O Sequestro - Cap. 15

Um conto erótico de GuiiDuque
Categoria: Homossexual
Contém 5010 palavras
Data: 29/11/2019 01:47:46

~ continuando ~

-

Naquele ano recebi uma visita inesperada.

Sábado, tinha acabado de chegar da empresa e saindo do banho, Moacir entra em meu quarto.

- Você tem visita.

- Quem? - Pergunto surpreso

- Ivan, esteve uma vez no Brasil com o Beija flor, diz que está na área e gostaria de lhe cumprimentar.

Meu pau dá um pulo e Moacir uma gargalhada.

- É, acho que se lembra de quem estou falando. - Ele brinca - Posso deixá-lo entrar?

- Claro! - Digo rindo e visto só uma calça de moletom confortável. - Que surpresa, Ivan!!! - Digo o recebendo na porta. Ele estava ótimo, nada diferente da última vez que o vi, só que estava de terno. - Como me achou? - Pergunto curioso.

- Estive com o Beija flor semana passada, disse que estava viajando e ele me disse que você estava por aqui. Espero que não se importe, mas ele me passou seu endereço. Cara, nosso amigo está ficando velho, quase não deu conta de mim! - Ele diz rindo gostoso.

- Sei disso não. - Brinco com ele. - É claro que não me importo, que bom que veio e vamos indo para o meu quarto.

Passamos uma tarde simplesmente deliciosa. Ivan se divertiu me contando que viu o Beija flor no dia que ele chegou de viajem, cansado da longa viajem e eu confesso que estava meio fominha na véspera e sabendo que ficaríamos muitos dias sem nos ver, caprichamos. Então, ele devia estar cansado sim. Ivan almoçou comigo já no meio da tarde e ainda tivemos tempo para um terceiro round. Foi uma tarde e noite de muito sexo, mas ele tinha uma reunião no dia seguinte cedo e voltaria para o Brasil, naquele mesmo dia.

Dois dias depois, estou em uma reunião quando meu celular toca e vejo que é o Beija flor.

Peço licença e atendo rapidamente.

- Desculpe, estou no meio de uma reunião, te ligo daqui a pouco. - eu digo.

- Quero saber que conversa é essa de que estou ficando velho??? Como não estou dando conta de você?! - Ouço ele dizer bravo.

- Te ligo daqui a pouco, pode ser?

- Não sei, se eu ainda não tiver morrido de velhice. - E ele desliga.

- Senhores, estou com um problemão na nossa matriz, preciso de uns quinze, vinte minutos, para apagar esse incêndio. Vou pedir para servirem um café e volto assim que possível. - Digo saindo da sala de reunião e indo para a minha sala. E ligo para ele. - Oi, está vivo ainda? - Pergunto brincando com ele. - Posso saber do que está falando? - Eu pergunto imaginando ser coisa do Ivan.

- Ivan me ligou ontem, tinha acabado de chegar daí, estava todo animadinho com você.

- É, ele esteve por aqui, mas não entendo porque está achando ruim, você que deu meu endereço, amor.

- Não estou achando ruim ele ter ido te ver, só não entendi essa história de não dar conta de você.

- Nem eu, na verdade, ele disse que você não deu conta dele.

- Que filho da puta, tinha acabado de chegar daí, estava morto, horas naquela pôrra de avião, sem dormir e ele todo descansado, queria o que? Ainda me sacaneou. Sabe o que ele disse? Que depois que passei a dar que fiquei fraco. Vê se pode, aquele filho da puta!!!!!!!!!!!! Disse que você estava morto de fome.

- Ora, amor, está preocupado com que? Bobagem, ele só queria brincar, e depois, já tinha duas semanas que você havia viajado, um pouquinho de fome eu estava mesmo.

- Quando termina essa reunião? – Ouço.

- Acho que mais uma hora.

- Então, vem logo para casa, estou te esperando... Descansado!!!!!

- Você está aqui? Que bom!!!!!!!!!!

- Não achou mesmo que vou deixar o Ivan cantar de galo no meu terreiro, acha?

- Amor, quem foi o galo ali fui eu, ele é só passivo.

