Por esse amor - Ep. 14: NOSSO MUNDO

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 1901 palavras
Data: 15/03/2021 02:53:08

GALERA, QUERO SÓ AGRADECER AOS COMENTÁRIOS É MUITO LEGAL LER TODOS. QUERO AGRADECER TAMBÉM AS VISUALIZAÇÕES, O PRIMEIRO CAPÍTULO JÁ BATEU TODAS AS EXPECTATIVAS. DESDE JÁ AGRACEÇO. BOM DOMINGO E ÓTIMO INÍCIO DE SEMANA. VAMOS AO CONTO:

Escrito por Santino Peixoto:

Eu não gosto quando as pessoas gritam comigo. Não é que eu fique chateado, porém, dispara gatilhos da minha infância. Na época, em que os meus pais moravam juntos, eles sempre discutiam por minha causa. De acordo com o meu pai, eu era afeminado demais, gordo demais e não tinha o sangue dos Peixoto correndo dentro de mim.

Lembro de uma vez, acho que eu tinha uns sete anos. Estávamos de férias em Dubai e, após tomarmos banho no mar, peguei a toalha e coloquei no corpo como se fosse um vestido. O meu pai deu um grito, arrancou a toalha do meu corpo e me deu um tapa no rosto.

Que tipo de pessoa faz isso com uma criança? A partir daquele momento, a mamãe decidiu se mudar e ele adorou a ideia. Afinal, o filho afeminado não tinha valor nenhum. Por outro lado, o meu pai nunca deixou nada faltar para nós, principalmente, quando se tratava de educação e moradia.

— Santino. — a voz de Kleber me trouxe de volta para realidade.

— Hum. — soltei, ainda nervoso por causa do grito e escondendo as minhas mãos que estão tremendo.

— Desculpa. Eu não queria ser grosseiro e...

— Tudo bem. — falei sem ter coragem de olhar para ele.

— Não, não está. Eu não sei o que aconteceu. Fiquei com ciúmes. — ele assumiu e segurou na minha mão. — Eu fiquei com ciúmes de você, Santino. E prometo que isso não vai acontecer de novo.

O Kleber. O Kleber está com ciúmes de mim? Eu nunca tive ninguém com ciúmes de mim, nem a minha própria mãe. Eu não sei como reagir a essa novidade. De forma engraçada, ele colocou os tickts em cima da mesa e começou a desamassar um a um.

Tenho vontade de pegar o celular e digitar: "Como reagir a uma crise de ciúmes", entretanto, fazer isso com o Kleber ao meu lado não é o melhor plano do universo. Por isso, procurei não surtar e voltei a agir normalmente.

O climão desapareceu quando vi todas as opções de comida. Eu sou fã de comidas regionais, mas a banana frita é o meu ponto fraco. Eu uso um dos tickets para comprar uma porção de banana frita com leite condensado. O Kleber pediu um bolo de macaxeira, que parecia muito suculento.

Voltamos para a mesa e passamos um bom tempo conversando. O Kleber deve ser a única pessoa no planeta que ri das minhas piadas ruins.

— Você conhece a piada do pônei? — perguntei, enquanto como uma banana frita.

— Não. — O Kleber respondeu levantando uma das sobrancelhas.

— Pô nei eu. — respondi, rindo da minha piada ruim.

— Você é muito bobo. — O Kleber afirmou, pegando um guardanapo de papel e limpando a minha boca. — Tem um pouco de leite condensado escorrendo.

— Obrigado.— agradeci, visivelmente vermelho e envergonhado, mas adorando a atitude dele.

Seguimos para o segundo round. Dessa vez é salgado. Assim como a primeira vez, fiquei na dúvida de qual escolher. As opções são variadas e, claro, saborosas. Em uma das barracas, encontrei coxinha, risole, pastel de queijo, bola de frango, kikão, macaxeira cozida com manteiga, dado de tapioca e sanduíches.

Escolhi o famoso Kikão, que é a versão manauara do cachorro-quente, muito mais saborosa e sem purê de batata (obrigado, menino Jesus). Já Kleber decidiu comer uma porção de macaxeira cozida. Acho que temos um fã de macaxeira, né? Em seguida, passamos na barraca de bebidas e pedimos sucos.

Eu não sabia que encontros podiam ser tão divertidos. Parte da culpa era do Kleber que me deixava à vontade. Aproveitamos o momento para tirar uma selfie e registrar o primeiro encontro de muitos.

