Coração Ferido - Capítulo XL

Um conto erótico de William28
Categoria: Homossexual
Contém 4157 palavras
Data: 14/09/2018 16:58:22

Turim amanhecia úmida naquela manhã. Estávamos na primavera, ou melhor, no final dela, os primeiros ares de verão pareciam estar atrasados. Da sacada do meu quarto era possível ver os alpes ao longe na fronteira com a Suíça lá ao longe. Podia quase sentir o cheiro da neve acumulada no cume lá no alto, era uma excelente vista complementada com uma panorâmica da cidade que começava a acordar que eu sentiria falta, ou talvez não.

Eu estava há mais de 5 meses em Turim e me preparava para retornar ao Brasil na semana seguinte. O último pilar em solo argiloso havia sido finalizado e minha permanência na empresa já não era. Pela minha mente passava uma retrospectiva de tudo o que passei aqui nos últimos meses e uma certa saudade já me incomodava. Não seria difícil voltar ao Brasil, mas seria difícil deixar para trás algumas pessoas que conheci.

- Bom dia Fabrício - olhei para trás e mama Enola estava parada sorrindo para mim. Ela usava sua camisola e Marcelo estava logo atrás.

- Bom dia mama, bom dia Marcelo - sorri para os dois e me aproximei deles, os dois então me abraçaram.

- Dormiu bem querido? - Perguntou me encarando.

- Sim... - respondi sem graça, a meu ver a mama achava que eu tinha 10 anos ainda.

- Mesmo? - Marcelo me fitou, ele parecia muito com o meu pai.

- Sim...pai - ele revirou os olhos.

- Sentiremos sua falta Fabrício - disse mama Enola toda chorosa.

- Olha pelo lado bom, eu estou indo embora e vocês ganharam um filho - disse a eles que se entreolharam, os olhos de mama brilharam.

- É... - Marcelo comentou, ele parecia animado e preocupado ao mesmo tempo.

Depois do que ocorreu entre Rick e Pablo as coisas mudaram. A faculdade não aceitava violência motivados por homofobia, então Rick foi suspenso por uns dias já que ficou provado que ele ajudou Pablo. Andrei perdeu a bolsa de estudos e o programa de intercâmbio e teve que voltar para Moscou, mas não antes de responder judicialmente pelo ocorrido, foi indiciado por homofobia e tentativa de homicídio, a polícia italiana não brincava em serviço.

O pai de Pablo quando soube do ocorrido veio as pressas visitar o filho e só quando soube de toda a verdade só não foi para cima de Rick por que mama, Marcelo e o próprio Pablo não deixaram e no fim acabaram virando amigos, a meu ver era quase sogro e genro, os dois gostavam de terra e animais. Rick não teve a mesma sorte e apoio. A família dele não aceitou a nova realidade do filho e acharam por bem o deixar de fora da vida deles, resumindo, ele não tinha para onde voltar, então mama e Marcelo o convidaram para ficar morando com eles em Turim já que os rapazes seriam a última turma de intercambistas que seriam recebidos pelos próximos 2 anos e assim mama e Marcelo realizariam um sonho, teriam um filho. Rick aceitou todo emocionado, nem de longe parecia o cara frio, ou melhor, na maioria das vezes parecia um grande ursão com cara de mal, mas era geralmente gentil e ele e Pablo tinham desenvolvido uma estranha amizade, de dia eram amigos, pouco se falavam, mas as trocas de olhares e uma certa cumplicidade eram explícitas e a noite como eu mesmo havia os flagrado uma vez Pablo cavalgava nele enquanto o mesmo usava uniforme de jogador de futebol americano ou em outro caso de cowboy mesmo. Logo os dois se tornariam um casal.

Josh estava mais estranho do que antes, mas me confidenciou que havia se interessado em uma pessoa e que gostaria da minha opinião. Não me surpreendi quando em um fim de tarde em um café onde marcamos ele apareceu com um homem um pouco mais velho que eu, diria uns 32,33 anos e me apresentou como Mateo, seu professor de tecnologia construtiva, era isso! Josh havia encontrado alguém e eu estava muito feliz por ele.

