Relato de um distraído

Um conto erótico de Aparecido Raimundo de Souza
Categoria: Heterossexual
Contém 851 palavras
Data: 27/09/2018 19:23:37
Assuntos: Heterossexual

Relato de um distraído.

(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza.

HOJE CEDO, ANTES DAS OITO, como faço todas as manhãs, antes de ir para o trabalho, desci para tomar meu café na padaria. Adoro essa padaria. Não abro mão dela por nada deste mundo. O estabelecimento em questão fica quase frenteado ao meu condomínio. Entrei, sentei ao lado do meu lugar de sempre, visto que a mesa preferida, a que mais gosto estava ocupada por uma loirinha gostosa que mora dois andares acima do meu.

Meio do café, assim, num repente, do nada, me deu vontade peidar. Achei estranho, porque antes de tomar banho, e me trocar, dedico algum tempo levando a bunda para visitar o vaso sanitário, oportunidade em que aproveito para expelir todos os possíveis e futuros dissabores de um infortúnio molestoso.

Com o cu na seringa a disposição de um cagar suave e sem pressa, usufruo lendo no celular os jornais do dia me inteirando das novidades. Por essa razão, esse pum desvairado e anômalo, me pegou meio que surpresado.

Tocava, nessa hora, uma música alta, aliás, muito acima do normal além de chata. Geralmente o gerente não coloca esses barulhos ensurdecedores, em atenção aos frequentadores que para ali se convergem na ânsia de se confraternizarem com o primeiro dejejum. Outro motivo. Muito cedo para aquele tipo de estrondo estar em volume tão deprimentemente elevado.

Pois bem. Temeroso por soltar um arroto subversivo e a trapalhada chamar a atenção da minha convizinha, e claro, dos demais em derredor, fiquei, de pronto, com a pulga atrás da orelha. Contudo, a tosse anal deu sinais de que estava furiosa.

De fato prometia, pelos movimentos que me obrigava a fazer, que se apresentaria publicamente de forma arrebatadora. Não deu outra. A flatulência veio e se fez patente de forma poderosa e impactante. Na verdade, não tinha como segurar.

Nessa confusão desordenada, entre a minha vontade de reprimir o ato e a insensatez do peido, em se espocar, entremeado entre liberar a bombarda e deixar o incômodo se remoendo, achei melhor aproveitar a fuzarca da canção e dar asas ao impertinente e, sobretudo, impaciente.

Olhei de soslaio para a jovem acomodada do meu lado esquerdo. Ela se dedicava a seu café com sofreguidão. Do meu lado direito um casalzinho (também moradores) enquanto esperava seu pedido, trocava carinhos e abraços. Decidi com meus botões. “É agora, ou nunca. Foda-se o resto”.

Pimba, fuuuuuuuu... liberei o filho da mãe, em sincronia com a altura da bosta da música que insistia balançar o ambiente. O gasoso saiu como eu previra. Rebentando tudo. Com ele, veio parteado o molho da feijoada que jantara dia anterior em casa de mamãe.

Misturado, de roldão, igualmente fragmentados, ovos cozidos, sem mencionar uma apetitosa e bem temperada salada de repolhos que só a autora de meus dias sabe fazer com precisão requintadíssima. Sem falar na mistura da cerveja com vinho e alguns goles de cachaça.

Obviamente não mencionei o mau cheiro oriundo do traque. Estourou impregnativamente imperioso. Por um momento, fiquei aliviado pela dispensa do dito, acoplado aos aloprados instrumentos da melodia do cantor que mais berrava que cantava. Meus ouvidos estavam pandarecados.

O som, realmente, arregaçava volumoso demais. Chegava a ensurdecer. Foi então que reparei que todos me olhavam com ares de poucos amigos. Ou melhor, de nenhum amigo. A jovem ao meu lado, moradora dois andares acima, fazia cara de nojo e tamponava o nariz. O casalzinho, idem. Aliás, eles saíram de perto e foram se sentar num outro extremo da padaria, num cantão bem afastado.

Com certeza, o maldito movimento intestinal produzira estragos. Em questão de segundos, todos me encaravam com raiva. Senti que poderia levar umas tapas ou até ser agredido por um freguês mais alterado em seus ânimos. O estilhaço entrou em meu nariz, como um vento forte demais. Puta que pariu. Que podridão! Senti que estava morto. Havia esquecido claro, de me enterrar.

Antes de terminar o dejejum e me levantar, percebi que minha calça (exatamente nas imediações nos fundilhos da bunda), se encharcara molhada. Pior, suja e abundada de um viscoso líquido merdal. Literalmente falando.

O gerente se aproximou. Cenho franzido. Espumava. Disse algo ao tempo em que gesticulava e me indicava a porta da rua. Incrivelmente não ouvi uma palavra do que me disse. Porém, entendi seus gestos. Eles me sinalizavam, realmente, a porta da serventia da casa. “Suma” ou algo parecido deve ter bradado.

Envergonhado, e mais que isso, amedrontado, me deparei com a ponta mais degradante da situação. Eu estava ouvindo a porra da música não vinda da padaria, porém, no meu iPod que ganhara de minha irmã Lucrécia, por ocasião de meu aniversário, mês passado.

Meti o rabo entre as pernas. Sai de fininho. O caixa sequer se dignou a me cobrar a despesa. Reiterou os sinais para vazar dali o mais depressa possível. Desde esse dia por causa desse vexame impagável, nunca mais botei a cara na padaria. Tampouco os pés.

(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza. Crônica integrante do livro “Amor de incesto” publicado pela Editora AMC-GUEDES, Rio de Janeiro, 152 páginas, 1ª Edição Julho de 2018.

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