Os Verões Roubados de Nós/ CAPÍTULO 32

Um conto erótico de D. Marks
Categoria: Homossexual
Contém 4641 palavras
Data: 18/10/2018 22:44:13

Os Verões Roubados de Nós

Capítulo 32

Narrado por Francisco

Desde que recebi o telefonema do IML estou apreensivo e nervoso ao extremo. Mesmo com anos de prática em disfarçar emoções isto está mexendo comigo de todas as formas, não só por ser meu filho amado, mas porque há toda minha família envolvida. Ainda por cima tenho que avisar Vera e não sinto a mínima vontade de fazer isso. Quero que ela se exploda bem longe de nós, mas o remorso vem e penso em Gabe e em como ele se sentiria. Lágrimas voltam aos meus olhos.

Estou num quarto na casa de minha irmã e acabei de tomar um banho para enfrentar esse dia terrível. Olho as horas e são 9:45 da manhã. Alguns parentes e amigos estão na casa desde muito cedo. Ouço uma batida na porta.

— Entre. – digo.

A porta se abre e dá passagem a Alice.

— Não dormiu nada, não é? – ela pergunta calma.

— Não consigo. – olho para ela – Tem notícias do Enzo?

— Tati me ligou a pouco e disse que ele está no apartamento. – percebo um tremor em sua voz.

Alice se aproxima e senta-se ao meu lado na cama. Ficamos olhando para o nada e de repente ela fala:

— Acha que fizemos certo ao permitir o envolvimento deles?

Olho para ela surpreso.

— Por que acha isso? – pergunto já sabendo a resposta.

Minha irmã me olha com lágrimas.

— Meu Eno está sofrendo, Chico. – sua voz está embargada – e pela primeira vez eu pensei se poderia ter sido diferente se não tivesse permitido o envolvimento dos dois. Estou sendo egoísta, eu sei, mas é meu filho e está fugindo da realidade. Ele nunca conheceu um outro amor que não fosse o do Gabe e agora não sei como será daqui em diante... - e o choro vem.

Abraço-a e também penso se poderia ter sido diferente se tivéssemos interferido e por incrível que pareça acabo sorrindo.

— Diga que não fizemos errado, por favor... – ela fala.

Solto-a dos meus braços e me ajoelho a sua frente.

— Mana, não fizemos... – sorrio chorando – Até porque não conseguiríamos impedir, pois eles esperaram até Eno atingir maioridade. Foram espertos e admiro isso neles.

— Mas eu sempre soube, Chico! – ela me olha – Eu sempre soube que era mais que amizade e amor de primos... E eles ainda eram crianças.

— E por que nunca disse nada? – pergunto.

— Achei que passaria, principalmente por parte do Gabe. – ela diz – Enzo sentiu raiva dele quando viajou e nem respondia seus postais, mas guardou todos. Acho que meu filhote sempre o amou, mas só foi descobrir mesmo na adolescência, após o retorno de Gabe. Ele nunca se deu conta do amor que o primo nutria até num almoço que tivemos aqui. Depois desse dia percebi que Eno descobriu o outro lado que Gabe tanto tentou disfarçar e esconder de todos.

Apenas olho para ela. Minha irmã sempre foi muito observadora e calma mesmo quando a estávamos numa guerra.

— Não poderíamos ter evitado. – digo – Tati me disse uma vez que eles são almas gêmeas... Fiquei surpreso ao ouvir isso, mas vendo-os no dia a dia, no modo como se tratavam, falam e cuidam um do outro acabei acreditando.

— Estou com medo, Chico... – ela torce as mãos – Em como vai ser daqui para a frente, nossas vidas, do Enzo...

— Vai ficar tudo bem, mana! – afirmo para ela, mas nem eu tenho certeza – Será um dia após o outro e seguiremos juntos como sempre fizemos.

Abraço-a novamente.

— Hey... Quem é você e o que fez com meu irmão? – ela sorri entre lágrimas me provocando.

— O velho Chico foi abduzido para sempre e um novo surgiu...

— Quando você vai contar para Vera? – ela pergunta.

— Pode ser nunca? – exalo ar ruidosamente – Não quero essa víbora perto de nós! Nunca mais!

— Chico... – ela segura meu rosto – Ela é mãe dele e isso você não pode evitar... Ela precisa saber! Faça isso, por favor, antes que os parentes comecem a comentar a ausência dela.

Reviro os olhos e acabo concordando.

