao contrário do Ben, um cara incapaz de se aproveitar de alguém. – afirmou, me deixando boquiaberto. Se ela soubesse que era justamente o Ben que estava se esbaldando no meu cu, talvez não chegasse a mesma conclusão a respeito dele e, provavelmente essa seria a última conversa que teríamos enquanto namorados.

Aos poucos, fui conseguindo tirar o Alex da toca. Ter transado com ele facilitou as coisas, uma vez que foi depois de ele comer meu cu que ficou mais acessível. Não precisei me valer de nada muito diferente da estratégia que já tinha usado, indo bater à porta de seu quarto com alguma coisa para ele comer quando se enfurnava lá, ou simplesmente indo buscá-lo para que se juntasse a nós durante as raras refeições que fazíamos em conjunto. Logo me toquei que ele gostava dessa minha abordagem. Às vezes fazia um charminho, se fazia de desinteressado, alegava estar atolado de serviço, mas depois da nossa transa eu tinha abandonado um tanto dos meus pudores e, diante da resistência dele, já não me acanhava ao acariciar seus ombros enquanto ele digitava textos, petições e montava defesas de clientes diante do notebook. Eu havia descoberto o poder que um simples deslizar das minhas mãos sobre os lugares certos tinha para desvirtuar sua concentração. As pontas dos dedos girando sobre sua nuca, ambas as mãos escorregando carinhosamente sobre seus bíceps ou, quando ele estava sem camisa, descendo dos ombros até seu peito, ameaçando chegar ao abdômen não só o faziam se embaralhar com as teclas, como facilmente começavam a mover aquele volume sob suas calças. E, lá estava ele destocado de seu refúgio, e cobiçando disfarçadamente a minha bunda junto com o Ben.

- Oi! Como está o seu horário de almoço hoje, alguma chance de nos encontrarmos em algum lugar? – eu nem acreditei no que estava ouvindo, o Alex me ligando pela primeira vez, em pleno horário de expediente, para combinar um almoço. Fiquei sorrindo feito um pateta feliz depois de desligar o celular e confirmar o encontro. O que ele estaria tramando agora? Nunca antes tinha sido tão despachado.

Cheguei ao restaurante lotado com um ligeiro atraso. Não vi o Alex num relance rápido pelo salão e achei que também tinha se atrasado.

- Sozinho? – perguntou a moça que veio ao meu encontro assim que atravessei a entrada envidraçada do restaurante.

- Combinei de me encontrar com uma pessoa, mas acho que ela também se atrasou. – respondi. – Se for possível encontrar uma mesa para dois eu ficaria grato.

- Sr. Otávio? – indagou ela.

- Sim!

- Ah, já o aguardam numa das mesas do jardim. Quer que o acompanhe, o acesso fica atrás daquela parede. – esclareceu ela.

Havia um recanto sossegado na lateral da construção, um pátio aberto com paredes cobertas de plantas, um pé de acerola bem no centro, ao redor do qual se distribuía meia dúzia de mesas. Numa delas estava o Alex e uma garota muito bonita.

- Oi! Desculpem pelo atraso! Demorei mais que o previsto para me desvencilhar dos últimos pacientes. – afirmei.

- Oi! Já contava com seu atraso! – exclamou o Alex. – Bia, este é o Otávio, Tavinho, para os íntimos. Tavinho, Bia! – sentenciou o Alex fazendo as apresentações com um sorriso ladino.

- Oi, Bia! – sabe que faz um tempão que estou insistindo com esse seu namorado displicente para te conhecer? Achei que só ia te conhecer no dia do casamento! – fiquei exultante com a surpresa, pois eu tinha mesmo uma vontade imensa de saber quem tinha conquistado o coração do meu amigo e estava sendo guardada a sete chaves.

- Oi Tavinho! Posso te chamar assim? Não sou amiga íntima, mas sinto como se fosse. – retrucou ela, num lindo e genuíno sorriso.

- Claro!

- Então, fique sabendo que também faz um tempão que estou intimando esse pilantra a nos apresentar, ele fala tanto de você que é por isso que sinto que já somos amigos. – devolveu ela. Que tanto ele podia ter falado sobre mim? Até ontem não estava relutando em nos deixar conhecer a namorada misteriosa? Não a tinha trazido nunca para casa por afirmar que lá não era ambiente para ela? O que foi que mudou, tão de repente?

Uma hora depois ela e eu estávamos nos comportando como se realmente fossemos amigos há muito tempo. Descobrimos interesses em comum, coisas das quais ambos gostavam, livros que havíamos lido, filmes que nos marcaram, enfim, uma série de afinidades que nos faziam parecer quase gêmeos. Enquanto a Bia e eu falávamos feito duas matracas, uns relances que dirigi ao Alex o mostravam compenetrado, ouvindo nossa conversa, embora seus pensamentos estivessem muito distantes. Sabe aquela de – meu mundo por seu pensamento – foi o que me passou pela mente naquele instante, enquanto ainda tentava desvendar o motivo daquele encontro. Também acabei descobrindo que o Alex não tinha transmitido meu convite para ela participar da festinha do meu aniversário, o que lhe rendeu uma bronca de ambos. Ele apenas sorriu impávido, enquanto o censurávamos juntando nossos argumentos. Daquele dia em diante, a Bia e eu começamos a manter um contato estreito, chegávamos a sair juntos sem a presença do Alex, nos ligávamos praticamente todos os dias, pois assuntos não faltavam e, finalmente a levei à nossa casa pela primeira vez, num churrasco que promovi exatamente com essa finalidade.

- Contente agora? – questionou o Alex, depois de tê-la levado para casa no final do churrasco.

- Evidente! A Bia é sensacional, não sei porque ficou nos poupando da companhia dela.

- Não está com ciúmes?

- Que bobagem é essa? Por que eu haveria de ter ciúmes da sua namorada?

- Nada, não. Eu só pensei que você ia ficar enciumado.

