Uma Fantasia de uma Tarde de Primavera - Parte 4

Um conto erótico de Ahygo C. T’vilerrã
Categoria: Homossexual
Contém 4878 palavras
Data: 13/10/2018 18:18:42

Talvez Eu Seja o Monstro que Não Ama Ninguém, Afinal...!

Por algumas vezes naquele meio tempo, eu simplesmente tentei esquecer o que estava acontecendo. E parei de me sentir culpado quando lembrava que traí o Beto...

Mas isso foi só enquanto eu tinha transado UMA única vez com o Déreck! Depois da terceira vez, a culpa já era um monstro ENORME e devastador que me devorava por dentro... Me consumindo desde a alma e já pegando parte da carne; mas, eu usava o Déreck como “válvula de escape” para o problema que ele me ajudava a criar. E aí, eu dava um beijo e fazia boquete nele, sentia culpa e então, transava com ele, numa tentativa falida, pra esquecer o que fiz! (Tipo, eu fazia uma merda maior ainda pra tentar “apagar” o erro que cometi primeiro... criando uma bola de neve interminável.)

Porém, eu ainda tinha outros problemas pra pensar! Como duas provas pra ver o resultado final e saber se passei ou não. E a prova de recuperação de matemática que ainda precisava fazer. [Porque, sobre as outras, eu já tinha quase certeza de ter passado! Uma era de Química e outra de História, então, já tinha, quase, certeza de ter passado!]

Depois de fazer a tal prova de matemática para saber se passaria ou não, e terminaria o médio, fiquei super exausto de tanto me preocupar com tudo! E ainda tinha que manter o foco ate fazê-la. Tinha que ficar concentrado, para que durante a prova ou ate antes não imaginasse o Déreck me comendo por traz ou o Beto nos pegando no flagra e terminando tudo comigo.

Enquanto estudava, por milagre, consegui não lembrar do Déreck ou pensar no que estava fazendo com o Beto. Compartimentando tudo, quase do mesmo jeito como se fosse um cara enrustido casado com uma mulher, em que na rua manteria uma relação não comprometida com um homem pra satisfazer a vontade de ficar com um; mas em casa, tentasse ser o marido hétero perfeito! E assim, consegui fazer a última prova de matemática e ainda tirar a média...

E na mesma semana fiquei sabendo da minha nota das outras duas. Tirei 8.8 em História, como média geral, e 6,9 na prova de Química com média final de 7.0 [e quase quis fazer o ritual do seppuku na sala mesmo, com a Silvia pra cortar a minha cabeça, por uma nota tão baixa numa matéria que sempre amei]. Mas tive um obstáculo no caminho, uma “pedra” que eu ainda precisaria chutar pra longe.

Assim que ouvi o meu nome durante a entrega das provas corrigidas de matemática, me levantei quase tremendo. E fui ate lá pegar a minha.

— Parabéns, Seu Vitor. Passou, com nota acima da média e sem meios acertos... — falou meu professor de matemática, piscando o olho direito e abrindo bem as pernas pra me mostrar o pau meia bomba que começava a crescer dentro da calça. — Depois quero falar contigo. Me espera antes do recreio, tá...

Em outros momentos eu teria simplesmente ignorado aquilo e deixado quieto, mas não percebi de inicio a nota de malicia no tom dele por causa de todo o furor de ter conseguido passar com todos os problemas que eu tinha. E o esperei por isso ate quando todo mundo já tinha saído e então vi quais eram as reais intenções dele...

— Oi, professor Marlon. O que era que o senhor queria comigo mesmo...? — Falei assim que cheguei perto de sua mesa quando ele me chamou ao ver a ultima pessoa sair dali. Eu já começava a ficar um pouco nervoso [pensava que tivesse passado, mas só NAQUELA prova e precisasse fazer outra avaliação]. — Tem outra prova pra mim fazer...?

— Não, não. — ele disse me encarando sério. E quando ele tentou lançar um olhar penetrante, sua boca formou um sorriso malicioso como se quisesse algo. — Mas, sabe, eu preciso que você me faça um favorzinho. Me ajuda a levar essas coisas, essas provas ate o meu carro...?

Não entendi bem a intenção, mas logo lembrei que o estacionamento ficava numa parte um pouco mais afastado do prédio em si da escola [o terreno todo é enorme]. E lá também é bem ao lado da construção que eu havia mencionado antes, aquela parada e sem ninguém.

