Eu e os três, A.B.O. que eu não sabia - pt23-B

Um conto erótico de Hubrow
Categoria: Homossexual
Contém 5201 palavras
Data: 11/09/2018 21:31:34
Última revisão: 17/09/2018 08:21:05

Era muita vontade de estar comigo: Marcelo iria suspender sua rotina diária de estudos e ainda passearíamos no carro presenteado pelo pai, e que justamente por causa disso ele deixava sem uso na garagem do prédio. Conviver com Marcelo tinha destas surpresas: mantinha uma disciplina bastante rígida mas, de repente, sem qualquer razão aparente, saía do eixo. Mais ou menos como o paradoxo de suas ideias frente ao próprio comportamento: era reservado, contido, calado, e surpreendia com inesperadas concepções sobre sexo e mesmo sobre relação a dois, tendo em vista a liberalidade com Otávio e Rodrigo. Mais ainda: naquela tarde, eu ficaria sabendo que seu passado em nada, absolutamente em nada, coincidia com a imagem de sobriedade e de quase nerd que ele sugeria (e que, em realidade, nunca me convenceu).

Deu-me um tapa carinhoso na bundinha, dizendo que ía tomar uma ducha e sairíamos logo, para aproveitarmos o finzinho da manhã. Quando tomava a direção ao corredor, deu meia-volta e me pegou de chofre. Deu um beijo, me agarrando com força. Quando finalmente me soltou, eu já quase sem fôlego, disse, sorrindo:

– Você é a melhor coisa da minha vida.

Como agora se tornara rotina, eu sabia que ele se despiria e deixaria o short, a camiseta e as meias mais ou menos dobradas na poltrona do quarto, para que eu as lavasse. Era coisa rápida, porque eu passava um sabãozinho de nada, mais para tirar o suor do que qualquer outra coisa, enxaguava e as punha para secar. As meias eu só lavava depois, junto com o resto das roupas dele. Antes de a tarde cair, short e camiseta estavam secos, por serem de tecido sintético.

Eu tinha adorado aquela mudança, de ele fazer a corrida apenas após cumprir os compromissos na universidade e vir para casa em seguida, não mais usando as duchas do ginásio do campus. Era justamente por perceber como eu gostava que ele fazia questão de me abraçar ao retornar: para que eu sentisse seu suor.

Não gosto de homem fedorento; nunca gostei. Para muitos, dá tesão; a mim, não. Mas o suor de Marcelo era gostoso, suave; não era ruim. Provavelmente porque ele saía de casa de banho tomado, cheiroso, e retornava ainda antes do almoço. Creio que nem a bicicleta nem a corrida fossem capazes de tirar o frescor de seu corpo. Ou, talvez, eu achasse isso tudo simplesmente porque estava apaixonado: se o bonito lhe parece e ficamos cegos, possivelmente para mim o suorzinho recendia a um jardim

No carro, ele perguntou se Otávio havia demorado muito em sua volta ao apê. Não respondi, desconversando sobre para onde estávamos indo. Ele não quis revelar nosso destino, fazendo um ar maroto e divertindo-se ao me impor um jogo de adivinhação. Conclui que me levava para um restaurante de peixes, num bairro muito distante, à beira da praia, e que só voltaríamos mesmo ao entardecer. Enquanto dirigia atento, eu o olhei por um tempo e pensei no quanto era bom estar ao seu lado. E, mantendo a atenção na direção, ele parecia pensar o mesmo. Era bom estarmos juntos.

Marcelo gostava de fazer desses agrados e quando me deixava feliz parecia mais feliz do que eu mesmo. Nesse início da viagem, tive de dissimular meu real estado de espírito: embora me contagiasse com o bom humor dele, eu estranhamente não deixava de me sentir culpado. Como se, pela primeira vez, eu tivesse sido infiel. Repetia para mim mesmo que não fazia sentido, já que ele não via minhas trepadas com Otávio e Rodrigo como traições. Mas, se ele não via assim e se não fazia sentido aquele meu sentimento, por que eu me sentira desconfortável em responder sua pergunta? Por que eu omitia que Otávio havia me comido? Por que eu quis tirar a gala de dentro de mim? Era porque fora uma trepada a sós? Mas ele sabia que há meses Otávio me comia a sós!

– Você dirige bem. Nem parece que não tem muita prática – comentei, quando já estávamos na estrada que nos levava ao outro lado do município.

– Você e essa sua mania de tirar conclusões do que eu não disse... – respondeu, risonho. – Quem disse que eu não tenho prática?

– Ah, você dirigia antes...?

– Antes e agora também. O cara sempre me dá o carro pra dirigir.

– Que cara?

– O cara, qualquer cara. Quando tem carro, lógico.

Fiquei sem graça. Ele falava de outras relações.