- Não importa e você me entendeu, vem logo para casa que estou te esperando.

Confesso que mal consegui terminar aquela reunião.

Entro em casa e o vejo tomando uma geladinha assistindo um jogo e seu sorriso, aquelas covinhas me chamam.

- Sabe que fica uma gostosura de terno, meu príncipe. Não, deixa que eu tiro. - Ouço quando tento tirar o paletó e ele vai me levando para o meu quarto.

Filho da mãe, passou aquela noite como se estivesse em uma putaria, me fazia gozar, mas segurava seu gozo o máximo, vi que queria me cansar e é claro que conseguiu.

- Espera um pouquinho, amor. - Digo quando ele tenta me comer de novo.

- Quero mais! - Escuto sua voz em minha nuca, junto com uma mordida gostosa.

- Seu bobo, não tem que provar nada, você é muito melhor que ele.

- Eu sei, e ainda quero mais. - E sinto seu cacete entrando devagar, seu corpo rebolando, se encaixando em meu rabinho.

Tivemos um problema, Beija Flor e eu, nesse mesmo ano.

Sempre que vem me ver, ele ficava dois, três dias no máximo e voltava para o Brasil. Quando ficava uma semana era um milagre. Não gostava de deixar seus negócios muito tempo sem sua supervisão.

Naquele dia, estou saindo do banho, pouco antes das 6:00h da manhã, quando o Moacir bate na porta de meu quarto.

- Visita, chefe. - E Beija Flor entra no quarto.

- Moacir, avisa, por favor, que vou atrasar para a primeira reunião. - Peço sorrindo para o Beija Flor.

Ele tira minha toalha, me beijando com fome, sua boca quente lambe meu corpo chegando no meu rabinho recém lavado, e ele chupa gostoso, chego a gritar pedindo seu cacete, depois de um cunete fabuloso.

Descanso um pouco e logo estou pedindo seu rabinho. Estou me vestindo, pois sabia que a outra reunião eu não poderia faltar quando vejo uma mala maior que o normal.

- Fico feliz ou vai para algum outro lugar depois daqui? - Pergunto apontando sua mala grande.

- Preciso ficar uns tempos fora do Brasil, então pode ficar feliz, vou ficar por aqui umas três ou quatro semanas.

- Está metido em alguma confusão? - Pergunto preocupado.

- Não, vai senão vai se atrasar. - Ele diz.

Normalmente ele mal sai de casa quando vai me visitar, mas observei que ele saia sempre, comprava jornal todo dia, apesar de eu assinar dois jornais, chegava do trabalho e ele dizia que tinha ido ao cinema, ou ao teatro, ou que tinha ido em algum shopping, e de repente, a ficha caiu.

- Um álibi! Beija Flor você está tentando forjar um álibi, por quê? - Pergunto surpreso.

- Forjar nada, eu tenho um álibi. - Ele diz calmamente - Estou fora do país e tem um monte de gente que me viu aqui.

- O que você fez? - E vejo o Moacir perto.

- Fiz o que eu faço sempre e preciso me afastar um pouco do Brasil, isso passou a ser um problema para você?! Desde quando?

- Você não ia “virar” um homem de negócios respeitável? - Digo repetindo suas palavras.

- E sou também, mas é muito chata essa vida de homem de negócios respeitável. - E dá uma gargalhada.

- Cara, não acredito que se meteu em alguma merda. - Digo puto. - Se precisa de algum dinheiro, é só me falar.

- Pode parar!!!!! Quem te falou que PRECISO de algum dinheiro e se eu precisar você será a última pessoa a quem vou pedir. Quero distância de seu dinheiro.

- Não seja ridículo - Grito com ele - Você ainda vai se fuder.

- Meu príncipe, não estou te entendendo. Mexo com prostituição desde os 15 anos, meu pai era chefe de tráfico, sabe quantas vezes estive em alguma transação dessas? Preciso te lembrar como me conheceu? Que merda é essa agora? Desde quando isso começou a te incomodar?

- Porque não me disse que continuava com isso?

- Porque não te devo satisfação. Não sabia que vossa alteza real tinha que dar permissão para alguma coisa na minha vida.