— É que eu dei um mau jeito, sabe, no ombro e já tenho a minha bolsa pra carregar... — enquanto ele falava, eu ia pensando nas possibilidades, ate que caiu a ficha. —... só uma coisinha rápida.

— A-a-aah, — gaguejei, e vi ele passar a mão pelo cós da calça e apertar o pau um pouco saliente — não vai dar. Marquei de encontrar a minha amiga, que também é minha cunhada, na cantina pra gente comer junto e conversar, mas... — queria deixar bem claro que já tinha compromisso, por isso, não daria o que ele estaria me pedindo. E se caso não fosse o que eu pensei [o que eu duvidava], a desculpa da amiga que estaria me esperando em outro lugar viria bem a calhar. — fazer o que...

Foi aí que vi a aliança. Não lembrava dela no inicio do ano, “Ele casou e eu não fiquei sabendo...?” me perguntava. “Não, talvez ele tirasse ela antes de entrar na escola...” Isso explicaria porque ele insistia tanto.

— Não, mas vai ser rapidinho, vai... — ele tentou pegar a minha mão, enquanto olhava para a porta e as janelas para conferir se havia alguém. — Prometo que não vai te atrapalhar em nada. — quando eu ia falar alguma coisa, ele me interrompeu avançando na minha frente em suas palavras e se levantou vindo manso na minha direção — E eu sei que você gosta.

— Não, mas já tenho namorado...

— É o Déreck Gonçalves, do segundo ano B?

— O que...? Não, porq... — falei nervoso quando percebi atrasadamente algo.

— Então, não vai ser um problema, né... — ele deu outro passo e chegou mais perto, dessa vez eu fui pra traz sem olhar. — Ou vai? — Ele abriu o primeiro botão da camisa.

Ele vestia uma camiseta de botão xadrez, tipo caubói feita de flanela, com calças skinny e tênis Adidas meio velhinhos. A roupa como conjunto era justa e apertada, de fazer-se olhar mesmo quem não gosta. Com peito malhado, um pouco de pelos saindo, corpo magro de quem vai a academia toda semana e braços com músculos fartos. Mas eu não estava afim de aumentar ainda mais os meus problemas e fazer o Beto passar mais essa ainda.

— Mas...

— Mas o quê, moço. — Não gosto quando me chamam de “moço”, não sei porque, mas me faz ficar meio injuriado, no sentido de querer sair de perto de quem falou. — E eu vi o senhor dando esse cuzinho arrebitado pro seu colega que nas suas palavras, não é seu namorado...!

Quase fiquei pálido naquele momento, pensando na cena do Déreck transando comigo no canteiro da obra abandonada. E foi então que confirmei, pela risada baixa que ele deu, os meus medos naquele momento. Fazendo-me ficar com mais raiva do que já estava.

— Então, ainda tá com dúvidas...? — ele chegou bem perto de mim e abriu o segundo botão — Ou vou ter que contar pra todo mundo que você é a putinha do segundo ano?

Eu ia ceder, realmente ia deixar ele me chantagear. Mas então percebi que aí sim isso viraria um ciclo sem fim que eu só teria um único final: destruindo completamente tudo o que tinha com o Beto; servir de escravo sexual pra ele e para o Déreck, e nem sabia mais o que poderia acontecer de mim seria a minha destruição. Porque já estava perdendo o controle da minha própria vida!

Então tomei uma atitude!

— Não, eu não to com dúvida nenhuma, não. — falei me afastando vagarosamente ate a porta, saindo um pouco do campo de visão dele e indo para suas costas. — Só quero deixar claro que eu não vou fazer nada para o senhor, ir ate o seu carro, transar e tudo mais, nem deixar você me chantagear dessa forma...

— Chantagem...? Quem foi que disse isso, vai ser só uma recompensa. Por eu ficar quieto... — ele disse e se virou para ficar de frente com um sorriso vencedor de quem já tem a batalha ganha. — Aliás, já prometi que vai ser bom pra você também, não é.

Quase ri do que ele falou. Como se ele fosse O Pica das Galáxias; aquele que mete em tudo e faz ate homem engravidar, pedra soltar água e terra seca dar flor. Ele não se garante, ele é convencido mesmo! E isso me irrita, ainda mais com o tom sínico dele...

— Não, mas eu...

— Que mais o quê... Vai dar pra mim ou não?