— Ok. Farei isso.

— Mas o fato de você avisa-la não significa que eu a quero em minha casa, entendeu? – ela me olha séria – Não quero esse monstro perto dos meus filhos e de Tati.

— Pode deixar, mana... Farei com que isso fique bem clara para ela!

Alice se levanta.

— Vamos? – ela me chama.

Pego minha blusa e a sigo.

— Alguns parentes e amigos estão aqui para te ver. – ela anuncia enquanto descemos as escadas – E preparei um café reforçado para todos e VOCÊ irá tomar, entendeu?

— Pode deixar, d. Alice! – abraço-a pelos ombros.

Descemos e vejo alguns amigos e funcionários da minha empresa. Clóvis e Stela estão num canto conversando com Pietro e uns primos e tios conversando com meus sobrinhos. Todos vem até mim desejando pêsames e oferecendo ajuda para qualquer eventualidade. Uma tia-avó em particular vem falar comigo. Na verdade ela é tia de Vera e como ela ficou sabendo é uma incógnita.

— Bom dia, Francisco. – d. Amélia me cumprimenta – Meus pêsames, meu querido. E o que vocês precisarem é só pedir.

— Obrigado, tia Amélia. Se precisar eu pedirei.

—Você já avisou Olga? – ela pergunta e nego – É necessário, meu querido. Mesmo morando fora, Olga é da família.

Acho estranho ela pedir isso, pois Olga nunca entrou entrar em contato conosco e resolvo ser curioso.

— Tia, podemos conversar após tudo isso passar?

— Claro que sim... – ela sorri triste – Há coisas que são necessárias serem ditas o tempo de dize-las pode ter chegado. – ela toca meu rosto – Procure-me assim que puder. Temos muito o que falar.

— Envolve a Olga? – pergunto mesmo sabendo a resposta.

— Sim.

Aceno com a cabeça e conversamos mais um pouco e outras pessoas se aproximam. Após um tempo vejo minha filha, seu namorado e Enzo entrarem. Algumas pessoas vão até eles cumprimenta-los e vejo meu sobrinho agradecer muito sério, sem choro, sem lágrimas, apenas com sorriso triste. Vejo também minha irmã, cunhado e sobrinhos abraça-lo formando um casulo e me emociono. Eles são a família mais unida que eu já vi. Olho para Tati e ela está se segurando para não chorar. Ele sobe com os irmãos e alguém me toca no ombro. É Stela.

— Acho que seu celular está tocando. – ela me avisa gentil.

— Ah... Obrigado. – atendo – Pronto.

A medida em que vou ouvindo tenho certeza que meu rosto muda de cor, pois Stela se aproxima mais e me olha com curiosidade. Finalizo a ligação e a olho.

— É do IML... – e nisso ela toca meu braço – Precisam que eu volte para lá.

Pietro se aproxima.

— O que houve? – ele pergunta.

— IML. – falo e ele entende.

— Quer que eu vá com você? – se ofereci.

— Não... Vou pedir a Diego. – respondo – Fique aqui e cuide da nossa família e amigos. Acho que será rápido.

Nossos olhares dizem tudo. Procuro por Diego e o vejo entrando e vou falar com ele.

— Diego, ligaram do IML e querem minha presença lá. – aviso para ele – Você pode ir comigo, por favor? Pietro vai ficar para ajudar aqui.

— Claro.

— Está tudo bem? – pergunto curioso, pois ele parece furioso.

— Sim! – ele responde rápido – Quando o senhor quiser podemos ir. Vou avisar a Tati.

E em poucos minutos saímos. Quando estamos na rua vejo um caro estacionar e dele desce Ítalo e outros funcionários de Gabe. Meu coração aperta. Diego entra em seu carro enquanto eu os espero se aproximar.

— Sr. Francisco. – Ítalo vem a frente do grupo e chora – Meus pêsames. Que tragédia! Não consigo acreditar.

E ele assim como os outros choram e me abraçam. Fico comovido pelo carinho e a atenção deles para comigo.

— Enzo está na casa, senhor? – uma funcionária de nome Leila pergunta.

— Sim. E, por favor, entrem e fiquem a vontade. – os funcionários entram e Ítalo permaneci.

— Senhor, agora que essa tragédia se abateu sobre nós quero que saiba que estou a disposição para o que precisar a respeito do restaurante.

Com toda essa confusão nem pensei nisso.

