As Divagações Sobre o Primeiro Beijo

Um conto erótico de Rhadamazan de Oliveira
Categoria: Heterossexual
Contém 1361 palavras
Data: 19/10/2018 15:46:26

Obstante os transtornos habituais de locomover do bairro ao centro, atrasos de ônibus, ou ora lotados, ora o trânsito, ainda era teu meio mais agradável de deslocação na cidade. Como normalmente dizia e mantinha como filosofia de vida, “Já tivera pressa em chegar, porém agora apenas desejava chegar!” Assim a tão exasperadamente pedra no caminho dos coletivos urbanos tornava-se um passeio. Em seu jeito pacato, distraído, os que observassem pelas ruas não iriam percebê-lo, em suas vestes simples, calça social cinza escura, camisa em um tom cinzento mais claro e sapato preto, ao qual, aos seus olhos, combinava perfeitamente com o cinto. Uma mochila de tecido, tamanho médio completava seu perfil. O tempo passou rapidamente nos últimos quinze anos. Até os meados de 2002, o dia aparentava ter mais que as vinte e quatro horas. Hoje, não se percebe e já estamos na noite no aconchego do travesseiro, dormindo. Nada contra seus já sessenta anos de vida, tão próximo do fim, pois, é inevitável compreender que um dia tudo terá seu término. Quando passou a aceitar isso, entendeu que a pressa não leva a nada, mas importava chegar.

Sentado ao fundo do coletivo, lado da janela, numa lembrança de tempos passados, olhava as ruas, calçadas, lojas, pessoas, o movimento, quase fascinado. Aos seus oito, nove anos uma viagem de trem suburbano em São Paulo, em bancos de madeira, lotados, aquele característico barulho sempre fora uma odisseia maravilhosa. Quando dentro do ônibus, olhando o mundo lá fora, outra odisseia. Os bons momentos nunca são esquecidos, porém, mantidos como alento, a esperança, o ar renovado da fé no dia seguinte. Alguns o chamavam de velho, uma forma carinhosa de chama-lo, contudo, em seu Universo, a certeza de um Universo excelente. Constantemente o encontrariam com um risco de sorriso nos lábios, um trejeito na face de alegria, uma aura de satisfação pelos momentos que em seu Pensamento tudo isso materializava.

Absorto nos pensamentos e nas visões de pessoas nas calçadas, não reparou em duas jovens senhoras sentando-se no banco a frente do dele.

-“Pois é, Comadre, não acreditei no que a Ivone contou ontem pra mim!”

-“Mas é absurdo isso... Também, com tudo isso de celular nas mãos das crianças, só pode dar nisso. Esse mundo está perdido.”

-“É verdade. São jovens demais o casal de filhos da Dona Maria. Pra mim são duas crianças ainda beijando na boca desse jeito, escondidinhos atrás da casa.”

-“Verdade. Irmão e irmã fazendo “coisas”. Que mundo perdido”.

Aproximando de teu ponto de desembarque, em pé, próximo à porta do coletivo, colocou-se de maneira a observar nas duas mulheres. Em torno de seus quarenta anos, seios fartos, obesas com certa sensualidade, ambas trajando vestidos estampados em tons escuros. Quando pôde ter o olhar de uma e da outra, sentiu um sorriso maroto e no seu íntimo o quanto essas duas deveriam ser carentes de sexo dentro do casamento, de suas vidas. Conjecturou serem bem safadas dentro das quatro paredes do quarto. “Lenha verde chora, mas pega fogo”, pensou consigo descendo do ônibus.

Sentado tendo um painel de chamada a sua frente, calculando pela senha em mãos a última chamada, ainda dez pessoas para serem atendidas, esticou-se acomodando na cadeira e fechou os olhos. Com um suspiro pensou nas duas mulheres falando do absurdo do beijo entre um casal de irmãos. “-Ah, duas distintas senhoras, o que não julgariam de mim contando o que passou em minha vida...” Pensou, divagando em seu passado, naquele longíguo inicio de tarde de outono brasileiro, muita nebulosidade, um clima fechado e temperatura oscilando entre morna e quente. Ainda tão jovem, um adolescente, como tal como uma enorme indisposição para perder algumas horas trabalhando invés de poder desfrutar dos que mais aprazerasse nas horas por vir. Entretanto, por uma tácita ordem da mãe vira-se obrigado a ajudar o pai, não que isso o desgostasse, mas ele tinha ido ao médico e essa seria uma tarde sua.

