VIDA DE UNIVERSITÁRIO - Capítulo 8: Entre mentiras e verdades

Um conto erótico de Ferdinand Fiore
Categoria: Homossexual
Contém 2245 palavras
Data: 27/06/2020 02:07:53

Mais um ano se iniciava. Janeiro de 1996 e eu estava feliz com quase tudo que acontecia em minha vida. Estava namorando com o Renato, o cara que tanto desejava, estava prestes a viajar para Itália para participar de um intercâmbio estudantil promovido pela Universidade que estudava. Mas ainda continuava triste pelo fato de não conversar com meu pai, que tinha cortado relação desde o momento que ele tinha me visto na cama com o Renato. Embora ele tivesse o jeito rude dele, sentia muito a sua falta.

Minha viagem estava marcada para o dia 05 de fevereiro. No primeiro mês do ano estava organizando toda a papelada, documentação e aproveitando para estudar um pouco mais o idioma italiano. Aproveitava para ficar com o Renato cada instante que podíamos pois, afinal, ficaríamos no mínimo seis meses um distante do outro e isso estava me consumindo por dentro. Mas ele mesmo me incentivava a ir e eu sabia que essa oportunidade seria maravilhosa para a minha carreira.

Embora Renato estivesse sempre ao meu lado, percebia que ao passar dos dias ele estava diferente, muitas vezes com o pensamento longe.

Todo ano, as turmas do curso de medicina da Universidade que eu estudava promoviam uma festa no final de janeiro ou início de fevereiro, antes das aulas iniciarem, para se confraternizarem. Na verdade, era uma oportunidade ou desculpa para que os caras e moças solteiras conseguissem ficar com alguém, e nestas festas rolava muita bebida e algumas drogas. A festa estava marcada para o dia 03 de fevereiro, dois dias antes da minha viagem. Eu não estava afim de ir, justamente pela fama que o encontro tinha. Estava mais com vontade de ficar namorando com o Renato, aproveitando os últimos momentos juntos antes de partir para o intercâmbio. Porém ele queria ir de qualquer maneira na festa e, então, combinamos que ele iria no sábado de manhã (pois ele daria carona para alguns amigos que pediram, como ele mesmo tinha me dito) e eu o encontraria lá na chácara, porém no final da tarde, pois aproveitaria para dar uma carona para a Heloísa e Arthur, que iriam mais tarde também, por conta do estágio dele.

Como combinado eu, Heloísa e Arthur partimos para a chácara no final da tarde, onde acontecia a tão famosa festa dos alunos de medicina. Tinha tentado falar com ele pelo celular, durante o decorrer do dia, porém não tinha conseguido. Chegamos no local e estava entupido de gente. Reconheci algumas pessoas da Universidade, até mesmo de outros cursos. Tinha muita gente desconhecida também. Sabe aquelas Raves onde as pessoas bebem, dançam, fumam, se beijam, com uma música muito alta que nem dava para conversar direito? A festa estava muito parecida. Nem eu tinha consciência que seria daquela maneira. Diante daquele amontoado de pessoas, muitas delas já bêbadas, queria logo encontrar o Renato e, quem sabe, convencê-lo a sair dali, pois com o pouco que já tinha visto sabia que não ficaria ali por muito tempo.

A chácara era enorme, com uma grande casa, com vários cômodos, rodeada por uma varanda bem grande, onde possuíam mesas, redes, bancos... Na parte de trás duas grandes piscinas, duas grandes churrasqueiras, uma grande área verde, campo de futebol, um lago logo perto dali, enfim, muito espaço que as pessoas poderiam ocupar e fazer o que bem entendiam.

Estava ali já uns 15 minutos e ainda não tinha encontrado com o Renato, o que já estava me deixando preocupado, principalmente pelo fato de algumas pessoas me falarem de tê-lo visto bem bêbado. Um certo momento pensei tê-lo visto ao lado de uma pessoa, porém perdi de vista no meio das outras pessoas. Outros conhecidos me contaram que ele deveria estar na região do lago com uma garota, o que me deixou mais arrepiado ainda.... Como assim? Com uma garota? Olhava para a Heloísa, com uma interrogação estampada na minha cara, e ela percebia o quanto estava apreensivo por não encontrar o Renato.

Andamos por toda a área verde, fomos até o lago e faltava olhar nos cômodos da casa. Na sala, algumas pessoas sentadas no sofá, outras deitadas no chão, algumas na cozinha, o banheiro estava trancado. Bati na porta.

EU: Renato, você está aí? (Ninguém respondeu. Bati novamente). Renato, você está aí?

Um cara abre a porta e o cheiro de urina misturada com vômito veio junto.

RAPAZ (bêbado): Aqui não tem nenhum Renato não.... (E retornou para o banheiro provavelmente para vomitar mais).

