Anti Herói - Capítulo Treze

Um conto erótico de _alguemsolitario
Categoria: Homossexual
Contém 4594 palavras
Data: 31/03/2020 00:11:31
Última revisão: 31/03/2020 00:25:58

— Oliver, eu queria conversar com você! - disse com um semblante apreensivo assim que abri a porta do meu quarto. Seu cabelo, recém cortado na altura dos ombros, havia deixado-a ainda mais bonita. Peço-a para entrar e olho ao redor para ver se minha mãe ainda estava por perto, e quando constato estarmos livres, fecho a porta e me aproximo dela com um beijo, calmo e delicado, que é correspondido, até ela pedir para parar.

— O que foi? - sorrio, encarando-a de perto.

— Eu quero falar sobre a gente! - sinto um arrepio percorrer meu corpo, no fundo já sabia onde aquilo iria parar. Balanço a cabeça afirmativamente e me sento na cama, acompanhado por ela.

Era certo, que, nossas vidas estavam seguindo rumos distintos, e a cada dia ficava mais díficil para nós mantermos o que tínhamos, uma hora ou outra aquele momento aconteceria, embora nós dois tivéssemos postergado por muito tempo. E durante alguns segundos o silêncio imperou, até ela tomar coragem para prosseguir.

— Acho que, do jeito que está, não dá! A gente mudou, e eu sei que nada é como era antes. Eu acho que o melhor para nós dois, é terminar! - senti a batida do meu coração falhar, percebo lágrimas começarem a escorrer pelo seu rosto, enquanto eu apenas encarava o chão. - Nós não podemos mais viver assim! Não é certo com a nossa amizade, nem com o Pedro! - e ao ouvir o nome dele senti um calafrio. Não havia um dia sequer em que eu não me sentisse culpado por esconder aquilo dele. — Eu não estou disposta a assumir os riscos dessa relação, e eu sei que você também não. E para mim, sua amizade é mais importante do que qualquer outra coisa e eu não quero estragá-la por conta de um relacionamento. - eu ouvia tudo calado, pois, sabia que ela estava certa - Estamos começando na faculdade e eu sei, que vamos conhecer novas pessoas, e tudo isso vai passar. Só quero que nunca esqueça da gente!

Se havia outra alternativa? Não sei. Mas naquele momento era o que estava decidido. O que nós dois vivemos, sem dúvidas foi maravilhoso e eu aproveitei cada momento daqueles quase dois anos. Porém como ela mesmo disse, não estávamos dispostos a assumir as responsabilidades de um relacionamento sério.

Depois daquele seu desabafo no quarto, ficamos mais uma vez em silêncio, até eu abraçá-la, e ela ir embora minutos depois sem dizermos nada um para o outro. E foi quando ela não estava mais lá, que eu me permitir chorar. A Júlia tinha sido minha primeira paixão de adolescência. Mas como ela mesmo disse, sentimento nenhum irá ser maior do que a nossa a amizade, e tudo mudou depois dela.

O tempo passou, e ficamos um longo período sem se ver, porém não sem contato. Conversávamos quase todo dia por mensagem e contávamos as novidades. Era necessário um afastamento para superarmos aquela fase. E o senhor tempo, como sempre, ajudou a curar tudo. E a cada vez que eu e ela conversava, menos eu sofria, e parecia que ela também, pois havia me falado que estava conhecendo um cara, que meses depois veio a ser seu namorado. William era o nome dele.

Durante essa nossa separação, o Pedro desconfiou que houvesse alguma coisa, mas tanto eu, quanto a Júlia, nos limitávamos a dizer que era a faculdade. Fazia um bom tempo que não saíamos os três juntos, e eu apenas via o Pedro, ora quando ele vinha em minha casa, ora quando eu ia na dele, ou então, no campus, uma vez que, eu e ele entramos para a mesma universidade, porém em cursos diferentes. Eu engenharia, ele administração.

— Oi, mano! Fazendo o quê? - pergunta Pedro ao abrir a porta do meu quarto, se jogando na minha cama em seguida. Eu estava sentando em frente ao computador fazendo um trabalho. O fim do ano já se aproximava, e já fazia mais de oito meses que não via pessoalmente a Júlia.