— Falaremos depois, Ítalo. – bato em sem ombro – Mas obrigado pela sua dedicação e apoio. Gabe o elogiava muito e conversaremos quando essa tempestade se acalmar, tudo bem?

Ele assenti e pede licença para entrar. E eu sigo para o carro de Diego que parte para o IML. Ao chegarmos um senhor acompanhado de um rapaz nos aborda na entrada.

— Boa tarde, Sr. Francisco. – ele me cumprimenta diretamente – Meu nome é Antônio e este é Almeida e trabalhamos com Diego.

Olho para Diego esperando uma confirmação, mas devolvo o cumprimento.

— Vou esperar o senhor entrar e conversar com o médico legista. – Antônio diz – Diego, acompanhe-o.

Seguimos e enquanto o atendente sai para chamar o médico legista pergunto.

— Por que seu amigo estará nos esperando?

— Senhor, vamos esperar o legista e depois explicaremos tudo, ok? – ele responde sério.

— Tudo bem. – concordo e o legista chega.

A medida em que o médico vai falando vou ficando estarrecido com as informações. “Como assim não é meu filho?!” penso em choque, mas ao mesmo tempo aliviado.

— Meu Deus! – sorrio e choro ao mesmo tempo – Não é o Gabe...

Mas de repente paro abruptamente.

— Mas... se não é meu filho... Onde está o corpo dele?! – pergunto confuso.

Saímos e Antônio vem até nós.

— Podemos conversar, senhor? – ele é direto – Como o senhor deve saber que quem está lá dentro não é seu filho, nós temos uma suspeita e gostaríamos de conversar em privado com o senhor, tudo bem?

Apenas aceno e Antônio toma a frente.

— Então preste bem a atenção no que vou dizer, ok? – ele pergunta e espera Francisco confirmar – Volte lá e ajeite tudo para um enterro digno do seu filho e depois conversaremos.

— Mas como vou fazer isso?! – pergunto surpreso e exaltado – Os funcionários do IML sabem da verdade e com certeza a polícia também. O que você está me pedindo é crime!

Antônio o observa calmo e respira fundo antes de responder.

— Senhor, eu cuido do resto, apenas faça o que estou pedindo. – ele se aproxima de mim e diz em voz baixa – Eu conheço pessoas o suficiente para dizer que isto não é crime. Confie em mim.

Exalo o ar pesadamente e encaro Diego.

— Diego?

— Pode fazer, senhor. Eu confiaria a minha vida ao Antônio. – ele diz firme olhando-me diretamente.

— Tudo bem, eu farei isso, mas...

— Não precisa se preocupar com nada. – Antônio me cortar – O Vargas irá nos encontrar também.

— Tudo bem... – digo e aponto o dedo para Antônio – Mas é o seguinte... Se houver alguma possibilidade do meu filho estar vivo eu o quero de volta são e salvo, sem nenhum arranhão, entendeu?

— Não garanto que ele venha sem nenhum arranhão, mas garanto que o traremos de volta. – Antônio diz.

— Acho bom mesmo porque senão eu acabo com você! –estou nervoso com toda esta situação e pensando no que pode ter acontecido com meu filho. Tento ficar calmo para poder raciocinar com clareza.

Volto para dentro do IML e Diego logo vem atrás de mim. Praticamente ele resolve tudo enquanto eu ainda estou atordoado imaginando mil e uma coisas que possam ter acontecido com Gabe.

Após finalizarmos toda parte burocrática ligo para meu cunhado e aviso sobre o funeral. Não vamos enterrar e sim cremar o corpo. É costume em nossa família e por isso estou nervoso em enterrar uma pessoa que nem ao menos é meu parente e ainda por cima ter que mentir para todos, mas Diego me convenceu ao dizer que ele foi a vítima de um plano para ter Gabe nas mãos. Ao sairmos Diego avisa:

— Senhor... Antônio pediu que fossemos direto para nosso escritório, ok?

— Ok. – respondo.

Diego dá a partida e seguimos por um tempo em silêncio, mas não consigo conter minha curiosidade.

— Diego... – resolvo ser direto – Com o que vocês trabalham?

Ele suspira e para num semáforo.

— Somos detetives particulares. – ele responde sério – Antônio foi meu primeiro chefe e mentor. Hoje eu comando o escritório e aquele rapaz que estava com ele é meu funcionário.

Fico surpreso com a resposta.

— Meu Deus! Eu não sei o que dizer...