– Que foi? Zeca... Eu não sou virgem. Já comi outros caras. E eles sempre deixam a direção comigo – e sorriu, desviando o olhar da estrada.

– Eu sei.

– Então, porque ficou assim emburradinho?

– Ah, não sei... Não fiquei emburrado. Fiquei sem graça, só.

– Sem graça?

– Não esperava essa resposta. Foi isso. Mas nada demais não – sorri, sendo sincero.

– Zeca, Zeca... Vou te falar uma coisa... Não vai cair duro?

Eu ri.

– Teu homem já foi michê, inclusive.

– Michê?

– É. Puto. Prostituto. Garoto de programa. Escort.

Fiquei calado. Abobado. Ele pareceu esperar essa reação, me dando tempo para processar o que havia revelado.

– Você tá falando sério? – foi só o que consegui dizer.

– Te falei que quando cheguei aqui tinha pouco dinheiro. Não sabia fazer muita coisa. Só fuder.

– Isso é sério, Marcelo?

Sorriu, comedido.

– Foi sem querer, na verdade.

– Como assim, sem querer?

Então, contou-me que, ainda na viagem de mudança, quando saiu brigado da casa dos pais, tinha feito por dinheiro pela primeira vez. Numa parada do ônibus, estava no banheiro urinando quando um sujeito passou a descaradamente olhar para sua pica, o que, aliás, era perfeitamente compreensível. Ele afastou-se do mictório, para facilitar a visão, e o homem foi se aproximando. Pegou em seu pau quando dava as sacudidas para livrar-se das últimas gotas e já se iniciava uma ereção, coisa que com ele não era muito difícil. Marcelo teve a ideia de obter algum pagamento quando o cara se abaixou para abocanhá-lo, ali mesmo no meio do banheiro.

– Zeca, eu tinha muito pouca grana. Qualquer economia era economia. E eu estava com fome. Pode parecer exagero, mas se eu economizasse naquele lanche, já era um ganho. Miséria mesmo – e riu. – Então, desviei levemente o pau quando ele ía pôr a boca e perguntei se podia me pagar um lanche quando a gente saísse dali. Eu estava numa de esmola mesmo... Ele aceitou.

– E te chupou assim, no meio do banheiro? Ninguém entrou?

– Não. Levei pra uma cabine. Mamou bem, engoliu tudinho e cumpriu o combinado. Só quando chegamos à rodoviária, já aqui, é que percebi que ele estava no mesmo ônibus que eu. E olha que nem eram muitos passageiros, não... Eu estava muito cansado, preocupado. Tinha saído brigado de casa, quase com uma mão na frente e outra atrás, sem plano nenhum. Minha cabeça estava em tudo, menos no que se passava a minha volta.

– Nem parece você.

– Eu tinha 18 anos... E a situação com meu pai estava no limite – fez uma pausa. – Ninguém é forte o tempo todo, Zeca.

– Mas então foi essa a sua experiência como michê?

– Não. Imagina...

Sorriu, e novamente me olhou.

– Você tá namorando um putão.

Fez uma pausa.

– Namorando não. Você é mulher de um putão.

– Putão?

– De cada três passivos que você encontrar, um eu já comi – e desatou a rir. – E só não são dois porque não fodo desde que peguei você pra mim!

Era difícil vê-lo soltar uma risada tão gostosa. Marcelo era de gestos sutis, expressões contidas, silêncios significativos. Mas havia momentos e momentos. Quando assistíamos a uma boa comédia, relaxava e soltava gargalhadas assim. Aí, me agarrava, me puxava para si, ainda rindo, e às vezes dava um beijinho, como se quisesse comemorar comigo aquele momento de relaxamento. Como se aquele momento só existisse porque estava comigo. Na cama, o mesmo processo se dava quando ele ía chegando à plenitude do prazer com meu corpo. Gradativamente, eu percebia que parecia estar sendo tomado por um animal, até que me apertava e me metia sem dó, quase violento. Também me agarrava com muita firmeza, me dava uns beijinhos, como querendo que eu sentisse aquele gozo com ele, como se quisesse compartilhá-lo comigo. A delicadeza daqueles beijos contradizia o furor do cacete que entrava fundo como se apenas anunciasse a entrada do corpo inteiro de seu dono. “Só você me liberta, Zeca”, uma vez me disse.

– Deixa eu contar – continuou. – Ele veio puxar conversa, eu disse para onde ía... Uma hospedaria, indicada por um sujeito da minha cidade. Tinha morado aqui um tempo e voltou, porque não conseguiu emprego nem nada. Então, esse cara me propôs passar a noite com ele. Propôs um dinheiro. Era quase a metade do que eu já tinha; parecia caído do céu.