- Que absurdo! Coisa mais sem pé nem cabeça! Ela é fantástica. – eu podia jurar que ele estava desapontado comigo.

O Ben também ficou surpreso com a minha reação ao conhecer a Bia, o que nos rendeu uma pequena discussão que começou nem sei em que parte da conversa. Ou melhor, talvez saiba, quando descobri que ele já a conhecia há bem mais tempo do que eu.

- Por que nunca me contou que já a conhecia?

- Que diferença isso faz?

- Faz que eu era o único a não saber e a ser feito de bobo por vocês dois! Ou precisa mais do que isso?

- Vá brigar com o Alex e não comigo. A namorada é dele, é ele quem sabe quando apresentar quem a quem e quando. – retrucou o Ben, num complô explícito entre ambos.

- Acho que fui sempre muito cego não enxergando as tramoias que vocês dois fazem pelas minhas costas. – afirmei zangado.

- Que tramoias? Não viaja!

- Então me explica que papo foi aquele que eu interceptei naquela manhã aqui na cozinha entre vocês dois. – exigi.

- Que papo? Estávamos apenas conversando, não tinha nada a ver com você. – mentiu

- Não! O que foi aquela história de achar não conseguir dar duas esporradas no cu delicinha e de não saber como conseguir se segurar tanto tempo sem meter no meu cuzinho, então? – questionei

- Você deve ter sonhado com isso! – ousou afirmar

- Caralho, Ben! Eu sei muito bem o que ouvi, não tente me fazer de trouxa! Você pode querer não me contar, mas não diga que eu não sei do que estou falando! E quer saber do que mais, eu estou puto com vocês dois! Puto, entendeu? – esbravejei, deixando-o falando com as paredes.

O primeiro a aparecer no meu quarto naquela noite com o rabo entre as pernas e aquela cara de cachorro abandonado foi o Ben. Conversa mole vem, conversa mole vai, era para ser um pedido de desculpas que não colou. Mandei-o embora apesar dele ter se insinuado e ficar pegando na pica o tempo todo por baixo da bermuda do pijama. Eu já havia fechado minha leitura e apagado a luz quando a porta se abriu pela segunda vez, fazendo surgir a silhueta praticamente nua do Alex, não fosse pela cueca.

- Zangadinho ainda?

- Some! Preciso levantar cedo amanhã e não estou a fim de discutir com você também.

- Não vim brigar!

- Veio fazer o que então? Me aporrinhar?

- Eu e o sujeitinho duro aqui embaixo temos outros planos! – exclamou, deslizando a mão sobre a rola.

- Quero que você e o tal sujeitinho se fodam!

- Para fodermos precisamos de você!

- Some, Alex! Não vai rolar! Repito o que falei para o Ben, estou puto com vocês dois! Muito puto!

- Deixa eu explicar o mal-entendido. Não gosto quando fica puto comigo.

- Então não fica tramando pelas minhas costas! Boa noite!

Ele ainda ficou um tempo parado rente à cama, cogitando se devia ser mais agressivo e simplesmente se atirar sobre e mim, arrancar minha bermuda e meter o caralho no meu rabo até eu parar de resmungar, ou se deveria esperar que minha raiva passasse com a ajuda de algumas bajulações durante os próximos dias. Após a porta se fechar, fiquei me perguntando por que estava tão zangado com os dois. Já tínhamos brigado tantas outras vezes durante os tempos de colégio, e feito as pazes na mesma velocidade que essa minha postura atual não encontrava explicação.

Na realidade, eu andava cheio de questionamentos. Inúmeras perguntas que não conseguia responder, outras tantas situações que não conseguia justificar. O problema estava em mim, não nos outros. Uma delas dizia respeito ao meu namoro com a Luiza. Aonde eu pretendia chegar nesse relacionamento, já tendo descoberto que sentia muito mais prazer dando o cu regularmente para o Ben e, eventualmente também para o Alex, do que fazendo sexo com a Luiza? Eu gostava da companhia dela, era uma boa amiga, confiável, serena em suas ponderações, boa conselheira, mas isso não sustenta um relacionamento homem-mulher e, muito menos um casamento, uma vida inteira. Apesar de tudo funcionar perfeitamente do ponto de vista fisiológico, ou seja, as transas com ela transcorrerem na mais perfeita normalidade, eu saia incompleto delas, com a sensação de ter deixado de sentir coisas relevantes, de não estar plenamente satisfeito; o que não acontecia quando a pica do Ben ou do Alex escorregavam lentamente, já meio flácidas, para fora do meu cuzinho galado. Será que eu nunca soube quais eram as reais necessidades do meu corpo, o que o fazia feliz, e como ele era capaz de deixar feliz e satisfeito um parceiro? Eu tinha dores de cabeça quando ficava muito tempo perdido nesses pensamentos. Certa ocasião quase cheguei a bater no carro, tão longe estava divagando.

Essa situação entre o Alex, o Ben e eu havia se tornado meu maior tormento porque eu não sabia como a explicar. Como chegamos a isso eu não compreendia, uma vez que, à exceção do período em que cada um esteve cursando a faculdade, sempre estivemos juntos em praticamente tudo na vida, e eu jamais precisei me questionar quanto ao que rolava entre a gente. Porém, ao passarmos a morar juntos, esse relacionamento tomou um rumo diferente, próprio, com essa questão do sexo permeando tudo. Já não bastasse isso, soma-se o complô dos dois para me deixar ainda mais sem chão. Pois, que havia o complô eu não tinha dúvida.

Passaram-se algumas semanas antes de eu deixar qualquer um dos dois me tocar. Eles precisavam saber que eu estava realmente zangado e que aquelas trocas de olhares entre eles, aquelas conversas que se encerravam assim que me aproximava deles, me irritavam. Contudo, eu sentia falta de transar com eles. Era mais uma necessidade corpórea justificava eu, do que emocional e psicológica. Ninguém em sã consciência consegue ficar num relacionamento amoroso com duas pessoas ao mesmo tempo, portanto, só podiam ser as carências do meu corpo que explicavam a situação que estávamos vivendo.