— ¬Senhor... – ele diz calmo – Assim que chegarmos ao escritório eu lhe contarei tudo, ok?

¬— Tudo o quê? – minha curiosidade aguça.

— Tudo. – ele responde e completa – E o porquê de querermos ajuda-los. Apenas confie em mim. Por favor.

— Ok, Diego... Mas não me esconda nada, tudo bem?

— Tudo bem.

E seguimos em silêncio até o escritório dele.

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Narrado por Alice

Dizem que a dor de um filho dói mil vezes mais na mãe e está certo, pois dói mesmo. Desde o momento em que Chico nos avisou sobre o acidente fatal meu coração se apertou de preocupação pelo meu menino e quando Roberto e mais um funcionário apareceram com ele completamente dopado fiquei um pouco mais tranquila. Apenas por algumas horas, mas fiquei. Ele acordou e agiu como se nada tivesse acontecido e voltou para o quarto apenas para fugir. E finalmente voltou no dia seguinte com Tati e o namorado dela. Assim que ele entrou pedi a Rico e Aline grudarem nele.

Enquanto alguns parentes e amigos estão em casa preparo uma lanche e levo para meus meninos. Bato e entro em seu quarto e a cena que vejo aquece meu coração, pois ele está entre Aline e Rico e conversam baixinho. Mesmo Enzo fugindo da realidade da situação estou aliviada por ele não ter tentado fugir novamente.

— Meus amores, eu trouxe um lanchinho. – digo tentando sorrir.

— Não estou com fome, mama, obrigado. – Enzo diz enquanto acaricia o cabelo da irmã.

— Mas eu sim! – Rico levanta rapidamente – Obrigado, mama!

E me dá um beijo.

— Eu também não quero nada ainda, mama. – Aline faz coro ao irmão.

— Como você está? – olho para Enzo.

— Como eu pareço estar? – ele sorri e sinto um calafrio – Eu estou bem, mama... Relaxa, ok?

— Aline e Rico – olho para os dois – Deixem-me a sós com seu irmão, por favor.

Eles assentem e saem rapidamente do quarto enquanto encaro Enzo que revira os olhos para mim. Assim que ouço a porta se fechar começo.

— Por que você fugiu? – pergunto séria.

— Porque eu queria estar lá caso ele voltasse! – ele responde com ar de deboche – É pra lá que ele vai, mama! Eu sei.

Corta meu coração vê-lo agir desta forma, mas preciso fazê-lo encara a realidade.

— Filho, por favor... – ele levanta a mão me calando.

— Mama... Ele vai voltar. – e fica em pé – Por que acha que estou todo arrumado assim? É para espera-lo. Gabe me disse que vai voltar para mim. – e sorri confiante – E meu coração sente isso.

Vejo meu filho apontar o próprio peito e me sinto mal. Suspirando, digo:

— Ele não vai voltar.

— Vai sim! – ele me encara.

— Não vai! – meus olhos lacrimejam – Ele morreu.

— PARA! – ele grita e tampa os ouvidos – PARA DE MENTIR!

— Ele está morto, filho! – eu seguro suas mãos e as tiro – Olha pra mim!

Seus olhos permanecem fechados.

— Enzo. OLHA. PARA. MIM. - ordeno pausadamente.

Ele abre os olhos e me encara com fúria.

— POR QUÊ? POR QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO ISSO COMIGO?! – ele grita – MENTI...

Num rompante minha mão voa até seu rosto. Eu bati em meu filho e no mesmo instante me sinto mal. Enzo esfrega o rosto e seu olhos lacrimejam.

— Mama... – ele fala com voz assustada e surpresa, mas eu continuo.

— Ele está morto, Enzo! – falo firme com as lágrimas correndo – Sinto muito, meu filho, mas o Gabe não vai voltar nunca mais...

— Mas...

— Mas nada! – eu o corto – Seu tio foi até o IML, identificou o corpo e o funeral está sendo preparado.

Juro que como mãe isso me doeu. Cada palavra, o tapa, mas eu precisava tirar meu filho desse mundo que ele criou. Vejo Enzo caminhar até a cama e deitar-se em posição fetal para chorar.

Meu coração aperta e vou até ele para aninha-lo em meus braços. Só então percebo Pietro parado na porta chorando também. Faço um sinal e ele se aproxima nos abraçando.

— Vai ficar tudo bem, filho! – ele diz – Nós estamos aqui.