- Muito tempo não me chama assim.

- É parece que tem mesmo muito tempo, talvez seja exatamente isso, sei onde fica a porta da rua.

- O que você fez? - Pergunto segurando seu braço quando ele passa por mim.

- Não é da sua conta. - E levanta os braços sem me tocar. - Não quero que seu cachorrinho bravo me morda. - E olha para o Moacir, vai para o meu quarto e começa a arrumar sua mala.

- Não entendo, cara, se não precisa de dinheiro, porque faz isso? - Pergunto da porta do quarto.

- Você não precisa de dinheiro e trabalha pra caralho, porque faz isso? Quem sabe não é porque é isso que você gosta de faz.

- É sequestro? É isso?

- Que diferença faz? E é melhor que você não saiba.

- Tenho medo de te perder. Você não pode simplesmente tentar mudar?

- Porque eu tenho que mudar? Você se apaixonou por um bandido, será que ia gostar de mim se eu fosse um professor? Um funcionário público? Sim, tenho um sequestro em andamento, passei os últimos quatro meses estudando o boyzinho, sei até que horas vai ao banheiro. Está satisfeito? Como já lhe expliquei, não costumo acompanhar o refém, então só preciso estar longe e esperar que os rapazes não façam nenhuma merda. Está satisfeito agora?!

- Você não precisa disso, eu posso te dar o dinheiro que quiser.

- Não seja ridículo, não quero seu dinheiro, quero ganhar o meu e do meu jeito. Me divirto fazendo isso, é isso que gosto de fazer e até ganho para isso.

- Você pode ser preso, morrer.

- Todo mundo morre um dia, estou indo, se achar alguma coisa minha, manda para o Imperador, vou estar lá hoje.

Fico aturdido com ele. Ele planeja sequestro, ganha talvez uma comissão sobre o resgate, se algo der errado pode se lascar. Por quê? Pra quê?

- Ele me disse que ajudava um amigo que não sabia nem planejar o almoço. - Digo falando com o Moacir. - Ele não precisa disso.

- Nem você de trabalhar, no entanto se levanta às 5:30h da manhã todo dia. - Moacir fala naturalmente - É isso que sabe fazer.

- Não acredito que concorda com ele?

- Não preciso concordar, mas entendo. Planejar um sequestro, um roubo, um assalto a banco devem ser muito interessantes. Ele deve ser muito bom para nunca ter sido preso.

- Moacir, não acredito que esteja falando isso.

- Por quê? Pense, tente planejar como entrar nessa casa. Você será pego nos primeiros 10 segundos. Ele provavelmente chegaria até seu quarto. Ele tem que saber sobre os alarmes, passaria dias pesquisando seus hábitos, os meus. Se ele não precisa disso para viver, deve ser melhor ainda. Trabalha sem pressa e só age quando tem certeza do sucesso. Ele tira de quem tem muito, pelo que me contou, não deixa sacanearem o refém, seus seguranças nem foram machucados, não posso dizer que concordo, mas conheço coisa muito pior. Que tal aquele Prefeito que ficou com o dinheiro do hospital público, ou o cretino que deu o golpe da casa própria e deixou um monte de família na ruína. Conheci um cara que é ladrão de quadros. Ele fica meses planejando um golpe, viu o sujeito que roubou as joias da rainha? Levou quatro anos de planejamento. Você viu aquele assalto ao banco? Meses cavando um túnel, planejaram tudo, até como tirar a terra sem ninguém perceber, colocavam nos bolsos furados, eles iam andando e a terra ia caindo.

- Você parece até um admirador. - Digo surpreso.

- E de certa forma, sou mesmo. Precisa ser muito bom para fazer algumas coisas. E algumas coisas, poucos tem competência para fazer. Se posso lhe dar um conselho, aproveite que brigaram e se separem. Fique longe dele. Sua segurança será muito melhor sem ele por perto. Ele pode te trazer problemas, nada que um bom advogado não resolva, mas como chefe de sua segurança, digo que ficaria mais seguro sem ele. Como seu amigo, me pergunto se ficaria mais feliz sem ele.

