Os Verões Roubados de Nós/CAPITULO23

Um conto erótico de D. Marks
Categoria: Homossexual
Contém 4236 palavras
Data: 21/09/2018 21:54:51

Os Verões Roubados de Nós

Capítulo 23

Narrado por Gabriel

Finalmente chegou o dia da inauguração. Estou nervoso demais, ansioso e com muito medo.

“Ai, meu Deus! Dai- me forças para o dia de hoje!” peço em silêncio enquanto tomo meu banho. Repasso mentalmente meus passos de hoje para não cometer nenhum deslize.

– Vida? – Enzo me chama do lado de fora – Sua roupa está sobre a cama, ok?

– Tá bom, amor! – respondo. Fofo – Obrigado.

Ele abre a porta e me olha sério.

— Não demore! O café está pronto. – e sai sem me dar chance de responder.

— Nossa... – sussurro – Nem um boquetinho? Oxi...

Por esses dias tenho percebido Eno mais sério e introspectivo, e ainda por cima passando muito tempo com minha irmã, que também anda muito estranha. Já disse que quando esses dois se juntam podem esperar um tsunami?

Termino meu banho e coloco minha roupa. Ele deixou tudo separado, desde as meias até o perfume. Olho pela última vez no espelho conferindo meu visual e vou tomar café da manhã com ele.

— Bom dia, amor! – chego por trás e dou um beijo em seu pescoço – Eu temo e obrigado.

— Bom dia. Eu te amo também... – ele sorri – Só não entendi o obrigado?

Ele se vira e enlaça meu pescoço.

— Obrigado por me amar, por cuidar de mim, pela paciência – digo e para cada frase deposito beijos em seu rosto. Ele apenas ri – Por ser meu melhor amigo e namorado.

Ao terminar de falar colamos nossas testas e ficamos nos olhando por um tempo.

— Vamos tomar café? – ele pergunta. Mesmo sorrindo a seriedade volta ao seu olhar.

Tomamos nosso café e conversamos um pouco até que resolvi falar.

— Eno...

— Sim, amor? – ele não me olha.

— O que está havendo? – pergunto com jeito – Você tem estado distante e sério nessas últimas semanas.

Ele me olha e vejo um conflito de emoções em seus lindos olhos verdes, mas mesmo assim ele sorri.

— Vida, muitas coisas estão acontecendo comigo. – ele responde – Mas não quero perturbar você, ok? – e segura minha mão.

— Eno... Por favor, amor... – movo minha outra mão cobrindo a dele – Vamos conversar.

Seus olhos se enchem de lágrimas

— Vida... – a voz está embargada – Agora não... Depois da inauguração, ok?

Respiro fundo.

— Tudo bem. – digo – Depois você não me escapa.

Ele sorri e se levanta para se sentar em meu colo.

— Eu prometo, vida. – ele diz e me beija. Tão suave.

Não resisto e o abraço forte.

— Não esconda nada de mim, amor. Promete?

Ele apenas concorda com a cabeça.

— Eno?

— Gabe... – ele odeia prometer.

— Enzo...

— Enzo não! – ele enterra a cabeça em meu pescoço – Eno! É Eno.

— Então prometa!

— Ok. Eu prometo. – ele diz

— Olha pra mim. – peço – Fala...

— Eu te amo pra sempre!

— E eu te amo pra eternidade. – digo.

Saio de casa alguns minutos atrasado e corro contra o tempo. Chego ao restaurante e fico surpreso, pois Ítalo já está com praticamente tudo pronto.

— Bom dia, chefe! – Leila me cumprimenta.

— Bom dia. – cumprimento de volta – Tudo bem por aqui?

— Sim. Tudo na paz! – ela responde sorridente – O Ítalo está lá dentro. Estamos aquecendo os motores.

Solto uma risada. Leila é uma figura e por isso a contratei como operadora de caixa, pois fora a experiência ela é extremamente observadora e pró ativa. Ela também é homossexual e Eno se deu bem com ela logo de cara.