— Já entra assim é? E se eu tivesse pelado? - digo em tom de brincadeira.

— Ué, foi sua mãe que me deixou entrar. E além do mais, não tem nada aí que eu já não tenha visto. - sorriu. De fato, já tínhamos tomado banho algumas vezes juntos. Numa delas ele estava bêbado, e quando fui colocar ele embaixo do chuveiro, ele me puxou para junto dele, me abraçando e me fazendo molhar todo. Então, eu acabei tirando a roupa e terminando o que ele começou. Eu sabia, naquela época que já tinha superado a Júlia, mas há algumas semana percebi que o meu amigo começava a mexer comigo de uma forma diferente. Ele estava mudando muito, seu corpo, sua voz, a cada dia que passava ele ficava mais bonito, era difícil não notar, assim como eu também mudava, mas não na mesma intensidade dele.

— É, mas eu estou terminado um trabalho importante e preciso de silêncio. Portanto, ou fica calado, ou dá o fora. - digo. Ouço-o gargalhar e segundos depois se aproximar.

— O que está fazendo? - pergunto ao vê lo, passar por debaixo dos meus braços sobre o teclado, sentando-se em meu colo e me abraçando.

— Ah, mano, me dá atenção! Já basta a Ju, e agora você? Vocês só pensam em estudar. - dizia com a cabeça em meu ombro. Ele levanta a cabeça e me encara fazendo uma expressão tão fofa que me fez rir. — "Pu favô" - disse com uma voz de bebê, e então eu me rendi.

— Tá bom. O que você quer fazer? -perguntei já abandonando o que estava fazendo. Ele sorri e animadamente responde.

— Quero beber! - e assim como das outras vezes, saímos para um bar qualquer, o mais próximo que estivesse aberto, rumo a mais uma noite de diversão. Mas naquele dia, em específico, foi diferente. Ele como sempre, ficou com várias garotas, encheu a cara e se acabou de dançar, enquanto eu não quis ficar com ninguém. Permaneci sentado na mesa a noite toda, observando-o, e foi quando a ficha caiu. Até então nunca tinha gostado de nenhum cara, mas olhando para ele ali, tive a certeza que estava apaixonado por ele. Mas como aquilo havia de dar certo? Ele provavelmente nunca sentirá atração por mim, pois o que mais ele demonstrava, era gostar de garotas. Além do mais, não poderia arriscar mais uma amigo de novo. O melhor a fazer, era guardar o sentimento para mim, e esperá-lo lentamente morrer.

O fim do ano chegou, e pela primeira vez, nós três, passamos as férias separados. Eu com minha família em casa, a Júlia com a família dela em Pernambuco, e o Pedro com o pai em Goiás, que, aparentemente, tinha se recuperado da crise financeira e familiar, de pouco mais de um ano atrás. Tempos difíceis aquele, lembro-me como se fosse ontem, estudávamos na mesma escola, o ano final do ensino médio, foi a época em que nós três estávamos mais unidos, mas aí veio a faculdade e os outros eventos que aconteceram.

O tempo foi passando, conheci novas pessoas e o que eu sentia pelo meu amigo já havia passado. Comecei a rever a Júlia, e aos poucos o célebre trio foi retornando. Era o nosso segundo ano de faculdade. O William, novo namorado da Ju, era um cara legal, e eles passaram mais de dois anos juntos, até decidirem só ficar, e romperem, quase um ano depois, definitivamente. Eu seguia sem ninguém, mas feliz por ter meus amigos juntos de volta. Claro, que, vez ou outra eu dava uns beijinhos, ou tinha uma transa casual, mas nunca passava disso. Até que no meu quarto ano de faculdade, eu conheci o Marcos.

Nosso primeiro contato foi quando por, ironia do destino, fomos escolhidos como dupla na aula de um professor em comum que tínhamos. Ele pediu meu contato, e logo combinamos de eu ir para sua casa algumas vezes. Nos falávamos todo dia e fomos nos tornando amigos. Seu pai, era um ex-senador, já sua mãe, uma bem sucedida empresária, mas apesar disso, ele nunca, em nenhum momento, se gabou das posses da sua família. Era bem simples na maioria das vezes, se preocupava com o meio-ambiente e tinha o desejo de construir moradia para quem não pudesse comprar. Claro, não vou negar o quanto ele era lindo. Educado ao extremo, era um verdadeiro sonho para qualquer um, belo tanto por fora, quanto por dentro, e foi assim que me apaixonei por ele.

