Eu estava distraído, quando o amor me achou - CAPÍTULO 3

Um conto erótico de Lissan
Categoria: Homossexual
Contém 2018 palavras
Data: 16/05/2019 18:13:41

Aquele sorriso debochado de Atila, ainda estava lá, esticado no rosto dele. Mascarado! Enquanto subíamos pelo elevador destinado à obra, ele manteve-se calado. Eu, ele e mais alguns colegas.

Subir por aquele elevador queria dizer que iriamos trabalhar lá no topo, nas alturas. E não nego como minhas pernas tremem um pouco ao pensar sobre isso. Mantenho a calma muito bem, apesar de transpirar um pouco ao perceber quanta gente já deixamos pelo caminho nos outros andares, e ainda assim continuamos a subir mais.

Atila é quem para o elevador já no sexto andar, o penúltimo. Ele sai sem dizer nada e como um cachorrinho, por obrigação do serviço, eu o sigo também quieto. Ele vai ascendendo às luzes uma a uma, e só então me dou conta de todas as ferramentas ali. Equipamentos de segurança, e parafernálias do tipo. Engulo em seco sem conseguir evitar meus lábios de inquerirem:

- Ma... Mas para quê vamos precisar desses trecos de segurança – perguntei baixinho ao lado dele.

Atila sorri e com um dos cintos de segurança nas mãos, passou a entrada dele pela minha cabeça, amarrou os lados, até eu tomar das mãos dele.

- Porque nós vamos ter de corrigir... Quer dizer, eu vou ter de corrigir umas fiações do andar de cima, no sétimo andar, e preciso de um auxilio, vou usar as minhas duas mãos para isso então você, parceiro – sorriu – vai ser as minhas outras duas. Não se preocupe ninguém vai morrer hoje.

Muito engraçado, pensei. Vi ele realmente fazer um sinal com os dedos como se estivesse entrando em uma igreja e saudando o altar, sinal da cruz, acho. Depois beijou uma medalhinha no pescoço. Eu puxei todo o ar a minha volta prendi por um tempinho e soltei não vou me demorar nesse trabalho, é só o tempo de conseguir outro. Não sou pedreiro, menos ainda eletricista... Resiliência.

Calçamos botas emborrachadas e barulhentas, vestimos luvas e na parte de amarrar os cintos de segurança, ele fez questão de amarrar o meu. Pode parecer infantil da minha parte, mas aquele cinto ficava entre nossas virilhas. E isso fazia um volume estranho surgir entre nossas pernas, quer dizer entre as minhas tinha um espaço de vento deixado pelo tecido do macacão. Ao olhar para o de Atila, reparei o oposto e sorri.

- Eita nossa... – murmurei sem querer tampando a boca em seguida e me virando para fingir concertar meu equipamento.

- O que foi? - ele disse parecendo distraído.

Eu me voltei para ele, não sentia minhas bochechas quentes ainda bem.

Minhas mãos soavam dentro das luvas, e Atila ao meu lado não contribuía em nada para aumentar minha segurança. O deboche dele estava em cada palavra ao me explicar como eu deveria agir, e deixar claro ao final que quem desceria num dos tuneis do elevador ainda desativado seria ele, sozinho. Eu apenas ia assessorar passando os equipamentos, isso fez meu coração desacelerar completamente:

- E porque você ficou fazendo aquele suspense? – o interroguei sem resistir mais uma vez.

Atila moveu os ombros, e voltou-se para mim com uma expressão divertida no rosto.

- Para ver sua cara de cagão medroso – disse e apertou meu nariz – sabia que seu nariz se torce todo quando está com medo? – ele soltou uma longa gargalhada, achando graça não sei de quê... Meu nariz provavelmente.

Sorri em resposta, mas sem achar a menor graça em nada daquilo. No caminho, Atila ficou mais sério, e elencou todos os instrumentos de que precisaria. Ele deixou claro, as normas de segurança, e se precisasse só em urgência eu iria descer também para auxiliar. Em todo caso eu apenas iluminaria o local e ia descer os equipamentos.

Mas o mais importante deixou para depois, quando já estava se amarrando ao cabo de segurança para descer naquele túnel às escuras. Eu olhei lá pra baixo na abertura por aonde viria futuramente o elevador da empresa, e não parecia ter fim.