Enzo só chora.

— Chico... – digo.

— Ele já mandou preparar o funeral.

Enzo aumenta o volume do choro e nós o apertamos mais um pouco.

— Quero vê-lo! – ele diz entre soluços.

— É melhor não, filho...

— Por quê? – Enzo olha e vejo meu marido ficar pálido.

— Filho... – ele não sabe como dizer.

— Meu amor... – tomo a palavra – O carro pegou fogo... E... o corpo ficou muito machucado.

— Ele morreu queimado? – ele respira com dificuldade e eu apenas aceno afirmativamente.

— Mama... Papa... – ele chora tanto que até baba – O que será de mim?

Abraço meu filho.

— Estamos aqui, meu amor. – digo embalando-o – Até você ficar bem novamente.

E permanecemos assim até que ele cochila. Nós o ajeitamos na cama e saímos do quarto.

— O IML ligou e pediu para o Chico ir até lá.

Dou um suspiro.

— Acha que erramos? – pergunto de repente e Pietro me olha confuso. – Acha que erramos ao permitir que chegasse a esse ponto? Olha o que esse namoro fez ao nosso filho, Pietro.

Ele me abraça.

— Não erramos, amada! – ele beija minha testa – Eles sempre se amaram e não poderíamos impedir. O que houve com Gabe foi uma fatalidade.

Ficamos abraçados por um tempo até que Aline vem ao nosso encontro.

— Mama, Tati está chamando.

— Estamos indo, filha. – eu me solto dos braços de meu marido – Eu te amo.

Pietro acaricia meu rosto.

— Eu também.

E vamos até Tati.

Narrado por Enzo

Acordo um tempo depois com meu coração apertado, corpo moído e uma dor de cabeça terrível. A realidade finalmente tomou forma diante de mim. Estou realmente acabado, com a alma dilacerada e em rumo. Eu tinha mascarado a realidade porque é mais fácil fingir, mas minha mãe não permitiu isso. Eu perdi a noção do tempo e fiquei deitado olhando para o teto chorando. Ouço uma batida e minha mãe entra.

— Filho... – ela chama – Está acordado?

— Sim. – respondo num sussurro.

— Há umas pessoas querendo te ver. Você quer?

“Ah não!” penso angustiado.

— Mãe... – respondo – Não quero ver ninguém, por favor.

— É o pessoal do restaurante.

Uma dor atravessa meu peito. O restaurante. O sonho dele. Agora acabado.

— Vou recebe-los. – digo triste.

— Tem certeza, filho? – minha mãe pergunta.

— Sim. – respondo e quando a vejo na porta – Mãe?

— Sim, meu amor?

— Tio Chico está aí? – pergunto.

— Ele foi finalizar tudo... No IML. – ela responde hesitante.

Minha garganta fecha.

— Ok. – apenas respondo – A senhora pode pedir para eles subirem, por favor?

— Claro, querido. – ela sai e deixa a porta entreaberta.

Eu me sento na cama e não demora muito Leila, Junior e Paulo passam por ela.

— Enzo! – Leila corre para mim e chora – Sinto muito.

E novamente eu choro. Junto com eles.

— Nós sentimos muito, Enzo. – Paulo fala sem jeito. Ele é grandalhão.

Eu me levanto e abraço cada um deles. Conversamos um pouco e agradeço a presença de cada um. Junior e Paulo saem do quarto e Leila fica mais um pouco.

— Quando você estiver melhor eu volto para conversarmos com calma. – ela diz e me abraçando sussurra – Eu quero te contar umas coisas.

— Oi, Enzo...

Leila e eu nos separamos e olhamos para a porta. É Ítalo. Leila se levanta e caminha para a porta.

— Fica forte, Eno! – ela diz – estou aqui para o que você precisar.

— Obrigado, Leiloca... – agradeço e ela sai.

— Enzo... – ele começa – Eu sinto muito.

E ele chora. Por um instante esqueço minha birra por ele e permito que ele me abrace. Sinto um arrepio percorrer meu corpo.

“Ai, meu Deus!” penso desesperado e me liberto educadamente.

— Conte comigo para o que der e vier. – ele diz secando os olhos – Eu sei que você sente ciúmes de mim, mas eu disse ao Gabriel que meu negócio é outro... Ai... Desculpa... Estou falando besteira...

— Tudo bem, Ítalo. – digo a ele – Vai ficar tudo bem.