Naquela manhã além da visita matinal ao meu quarto Mama Enola e Marcelo haviam me comunicado que iriamos até Milão para fazer compras para Rick e para nosso último almoço em "família' antes de eu voltar para o Brasil. Eu sabia que eles estavam fazendo isso por mim e eu ficava extremamente feliz já que não tive muito tempo de visitar a parte norte do país.

Ao terminar de me arrumar decido relaxar usando meu notebook. Luciano havia me mandado uma mensagem no whats App querendo conversar, me sento na cama a apoio as costas na cabeceira apoiando-o nas pernas. Quando abro decido logar no Skype e quando Luciano nota que estou online ele logo manda solicitação para vídeo chamada.

- Bom dia Fabrício - cumprimentou ele assim que me viu.

- Bom dia Luciano - dei um sorriso leve.

- Você está bonito - observou e elogiou ele.

- Obrigado, você está meio bagunçado, mas está lindo - a julgar que eram 6 horas de um fuso para outro e que aqui era de manhã ainda então Luciano devia estar dormindo, no Brasil era madrugada.

- Eu cheguei do trabalho a pouco tempo... - justificou ele.

- Sei... - fitei ele que ficou incomodado.

- Fabrício, eu preciso te falar uma coisa - Luciano pareceu ficar tenso do outro lado da tela.

- Pode falar, sou todo ouvidos - respondi tranquilamente, mas eu estava um pouco tenso também.

- Lembra o que a Renata disse no dia em que você me deixou no aeroporto? Sobre eu ter dormido com uma funcionária da empresa que fui ter a reunião - Não tinha como esquecer.

- Lembro, não tem como esquecer né? Foi no dia da sua volta para o Brasil - Confirmei já esperando o pior - o que tem? - Essa era a pergunta.

- Então... - ele ficou nervoso.

- Fala Luciano - incentivei ele.

- Eu dormi com ela - minhas pernas tremeram e adormeceram com essa confissão, ao meu ver ele estava aliviado - foi bom... - comentou, um nó se formou no meu estômago, mas nada mais grave aconteceu, nem minha feição eu mudei.

- Vocês transaram? - Ele confirmou, minha vontade foi de socar ele.

- Fabrício, eu estava há muito tempo sem transar, só na base do 5x1 e com as curtidas virtuais que a gente fazia vai cam... - ele parecia nervoso ao dizer, estava até gaguejando.

- Continua, mas sem gaguejar... - disse friamente.

- Eu estava a ponto de pirar, foi quando viajei e na reunião e vi aquela mulher bonita, me dando mole, se insinuando, trocamos olhares, eu nem precisei chegar até ela, ela veio até mim... - interrompi ele, odiava essas desculpas esfarrapadas.

- E você aproveitou a oportunidade não foi? - Ele me encarou triste pois notou meu sarcasmo.

- Você não sabe como foi difícil para mim deixar a razão de lado, de que alguém que eu amava estava me esperando tão perto e que eu decidi ir para a cama com uma estranha que parecia uma puta se oferecendo para mim - disse com pesar, eu não me comovi.

- Por que puta Luciano? Você pagou ela? E por que não esperou até me ver? - Ele franziu a testa, não entendeu meu sarcasmo.

- Você está estranho, é como se tivesse seco, indiferente com o que eu estou contando a você - respondeu ele com certo rancor.

- Não estou indiferente! - Exclamei - você queria que eu estivesse como? Me escabelando, te xingando ou rindo? Me reponde Luciano? - ele fechou a cara, mas logo voltou a pose.

- Não sei, talvez com raiva, magoado... - Será que ele era idiota?

- Não - respondi seco.

- Você não está com raiva, magoado ou algo assim? - Perguntou parecendo um menino pequeno, pela segunda vez o que me fez suspirar e parar para pensar um pouco.

- Luciano, se toda vez que você fizer merda eu for pirar eu não vou ter paz, simples assim, eu acho que você é bem grandinho já e sabe o peso das suas escolhas e sabe as consequências - ele respirou fundo.

- Mas eu fiz merda e estou tentando concertar - argumentou ele me fazendo respirar fundo.

- Concertar?! Como? Contando para mim quase três meses depois? - Não tinha entendido.

- Sim... - havia uma certa insegurança em sua voz, tratei de mostrar a ele que eu não era burro, ou inocente.