Depois de quase um mês de contato frequente, a hora da entrega do trabalho chegou, e eu pensei que, mesmo nós dois termos nos tornado aproximado naquele período, passaríamos a nós ver e falar com menos frequência, entretanto não foi isso que aconteceu. Continuou tudo igual, até melhor, e ele começou a me chamar para sair. E numa dessas saídas ele confessou que gostava de mim de uma outra maneira. Se abriu comigo e achou que eu não fosse o corresponder, mas ao contrário do que ele pensou, eu correspondi. Começamos a ficar por um longo período, sem nada oficial, pois não queríamos apressar as coisas. Até ele me pedir em namoro pela primeira vez. Para mim, era tudo surreal.

— Você tem certeza disso? - pergunto com um meio-sorriso, suas mãos estavam envoltas em minha cintura e seu corpo bem colado ao meu. Ele me olha e sorri.

— A única certeza que eu tenho é que eu quero você. - aproxima seu rosto, e me beija.

Foi tudo muito intenso com ele. Ele foi minha primeira experiência com garotos e eu tinha muito medo. Medo do que iam falar, medo dos meus amigos se afastarem, mas quanto mais tempo eu passava com ele, menos inseguro me sentia em relação a isso. E foi quando ele me pediu em namoro que eu contei para os meus amigos. De início, eles agiram espantados, mas logo me acolheram e apoiaram como sempre fazem, e me davam mais certeza de que nossa amizade era verdadeira. O meu namoro com o Marcos era puro fogo, transávamos em todo lugar, no estacionamento da faculdade, no banheiro do shopping, até na saída dos bares que íamos. Eu amava estar com ele.

Umas semanas depois de eu me abrir para os meus amigos, a Júlia terminou com o William de vez, aquela altura já tinham se passado quase três anos que eles estavam juntos, e nós três, já nos encontrávamos no quarto ano da faculdade. O Pedro depois de um tempo, começou a agir de modo estranho, até achei que fosse pelo fato de eu gostar de meninos, mas, a julgar que na maioria das vezes ele era o amigo que eu precisava, aquela hipótese era refutada.

Depois de mais de quatro meses, o meu namoro com o Marcos não resistiu a primeira crise, então terminamos. Se me perguntarem se eu ainda gostava dele quando nós rompemos, eu respondo com todas as letras que sim. Mas estávamos estressados demais naquele momento, eu pensando no meu futuro, e ele com os problemas familiares dele, e sem perceber, nos afastamos. Mas eu ainda era apaixonado por ele. Só que, era o melhor a se fazer naquele momento.

Voltando ao agora...

Meu corpo estremeceu quando ele disse que me amava. Mas que droga ele tinha usado? Aquilo deveria ser apenas efeito da bebida, pensei. Até sentir seu beijo e perceber que sim, havia sentimento, e não só por parte dele, mas de mim também. Foi um beijo inesperado, mas capaz de me deixar entregue e completamente vulnerável. Sentir sua língua dançando suavemente em minha boca, me causava as mais diversas sensações, que não havia sentido antes, nem mesmo quando ele me beijou pela primeira vez.

E pensar em quão doido nossas emoções podem ser, pois foi preciso um outro beijo, para eu perceber que, ainda havia resquícios do que eu sentia por ele lá trás, só estava adormecido no fundo das minhas emoções, apenas esperando o gatilho para aparecer. Vê-lo se declarar ali em minha frente, me fez ver que, mais do que nunca, eu o queria, como sempre quis. E tudo se fez claro em minha mente. Eu era sim apaixonado pelo meu namorado, mas quem eu amava, era o Pedro. Por isso me sentia vazio, apesar de gostar, e estar com o Marcos. Ele para de me beijar, mas continua de olhos fechados.

— Eu não aguento mais ficar tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe. Eu quero você, Oli. - falou sem me encarar. Surreal, era a palavra que definia aquilo tudo. E diante daquela confissão, retribuí novamente o seu beijo. Tentando calar o desejo que eu tinha, de sentí-lo cada vez mais.