Ele assenti.

— Enzo, como você era companheiro do Gabriel... – ele fala sem jeito – você pretende continuar com o restaurante?

Seu olhar é de desespero e fico com pena. Porém, não quero e não vou pensar nisso agora.

— Ítalo... – falo triste – Por enquanto não quero pensar sobre isso. Ainda mais neste momento.

— Sinto muito! – ele diz – Perdão pelo meu comportamento... É só ansiedade misturada com tristeza. Eu gostava do Gabriel não só como patrão, mas o tinha como um irmão.

E mais lágrimas rolam e eu apenas aceno concordando.

— Olha... – digo a ele – Se você não se importa eu gostaria de descansar. – e massageio minha têmpora – Estou com dor de cabeça... Desculpe.

— Tudo bem, Enzo. – ele aperta meu ombro – Se precisar de algo, o que quer que seja não hesite em pedir. Por favor.

— Pode deixar. – sorrio triste – Obrigado, Ítalo.

— Não por isso... – ele olha a hora – Eu vou levar os meninos embora. Tchau, Enzo!

— Tchau, Ítalo.

Eu o vejo e a sensação ruim passa. “Como pode uma pessoa que nunca me fez nada me dar tanto horror assim?” penso com uma certa repulsa.

Quero saber se meu tio chegou, quais as providências já foram tomadas e quais faltam. Meu coração está quebrado. Na verdade, eu estou quebrado, mas quero estar presente nesses momentos finais.

Vou tomar uma banho e aproveito para tomar um remédio para minha dor de cabeça. Quero ficar com minha família o máximo que puder. Não posso mudar o passado nem se quisesse, então tenho que aceitar o inevitável e um futuro incerto e sombrio.

Caminho até a janela do meu quarto e o tempo está escuro e chuvoso. Assim como meu espírito. Nunca mais verei as estações do ano como elas são. As primaveras serão tristes e os verões mais escuros ainda. Sinto-me roubado. Roubaram de mim os melhores dias da minha vida, os meus verões cheios de amor e promessas. Tínhamos tantos planos e eles se foram num piscar de olhos.

Uma garoa fina começa a cair e com ela um vento gelado. Como minha alma. Ontem perdi o amor da minha vida, o motivo da minha alegria, dos meus sorrisos.

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Narrado por Diego

Desde quando saímos do IML em direção ao meu escritório, Francisco pergunta sobre minha profissão e depois que respondo ele se cala. Está pensativo, com semblante fechado, vejo suas mãos abrirem e fecharem e por um segundo temo por minha integridade física quando eu contar o que já sei e fiz.

Cerca de 40 minutos depois entramos em meu escritório e vemos Antônio, Jeferson, Almeida e o delegado Vargas. Seguimos para minha sala e Francisco não perde tempo.

— Quero saber tudo! – ele diz imperativo – Podem começar, ou melhor, quem começa a falar?

Antônio toma a frente.

— Francisco... Vou chama-lo assim, ok? – meu sogro assenti – Para início de conversa, eu, Diego, Almeida e Jeferson somos detetives e há um pouco mais de 7 meses um homem chamado Matheus contratou os serviços do escritório. – ele me olha – Agora é com você...

Suspiro e tento ser o mais frio possível.

— Sr. Francisco... – porra, isso é difícil – Eu fui pago para seguir o Gabriel. – meu sogro arregala os olhos – Eu os segui até o litoral e tinha como missão colher material sobre seu filho. E de quebra sobre o Enzo também. Esse homem queria saber da rotina de ambos, mas o foco era o Gabriel. – aperto entre meus olhos – Devo confessar que me senti mal por fazer isso com eles e de alguma forma, Enzo percebeu minhas intenções e de repente colher qualquer material sobre eles tornou-se difícil, pois eles se isolaram. – pausa – Eles vieram embora e continuei a segui-lo. Não tinha ideia de que isso poderia ser usado contra ele. Quando tive a confirmação de que eles eram namorados achei que esse Matheus era apenas um ex-namorado enciumado ou alguém que os pais mandam vigiar os filhos rebeldes ou até mesmo... Mas eles não representavam perigo algum... Então...

— Pode ter sido um sequestro. – Antônio fala.

Vejo Francisco se levantar desesperado com as mãos na cabeça e olhar para Vargas.

— O QUE VOCÊ ESTÁ ESPERANDO?! – ele grita.

