A Casa Dos Meninos

Um conto erótico de Hélio
Categoria: Grupal
Contém 4778 palavras
Data: 21/01/2020 19:15:18

O dia já havia acabado quando desci do ônibus na esquina de casa, apesar de estar uma noite quente, a rua estava vazia. Segui em direção a minha casa, já planejando como seria aquelas dois próximos meses de férias. Com certeza eu iria dormir muito, por minhas séries em dia e até sair com meus amigos algumas vezes. Pelo menos eu imaginava que isso ocorreria, mas assim que pus as mãos no portão de casa eu desejei não estar de férias e poder voltar para a escola, do portão mesmo eu ouvi gritos do meu pai e da minha mãe, estavam brigando novamente e provavelmente ele estava bêbado. Eu já estava tão farto daquelas brigas todas, que resolvi sentar na calçada da rua e esperar os ânimos dos dois acalmarem. Peguei meu celular e não havia nenhuma notificação nova, fiquei matando a hora no instagram até que ouço um barulho muito alto, como algo quebrando e em seguida um grito agudo de minha mãe. Levantei da calçada num pulo e entrei em cara feito um tufão.

Quando entro em casa, vejo minha mãe caída no chão e reparo que o tampo de vidro da mesa de jantar estava todo quebrado ao redor dela, ela tampava o seu rosto e chorava baixo. Meu pai, de costa para ela, segurava uma garrafa de cachaça.

- Mãe, o que houve? - pergunto, ajudando ela a se levantar.

- Nada meu filho - ela diz, já de pé e ainda escondendo o rosto. - Eu e seu pai... estávamos discutindo e eu acabei tropeçando na mesa...

- Mãe, não foi isso que aconteceu! - digo, ficando com raiva.

- Foi Hélio, foi isso sim - ela diz, me segurando e por um momento posso ver o seu rosto todo ferido.

- Ele te bateu de novo né mãe, fala, foi isso não foi?

- Não filho, eu caí, já disse - mentiu minha mãe.

- Você não tem vergonha na cara, seu cachaceiro? - digo, dando um tapa no ombro do meu pai.

- Como é que é moleque? - meu pai diz, grogue. - Moleque é aqueles teu amigos da rua, aqueles bando de desocupados filhos de uma puta!

- Você é um merda! - digo, com raiva.

- Como é que é?

- Isso mesmo, um merda, um covarde que bate em mulher - digo, empurrando meu pai. - Mas essa foi a ultima vez que você encostou na minha mãe, tá entendendo - empurro ele de novo, que revida me empurrando, quase caio.

- Hélio, para com isso filho! Respeita o seu pai!

- Eu acho bom você parar mesmo, seu filho da puta - meu pai diz. - Ela é minha mulher, faço o que eu quiser com ela...

- Tenta encostar na minha mãe de novo pra você ver o que eu faço com você, seu babaca!

- Hélio! - minha mãe me repreende, assutada.

- Vai fazer o que galinho? Cacarejar - ele ri. - Eu mando nessa porra, você não manda em nada aqui merdinha, essa casa é minha, essa mulher é minha e eu faço o que eu quiser com ela!

Meu pai me derruba no chão e da um tapa na minha mãe, fazendo ela cair. Levanto e vou pra cima dele, acerto um soco nele, que me acerta com outro. Com o impacto eu caio no chão e ele começa a me chutar.

- Isso é pra você aprender - ele diz, me chutando. - Eu que mando nessa porra aqui!

- Para Agno, ele é nosso filho! - minha mãe implorava para ele parar de me chutar, mas meu pai continuava.

- Esse filho da puta tem que aprender a ser homem, chega de você ficar mimando ele - meu pai disse, chutando minha costela. - Já to farto desse babaquinha ficar cagando regra na minha casa, já to farto dele, farto!

Eu estava de olhos fechados, só ouvir um barulho seguido por alguns estilhaços caindo em mim. E então os chutes pararam. Abro os olhos e vejo meu pai cambaleando e caindo sentando, do outro lado minha mãe estava chorando e segurava uma garrafa quebrada nas mãos.

- Seu arrombado, filho ingrato! Eu vou matar você! - meu pai disse, zonzo.

- Hélio, filho, vai embora, pelo amor de Deus! - minha mãe pediu.

- Que? Não vou te deixar sozinha!

