Eu estava distraído, quando o amor me achou - CAPÍTULO 33

Um conto erótico de Lissan
Categoria: Homossexual
Contém 2055 palavras
Data: 15/06/2019 18:03:28
Assuntos: Gay, Homossexual

Olá, olá, a todos! Hoje estou bem feliz, o tempo tá 18º, maravilhoso!

Então, espero que eu consiga agradar vocês com mais esse capítulo. Como sempre é um prazer ler os comentários de todos vocês, muito OBRIGADO POR ESTAREM AQUI até amanhã!!!

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UMA ÓTIMA LEITURA A TODOS

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As batidas intermitentes na porta transformam o sangue nas minhas veias em gelo. Começo a suar frio e a tremer na cama. Minhas pernas não obedecem, e só consigo pensar que eles voltaram e que tudo aquilo vai acontecer mais uma vez, até abrir os olhos e me deparar com a solidão da casa. Quantos dias? Meneio a cabeça sentado na cama ainda, mas são reais... As batidas na porta! Dou um salto da cama e pulo para o canto do quarto, como se isso me protegesse de alguma coisa. Fico ali encolhido por alguns minutos até o batuque na porta cessar.

Meu coração volta a bater com mais tranquilidade. Abro a porta do quarto, e espero para ouvir. Nada. Engulo em seco e passo correndo para o banheiro, me tranco lá dentro. Lavo o rosto, e tento me convencer de que tudo passou. Não preciso mais ter medo. No minuto seguinte estou diante da porta do banheiro fechada, pensando se devo abrir ou não... Enfim abro. Cautelosamente venço o corredor, o sofá solitário... A sala, cozinha... Caminho até a mureta da cozinha. Perto da porta, pela fresta percebo alguma coisa... Hesito mais uma vez.

Fico olhando para o papel, querendo ir até ele, mas sem força para isso... Dou um passo até ele, e em pé mesmo olho para ver o que está escrito. Controlo meu medo e agacho, “Preciso falar com você. Tem alguma urgência, se puder me ligue. Sei que você está ai dentro. Número... Abraços, Adelmo.” Puxo todo o ar para os pulmões e solto. Então era ele esse tempo todo?

Quase há mesma hora todos os dias, alguém insistentemente bate à porta... E eu me recuso a abrir a não ser quando dona Bete. A vizinha que me socorreu, vêm... Chuto o papel para o lado e volto para dentro de casa.

Alongo os braços e pernas, as dores exteriores já sumiram quase todas ao custo de alguns remédios providenciados por dona Bete, “É meu filho, mas alguma hora você tem que sair.” Ela me disse. Mordo o biscoito, e engulo um pouco de café velho. Só de pensar em sair meus joelhos voltam a tremer. E sinto raiva por mim mesmo, por esse medo idiota! Sem contar que até agora martelam na minha cabeça as palavras do psicopata “armação” foi tudo uma “armação” e “seu tio”, não encaixam... Meneio a cabeça para isso.

- Isso não deveria me surpreender, - digo para mim mesmo – meu tio deve ser igual a meu pai, miliciano... – engulo mais do café e caminho até o sofá. Deito ali cobrindo os olhos com o antebraço.

O que Adelmo quer comigo? Pergunto a mim mesmo, e como se tivesse respondendo a minha pergunta, voltam a bater na porta. Abaixo o braço, mas a voz que acompanha as batidas não é de homem como das últimas. Levanto sem medo, e giro a chave na fechadura. A figura de dona Bete aparece, segurando sacolas da padaria, ou supermercado? Ela sorri, e eu abro mais a porta.

- O acordei? Desculpa – diz entrando muito a vontade – vim trazer como me pediu, papel higiênico, sabonetes, essas coisas...

- Nem sei como agradecer a senhora dona Bete – digo sentindo minhas bochechas enrubescerem.

Ela apenas sorri e começa a tirar as coisas da sacola.

- Trouxe alguns alimentos também, - faz um gesto com a mão para eu me aproximar – você sabe, são poucas pessoas que entendem esse trauma. Eu quebrei um femo que me dói até hoje...

Ela sempre contava a mesma história, anos antes foi assaltada. Bandidos a empurraram e ela ficou internada durante dias até se recuperar. Depois mais alguns anos até ter a coragem de sair de casa, daí vinha toda sua experiência para me aconselhar. Tinha que passar por isso logo, era jovem, com tudo pela frente. O dia lá fora era outro, e quem nunca passou por esses perrengues na vida? É assim mesmo, só depois das provações e lutas que vêm a vitória, e toda aquela conversa de mãe, avó. Não altera nada, mas faz bem ouvir, penso comigo mesmo.