Os outros eram heteros e eu expus logo de cara o que sou e apresentei Eno como meu companheiro. Se, pensaram ou julgaram, guardaram para eles, pois aqui eu não ia admitir nenhum tipo de preconceito. De nenhum tipo.

Adentro a cozinha e Ítalo já está comandando tudo.

— Bom dia a todos. – cumprimento e todos respondem animados.

— Bom dia, Gabriel. – Ítalo me cumprimenta – Comecei a coordenar tudo por aqui enquanto você não chegava. Tudo bem?

A escolha de Ítalo como gerente foi providencial e ideia do meu pai que participou ativamente na sua contratação e dos demais funcionários. Agradeço ao velho pelo faro e pela experiência em contratações.

— Ótimo, Ítalo! Obrigado. – respondo – E lá na frente, tudo certo?

— Sim. – ele olha o relógio – Agora é só esperar o horário para abrirmos.

Concordo com um aceno.

— Está nervoso, não é? – ele pergunta.

— Muito... – dou uma risada – Estou ansioso, nervoso, com medo e empolgado. Uma verdadeira confusão de sentimentos.

Ele vem e bate em meus ombros.

— Relaxa, cara... Vai dar tudo certo! – ele diz – Você tem tudo que um grande empresário precisa que são determinação e talento para crescer.

— Obrigado, Ítalo! – agradeço sincero – Vamos crescer juntos, pois o trabalho é de equipe. E agora, mãos a obra!

E então às 12h em ponto meu restaurante fast food “Estação do Sabor”* começou a funcionar. Todos trabalham em sintonia plena e o que eu mais temia que fosse o atraso nos pedidos não aconteceu.

Estávamos a todo vapor quando meus tios e primos, meu pai, minha irmã e meu amor chegaram. Conversamos, fizemos várias fotos, eles comeram (e muito para variar - kkkk) e adoraram. Bom, eles são suspeitos para falar, mas como o público também estava gostando fiquei feliz.

Minha mãe chega no período da noite e como faríamos uma comemoração na casa dos meus tios a chamei.

— Ah, meu filho... – ela diz – Acho melhor não, pois seu pai e eu estamos tendo algumas divergências e acho chato.

Fico triste, mas insisto.

—Por favor, mãe, é importante para mim que você esteja presente.

Por incrível que pareça ela sorri e concorda. São quase nove da noite, então resolvi encerrar meu expediente e ir com ela direto para casa dos tios.

— Mãe, aguarde só um instante que vou verificar a cozinha e já volto.

— Tudo bem. – ela responde.

Verifico a movimentação da cozinha e deixo algumas ordens, o fluxo do caixa, anoto algumas coisas e saio a procura de Ítalo que está fazendo companhia a minha mãe.

— Ah, Ítalo, vejo que conheceu minha mãe.

— Sim. – ele responde sorrindo – Como ela estava aqui sozinha e se sentindo deslocada resolvi fazer companhia até você voltar. Sem ciúmes, hein?!

Rimos e fico incomodado com o tom de deboche dele, afinal nem sei o que é sentir ciúmes da mãe.

— Claro, sem problema algum. – sorrio – Preciso passar algumas coisas para você e vou embora.

— Claro! – e se vira para minha mãe – D. Vera foi um prazer conhece-la e volte mais vezes, pelo menos para experimentar a comida. É divina!

— Obrigada, Ítalo, eu voltarei. – ela sorri amável.

— Mãe, só vou repassar algumas coisas para o Ítalo e já vamos, ok?

Ela apenas acena e eu saio para conversar com Ítalo. Tudo arranjado me despeço de todos e saímos. Vamos no meu carro, pois ela odeia dirigir a noite. Conversamos durante todo o trajeto e conseguimos manter um diálogo que nunca tivemos antes: cordial e leve. Ela teceu muitos elogios ao restaurante, ao meu modo de comandar e ao meu gerente. D. Vera realmente está me surpreendendo, pois até perguntou por Enzo, como está nosso relacionamento, enfim, uma conversa saudável.