Ficou em silêncio. Fez uma expressão muito séria, as sobrancelhas franzidas, sem me olhar.

– Eu estava muito mal. Sozinho. Sabe essas vezes que você duvida de você mesmo? Que está com toda a certeza, com toda a força, e de repente parece que perde o equilíbrio e por um minuto tudo parece muito mais difícil do que é?

– Não parece você, Marcelo.

– Eu não sou super-homem, Zeca.

Olhou para mim, deu aquela inclinadinha de cabeça e sorriu, voltando-se para a estrada.

– Ele era gostoso, pelo menos?

– Não fazia muito meio gênero. Mas tinha mamado bem. Imaginei que fosse uma boa cama também. E foi mesmo.

Pausou.

– Ele não soube, mas foi muito mais do que isso pra mim, naquela noite.

– Mais do que a grana?

– Bem mais.

Balançou levemente os ombros, como que mudando de tom, no que acompanhou sua voz:

– E aí começou minha carreira de puto.

– Você começou a transar com homens a partir daí, então.

– Não. Muito antes... O primeiro que comi foi um garoto da minha rua, aos onze. Depois, vieram uns outros, e as mulheres também. Quando peguei uma mulher pela primeira vez, aos 15, já tinha comido uma boa quantidade de garotos, de coroas. Enfim, feito muito anal. A mulher foi uma amiga da minha mãe.

– Sério?

– Era uma mulher atraente, enviuvou cedo... Minha mãe nunca ficou sabendo. Foi um clima um pouco “Houve uma vez um verão” – disse, referindo-se a um filme que havíamos visto em seu quarto, e do qual ele gostava muito.

Do nada, começou a rir.

– Na verdade, estou inventando... Romanceando... Não teve nada a ver com “Houve uma vez um verão”. Eu já era bem safado quando comi ela.

– Foi bom?

– Ótimo. Repetimos muitas vezes. Até meus 17. Eu gostava, mas aí eu já tinha concluído que gostava de passivos mas que preferia que fossem homens. Passivos homens, não mulheres.

– Mas e aí? O que aconteceu com esse cara da rodoviária? Vocês ficaram juntos?

– Não. Tinha sido só um lanche, uma ninharia. Mas ele me encarou como um puto mesmo, e não um cara que estava desamparado e apenas estava pedindo ajuda. Eu era um puto, um michê barato. Não me levou pra casa dele. Ficou desconfiado; preferiu me levar pra um motel. De manhã, foi muito cortês, tomamos o café juntos e me deu o cartão dele. Disse que não teria como me encontrar, e que então eu ligasse para combinarmos um outro programa. Eu nem o celular tinha trazido. Não quis. Tinha sido comprado com o dinheiro do meu pai.

– Sério?

Ele sorriu.

– Tudo você pergunta se é sério... Está tão espantado assim?

– É que você me surpreende.

– Bom, vou surpreender mais, então.

Continuou a contar. Passou a fazer programas para esse sujeito, que lhe apresentou a outros e, logo, estava com uma boa carteira de clientes. Também, um garoto com aquele picão, aqueles 1,92m, o jeito de macho e sendo bom de cama, como não teria? Ganhou um bom dinheiro; saiu da vaga onde morava e alugou um quarto em uma casa de família onde, obviamente, ninguém sabia de seu trabalho. Ficou assim pouco menos de um ano, até que um dos clientes lhe propôs que morasse com ele.

– Ele te bancou?

– Sim. E bancou muito bem, porque me tinha como um troféu. Garoto novo, caralhudo, ativo... Era cheio de amigos, frequentava a cena gay. Me levava a todos os lugares, me exibindo. Aquela história típica: banho de loja, perfumes importados, o melhor celular...

– Marcelo, difícil acreditar que você viveu isso...

– Foi uma boa escola. Aprendi muito. Compreendi mais as coisas depois, quando me tornei amigo do Orlando.

– Que coisas?

– Como vocês funcionam.

– Vocês quem?

– Vocês.

Mudou o tom:

– Foi aí que entrei para o jiu-jitsu. Ele quis que eu fizesse academia. Ficar sarado, entende? Até fui; afinal, ganhava uma boa grana e vivia muito bem; ele pagando tudo. Mas, depois de dois meses, ele mesmo concordou que eu deveria sair. Viu que eu estava descontente. Acho que ficou com medo que eu arranjasse outro coroa pra me bancar.

– Ele era coroa?

– Sim. Tudo muito típico, não?

– É.

– Propus então o jiu-jitsu, já que ele queria que eu praticasse alguma atividade física.

– Bom, ele devia gostar de você; queria o melhor pra você.

– Não, não foi bem isso. Ele queria que eu me mantivesse em forma, pra estar sempre gostoso pra ele. Afinal, era pra isso que me pagava, certo?