Antes de ir embora, dona Bete, fala mais uma vez sobre um homem assim, assim que vêm a minha procura. Pelas características temo ser ele... E só de pensar em vê-lo depois de tudo, meu estomago se contraidona Bete não posso falar com ninguém por enquanto – eu ia explicando a ela, quando abri a porta, a medalhinha de São Jorge Guerreiro foi a primeira coisa que vi. Reluzente no peito dele.

- É esse o moço – diz ela entusiasmada, sua voz já distante – eu vou indo. Fique com deus meu filho, fique com deus...

Ela passa por Atila, e ele me crava grandes olhos preocupados? Arqueio as minhas sobrancelhas sem entender ele ali. Para quê? Depois de tudo que lhe fiz. Meu peito parece receber um golpe de agua morna, a sensação de quentura no peito. Vergonha, misturada com remorso. Abaixo a cabeça e minha intenção é fechar a porta, Atila impede segurando-a. Ele empurra com força e entra na casa, fico desenxabido sem saber como agir. Sou a pessoa mais tola, idiota do mundo, recrimino a mim mesmo.

- Eu... – ele começa, não ergo a cabeça – tenho vindo aqui quase todos os dias... Inácio?

Ouvir meu nome saindo dos lábios dele parece ter um efeito diferente em mim. Levanto a cabeça, encaro a medalhinha dele... Tão forte e bonito naquele cavalo, São Jorge Guerreiro, em nenhum momento tentei orar, ou rezar a ninguém. Penso nisso agora olhando a correntinha dele. A ideia de que o não posso recorrer ao sagrado é mais forte? Engulo em seco e pela primeira vez em muito tempo, rogo “... por favor dei-me forças... Por favor, se o senhor existe, dei-me coragem.”

- Eu só não aguento mais... – é tudo o que digo, e o vejo franzi o cenho. Atila se aproxima de mim. E estende os braços. Não tenho coragem de me aproximar dele por isso permaneço onde estou. Meus olhos esquentam e as lagrimas vertem, ele se aproxima mais. É bom ser abraçado de novo, penso. É bom poder chorar no ombro de alguém, soo o nariz costas da mão. – Você não deveria ter vindo... – consigo dizer, com ele ainda bem próximo de mim.

- Olha pra mim Inácio – ele pede de forma terna – porque você não confia? Confia em mim, por favor, eu sei que alguma coisa aconteceu com você... Não preciso saber o quê, não interessa. Se um dia quiser falar, estarei aqui...

Temo ver no rosto dele, piedade. Ele tira a jaqueta que está vestindo, passa por mim e a deixa no sofá. Recosto na mureta da cozinha e olho pra ele, meu medo se esvai. Seus olhos não são de pena, piedade, nem coisa parecida. Sem querer, ou querendo, me convenço de que está preocupado. Encaro seus olhos e me convenço de que eu me enganei, mas meus sentimentos nunca. Quando percebi há muito tempo atrás a diferença do que sentia por Atila, para o que Emerson me causava... Burrice, estupidez minha.

De alguma forma louca, quase inconsciente, decidi confiar mais em um que em outro... A insegurança toma conta de mim e pergunto:

- Você conseguiu me perdoar por eu não ter te contado do vídeo? – cruzando nossos olhares.

Ele me surpreende e sorri, engole em seco, e com uma voz firme se aproxima dizendo:

- Tentei te ligar, mas dava número invalido. Só não vim aqui antes porque estava ajudando minha irmã, ela ficou muito abalada com tudo... Principalmente como tudo aconteceu. Mas não te culpo, eu senti raiva na hora, sei lá mais o quê... – ele sorri mais uma vez encolhendo os ombros. – Parece que pra mim o caminho para conseguir sua confiança é mais... Complicado.

- Não é verdade – digo na defensiva. Mas volto atrás, realmente, nosso começo briguento pode ter causado isso. – Eu pensei que você não fosse voltar mais... Sei lá... – meu coração bate acelerado, sem ser da maneira com a qual estou convivendo há dias. Um acelerado diferente do habitual. Um acelerado bom.

Sorrio, e isso é tão estranho depois desse tempo... Sorrio porque estou com alguém, mesmo sem que ele não saiba ainda o quanto inseguro me sinto. Ele continua sorrindo, e dá a volta na mureta e começa a mexer nas sacolas.