Chegamos à casa dos meus tios cerca de 40 minutos depois e todos estão lá rindo e conversando animados, inclusive Tati que pela primeira vez não demonstrou desprezo e nem fez nenhuma gracinha pela presença da nossa mãe.

Todos vieram me parabenizar e elogiar o restaurante novamente, mas agora de modo mais íntimo e familiar.

— Meu querido... – disse tia Alice me abraçando – Parabéns e saiba que mal posso esperar para voltar lá.

— Obrigado, tia.

— Todos nós, meu querido! – meu tio fala com sua voz poderosa – Quero experimentar o cardápio todo!

— Eu também quero! – Enrico faz coro.

Ri muito deles e com as palhaçadas. Procurei Enzo em toda parte e não o encontrei. Minha tia notou e apontou escada acima. Pedi licença a todos e fui atrás dele. A porta do quarto está fechada e entro sem bater.

— Eno...

— Oi, Gabe. – ele está sentado sobre o parapeito da janela olhando a lua.

— O que está fazendo aqui? – pergunto me aproximando. Ele não me olha e viro seu rosto para mim – Que porra! Você chorou de novo? O que aconteceu?

— Nada. – ele responde.

— O caralho que não houve nada! – meu tom de voz sobe – Olha pra mim e conta. Já!

Ele suspira e desce do parapeito me puxando para a cama.

— Amor... – ele começa – Eu quero que você saiba que eu te amo demais e não importa o que aconteça, eu estarei aqui pra você.

Eu me solto e coço minha nuca.

— Vai me contar o que está acontecendo com você? – pergunto sério – Porque essa sua frase não me deixa tranquilo em nada. Você quer terminar comigo, é isso?! – agora estou irritado com a palhaçada e manhas dele.

— Claro que não! – ele responde rápido – Você nem pense nisso!!

Ele praticamente pula no meu colo. Eu o abraço.

— Confia em mim quando digo que te amo, Gabe. – ele fala – porque é verdade e é para sempre.

Ficamos abraçados por um bom tempo até que a porta se abre e Aline aparece.

— Eno... Gabe... A Tati está chamando para fazer um brinde.

Eu o solto a contragosto lembrando o que Eno sempre diz da Tati: empata foda alheia.

— Estamos indo, princesa! – Enzo sorri e me olha – Vamos?

— Vamos! – beijo seu pescoço – E depois casa, banho e cama. Exatamente nessa ordem.

Rimos e descemos de mãos dadas, mas observo Eno se benzer discretamente.

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Narrado por Tati.

Estou eufórica, pois hoje derrubo de vez a máscara de falsidade que a senhora “infelizmente mãe” Vera usou durante anos. Eno está tenso e irritadiço comigo porque ele queria esperar mais um pouco. Discutimos muito e joguei na cara que ele me devia isso por causa da chantagem e porque ele adorou a ideia no início.

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Flashback on.

— Tati, por favor! – ele diz – Espera mais um pouco. É só até as coisas se acalmarem e entrarem no ritmo lá no restaurante. Você prometeu!

Olho furiosa para ele.

— Até algumas semanas atrás você me apoiava totalmente, Eno! – explodi – o que houve agora para você mudar assim?

Ele suspira. Parece cansado.

— É o Gabe. – responde – Pela primeira vez na vida dele a mãe está presente e ele está feliz – pausa – Eles se falam quase todos os dias, Tati, e de verdade eu não sei mais se é certo fazer isso nesse momento. E outra, quando eu disse a você a data de inauguração não imaginava que seu plano era contar no mesmo dia. Não é justo com ele e nem com seu pai.

Caminho até ele e vejo seus olhos lacrimejando.

— Eno, eu preciso fazer isso. – digo firme – Ela me detonou a vida toda e está fazendo esse circo todo de se aproximar e se fazer amiga do Gabe para me atingir. E de verdade, no final ela vai mostrar quem realmente é... – faço uma longa pausa – e vamos ter que juntar os pedaços do que sobrar porque ela irá destruir tudo. Como ela sempre fez.

Ele me olha sério.