- Isso, vai embora seu filho da puta, some da minha casa ou eu te mato! - meu pai disse, começando a levantar. - Não quero ver você aqui nunca mais moleque!

Minha mãe me ajudou a levantar e me empurrou em direção a porta de casa. Pegou num pote que estava na instante cinquenta reais e me deu.

- Vai embora filho, vai!

- Não mãe, mas e você?

- Eu vou ficar bem - minha mãe disse. - Vai, eu vou conversar com seu pai e convencer ele a te aceitar de volta, mas vai logo antes que ele faça uma besteira!

- Tudo bem mãe, mas tem certeza que você vai ficar bem?

- Tenho, vai pra casa da sua tia Ruth, no centro! - minha mãe disse. - Passe as férias lá, depois... Eu vou buscar você, mas enquanto isso fique lá, não volte filho, não volte enquanto eu não te procurar...

- Mãe...

- Quando tudo estiver calmo, eu vou te buscar, prometo.

Minha mãe me deu um beijo e trancou a porta. Antes de sair pude ouvir meu pai me gritando, tentando arrombar a porta e dizendo que iria me matar. Eu e meu pai nunca tivemos uma boa relação, mas tudo piorou quando eu flagrei ele comendo nossa empregada aos treze anos e contei para a minha mãe. Desde então ele passou a me odiar. O casamento dos meus pais iam de mal a pior e eu não entendia o motivo da minha mãe permanecer casada com o monstro que meu pai havia se tornado. E as coisas na nossa casa pioraram muito mais quando ele começou a beber, sempre que ele bebia e chegava em casa saim brigas entre os dois. De uns meses pra cá, ele passou a ficar mias violento, quebrava objetos de casa e chegava a bater na minha mãe. Eu não aguentava ver aquilo, me metia algumas vezes, mas minha mãe sempre dava um jeito de amenizar as coisas. Até hoje.

Eu já planeja sair de casa, mas não agora. Hoje foi meu último dia de aula, terminei o ensino médio. Planeja esperar sair o resultado dos vestibulares que prestei no meio do ano e, passando, pensava em arrumar um emprego meio período, morar na faculdade e finalmente sair de casa, ficando longe do meu pai. Mas as coisas acabaram acontecendo mais rápido do que eu previa. O pior de tudo é que sai e não pude pegar nada, nem uma muda de roupa. Tenho só os cinquenta reais que minha mãe me deu, para chegar até a casa da minha tia Ruth, no centro.

Sai de casa meio sem rumo, voltei para o ponto de ônibus, mas depois de uma hora esperando alguma condução, finalmente vi um ônibus vindo lá ao fundo. Quando subi, o motorista reclamou muito dos cinquenta reais, não queria trocar um valor tão grande, quase me expulsou do ônibus, só não o fez porque contei do que havia acabado de me ocorrer, então ele deixou que eu seguisse viajem com ele, na frente e sem pagar por nada.

- Mas então rapaz, qual o seu nome? - perguntou o motorista.

- Caio - menti. Por algum motivo não conseguia confiar naquele motorista, então preferi mentir.

- Quantos anos você tem Caio?E você sabe pra onde vai?

- Pra casa de uma tia, no centro - disse, prevendo a segunda pergunta.

- Vou te deixar perto do centro então, rapaz, num ponto perto de uma rua que ao final dela tem outro ponto que pode te levar até o seu destino - disse o motorista. - Você pega o ônibus da linha dois, ele vai te levar pro centro, aí lá você se entende, pede informação...

- Tudo bem, obrigado.

- Mas toma cuidado - alertou o motorista. - Aquele lugar é bastante perigoso, ainda mais de noite. Tenta chegar na casa dessa sua tia o mais rápido possível, sem se meter em confusão, ouviu garoto?

- Ouvi, pode deixar.

Seguimos o resto da viajem em silêncio, até que chegamos no tal ponto que o motorista havia dito.

- Você desce aqui garoto, agora presta bem atenção - ele disse. - Você vai seguir reto, na quinta esquina você vai ver uma farmácia, ali naquela rua tem um ponto de ônibus que vai te levar para o centro.

- Okay, muito obrigado, mesmo!