Eu fui em direção aos quartos. Já estava com o coração na boca. Será que Renato tinha passado mal e resolveu dormir um pouco? O primeiro quarto estava com a porta aberta e dois casais se beijavam lá dentro. Porém os outros três quartos estavam com as portas trancadas. E agora?

Bati no primeiro e duas moças saíram de lá constrangidas. Entrei para verificar e não tinha mais ninguém.

O comentário que ele estaria com uma garota não saía da minha cabeça. O fato de não o encontrar e aqueles quartos fechados me deixava mais angustiado ainda. Arthur, que também estava procurando na área externa se juntou a nós e confirmou que ele não estava por lá.

ARTHUR: Será que ele foi embora?

HELOÍSA: É... Quem sabe ele não curtiu a festa e resolveu voltar para casa. Vamos embora também Fernando, daí passamos na casa dele. (Tentando me puxar para fora da casa. Eu percebia muito bem as “boas” intenções dela, pois no fundo, ela estava sentindo o mesmo que eu sentia naquele momento)

EU: Não! Quero procurar mais um pouco... Se ele tivesse ido embora provavelmente já teria me ligado. (Indo em direção ao quarto)

Bati na porta do terceiro quarto e nada... Mexi na maçaneta e fechada. Bati na porta e escutei um barulho lá dentro. Tinha alguém lá.

ARTHUR: Vamos ver o outro...

Mexi na maçaneta do último quarto e por incrível que pareça não tinha ninguém lá... Voltei minha atenção novamente para o terceiro dormitório. Bati na porta e mexi mais uma vez na maçaneta.

EU: Renato, você está aí?

Escutei mais um barulho. Queria colocar aquela porta abaixo. Se tinha alguém lá, por que não queriam abrir?

HELOÍSA: Vamos Fernando! Vamos fazer o que te falei. Acho que ele foi embora mesmo...

EU: Não Heloísa! Eu vou entrar neste quarto, nem que coloque esta porta abaixo.

Forcei mais uma vez a maçaneta e bati na porta com força, fazendo muito barulho. Algumas pessoas que passavam próximas olharam tentando entender o que estava acontecendo. A maçaneta se mexeu como se alguém estive abrindo. A porta se abriu e se notava uma escuridão lá dentro. Ninguém apareceu na fresta que se abriu...

Eu: Renato, você está aí dentro? Quem está aí?

Uma moça aparece, segurando uma blusinha com as mãos, cobrindo os seios que estavam desnudos. Demorei alguns segundos para reconhecer aquela figura ali na minha frente, mas qual foi meu espanto ao notar que quem estava ali era a Bianca, a ex do Renato. Ela nos olhava rindo... Senti um aperto no coração. Empurrei com força a porta e quando entro no quarto não enxergava quase nada por causa da escuridão. Procurei o interruptor e a própria Bianca acendeu.

E ali estava o que mais temia... Renato estava deitado na cama, como se estivesse desmaiado de bêbado, com as calças e cuecas no pé, e o pau apontando para cima, totalmente duro. Heloísa ao ver saiu do quarto..

Eu não conseguia falar... as palavras engasgavam e um nó se fez no meu peito e na garganta. Uma mistura de sentimentos: raiva, tristeza, decepção.

ARTHUR: Venha Renato (me puxando pelos braços)

EU: (gritando) Me solta Arthur.... (Olhei para Bianca) O que você fez?

BIANCA: Estou com meu namorado... Ou você acha que ele ficaria com você.? Que ele me trocaria por você?

Eu não conseguia raciocinar direito naquela hora. A raiva me consumia. Queria voar no pescoço daquela menina.

EU: (Olhando para ele deitado) Por que Renato!? (Num tom de voz mais alto)

Renato nessa hora abriu os olhos, levantou a cabeça, e me olhou, como se tentasse entender o que estava acontecendo. Viu a Bianca e a sua situação totalmente nu em cima da cama.... Ele levantou rápido e ficou em pé puxando a calça, mas pela situação de bêbado que se encontrava, caiu no chão. Ele tentou falar algo, que não entendi o que era... Mandei ele calar a boca.

EU: Cala a boca Renato! Era isso o que você queria? Por que fez isso comigo? É por isso que você queria vir aqui?

BIANCA: Eu marquei com ele aqui na festa. Combinamos de nos encontrar aqui para reatarmos o namoro. (Novamente Renato fala algo tentando se explicar, porém era irreconhecível o que ele falava).

Resolvi sair daquele quarto e ir embora... Heloísa me aguardava do lado de fora da casa e ao me ver me deu um abraço.

HELOÍSA: Vamos embora meu amigo.

Arthur veio dirigindo e me deixou em casa. Queria ficar sozinho, embora eles insistissem para ficar comigo. Falei que não queria e deixei o carro com eles para que pudessem ir embora. Disse que poderiam me devolver no dia seguinte.

HELOÍSA: Deve ter uma explicação tudo isso, embora não entenda porque Renato fez isso contigo. Ele parecia estar feliz com você.