-“Vai, Filho, recolhe aqueles blocos para adiantar o trabalho amanhã de teu Pai!”

Contrariado foi executar a ordem. Olhando o milheiro de blocos, a escada escavada no chão batido, a casa em construção no alto, a tarefa de carregar dois blocos por vez, contribuía para que sua coragem esvanecesse entre os dedos. Colocara dois no chão baixando do alto da pilha quando sua irmã dois anos mais nova chegou com sua postura pacata, suave, passiva, em seu tradicional vestido rosa, blusinha marrom e sandália de couro marrom.

-“A Mãe falou que é para você guardar só os blocos que vai ser usado no muro do fundo. Depois você pode ir brincar.”

Ah, um alívio por saber que apenas trinta, quarenta minutos daquele trabalho. Já pensou no campo de futebol, seu maior passatempo.

-“Está bem.” Retrucou olhando a irmã, com o olhar cabisbaixo em postura de timidez.

A jovem serenamente encostou-se aos blocos, braços caídos ao lado do corpo, olhar fixo no chão. Não fora de si que nasceram os atrevimentos ao corpo da irmã, porém dela mesma quase que oferecendo ao irmão após uma manhã que durante os folguedos de manos, acabou-se agarrando à sua irmã, por trás, sentindo o corpo dela ao seu. Assim, agarrado, erguendo-a do chão, aproveitando-se de estarem a sós no quintal, levou-a para trás da casa e findou sua aventura incestuosa levantando-lhe o vestido, olhando impunemente a bunda, a calcinha, as coxas. Encoxou-a fortemente esfregando como seus coleguinhas de escola, de futebol de rua, tanto diziam e algumas vezes faziam nele. Sim, as sensações foram excelentes, loucas, sem uma definição. Encostar o corpo, o membro por cima do calção à bunda da sua irmã, por cima da calcinha, causou sentimentos maravilhosos. Um incidente ocasional fez desencadear inúmeras aventuras nas descobertas juvenis do prazer da carne, do sexo, dos sentimentos confusos, dos hormônios, da vida.

O alarme sonoro do painel avisando a chamada para atendimento fez retornar à realidade. Olhou em volta como que buscasse identificar pessoas que poderiam ter ouvido seus pensamentos. Sorriu. “- Que tolice alguém ouvir meus pensamentos!” Restavam quatro para serem atendidos. Voltou-se para si, em suas confabulações memoriais. Em seu pensamento a irmã à frente, passiva, aguardando por algo. Qual como tantas vezes aproximou-se tímido e inseguro encostando o corpo ao corpo dela. As mãos em sua cintura alisando por cima do tecido a barriga, os flancos, descendo para as coxas e entrando por baixo do vestido. A maciez, o calor da pele, o prazer do pecado, da carne falando mais alto. As gostosas excitações juvenis, o volume no calção. Ergueu o vestido levando o volume em si à região pubiana da irmã, empurrando o peso do corpo ao dela. Seus rostos ficaram lado a lado, sua respiração ofegante à dela, calma e serena. Um curto lapso temporal os olhares cruzando num tom apaixonado, mirando-se causando momentaneamente uma parada no tempo e espaço.

-“Beija eu...” A irmã pronunciou as palavras em tom baixo, voz rouca, gostosa.

As bocas colaram uma à outra apertando os lábios, sentindo o gosto da carne, da mesma carne. O primeiro beijo entre eles, o primeiro beijo de sua existência. A primeira vez que ousava tocar sua boca a outra boca. Esse Beijo incestuoso com sua irmã. Tornou-se surreal sua volta e os acontecimentos. O beijo selava um sentimento, não apenas as brincadeiras dos corpos, das excitações, dos gostosos momentos da busca pelo prazer do sexo. O beijo tornava a relação mais do que irmão e irmã, mas de um casal de jovem com amor no coração.

Ficou atônito observando sua irmã saindo pela calçada, em passos rápidos. Passou os dedos na boca qual procurando por um sinal do que tinha ocorrido. Tudo normal. Apertando os lábios um gosto peculiar marcava aquele beijo e não desaparecia mais em sua vida, por mais longa que pudesse ser.