– Você fala de um modo... Não parece você.

– Eu sou prático, Zeca. Não desgostava dele, mas ele também não era assim como você está imaginando. Não era afrontoso, mas me via realmente como propriedade dele, como parte de seu patrimônio.

– Agora mesmo que não te reconheço. Você, propriedade de alguém?

– Era uma forma de pôr minha vida em ordem. Tudo tem seu preço. O meu foi alto, tanto pra mim, que tive de baixar a cabeça, quanto pra ele. Se bem que, o que gastava comigo não fazia falta. Gastou muito. Era mão aberta, já que eu fazia muitíssimo bem o meu trabalho. Na cama e fora dela.

– Como assim?

– Já disse. Ele gostava de me exibir. Eu era o troféu dele. Tinha prazer em causar inveja nos amigos, mostrando que tinha um macho. Agora mesmo é que você vai se surpreender... – e me olhou.

– Ah, não... Que foi, agora?

– Eu não usava cueca.

– Você? – fiz uma pausa, risonho. – Essa é mesmo difícil de acreditar.

– Exigência dele. Queria que o volume ficasse a mostra.

– Mas que cara mais...

– Pois é. Mas eu gostava; não me agredia, não. Achava pueril, infantil... Mas eu mesmo era um pouco infantil... Não tinha nem vinte anos ainda; ficava vaidoso.

– Não consigo imaginar você numa roda de gays mostrando o pau assim...

– Eu não disse que mostrava o pau. Procurava ser discreto.

– Difícil você parecer discreto estando sem cuecas.

– Na medida do possível, ficava.

– Sério que você se sujeitou a isso...?

– Zeca, eu era um garoto de 19 anos, sem amigos aqui, sem ter que dar satisfação a ninguém, mas também sem poder contar com ninguém. E então tinha do bom e do melhor em troca de fuder um coroa que na cama fazia tudo o que eu mandasse e ainda por cima era admirado por um monte de caras que ficavam babando por mim. Você acha mesmo que foi um sacrifício?

Eu ri.

– Hoje seria. Na época, não. Fez muito bem ao meu ego.

– Ficou com ele muito tempo?

– Dois anos; quase dois anos.

– Brigaram.

– Não. Roubei ele e fui embora.

– Roubou?

– Roubei.

Fiquei em silêncio.

– Nenhuma fortuna. Mas, pra mim, era um bom dinheiro. Eu já economizava a mesada que recebia. Na verdade, era semanada, e muito boa. Dizia que gastava nisso e naquilo, mas não. Punha numa poupança. Ele devia saber que eu estava fazendo um pé de meia; não era bobo. Juntando essas economias das semanadas com o que tinha economizado antes de ficar com ele, quando estava na pista, e mais o que roubei, deu para alugar um quarto e sala com garantia de poder pagar por mais de um ano. Eu cobrava alto quando fazia programa. Era um michê caro. Fazia sucesso, ia aumentando o valor. Quando foi morar com ele, já tinha uma poupança razoável, dentro do possível.

– Isso não foi certo.

– O que?

– Roubar o cara.

– Zeca... Eu não sou nenhum bandido... Essa já era uma possibilidade embutida na coisa toda. Ele já previa, e deve ter até achado que fui um bandidinho barato. Tanto que, vou te contar...

E riu.

– O que?

– Uns seis meses depois, encontrei com ele por acaso.

– Caralho...

– Numa suruba. Mamou muito, deu a bundinha e ainda queria que eu gozasse na boca dele. Nem falou no roubo. Acho que, se eu desse mole, ia me bancar de novo.

– Sério?

Ri da minha própria pergunta, feita pela vigésima vez.

– Sério. E, imagina, vê se tem cabimento isso numa suruba... Ficou fazendo cara feia pra mim depois, quando me viu com outro passivo.

– Numa suruba? Você ía a surubas?

– Ainda vou.

– Vai?

– Depois que te peguei pra mim ainda não fui a nenhuma. Mas ia. Até você, ia com uma certa frequência. Mas depois dessa tua xotinha, essa boquinha cheia de fome... Você é perfeito, Zeca. Não dá vontade, sabe...

Lembrei-me de sua saídas noturnas, e das vezes que dormia fora. Marcelo participava de orgias!

– Surubas como?

– Suruba, ora, suruba. Um monte de caras transando. Suruba mista fiz só duas vezes, mas não gostei.

Fiquei em silêncio, mas me dei conta de que demonstrar estar escandalizado poderia parecer imaturidade. Falei com certo desleixo:

– Nunca fui.

– Comecei a ir a trabalho mesmo. Surgiu uma proposta, arrisquei aceitar, para ver no que dava, e gostei.

– A trabalho?