Desci da condução e segui o caminho que o motorista me explicou. A rua era bem longa, com quarteirões grandes e muito deserta. Nos becos haviam algumas pessoas, escondidas pelas sombras das luzes dos postes, era praticamente impossível ver seus rostos, apenas os olhos brilhando na escuridão. Parei numa esquina, que tinha alguns rapazes no ponto de ônibus também, vi que ali também tinha um ponto de ônibus então resolvi ver se aquela linha servia para me levar para o centro. Logo que parei ali, alguns minutos depois, um carro parou do meu lado, percebi que o vidro abaixou e um homem me chamou. Olhei ao redor e os rapazes que já estavam ali no ponto, ficaram me olhando de cara feia.

- Eai gato, como podemos fazer? - perguntou um homem, que aparentava beirar os quarenta anos.

- Como assim? - perguntei, sem entender.

- O programa, docinho, quanto custa? - ele disse, sorrindo. Pude perceber seu sorriso perfeitamente branco.

- O programa? - repito, ligando alguns pontos e percebendo que aquele ponto não era só de ônibus.

- É docinho - o homem, diz.

- Olha amigo, acho que tá tendo um mal entendido - digo, olhando para os rapazes do ponto. - Eu não sou garoto de programa não...

- Ah não? Então o que você tá fazendo parado num ponto de prostituição docinho, esperando o ônibus?

- Sim?

- Então docinho, vou te dar um toque, infelizmente não o toque que eu gostaria, mas enfim - o homem diz. - Esse ponto aí, tá desativado há alguns anos pra ônibus, agora é só ponto de rodar bolsinha. O de ônibus é naquela esquina ali, perto da farmácia - ele diz, apontando.

- Ata, obrigado.

- Nada docinho - o homem diz. - Mas vem cá, tem certeza que não quer ganhar um extra?

- Olha moço, gosto disso não. Obrigado pela informação, mas...

- Tudo bem rapaz, boa sorte aí - ele diz, subindo o vidro e indo embora.

Quando voltei pro ponto, aquelas cinco rapazes que estavam dispersos vieram na minha direção.

- Tá maluco rapá, chegando do nada no nosso ponto - disse um deles.

- Rala menor! - disse o outro.

- Desculpa gente, eu não sou daqui, não sabia que esse ponto não era mais de ônibus - eu disse.

- É melhor tu ir embora logo, se não quiser problema - disse outro rapaz.

Obedeci e fui embora, correndo num primeiro momento e caminhando depois que tomei certa distância do ponto deles. Quando cheguei na quarta esquina, pude ver as luzes do letreiro da tal farmácia, apertei o passo a fim de chegar logo lá. Enquanto caminhava ouço alguns gritos, parecia que estava acontecendo uma briga em algum lugar, mas eu não sabia ao certo onde, então resolvo andar mais rápido e percebo que quanto mais eu ando, mais os gritos se intensificam. Até que ao passar por um beco, uma pessoa sai correndo dali, tropeça e caí. Vou ajudá-la a levantar e percebo que é uma travestir.

- Mana, corre, saí daqui viado! - Ela me diz, enquanto tento ajudá-la a levantar.

- Você tá bem?

- Não viado, mas se você continuar aqui, vai ficar pior que eu!

- Olha o viado ali! - disse um homem saindo do beco, com uma barra de ferro, e outros dois homens surgiram atrás dele.

- Vem! - disse, correndo e puxando a travestir.

Os três homens começaram a correr atrás de nós, a travestir enquanto corria tirou seus saltos e arremessou na direção dos três e até acertou o rosto de um deles, que parou de correr.

- Qual o seu nome? - pergunto enquanto corremos.

- Suelen - ela disse.

- Suelen, tem um ponto de ônibus ali perto da farmácia, o plano é correr e pegar qualquer ônibus que tiver lá.

- E se não tiver nenhum ônibus lá?

- Vai ter Suelen, tenha fé!

- Tô rezando pra ter, mana!

Começamos a avistar a farmácia e de fato tinha um ônibus no ponto, demos um pico na corrida e conseguimos alcançar a condução. Tinha uma fila pequena, os três homens que nos perseguiam tinham sumido. Entramos na fila da condução e tentamos recuperar o fôlego.

- Você tem dinheiro ai?

- Não mana.

- Eu tenho, paga nossas passagens - digo, entregando os cinquenta reais pra ela.