- Luciano, para falar a verdade eu já imaginava que você iria transar com alguém na minha ausência, é um direito seu, todos temos necessidades e também não tinha por que você se guardar, se abster, nós não temos nada, pelo menos ainda não - ele me encarou, respirou fundo mas ficou calado, estava em conflito e tinha notado minha incerteza.

- Eu estava tão tenso e com tanto tesão Fabrício, eu precisava transar com alguém, eu não queria te trair, eu queria muito que fosse você... - ele baixou a cabeça.

- Por que você acha que me traiu? - Perguntei querendo matar ele.

- Por que eu trai! - Respondeu como se fosse o óbvio.

- Ai Luciano... - ele parecia peru para morrer de véspera.

- Você não sabe o tesão que você me dá, mas não sabe como é desejar alguém que está longe, te ver e não poder estar perto, contar como foi meu dia ou simplesmente tomar um café - Luciano parecia chateado, mas eu estava mais.

- Sei sim, mas nem por isso sai transando por aí com o primeiro homem que me desse mole ou o qual me interessasse, simplesmente escolhi assim - respondi seco deixando-o totalmente constrangido e sem jeito.

- Desculpa, não queria te magoar - Luciano talvez não entendia que o fato de trair mesmo sem termos algo sério doía em mim, era quebra de confiança.

- Luciano, o que me magoou e me deixou muito puto contigo foi o fato de você não confiar em mim, essa falta de confiança em não contar que tinha estado com alguém antes de estar comigo é muita falta de consideração sua - ele pareceu ficar mais envergonhado ainda - porra, eu sou seu amigo Luciano, antes de tudo sou seu amigo, não sou só seu amante, ou sou? - Ele arregalou os olhos e deu um soco na mesa, peguei pesado.

- Nunca mais repita isso! Está me entendendo - exclamou com raiva - você sabe que é importante na minha vida, uma das pessoas que mais amo... - interrompi ele.

- Ama como, o amigo compreensivo e sensato que te tira das enrascadas que você se mete e te apoia ou o amigo que você fode quanto tem vontade? Qual dos dois Luciano, eu preciso saber - eu estava magoado.

- Você não entende! Eu sou louco por você Fabrício, por que você está fazendo isso, eu amo você, será que é difícil para você entender isso? - Ele estava alterado.

- Ama?! - fitei ele - ama tanto, mas transou comigo sem camisinha mesmo tendo estado e se relacionado sexualmente com uma outra pessoa duas noites antes, você realmente tem muita consideração por mim, chega a ser lastimável - Debochei, foi a gota d'água para ele que levantou, andou de um lado para o outro do quarto e alisou os cabelos.

- Fabrício, não sei por que você está criando tanto caso com isso, foi apenas sexo! Não teve sentimento! - ele praticamente ocupou toda a cam tela com seu rosto.

- Nossa! Isso me deixa bem mais tranquilo - debochei.

- Eu me importo contigo - argumentou ele.

- Se você se importasse comigo provavelmente não teria feito sexo com outra pessoa, pelo menos não sem preservativo - rebati.

- Eu preciso de sexo, eu sou homem porra! - Berrou ele me fazendo sentir uma pontada no peito, isso era tristeza, com um argumento desse era no mínimo hipocrisia.

- Eu também sou, caralho! - Devolvi com raiva fazendo ele se alertar - nem por isso eu sai trepando, fodendo com todo mundo por que tive necessidade ou por que me bateu tesão - respirei fundo - a meu caro, isso bateu, eu tive várias oportunidades, mas eu tive senso, eu escolhi me abster por que a pessoa que eu gosto estava do outro lado do oceano Atlântico e poderia sofrer se descobrisse, mesmo eu estando a ponto de trepar as paredes com a vontade que eu estou de foder, chupar um pau e cavalgar gostoso em uma pica bem dura - desabafei com vontade, isso estava gritando para sair de dentro de mim - isso me faz homem! As minhas escolhas, minha atitude, e não só o que eu tenho no meio das pernas, se eu fodo mulher ou não, se eu gosto de dar o rabo, isso que você disse para mim é desculpa esfarrapada Luciano, é hipocrisia, você foi por que queria, você escolheu, estava com tesão, estava atraído por ela e foi lá e fez, sem ter o mínimo de consideração por mim, então não venha dizer que você se arrepende - respirei fundo, ele não me encarava - eu só espero que você ter transado comigo sem camisinha não me traga consequências graves, doenças, pois eu não sou só um corpo para os outros aliviarem o tesão, para me usarem, se você está achando que sou isso pode parar - ele me olhou rapidamente, sabia o que eu queria dizer e sabia como doía em mim o que tinha acontecido antes - espero que no mínimo você tenha fodido comigo estando limpo - era pesado dizer isso.