– É. Michê de suruba. Depois que fui morar sozinho, virei michê de suruba. Quase não fazia programa individual. Hoje não; não faço mais sendo pago.

Eu ri. Acho que de nervoso. Nunca tinha ouvido aquilo.

– Era contratado para animar as festas, digamos assim.

– Tipo strip-tease, essas coisas?

– Não, claro que não. Você consegue me ver peladão fazendo uma pole dance?

– Sei lá. Você tá me contando cada coisa...

Ambos rimos.

– Mas então você animava como?

– Oferecendo o caralho e fudendo os caras todos até o fim da noite.

Não consegui disfarçar o susto e fiquei em silêncio.

– Você perguntou, eu respondi.

– Não imaginava que...

– Eu falei que era experiente.

– Mas não pensei que tanto.

– Mas sou.

– Devia sair cansado.

– Muito. Era trabalho pesado... – riu. – No dia seguinte, estava um bagaço. Passava o dia na cama. Repousando, quero dizer.

– Mas não entendi como funciona... Se era uma suruba, tinha muito cara. Pra que pagar alguém?

– Muitos caras, mas não muitos ativos. A maioria é versátil, ou passivo disfarçado de versátil. Os caras têm tesão por macho, que nem você tem. Trepam entre si, mas ficam doidos se tem um que é macho. Bofe. Eu era o macho da suruba. Quer dizer, sempre tinha outro, e tal. Mas não como eu. Não com mamada e foda garantida pra todos. Nem com esse caralho que você sabe como é. Nem que conseguisse ficar horas de pau duro sem ter que apelar pra punheta. Nem que goza três, quatro vezes. E era novinho. Simpático, de bom humor. Valia o preço que pagavam.

Fiquei silente de novo. Embasbacado.

– Você perguntou, eu respondi – repetiu, e de novo sorriu.

– Deviam pagar bem mesmo.

– Muito.

– Você ficou nisso muito tempo?

– Uns dois anos, três; dois. Era um serviço pesado, mas não era sempre. Não se faz suruba todo dia. Mas no fim do mês dava para pagar as contas. Quando ficava mais apertado, fazia uns serviços por fora.

– Que serviços?

– Fuder em particular.

Engoli em seco.

– Você pergunta, eu respondo – e fez uma expressão moleque.

– Nesse tempo, estudei e passei para a federal. No meio disso, minha tia morreu. Foi quando voltei à casa dos meus pais pela primeira vez. Então, soube da herança e da condição que ela definiu. Mas eu já estava estudando. Meu pai ofereceu de eu morar no apê. Estava no nome dele, mas era meu, afinal. Daí, parei com essa vida.

– Depois da faculdade não fez mais?

– Pago, não.

– Então, ainda vai?

– Te disse que sim. Faço parte de dois grupos, e ainda tem um terceiro que me chamam e às vezes vou. O Orlando eu conheci nesse grupo que vou mais.

– Como assim, grupos?

– A maior parte dessas surubas é bareback. Em muitas, rola um clima pesado de drogas. Então, você tem que saber onde está pisando. Por isso, é melhor fazer parte de um grupo, um grupo fixo.

– Você faz bareback? Não acha perigoso?

– Eu que te pergunto. Afinal, você faz direto.

– Eu nunca fiz bareback.

– E como você chama o que faz no apê?

Não soube o que responder. Nunca tinha pensado nesses termos.

– É diferente – falei, baixo, depois de um tempo.

– É? Por que você me conhece? Por que conhece Otávio? Rodrigo? Tem certeza que eles não contaminam você? Ou se eu contamino?

– Por que você tá dizendo isso?

Meu tom foi claramente desconfiado.

– Não é isso... Só estou dizendo que o que você faz é bareback...

– Eu sempre fui muito cuidadoso, Marcelo. Sério mesmo.

– Foi. Mas não tá sendo. De qualquer forma, faço exames a cada dois meses. Não só para a AIDS, mas pra tudo. Hepatite C, por exemplo, que hoje é coisa mais grave do que a própria AIDS.

– Caramba... A cada dois meses? Preocupado mesmo, você, hein...

– É norma desse grupo; desse que frequento mais. A gente tem que fazer e compartilhar. Todos têm a senha de todos no site do laboratório. Se quiser, é só entrar, conferir a data do último exame e o resultado. Ninguém tem como esconder nada. O outro grupo também tem regras; é mais ou menos assim. Não faço bareback com maluquice de roleta; de contaminação voluntária.

– Tem isso? – disse, alarmado.

– Rã-rã. Só soube de um; assim, concretamente. Mas volta e meia alguém fala nisso. Não é a minha.

Fiquei um pouco pensativo. Nada daquilo, para mim, depunha contra Marcelo. Mas estava surpreso com ele. E perturbado por estar tão próximo, sem saber, de um mundo que antes me parecia confortavelmente distante.