O que mais insistia e me abordava querendo me enrabar era o Ben, mas ele o fazia sob os olhares condescendentes e cúmplices do Alex. Isso ficou bem claro no dia em que precisei da ajuda do Ben instalar um software para o diagnóstico de imagens no meu notebook e, todas as minhas tentativas de instalá-lo por mim mesmo tinham falhado.

- Me ajuda com essa droga de programa, já tentei de tudo e não consigo. – pedi numa noite, após o jantar, quando ele e o Alex estavam jogando videogame.

- Claro! O que eu levo nessa?

- Um obrigado e olhe lá! Deixa de frescura, vai! Me dá uma mãozinha. – o safado queria se aproveitar da oportunidade para voltar a trepar comigo.

- Só se tiver essa ‘mãozinha’ aqui na minha pica! – provocou, trocando um breve e quase imperceptível olhar com o Alex que presenciava tudo.

- Pode tirar o cavalinho da chuva! Não rola!

- Você já foi bem mais afetuoso, sabia?

- Continuo sendo, mas não para as sacanagens de vocês dois. Se não quer me ajudar, tudo bem! Amanhã vou pedir para um dos rapazes que trabalha no laboratório me ajudar. – eu estava voltando para o meu quarto quando o Ben agarrou meu braço.

- Não faz isso conosco! O que deu em você?

- Não estou fazendo nada!

- Está sim! Por que não quer mais transar com a gente? – o Alex só ouvia, sem interferir, sem opinar, só vendo no que ia dar aquela conversa.

- Porque não tem nada a ver. Nem sei como entramos nessa. Mas, acabou. – afirmei.

- Você se chateou conosco e isso o deixou cego, pois eu boto a minha mão no fogo que teu rabo não vê a hora de sentir nossas rolas! – afirmou arrogante o Alex, repentinamente instigado a ajudar o amigo a me refutar.

- Vem cá, senta no meu colo que eu instalo o programa para você! – não era um convite, não era assédio, era uma ordem, só alguém muito distraído não o teria percebido.

- Anda! Faz o que o Ben ‘pediu’ e deixa de frescura! – a frase do Alex era uma ordem, a palavra – pediu – estava carregada de sarcasmo.

- Quem vocês pensam que são, para me dar ordens? Vão à merda! – esbravejei, deixando-os sozinhos e carregando meu notebook debaixo do braço enquanto a raiva tomava conta de mim.

Lancei-o sobre a cama quando entrei no meu quarto, passando a caminhar a esmo dentro dele, deslizando as mãos entre a cabeleira e pisando o chão como se quisesse estraçalhar algo sob os pés. Que porra era essa agora? Eles estavam me forçando a transar, eu não ia aceitar uma coisa dessas. Não, não mesmo. Da sala vinham as risadas deles, parte devido ao jogo de videogame, mas parte versando sobre a conversa que entremeava a disputa dos dois pela pontuação no jogo.

- Até agora ele não descobriu que é gay. Pode até estar desconfiado, mas continua relutando em aceitar. – era a voz do Alex.

- Enquanto estiver namorando a Luiza vai continuar achando que é macho. – retrucou o Ben

- Não vou interferir nesse namoro, quero que ele chegue à conclusão que nasceu para servir um macho por si só. Ele precisa vir por vontade própria, aceitar que é um não-homem, aceitar que precisa de um macho. – era um disparate ouvir o Alex falando isso, quase fui ao encontro deles para descarregar minha raiva em forma de socos na cara dos dois.

- O tal rapaz que ele quer que instale o programa tem que ser muito bom para perceber o que está acontecendo, aposto que ele vai voltar a me procurar e aí, meu amigo, é pica no cu antes mesmo de fazer a instalação. – ambos riram.

- Na sequência, você vai mandar ele para mim, sem perda de tempo. Quero ele ainda excitado, todo úmido e lubrificado, e vou mostrar a ele quem é o macho dele. – não gostasse tanto do Alex, asseveraria tratar-se do mais cruel e sarcástico facínora.

O vaticínio do Ben se concretizou, o rapaz da informática do laboratório não conseguiu solucionar o problema. Levei o notebook e o software até uma assistência técnica especializada, não podiam me ajudar. Que raio de porra podia ser tão complicado para instalar um simples programa num computador? Tudo conspirava contra mim. Era minha sina nos últimos tempos. Até meus pensamentos, meu tesão desejando picas em vez de bucetas, conspiravam contra mim.

Fui tão objetivo que deixei os dois pasmos quando, ao chegar em casa, coloquei o notebook diante do Ben, tirei a rola dele da bermuda e comecei a chupar sem o menor pudor diante o olhar condescendente do Alex, cuja ereção crescia apreciando a cena. Me pareceu que já fazia algum tempo que o Ben não tinha comido alguém, além de mim, pois ele veio para cima de mim, arrancando minhas roupas, como um primata selvagem. Ali mesmo, no balcão da cozinha, eu gania enquanto ele bombava meu cuzinho feito um tarado insaciável. Eu não tirava os olhos do Alex manipulando a jeba dentro da bermuda, minha boca salivava pelo sumo delicioso que eu sabia estar em seus testículos. Para meu azar, meu tesão era que ditava as regras e, enquanto levava o cacete do Ben no cuzinho, comecei a gozar às vistas dos dois, não conseguindo esconder a satisfação que eu não queria que vissem.

- É todinho seu! – disse o Ben quando terminou de me inseminar. Ele tinha gozado tanto que ao tirar a pica do meu cu e, antes que meus esfíncteres se contraíssem fechando a fendinha, uma parte da porra vazou escorrendo pelas minhas coxas.

- Vem para o quarto! – ordenou o Alex, que se desvencilhava da bermuda pelo caminho.

Caí de boca no cacetão dele assim que me sentei na beira da cama dele. Ele grunhia e gemia.