— E esses pedaços são o coração do meu Gabe, Tati. – sua voz é triste – Você acha isso justo?

— Não, eu não acho justo. – respondo firme e com calma – Mas deve ser feito... Sabe o que descobri? Que ela está fazendo do divórcio e da vida do meu pai um verdadeiro inferno, Eno! – a raiva transparece na minha voz – Você acha isso justo?

Ele me olha surpreso.

— Mas é uma dissimulada mesmo. – ele diz – Ela está se fazendo de vítima e boa mãe e boa mãe par que o Gabe fique do lado dela. Filha da puta.

Observo meu primo mudar.

— Faça o que tiver que fazer, Tati. – ele diz – Mas eu ainda me sinto mal pelo Gabe e pela decepção que está por vir. E quando ele souber que eu sempre soube de tudo vai sobrar para mim. E vai sobrar feio. – ele suspira – Meu amor vai sofrer. Tadinho.

— Não mais do que já sofreu, Eno. – digo – E estaremos lá por ele.

Ele concorda e continuamos a conversa de modo mais ameno.

Flashback off.

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E agora estamos todos reunidos todos aqui reunidos, menos Enzo e Gabe. Na verdade, Eno nem ficou muito conosco e acabou se enfiando em seu antigo quarto até meu irmão chegar e subir atrás dele.

Comprei algumas garrafas de champanhe e pedi para minha tia deixa-las preparadas. Ela sabia o que eu ia fazer e apesar de não concordar com o momento e o meu método não se opôs.

Observo meu irmão e Eno descerem a escada rindo e cochichando. Eles possuem um nível de intimidade um com o outro que é impossível de explicar e se eu realmente acreditasse em alma gêmea diria que vejo um par bem na minha frente.

Peço discretamente para minha tia me ajudar a distribuir as taças e chamo meu pai.

— Paizinho, você gostaria de dizer algumas palavras, por favor?

Ele fica surpreso, mas pega a garrafa e diz:

— Estou surpreso... – ele sorri – Mas realmente eu quero brindar. – ele olha para Gabe e seu sorriso se amplia – Ao meu filho, quero que você saiba o quanto estou orgulhoso nesses últimos tempos pelo tanto que você amadureceu nos negócios, na vida pessoal, o quanto me orgulho em ser seu pai, sócio e amigo. – meu pai estoura o champanhe e caminha até Gabe – parabéns pelo restaurante e muito sucesso, filho!

Eles se abraçam e todos aplaudimos.

— Obrigado, pai e a todos vocês. – Gabe agradece com lágrimas nos olhos.

Decido que chegou a minha vez de falar:

— Eu também gostaria de dizer algumas palavras. – e olho para todos até pousar sobre Vera – Quero parabenizar meu irmão e desejar muito sucesso nesse empreendimento! – sorrio sincera para ele – eu sei que você vai fazer funcionar até atingir a perfeição. – faço uma pausa – E também quero acrescentar algo a mais.

Meu semblante torna-se sério e sombrio.

— Há 12 anos atrás, eu tive um namorado, o Rafael, você lembra? – pergunto para Gabe que franze o cenho confuso, mas acena em confirmação. Vejo Enzo se aproximar e segurar sua mão – Então, numa noite fria estávamos na casa dele e acabamos transando.

— Tati! – meu pai chama – O que significa isso?

— Calma, pai... – digo – E após nossa noite, umas semanas depois eu descobri que estava grávida. – o semblante do meu pai muda – Eu tive enjoos e numa conversa com tia Alice, uma consulta seu ginecologista e exames a gravidez foi confirmada. Ela me aconselhou a chamar vocês para conversar, mas alguém descobriu antes. – eu olho para Vera – Minha querida mãezinha! - minha voz embarga – E como ela disse numa noite... Como foi mesmo, Vera? Ah, sim! Este chá é para fazer o bebê “acomodar” (faço aspas com os dedos) melhor no útero. – algumas lágrimas começam a cair – percebo um silêncio na sala – E eu passei a noite sentindo fortes dores e quando me levantei pela manhã havia sangue na cama.