Moacir sai e me deixa completamente perplexo.

Nunca mais conversamos sobre sua vida. Simplesmente conclui que ele parou, mas ele nunca disse isso. Como sei que nunca parou com os books. Porque ele tem que mudar? Seria justo lhe pedir isso? E como ele seria se fosse outra pessoa?

Algumas horas se passam, até que procuro o Moacir.

- Vamos sair. - Digo para ele que pega sua arma e simplesmente sai comigo. Não me pergunta onde quero ir, vai para o Hotel Imperador. - Está escrito na minha testa? - Pergunto sem graça quando ele para na frente do hotel

- Você é uma das pessoas mais inteligentes que conheço, só um tolo perderia um homem como ele.

- Mas você não disse que era o melhor para mim? - Pergunto surpreso.

- E continuo achando, Beija Flor ainda pode te meter em uma confusão das boas. Mas não posso negar que ele é charmoso, bonitão, gostoso pra caralho e gosta muito de você, parece ser um amante excepcional, é só ver sua cara boa cada vez que sai daquele quarto, quando ele está lá. E ainda ser um bandido!!!! Tem seu charme. - E sorri para mim.

- Mas acha que seria melhor me afastar dele?

- Se você puder acho sim... Posso ficar com ele para mim?

- Não. - Digo rindo nervoso - Será que ele já foi?

- Só tem um jeito de descobrirmos.

Saímos do carro e vamos até a recepção.

- Boa tarde. - Ele diz no idioma local - Perdemos nosso amigo no aeroporto, ele se chama Flávio, bonitão, grande, moreno, cabelo anelado, olhos pretos, deve ter vindo para cá. Ele adora esse hotel, deve estar aborrecido com a gente. - Ele diz me olhando e eu concordo falando no mesmo idioma.

- Ficamos de encontrá-lo e nos atrasamos, será que pode nos ajudar? - Pergunto para a recepcionista.

- Entrou um novo hospede hoje com essa descrição e parecia aborrecido mesmo. Deve ser ele, quarto 908, vou anunciá-los. Qual o nome de vocês?

- Diga que é o Moacir, e que vim trazer alguma coisa dele. - Ele diz e o olho curioso, o que ele pretendia?

- Podem subir. - Ela diz depois de ligar.

Subimos e Moacir me põe ao lado da porta, fora de sua visão.

Beija Flor abre a porta.

- Trouxe alguma coisa que me pertence? - Ele pergunta secamente - Deixei alguma coisa lá?

- Se te pertence, não sei, mas deixou alguma coisa sua lá, sim. - E se afasta e dou um passo em direção à porta.

Beija Flor me olha surpreso.

- Podemos conversar? - Pergunto para ele.

- Temos alguma coisa para conversar?

- Posso entrar?

- Estou armado e sou perigoso, acho que não é muito seguro entrar aqui.

Moacir rosna, rosna mesmo igual cachorro e começamos a rir os três, relaxando um pouco o clima.

- Estarei na porta, se precisar. - Moacir diz e entro no quarto, fechando a porta.

Não consigo tirar meus olhos de seus olhos completamente negros.

- Gosto deles azuis. - Digo e vou me aproximando e Beija dá um passo atrás se afastando. - Me desculpa? – Peço.

- Por quê?

- Por querer que mude. Você está certo. Como pode estar sempre certo? Sabe que isso me irrita um pouco?

- Imagino... - Posso ouvi-lo dizer, mas não me toca nem me deixa tocá-lo, segura meus braços longe dele.

- Não quero que mude, só esses olhos, desculpe deixá-los tão negros. Eu te amo.

- Porque me ama?

Ouço e sinto tristeza em sua voz, não somente a via em seus olhos, mas podia senti-la, correndo em suas veias.

- Te amo porque está contra tudo que acredito e ainda está certo em tudo, te amo porque não acredita em nenhum dos valores em que fui criado, mas é o homem mais cheio de valores que conheço, te amo porque é um filho da puta cheio de integridade e honra, quando estou cercado de canalhas, filhos de uma boa senhora.