- Chupa a pica do teu macho, chupa viadinho! – grunhia entre os gemidos. Eu não sabia se me sentia humilhado pelo ‘viadinho’ ou, se tomava aquilo como um adjetivo carinhoso, tal era a confusão que imperava na minha cabeça.

Pouco depois, eu estava engolindo os jatos de porra que ele ejaculava na minha boca, me encarando altivo, senhor de sua posição, fazendo-me sentir como as palavras da Luiza haviam definido – um planeta orbitando ao redor do sol de cuja luz dependia sua existência – se isso não era se sentir subjugado, o que era então?

- Mostra como você gosta de se entregar para o seu macho, mostra! – sussurrou ele, vindo para cima de mim enquanto apartava minhas pernas e se instalava no meio delas, metendo sem perda de tempo, o caralhão sedento nas preguinhas rotas e esfoladas pelo amigo cúmplice.

Ele estava certo, eu estava gostando de me entregar para ele. Estava certo também quando afirmava que era meu macho, eu já não podia mais lutar contra a verdade. O único trunfo que ainda me restava era não ter dito a ele que o amava, nem sei há quanto tempo, uma vez que isso aconteceu tão insidiosamente que nem eu mesmo havia percebido. Ele foi tão carinhoso comigo, movia sua caceta grossa devagarinho, fazendo questão que eu a sentisse em toda sua plenitude e poder, aceitando-a como forma de consolidar nosso relacionamento. Gozei sentindo o sabor de sua saliva se misturando à minha nos beijos intermináveis que mantinham nossas bocas unidas na mesma intensidade dos nossos corpos. Ele sorriu docemente quando me percebeu gozando, e não precisou de muito mais tempo para despejar mais uma quantidade absurda de porra no meu cuzinho. Não voltei ao meu quarto naquela noite, adormeci com a cabeça apoiada no peito dele, afagando seus testículos, enquanto ele, possessivo, dedava meu cuzinho arregaçado.

Meus pensamentos estavam dando um nó na minha cabeça. Em meio a tudo que estava acontecendo ao meu redor não dava para tomar uma decisão que modificaria a minha vida por completo, eu precisava respirar, precisava de um tempo. Desde a aquisição e a reforma da casa, há três anos, eu não tirava férias. Decidi que precisava delas com urgência para poder refletir sobre o rumo que daria à minha vida. Sem muito critério, perda de tempo e planejamento optei por algumas semanas na já batida e brega Flórida, uma vez que todas as agências de viagens que consultei esbanjavam pacotes para esse destino pouco glamoroso, propício para neófitos e muambeiros. Era o que havia de mais fácil, de mais prontamente disponível, que menos esforços me custaria. Não disse a ninguém que estava tirando férias, nem que estava indo viajar por quase um mês. Minha única providência, além de fazer uma parca mala, foi terminar meu relacionamento com a Luiza. Seríamos apenas bons amigos após o meu regresso, sem mágoas, sem culpas ou culpados, sem desfechos dramáticos. Ela sabia que eu estava dividido, tinha me questionado diversas vezes quanto a isso, sem, no entanto, desconfiar das razões que haviam me colocado em cima do muro. Ao Alex e ao Ben deixei um bilhete sobre o balcão da cozinha naquela manhã em que ambos já haviam saído para o trabalho e eu seguia para o aeroporto com pouca bagagem. Eles o encontrariam à noite, quando voltassem, e eu estivesse voando a mais de dez mil pés de altitude, a mais de seis mil quilômetros de distância, tarde demais para questionamentos, imposições e explicações. Eu até podia ver a cara do Alex quando visse o bilhete – PARTI FÉRIAS, ME MUDO PARA A CASA DE UM COLEGA QUANDO VOLTAR – sua primeira reação seria um silêncio aparente, pois por dentro, estaria explodindo, depois viria o soco furioso contra a primeira superfície ou objeto que estivesse à sua frente e, por fim, a vontade de me esganar por não ter lhe dado nenhuma satisfação sobre essas férias e sobre a minha saída daquela casa, planejada pelas costas dele.

Passei a primeira semana praticamente só dentro das dependências do hotel, movido pelo cansaço dos últimos tempos, a desilusão com tudo, as perguntas para as quais não tinha respostas. Imergi em mim mesmo como jamais havia feito antes, nalgum lugar lá no fundo deviam estar não só as respostas das quais eu precisava, como também a solução para meu grande dilema. Nem a contemplação do alvorecer sentado na varanda da minha suíte na madrugada, nem a vista multicolorida do pôr-do-sol sobre o mar nos finais de tarde numa das poltronas do deque cercado por arvoredos do hotel me trouxeram o que eu precisava, paz. Pensei que talvez saindo do meu casulo encontraria o que estava procurando. Com essa ideia em mente, aluguei um conversível e subi a Estero Boulevard em direção a Fort Myers distante uma hora do hotel, numa manhã fresca e ensolarada. Tinha ouvido um casal numa mesa próxima mencionar o nome da cidade e isso bastou para eu me decidir a rumar naquela direção. Nada particularmente me levava até lá, apenas o desejo de respirar sem toda aquela opressão no peito. Numa das mesas separada da rua por uma topiaria baixa em meio a sombra de velhos carvalhos, eu desvendava as facilidades do celular que acabara de adquirir numa loja de eletrônicos do centro da cidade. Estava distraído tentando passar minha lista de contatos do antigo para o novo quando fui surpreendido pela cabeça tomada por uma grande mancha marrom de um pointer inglês com o corpo salpicado de pontinhos na mesma cor sobre uma pelagem branca. Ele afetuosamente apoiou o focinho na minha coxa enquanto me encarava com seus olhos castanhos amistosos e sacudia a cauda de felicidade. Olhei a minha volta para ver se achava o dono no meio das poucas mesas ocupadas àquela hora, mas não vi ninguém se manifestando com a atitude do cão.