— Francisco, seu filho estará onde este homem estiver. – Antônio empurra uma foto sobre a mesa.

— Ítalo?! – ele está chocado – Como você sabe?

— Então o nome dele é Ítalo? – torno a falar – Porque para mim ele se apresentou como Matheus.

— Ele é gerente do restaurante do meu filho! – Francisco esclarece – Não pode ser ele! Pelo amor de Deus, ele é um bom rapaz...

— Alguns bons rapazes possuem mentalidade criminosa e psicopata, Francisco! – Vargas fala de forma fria – Alguns meninos passam meses planejando como cometer crimes. E este pode ser um dos casos.

Vargas é tão seguro no que fala que minha cabeça vai a mil por hora imaginando atrocidades.

— Vamos pega-lo agora e levar para a delegacia! – meu sogro se levanta novamente desesperado – Você pode interroga-lo...

Antônio e eu trocamos olhares.

— Francisco, enquanto esperávamos vocês fizemos um plano... – ele olha firme para meu sogro – Porém, você terá que ser um ótimo ator.

— Está me pedindo o impossível! – ele retruca.

— Se quiser ver seu filho vivo novamente tem que ser assim! – Antônio fala firme.

— Não sabemos em que condições Gabriel está, Francisco, então todo cuidado é pouco! – Vargas fala – Temos que ser frios neste momento. Apenas ele pode nos fornecer informações necessárias para chegar até Gabriel. E detalhe... Ele jamais pode perceber que sabemos de algo.

— Não podemos prende-lo porque o ocorrido com Gabriel é dado como “acidente automobilístico” – falo e faço aspas com os dedos.

— Francisco, Antônio tem conhecidos em ambos os lados. – Vargas fala.

— Como assim? – meu sogro está confuso.

— Possuo conhecidos tanto na polícia quanto na bandidagem. Simples assim. – Antônio dá de ombros – E no momento contamos apenas com a segunda opção.

— Meu Deus! – Francisco está em negação – Ele é um bom rapaz, pois foi eu mesmo quem o escolhi... Pode ter sido subornado por alguém...

— Acho que não! – eu o corto – Ele sabia de muitos detalhes sobre Gabriel e estava muito calmo e frio quando me contratou. Ítalo sabe demais... Sabia da rotina dele, de Enzo, seus gostos e etc. Não errei ao imaginar que quem pode ter feito isso conhecia bem seu filho, tão bem que poderia ser próximo a ele.

— Quero mata-lo! – Francisco cerra os punhos – Meu filho sempre foi honesto, educado e um bom menino... Por quê?! – ele chora.

Eu me aproximo e toco seu ombro.

— É o que iremos descobrir. – digo – Quando falei mais cedo com Tati e Enzo ele disseram um nome...

— Vera. – ele me olha sério – Ela não se atreveria! Porque se estiver envolvida nisso eu a mato pessoalmente.

— Sim. Pode ser que sim ou que não, depende do que vamos descobrir a partir de agora. – falo e vejo seu semblante fechar.

— Diego... – ele faz um gesto com as mãos – Eu a mato, eu juro que mato!

Ele se solta e caminha para a porta e Almeida bloqueia o caminho.

— Senhor... – eu o chamo – Precisamos resgatar seu filho e para isso precisamos ter calma e frieza. A vida do Gabriel depende disso.

Observo Francisco se virar e encarar a todos na sala. Ele respira fundo e muda totalmente de postura ao caminhar e sentar-se novamente.

— Então... – ele diz com voz fria e calma – O que vocês pretendem fazer para trazer meu filho de volta.

Antônio assenti e juntamente com Vargas começam a explicar o plano.

Noite, galera. Segue mais um capítulo.

Na medida do possível vou tentar postar a cada 2 dias, mas sem garantias pq minha vida é muito corrida.

Abraços

D.

Comentários:

*arrow* - você é meu anjinho esperançoso! kkkkk... Adorooo... Abraços.

*VALTERSÓ* - Ficou chateado? Rlx, meu amigo... O conto está chegando no seu primeiro ápice. E Vera não está sumida. Tem um capítulo só para ela. E vou dedica-lo a você!! Abraços...

*Lebrunn* - Não implica com Fernando, por favor! Ele é muito de boa e realmente gosta do Enzo... kkkkk

*Lolito for ever* - Falei pra você que não deixaria pontas soltas... Obg por entender. E fica calmo que vem mais por aí..kkkkkkkkk

*Grilo falante* - o Antônio é ligeiro mesmo. Macaco velho, né? Mas eu amo as tiradas que ele dá em Diego. E vem mais com ele por aí!