— Meu Deus! – meu pai exclama horrorizado e seu olhar é de dor.

— Eu a chamei e disse que estava passando mal. – continuo – Então, ela me levou a uma clínica e disseram que eu havia abortado meu filho. Descobri depois que o chá que ela me fez tomar era abortivo... – tomo fôlego – E essa bruxa me deixou lá agonizando de dor... Junto com meu filho! Liguei para tia Alice que junto com Eno me socorreram... – olho para meu irmão – Lembra que eu disse que viajaria com a escola? – ele confirma e lágrimas rolam por seu rosto – Tia Alice e Eno cuidaram de mim nesse período. E sua mãe, nem para ligar e saber e eu estava viva se dignou. Gabe, eu disse um dia a você que a máscara dela iria cair e hoje é o dia. – olho para meu pai – Não dê nada do que você conquistou a ela, pois não é merecido depois do inferno que ela nos fez passar. Tudo o que ela toca apodrece. – olho para Vera – Lembra-se do que voe me disse quando eu fui até sua casa, que nós colhemos o que plantamos? Pois é, esta é minha vingança pelo que você fez a mim e ao meu filho... E quanto você aceitar o Gabe e o relacionamento dele? Mentira, você só quer um aliado para manipular porque é isso que você fez a vida toda. – baixo meu tom de voz – Eu odeio você, Vera!

Um silencio mortal impera no ambiente até que meu pai se aproxima de mim.

— Por que você não me contou antes? – me abraça e choramos juntos – Por quê?

— Fiquei com medo na época da sua reação, mesmo tia Alice me aconselhando a contar... Não consegui. Desculpa, pai.

Ele me solta e olha para Vera.

— Eu vou esmagar você, Vera! – e parte para cima dela.

Meu pai estava com tanta raiva que precisou do meu tio, Enrico e Eno para segura-lo.

Gabe estava imóvel e alheio a tudo que acontecia. Parecia estar absorvendo tudo o que eu disse. Minha tia tentava me acalmar e Aline preparou um copo d’água com açúcar para meu pai.

Quanto a Vera? Ela estava impassível, como se nada tivesse acontecido enquanto meu pai gritava desaforos e ameaças ela juntou seus pertences e se encaminhou para saída e quando passou por mim e disse:

— Você me paga, sua insolente! – e saiu de cabeça erguida não parando nem perto de Gabe.

Meu pai se acalmou após uns berros que meu tio deu para fazê-lo recobrar o juízo. Finalmente o soltam e Eno me olha. Olhamos na direção de Gabe. Ele sumiu.

— Ai meu Deus! – Eno grita – Gabe?! – e corre para fora de casa e eu vou atrás.

Ao chegarmos ao portão ouvimos o barulho de um carro arrancando em alta velocidade. É Gabe.

— GABE! – Eno grita no meio da rua – Volta, amor! Por favor...

— Eno, calma... Ele vai ficar bem. – digo, mas estou apreensiva.

Ele me olha com raiva.

— NÃO VAI! E SABE POR QUÊ?! – ele grita espumando de raiva – Porque ele vai terminar comigo, pois eu prometi não esconder nada dele e escondi isso! E EU NÃO CONTEI, TATIANA! – e aponta o dedo na minha cara – E se ele fizer isso, eu sim acabo com você!

E entra me deixando com a pior sensação do mundo. Eu me sento na calçada e começo a chorar novamente. Choro por mim, por Gabe, por meu pai e pelo meu bebê que nunca teve a chance de nascer. Abraço meus joelhos e choro por um tempo até sentir uma mãe em meu ombro. É Enzo.

— Gata, me desculpe! – ele pede chorando e me abraça.

Ficamos assim até minha tia pedir para entrarmos. Meu pai está nervoso. Nem Rico e nem Aline estão na sala.

— Pai...

— Precisamos conversar, Tatiana! – ele diz sério.

— Eu sei e vamos...

— Mas primeiro quero saber do seu irmão. Onde ele está? – meu pai está bem nervoso.