- Fazendo amigos, seu danado? Eu não mandei você ficar sentado junto à porta? – ralhou o sujeito atlético numa bermuda caqui curta que deixava à mostra suas imensas coxas grossas e, numa camiseta que, apesar da estampa colorida no peito, só me fez reparar nos braços musculosos que emergiam das mangas. Ele esbanjava energia no sorriso largo, o que fez o cachorro ignorar completamente a bronca do dono. – Desculpe pelo incômodo! – exclamou, assim que estava ao meu lado, enquanto o cachorro já tentava se esconder entre as minhas pernas para fugir da bronca.

- Incômodo algum, sou apaixonado por cães! – respondi, me dando conta de que estava com um sorriso no rosto, o primeiro desde que cheguei à Flórida.

- Ultimamente ele deu para fazer amizades, como se eu não fosse capaz de fazê-las por mim próprio. Olha só a cara do malandro, agora que percebeu que comecei a conversar com você! – observou o cara simpático.

- Ele é lindo! Parece estar transudando energia! – devolvi. Por um segundo de leviandade libidinosa, assumi que a frase se aplicava a ambos e, não sei se pelo modo como me expressei, ou porque o sujeito me encarava como se quisesse me devorar, podia jurar que ele entendeu a dubiedade não intencional das minhas palavras.

- Derek, muito prazer! É uma raça muito ativa, precisa de atenção e espaço para esbanjar as energias. – afirmou.

- Otávio, o prazer é meu! Não quer se sentar uns instantes e tomar seu café? Seu cão parece ter encontrado nos meus pés um travesseiro confortável. – observei.

- Ota...Ota... acho que não consigo pronunciar esse nome. De onde você é? – perguntou, tentando repetir meu nome com a língua enrolada.

- Brasil! Otávio, Octavius do latim. Os antigos romanos chamam assim o oitavo filho, embora eu seja o segundo lá em casa. Dizem que é aquele pacifista que faz o possível e o impossível para manter um clima amoroso e tranquilo entre as pessoas, o que também não parece ser o meu caso. – afirmei. Ambos rimos.

- E o que faz por aqui? Férias? Lua-de-mel? Trabalho? – questionou.

- Férias, eu acho! – respondi ligeiramente sério, e ele percebeu a mudança no meu semblante.

- Run away vacations! – devolveu ele, matando a charada

- You hit the nail on the head! – exclamei.

- Tenho pena de quem você está fugindo! Deve estar arrependido do que deixou escapar! – afirmou, disfarçando a cantada com um gole rápido no copo de café que tinha nas mãos. Eu devolvi um sorriso acanhado.

Depois eu ainda tinha dúvida se dar o cu para dois homens, não curtir o sexo com a namorada, e levar uma cantada de um macho em plena luz do dia após a troca de meia dúzia de frases, não fazia de mim um gay. Pois aquele olhar esfomeado sobre as minhas coxas assinalava que os hormônios dele haviam detectado uma presa para seus instintos sexuais. Descobri que ele era veterinário, com uma clínica nas proximidades, onde conseguiu me arrastar depois de um papo divertido fazendo comparações entre os meus pacientes e os dele. Subitamente o tédio que estava sentindo deu lugar a horas agradáveis vendo-o atuar. A tarde se esvaia quando ele insistiu num jantar junto à marinha, me prometendo a lagosta mais deliciosa que eu podia experimentar. O Derek tinha aquela mesma capacidade de persuasão do Alex, ou seria outra essa capacidade que me levava a ceder, e aceitar com tranquilidade o que eles propunham?

Tudo indicava que a noite não ia terminar com aquele jantar maravilhoso, como não terminou. No quarto principal de uma casinha com ares praianos entre um jardim de coqueiros, palmas, um velho barco abandonado, eu gania feito uma cadela com a rola grossa do Derek rasgando as pregas do meu cu, enquanto a brisa fresca da madrugada esvoaçava o cortinado fino das janelas abertas. Ele tinha a mesma pegada possessiva, a mesma dominação, o mesmo furor sexual, permeados pela generosidade, carinho e cuidado amoroso quando a jeba imensa submetia meu cuzinho aos seus instintos que o Alex. Era um tipo de macho distinto da maioria. A impressão que tive enquanto ele me possuía, era a de que ele sabia dominar sem ser agressivo, sabia subjugar sem oprimir, que naturalmente estava numa posição cuja hierarquia não era contestada. Mais uma vez as palavras da Luiza me vieram à mente - Tipo numa matilha de lobos, onde todos os machos seguem o macho-alfa sem afrontá-lo, sem contestá-lo, assumindo uma posição submissa para a harmonia e a força da matilha – a comparação que achei bizarra quando proferida por ela, não deixava de ser verdadeira.

- O que foi, te machuquei? – perguntou o Derek, ante o meu silêncio prolongado, ao terminar de ejacular no meu cuzinho, esperando a rola amolecer um pouco para saca-la.

- Nada, não! Você é um homem maravilhoso, não me machucou, não. – respondi, afagando o rosto dele.

- Tive a impressão que de você estar distante. Pensando em quem você está fugindo? – confirmar sua suspeita significava admitir que não estava participando de corpo e alma no coito sensacional que acabamos de ter, mas eu não quis mentir.

- De certa forma! Não me entenda mal, por favor, esse momento que acabamos de ter foi maravilhoso, você é um homem incrível, lindo, gostoso, encantador. – devolvi.

- Estava me comparando a ele, não é?

- Eu não diria comparando. Constatando, seria o termo correto, constatando o quanto vocês são parecidos. – respondi.

- Por que está fugindo dele então, se citou apenas qualidades positivas ao nos comparar?

- Não sei! Talvez por receio, talvez porque não sabia quem sou de verdade, talvez porque ele me assuste. – ouvindo minhas próprias palavras me senti um idiota, era como se de repente eu tivesse perdido a confiança em mim mesmo, em tudo que construí com meu esforço e determinação.

- Assumir-se gay e passivo diante de homem consciente de sua masculinidade pode ser assustador, mas não significa que você esteja num papel secundário, a menos que ele exerça sua dominância com brutalidade. Ponderou.