— Não, porque... — me interrompeu de novo, desta vez me agarrando, pegando-me de surpresa com guarda baixa. — Que? Não, mas o que é isso...?

— Eu sei que você quer, que vai gostar... — ele disse e tentou me beijar. E eu tentava me soltar dos braços dele e ir embora, mas ele aplicava tanta força que eu me via sem muitas opções. — E...

Antes de ele terminar, tentei dar um soco no rosto dele. Mas como sou mais o estilo “filé de borboleta” com ênfase estereotipada na parte da borboleta, não fiz muita coisa nele. Alem de rir, porque ele quase gargalhou enquanto me apertava mais.

Por isso, com mais raiva ainda, chutei seu saco. Pondo toda a minha força no joelho direito e lhe enterrei a virilha. Ele perdeu o ar quase tropeçando nas próprias mãos que já iam em direção ao meio de suas pernas. Furioso, pensei em sair dali e ir embora. Mas ele me chamou de novo.

—> Khoff-khoff < Você vai mesmo assim? — perguntou quando eu ajeitei a pasta nas costas para correr pelos corredores. — Então tá...

Porem, eu sabia que ele não iria aceitar a derrota. Ele é do tipo que não se rende fácil. Ainda mais quando quer algo, e nesse caso, o meu cu! (Tá, fiquei um pouco encabulado digitando isso, mas com o nervosismo que eu tava naquele momento, nem se compara...)

— Mas e a sua nota...?

— O que...? A minha nota...?

— Sim, não entreguei as notas da sua turma ainda para a secretaria computadorizá-las. — “Mas é claro que não, ele a recém as havia corrigido, e é óbvio que isso é do feitio dele usar contra mim...” — Posso ainda colocar um zero enorme e dizer que você foi mau, mesmo que fale que estudou bastante, a minha palavra como professor continua sendo a que vale.

Tudo bem, ele conseguiu captar a minha atenção nesse momento. Porque eu realmente não esperava por essa. E eu sabia que ele era um ser horrível, só não imaginava que fosse tão baixo.

E foi aí que uma coisa me atingiu também! Eu não era o primeiro aluno que ele fazia isso, não devia ser a primeira pessoa que ele pede favores, ou dá nota em troca, para quem está desesperado para passar de ano – ou de bimestre e ate só numa prova. Mas o ponto é que ele sabe jogar com os sentimentos das pessoas, sabe ver a oportunidade e segurá-la para usar a seu favor; bem como, também percebi só então que o motivo dele não usar a aliança sempre, é porque ele usa a escola como seu prostíbulo! Vai para lá para procurar quem precisa de algo, e realiza talvez sua fantasia como professor e homem mais velho dominar, e sodomizar ate, estudantes, adolescentes e quem sabe ate crianças.

— Eu não sou a primeira pessoa, né? — indaguei virando-me para ele de volta. — Não fui o primeiro com quem você tentou...

— O que? — ele já estava de pé, sem segurar tanto as partes — Claro que não, não sei do que você está falando.

— Hum, e aquele garoto de 15 anos que saiu da sua sala chorando um dia, no inicio do ano passado? Lembro que ele disse naquele dia que estava passando mal, e quando terminou o bimestre, pediu transferência...

— Há-há-há... Ate parece que você pode falar alguma coisa.

— E aquele garoto que nesse ano, não deixou o ultimo bimestre terminar, e começou a faltar as suas aulas? Ele já era maior de idade, mas sempre tirava nota baixa, também pediu “favores” pra ele? — perguntei fazendo aspas com as mãos.

— Não pode confirmar nada disso...!

— Não, é, não posso mesmo. — falei fazendo cara de pensativo. — Mas, — comecei a falar sendo tomado por uma fúria conspiratória, como se eu pudesse levantá-lo no ar e ate atirá-lo no outro lado da sala — VOCÊ vai por a minha nota certo, não to pedindo nem uma maior do que já tá; e quando terminar o ano, vai pedir transferência, e vai parar de assediar os seus alunos.

— Há-há-há, ou o que? — ele falou olhando para a minha boca, e logo depois, me despiu com o olhar, como se eu fosse um pedaço de carne qualquer — Vai me matar? Porque, mandar prender não pode, né, por falta de provas...