Entramos no ônibus, Sulene estava pagando nossas passagens para o motorista, havia mais duas pessoas na nossa frente, eu estava em pé no primeiro degrau do ônibus, quando sinto uma pressão no meu peito, algo me puxando pra trás. Suelen passa na roleta e só depois sente minha falta, do um grito e ela percebe o que ta acontecendo. Um dos homens que nos perseguiam tinha me puxado do ônibus, ele me dava alguns socos e chutes. Ouvi Suelen gritando do ônibus, pedindo pro motorista abrir a porta, mas ele não o fez. Deu partida e ameaçou seguir. Desesperada, Suelen conseguiu arremessar uma garrava de cerveja na cabeça do homem, que me parou de me chutar por um segundo, me dando uma oportunidade de fugir.

- CORRE AMIGOOOO - gritou Suelen, de dentro do ônibus que seguia viajem e eu corri.

Corri muito, mas o homem continuava me perseguindo e eu nem sabia o motivo daquela perseguição. Haviam se passado três esquinas e ele continuava atrás de mi, cansado eu começava a perder a vantagem que tinha sobre ele e ele começava a se aproximar de mim. Avistei um bar aberto na próxima esquina e vi uma chance de pedi ajuda, dei uma arrancada e corri disparado, atravessei a rua sem me preocupar se estava vindo algum carro e acabei atropelado, caí no chão e levantei rápido, bati na janela do carona, que estava vazio e implorei ajuda.

- Pelo amor de Deus, me ajuda tem um homem querendo me matar! - disse, vendo o homem se aproximando.

O motorista olhou para o outro lado e viu um homem correndo na nossa direção.

- Entra rápido! - ele disse, abrindo a porta.

Entrei no carro e ele arrancou com tudo, cantando pneu. Eu estava ofegante e nervoso, me tremia.

- Olha, eu sei que não é da minha conta, mas como eu tô te dando uma carona, acho que posso perguntar, o que você fez? - perguntou o motorista.

- Eu não sei moço - disse. - Ajudei uma travestir que tava sendo agredida por ele e mais dois. A travestir conseguiu fugir, eu quase consegui, mas ele me pegou por trás quando tava entrando no ônibus...

- Entendi - ele disse. - E agora, o que eu faço com você? Te levo pra onde?

Antes de responder, olhei pra ele pela primeira vez com atenção, desde que entrei no carro, era o mesmo homem que tentou me contratar para um programa. Ele usava uma camisa social azul clara, aberta na altura do peito, deixando amostra alguns pelos que ele tinha na região, as mangas estavam dobradas, ele usava uma calça preta social, assim como os sapato. Seu cabelo, preto, estava perfeitamente penteado, era baixo nas laterais e mais alto em cima. Ele tinha olhos verdes, barba feita e uma pinta no canto da boca. Suas sobrancelhas eram marcar e grossas, assim como os lábios. Ele me olhava dentro dos olhos, parecia que me via por dentro.

- Docinho? - ele disse, sorrindo e claramente lembrando de mim.

- Eu não sei - disse por fim. - Eu tava indo pro centro, pra casa de uma tia.

- A essa hora, docinho?

- É uma longa história.

- O centro é bem longe - ele disse.

Resumidamente, contei para aquele homem o que havia me acontecido até cair no seu carro.

- Uau, que noite em docinho - ele disse. - Mas vem cá, qual o seu nome?

- Hélio - disse. Pensei em mentir meu nome para ele, mas por algum motivo, com aquele homem eu me sentia seguro como nunca antes.

- Prazer Hélio, pode me chamar de Julio - ele disse, me estendendo a mão e me dando um forte aperto de mão. - Bom Hélio, aqui estamos, o centro da cidade. Em qual rua fica a casa da sua tia?

A rua! Meu Deus, minha mãe não me disse o nome da rua da tia Ruth, nem o nome e nem o número da casa. E eu nem perguntei! Como eu sou burro!

- Ai meu Deus...

- Deixa eu adivinhar, sua mãe não te falou o nome da rua, no calor da emoção?

- Não... Que merda... - disse. - Olha Seu Julio, eu acho que vou ficar por aqui mesmo, o senhor já me ajudou bastante me salvando daquele desconhecido, não quero te dar mais trabalho...

- E você sugere que eu deixe você aqui? Na rua? Sozinho? Pra ser perseguido por outro desconhecido? - ele me perguntava, sem me dar tempo para pensar.

- Eu não tenho pra onde ir... - disse por fim.

- Eu conheço um lugar que você vai poder ficar por um tempo...