- Não! Ele nunca fez isso. É tão cuidadoso e carinhoso quanto você foi há pouco, divinamente amoroso. – devolvi. Ele me apertou contra o peito e me beijou com um beijo demorado e úmido.

- Conheço-o há poucas horas, mas seria capaz de viver toda uma vida a seu lado. Essa tua sensibilidade à flor da pele, deixa homens como eu malucos, ensandecidos para serem seu macho pelo resto da vida. – declarou, me aconchegando em seu tronco.

A convite do Derek deixei meu hotel impessoal em Naples e fui me hospedar na casa dele. Para poder me levar a lugares e passeios fantásticos, ele deixava a clínica veterinária nas mãos de uns colegas durante alguns dias para desfrutar da minha companhia. Mesmo sabendo que provavelmente seriamos apenas bons amigos, ele apostou tudo naqueles dias em que me tinha ao seu lado, e naquelas noites em que eu lhe entregava meu cuzinho e minhas carícias, de forma tão espontânea e fértil. Foram semanas que lavaram minha alma, afastaram temores, me mostraram novas perspectivas. Poucos dias antes do meu regresso ao Brasil, nosso último fim-de-semana juntos, o Derek me levou a um resort em Grassy Key a partir do qual exploramos os arredores. Famoso por seus pores do sol incríveis, estávamos a espera dele sentados sobre algumas rochas jogando conversa fora. Assim que a esfera alaranjada iniciou seu declínio sobre as águas esverdeadas, ele me puxou para seu ombro e me deu um beijo sabendo que seria um dos últimos que trocávamos. Fiquei extremamente emotivo, despedidas nunca haviam me abalado tanto, talvez a beleza e serenidade do lugar e o anoitecer também estivessem influenciando esse sentimento. Uma parte do sol já estava imersa no mar, pensativo, eu procurei em cada umas das possibilidades até a verdade surgir nítida diante de mim. Eu sou gay e estava amando o Alex. Impossível e inútil negar. Só havia um caminho, assumir e ser feliz ao lado dele.

- Está triste? – perguntou o Derek, sentindo como eu apertava seu bíceps.

- Não! Emocionado com tanta beleza e sua presença ao meu lado. – respondi.

- É lindo, não é? Posso te confessar uma coisa?

- Espetacular! Pode, é claro!

- Eu estou triste! Fazia tempo que não me sentia assim. Estou triste por você partir em poucos dias, estou triste por saber que não vai ficar comigo, estou triste por não ser o macho que você precisa. – devolveu ele. Beijei-o com todo e afeto e ternura que havia no meu coração, esse homem merecia toda a felicidade do mundo, e eu era incapaz de dar isso a ele.

- Perdão por não poder ficar com você. Vou torcer para que encontre quem o mereça. – prometi.

- Vou sobreviver! Também quero que seja feliz. Não fuja mais do seu destino, não fuja mais do sortudo que vive aí dentro do seu coração. – sugeriu.

- Me prometa que seremos amigos, mesmo que a vida não nos tenha unido de outra maneira. – pedi

- Prometido! – exclamou, com um sorriso taciturno.

Cheguei em São Paulo numa noite de chuva torrencial, um contraste e tanto com minhas últimas semanas sob sol quente e dias esplendorosos, talvez para eu já ir entrando no clima do que me aguardava. Conforme combinado com um colega que fizera a residência comigo, fui direto para o apartamento dele. Ia ficar com ele até conseguir um canto só meu.

No primeiro dia de volta ao trabalho fui informado pela Luiza que o Alex esteve a minha procura no hospital praticamente todos os dias.

- O que aconteceu? Ele parecia um doido atrás de você? Vocês brigaram? Ele não sabia que você estava de férias? – questionou.

- Saí de casa! Não foi propriamente uma briga, apenas ficou um clima insustentável entre os três, resolvi dar um tempo e procurar outro lugar para morar. – esclareci, ela merecia isso.

- Nunca consegui entender a relação entre vocês três e, pelo visto, nem você. – afirmou.

- Até eu sair da casa também não a compreendia direito, mas isso passou. – devolvi.

- E?

- E, que eu precisei desse tempo para me descobrir. Ainda não me sinto confortável para falar sobre isso. Quem sabe um dia! – eu não me sentia à vontade para abrir minha vida, para sair do armário numa boa.

- Seja como for, trate de entrar em contato com o maluco, pois ele está irreconhecível. – disse ela. O que queria dizer com irreconhecível? Subitamente fiquei preocupado com o estado emocional dele, com o que poderia fazer comigo, e tantas outras possibilidades.

Na mesma tarde tive a chance de confirmar a afirmação da Luiza, o Alex apareceu no laboratório quase no final do expediente. Eu havia me esquecido de como esse homem era lindo dentro dos ternos bem ajustados que usava. Ao colocar os olhos sobre mim, um sorriso tímido se acendeu em seu rosto, aquele rosto que nunca me pareceu tão encantador quanto agora. Ele caminhou a passos firmes na minha direção, eu estava analisando umas imagens tomográficas para emitir um laudo quando ele se sentou na cadeira giratória ao meu lado.

- Por que fez isso conosco? – o timbre de voz controlado não escondia o que ia dentro dele.

- Precisei de um tempo! Preciso de um tempo!

- E para isso precisou fugir desse jeito, deixando um bilhete frio?

- Não fugi, apenas tirei férias! – menti

- Você sabe que agiu errado, não sabe? Sabe que não podia ter feito isso com o Ben e comigo.

- Se vocês tivessem sido sinceros comigo, isso não ia acontecer. – devolvi com firmeza.

- Você não estava pronto para encarar a verdade! Duvido que esteja agora.

- O que eu sou para você, Alex? O cara que é incapaz de cuidar de si mesmo, o cara que precisa de alguém guiando seu rumo? Minha carreira e minhas conquistas não caíram nas minhas mãos por pura sorte, tudo foi conquistado com meu esforço, meu empenho. É bom que você saiba disso!