— Eu só, preciso de um tempo para processar tudo isso. - digo entre um selinho. Ele sorri, e me beija novamente, mas dessa vez eu o afasto.

— Me desculpa, Oli. Eu sei que não tinha o direito de te colocar nessa situação. Mas eu precisava... Esquece, me perdoa. - ele se vira atordoado para ir embora, mas eu o seguro, impedindo-o de ir. Ele me encara por alguns segundos, e impulsivamente me abraça. - Eu não quero te perder, Oli. - sua voz começava a ficar embargada novamente. Respirei fundo.

— Você não vai. Mas eu preciso de um tempo. - garanto, e continuamos abraçados sem pensar no redor, até ouvirmos algumas risadas próximo a escada, e nos separarmos.

— Eu... acho que vou deitar... - diz ele. — Bebi muito e não estou bem. - notei que ele evitava olhar em meus olhos, devia estar envergonhado. Assinto para ele, e aproveito a deixa para me despedir.

— Bem, então acho que vou dormir também. Boa noite! - digo. Encaro-o mas ele olhava para suas mãos. Começo a andar em direção ao meu quarto, quando ele me chama.

— Oli, promete que não vai se afastar? - pergunta, levanta a cabeça rapidamente e me encara, seu olhar brilhante, de quem ia começar a chorar me deixou com o coração na mão, e eu tranquilamente respondo.

— Prometo!

Tamanha era minha exaustão, que assim que entrei no quarto, me joguei na cama sem ao menos trocar de roupa. E foi pensando em tudo que tinha acabado de acontecer, que eu adormeci. Despertei-me ainda de madrugada sentindo alguém ao meu lado, me abraçando em uma conchinha, e constatei instantes depois, ser o Marcos. Cuidadosamente saí de seus braços e me encaminhei para o banheiro, a noite estava quente, então resolvi tomar um belo banho gelado. Liguei a ducha e deixei a água correr. Como o universo era engraçado. A Júlia, que era minha melhor amiga, foi o meu primeiro relacionamento, e quando eu a superei, descubro gostar também, de meninos, e sentir mais que afeto pelo meu melhor amigo. E quando eu acho tê-lo superado, e dar uma nova chance para mim e para o Marcos, mesmo com dúvidas, ele se declara, e traz à tona sentimentos do passados, que, pelo visto, não passaram.

Eu não minto quando digo que gosto do Marcos. Sim, gosto muito dele. Mas só gostar, não é o suficiente. Tínhamos química, óbvio. Mas era fato, nunca superei verdadeiramente o que sentia pelo Pedro, apenas suprimi-los. E isso me assombrou, mesmo que inconcientemente. Mas será que valeria a pena viver algo escondido novamente? Será que o Pedro seria capaz de enfrentar o mundo por nós dois? Era tão engraçado pensar isso aqui, sendo que, há quatro anos, eu "namorava" a Júlia. Mas, o que eu sentia por ele, era diferente e mais intenso. Tudo passava pela minha cabeça. Como ficará a amizade de nós três de novo? E o Marcos? Era tanta coisa que nem me dei conta que havia passado tempo demais com o chuveiro aberto. Desligo-o, me troco e sigo direto para o quarto.

De relance percebo da janela que o céu já começava a mudar de tom, anunciando que nas próximas horas o sol nasceria. Já refrescado, decido voltar a dormir. Paro em frente a cama e observo o meu namorado dormir. Seria tão mais fácil se eu sentisse por ele, o que sentia pelo meu amigo. Subo na cama e beijo o seu pescoço, ele se mexe, mas não desperta, então eu me deito e o envolvo em um cocha, adormecendo novamente, logo depois. E enquanto eu dormia, sonhei que estava em um barco. Parecia ser um veleiro. Estava deitado na proa, observando o horizonte, ao meu lado havia um homem sentado, olhando na mesma direção. No alto, o sol brilhante e escaldante, não me permitia ver seu rosto, mas eu sentia que ao lado dele, eu era feliz.

Me acordei pouco mais de meio-dia. O Marcos não estava em minha cama. No criado-mudo, uma bandeja com comida, e um bilhete: "Acordei primeiro :-) Você dormia que parecia um anjo e me deu pena de acordar. Esse café é para o namorado mais lindo do mundo.". Sorri, mas lembrei da noite passada, e então a culpa veio. — Eu não o mereço! - penso. Logo o lembro, e ele aparece e me encontra lendo o bilhete.