Ele dobrou numa rua, saindo do centro da cidade, virou em outras ruas, que pareciam todas iguais, e seguiu viajem em silêncio por um tempo.

- Pra onde estamos indo? - perguntei.

- Pra um lugar onde você será bem recebido e cuidado, pelo resto das suas férias - Julio disse. - Fica tranquilo docinho, vou te sequestrar não - ele riu, me arrancando uma risada de nervoso. Nisso, observei que ele usava uma aliança.

- Você é casado? - perguntei, sem entender.

- Sim, faz doze anos - ele disse, sorrindo. - Ana, o nome da minha esposa - ele acrescentou, me mostrando uma foto dela no celular.

- Muito bonita... Mas se você é casado, por quê...

- Porque eu tava procurando garotos de programa? - ele antecipa minha pergunta, rindo. - Fetiche. Tentativa de quebrar a rotina, tentar reavivar o fogo do casamento... chame como quiser. Depois de doze anos de casado, é complicado manter vivo aquele fogo do começo, sabe. Temos que cortar um dobrado, ser criativos acima de tudo. A Ana sempre teve curiosidade de estar com dois caras ao mesmo tempo, eu também tinha curiosidade de saber como se daria isso... Depois de muita conversa decidimos tentar finalmente. Não me olha com essa cara não, em!

- Que cara? - perguntei, rindo.

- De julgamento - Julio disse. - Um dia você vai estar no meu lugar: casado há anos e fazendo de tudo pra tentar manter vivo o fogo do casamento. É complicado, docinho. A rotina é capaz de apagar qualquer fogo e acabar com qualquer casamento.

- E porque você me escolheu? Tinha outros rapazes no ponto - perguntei.

- Vi sua cara de novinho e achei que não seria tão experiente no assunto, não iria se sobressair tanto na cama, não iria me ofuscar, sei lá - ele disse e riu. - Que besteira né? Mas te achei bonito também, e com certeza minha mulher acharia.

Fico sem graça com os elogios.

- Confesso que fiquei frustrado com sua negativa a minha proposta - ele diz, parando o carro - Mas quem sabe numa outra oportunidade, não é mesmo? Vem docinho, chegamos na sua colônia de férias.

Quando desci do carro, me deparei com um casarão velho. Ele parecia ter uns três andares, tinha um moro alto que dividia sua propriedade para a rua. Alguns segundos depois que Julio se identificou pelo interfone, o portão abriu e nós dois entramos. Lá dentro tinha um jardim com várias flores, vasos de plantas e algumas decorações. O jardim era dividido por um caminho de pedras que levava até a entrada da casa, a entrada parecia ser toda feita de madeira. Subimos alguns degraus e antes de bater na porta, ela se abriu.

- Seja bem vindo doutor Julio, a Madame lhe espera no seu escritório - disse uma moça jovem.

Entramos e por dentro a casa era muito bem decorada, parecia uma casa antiga de alguma família rica, tudo de muito bom gosto e muito luxuoso. A jovem nos guiou até o escritório da tal Madame, ao entrarmos lá, ela nos recebeu de pé e com um abraço.

- Julio, querido! Que bom lhe ver! - Observei ela por alguns segundos e percebi que se tratava de uma transexual. Era uma mulher alta, loira com os cabelos ondulados na altura dos ombros, que parecia beirar os cinquenta anos. Usava um robe longo, branco de cetim com fios dourados. Apesar de estar pronta para dormir, aparentemente, usava muitas jóias. Brincos grandes, um colar, pulseiras e anéis. Estava muito bem maquiada também, com um intenso batom vermelho.

- É sempre um prazer te encontrar, Madame - Julio disse.

- Vejo que me trouxe um rapaz.

- Poisé - Julio disse, contando brevemente a história que lhe contei.

- Ai meu Deus, coitadinho! - Madame disse, me abraçando.

- Como ele não tem o endereço da tal tia Ruth, pensei de pedir para você lhe dar abrigo por uns tempo, até o fim das férias pelo menos. Depois disso, eu me comprometo a vir aqui e levar o rapaz de volta pra casa.

- Tudo bem Julio, esse não é o problema - Madame disse. - A questão é: como ele vai se bancar até lá?

- Eu posso trabalhar - digo.

- Tem certeza? - Julio pergunta, surpreso.

- Tenho - digo. - Sei lá, posso limpar a casa pra senhora, cozinhar...