Ele sabia como fazer. Mesmo que eu o denunciasse, seria o único, e ainda por cima, sem vestígios físicos que mostrasse agressão ou tentativa de abuso (quero fazer química forense na faculdade). Então, resolvi mostrar outro lado meu, que ele não conhecia.

— Quem sabe, né...

— Hã?

— Presta atenção! — falei assim que lhe dei um tapa forte em seu rosto — Você vai fazer tudo o que eu falei, tin-tin por tin-tin. Tá entendendo? — perguntei e ele nada respondeu, então, com a mão direita segurei suas bolas e apertei ate ele me responder fino um “sim” — Melhorou! E se não fizer, eu vou te procurar, caçar ate o inferno e te trazer de volta, e... — falei chegando pertinho do ouvido dele uma coisa que eu não me orgulho ate hoje de ter pensado desejar falar para alguém [mesmo ele].

Professor Marlon arregalou os olhos e os manteve fixos em mim, como se tentasse me decifrar porem, de um jeito meio assustado. Mas ele não acreditou e então me fitou lançando um olhar de questionamento e tentou me envolver.

— Aé, vai continuar ainda... — dei um empurrão nele, jogando-o no chão e o fazendo ficar deitado debaixo do meu pé — Tenho nojo de gente como você, NOJO! E vou fazer o que falei mesmo, te matar e deixar apodrecer numa vala...

Então cuspi nele e fui ate a porta.

— E mesmo que me entregue alegando qualquer coisa para todo mundo, também sei os seus “segredinhos” e posso muito bem ir ate a sua casa e contar tudo para a sua esposa... — parei olhando-o de cima, lembrando que não posso deixar muitas evidencias de violência com ele. — Pense bem nisso enquanto ainda pode, e passe bem.

Saí de lá indo rápido para o banheiro, sem deixar ninguém me ver. Meu rosto começava a ficar vermelho, meus sentimentos afloraram e eu comecei a chorar, mas não por causa do que fiz ou disse, e sim porque talvez me torne um ser humano pior ainda do que ele se cumprir o que prometi.

E isso seria incomensuravelmente pior do que SÓ trair o Roberto...

***

Passei o restante do recreio no banheiro – o que foram apenas 2 ou 3 minutos apenas. Tempo suficiente para eu desaguar uma cachoeira de lágrimas. Trancado num dos privados, só ouvi o bater de portas de gente entrando e saindo.

Nem me preocupei em lembrar da existência da Silvia, ate sentir o meu celular vibrar no meu bolso como se quisesse sair. Deixei cair na caixa postal. Queria muito falar com ela, alguém pra me ouvir, mas conhecendo bem a minha cunhada, sabia do fuzuê todo que ela começaria. E aí sim, daria a chance para o professor Marlon me entregar sobre o Déreck, e eu não queria correr esse risco (apesar de que eu PRECISAVA!) mesmo que isso significasse deixá-lo livre para aliciar outras pessoas. E, Céus, talvez ate algo pior...

E quanto mais pensava em tudo isso, em mim, no que aconteceu com relação ao professor Marlon, minha traição com o Déreck e na forma como deixaria o Beto se descobrisse, mais eu chorava. Porque queria REALMENTE fazer algo, porem não queria por em perigo a minha relação com o Roberto; e também não queria deixar aquele monstro livre...! “O que eu faço?” me perguntava.

Depois de terminado o recreio, fui ate a pia e lavei bastante o rosto. [Quase passei o mesmo tempo lavando o rosto quanto havia passado trancado no privado] Me olhando no espelho, percebi que não estava exatamente o mais apresentável que eu queria, mas deveria ser o suficiente. Pois eu já não tinha mais tempo, e ainda havia Silvia me ligando.

Voltei para a sala e disse que havia passado mal, a professora Karla [de Biologia] tentou me aconselhar ir para casa e eu disse não precisar. No meu lugar, tentei dar uma desculpa qualquer à minha amiga numa conversa rápida via sms e logo voltei a desligar o celular. Tentei prestar atenção pelo máximo de tempo, entretanto, a todo o momento, vinha a sensação das mãos do professor me segurando e passando sobre mim.

Aquilo começou a me dar um asco, uma coisa que não consigo explicar, da minha própria pele, me fazendo querer arrancá-la depois de vários minutos lembrando as coisas horríveis que passei. E quando lembrei que ele deve ter feito a mesma coisa com outros, mais nojo dele sentia [e ainda sinto] principalmente pensando nele me tocando.

