Eu estava distraído, quando o amor me achou - CAPÍTULO 8

Um conto erótico de Lissan
Categoria: Homossexual
Contém 2094 palavras
Data: 21/05/2019 18:10:51
Última revisão: 21/05/2019 23:30:07
Assuntos: Gay, Homossexual

Olá amigos, tudo bem com vocês?

Obrigado a todos pelos comentários carinhosos e opinativos também. Saibam que leio com muita alegria, é sempre um estimulo para a continuação da história. Agradeço mesmo!

ÓTIMA LEITURA A TODOS!

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Às gargalhadas foi como passei o restante do sábado e boa parte da manhã de domingo. Não conseguia não sorrir de toda a loucura envolvendo Emerson, mais ainda dos inusitados. Mas nos momentos em que eu não sorria a minha mente era invadida por Atila. Mesmo sem querer, e mesmo que por fração de segundos. Na segunda-feira eu o veria, e nada diferente ia acontecer além de mudarmos para outra obra. Recostado ao sofá com o controle da televisão na mão, eu boiava nesses pensamentos todos mais do que assistia.

De supetão ela entrou em casa escancarando a porta. Seus cabelos assanhados e nos olhos pura agressividade. Ela entrou em casa, e caminhou até a escada subiu sem dizer palavra alguma. Meu coração, não nego, sacolejou um pouco com a cena. Meu tio entrou em seguida carregando uma mala, e no semblante tanto ódio quando no rosto da mulher. Desliguei a televisão, e com o meu celular saí. Era mais seguro ficar na varanda de casa só por precaução.

Fiquei atento a qualquer ruído, mas nada aconteceu depois disso. Entrei em casa na ponta dos pés, fui até a cozinha e tratei de comer alguma coisa para não ter mais de sair do quarto quando me encerasse lá.

E o domingo foi embora assim, com a tensão no ar e meus risos contidos no travesseiro no quarto.

A confusão mesmo dos dois só começou na madrugada, e não sei como os vizinhos não chamaram a policia. Ela o acusava de traição. E eu entupia meus ouvidos dobrando o travesseiro atrás da cabeça, deitado. Nessas horas desejava com toda a força, estar em outro lugar. Meu salário não é tão miserável que eu não possa me virar. Antes uma vida de miséria a uma miséria de vida dessas, pensava atordoado na cama.

E então o dinheiro deixado por papai e mamãe vinha a minha mente. A nossa casa de Taboão da Serra, nosso sítio. Eu precisava aguentar aqueles dois até cumprir o contrato de testamento aos vinte e um anos de idade, meu tio deixaria de ser meu tutor. Eu só preciso aguentar mais um pouco, só mais um pouco.

Não esperei para ouvir o resultado do fim da briga dos dois. Na verdade o sono me salvou antes, encerrando meus pensamentos sobre tudo e todos. Levantei como de rotina, fiz tudo o que tinha de fazer e desci. Ela estava agachada num canto do quintal, e quando eu caminhava para lá com a toalha na curva do braço, dei meia volta. Os cabelos ainda estavam assanhados e seu rosto não parecia mais sereno.

Como ela estava um pouco distante, não ouvi com exatidão o que disse, mas foi algo do tipo:

-... saia da minha casa intruso... – e mesmo que não tivesse dito, eu pensei no mesmo instante, não tem coisa que eu queira mais do que deixar de ser intruso em uma casa como esta. Pode ter certeza titia!

Dois ônibus cheios mais uma boa caminhada até o centro comercial da empresa de construção civil, e quase ninguém havia chegado ainda. Vesti o macacão, e fiquei às ordens de seu Zé (que ainda não tinha chegado), ou de Atila... E esse sim me apareceu com uma caixa de papelão quase do tamanho dele nos braços.

Por dois minutos não disse nada. Ele passou por mim com a caixa e murmurou alguma coisa. Segui o mesmo caminho até a parte de deposito, onde uma grande mesa metálica descansava.

- Vou te ensinar a montar essas belezinhas aqui – disse eufórico e risonho uma assustadora combinação nele – vem ver, chegaram agora. Seu Zé não vai vir hoje, porque foi com os arquitetos visitar o novo projeto...

Na mesa ele depôs todas as peças desconhecidas para mim a não ser algumas fiações, me aproximei da mesa. Ele se aproximou de mim, para me mostrar o que cada peça daquelas fazia. Seus olhos brilhavam ao olhar para os objetos, eu estremeci. O cheiro o perfume dele contraiu um pouco meu estomago e tive de me afastar alguns passos. Atila estava compenetrado nas peças e quando percebeu meu silencio, se virou para mim sério.