- Então rapaz, já temos uma moça que faz isso tudo, a Madalena, a mesma que abriu a porta pra vocês - Madame disse. - Mas eu tenho uma vaga pra ele entre os meus meninos.

- Pode ser, o que eu vou ter que fazer?

- Madame, melhor não, ele é novo demais - Julio disse.

- Julio, muito obrigado por tudo, mas eu não posso ficar aqui na casa da... Madame de graça, tudo bem trabalhar.

- Gostei desse rapaz - ela disse, sorrindo e apertando minhas bochechas.

- Mas o que eu vou ter que fazer?

Os dois se entre olharam.

- Você não contou pra ele? - Madame perguntou.

- Tive esperanças de você ter outra função pra ele na casa, no administrativo não sei. - Julio disse, fazendo Madame rir.

- Administrativo Julio? Serio?

- Gente, tá de boa, é só falar o que eu vou ter que fazer que eu faço - digo.

- Você vai ter que fazer programa - Madame disse.

Okay, eu não esperava por isso. Fiquei meio em choque no começo, Julio me explicou que ele e Madame se conheceram ainda no colégio, que ele defendeu Madame de um ataque dos colegas de turma e ficaram amigos desde então. Ele seguiu a vida, fez faculdade, tornou-se advogado e Madame cantora na noite. Casou-se com um velho rico e herdou o casarão, quando ele morreu teve que dar um jeito de ganhar dinheiro, começou alugando quartos, mas depois passou a agenciar garotos de programas jovens. Ela da abrigo para muitos, mas todos eles tem apenas alguns anos para ficar ali, depois de cinco anos devem ir embora. Por isso ela estimula que todos estudem e estruturem suas vidas, para um dia não dependerem mais da venda do corpo. Julio me deu uma segunda opção, de me levar uma um hotel barato, mas que ele sabia que com Madame eu ficaria protegido e o dinheiro que eu ganhasse poderia ser útil para ajudar minha mãe a se livrar do meu pai no futuro.

- Tudo bem, eu aceito seu asilo - digo por fim. - Mas eu sou hétero, não curto homens...

- Aqui nossos garotos atendem de tudo um pouco, posso te deixar exclusivo das nossas no seu começo, pra você se acostumar a nova rotina, mas mais cedo ou mais tarde você terá que diversificar seu cardápio - Madame diz por fim.

- Aceita - Julio disse, apertando meu ombro como forma de apoio. - Sei que pode assustar, essas novidades todas, mas você pode se dar bem aqui. Ganhar dinheiro. Prometo vir sempre aqui, ver como você tá, e caso não der certo, te ajudar a encontrar outro lugar. Eu pensei em te trazer pra cá porque confio na Madame, ela é uma ótima pessoa. Atrás desse silicone todo - eles riram. - tem um coração enorme que vai te ajudar e proteger em tudo.

- Tudo bem, eu fico - digo por fim, Madame me puxa para si num forte abraço.

- Vem, vamos conhecer o seu quarto!

Madame me puxou pelo braço, me levando para o segundo andar do casarão, a jovem que nos abriu a porta estava de pé na sala esperando por algum comando de Madame, que mandou que ela nos seguisse. Antes de subir, Madame e eu nos despedimos de Julio, que disse que voltaria em breve para me ver. Assim que subimos para o segundo andar, demos num corredor cheio de portas. Madame foi explicando um pouco da rotina de todos na casa, mas disse que com o tempo eu iria entendendo como tudo funcionava. Todas as portas eram de madeira e brancas, e em cada uma delas haviam três adesivos de bonés azuis. Apenas em uma dois adesivos e foi bem de frente para aquela porta que paramos.

- Esse será seu quarto pelos próximos meses - Madame disse, antes de dar três batidas na porta e ela ser aberta.

- Madame? Boa noite, algum problema? - disse um rapaz.

- Sim lindinho, aqui está o problema, ele se chama Hélio - ela disse, rindo.

- Como vai - eu disse, tímido.

- Brincadeira lindinho, Hélio é nossa mais nova solução, problema jamais - Madame disse. - Ele é nosso novo menino, ficará conosco por alguns meses e ficará dividindo quarto com vocês, algum problema lindinho?

- Claro que não Madame, seja bem vindo Hélio - o rapaz disse, apertando minha mão.

- Venha Hélio e Madelena - disse Madame, entrando no quarto.