- O que está dizendo, que eu fodi você?! - Ele pareceu debochar.

- Isso mesmo, sua ideia de vim para Turim foi para ter sexo grátis comigo? Não bastava foder a sua amiguinha belga teve que vim me comer? - Peguei pesado, Luciano atirou o copo que estava próximo dele na parede.

- CALA A BOCA! - ele berrou, acho que se tivesse alguém em casa provavelmente teria ouvido.

- Não calo, não mais! - Eu não ia chorar, eu era melhor que isso.

- Qual é o seu problema Fabrício?! - Ele estava vermelho - você sabe que essa nunca foi minha intenção - ele estava ferido, eu feri ele - vira homem! Pare de ser um veadinho afetado e... - interrompi ele.

- O que você disse? - Ele pareceu se arrepender na hora pela gravidade da ofensa.

- Para de reclamar, isso está me dando nos nervos - ele apertou a cabeça com as mãos, parecia um doido, mas o pior, isso era sério, ele me chamou de veadinho e estava preocupado com os seus nervos? - transei com ela sim, transaria de novo com ela e com qualquer outra mulher ou até outro homem se não tivesse me aliviado o tesão, eu não aguentava mais, está me entendendo? - Ele estava ofegante, eu não acreditei que ele falou isso para mim - o fato é que eu amo você, é com você que quero compartilhar minha vida, minha cama, isso quando estivermos prontos, pois acho que nem eu estou - disse incerto aí eu tive certeza que ele estava aproveitando muito bem a minha ausência em Belo Horizonte.

- Eu realmente sou um veadinho, mas isso nunca foi um problema para mim, talvez para os outros sim, mas eu sempre me respeitei, nunca envergonhei minha família - ele então entendeu que tinha me ofendido, seu semblante mudou rapidamente, passou a mão na testa e me encarou.

- Fabrício... - interrompi ele, sua voz estava embargada.

- Espera que eu não acabei, você vai ouvir, está me entendendo? - ele me olhou e pareceu ver que fez merda - eu tinha minhas dúvidas quanto a sua fidelidade, mas peraí, nós não temos nada, não é mesmo? - Bati com a mão na testa, eu também sabia debochar e machucar, eu matava na unha - você deve estar aproveitando aí, não está? - ele engoliu em seco.

- Eu... - ele se calou e baixou a cabeça.

- Quem cala consente - ela olhou e negou - pelo menos agora eu não vou mais me preocupar com você sozinho aí, você deve estar dormindo bem acompanhado, não sei nem por que veio foder comigo aqui, para que gastar tempo e dinheiro comigo Luciano, ainda mais eu, um veadinho afetado - ele me encarou.

- Eu não fui te foder e você sabe disso - vociferou - me desculpa, eu não quis te ofender desse jeito, mas você... - ele pôs a mão na cabeça.

- Você quis me ofender sim, estava entalado e você deixou sair - respondi.

- Não, assim como não fui só te foder... - Ele parecia desesperado.

- Foi, e eu na carência deixei você me usar de tudo quanto foi jeito, que nem... - me calei, ele deu um tapa na mesa, seus olhos estavam quase saltando do rosto, foi impossível não lembrar de um certo alguém - agora que eu sei o que você pensa de mim eu fico mais tranquilo, aliás, você deve ser muito machão né Luciano, passando a piroca em tudo que vê pela frente - ele revirou os olhos, Luciano era macho, mas não sabia se comportar como um homem.

- Tanto sou que eu sou seu MACHO! - Exclamou.

- Será mesmo? - Pus em dúvida isso fazendo ele abrir a boca surpreso, eu queria me divertir as custas dele também.

- Como assim? - Perguntou preocupado.

- Eu não tenho por que me segurar e usar de bom senso mais, eu também vou sair e me divertir, é só sexo, o que pode acontecer, eu não te cobro nada e você não me cobra também, ainda somos só amigos e... - Ele me interrompeu.

- Fabrício - vociferou - se eu souber que você está transando com outro homem aí eu vou... - interrompi ele.