- Hoje estou com o dia livre, e não sei cozinhar nada, - gargalha – por isso pedi a essa senhorinha que acabou de sair, para comprar isso aqui... – ele ergue um pote de sorvete e duas latinhas de cobertura de chocolate. – Podemos... Sentar em frente a televisão, assisti e comer? – ele saca do bolso da calça um pen drive.

Os céus, deus, os santos, ouviram minhas orações antes mesmo de eu as fazer? Pergunto a mim mesmo, sem querer acreditar nele ali. Atila tira do saco o pote de sorvete, coloca no congelador e se volta para pegar os potes de brigadeiro, antes de ele passar para a sala fico em sua frente.

- Obrigado por ter vindo – digo, com toda a sinceridade e sem sentir que mereço. Ele sorri e coça a nuca como se estivesse envergonhado. - O que vamos assistir?

Atila lista vários filmes desde comédias românticas héteros já clássicos, outros gays mais atuais. Além dos de terror e ação. Fico impressionado com o tanto de coisa, ele fica com os olhos brilhando para a tela, tentando me convencer a assistir algum. Escolho pelos seus conselhos, e para não deixar transparecer meu verdadeiro estágio de espirito mais para “a última cena de Titanic” do que para as aventuras de “Lara Jean pulando da janela em Para todos os garotos que já amei”. Mesmo assim opto por este último, por parecer muito divertido.

Depois assistimos um escolhido por ele, chamado “Logan” um filme de herói, mutante, que nem parece isso. E devo confessar como esse me deixa um pouco mais no clima, Atila se espalha no chão mesmo, enquanto eu permaneço deitado no sofá. Quando o filme termina, ele vira a cabeça para meu lado e sugere:

- Você costuma assistir coisas em inglês? – arqueio as sobrancelhas – tem uma série chamada Pose, muito, muito legal, eu só vi o trailer...

- Tá, - digo, apesar de não ter um inglês perfeito – mas tem legenda?

Ele assente e coloca no primeiro episódio. Os dramas vividos por nós, homossexuais, e todas as minorias. Acho legais os primeiros minutos da série até me deparar com o tema mais chocante para mim, que faz meus problemas parecerem nada diante daquilo, AIDS. Engulo em seco a cada parte da série que trata do tema. É como está assistindo ao filme Filadélfia só que de outro ângulo. Deixo minha mão escorregar até o ombro de Atila no momento em que uma das personagens descobre-se com o vírus... Ele ergue a sua e entrelaça nossos dedos.

Quando termina o último episódio, o pote de brigadeiro já se encontra vazio e nós de certa forma cheios da realidade da série.

- Bizarro não é? – ele diz se sentando no sofá e puxando meus pés para seu colo. – Quer dizer, quantas pessoas morreram antes dos remédios...

- Fiquei reparando também nas amizades... Como Demon foi ajudado, e como o grupo fez a diferença... Aqui no Brasil, a coisa não é bem assim... Eu mesmo não tive amigos gays, lésbicas, quer dizer... Até pouco tempo... – isso me faz lembrar de Robson. De tudo o que Emerson me disse dele, da última vez que o vi.

- Acho que estou de missão cumprida não é? – ele ergue as sobrancelhas – você já parece bem melhor... – ele caminha com as pontas dos dedos pela minha perna e esse gesto me assusta. Recolho as pernas e me sento ao seu lado. – Desculpe eu não quis...

- Não, - seguro o joelho dele – a culpa não é sua. Você só fez me ajudar... É só que eu estou... Com tanta coisa na mente, - respiro fundo e me forço a sorri – já é tarde se você precisar ir, não se preocupe comigo tá? – vejo o semblante dele ficar um pouco mais murcho e tento. – A não ser que queira ficar, não estou a melhor companhia do mundo mas...

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Comentários

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INÁCIO SACODE A POEIRA E DAR A VOLTA POR CIMA.

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Acho que todos confiávamos em que Átila, depois que esfriasse a cabeça, entenderia a situação de Inácio. Se o garoto aprendeu mesmo a lição, deve contar a seu amado o que aconteceu, porque precisa exorcizar esse demônio de ter sido violentado. Precisa entender de uma vez a dimensão do amor que Átila sente por ele. Isso vai lhe dar as forças para levantar a cabeça e seguir a vida. Existem mesmo perguntas a serem respondidas (inclusive o envolvimento de Adelmo no assunto, já que ele foi o escolhido pelo tio, que é comparsa do Emerson, para ficar com Inácio naquele episódio da tentativa de suicídio da tia louca). A conferir.

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Go ahead. Acho tão curto os capítulos. Mas compreendo. Ta muito bom

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