EU: Só tem uma explicação Helô: ele o tempo todo mentiu... não sei porque, mas mentiu. Eu percebi que ele estava diferente nos últimos dias. Provavelmente já deveria ter se encontrado com a Bianca e resolvido voltar o namoro. Teve uma época que até achei que ele ainda gostava dela... E está aí... comprovado... Ele não precisava ter feito eu passar por isso!!! Por favor, quero ficar sozinho.

ARTHUR: Fique bem Fernando. Qualquer coisa nos ligue.

Ali fiquei sozinho no meu apartamento mais uma vez chorando por causa do Renato. Prometi a mim mesmo que essa seria a última vez que choraria por causa dele. A minha vontade era quebrar a cara dele e a da Bianca. A raiva me consumia. Estava com muito ódio de tudo o que tinha visto.

EU: Por que? Por que Renato? Eu estava te amando... (chorando) eu te amava... Renato, por que? Eu te amo.... Por que fez isso?

Minha vontade era pegar o voo para a Itália naquela hora e sumir do Rio, ir para bem longe, o mais rápido possível. Sabia que a qualquer momento Renato apareceria ali para falar alguma coisa, tentar explicar algo que já estava nítido.

Tomei uma decisão. Peguei minhas malas que já estavam prontas e resolvi ir para um hotel que ficava próximo ao aeroporto. Porém não falaria para ninguém... e lá aguardaria até o momento do meu embarque para a Itália. Já estava com tudo acertado na parte de documentação... era só aguardar.

Liguei para a Heloísa e contei que tinha mudado o meu embarque e que estava indo naquela hora para a Itália. Ela ficou chocada com a minha decisão e falou que iria até o aeroporto para conversar. Pedi que não, apenas solicitei que cuidasse do meu apartamento enquanto estivesse fora, que a chave estava com o vizinho, e que poderia deixar meu carro na vaga do condomínio. Me despedi e falei que mandaria notícias. Desliguei o telefone antes que ela falasse mais alguma coisa.

Fui para o hotel. Deitei na cama e minha cabeça rodava e doía com tudo aquilo que tinha passado. Até então Renato não tinha entrado em contato comigo. Adormeci. Acordei as cinco e meia da manhã com ele me ligando no celular. Olhei e resolvi não atender. Virei para o lado e novamente tocou. Pela segunda vez não atendi. Levantei beber água.... Pela terceira vez tocou e resolvi atender. Coloquei o celular no ouvido. Do outro lado Renato chorava...

RENATO (chorando): Por favor Fernando, não vá... A Heloísa me contou que você já está indo... Me perdoe, por favor, me perdoe....

Desliguei o celular sem falar nada. Ainda estava sentindo muita raiva dele e, ao escutá-lo, toda a cena do dia anterior veio na minha cabeça.

Mais uma vez o celular toca e eu não atendo. Meia hora passa e Renato liga e resolvo atender.

EU: O que você quer falar Renato? Eu vi e entendi tudo!!! Você nunca deixou de gostar daquela vadia!! Você, este tempo, só estava se divertindo da minha cara.... Já viu como é ficar com outro homem? Enjoou da sua brincadeira? Pronto, já passou a vontade e agora volta para a namoradinha....

(Do outro lado eu escutava ele chorar).

RENATO: Não é isso que você está pensando. Por favor, me escute...

EU: Não quero.... Chega!! (gritando)

RENATO: Por favor!! Eu te....

EU: Chega Renato. Vou entrar no avião. Não quero mais falar com você, acabou tudo!!! (falei isso começando a chorar. Resolvi desligar, mas antes escutei suas últimas palavras)

RENATO: Não Fer!!! Me espere que estou chegando no aeroporto!

Desliguei o celular, deixando-o off para que ninguém mais pudesse falar comigo e que pensassem que peguei o voo. Ali dentro daquele quarto fiquei... chorando.... com raiva, tristeza, com o coração despedaçado.

A viagem era a minha fuga. Queria esquecer tudo aquilo... Passei o domingo trancado naquele quarto. Às 3 horas da madrugada de domingo para segunda fui para o aeroporto. E lá fui rumo a uma nova página da minha Vida de Universitário, com o propósito de esquecer tudo o que tinha acontecido com o Renato, com o meu pai, com o que tinha dado de errado. E o avião decolou rumo para a Itália.

(Continua....)

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Comentários

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Eu acredito que foi armação,ou Renato é um grande ator,e o Fernando muito impulsivo!

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Chocado! O conto tá muito bom. ♥️

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O Renato e inocente ser fosse um jogo o Renato não iria dar uma aliança por Fernando que tem a cabeça Dura.

Continua logo por favor????

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E assim sua vida seguiu o rumo...Vamos esperar as consequências se suas ações!!!

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Que decepção o Renato,mas deve ter tido uma explicação,e Fernando quando decide... não tem perdão rs

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