— Ele foi embora. – respondo.

— Meu Deus, você não tem um pingo de senso, não é? – ele está muito nervoso – Logo hoje que ele estava todo feliz? Você foi inconsequente e agora seu irmão sai por aí feito louco e sem rumo.

— Pai...

— CALA A BOCA! – ele manda – Eno, por favor, tente falar com ele!

— Já tentei e não consegui, tio. Está desligado.

— Ok. – meu pai responde sério – amanhã eu resolvo com você. Por hoje quem me interessa é seu irmão. Boa noite. – e sai pisando duro.

O efeito da minha declaração foi pior que o tsunami. Olho para Eno.

— Sinto muito! – estou arrasada pela culpa.

Ele vem e me abraça.

— Tudo bem, vamos consertar isso, ok? – ele me consola depois que praticamente expulsei Gabe de perto dele.

E eu achando que a noite seria vitoriosa para mim terminou péssima.

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Narrado por Gabriel.

— Não acredito nisso! – soco o volante mais uma vez – Meu Deus!

Eu não acredito no tamanho da atrocidade que minha mãe fez e ainda mais por ser com a própria filha!

Saí um pouco depois dela e a vi entrar num carro escuro. Nem liguei, o sentimento de ter sido manipulado e enganado tem um sabor amargo.

— Como ela pôde? – as lágrimas correm livres.

Aciono o portão da garagem e entro. Nem me preocupo em trancar o carro e caminha em direção ao elevador com a cabeça atormentada.

Hoje era para ser um dia feliz em todos os sentidos e no final foi uma merda. Pelo menos na parte familiar.

— Família é uma bosta mesmo! – resmungo irritado – Ninguém merece!

Entro em casa e sigo direto para o quarto e me deito na cama. O quarto está escuro e então choro a vontade. Na verdade choro por tudo o que não chorei a vida toda, tudo o que aguentei em silêncio, a falta de atenção, as humilhações, os castigos e achei que ela havia me aceitado. Quando eu achei que poderíamos recomeçar do zero e ter uma relação pelo menos amigável a verdadeira face da d. Vera aparece. Que decepção e vergonha!

— Estúpido! – rio da minha inocência – Idiota! Burro! – e me bato – Eu te odeio, mãe! Odeio ser seu filho.

De repente Eno vem a minha mente. Ele sabia? Sabia o que Tatiana tinha planejado e não me contou? A sensação de ser traído vem à tona. Nem nele posso confiar. Mas isso irá mudar, a partir de hoje o Gabriel bonzinho e manipulável deixa de existir.

Levanto-me e vou tomar um banho, pois amanhã tenho que trabalhar e estou cansado. Não ligo o celular. Não quero falar com ninguém.

Tomo um banho rápido e volto a me deitar. Tento esvaziar minha mente, mas as lágrimas teimam em cair e o sono me domina pelo cansaço.

***********

Acordo com a sensação de estar sendo observado e não abro os olhos. No geral, eu acordo tonto de sono e demoro a despertar de vez. Abro os olhos e me deparo com Enzo me encarando.

— Bom dia. – digo sério.

— Bom dia, Gabe.

Eu me levanto e o observo. Pelo jeito ele passou a noite em claro, pois sua aparência é de quem não dormiu. Não quero conversar com ele. Estou me sentindo traído. Caminho até o banheiro e faço minha higiene matinal e finalizo com um banho. Quando saio ele está no mesmo lugar, ignoro-o completamente e vou para cozinha preparar meu café da manhã. Odeio isso, mas não estou com vontade de conversar.

— Gabe... – ele chama. A voz está suave e um pouco rouca.

Não respondo.

— Gabe... Por favor!

Paro o que estou fazendo e o olho.

— O quê?

— Vamos conversar... – seu olhar é triste – Por favor...

Termino o café e sirvo em duas canecas.

— Senta! – ele faz – Pode começar e não tente me enrolar. Não mais. O Gabriel tonto e manipulável acabou. Já era.

— Tudo bem...