— Acordou, o meu bebê?! - diz vindo em minha direção. Ele se aproxima e me dá um selinho. — Gostou do café?

— Adorei! - sorrio.

— Então come, ué? - ele diz — Ou quer que eu der na boquinha?

— Não! Definitivamente não! - gargalhei. Seria uma cena engraçada. Pego a bandeja e começo a me servir, e ele apenas me observa comer.

— O que foi? - pergunto desconcertado. Minhas bochechas ruborizaram, pois sempre fico tímido quando alguém me olha fixamente por muito tempo.

— Te amo, sabia? - ele diz, de novo. E mais uma vez não respondo nada. Apenas dou mais uma mordida no pão, e sorrio com os lábios para ele, o puxando e dando-lhe mais um selinho em seguida. Eu precisava conversar o quanto antes com ele, mas como?

Termino de comer e vou escovar os dentes. Lá embaixo, mais festa iria acontecer. Pense em uma família festeira. Mas, tudo bem. Afinal, eram férias, não um retiro. Estava com uma roupa muito folgada, então troquei por uma mais apresentável. E ao passar pela escada toda aquela cena da noite anterior veio a minha mente e um frio percorreu minha espinha. Estava muito ansioso de ver o Pedro. Como as coisas seriam dali para frente? Passo pela sala e, em parte, suspiro aliviado por não encontrá-lo logo de cara. A hora de nós dois conversarmos chegaria, mas não precisava ser agora. Cumprimento alguns parentes ali presentes, seguido pelo Marcos, e saio em direção a varanda, onde encontro o Alex, que logo vem me abraçar, e cumprimentar com um soquinho, o meu até então, namorado.

— E aí, qual a programação de hoje? - pergunto para o primo do meu amigo.

— Tô preparando uma parada especial aí. - diz com seu ar sorridente de sempre.

— Quero só ver. - sorrio de volta. Olho ao redor e não havia nenhum sinal do Pedro lá fora. — Cadê seu primo? - pergunto como quem não quer nada.

— O Pedro? Foi na cidade comprar umas coisas. Por falar nisso, sabe dizer se aconteceu algo com ele? Ele estava meio estranho hoje cedo. Bem sério e mais calado. Perguntei o que houve e ele disse que talvez tinha feito uma besteira e que precisava corrigir. - perguntou preocupado. Mas a sua última frase me chamou atenção. O que o Pedro quis dizer com aquilo? Agora mais do que nunca precisava vê-lo.

— Não faço a mínima ideia. - digo mergulhando em dúvidas. Conversamos por mais algum tempo, e eu decido procurar a Julia, que, diferente do dia anterior, não estava presente festejando ainda, estava de ressaca melhor dizendo, e nem tinha saído da cama. Deixei o Marcos lá embaixo e fui acordá-la.

— Levanta rapariga. - digo invadindo seu quarto, abrindo as janelas e puxando seu lençol. Houve uma época que achei que não seríamos tão íntimos novamente.

— Me deixa. Tô toda moída. - falou preguiçosamente apertando seus olhos por conta da claridade.

— Quem manda beber sem limites! - sorrio — Agora levanta para beber de novo. - ela chia, mas se levanta de impulso. Jogo a toalha em seu ombro e dou-lhe o sabonete, a guiando para o banheiro.

— Agora só sai daí recomposta. - digo do lado de fora. Ela tranca a porta. — Ainda não estou ouvindo o chuveiro. - ouço-a resmungar, mas não conseguia entender o que ela dizia, então apenas ri, e segundos depois ouço o barulho da água.

— Aí, que gelado! - ela grita, reclamando da temperatura da água.

Enquanto ela tomava banho desci até a cozinha para pegar um copo d'água para ela, e um antiácido.

— Bom dia, bonitão. - disse a simpática senhora que preparou meu café da outra vez.

— Olá, bom dia! Vim só buscar um copo d'água para minha amiga tomar um remédio. - respondo sorrindo.

— Oxente, e não vai tomar café? - pergunta gentilmente.