O quarto até que não era tão pequeno, tinha três camas, sendo a do canto direito vazia. Lá dentro estava um outro rapaz, que já estava deitado. O quarto era todo amarelo com detalhes brancos, tinha dois ventiladores de teto e um guarda roupa bem grande, além de uma sapateira e um espelho.

- Bom Hélio, aquela é sua nova cama, vou pedir pra Madalena providenciar uma roupa de cama nova, toalhas e roupas, né? Você não tem nenhuma... Bem, André empreste um pijama pra ele por hoje que amanhã eu providencio roupas novas pro lindinho. Seja bem vindo a casa dos meninos, Hélio! espero que você seja muito feliz conosco - Madame disse, me dando um abraço e saindo do quarto em seguida.

Quando ela fechou a porta, me vi sozinho e sem saber o que fazer, novamente. Olhei em volta mais uma vez, o rapaz que abriu a porta me olhava de cima a baixo, parecia me analisar e eu fazia o mesmo com ele. André era pouca coisa mais alto do que eu, magro e muito branco. As veias do braço dele ficavam nitidamente expostas. O cabelo dele era castanho e liso, era comprido chegando na altura dos ombros. Ele usava apenas uma cueca box branca, que deixava o seu pau destacado nela.

O outro rapaz, mesmo da cama, me olhava da mesma forma. Ele era mais forte, quase gordo. Com o cabelo baixo, raspado na zero nas laterias e mais alto em cima, um corte militar. Não tinha barba, assim como André. Parecia ser mais baixo que nós dois e não tinha nenhum pelo no corpo, aparentemente.

- Então... Hélio, não é isso? - ele pergunta. - Eu sou o André e aquele ali deitado é o Lucas - o rapaz deitado me diz um oi, que retribuo. André vai até as gavetas do armário e tira de lá um short de dormir azul e uma cueca preta. - Você prefere dormir com o que?

- Pode ser o short - eu digo, ele me entrega e diz que eu posso me trocar ali mesmo. Assim eu faço, mesmo com vergonha e de costas para os dois, sinto que eles me olham, mas tento ignorar. - Essa vai ser sua cama, seja bem vindo cara!

- Obrigado - digo, apertando sua mão de novo. Lucas se levanta para me cumprimentar também e ele estava completamente nu e realmente não tinha nenhum pelo no corpo.

- E não liga pro Lucas não, ele fica sempre pelado, uma hora você se acostuma - André diz, rindo.

- Tudo bem - rio e me deito.

Fecho os olhos e demoro pra pegar no sono. Nunca que eu imaginária que tudo isso iria me acontecer, hoje pela manhã quando acordei. A vida realmente é surpreendente e eu estava curioso para saber quais surpresas mais ela me reservaria pelos próximos dias.

CONTINUA...

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A Casa dos Meninos que vai narrar as férias que o protagonista, Hélio, passou trabalhando como garoto de programa, depois de ser expulso de casa pelo pai. Ele acaba sendo convencido pelo então desconhecido Julio a ficar lá e juntar todo o dinheiro que ele ganhar para ajudar mãe. E durante esse período que ele ficar na Casa, ele vai se envolver em algumas confusões com os demais meninos, se apaixonar, viver loucuras e encontrar um novo ruma para sua vida. Espero que todos gostem dessa novas história, espero que se divirtam, riam, torçam pelo nosso protagonista e que aproveitem cada momento dessa casa e dessa aventura.

Não deixem de votar e comentar o que estão, achando. Em breve um novo capítulo!

Até lá!!!!!

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Comentários

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@A. L. Moraes!!!! Que história!!!! Muito envolvente, super bem construído... Promete muitas tramas e situações!!! Amando seus escritos!!! Divino sua história!!! Parabéns por toda trama desenvolvida neste primeiro capítulo!!!! Queria dar nota... A minha seria nota máxima!!! DEZ!!! Parabéns!!! 👏👏👏😃⭐️⭐️⭐️ E todas as Estrelas disponíveis!!! 😍👍

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Agradeço os comentários de todos e espero que gostem do desenrolar da história!!! Bjs

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Bem narrado e envolcente, já começou ligado no 220 watts, só vou dar 10 por que não tem nota mais Alta

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um conto admirável. boas descrições, excelente construção das personagens.

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Da hora passa um filme na cabeça da gnt rs

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