Eu meneei a cabeça fugindo dos seus olhos. Não queria sentir mais aquilo, não no trabalho onde tanta gente, assim como na faculdade poderia ver, me julgar por sentir. Inevitavelmente pensei em uma série de outros caras, e nenhum se comparou a isso a não ser o do ensino médio, já há tempos esquecido.

- Preciso ir ao banheiro já volto – digo me aproximando da porta. Atila se aproxima de mim e fica na minha frente.

- Escuta. Eu percebi que minha presença te incomoda – começou a dizer e eu sem olha-lo senti raiva por ele se achar tão importante – não sei se fui longe demais nas brincadeiras. E peço desculpas se fiz isso. Saiba que não vou mais encher o seu saco, prometo.

Vi e ouvi deboche nas palavras dele, mas depois percebi mais assustado ainda que não havia nem uma coisa nem outra. Atila estava mesmo se desculpando, seus olhos me diziam isso, o curvar dos ombros. Não consegui segurar aquele riso de nervoso sem saber como agir. Ele coça a têmpora e sorri de volta. Como se firmasse uma trégua, um acordo de paz.

- Tudo bem – consigo dizer. E conforme me afasto dele, conforme entro no banheiro e tranco a porta essas palavras parecem ser as mais tolas já pronunciadas após um pedido de desculpas.

Volto para o deposito onde Atila instrui além de Fábio outros três funcionários, a montar a caixa. Ele explica como ela funciona no controle da energia de todas essas casas que já estão prontas e as que ainda iremos construir. Pelo que entendo é um projeto ligado ao governo e a forma como fala é encantador. Alguém, por favor, me bate? Eu achando esse sujeito encantador. Mas é a verdade nos olhos dele, nos gestos de mãos tudo dito com muito cuidado. Todos estão observando seus movimentos, suas explicações eu observo seu rosto.

Meneio a cabeça me forço a lembrar, ele provavelmente é hetero. Não posso admitir sentir essa coisa por um cara...Hetero, ser gay assumir isso já foi doloroso o suficiente. Balanço mais a cabeça de forma leve para que não percebam minhas agruras. Foco no trabalho a minha frente, e dá certo.

Apesar de nunca ter feito algo parecido tenho incrível facilidade em montar as caixinhas. Principalmente por causa dos fios, o pessoal se confunde nesse momento, a experiência no canteiro – pode-se dizer me preparou para isso – me transformou em um quase eletricista.

Montar e desmontar as caixinhas me alivia as ideias. E a presença de Atila foi se tornando no correr das horas apenas mais uma, vez ou outra me pegava observando o que ele estava fazendo. Em alguns momentos também me passavam pela cabeça uma ótima ideia para inferniza-lo, e ai o pedido de desculpas vinha à tona. E ai certeza de não poder sentir por ele nada além de amizade me dominava.

Seria possível sermos apenas amigos? Perguntei a mim mesmo de esgueira para ele que ajudava um colega em alguma dúvida. Aquieta esse facho, me adverti. Você já tem um encontro!

Seu Zé finalmente deu as caras, abriu encima da mesa um mapa do local onde íamos trabalhar e me surpreendi:

- É um conjunto habitacional – fiquei encarando o mapa – você vão ter dois ônibus exclusivos da empresa para leva-los até lá. Porque fica em uma área recuada da cidade, essa parte da frente conseguem ver? Uma parte da equipe vai começar a partir de amanhã por ela. Serviços de acabamento, vocês conhecem. A outra parte da equipe vai levantar as casa e com esses quero conversar um pouco mais. Quem não for da parte de construção, está dispensado.

Fui um dos primeiros a sair. Massageei meus dedos uns nos outros, aquele serviço com as peças de plástico tinha causado um incomodo. Nada demais. Sai e toda a rua estava iluminada pelos postes. Diferente do canteiro, aqui é um bairro comercial. Olhei para os dois lados e respirei fundo, vi Fabinho conversando com uns caras, me aproximei:

- Rola carona? – ele se virou para mim.

- Claro, entra ai, mas vou ter que te deixar no meio do caminho porque se não pego contramão – eu assenti, ele entrou no carro eu em seguida. Já sentado no banco do carona vi Atila olhando para nossa direção. – Você ontem deu um susto em Robson, ficou doidinho de preocupação em casa.