– Mas... Que organização esse grupo...! Senha, exames... – acabei comentando.

– Tem que ter.

– Quantos são?

– Nesse são uns quarenta. Mas não vai todo mundo junto. Há um rodízio.

– Pra ter variedade, imagino.

– É. Não serem sempre os mesmos caras. Perde o tesão.

– Mas... Esses caras são como? Quero dizer, velhos, novos, ricos, pobres...?

– Eu gosto de diversidade. Tem mais ou menos de tudo. Não tanto, porque bareback assusta, óbvio. Mas é variado. Muitos são soropositivos. A maioria. Eles têm mesmo que fazer exames periodicamente; pra eles, não é nada fora do normal.

– Marcelo, você é maluco? Como...

– Não seja ignorante, Zeca. É mais seguro, hoje, você fazer bareback com um soropositivo do que com alguém que diz que não é. Pelo menos, se você for ativo.

– Mais seguro? Mas, como, se...

– Um soropositivo que responde bem ao tratamento não transmite o vírus. A chance de transmitir é de uma em não sei quantos bilhões.

– Mas pode transmitir.

– Sim, assim como a cada vez que você atravessa uma rua há a chance de um carro aparecer do nada e te atropelar. E você morrer.

– Não é a mesma coisa.

– É.

– Do jeito que você fala, parece que é ótimo ser soropositivo.

– Não diga uma estupidez dessa.

– Mas é o que parece, Marcelo!

– Você não convive com soropositivos, por isso está pensando assim. Depois que o tratamento começa a fazer efeito, e isso tem vezes que demora, um cara que tem HIV leva uma vida normal, com a diferença que não pode deixar de tomar os remédios e tem que monitorar a saúde constantemente. Mas vive com uma espada enterrada na cabeça, Zeca. Tudo está bem, mas qualquer problema de saúde, mesmo que não tenha a ver com a AIDS, é motivo de preocupação. E, se for recontaminado, pode ser pior do que para quem recebe o vírus pela primeira vez. Não é a pior vida do mundo, muito longe disso, mas não é nada bom.

– Mas você não é soropositivo não, né?

– Não, não sou. Quando voltarmos pra casa te mostro meu último exame. Mas sabe o que isso prova? – fez uma pausa e olhou para mim. – Nada.

– Como assim?

– Um soropositivo que está bem de saúde tem uma quantidade tão mínima do vírus que o exame não acusa. Chama-se “carga viral indetectável”. Ele não contamina. Em termos de transmissão do vírus, é mais nulo do que qualquer sujeito que diz não ter o vírus. Muitas vezes, quem diz que não tem na verdade tem e ainda não sabe, justamente porque a AIDS não faz parte da vida dele. O soropositivo sabe que tem e monitora como está essa quantidade, porque a vida dele depende disso. Entendeu porque é mais seguro?

– Entendi.

– É mais seguro pra quem trepa com ele. Mas isso não quer dizer que seja bom pra ele. Não é nada bom ser soropositivo. E, se depender de mim, você nunca vai se tornar um.

– Não, eu...

– Essa semana agora você vai fazer exame.

Eu obedeci, e o resultado foi negativo para tudo. Mas logo após me dar a ordem, tendo certeza que eu a cumpriria, quis mudar de assunto. Disse que tínhamos saído para nos curtirmos, e não para falar de temas pesados. Eu demorei um pouco a entrar no clima dele, impactado por aquelas revelações todas.

“Você tá namorando um putão”, tinha dito. Eu nunca o tinha visto dessa maneira. Ficamos em silêncio, como em outras vezes e também como era usual quando estávamos juntos, desde os primeiros cafés da manhã na cozinha do apê. Enquanto olhava pela janela do carro, a perplexidade foi cedendo espaço a uma ligeira excitação, que aos poucos a substituiu por completo.

Meu homem era um fudedor profissional. O macho da suruba. Tão gostoso e encantador que queriam ele de novo mesmo depois de ele roubar. Sério: isso me deu um baita orgulho. Estendi o corpo e lhe dei um beijinho, com ele dirigindo. Retrucou apenas com seu meio-sorriso cheio de charme. Tive a certeza de que ele sabia exatamente o que eu sentia.

Durante o almoço, procurou ser discreto, mas algumas vezes acariciou minha mão, à mesa. Disse que não havia problema ali, e por isso tinha escolhido aquele restaurante. E, bem, a comida era deliciosa também; não havia sido só por isso. Trocamos olhares apaixonados. Ele não fez a menor questão de economizar nisso. Era explícito que formávamos um casal, mesmo que não nos beijássemos.