— Ok. – mudo a estratégia – Na verdade, quero respostas. Por que você não me contou?

— Ela me fez prometer. – conhecendo-o sei que é verdade – Mas eu pedi a ela para esperar para contar uns dias depois da inauguração.

— Você sempre soube do que houve com ela?

— Sim. Na época ela ficou muito abalada e quase entrou em depressão e numa conversa com minha mãe decidimos não contar e respeitar a decisão dela, apesar de sermos contra.

— Você alguma vez mentiu para mim?

— Não! Nunca, Gabe! – lágrimas caem – Não tem desculpa o que eu fiz, mas você sabe que quando pro...

— Eu sei! – o corto seco – Quando você promete algo, cumpre. Você já me traiu alguma vez?

— Não!

— Não vou mentir, eu estou chateado e me sentindo traído por você. E muito. – suspiro – Eu me sinto traído e feito de palhaço. Ontem era para ser uma noite feliz em família e por uma vingança da minha querida irmã a noite acabou uma droga. E minha mãe – rio amargo – Ou melhor, Vera, que eu achei que poderia conviver em paz teve sua verdadeira face apareceu ontem. Isso porque ela nem precisou fazer ou falar nada. – olho para ele – E o meu namorado, o qual eu achei que não tínhamos segredos um do outro, não me contou nada.

Eu me levanto, coloco minha caneca na pia e me viro para sair.

— Eu estou chateado e triste. – me encaminho para a porta – Vou trabalhar. Por favor, não me ligue e nem vá ao restaurante e peça o mesmo para sua prima. Quando chegar o momento conversarei com ela.

— Tudo bem...

— Eno?

— Sim?

— Eu te amo. – digo – Mas agora estou chateado... – pausa – Só me dá um tempo, ok?

Ele levanta e me olha. Odeio vê-lo chorar e odeio mais ainda não tocar e beijar.

— Gabe... – ele chama enquanto caminho de volta para a porta.

— Sim?

— Você vai terminar comigo?

Realmente eu sou um frouxo quando se trata dele. Dou meia volta e o abraço.

— Não! Isso nunca! – colo minha testa na dele – Mas hoje eu só preciso ficar em paz, ok?

— Ok.

— Vou trabalhar e te vejo a noite. – eu o beijo mais uma vez – Vai tomar um banho e descansar, ok?

Ele dá um sorriso triste e concorda.

— Eno... – chamo quando estou saindo – Quero meu namorado, meu antigo Eno de volta e não esse bebê chorão que está aqui. – pisco e saio.

Hoje o dia promete.

***********************************************************************

P.S: *Estação do Sabor – o nome do restaurante do Gabriel faz uma alusão as estações do ano e os pratos do cardápio possuem nomes que também lembram as estações.

Beleza, pessoal? Espero que sim.

Apenas um comentário que nada tem a ver com o conto.

*VALTERSÓ* - Amigo(se é que vc me permite trata-lo assim), vc está famoso, hein? Incomodou muita gente por aqui e eu ri demais qdo li. Eu sou o contrário, adoro seus comentários e os acho viscerais e já postei isso uma vez. Eu só agradeço por ler meu conto.

Abraços.

Pessoal, agradeço a leitura de todos.

Noite.

D.

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Comentários

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Cara tô de cara com esse capítulo, pelo visto muita coisa vai rolar, a jararaca pelo visto vai aprontar bastante, no final tudo vai dar certo este tempo sem conversar com os outros vai ser bom pro Gabriel, e também melhorar como ser humano é parar de ser enganado. Torço pra Tati é Antunes eles merecem uma novo oportunidade na vida para serem felizes.