- Minha mãe era uma boa senhora... Mas sou mesmo um pouco filho da puta! - Puxa meus braços nos aproximando, sua boca procura a minha, quase com desespero.

Me lembrou seu beijo quando nos separamos no sequestro, a mesma forma de me pegar, como se quisesse tirar um pedaço. O mesmo beijo doído, não de dor, mas de perda, de saudade antecipada. Nesse caso, saudade mesmo, essas poucas horas me marcaram como se décadas de ausência nos separassem.

Ouvimos a porta abrindo um pouco e o Moacir olha se está tudo bem. Beija Flor solta minha boca e rosna, Moacir rosna da porta mais alto.

- Você, “vai deitar”!!!!!! - Digo para o Moacir - E você, “junto”! - E puxo o Beija Flor colando nossas bocas.

Não ouvimos a porta se fechando, nem vimos quem tirou a roupa de quem, quem comeu quem, tomei consciência de mim mesmo, nu, melado de nossas galas, suado, respiração acelerada, minha boca ardia de tanto ser chupada por ele, mordida, seus lábios estavam rosados também, começando a inchar, não usávamos camisinhas, acho que gozamos simplesmente nos beijando, não sei, nem me lembro de ter feito isso, foi como se tivéssemos perdidos em alguma dimensão paralela, onde só nossos corpos ardentes existiam, nossos cacetes melados estavam duros, como se o gozo não nos aliviasse, não conseguia parar de tocá-lo, de senti-lo nas pontas de meus dedos, apertá-lo em meus braços, e sentia os seus me aprisionando, em um cativeiro de tesão, de um febril desejo de pertencer a ele e nunca ser libertado.

Esfrego meu pau duro no dele, continuávamos de pé, no mesmo lugar.

- Meu príncipe?

- Hum?

- Você lembra de ter gozado?

- Acredita que estava pensando nisso agora?

- Eu primeiro. - Ele diz esfregando seu pau no meu

- Ah não!!!! Eu primeiro.

- Eu sou mais bravo.

- Moacir!!! - Grito e ele abre a porta

- Você sabe morder? - Pergunto para ele

- E forte. - Ele responde

- Puta que pariu. - Beija Flor diz e vai se dirigindo para a cama, puxando minha mão, se deita de bruços, olha para o Moacir que ria da porta e começa a rosnar para ele. Moacir responde do mesmo jeito da porta.

- Vocês dois querem parar, senão chamo a carrocinha. - Brinco com eles, levantando a bunda linda do Beija Flor e encaixando meu cacete duro em seu rabinho.

Ouvimos vozes e Moacir tem que fechar a porta, ficando do lado de fora.

Sinto seu quadril se mexendo me encaixando melhor em seu rabinho, mas já não conseguia distinguir o movimento dele ou meu, éramos um, presos em um desejo louco.

Beija Flor fecha sua conta algumas horas depois e encontramos o Moacir sentado na recepção tomando uma coca.

Ele fica mais três semanas comigo.

Estávamos uma noite vendo TV, canal Globo News quando anunciam o estouro de um cativeiro no Brasil, (chamam estourar um cativeiro quando a polícia localiza o refém) ele fica atento, ouve o nome do refém resgatado e levanta para pegar uma cerveja.

- Tudo bem? – Pergunto, mas sabia a resposta, seus olhos completamente azuis, suas covinhas enfeitando aquele rosto másculo é a única resposta que preciso, ele bebe um gole e divide a cerveja geladinha comigo que escorre um pouco e ele lambe meu rosto, sujando-o todo de cerveja.

- Não, infelizmente não. - Ele responde.

- Posso ajudar? - Pergunto sabendo que vinha alguma brincadeira, não tinha como não ver o brilho de desejo em seus olhos, seu cacete marcando aquele short quase o furando.

- Ou chama o Moacir para a festinha ou pede para ele ir passear, se esperar mais um pouco sai gala pelo nariz. - Ele diz dando uma mordidinha no meu nariz, sujo de cerveja.

- Cain, cain, cain. - Ouvimos e rimos do Moacir gemendo e saindo da sala onde estávamos vendo a TV.

Muitas vezes pensamos que devemos mudar quem amamos, esquecendo que os amamos exatamente por serem quem são. Essa lição eu também já aprendi.