- Vai fazer o que?! Vai me bater, me tratar feito um veadinho afetado? - Alterei a voz deixando-o assustado - você não vai fazer porra nenhuma! - Exclamei - não tem o direito de me cobrar fidelidade, eu sou homem também, tenho o mesmo direito que você, já que é só sexo eu vou fazer muito e nem você e nem ninguém tem nada a ver com isso - Ele engoliu em seco - chegando ai a gente vê se vai dar certo - comentei incerto.

- Se arrependimento matasse... - ele falou baixinho.

- Concordo contigo... - respondi em alto e bom tom - da próxima vez tenha a decência de me contar, aliás, só se você vier me foder... - Ele me olhou, seus olhos estavam dilatados de raiva.

- Não vai haver próxima vez com ninguém, só com você - ele engoliu em seco - eu aprendi a lição, está satisfeito - agora é como se eu fosse o errado ou era impressão minha.

- Não me importo mais, vou sair e me divertir, você pediu, ou melhor, bobo fui eu achando que você ficaria em casa... - ele sorriu em escárnio.

- Acho melhor pararmos essa conversa aqui - disse com a voz mais calma - tem coisas ditas que não se pode voltar atrás... - Ele tinha razão, nesse momento eu queria dizer muitas coisas, mas não valeria a pena.

- Você tem razão... - respirei fundo.

- Quando é que você viaja de volta para cá? - Perguntou com uma certa tristeza e frieza na voz tentando mudar de assunto.

- Quinta que vem - respondi sem encarar ele - até lá acho que é melhor não conversarmos, vamos dar um tempo, foi falado muita coisa hoje, agora eu preciso ficar sozinho...é bom você ficar sozinho também... - Ele me olhou chateado.

- Eu estraguei tudo, eu e minha boca grande e meu pinto... - tive que rir.

- Não, você está no seu direito... - olhei para ele, parecia que seus olhos estavam maiores, mas eram por que estavam molhados.

- Eu não quero te perder Fabrício... - sua voz embragou, tive certeza do seu choro quando grossas lágrimas começaram a rolar de seu rosto.

- Luciano... - tentei argumentar, mas quando ele começava era difícil se calar.

- Está difícil demais não ter você aqui porra! - ele então começou a chorar, não um choro forte, mas era visível, homens grandes e emotivos descendentes de italiano, eu mereço mesmo... - Eu tenho desejos que nem sempre uma webcam consegue resolver, não me aponte o dedo, me entenda e não me cobre, você não sabe como é difícil depois de uma foda pensar em você aí e saber que eu estou sozinho aqui - olhei para ele sem reação, essa desculpa esfarrapada não iria colar ou iria?

- É só não foder, ou se fizer não pensar em mim - respondi seco.

- Por favor, não me cobre - ele limpou o rosto.

- Não estou te cobrando nada Luciano, ou melhor, estou, confiança, você é meu amigo, é sua obrigação avisar que você está transando com outras pessoas... - ele me encarou um pouco mais calmo - Luciano, nós fizemos bareback, e não usei camisinha por que confiei em você - era verdade, eu sabia por onde andava, me garantia, mas e Luciano.

- Eu sei, foi vacilo - justificou ele.

- Foi burrice, minha e sua - disse seco - a partir de agora eu vamos usar camisinha, pelo menos até fazermos exame de sangue - ele me olhou de olhos arregalados.

- Por que diz isso? - Perguntou.

- Por que é o certo Luciano, não vou mais me descuidar, assim como você não deve se descuidar também - ele coçou a cabeça - aliás, faça um exame de sangue, eu terei que fazer um também - era o mais sensato a fazer.

- Vamos deixar rolar Luciano... - falei indiferente, não queria mais insistir nisso, além do mais eu o amava.

- Se te serve de consolo eu gozava pensando em você... - ele me encarou sério, provavelmente isso era verdade, mas ainda assim me causou um pouco de nojo, ele podia ser bem melhor que isso - só em você - deu ênfase em você - aí foi ofensivo demais, ele tinha que ouvir.