Como era gostoso viver aquilo; como era bom fazer parte de um casal, trocar olhares de casal. Eu não tinha ilusões de encontrar um príncipe encantado; se as tive, morreram aos 16 anos, junto com minha falsa grande história de amor com Rai. Mas agora vivia de verdade essa história de amor. E vivia com um príncipe.

Eu não pensava em encontrar, mas o príncipe me encontrou. Encantado. Maravilhoso. Gostoso. Carinhoso. Caralhudo, leiteiro, quase um Priapo. E aquele passado dele ainda o fez engrandecer-se mais ainda diante de mim. Marcelo mostrava mais uma vez que era tudo o que eu não era, que não conseguiria ser, e eu começava a entender o que ele já tinha me dito tantas vezes: que era por isso que nós combinávamos tanto.

Bebemos pouco, porque ele tinha de dirigir na volta, e era um bom caminho frente ao volante. Saímos do restaurante, demos uma voltinha no entorno e pegamos o carro. Ele deu uma parada após alguns minutos, num acostamento. Beijou-me.

– Quero passear com meu amorzinho encucado – disse.

Chegamos a andar de mãos dadas, por iniciativa dele, num trecho mais vazio da praia. Às vezes, ficávamos olhando o horizonte, em silêncio. Então, eu o pegava me observando. Mantinha uma expressão satisfeita. Não combinava em nada com Marcelo, mas as vezes ele parecia até meio bobo. Bom, eu devia parecer também.

– Você me surpreende, Marcelo. No meio da semana e a gente aqui!

– Não tá bom?

– Tá. Mas tem teu trabalho final da faculdade...

– E o teu também. Mas tem vezes que é necessário. É gostoso.

– É – eu disse, sorrindo.

– E pra você ver também com quem você está. Quem é o teu namorado. Teu macho. Quem te quer de verdade.

– Por que você tá dizendo isso?

Ele parou e olhou pra mim. Deu aquele semi-sorriso gostoso.

– Quase te dou um beijo agora; aqui mesmo, seu gostoso. To dizendo porque te amo. Porque te amo e to feliz. Quando a gente ama, fala essas coisas.

Eu sorri.

– Não faz assim que te agarro e te tasco um beijo mesmo, bezerrinho!

Quando entramos no carro, cumpriu a ameaça, num beijo apaixonado que, acho, não foi presenciado por ninguém. Ali, tirei a prova: a cueca justa pouco disfarçava a potência que tinha entre as pernas. Devia ser mesmo constrangedor quando ocorria no lugar errado e com as pessoas erradas. Não era o caso: para mim, ele fez questão de expor o cacete, orgulhoso pelo porte da ereção e danado para me ver salivar. Seu passado não estava tão no passado assim, afinal. Mas não fizemos nada; ele só queria mesmo mangar de mim.

Já de volta à estrada, perguntou minha opinião sobre os planos que ele estava fazendo para mim. Queria que eu tentasse um mestrado assim que terminasse a graduação, tal como ele.

– Em outra área, Zeca. Você não gosta mesmo da profissão que vai ter... É só um diploma. Mas gosta de estudar, é um cara reflexivo, inteligente, crítico... Tem perfil pra carreira acadêmica. Olha... Nunca pausei tanto um filme como quando a gente assiste juntos. É porque gosto de te escutar. Às vezes você vê coisas que eu não vejo; sente diferente; percebe diferente. É difícil encontrar alguém com a tua sensibilidade. Com a tua inteligência. As duas coisas juntas, assim, é muito, muito difícil.

Acho que enrubesci, meio encabulado.

– Olha que homem sortudo que eu sou. Tenho um rapazinho que é lindo, é todo passivinho, todo gostosinho e que, além de tudo, é inteligente. E é meu, pra eu usar do jeito que eu quiser.

Deu aquela inclinadinha com a cabeça e sorriu para si mesmo. Virou-se para mim:

– Não sou sortudo?

Antes, eu o havia avisado que Rodrigo havia combinado que eu passasse no quarto deles. Toquei no assunto justamente por conta do clima romântico em que ele estava. Não queria estragar tudo. Pretendia passar uma mensagem inventando uma desculpa. Mas Marcelo disse que não; que eu não fizesse isso. Veio com aquela história de que não queria confusão no apê. Os dois saberiam que tínhamos passado o dia juntos e fatalmente deduziriam que a suspensão da foda seria por conta disso.

– E eu não vou passar o ridículo de ficar encenando que não chegamos juntos, fazendo horinha na rua como se fôssemos um casal de adúlteros. Além do mais, a gente deve estar corado, por causa do sol; não teria como disfarçar. Você vai sim, bezerrinho. Dá a bundinha pra eles e depois volta pra mim.

– Eu não entendo isso em você, Marcelo...

Ele não respondeu. Mas dali a algumas horas, finalmente, eu iria entender.