Nos vemos novamente quando volto ao Brasil para o aniversário da mãe, poucas semanas depois.

Tenho que confessar que não gosto de festas sociais. Posso ser absolutamente verdadeiro?

ODEIO esse mundinho da alta sociedade e vejo que apesar de disfarçar bem, o pai também preferia enfrentar uma manada de elefantes a ter que estar ali, sorrindo e conversando abobrinha, se aborrecendo por horas. Mas a mãe desfilava como uma rainha, linda, elegante, feliz e radiante como só ela conseguia ser.

Beija Flor foi convidado pessoalmente pela mãe, e tenho que contar de seu presente.

O pai e eu quase morremos de inveja.

- Como nunca pensei nisso, meu filho? - Ele comenta olhando incrédulo, quando um caminhão para na porta da propriedade e entregam seu presente.

Uma carruagem, de verdade, como aquelas da corte, dois cavalos de resina, em tamanho natural, absolutamente perfeitos, um branco e outro preto. A carruagem enfeitada com orquídeas e flores do campo, um arranjo de uma simplicidade e delicadeza que parecia saído de algum livro de contos de fadas.

Um cartão lindo, com vários beija flores em alto relevo onde podíamos ler em uma caligrafia expressiva, letra bonita:

“- Que nossa rainha jamais se esqueça de que não precisa de seus blindados para chegar aos nossos corações e reinar em nossas vidas com a graça, a delicadeza e a beleza, que somente poucos mortais foram agraciados.

Esse humilde súdito sente-se honrado em ser recebido como um amigo e ofereço meu coração, meus braços e minha lealdade a mais querida das mulheres.”

Mamãe ficou com os olhos cheios d’água, emocionada, a carruagem foi colocada no jardim na porta da casa e está lá até hoje.

Nossa casa aberta aos “amigos”, nossa privacidade sendo invadida por fotógrafos de colunas sociais e seus colunistas, a casa cheia convidados com quem nunca trocaria meia dúzia de palavras se dependesse exclusivamente de minha vontade, segurando meu braço, me cutucando, Moacir via que eu queria morrer ali.

Algumas vezes quando ele percebia que ficava realmente insuportável, ele habilmente me chamava e eu respirava um pouco aliviado e logo vinha alguma amiga de minha mãe me oferecer, disfarçadamente, com a sutileza de um rinoceronte, sua filha, sobrinha, prima, isso quando não eram elas próprias a grande oportunidade de minha vida, afinal, o que fazia ainda solteiro o melhor partido desse país. Um rapaz tão lindo, tão educado, tão...

“- SOCORRO!!!!!!!!!!!” - E mais uma vez o Moacir vinha depressa me resgatar.

Mas nem tudo foi ruim. Beija flor se divertia com a minha situação, não conseguia nem disfarçar, seus olhos completamente azuis, me seguiam toda a noite, deixava que eu quase enlouquecesse e quando via que eu ia esganar alguém, chegava perto e dizia:

- Desculpe tirá-lo da senhora, tenho certeza que ele preferia ficar aqui, mas precisamos dele...

- Vou subir, colocar uma peruca da mãe e entro nessa sala rebolando igual uma puta louca e me atiro em seus braços. Quero ver se me enfiam mais alguém pela goela. - Digo bravo com ele que demorou muito dessa vez.

- Eu não. - Ele diz rindo - Já me arrumaram dois casamentos. Se não sair daqui noivo hoje, isso não acontece nunca mais. - E dá uma piscadinha para uma riquinha idiota e sem sal que faltava pular em cima dele.

Uma hora ele me chama e pede minha ajuda.

- Que foi? - Pergunto irritado com a perua que faltava tirar a roupa, ficava puxando o vestido, seu peito murcho, quase pulando para fora.

- Pode me ajudar? - Ele insiste e eu o acompanho.

- Algum problema, senhores? - Moacir pergunta nos vendo afastar para um dos banheiros.

- Claro que temos, Moacir. - Beija Flor diz rindo - Ou acalmo um pouco esse pobre coitado ou vamos sair todos no jornal amanhã, e não será nas colunas sociais.