- Sabe Luciano, a merda já foi feita mesmo - ele me olhou sem entender - não trate quem te da prazer como um objeto, se você está com a pessoa o mínimo que deve fazer é estar com ela 100%, foi você que procurou, então saiba resolver isso e não me ponha no meio de suas transas casuais, dos seus casinhos corriqueiros, você não tem esse direito, pelo menos da próxima vez tenha a consideração com o parceiro ou parceira e de tudo de si a eles, mas com eles, sem pensar em mim - ele concordou.

- Não vai haver próxima vez com ninguém, a próxima vai ser contigo - disse manhoso, mas autoritário - eu sou seu homem porra! - sua voz grossa me dava arrepios - e você é o meu... - interrompi ele.

- Veadinho - respondi com ironia fazendo ele fechar a cara.

- Não! - Exclamou tentando concertar o estrago - você é meu melhor amigo, meu companheiro, com quem eu quero dormir e acordar ao lado todas as manhãs, passar os melhores momentos da minha vida, dividir, respeitar e transar muito até dizer chega, está me entendendo - dei um risinho sem graça, mas eu sabia que era verdade.

- Vamos falar disso outra hora - tentei cortar o assunto, estava ficando cansativo.

- Fabrício, eu te amo - olhei para ele, sua feição estava triste, preocupada.

- Eu sei que me ama - evitei falar o mesmo, não por que achava que era mentira, mas por que eu estava chateado e não gostava de dizer determinadas coisas estando chateado.

- Por favor... - ele suplicou.

- O que? - Ele coçou sua barba o deixando com aspecto fofo.

- Só não vai fazer merda... - insegurança, era legal demais ver Luciano com esse sentimento.

- Quem costuma fazer merda é você e o meu irmão Guilherme - respondi ácido - bom, agora vou indo, boa madrugada para você... - ele meneou a cabeça.

- Bom dia meu amor... - isso foi estranho, ser chamado assim me dava um pouco de medo ainda - por favor, me chama também... - eu queria judiar dele, meu coração apertou.

- Não vá fazer merda e se cuida aí... - ele sorriu sem graça, não ouviu o "eu te amo" que ele queria.

- Quem sabe... - ele arregalou os olhos - estou brincando Luciano, não sou você, eu sou adulto e sei o que minhas escolhas - ele deu um risinho e então finalizei a chamada e caiu de costas na cama.

A conversa que não saiu como eu queria, falamos muita coisa um para o outro, a discussão foi desnecessária, mas saber que ele andava transando com outras pessoas era pior ainda, por que por mais que eu tivesse e tesão acumulado e não quisesse assumir nada com Luciano enquanto eu não resolvesse minha vida ele não tinha o direito. Esse pensamento podia ser egoísta, mas eu o amava e para mim o que ele fez me deixou meio abalado.

- Vamos Fabrício - bateu Josh que botou só a cabeça para dentro do quarto - o Marcelo está apressando a gente para não perdermos o trem - ele revirou os olhos e eu ri.

- Vamos... - me levantei e deixei o notebook em cima da mesa, peguei minha carteira e celular e sai acompanhado de Josh - eu espero que esse passeio me renda umas boas lembranças - Josh me olhou meio risonho.

- Vai sim... - disse ele me abraçando de lado - vamos nos divertir muito - ele me olhou e estranhou.

- O que foi? Tem algo errado com minha roupa - Perguntei.

- Cadê sua mala de mão, o Marcelo não avisou que só voltaremos na segunda feira?! - arregalei os olhos.

- Como assim?! - Estranhei.

- Nós vamos até Veneza Fabrício - seus olhos brilharam - teremos 4 dias para visitar as 3 maiores cidades do Norte, não é o máximo? - Ele estava bem mais empolgado do que eu.

- É... respondi apreensivo - vai ser o máximo... - Josh não notou o sarcasmo na minha voz.

- Vai lá que eu os aviso, mas não demore - disse ele.

- Obrigado... - Voltei ao meu quarto e rapidamente arrumei uma pequena mochila com peças de roupa e meus produtos de higiene. Quando fui pegar meu celular vi que tinha uma mensagem do Luciano: "me perdoe", olhei atentamente e então botei o celular no bolso, não era hora para aquilo, eu iria me divertir custe o que custar.

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Comentários

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Ótimo conto. Nota 10. Dê uma lida na minha série: "EU, MINHA ESPOSA E MEU AMIGO DA ADOLESCÊNCIA"

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O Luciano continua do mesmo jeito bem machista....

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