Tarde da noite, corri atrás dele, que seguia para o quarto de Otávio e Rodrigo. Foi quando, pela primeira vez naqueles quase dois anos, o vi realmente irritado. Nu, com o cacete ainda inchado balançando pesado no meio das pernas, aquele homem de quase dois metros lhes deu um esporro como eu jamais imaginaria. E se impôs, mostrando-me que ainda continuava a ser o macho da suruba.

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[continua]

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Comentários

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Fiquei surpreso pelo Zeca, um sujeito romântico e sonhador, levar numa boa o passado do Marcelo, bem como não passar a temer por sua integridade ao saber que seu amado se relaciona com soropositivos. A explicação do Marcelo é até correta do ponto de vista médico, mas difícil de ignorar quando se tem uma pica alojada nas entranhas sabendo que ela esteve num soropositivo. Obviamente cada um tem uma maneira de encarar isso, mas eu não conseguiria. Preconceito, medo, perda confiança, talvez, mas certamente o amor iria perder um pouco do brilho se fosse comigo. Poderia até não sobreviver a essa revelação.

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Eu estou muito curioso quando será o próximo capítulo

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Digsgay e demais amigos: Pretendia postar hj mais uma parte, mas não deu... Ainda pretendo postar na noite de amanhã (sexta), mas é bem possível que tb não consiga. Como as coisas estão enroladas, não quis prometer nada pra hj nem estou prometendo pra amanhã, ok? Ou seja: se eu realmente não conseguir pra amanhã, aí só na segunda mesmo... É chato isso, pq perde o ritmo da leitura, né... Mas... :(

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Sempre imprevisível... O q será q acontece... Quando vc postará novamente???

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Gente Marcelo é um misto de coisas, uma caixinha de surpresas, ainda bem que zeca foi fazer os exames, sempre achei loucura ele fazer sem camisinha sendo que rodrigo e ótavio são putos de carteirinha. Nossa será que finalmente marcelo vai assumir zeca para os outros ou vão fazer um surrubão. Parabéns pelos esclarecimentos do pessoal soro positivo, muita coisa não sabia as vezes rola um certo preconceito da nossa parte. Tá ótimo o conto

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Muito interessante. Zeca foi "danificado e Marcelo foi reclamar com Otávio e Rodrigo sobre o problema? Zeca se tu for nessas suruba não fica um ativo sobrando para os outros kkkkk.

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"" VALTERSÓ "" Sempre comenta tudo e isso é muito massa, mas precisa tirar um pouco da acidez, talvez precise na vida de um Otavio ou Marcelo desse conto. kkkkk Brincadeiras a parte, o capítulo está incrível, parabéns!

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Eu não digo? Qual é a chance de não ser surpreendido em cada episódio? Falo pela história do Marcelo, não pelo comportamento dele em relaçã ao Zeca, que sempre foi muito claro de respeito, que é uma faceta de amor. E o Zeca, que como todos, sempre acha que sabe tudo, que conhece a todos, só para ser desmentido pelo desenrolar da história. Ansioso pela sequência.

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É..... parece que as coisas agora vão se revelar! Finalmente......

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NOSSA. MARCELO PASSA QUASE O TEMPO TODO JUSTICANDO UM PASSADO E AINDA UM PRESENTE DE SUA VIDA. O QUE ANTES ME ATRAIA EM MARCELO HJ ME CAUSA INDIGNAÇÃO E SURPRESA. NÃO ESTOU MAIS CONSEGUINDO ME SIMPATIZAR OU EMPATIZAR COM ELE. NÃO QUE EM ME SIMPATIZE COM NENHUM DOS QUATRO PERSONAGENS DO CONTO. MARCELO TEM UMA FALA EXTREMAMENTE HOMOFÓBICA E COMPORTAMENTO IGUAL. NA FRASE "...COMO VOCÊS..." ELE COM CERTEZA SE REFERE AOS PASSIVOS COMO SE ELE FOSSE O SUPRA SUMO POR SER UM ATIVO. MAS O QUE MAIS ME ENTRISTECE AO LER SÃO AS ATITUDES DE ZECA EM QUERER PASSAR A MÃO NA CABEÇA DOS TRÊS. ZECA ASSIM SE TORNA IGUAL OU PIOR DO QUE OS 'ATIVOS' QUE O COMEM. LAMENTÁVEL. COM RELAÇÃO AO COMENTÁRIO DO CAPÍTULO ANTERIOR EU NÃO FIQUEI INDGNADO POR MARCELO TALVEZ GOSTAR DE PAU. MUITO PELO CONTRÁRIO. CREIO QUE ME EXPRESSEI DE FORMA ERRADA. PERDOE-ME SENHOR AUTOR.

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Fico imaginando se na vida real é possível uma história como essa.... curto bastante o enredo

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