— Já comi! Na verdade, meu namorado que me levou café na cama. - peguei um copo de vidro e fui em direção ao filtro acoplado a torneira enchê-lo.

— Ah, sim. Muito romântico ele! Quem me dera ter um namorico assim. O meu serve pra nada, um traste. - diz com bom humor — Mas me deu meu bem mais precioso que é minha filha. - sorrio da sua forma de falar da sua família, era nítido quanto carinho ela tinha por eles.

— Filho é tudo! Tudo que eu não quero ter! - brinco, e ela sorri.

— Ai, é bom, sabe? Mas dá um trabalho! Agora vai que tua amiga está esperando. - me lembra, e eu me despeço dela. Voltei para o andar de cima e a Júlia já tinha saído do banheiro, fui até seu quarto e bati na porta, esperei alguns instantes e ela abriu, já vestida.

— Trouxe para você! - digo lhe entregando o copo com água e o comprimido.

— Own, obrigado! - agradece, e toma rapidamente. — Já está animado lá embaixo? - pergunta.

— Estão preparando ainda. O Alex disse que ia ter uma surpresa. - digo.

— Adoro! Será que ele vai trazer algum amigo dele gostoso? - ela ri, e eu também. Como era bom ter ela para compartilhar essas loucuras. Espero-a terminar de se arrumar, e descemos juntos, indo direto para o lado de fora, onde o som já tocava. O Marcos já estava bebendo e conversando com uns tios do Alex, esse por vez, não estava ali, pois, estava tirando alguns sacos de gelo da caçamba da caminhonete do... Pedro? Meu coração parou por um segundo e voltou, principalmente quando ele percebeu nossa chegada, deu um meio sorriso e acenou, e eu me limitei apenas a acenar de volta, mas de uma forma tão travada, que quase não consegui. A Júlia desesperada, já corria pelo lado de fora gritando, desejando bom dia a todos, e dizendo que a festa precisava animar.

— Vamos agitar isso aqui, meu povo! Que a única coisa que morreu, foi a minha vontade de gostar de hétero de novo. - foi inevitável, todos ali começaram a rir. Os tios solteirões, e mais assanhados do Pedro, começaram a chamá-la e a oferecer bebida, e ela toda doida, foi. O Marcos também me viu e me chamou para perto dele, mas antes que eu chegasse até ele, o Pedro me parou.

— Oli - chamou. Ele já estava atrás de mim, me viro e olho para ele. — Podemos conversar depois? - propôs ele, seu olhar parecia preocupado.

— S-sim. Claro! Quer ir agora? - pergunto. Meus nervos estavam a flor da pele.

— Não, depois! Ainda preciso fazer umas coisas. Mas, mais tarde eu te procuro. - assenti, e ele saiu indo em direção o seu carro novamente. Suspiro fundo, e vou em direção ao Marcos. Assim que chego perto dele, ele agarra minha cintura, e me dá um selo.

— Aconteceu alguma coisa amor? Você parece tenso! - pergunta.

— Não! É que... - eu não conseguia olhar no olho dele sem sentir culpa. Eu não podia continuar com aquilo. Mas, antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, minha atenção foi roubada quando vi que a mesma garota do outro dia, acabara de chegar. O que diabos ela estava fazendo aqui? Será possível que depois de tudo que o Pedro me falou ontem, ele estava arrependido? Mesmo sem nenhuma confirmação, comecei a sentir um sentimento ruim. O medo de ser desiludido novamente, era grande.

— Amor? - chamou Marcos, me tirando do meu devaneio.

— Eu... - tento voltar a raciocinar — Preciso conversar com você depois.

— Tudo bem! Mas é algo grave? Não pode ser agora?

— Não! Depois, com mais calma. Agora, só vamos aproveitar. - forcei um sorriso para deixá-lo menos preocupado e fui beber. Queria apenas por um momento, esquecer tudo.

A noite só começava, e depois de estar a tarde inteira bebendo, já começava a sentir os sinais de embriaguez. Na mesa estávamos todos juntos. Eu, o Marcos, a Júlia, o Alex, o Pedro e aquela garota. Todos conversávamos e o papo até que estava interesse, se não fosse pelo fato da presença da Carla ali. Percebi que, às vezes, ela se encostava ou tentava abraçar o Pedro, que vez ou outra, me encarava, apreensivo. Será que ele estava tentando me causar ciúmes? Foda-se, não iria mais ficar ali, então me levantei e fui dançar. A Jú, que diferente de mim, já estava mais bêbada, perguntou para onde eu ia.