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E começa o envolvimento de Tati e Diego... Estou preocupado com Julia tendo que conviver com um "ex" estuprador... Que inconsequência desta Fabíola e tudo por causa de dinheiro... E pensar que existem pessoas assim na vida real... Muito triste!!!! Vera desmascarada e agora sem direito a nada pode se tornar muito mais perigosa... Eles precisam ficar muito mais alerta agora... Principalmente Tatiana que foi ameaçada diretamente pela trevosa... E de quem será esse carro que estava esperando pela 7 peles do lado de fora da casa? Gabe se sentir traído é normal, mas ele tem que pensar que o otário foi ele esse tempo todo. Está na hora de acordar e deixar de ser esse "menininho mimado". Estou com Tati, era a hora de acabar com a farsa dessa demônia antes que ela envolvesse mais ainda o Gabe e arrancasse muito dinheiro (que ela não merece) do Francisco. E Lolito, na verdade a Tatiana chamou a Alice para socorrê-la e não o Eno... Ele apenas deve ter ido junto.

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Só uma dúvida: Foi impressão minha, ou a uma descontinuidade de tempo... Se Gabriel tem 23 anos e Enzo 18, como o aborto de Tatiana foi 12 anos antes, e ela chamou ele? Pelas contas ele teria 6 anos!

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Finalmente a máscara da Vera caiu. E foi até bom pro Gabi pra ele o saber o tipo de mãe que ele tem. Isso vai fazer ele a amadurecer. Ah e perdoa o eno, ele não tem culpa de nada.

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D. MARKS, MEU CARO SINTA-SE A VONTADE PRA SE REFERIR A MIM DA FORMA COMO SE SENTIR MELHOR. AGRADEÇO SEU DEFERIMENTO SOBRE A MINHA PESSOA. DE FATO SOU VISCERAL E NÃO SEI SER DIFERENTE. PRA MIM NÃO EXISTE MEIO TERMO. SOU EXTREMAMENTE PASSIONAL. OU É 8 OU 800, PRA MIM NÃO EXISTE 80. CLARO QUE ISSO NÃO AGRADA A TODOS. MAS REPITO, O CRISTO NÃO CONSEGUIU ESSA FAÇANHA E NÃO SERIA EU A CONSEGUIR. FALEM BEM OU FALEM MAL MAS FALEM DE MIM. MELHOR DO QUE PASSAR EM BRANCO. RSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS BRINCADEIRINHA. MAS ISSO SÃO ÁGUAS PASSADAS. MAS OLHE SE NÃO GOSTAR DE ALGUM CAPÍTULO SEU NÃO TENHA DÚVIDA QUE NÃO O POUPAREI. MAS TUDO DENTRO DOS CONFORMES SEM AGRESSÃO À SUA PESSOA MAS SIM AO QUE EU LER. E ASSIM QUE PENSO. FORTE ABRAÇO.

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VAMOS LÁ. POR PARTES. DE FATP SÓ GABE ESTAVA CEGO EM RELAÇÃO AO COMPORTAMENTO DA MÃE, MAS ISSO É JUSTIFICÁVEL. A RELAÇÃO MÃE-FILHO E TÃO FORTE QUANTO A RELAÇÃO PAI-FILHA. ENZO FOI UM TANTO EGOÍSTA AO RECRIMINAR TATI PENSANDO SOMENTE NELE E NO GABRIEL. O QUE VERA FEZ COM TATI É INOMINÁVEL. TRATA-SE DE UMA VIDA QUE ELA TRAZIA DENTRO DELA. MAS TB ENO NÃO SABIA QUE TATIA IRIA CONTAR JUSTO HJ ENTÃO NÃO PODE SER ACUSADO DE TRAIDOR. O TEMPO DE PELO MENOS UM DIA QUE GABE PEDIU PRA PENSAR NAS ATITUDES DE TODOS FOI JUSTO. A NOITE DE CABEÇA FRIA TUDO VAI SE RESOLVER. VEREMOS O COMPORTAMENTO DA VERA DAQUI PRA FRENTE. CREIO QUE NESSE DIVÓRCIO DE FATO ELA DEVE SAIR COM UMA MÃO ATRÁS E OUTRA NA FRENTE. ESPERO QUE GABE NÃO SE DEIXE ENVOLVER DE NOVO PELO FEITIÇO DA COBRA. EXCELENTE CAPÍTULO. MUITO GOSTOSO LER. FOI ENVOLVENTE.

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