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Comentários

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Estremecedor este capítulo. Acredito que Ítalo seja um bom ator contratado para fazer o que está fazendo. Não entendi a seguinte questão: várias vezes os detetives disseram que o cara que contratou o serviço disse chamar Matheus, e depois já apareceram com foto de Ítalo. Como assim!? Ficou solta essa ponta!?

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D. (posso te chamar assim né?) como você sempre diz,, não ficarão pontas soltas e isso me faz pensar muito (prá variar... kkk) Sei que a história de Olga tem uma relação< na minha opinião forte, com tudo isso. Esse aparecimento da tia de Vera na casa da família sem ter sido comunicada do "falecimento" de Gabe foi por demais estranha. E mais estranho ainda foi ela ter dito que há coisas que precisam ser reveladas e o tempo chegou. Pelo que posso sentir a trama vai muito além do que estamos vendo até agora. Meus instintos estão em alerta... kkkkkk As possibilidades do envolvimento de Olga na trama são várias, então vou me arriscar a dizer que Olga é a verdadeira mãe de Gabe e Vera, de alguma forma a chantageou para ficar com ele como se fosse filho dela. Talvez elas tenham engravidado na mesma época e Vera tenha gerado outra menina, e Olga um menino (Gabe). Só não consigo ainda imaginar o motivo da chantagem que fez Olga partir e não dar mais notícias. Tia Amélia deve conhecer toda a história mas de alguma forma também foi coagida a ficar em silêncio. Italo deve ser filho de Vera com o tal homem que ela ama e seu ódio vem de uma história que Vera deve ter criado dizendo que a família era culpada pelos problemas de ambos, tornando-o cúmplice dela. Talvez ele, após começar a conviver com Gabe, tenha começado a se questionar e a realmente sentir algum afeto por ele mas permanece no plano de destruir a família como Vera deixou bem claro. As visitas constantes de Vera a Tia Amelia deveriam ser para visitar o Italo, que provavelmente foi criado por ela. Mas isso seria só parte da trama, porque ainda há esse amor de Vera que não sabemos quem é. Tudo isso são conjecturas porque ainda há outras possibilidades... kkkkk E você D. é muito bom em elaborar essas tramas... ainda vai nos surpreender muito, tenho certeza... kkkkk Agora, será que Francisco vai conseguir manter o plano de Antonio e Vargas atuando como eles precisam? Também curto muito as tiradas que Antonio dá em Diego, mas também vejo que isso faz ele ficar com os pés no chão... O legal també é como ele fica irritadinho quando Antonio faz isso... kkkkkkk Onde estará Gabe? O que será que estão fazendo com ele? Será que está muito machucado? Será que está sendo cuidado? E Eno. será que não vai perceber que Francisco estará atuando? Afinal de contas ele tem uma intuição privilegiada... eu diria até que ele é sensitivo. Caramba você deixa surtado... kkkkkk

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O Italo e vera estão juntos nesse plano. Eu ainda acho que o Italo pode ser irmão do gabe

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Alguma coisas me deram um nó na cabeça nesse capitulo. Desde que eu comecei a ler eu me perguntei qual era utilidade do Diego na história. Ele diz que o cara o contratou pra saber a rotina do Gabriel. Então por que pediu pra seguir o cara em uma viagem ao litoral ao invés de no dia a dia?? E logo depois o próprio Diego diz: "Ele sabia de muitos detalhes sobre Gabriel e estava muito calmo e frio quando me contratou. Ítalo sabe demais... Sabia da rotina dele, de Enzo, seus gostos e etc." ENTAO PRA QUE ELE FOI CONTRATADO SE O CARA JA SABIA DE TUDO? Qual era a informação que faltava? E porque um detetive particular foi necessário?

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MUITO BOM CAPÍTULO. MAS TUDO AINDA SÃO SUPOSIÇÕES SOBRE O ACIDENTE DE GABRIEL. TODOS SÃO SUSPEITOS E TODOS SÃO INOCENTES ATÉ SE PROVE O CONTRÁRIO. VEREMOS. SERÁ QUE VERA E ÍTALO ESTÃO JUTNTOS NISSO? MAS QUAL SERIA O INTERESSE DE ÍTALO NO ACIDENTE DE GABRIEL?

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