No fim, não esperei aquele período terminar e pedi para ir embora. Mandei uma mensagem pra Silvia dizendo que eu sairia mais cedo por causa de mal estar e fui embora pra casa. Queria ir rápido, mas esqueci que poderia pegar um ônibus e chegar antes. Então segui a pé, e no estado em que eu me encontrava, não sei como consegui chegar sem atravessar nenhum sinal de transito aberto ou atropelar nenhum outro pedestre.

Assim que cheguei, me despi e entrei no chuveiro sem prestar atenção em nada. Não queria ter de lembrar muito mais do que já estava pensando. Muito já me era um martírio ter de levar a conviver, complicado demais para explicar porque escolhi o caminho ao qual me encontrava. E muito mais complexo de mim mesmo entender.

Resolvi só sentar no boxe do banheiro enquanto a água corria sob o meu corpo. Com as cenas se repetindo, de novo e de novo na minha cabeça. De repente, água salgada se misturava com a água quente do chuveiro e chegava ate a minha boca. Eu estava chorando de novo.

Por um tempo indeterminável eu fiquei lá no banheiro, ate que lembrei que estava lá e não mais na escola, naquele recreio horrível. E eu tive uma certeza naquele momento: NUNCA MAIS IRIA ESQUECER TUDO O QUE ACONTECEU! Isto em específico passara a me assombrar mais do que qualquer coisa. Quando sinto mãos me cobrindo e instintivamente me esquivei indo para o fundo do banheiro.

— Que isso, sou eu, amor... Amor? — ouvi de Beto parado e pelado na frente da porta do boxe agachado me encarando. A visão dele ali, querendo cuidar de mim, com olhar preocupado, só aumentava mais ainda o meu remorso. E acabei chorando muito mais do que queria. — Vitor, que foi? Quê que foi, Amor? Aconteceu alguma coisa...?

Ele perguntava e perguntava, mas parecia que eu só ouvia o eco de sua voz, vinda de longe, com os sons das minhas palavras e do professor Marlon sobrepondo as dele. E eu só queria poder terminar com tudo aquilo de uma vez por todas, mas sempre vinha o que o professor fez comigo, talvez fizesse com outros garotos e que mesmo se eu contasse para o Beto e/ou a policia, daria o motivo para Marlon revelar o que sabe sobre mim.

Tudo isso começou a formar uma “bola de neve” [gigantesca!] dentro da minha garganta depois de alguns minutos, que eu já estava sentindo apenas os braços do meu namorado me sacudindo e me agarrando de repente, levando-me para a cama (isso mesmo, ele não se lembrou de por uma toalha ou de me levar para outro lugar – de preferência um onde a gente não deitasse pra dormir). Assim que me soltou, voltou para o banheiro e desligou o chuveiro, retornando para onde eu estava rapidamente e me abraçou enquanto me embalava, chorando junto comigo; e eu querendo [morrer!] com o remorso apagar tudo o que fiz ao mesmo tempo que queria me agarrar a ele e deixar o resto do mundo pra lá.

Mas não é assim como “funciona” a vida...(!) Sabia que as minhas ações teriam consequências, mas não esperava que pudessem ser essas, ou DESSE tipo.

Depois de quase meia hora chorando ainda enrolado nos braços do Beto, eu parei e fiquei mais uma hora inteira calado – refletindo sobre o que aconteceu [concluí que não poderia contar pra ninguém o motivo de eu ter saído do jeito que saí, ou ao Beto porque chorei tanto]. E então acabei pegando no sono, deitado no ombro do meu namorado, enquanto ainda via as imagens do professor Marlon abusando e aliciando a outros garotos.

Nunca antes disso eu havia dormido tanto e ao mesmo tempo tão mal, pois a cada momento eram situações diferentes em que cada uma delas o professor agarrava e abusava de garotos cada vez mais novos. E eu não podia me mexer, não tinha forças pra me mexer, só assistir. Ele passava as mãos dele no próprio corpo, e depois pelos braços dos garotos, que nunca eram mais velhos do que ele; em uma das situações Marlon pegou as mãos de um dos alunos e o fez passar suas mãos pelo corpo do primeiro.

[Isto tudo foi tão repulsivo que eu senti vontade de vomitar ao acordar.] Quando apareceu uma criança de 10 ou 9 anos, talvez 8, não consegui continuar vendo aquilo e acordei por impulso, mas não de modo que gritasse ou fizesse muito barulho.