- Você sabe o que está fazendo não é? – arrisquei perguntar, sem necessariamente ser para ele, mais em impulso mesmo.

- Na verdade, é a primeira vez – disse tão sério que de primeiro acreditei – olha seu nariz mexeu de novo, isso é hilário. Claro que sei o que estou fazendo aqui criança, agora vem até o disjuntor comigo que tenho de te mostrar uma coisinha...

“Criança”, eu sou a criança? O segui até uma das paredes, mais recuadas, onde três caixas com painéis de botões pretos se distinguiam por cores. Atila foi me dizendo o que cada um fazia, e no fim minha atenção, foi só um pouquinho, desviada para o volume entre as pernas dele. É talvez ele tenha razão, sou mesmo... Mais que pacote, eu pensei sorrindo.

- Entendi sim – disse no final – acionar o verde quando você pedir.

- Quando eu mandar, - sorriu – e vê se não erra hein, ou eu frito lá dentro e o culpado será você, primeiro liga o verde do primeiro painel, espera piscar duas vezes, depois aciona o verde também do último painel... Presta atenção isso é importante, sem brincadeira. A distância do elevador para os painéis é grande, então não vou ter como repetir de lá de baixo.

Eu assenti repetindo para mim mesmo primeiro o verde do primeiro painel depois... Resfoleguei, era simples não tinha erro. Ele puxou o cabo, ligou a lanterna do capacete, vestiu os óculos, e sorriu dando tchau com a mão enluvada. Liguei lanterna maior, e prendi o cabo do meu cinto em um dos ganchos de segurança. A iluminação era rarefeita, e não dava para saber se eu ou qualquer pessoa conseguiria ouvir o Atila dali debaixo, a lanterna ajudava porque era de longo alcance, mas ficar segurando-a era um saco. Ele ergueu a cabeça e a luz do capacete dele, me atordoou as vistas por um tempo, Atila fez um sinal com a mão e eu entendi, para mandar uma ferramenta.

Isso durou tempo suficiente para deixar meu braço dormente, e quando finalmente a voz dele chegou, eu só de sacanagem pedi:

- Fala mais alto daqui não dá para escutar direito – apaguei a lanterna e o escutei repetir o pedido – tá ligar o vermelho não é?

O túnel ficou silêncio por longos três minutos. Levantei e fui até o painel, primeiro o verde, esperar piscar... Sorrindo voltei para a minha posição, ainda estava silencioso lá embaixo, até eu ouvir um suspiro pesado seguido de algumas faíscas. Atônito, gritei se estava tudo bem, sem respostas e mais faíscas.

Dei um salto para o telefone de segurança no elevador da obra, minhas mãos soavam mais, e não sabia se deveria descer para tentar ajudar ou se ligava para o chefe lá em baixo.

- Ei desesperado – a voz dele fez meu coração bater ainda mais acelerado corri para perto, e quando o vi rindo minha vontade foi de empurra-lo lá embaixo – você começou primeiro.

- E eu sou a criança? – disse em voz alta. – Filho da mãe quase me mata de susto cara, eu pensei, que, mas...

Atila estava na minha frente inteirinho, só o rosto em bicas e o macacão também todo suado. Ele flexionou os braços e as pernas, tudo isso sorrindo da minha cara, se explicou:

- O que você viu foram só algumas faíscas provocadas por mim, nada demais – meneou a cabeça ao passar por mim – novatos, ai, ai...

Não voltei a olhar pra ele, me mordendo de raiva, mas eu o via me observando às vezes e tentando fazer gracinhas. Tá bom, eu errei também em ter feito aquela brincadeira besta, disse para mim mesmo enquanto pegava a quentinha. Sentei distante dele e dos outros, alguns caras estavam tomando até banho em um dos banheiros do piso superior. E sim, eu engasguei feio ao vê-lo sair do banheiro no quarto andar só com a parte de baixo do zuarte.

As gotas de agua pingavam do peito nu dele, e não tinha nada de escultural, mesmo assim os pequenos pelinhos cobrindo parte superior do peitoral, descendo pela barriga dele em volta do umbigo. Fez meu rosto corar, enquanto tentava tirar o pigarro da garganta enquanto tossia.

Na obra, naquela e na outra, onde eu tinha trabalhado logo na primeira semana, era comum ver os caras sem camisa. Mais comum ainda ver alguns com braços troncudos, e sarados de tanto pegar no pesado. E óbvio, aquela testosterona toda ali me atraia, mas ver Atila era diferente, e ele nem malhadinho é, apesar de ombros e peitoral largos.

