TATUAGEM NO CORAÇÃO - PARTE 02 – O PONTA PÉ

Um conto erótico de Paulo Caell
Categoria: Homossexual
Contém 973 palavras
Data: 18/02/2019 23:16:35

A Bia era uma amiga louca, mas eu podia compartilhar meu dramas com ela. E ela sempre vinha com um drama bem maior, me mostrando que meus problemas eram fichinha. Rsrsrs. De fato, ela tinha enormes problemas com a família. Até então, eu nunca tinha falado para alguém sobre minha sexualidade. Apesar de já ter namorado com meninas, eu nunca tive a intensão de bancar “o hetero”, mas as pessoas achavam que eu era pegador e namorava escondido para não desmanchar os esquemas. Eu juro que sempre neguei isso. A Bia era a principal defensora da teoria de Pegador... E mesmo assim, no final do segundo semestre, em meio a tantas idas e vindas, a gente começou a ficar. Trocar beijos, carinho e cuidados um com o outro. Mas com o final do ano, com a chegada das férias, ficamos distantes e com pouco contato por quase dois meses. Depois das férias, no ano seguinte, éramos apenas os bons amigos de antes. Foi aí então que eu resolvi conversar com ela sobre a minha sexualidade...

- Bia, vamos almoçar juntos, preciso te falar algo muito importante?

- Nossa, o que deveria ser? Você mal chegou de viagem do carnaval e já veio me procurar – falando em tom de ironia em meio a gargalhadas –.

- Aproveita que eu quero te contar, não é todo mundo que têm esse privilégio – eu estava no mesmo tom que a Bia –!

- Então toma banho que já te pego, preciso ir ao shopping comprar umas coisas. Almoçamos lá.

- Ok!

Chegando ao shopping, ela me contava como estava complicado a convivência com a mãe e o padrasto. Que não sabia mais o que fazer e que pensava em voltar para o sul, onde nasceu, para morar com a Vó.

- E então, Pá, conta o que você está sentindo.

- Bia, só quero que nada mude entre nós, e que você é hoje alguém muito especial para mim.

- Estou tensa, com o que pode ser, adiante logo guri.

- Rsrs, calma não é fácil.

- Já estamos aqui, pode prosseguir...

- Bom, então lá vai... Eu sou Bi, Gay, sei lá... só sei que curto homens.

- Uffa, pensei que ia falar que estava apaixonado por mim, depois dos beijinhos trocados. HAHAHA. Olha, não vai roubar meus boy. Rsrsr

- Nossa Bia, não é assim também, rsrsrs, ainda estou me acostumando com a possibilidade de viver a minha realidade.

- Você sabe que pode contar comigo sempre.

- Sei!

A mãe da Bia é médica e atende em uma clínica com muitas especialidades. Entre elas, psicólogo. Então, a Bia me levou para ser atendido lá. As sessões estavam indo bem, até que a Bia, resolveu sumir do mapa. Sua mãe me ligava várias vezes e acabou que eu a encontrei pela cidade. Na verdade, ela estava me seguindo com o intuito de encontrar a filha. Somente depois eu soube que a Bia saiu de casa com seus pertences depois de discutirem. Dois dias depois a Bia me liga, falando que estava fugindo da cidade, e iria voltar para o sul, como havia cogitado. Me pediu carona, e eu fui busca-la no apartamento de uma amiga, levei-a até a rodoviária, onde pegaria o ônibus para a capital, e embarcaria na madrugada em um avião, com destino a uma nova vida, segundo ela.

Essa partida foi tão inesperada, e me deixou sem chão. Lembro que chorei dias e dias. Ela era a força que eu precisava para compreender quem eu era. Não voltei para as sessões, para não encontrar com a mãe dela. (Até hoje, ainda não a encontrei pela cidade). Rsrsrs.

O tempo foi passando, nosso contato foi ficando cada vez mais difícil. Até que certo dia, a Bia me liga.

- Pá, tudo bom? Saudades de você meu amigo.

- Bia, minha querida, Estou bem. Triste por não termos mais contato. Por onde tem andando que não fala mais comigo?

- Tenho feito muita coisa. Mas quero te falar uma boa notícia.

- Pode falar, já estou curioso. Rsrsrs.

- Sou Evangélica, minha vó me levou para uma igreja pentecostal. Estou passando por uma série de mudança em minha vida. E queria te dizer algo, importante para você!

- Fico feliz por estar bem. Nunca imaginei te ouvir falar isso. Rsrs. Mas diz, minha amiga, o que tem de bom para mim?

- Falei sobre você ao meu pastor. Ele me disse que você está acompanhado de espíritos do mal. E que ele pode fazer uma limpeza espiritual e então você voltará a ser homem.

- Eu não acredito no que estou ouvindo, Bia! Rsrsrs. Não tenho doença, e hoje sei quem eu sou de verdade, e sei o que eu quero. Não me venha com essas estórias de fundamentalismos pentecostal, que o espirito mal deve estar em seu Pastor que te ilude.

- Meu amigo, venha para o sul, aqui você vai ser mais feliz. Eu te ajudo a vir.

(Acabamos discutindo feio)

- Bia, não tenho tempo para isso, me esquece, tá!

Desliguei o telefone, e bloqueei todos os contatos dela. Em tudo.

Essa era a primeira vez que eu sofria um tipo de preconceito, e me sentia verdadeiramente atingido. Era algo que vinha de uma grande amiga que eu tanto amava. Amiga que partilhei minha vida.

_________

Oi, meus queridos! Prometo que a nossa história vai começar de verdade no próximo capitulo. O relatado nesse capítulo, é de tanta importância na minha vida, foi quando eu dei um basta no meu medo e resolvi viver, me permitir, e pela primeira vez cogitei algo com outro homem sem me martirizar ou ter medo do julgamento alheio. Eu já tinha feito sexo com homens, mas nada tão relevante, era mais escape do instinto sexual, quando apertava aquela vontade. E geralmente dava arrependimento. Além do mais, eu sempre fui muito inseguro. Por ser gordo, e não estar nos “padrões” eu achava que nunca ninguém iria me querer.

Até Já!

paulocaell@gmail.com

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Comentários

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gostando do conto. um relato verdadeiro. continua por favor. abração.

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