Eu não tinha percebido, mas havia dormido quase 12 horas seguidas e sempre acordando de pesadelos, um pior do que o outro, e em todos o professor Marlon fazia parte. E em algumas vezes eu me debatia muito (palavras do Roberto, que era quem tentava me conter), e também gritava, numas duas ou três vezes. Num desses pesadelos, pouco depois de Marlon me agarrar e me atirar no chão tentando me beijar e baixar as minhas calças, Beto aparecia e nos olhava com cara de assombro e desespero, então o professor se levantou e foi ate meu namorado, batendo nele com um porrete e deixava Beto todo ensanguentado no chão, e quase morto. E eu não conseguia gritar, não conseguia falar e nem me levantar. [A dor de não poder contar para ele já adquiria um tamanho maior do que a culpa e o remorso, mas só de imaginá-lo descobrindo tudo... “Não, não poço contar pro Beto...”, pensei.] Então, só chorei mais.

***

A tarde de sábado passou e eu praticamente nem vi; apenas vegetava na cama! Com meu namorado a todo momento do meu lado, tentando me passar conforto e amor, mas eu me senti fraco(!); me sentia inútil, um lixo desprezível, sem valor, sem importância que só estava fazendo as pessoas infelizes e tristes. E que só se preocupa comigo mesmo, como se eu é que fosse o principal vilão dessa história (e eu talvez fosse, né...), não aguentava mais chorar, mas não sabia o que fazer.

Tentei passar a noite de sábado sem pensar no que aconteceu, ou no que poderá vir a acontecer, mas sempre me vinha a mente como sou o pior namorado e uma pessoa horrível! Com a forma que Roberto cuidava de mim, só piorava as coisas porque eu sabia o que deveria fazer, porém, sentia medo das conseqüências serem desastrosas demais (e no caso, pra mim!).

Portanto, não saí da cama no domingo também. E como não precisaria fazer mais nenhuma prova, não fui às aulas correspondentes das provas de recuperação das outras matérias, isso ate a quarta-feira. Então também não saí da cama ou de casa, nem comi ou bebi nada [tão destruído eu estava por dentro], tudo porque me sentia um ser monstruoso!

Na quarta-feira a tarde eu ainda estava na cama, havia recém parado de chorar depois de acordar. E me mexendo um pouco para ter certeza absoluta de que não estava mais dormindo mesmo, virei para o outro lado e ouvi a porta do quarto fechar aos pouquinhos. Mas não completamente.

—... Não, eu não sei também o que aconteceu. — Roberto estava no corredor que levava a sala e a cozinha. — Ele não come, não fala, não faz nada! — Passaram-se alguns segundos e não ouvi nada — Não sei o que fazer... — ele falou e fungou alto, mas não imaginei que fosse de choro.

Ele parecia nervoso ao falar. Sem esperanças, tropeçava às vezes nas próprias palavras. E isso já me matava mais ainda por dentro...

— Pois é, ele chegou nervoso na sexta e nem me viu aqui em casa. Achei isso estranho... — O ouvi fungar o nariz mais uma vez e então um silencio tão profundo e triste que só pude imaginar que ou ele estava tentando conter o choro ou escutar a pessoa com quem ele falava [ou as duas coisas] — Silvia...

Do nada eu ouço ele soluçar, tentando se segurar, como só tinha visto acontecer uma vez: quando ele se assumiu pra família e teve aquela briga toda. Mas desta vez ele parecia um pouco mais triste, desnorteado, desamparado, meio sem chão, eu acho. Porque, de repente, ele simplesmente não conseguiu se conter, ou parar de chorar.

— Tudo o que eu queria era poder ajudar ele, só isso... — Beto fungou e eu quase me levantei pra ir ate ele e abraçá-lo. Era muito ruim ter de passar por aquilo tudo, mas deixá-lo passar por isso também era ainda pior! — Tá, sim, tudo bem... Muito obrigado, mana. — então ele parou e eu percebi que Silvia falava algo, e foi nesse momento que concluí que estavam se falando ao celular. — Sim, sim, também te amo e diz pra eles que um dia desses eu apareço por aí...