- Vou esganar aquela vaca bêbada. - E Moacir dá uma gargalhada ouvindo isso.

Acreditam que ela apertou minha bochecha, pegou na minha barriga como seu tivesse cinco anos.

“- Precisa conhecer minha sobrinha” - Imito-a, fazendo cara de cu.

Moacir abre a porta do banheiro sem conseguir parar de rir e nos deixa passar.

- Faça isso, Beija Flor, consigo uma janela de meia hora, mas depois precisam voltar.

- Meia hora? - Digo injuriado - Amarradinho você, hein!!! - Ele está fechando a porta quando o chamo.

- Pois não? - Ele diz ainda rindo.

- Não podemos, sem querer, acionar o alarme de incêndio? Sem querer!!!!!

- Desculpe, mas essa noite terá que acabar sem a nossa ajuda, capriche, Beija flor, que essa pobre criatura está mesmo quase cometendo um sacrilégio. Já pensou se ele estraga a festa de nossa rainha?

Mas finalmente acabou, todos se retiraram, ficamos papai e eu com cara de bunda, despedindo e agradecendo uma presença que simplesmente não gostamos, mas a mãe estava feliz, e era isso que importava. Sua festa foi um sucesso absoluto.

Claro que o Beija Flor dormiu lá comigo, nem pensar em ir embora, reclamo quando ele ameaça ir.

Ele enfia a mão no bolso e tira um monte de torpedos e os mostra para mim.

- Mas, meu príncipe, preciso verificar se não estou perdendo nenhum bom partido. - E fica rindo da minha cara e põe todos os papeis na mão do Moacir.

- Sabe onde enfiar isso, não é? - Digo tentando parecer irritado, mas sabia que minha festa começava agora.

Dormimos até tarde, mamãe caprichou no café da manhã, e depois Beija Flor vai embora e papai me chama para a Biblioteca.

- Trabalhar hoje não, amor, por favor. - A mãe pede quando o ouve me chamar para lá. - Nosso filho vai embora hoje, o deixe comigo mais um pouquinho.

- Na verdade, querida, gostaria de sua presença também, precisamos conversar com nosso filho. - Ele estica sua mão, que ela pega e eles vão de mãos dadas para lá.

- Filho... - O pai começa - Sei que se irritou muito ontem, com a insistência de alguns para você se casar.

- Deu para perceber? - Respondo já me irritando de novo.

- Eu tinha sua idade quando sua mãe deu à luz. Está na hora de pensar em um filho.

- Ah pai, hoje não, nem posso ouvir falar em casamento. - E vou me levantando irritado. - Não depois da canseira de ontem. - Eu completo.

- Filho - O pai me aponta o sofá pedindo que me sentasse novamente. - Eu tive algumas grandes alegrias na vida - Ele continua - Acertar na escolha da esposa foi a mais importante delas - E abraça a mãe sentada ao seu lado, que sorri surpresa com aquele carinho inesperado. - Ter você como filho, com certeza foi outra, mas algo que jamais me cansarei de agradecer, foi de estar hoje com você. Acompanhar seus primeiros anos de trabalho, estar ao seu lado podendo lhe passar meus conhecimentos, ajudá-lo. Não sabe como me orgulho a cada reunião do conselho e não somente ouço, pois sei que não posso confiar em elogios, mas vejo, o grande profissional que se tornou. Pode imaginar deixar seu filho sozinho, tendo que enfrentar esse mundo louco que deixara para ele? Sua mãe e eu gostaríamos de poder brincar com um netinho ou netinha, não é, minha linda? Só estou pedindo que comece a pensar nisso. Minha presença tem sido de alguma utilidade para você, meu filho?

- Claro pai, e muita, sabe quantas vezes eu ligo pedindo um conselho, esclarecendo alguma dúvida. - Respondo honestamente.

