Mistérios Noturnos 01

Um conto erótico de Demitre96
Categoria: Homossexual
Contém 1390 palavras
Data: 17/09/2018 22:30:57

ADDAN STROUGHTON apanhou a xícara sem levantar os olhos do rascunho do testamento que redigira e estava agora revisando-o.

– Odeio quando você faz isso.

Addan olhou para sua assistente, que estava do outro lado do escritório.

– Quando faço o quê?

– Essa sua mania de procurar o café pelo calor.

– Minha xícara e eu temos uma relação muito estreita.

Martha empurrou os óculos sobre o nariz.

– Fico feliz com isso. Se não sair agora, vai chegar tarde para seu encontro das cinco. Addan levantou-se e vestiu o blazer que completava o traje.

– Quanto tempo eu tenho?

– Duas horas e vinte e nove minutos.

Dirigir até Caldwell levará no mínimo duas horas, ainda mais com esse trânsito infernal. Seu carro está esperando na porta da frente.

A chamada por conferência com Londres está agendada para daqui a dezesseis... quinze minutos. O que quer que eu faça antes do fim de semana prolongado?

– Analisei os documentos da fusão da Technitron e não me sinto nem um pouco impressionado – disse, apresentando uma pilha de papéis grande o suficiente para ser usada como peso de porta.

– Mande-os agora por mensageiro para o número 50 da Wall. Quero ter uma reunião com os advogados da parte contrária às sete da manhã. Terça-feira. Diga para virem aqui. Preciso resolver algo mais antes de ir?

– Não, mas poderia me dizer uma coisa: que tipo de sádico marca uma reunião com o advogado às cinco da tarde de uma sexta-feira, véspera do Dia do Trabalho?

– O cliente tem sempre razão. E a questão do sadismo está nos olhos de quem vê – Addan colocou o testamento em uma pasta e recolheu a bolsa Birkin. Enquanto passava o olho pelo amplo escritório, tentou concentrar-se no trabalho que tinha planejado fazer durante o fim de semana.

– Do que estou me esquecendo?

– Da pasta.

– Certo, certo – Addan usou o que restava do café na xícara para engolir o medicamento que vinha tomando durante os últimos dez dias.

Enquanto jogava a garrafa laranja no cesto de papéis, deu-se conta de que, desde domingo, não espirrava nem tossia. Evidentemente o remédio tinha funcionado.

Malditos aviões. Aquelas coisas eram depósitos alados de germes.

– Acompanhe-me – no caminho para o elevador, Addan deu mais algumas ordens com relação à organização enquanto cumprimentava, durante todo o percurso, alguns dos duzentos e tantos advogados e pessoal administrativo que trabalhavam na Williams, Nance & Stroughton.

Martha mantinha-se ao seu lado, mesmo com a carga de papel que levava nos braços. E, afinal de contas, isso era definitivamente o que melhor a descrevia. Independentemente de qualquer coisa, sempre era possível contar com ela.

Chegaram à série de elevadores e Addan pressionou o botão para descer.

– Bem, acredito que isso seja tudo. Tenha um bom fim de semana.

– Você também. Tente descansar um pouco, está bem? Addan entrou no elevador forrado com painéis de mogno.

– Não posso. Na terça-feira temos a Technitron. Vou passar a maior parte do fim de semana por aqui.

Quatro minutos depois, ele estava em sua Mercedes, avançando lentamente pelo trânsito de Manhattan enquanto tentava sair da cidade. Onze minutos depois, foi colocado em uma ligação com Londres.

A chamada por conferência durou 53 minutos e foi bom que o tráfego era como estar em um estacionamento de tão parado, já que a reunião não foi nada bem. O que era bastante comum.

As fusões e as aquisições de companhias bilionárias nunca eram simples; tampouco eram adequadas para os fracos de coração.

Seu pai ensinara-lhe isso. De qualquer forma, foi um alívio desligar e concentrar-se em dirigir. Caldwell, Nova York, ficava a mais ou menos 160 quilômetros do centro, mas Martha tinha razão: o trânsito estava um lixo. Aparentemente todo mundo estava tentando sair da Big Apple pelo mesmo caminho que Addan.

Em geral, ele não precisava dirigir para visitar um cliente em sua residência, mas a senhorita Leeds era um caso especial por várias razões. Além do mais, não era fácil para ela ir ao escritório. Quantos anos ela tinha agora? 91? Jesus Cristo! Talvez fosse mais velha ainda.