- Eu estou bem, estou bem foi só um engasgo – disse advertindo alguns colegas que trabalhavam no mesmo andar.

- Não desceu legal – disse Atila, besta como sempre – mas trabalhando passa, vamos começar... Essa tarde vai ser longa. Pega para mim...

Enquanto ele me falava dos materiais necessários para o trabalho, eu ficava remoendo como a nós, seres humanos mesmo sem querer e principalmente sem querer nos traímos. Como achar em um homem só tantos defeitos: idiota, crianção, mal educado e arrogante. E ao mesmo tempo acha-lo sexy? Ele me dispensou com um gesto de mão, para eu ir buscar os materiais.

Tive que fazer duas viagens, ouvi outros peões irritados com Atila, pelo jeito como falava. Soberano. Sendo só mais um, igual a todos. Eu mesmo o vi dando ordem para um grupo de sujeitos, perto da sala onde ele me mandou deixar as coisas. Peguei só parte da conversa/ bronca:

-... fazem tudo errado e não querem ser reclamados, sorte a de vocês...

Ele tinha mesmo a mania de não se importar com o porcelanato e para todo o lado onde eu olhava tinha uma coisa jogada no chão. Fiz questão de organizar tudo, debaixo dos próprios sacos pastichos de material e flanelas. Espalhadas pelo canteiro para isso mesmo, evitar danificar.

Atila, passou mais uma vez as orientações de como eu deveria agir. Mesmo eu já sabendo mais ou menos o que devia fazer acoplar as caixinhas nos respectivos buracos e parafusar. Aquele tipo de instalação não requeria tanto. E no momento de colocar as lâmpadas outro cara, ou ele mesmo se desse faria isso, explicou Atila com pressa.

Chato, absurdamente chato, ficou me acompanhando de perto, para ter certeza de que eu sabia fazer, e depois sumiu durante toda à tarde. Fones de ouvidos mais música, e o trabalho rendeu. E meus braços não doíam após tudo feito, seu Zé tinha mesmo razão no fim das contas.

- Oi, Inácio é você? – a voz me era estranha.

- Oi, sou eu mesmo – me ergui de uma das tomadas no canto.

Um homem dos grandes, parrudo, fortíssimo, mas sem ser malhado. Foi o que deu para reparar, até o irritadinho irromper pela porta. Seu rosto estava vermelho, e a tarde estava chegando ao fim.

- Pode descer. Eu termino aqui – disse Atila.

- Mas é que... – continuou o cara olhando para mim.

Atila nem respondeu me mandou pegar as lâmpadas e começamos a coloca-las por ali. Uma coisa nova, ele mesmo me ensinou como colocar as fiações da lâmpada. Daquele jeito brucutu, infelizmente.

- Pega o bocal, ativa aqui, tá vendo, depois aciona essa parte, se não fizer isso na hora em que for ligar a energia, vai explodir a coisa toda. Nunca pegue sem a luva, pode danificar. Os fios são simples, mas vou detalhar pra não correr o risco, medroso do jeito que você é.

Mas eu me senti orgulhoso ao final do dia, pois consegui não revidar as truculências dele. E aquele trabalho para mim, aquele que ele tinha acabado de me ensinar era facílimo. Não tinha mistério. Ao sair do canteiro de obras, já com minhas roupas normais. O mesmo sujeito de antes me abordou, ele apesar de grande tinha uma voz calma, compassada até.

Enquanto ele vinha na minha direção para falar alguma coisa eu presumi. Ouvi claramente do outro lado da porta a voz de Atila, dizendo:

- ... o garoto é bom, pode até ser meu assistente... – quando a porta se abriu, saiu ele e seu Zé.

Os dois me cumprimentaram, e eu me virei para falar com o rapaz desconhecido. Aquele elogio, feito por Atila me intrigou, porque poderia ser eu, mas claro não deveria ser depois da brincadeira no sexto andar, e também porque ele não ia com minha cara. Problema!

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Comentários

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Cara, só li hoje, mas gostei muito. Você está construindo uma bela história, daquelas que a gente fica ansioso pela continuação, com palpites sobre o que vai acontecer com os personagens. Bem bom. Agora vou lá, ler o capítulo de hoje.

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