- Esse ano quase não me ligou. - E ele sorri - Mas já ligou sim e tive o prazer de ajudá-lo, só peço que pense no que estou lhe falando. Ainda é jovem, não gostaria de acompanhar o crescimento de seu filho? Tentar não errar onde erramos, quem sabe jogar uma bola com ele, correr com ele na praia, brincar com seus amiguinhos, coisas que nunca fiz com você. Estava muito ocupado tendo que aprender sozinho. Meu pai me teve já mais velho. Filho, estou tentando lhe dizendo que aprender sozinho é muito difícil, não quero me desculpar, talvez me justificar. Enquanto você crescia eu aprendia na marra, seu avô já velho, doente, morreu e assumi antes mesmo de me formar. O conselho estava louco para eu fazer uma merda qualquer e eles poderem assumir o controle. Comi o pão que o diabo amassou, com o rabo - Ele diz sério. - Não desejo isso para o meu neto. É isso que estou lhe pedindo: Dê ao meu neto a chance de ter um pai. E um pai muito melhor do que eu fui, eu lhe peço.

- De ter avós. - A mãe diz - Quero estragar muito meu netinho. Eu adoraria ainda poder ver uma criança correndo pela casa, ou duas, quem sabe uma menininha para eu ensinar algumas coisinhas também.

Fiquei olhando os dois, cada palavra do pai me tocou profundamente. Nunca soube por que foi tão ausente. Agora sabia, entendia e não deixaria que isso acontecesse ao meu filho.

- Pai, vou pensar como resolver isso, tem razão, quanto mais cedo tiver meu filho, mais tempo terei ao seu lado e espero conseguir para ele uma mãe tão maravilhosa como a minha e ser para ele um pai tão companheiro como o senhor é para mim.

Segui viagem naquela tarde. Estou deitado pensativo, tentando resolver esse assunto do filho quando o Moacir entra.

- Está há horas deitado aí. Está sentindo alguma coisa?

- Preciso de uma esposa. - Falo como se pedisse uma dose de whisky.

- Como que é? - Ele surpreso se senta na beirada de minha cama.

Falei da conversa com o pai, da minha infância sem pai, e do porque isso aconteceu, do meu desejo de ser o pai que nunca tive.

- Quando penso naquelas “coisas” que conheci na festa da mãe fico tão desanimado. - Digo pensando em cada mulher que vi em minha casa.

- Não dá para ser uma produção independente? - Moacir pergunta. - Ter um filho solteiro? Hoje é moda isso.

- Claro que dá, pensei nisso também, mas será que não estarei privando meu filho? Minha mãe errou tanto, mas não imagino minha vida sem seu amor, sem seu carinho. Meu pai tem uma relação ótima com ela. Sabe que ele tem seu book?

- Não. - Ele diz surpreso.

- Tem e nunca deixou que ela descobrisse, ou que lhe faltassem com o respeito. Não quer uma amante para arriscar seu casamento. Ela é a parceira social que ele precisa, então a trata com deferência, carinho verdadeiro, não uma relação hipócrita, como terei se me casar com alguma garota ridícula. - Vejo que ele está tendo ideias. Conheço aquele jeito de olhar para cima, somente com os olhos. - O que pensou?

- Na verdade ainda estou pensando. Fabrício chamou para jogarmos um truco, porque não vamos? Me permita amadurecer umas ideias e voltamos a falar sobre isso. - Ele diz me dando a mão e me ajudando a levantar.

Vinte dias depois estou voltando ao Brasil.

-

~ olá, pessoal! tudo booom? vi que tá aparecendo mais pessoassss, mega feliz aqui! sinto dizer que o conto não vai se prolongar muito mais hahaha, acredito que termine no capítulo 17, mas até lá acontecerá muita coisa ainda. até amanhã <3 ~

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Comentários

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Sonhando com o casamento do príncipe e beija flor. 💕

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cada vez melhor. mas gostaria que algo rolasse ao menos uma vez entre moacir e o principe.

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Gui em qual ano o autor postou no Orkut?

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Casa com o beija flor e adota uma criança, simples assim....

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Muito bom esse capitulo ,amor doído esse delas

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Pena que o conto está acabar. Ele está demais.

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Ele podia assumir a relação dele com o beija flor e foda-se o mundo!!! Que mané ter q casar... ter q provar pro mundo alguma coisa? Isso é ridículo!!!

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