- Você é o não-homem por quem sou fissurado desde a adolescência. Você é o cara que nunca soube que é gay e até se envolveu com uma mulher para fugir da sua essência. Você é o cara que nunca percebeu que há uma hierarquia entre os homens que define quem eles são na sociedade. Eu sei que você correu atrás das tuas conquistas, e as mereceu. Sei que é autossuficiente e independente financeira e profissionalmente. Mas, o que você não sabe é que precisa de um macho na sua vida, para cuidar de você, para sustentar o amor de que tanto precisa. Em anos de convívio você nunca percebeu que eu sou esse macho, esperando você se dar conta de que é de mim que você precisa para ser feliz. – eu tremia todo, ouvindo a contumácia com a qual se dirigia a mim.

- Você e o Ben me fizeram de palhaço, se aproveitaram de mim e da minha insegurança. – eu ainda tinha que me posicionar.

- Em absoluto! Eu só usei o que tinha a meu favor, a tara do Ben pela sua bunda, para te mostrar que você era um gay enrustido. Eu pedi a ele que te preparasse para mim, sabendo que ele o faria com imenso prazer, sem representar perigo para mim, querendo ficar com você.

- Não acredito que vocês puderam ser tão frios e calculistas comigo! O Ben me preparar para você? Que absurdo de se dizer!

- Você, por acaso, já viu como uma matilha de lobos trabalha em conjunto? Já viu como o macho-alfa permite que os demais machos participem do banquete das presas abatidas e, algumas vezes, até que copulem com algumas fêmeas para garantir a unidade e a harmonia do bando? O Ben fez exatamente isso com você, te preparou para o macho-alfa. – eu estava pasmo com essas comparações, estava pasmo pela Luiza ter notado isso e eu não.

- Eu volto a te perguntar, Alex, o que eu sou para você? Diante desse montão de absurdos que você está falando, nem sei mais o que pensar.

- Você é meu! Não a fêmea-alfa da matilha, pois não somos lobos nem você é uma fêmea, mas é quem quero ao meu lado para amar, proteger e cuidar. Eu soube disso naquele dia em que te enrabei nas poltronas do ônibus, e você ficou ali, sentindo minha pica e minha masculinidade, me aceitando sem contestar. Eu te amo, Tavinho! Abre essa cabeça, abre esse coração e me diz que sou teu macho. – minha mão estava fria quando ele tocou nela.

- Eu sou uma bicha, não sou? – minha voz saiu embargada, era primeira vez que me ouvia admitindo que era gay.

- A mais deliciosa e encantadora bicha que existe nesse mundo! A minha bicha! – sentenciou ele, me puxando para um abraço. – Volta para casa, volta!

- Vou pensar! Já que você falou em matilha, preciso ver se há em mim algo de canídeo ou lupídeo e qual meu papel nessa comparação esdrúxula. Se formos considerar assim, existe a Bia, a fêmea-alfa, existe o Ben o macho beta e, lá no fim da hierarquia existo eu, o macho ômega, o não-homem, como você mesmo diz, ou sei lá onde me enquadro nisso tudo. Preciso de um tempo! E eu que achava que sabia quem eu era, repentinamente descubro que diante de você não sou quem pensava ser. – argumentei.

- Não vai haver Bia, não vai haver Ben, nem seja lá mais quem for. Seremos você e eu, só nós dois e o nosso amor. É você quem eu quero no topo ao meu lado. É do amor que sente por mim que eu preciso para ser feliz. Você pode até não saber, mas faz tempo que me ama. Deixe o que está aqui falar mais alto do que está aqui. – disse ele, colocando primeiro a mão sobre o meu coração e depois, dois dedos na minha têmpora. - Tudo bem, eu te concedo um tempo para botar essa cabecinha em ordem. Sexta-feira à noite! É esse o seu tempo. Sexta-feira quero você lá em casa! Nem um dia a mais, nem uma desculpa qualquer, nada. Apenas você de volta de onde nunca deveria ter saído, estamos entendidos?

- Vou pensar! – seria assim de agora em diante? Ele dando ordens, determinando, mandando e eu simplesmente obedecendo? Será que conseguiria viver assim? Havia muito o que considerar antes de eu me decidir. Já estava difícil aceitar que, enquanto homem, estava perdidamente apaixonado por outro, que fazer sexo com outros homens era muito mais prazeroso, que havia por aí outros homens me cobiçando, como aconteceu com o Derek e, pior, que eu não me ofendia com suas cantadas, mas era capaz de até ir para a cama com eles.

- Sexta-feira! – exclamou, antes de me deixar terminar meu trabalho.

E lá fiquei eu, com aquela bomba nas mãos para decidir meu futuro. Havia tanto do que abrir mão, mas o que mais estava pesando era anuir ao fato de que, voltar para casa, significava assumir um relacionamento com um homem que me queria para ser seu passivo. Será que meu amor pelo Alex era tão intenso a esse ponto? Será que eu daria conta de ser quem ele esperava que eu fosse? Ri sozinho dentro do carro enquanto voltava para casa naquele final de tarde, imaginando que estas respostas também deveriam estar disponíveis no Google, seria tão mais fácil.

Liguei para a Bia naquela noite. Nem adianta me perguntar porquê. Talvez porque eu achava que ela estava numa posição parecida com a minha, por mais patético que isso possa parecer. Nossas conversas francas e abertas me diziam que talvez eu pudesse me entender com ela, mais facilmente do que com o Alex. Ela gostava dele, não o amava, confessou. Revelou que poucos meses depois se conhecerem, percebeu que o Alex a queria a seu lado para provar alguma coisa a si mesmo ou a outrem, não para se apaixonar por ela. E, bombástico, quando me conheceu, descobriu que era para mim que ele estava querendo provar alguma coisa.

- Posso ir além? Ser mais sincera ainda? – questionou ela

- Claro! Sempre foi assim entre nós dois, não foi? – devolvi

- Ou muito me engano, ou o Alex é apaixonado por você. – reinou o silêncio de ambos os lados da linha, como se precisássemos esperar a poeira do bombardeio abaixar.