— Preparado para ganhar muitos prêmios? — Kleber perguntou mostrando mais dois tickets.

— Sim! — exclamei, mesmo sabendo que sou péssimo em jogos.

A primeira parada foi na pescaria. Uma moça muito gentil nos recebeu e pegou o ticket das mãos de Kleber. A barraca era simples e convidativa. Uma placa feita de cartolina explicava como funcionava a brincadeira, achei um pouco desnecessário, porém, gostei dos desenhos de peixinhos que fizeram.

Algumas crianças terminavam sua partida, então, o Kleber assumiu a dianteira e pegou a varinha de madeira. Ele se concentrou e analisou todos os peixinhos coloridos que boiavam na piscina montada no chão. Eu fiquei na torcida porque queria um prêmio daquela quermesse, nada mal uma lembrancinha do primeiro encontro, né?

— Vou no peixinho azul! — exclamou Kleber, ficando de cócoras e analisou com cuidado a melhor maneira de pegar o peixe azul.

— Boa sorte. — tentei passar uma sensação de positividade para ele.

Eu não sei o que deu em mim, mas fiquei bastante nervoso e ansioso para que o Kleber conseguisse algum prêmio. Depois de várias tentativas, algumas frustradas, o Kleber puxou o peixe azul. Com a excitação da vitória, ele correu na minha direção e me abraçou. Ficamos pulando igual crianças e corremos para a frente da barraca para ver qual a premiação que o peixe dava.

Para minha alegria, o prêmio em questão foi o urso gigante. Percebi que a moça da pescaria ficou decepcionada, porque o presente principal era aquele, ou seja, desculpa crianças da quermesse. O Kleber pegou o urso e me entregou. Nem preciso dizer que achei fofo aquela atitude e recebi o presente de coração.

Outra barraca que fez sucesso foi a Boca do Palhaço. A estrutura estava simples e, infelizmente, o palhaço não foi bem retratado. Parecia uma foto do Pennywise de Chernobyl, talvez o desenho estranho causou a comoção nas pessoas. De tempos em tempos, algum curioso vinha para tirar uma selfie ao lado do palhaço.

Pensei que o Kleber fosse arrasar, mas não conseguiu colocar nenhuma bola de plástico na boca do palhaço. Pelo menos, consegui uma grande recordação desta noite maravilhosa.

— Lamento não conseguir outro brinde. — se desculpou Kleber, enquanto andávamos em direção a moto.

— Hum. — murmurei, criando coragem para expressar o que realmente se passava no meu coração. — Kleber. Essa noite está sendo perfeita. Você não precisa se esforçar tanto. Só o fato de estar contigo já deixa esse encontro especial. Fora, que eu ganhei o Curumim. — disse levantando o urso.

— Curumim, ele já tem um nome? — questionou Kleber dando uma risada.

— Hum. — falei envergonhado.

— Fofo. Os dois. — afirmou Kleber pegando na minha bochecha e apertando.

Ok. Talvez, ganhar o Curumim não tenha sido uma boa ideia. Temos dificuldades para encontrar uma posição legal na moto. Depois de um tempo pensando na melhor solução (o urso entre nós dois), a gente seguiu para a segunda e última parada da noite.

Tem uma coisa que eu percebi nos passeios de moto. A sensação de liberdade. Enquanto cortávamos as ruas de Manaus, o vento batia no meu rosto, através do visor que estava levantado. Nas partes com vegetação, conseguia sentir o cheiro de mato (sim, mato tem cheiro e um delicioso), algo tão familiar e nostálgico.

Conhecia aquele caminho, algo que já fiz muitas vezes. Estamos indo em direção à Praia da Ponta Negra, uma das mais famosas de Manaus. Ele está localizado às margens do Rio Negro. Existe um contraste enorme nesta área, pois, além da praia, a Ponta Negra também é lar de enorme edifícios.

Sabe porque eu conheço o caminho? Já morei na Ponta Negra. Isso foi antes dos meus pais decidirem se separar. Cada parte daquela região me desperta uma sensação ruim, porém, o coitado do Kleber não tem obrigação de saber isso.

Estacionamos próximo ao Anfiteatro, que tem uma estrutura bonita. No meio da multidão, eu me destaco porque além de alto, estou segurando um urso marrom enorme. As crianças passam por nós e apontam para o Curumim, o urso.