— Amigo, vai pra onde? - perguntou gritando. Mesmo eu ainda estando apenas a alguns passos dela.

— Vou dançar! - falei.

— Espera! Vou também. - ela levanta, e meio tropega, corre na minha direção. A música que tocava era um sertanejo bem animado. Mas a Júlia, não contente com a trilha sonora sugeriu que trocassem de gênero.

— Tem algo melhorzinho aí não, gente? - gritava. O Alex, que também estava no mesmo estado de embriaguez que ela, se levantou, e foi até o som. Mexeu por alguns minutos em um celular que estava conectado ao enormes caixas, e colocou para tocar, uma playlist de fun, e não deu outra.

— Agora está bom? - perguntou para minha amiga, que vibrou ao ouvir as batidas.

— Agora, sim! - ela comemorou, e o Alex chegou junto da gente, começando a dançar também.

Estávamos os três, rebolando desesperadamente, e por um segundo me permitir divertir, e nossa alegria momentânea já contagiava todos ao redor, que apenas riam da cena. Até que involuntariamente meus olhos procuraram pelo Pedro, que também sorria, e aquilo foi o suficiente para fazer todos os pensamentos voltarem. Fechei os olhos e respirei fundo, quando fui surpreendido pelo Alex.

— Olha lá o Pedro com cara de idiota. - disse sorrindo da forma que seu primo olhava para nós. — Parece que ele finalmente pediu a Carla em namoro. - e quando ele falou aquilo, foi como se tivessem arrancado um pedaço do chão em que eu pisava. Meu corpo amoleceu, e uma profundo vazio me preencheu. — Só não sei como ele vai manter esses namoro a distância. - não consegui dizer nada, nem mais fingir. Apenas deixei o Alex falando e caminhei a passos largos para longe, não queria ouvir mais nada. E, meio que, impulsivamente, corri em disparada para dentro do casarão.

— Oli, espera. - gritou Alex sem entender o que estava acontecendo. Passei rápido pela sala, e subi em direção ao meu quarto, mas antes de adentrá-lo, percebi que o Alex estava tentando me alcançar, então paro.

— Oliver, espera. O que aconteceu? Você está bem? - perguntou ele preocupado, e logo o Marcos, também apareceu atrás dele. Os dois preocupados.

— Oliver, você está bem? - e o que eu poderia dizer? Então apenas tratei de inventar uma desculpa, enquanto tentava segurar o choro.

— Nada! Só, estou passando mal. Bebi demais. Preciso vomitar. - entro no banheiro rapidamente e tranco a porta. Do lado de fora, ainda ouvi mais algumas vozes do lado de fora, entre elas, a da Júlia, e até mesmo do Pedro. Mas eu não queria falar com ninguém. Como eu pude ser tão idiota? Parecia que eu tinha voltado a ser adolescente. A velha estória do amigo gay, se apaixonar pelo amigo hétero. Não havia mais razões para eu continuar ali.

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Comentários

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História absolutamente perfeita! Já lhe disse isso antes e volto a repetir, a forma como você escreve é incrível e a construção das circunstâncias, cenários e personagens é maravilhosa! Torcendo ainda por Alex e Oliver juntos! Vamos ver no que dá! Obrigado por escrever essa maravilha! :D

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se o pés do fez isso ele não merece o amor do o li.

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O medo do não é pior da certeza do sim.

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PALAVRAS QUE NÃO SÃO DITAS. PEDRO PRECISA FALAR COM OLIVER MAS NÃO FALA. OLIVER PRCISA FALAR COM MARCOS MAS NÃO FALA. AH QUE DROGA. ASSIM AS COISAS SE TRANSFORMAM NUMA GIGANTESCA BOLA DE NEVE QUE VAI ATROPELANDO TUDO QUE ESTÁ NA FRENTE. SENTIMENTOS FORAM FEITOS PRA SE SENTIR, MAS TB PARA SE EXPRESSAR. NINGUÉM É ADIVINHO OU TEM BOLAS DE CRISTAL.

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