- Foi o que ele me confessou! – afirmei, retomando a conversa.

- E você?

- Eu estou mais do que perdido, porque há pouco descobri que o amo desde a adolescência. – revelei.

- E isso não é ótimo? Se os dois se amam, é só seguir em frente.

- Eu gostaria de acreditar nisso.

- Acredite! Vai ser bom para ele e para você! Eu dou meu maior apoio e, fico feliz que um amor tão fora dos padrões e do preconceito da sociedade exista. Faça-o valer à pena, Tavinho! Faça valer à pena.

O Ben saiu para um encontro pouco depois de eu entrar em casa com as minhas malas. Não me pareceu algo arranjado previamente entre os dois, era realmente um daqueles seus encontros; os quais ele pensava serem apenas uma distração e autoafirmação de sua masculinidade. Eu sabia que algum dia ele ia encontrar uma garota no meio de tantas que ele levava na lábia, que fisgaria o coração dele, irremediavelmente. Ele me abraçou, me beijou com safadeza, arriscou uma passada de mão nas minhas nádegas, e me disse que o bronzeado adquirido nas férias tinha me deixado ainda mais tesudo.

O Alex estava radiante com a minha volta e, certamente, também por eu ter seguido sua ordem. Estava difícil de descobrir no meio daquele sorriso gostoso que ultimamente me deixava abalado.

- Bem-vindo, amor! – exclamou, quando me envolveu num abraço e me beijou diante o olhar complacente do Ben. – Fico feliz que tenha se descoberto. É aqui que mora sua felicidade. – afirmou, com tanta convicção que não dava para duvidar.

- Ainda estou me acostumando a ser esse novo Otávio! Não apresse, nem force as coisas, ok?

- Juro! – exclamou, beijando os dedos cruzados. – Só não abro mão da comemoração por sua volta essa noite. – emendou ligeiro. Nem eu queria deixar de comemorar aquele passo importante da minha vida, aquele marco que envolvia uma guinada com a qual nunca sonhei, virar marido de outro homem.

Ele e eu jantamos sozinhos. Falamos pouco, nos entreolhávamos como nunca antes havíamos trocado olhares. Houve uma breve tensão quando meu celular tocou e na tela surgiu o rosto do Derek beijando minha bochecha numa selfie tirada naquele pôr-do-sol que acabou resultando na nossa última trepada.

- Quer que eu fale sobre isso? – perguntei, ao ver a expressão contrariada do Alex.

- Acho que uma explicação ia bem! – respondeu

- Nos conhecemos por acaso no pátio de um café em Fort Myers, aliás, foi o pointer inglês dele que nos aproximou. Foi com ele que passei praticamente todo o tempo em que estive por lá. É um bom amigo, vai ser para sempre, pois é difícil encontrar alguém como o Derek, um sujeito integro, amoroso, que valoriza as amizades. – esclareci.

- E que gosta do cu de um cara lindo como você, perdido no meio de um dilema de se aceitar como gay! – completou o Alex. Eu esbocei um sorriso afirmativo.

- Não vou te esconder nada! – asseverei.

- Melhor assim! A partir de hoje não haverá mais Dereks, Bens ou, seja lá quem for. Só Alex, combinados?

- Você sabe que sim!

Terminei aquela noite com o Alex fodendo e tirando o atraso no meu cuzinho, como casal, o que seríamos dali em diante. O passar do tempo me fez ver que eu só segui minha natureza, algo que estava lá desde que nasci, que não precisei me aviltar ou ser forçado a nada. Tinha sido apenas uma questão de descobrir quem eu na verdade era. O Ben morou conosco por quase mais dois anos. Como eu havia previsto, a Carolina apareceu na vida dele e pôs um fim naquelas aventuras de Don Juan dele. O Alex e eu compramos a parte da casa dele quando começaram a montar a casa na qual receberiam o Thiago, o primogênito deles. O Alex e eu somos os padrinhos do garotão rechonchudo de riso fácil como o do pai.

Quando afago o rosto hirsuto do Alex enquanto ele espera a pica amolecer no meu cuzinho depois que empapá-lo de porra, vejo no fundo do seu olhar doce e carinhoso, que minha felicidade sempre esteve segura ali, e me sinto a criatura mais abençoada desse mundo.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 51 estrelas.
Incentive kherr a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

Essa história tem a trama parecida com outros 2 ou 3 contos seus, isso me deixou meio desanimado pq no meio do conto já tinha percebido pra onde a história estava se encaminhando por já lido algo parecido escrito por você mais de uma vez.

0 0
Este comentário não está disponível
Foto de perfil genérica

Kher, acabei de ler esse conto no Whatpad. Nem sabia que havia um perfil publicando seus contos por lá, fiquei sabendo ontem. A pessoa deixa claro que os contos são seus, retirados da CDC. Achei legal porque lá é melhor de acompanhar, posso salvar na minha biblioteca, mas você está ciente dessas publicações?

0 0
Este comentário não está disponível
Foto de perfil genérica

Oi CarlosGah! Realmente as atitudes do Alex para com o Otávio são bastante questionáveis. No entanto, se você reparou, a abreviação ABO, vai além das iniciais dos nomes dos protagonistas da estória. Ela está ligada ao universo fictício (funfiction) ABO, onde não há regras comportamentais entre os envolvidos numa relação e sim, uma hierarquia entre machos alfa, beta e ômega, exatamente as posturas do Alex, Ben e Tavinho no conto. Ficção não é fake, mas também não pode ser lida como realidade. Abração e obrigado por ter lido e comentado o meu conto.

0 0
Foto de perfil genérica

Mesmo odiando o desenrolar do conto li até o final. O comportamento do Alex com Otávio me deixou puto de raiva, eu não aceito isso de jeito nenhum. ai que ódio. Espero nunca passar por isso porque sou capaz de esganar o desgraçado!

No mais parabéns você escreve muito bem, espero que seu próximo conto não tem essa temática.

0 0
Este comentário não está disponível
Este comentário não está disponível