Então desligou o celular e veio ate o nosso quarto. Ainda estava com os olhos fechados quando ouvi tudo, não os abri mesmo quando ele entrou ainda com o nariz fungando. Percebi que ele começou a se segurar para não desabar novamente, então foi ate o banheiro e de lá ouvi o barulho de água corrente. Não havia notado ainda, mas ele estava lavando os olhos, o rosto, e chorando mais. Então, no que concluí ser um ato de derrota, ele só se secou e veio para a cama se deitando atrás de mim primeiro de alguma forma sem me encostar. Ficou quase meia hora sentado no pé da cama chorando sozinho em silêncio.

E após alguns minutos tentando parar com as mãos no rosto [ouvi ele passá-las nos olhos para secar as lagrimas], me abraçou por trás, instintivamente eu me esquivei, mas não o suficiente pra ficar fora do alcance dos braços dele. E em volta de mim ele voltou a chorar, desta vez nas minhas costas.

Não aguentando mais vê-lo daquele jeito, me virei e o abracei forte chorando junto também. Eu não sei explicar o que senti naquele momento vendo ele assim, eu só chorava; ELE apenas chorava e tremia, nós sofremos muito com aquilo, eu queria poder ajudá-lo! Queria ser o tipo de namorado que ele merece e queria, mas... (Sério, eu me sentia vulnerável, incapaz e sem forças pra agir)

Foi aí que lembrei de uma das primeiras vezes que fiz amor com o Beto e depois ele disse querer ser como uma rocha! Porém, não pra me machucar ou aos outros, e sim pra me proteger. Que alguém fizesse ou tentasse algo contra mim, ele pudesse me defender...! Ele também disse que iria me apoiar e me dar força, ser mais que um herói e um porto seguro, queria ir além. Roberto ainda estava no meu peito quando me abraçou forte, escondeu o rosto e as lagrimas em mim, porque ele queria cumprir o que tinha prometido! E ele estava.

Com isso, resolvi tomar uma atitude, e tentei criar coragem para contar o que aconteceu. Teria de arriscar a nossa felicidade para que ele parasse de sofrer daquele jeito!

— Beto, preciso contar uma coisa... — suspirei segurando uma lágrima, enquanto me sentava na cama, — preciso contar uma coisa muito séria para você.

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Desculpem a demora pra postar logo. Mas é que eu tive um bloqueio, mas tipo emocional, porque, por exemplo, só conheço homem que não presta ou que, pode ser gay, mas só quer amizade comigo(!); além do fato que, mesmo eu não sabendo se muita gente lê as minhas histórias, a impressão que tenho é a que não estão agradando a ninguém...! Porque não recebo nenhum retorno através dos comentários (com exceção só do VALTERSÓ que comenta sempre e do Geomateus...), nenhum feedback nem nada [nem um "Nossa! Que história ruim..."].

Mas, tenho que agradecer a VALTERSÓ, por estar sempre presente (beijinhos, LINDÃO!);

a Geomateus, que é uma criatura tão querida já pra mim, beijinhos da Tití;

e a O garoto, por tu ter comentado uma vez em outro conto, me deixando enrubescidoA faculdade também tá me sugando a alma, mas sigo firme!

Então, muito obrigads pelo apoio de todo mundo. Beijinhos grande e um abraço maior ainda... :* :* :*

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Comentários

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só vou dizer que não vivi nada disso...! ;)

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ah, sobre a história ser real ou não, vou deixar a cargo de cada umx refletir... :) :*

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sim, sim, pois é... dsa as vezes realmente frustra, né... porque, primeiro vi a necessidade de escrever sobre coisas que não falam muito (como pessoas terem HIV, e casais de soro-descordantes [no caso, alguém ter HIV na relação e a outra pessoa não...), e então, quis fazer uma coisa que amo, que é ler os comentários dos contos (as vezes gosto mais dos comentários do que dos próprios contos das [desculpa, mas é verdade]) e depois que eu to me sentido carente no momento... :P e escrever é o meu "placebo" :P

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Nossa, nojo desse professor! O conto é real ou fictício? Olha , tô com muita pena do Beto... Mas sinceramente eu também não saberia o que fazer , contar pode acabar com ele, mas não contar também seria cruel 😞 olha, teu conto é maravilhoso, não se deixe levar por falta de comentários, as pessoas leem sim e até gostam, mas a realidade é que quase ninguém quer ter o "trabalho" de comentar, é frustrante eu sei, mas não desista ! Quando tiver inspirado, escreva e poste , eu vou amar ler o resto dessa história.

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