O pai de Addan fora seu advogado por toda a vida e, depois que morrera, dois anos atrás, Addan herdara a senhorita Leeds junto com a parte dele na empresa familiar.

Quando ocupou o lugar do pai na mesa dos sócios, converteu-se no primeiro Homem gay na história da Williams, Nance & Stroughton a sentar-se no conselho. E ele merecia isso, apesar do que dizia o testamento de Walter Stroughton. Era um advogado fantástico especializado em fusões e aquisições.

Poucos, muito poucos o superavam. A senhorita Leeds era sua única cliente de bens e investimentos, exatamente como ocorrera com seu pai. A idosa tinha uma fortuna beirando os duzentos milhões de dólares graças aos investimentos que sua família fizera em diversas empresas, todas representadas pelo escritório WN&S.

Essas participações eram a base dos dois ali presente. A senhorita Leeds acreditava em continuar trabalhando com o que era conhecido e sua família cuidava do escritório Ou, traduzindo: um especialista em fusões e aquisições fazendo um trabalho de bens e investimentos para uma aspirante ao asilo de senis.

Acredite ou não, a matemática da interação era demais. O testamento e os bens que ele descrevia eram bastante fáceis de serem administrados uma vez que se estivesse familiarizado com eles e, em comparação com a maioria dos clientes corporativos que Addam tinha, a senhorita Leeds era bem fácil de se tratar. Além disso, a mulher era excelente para os negócios quando o assunto era o seu testamento.

Revisava os beneficiários da mesma forma que algumas pessoas, especialmente de sua idade, praticam jardinagem. E não reclamava em pagar os 650 dólares por hora que Addan cobrava. A senhorita Leeds estava constantemente revisando a quantia de seu patrimônio destinada à caridade, cultivando aquela seção, excluindo e remanejando os beneficiários cada vez que mudava de opinião.

Addan tinha negociado as últimas duas alterações por telefone, de modo que, quando a senhorita Leeds lhe pediu um encontro pessoal, havia motivos para fazer uma visita rápida. Se tivesse sorte, seria rápido.

Addan tinha ido apenas uma vez à casa dos Leeds, logo depois da morte de seu pai, para se apresentar. Tinha se saído bem naquele encontro.

Evidentemente a senhorita Leeds já tinha visto fotos dele por intermédio de Walter e certamente tinha aprovado sua “elegância ”.

O que era uma piada. Embora fosse verdade que as roupas fazem o homem e a mulher – e o guarda-roupa de Addan estivesse cheio de trajes conservadores com calças estilosas -, aquilo era simplesmente superficial.

Ele tinha a cabeça do pai para os negócios. A cabeça e um pouco da agressividade. Podia parecer um doque com suas roupas e sapatos caros mas, em seu interior, era implacável.

A maioria das pessoas captava sua verdadeira natureza uns dois minutos depois de conhecê-lo e não só porque ele era ruivo. Mas era bom que a senhorita Leeds estivesse enganada. A idosa era da velha guarda e, portanto, fazia parte de uma geração em que mulheres de respeito não trabalhavam, muito menos como advogadas em Manhattan.

Francamente, Addan tinha ficado surpreso com o fato de a senhorita Leeds não ter procurado um dos outros sócios. A questão é que eles se davam bem na maior parte do tempo. Até agora, o único inconveniente na relação tinha ocorrido durante o primeiro encontro cara a cara, quando Leeds havia lhe perguntado se ele era casado.

Addan definitivamente não era casado. Nunca tinha sido e não estava nem um pouco interessado em sê-lo. Não, obrigado. A última coisa que precisava era de um homem opinando sobre o horário avançado em que ele quase sempre deixava o escritório, dizendo-lhe que ele trabalhava demais, ou onde eles deveriam morar, ou perguntando o que teria para jantar nesta ou naquela noite. Eliza Leeds, todavia, era obviamente da opinião de que “você é definida pelo tipo de homem que tem ao lado ”.

Por isso, Addan tinha se preparado antes de lhe explicar que não, não tinha marido. A senhorita Leeds pareceu assustada, mas logo se recompôs e passou rapidamente à pergunta sobre um noivo. A resposta foi a mesma. Addam não tinha, nem queria um noivo, tampouco tinha um animal de estimação. Fez-se um longo silêncio. Então a mulher sorriu, fez um breve comentário – algo como “Deus, como as coisas mudaram ” -, e ali morreu o assunto. Ao menos, por enquanto.

Continua....

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