O calçadão da Ponta Negra tem uns quatro quilômetros, o piso é todo trabalhado em pedras portuguesas, inspirado no Largo de São Sebastião, outro atrativo turístico da cidade.

O papo com o Kleber é tão gostoso e espontâneo, nem percebemos que andamos de uma ponta a outra da Ponta Negra (olha o piadista ruim rs). Resolvemos sentar em uma parte de grama e temos a visão noturna do Rio Negro. Quer dizer, conseguimos ver apenas algumas luzes, devem ser barcos que trafegam pelas águas escuras, algo que nunca teria coragem de fazer.

Curiosamente, o clima em Manaus está agradável. O vento nos presenteia com sua presença, só que preciso arrumar os meus cabelos toda hora. O Kleber sentou perto de mim e nossas pernas ficam roçando uma na outra. Falamos sobre a expectativa da faculdade e os clubes que nos inscrevemos.

— Eu perdi as inscrições, mas quero tentar algum tipo de esporte. — explicou Kleber, tomando espaço e deitando a cabeça no meu colo. — E você?

— Eu, eu, eu, escolhi artes plásticas. — comecei a gaguejar, pois, não esperava essa atitude dele.

— Vou colocar uma música. — ele anuncia pegando o celular e abrindo o Spotify. — Aviso logo, tenho um gosto musical duvidoso. — explicou o Kleber dando play e colocando o celular do meu lado.

***

Sentado, olhando, esperando

Sentado, esperando

Sentado, olhando, esperando

Sentar, adiando

Os sonhos que eu busco

Sempre continuam caindo

Dúvidas e comparações

Nunca vão me deixar vencer

Então eu olho para você quando estou caindo

Eu procuro e depois acredito em mim novamente

***

O Kleber tinha um rosto lindo, tem um formato másculo e seu queixo chama a atenção. Os cílios negros piscavam e davam espaço para seus olhos castanhos. Eu o admiro por um tempo fora do normal, o Kleber ficou sem graça e soltou um sorriso. Um pouco tímido, ele levantou a mão e tocou no meu queixo.

Eu também resolvi tomar uma atitude e fiz carinho em seus cabelos. Acabamos nos fechando em nosso mundo e deixamos tudo para trás. Eu não consegui resistir, baixei a cabeça e dei um selinho nele.

Devagar, o Kleber sentou novamente e ficamos mais perto. Ele tocou no meu rosto e o aproximou do seu. Eu não luto. Eu quero. Eu desejo. Nossos lábios parecem dois imãs. A atração é imediata. Dessa vez, o beijo não tem gosto de mar ou peixe. É um beijo tranquilo e apaixonado.

***

As esperanças e desejos valerão a pena

Aqui vou eu novamente

Girando e girando

Não sei o que fazer

Dê tudo e caia

Mas quando eu olho para você quando estou caindo (estou caindo)

Eu procuro e depois acredito em mim novamente

Se tempo (se tempo)

Se o tempo parasse

Se tempo (se tempo)

Se o tempo parasse

Eu (eu),

Eu ainda gostaria de mais tempo com você

Eu ainda gostaria de mais tempo

***

Eu o beijo. Não tenho receio ou medo. Estar com o Kleber me dá coragem e eu gosto do que sinto. O mundo para por um instante. O suficiente para ter certeza que quero provar mais daquela boca.

— É oficial. — soltou Kleber um pouco ofegante e tremulo.

— O quê? — perguntei com medo de ter feito algo errado e estragado o momento.

— Essa é a nossa música.

E, novamente, o Kleber me beijou. E ficamos assim por um bom tempo. Fechados em nosso mundo. Um mundo belo e sem qualquer preconceito. Para o desespero da família tradicional brasileira.

Eu nunca estive em um relacionamento. Não sei nem como agir, mas estou louco para descobrir as possibilidades, mesmo que no caminho existam pedras e obstáculos.

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Comentários

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Amando o moro dos dois, puro,forte e verdadeiro...

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Conta maravilhoso, gostoso de ler. continue a nós encantar com uma narrativa vibrante echeia de informações. Valiosas.

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Conta maravilhoso, gostoso de ler. continue a nós encantar com uma narrativa vibrante echeia de informações. Valiosas.

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O mundo é cheio de possibilidades,cada um pode escolher, escolha a felicidade.

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