Uma senhora ao lado tocou em seu braço despertando do breve devaneio.

-“É sua vez, Senhor.”

Caminhando ao guichê do banco pensou no primeiro beijo e no peculiar gosto. “- Vou comprar toucinho para cozinhar com o feijão... Lembrar-me-ei do gosto do meu primeiro beijo!” Com o rosto esfuziante por essa recordação agradável, vagou um pouco pelo almoço daquele dia, quando a mãe colocou feijão com couro de toucinho.

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Comentários

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Rhadamazan, excelentes memórias e relatadas com maestria. Nota 1000

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Um texto excelente, RhadamazanDenso, pesado de sentimentos. As melhores estórias não são as que se passam diante dos olhos, mas as que se passam nas profundezas dos pensamentos.Já carreguei muito bloco escada acima e também muita terra escada abaixo, ou, tarefas mais leves, passei tardes esperando encapar botões que minha mãe costureira aguardava, eu sem tirar da cabeça o campinho de terra batida. Pra ter conhecimento desses sentimentos você provavelmente cresceu na periferia também, como eu, pois essa angustia do trabalho pesado retardando a brincadeira não costuma ser retratada em livros. A identificação com o personagem é inevitável.Parabéns por mais esse texto

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Ha ha, esta pra mim é nova: ¨Lenha verde chora, mas, pega fogo¨. Estou sentindo que o amigo está narrando reminiscências do passado, provocado por fatos recentes. Como a conversa dessas duas senhoras, comentando o beijo incestuoso dos filhos da dona Maria. Então pergunto eu: como estava o sabor do feijão e toucinho com pele? Rs. Seu conto, tal qual a conversa das duas fofoqueiras, trouxe neste momento lembranças de infância com duas primas safadinhas. De esfregar o pintinho na xoxota delas, que causava sensações incríveis. Sem haver penetração porque nem tinha ainda capacidade para tanto. Elas com certeza se lembram disso, já que são mais velhas do que eu. Ah, se existisse uma máquina do tempo, que permitisse voltar lá e fazer a coisa que deveria ter feito... Sugiro que o amigo leia meu conto ¨Não comi a mulher do amigo¨. Numa dessas, você tem algum outro ditado que não conheço. Adorei a leitura. Abração!

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A situação narrada me dá a sensação de ¨deja vu¨. Acho que foi numa viagem de ônibus, ouvindo a conversa de duas comadres. Trouxe lembranças adormecidas em algum lugar da memória. Poderia ter sido em alguma fila, aguardando a chamada da senha. No caso o sabor inesquecível do primeiro beijo. Com certeza diferente dos selinhos carinhosos. Dito ósculos. Mas sim, um beijo verdadeiro. Lascivo, molhado, quente, daqueles que se toca em cima e o resultado aparece em baixo, na forma de ereção imediata. Que transforma aquele dia comum em especial, marcante. A mente excitada se recusa a deixá-lo numa parte secundária da memória. Associa a qualquer coisa corriqueira daquele dia. Um som, um aroma, um sabor. No caso, o feijão com couro de toucinho. A ao repetir a coisa corriqueira, buscamos reviver aquelas emoções. Talvez muitos não entendam agora estas colocações. Todavia, com o passar dos anos, irá com certeza passar por isso e então entender. Gostei da abordagem sutil de como uma experiência, boa ou má é eternizada. Parabéns!

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Realmente situações rotineiras como ouvir conversa alheia, nos traz recordações de situações vividas. Especialmente quanto são fatos condenados pela sociedade e às vezes, nos traz vergonha só de lembrar. Coisas proibidas que fizemos no passado. E quem não as fez? Mas que talvez por ser proibido é que foi tão gostoso. Tem uma música que me leva de volta aos tempos de adolescente. Que eu escutava tocando na vitrola enquanto eu no banho, descascava as punhetas pensando nas várias musas da minha vida de então. Hoje já não se toca aquelas músicas. Porém, foi tão marcante associado à boa sensação que ainda a ¨escuto¨ trazidas pela mente. Parabéns por captar um desses tais momentos mágicos que todos tem no passado. Abs.

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