- Não foi minha intenção, o burro do uber que me deixou em outra comunidade – disse tranquilamente.

Fábio deu uma longa gargalhada, e só depois de fechar o vidro da janela do seu lado por onde entrava um vento ensurdecedor, conseguiu explicar:

- E como você conseguiu sair vivo de lá? – eu dei de ombros imaginando ser brincadeira dele – falo sério Inácio, agora me toquei que você ontem tinha dito uma ladeira, assim, assim... Eu desligado, não saquei na hora. Você estava na comunidade mais perigosa da cidade.

Não acreditei, mas também não quis prolongar a conversa sobre isso porque teria de contar sobre Emerson. E por enquanto ele era só meu, quero dizer, um segredo só meu. Desci do carro agradecido pela carona e poupança, peguei apenas mais uma condução. Em pé claro. E cheguei a casa dos meus tios. Não hesitei em abrir o portão nem a abrir a porta de casa.

Mas quando pus os pés na sala, o cheiro de queimado me fez correr para a cozinha da cozinha para o quintal. Um cheiro forte de fumaça abafada com agua, impregnava o lugar por completo. Mais uma loucura, pensei, bebi agua e subi para meu quarto. Tomei banho, sai do banheiro e não vi nenhum dos dois. Será que ela foi internada de novo? Minhas roupas não estavam nos cabidos, nem nas gavetas.

- Tio! – gritei saindo do quarto e indo para o deles – Onde estão as drogas das minhas roupas?

Deitado estava, deitado continuou, voltei para o quarto puto da vida. Vesti uma cueca, a única restante. E quando me virei a louca estava na porta.

- Eu queimei tudo – ela espremeu um frasco de álcool que estava em sua mão e riscou o fosforo, eu dei um salto para cima da cama fugindo de sua loucura – quero você fora da minha casa, você é amante do meu marido! Eu sei que é! Ele te come enquanto eu durmo! Eu sei que é!

O fogo começou a lamber parte do guarda-roupa e tive medo de avançar nela, por sorte, ou não, meu tio a agarrou por trás. Ela esperneou, mordeu o antebraço dele e descontrolada começou a dançar can can com as pernas no ar. Tirei a colcha da cama e lancei para abafar o foto. Minha testa estava em bicas, meu coração a mil por hora e meu tio ainda lutava com ela em seu quarto. Com o fogo controlado, e a toalha nos ombros, sai do quarto e ele estava com as costas recostas na porta do quarto dele fechada. A doida gania lá dentro, essa mulher precisa de um médico! Quis dizer, mas me aproveitei da situação, era agora ou nunca.

- Não vou ficar em uma casa dessa – disse e consegui a atenção dele – não é seguro para mim, ela tentou me matar.

- Cala essa boca e vá para a droga do seu quarto, antes que eu te quebre no meio e te mate eu mesmo.

Engoli o medo, segurei os movimentos do meu nariz porque sim, meus joelhos estavam trêmulos.

- Ela está em surto, um dia ou outro que se controla... – engrossei a voz – libere o meu dinheiro e nunca mais vão precisar me ver na casa de vocês. E sua mulher não vai achar que – sorri – sou seu amante. Ela tentou me matar! Ouviu isso? Queimou minhas roupas e tentou me matar, eu não fico nessa casa nem mais um dia.

Meu tio cobriu o rosto e chorou, eu dei meia volta e entrei no quarto na esperança de ainda encontrar alguma peça de roupa descente além do macacão de zuarte do trabalho. Não ia faltar a faculdade. Preciso saber onde vou dormir hoje, uma palpitação estranho retiniu em meu coração. Mordi meu lábio inferior, é tudo tão louco, mas isso pode significar minha liberdade, finalmente, minha liberdade. Consegui, acreditem se quiser, sorri de tudo isso.

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****POSTAGENS TODOS OS DIAS AS ENTRE 18:00 A 18:30.*****

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Comentários

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Cara! Que situação mais inusitada essa! A mulher endoidou geral. Gostei do capítulo, as coisas estão tomando um rumo interessante. Se me permite um comentário, dê uma revisada na escrita/gramática. Por exemplo, na cama a gente usa uma colcha. Coxa é parte do corpo. Desculpe a chatice, mas você conta histórias muito bem, então melhorar no português ajuda. Abraço.

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