Quando Me vejo em teus olhos ㅡ Cap 14

Um conto erótico de LuCley.
Categoria: Homossexual
Contém 5124 palavras
Data: 30/06/2018 16:13:38

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Acordei radiante e vi o Matteo saindo do banho com um sorriso incrível e lhe dei bom dia. Perguntei como ele sabia que eu já estava acordado e disse que não sabia, mas sorria porque ia me acordar para que eu pudesse me arrumar. Ele estava feliz. Foi maravilhoso vê-lo tão sorridente e me levantei e fui de encontro a ele que já me esperava de braços abertos. Ganhei um beijo apaixonado e um tapa na bunda.

ㅡ é nosso casamento, vai logo se arrumar! ㅡ ele disse rindo e corri pro banheiro.

ㅡ já vou, calma. Sua roupa está na porta do meio do armário e no primeiro cabide da esquerda para a direita. Seu sapato ainda está na caixa, bem embaixo. Precisa de mais alguma coisa?

ㅡ que não demore, você sempre perde a hora pra qualquer coisa.

ㅡ kkkkk, perco mesmo.

Tomei banho e ele já havia trocado de roupa e estava passando perfume. O abracei por trás e lhe beijei a nuca. Ele ria e se virou pra mim, bagunçou meu cabelo, cheirou meu pescoço e me abraçou de uma forma carinhosa.

Me vesti rapidamente,verifiquei a hora e perguntei se ele estava com fome.

ㅡ vou esperar o almoço, mas se você fizer um suco, eu aceito.

Fiz o suco e descemos na garagem. Antes de dar a partida, ele me pediu pra esperar um pouco e que tinha uma coisa para me falar. Tirei a mão da inguinição e mirei seus olhos que naquele dia estavam azuis.

A pedido meu, ele sempre que estava comigo, não usava mais os óculos e muito me alegrou me tornar mais íntimo dele.

Perguntei o quê ele queria e procurou minhãs mãos que descansavam em minhas pernas. Me olhou nos olhos, de uma forma que nunca o fez antes e discursou.

ㅡ Vini, meu amigo, amante e companheiro de todas as horas; você sempre me fez entender que para amar só basta um pouco de compreensão. Sem isso, talvez, eu não estaria contigo hoje. E agradeço o tempo que ficamos separados, porque foi esse tempo que me ajudou a compreender que amar você seria como amar a mim mesmo. Te aceitar como o homem da minha vida, me fez aceitar quem sou e é isso que me faz feliz hoje. Espero não ter sido muito cafona. Fui? Poxa, não chore...

ㅡ rsrs, foi cafona demais, mas foi a coisa mais linda que eu poderia ouvir nesse momento tão importante da minha vida. Sabe, Teo? Você e eu daqui a pouco seremos um só, mas não de uma forma egoista e passional, porque sempre respeitamos nossa individualidade e quero que sejamos sempre assim; sem que nenhum invada o espaço do outro e isso sim nos une e nos mantém na mesma sintonia. Sou feliz contigo porque sei que és feliz ao meu lado e nosso amor é único, simples e verdadeiro. Agora pode beijar o noivo.

ㅡ kkkkkk, vem aqui...te amo demais.

Nos beijamos sorrindo. Dei a partida e quando chegamos no cartório, nossos padrinhos já nos esperavam.

Olhei o relógio e pensei estarmos atrasados, mas tive a certeza de que todos estavam mais ansiosos do que nós mesmos.

O juiz de paz nos cumprimentou de forma simpática e nos desejou felicidades.

Iniciou a cerimônia e o Matteo estava nervoso, pois batia a bengala no chão em forma ritmada. Perguntei baixinho se ele queria que eu a guardasse e ele mesmo a dobrou, colocando sobre a mesa. Segurei sua mão e o senti mais relaxando.

Fizemos nossos votos, os padrinhos assinaram e quando chegou a nossa vez, ele sorriu e brincou: se alguém for contra essa união, fale agora ou cale-se para sempre.

ㅡ ninguém aqui é contra nada. Assina logo isso aí homem! ㅡ disse e a Penny começou a rir. Meu medo era que ela não parasse mais, mas para meu alívio, durou bem pouco.

ㅡ rsrs, brincadeira amor.

Assinamos e ele me deu um selinho seguido de um abraço carinhoso e sincero.

Foi uma cerimônia rápida, quinze minutos e já estávamos casados. Só não acabou antes porque o Matteo esqueceu que tinha colocado as alianças no bolso do paletó e nem o juiz de paz se aguentou com o desespero dele e começamos a rir. Comecei a procurar e as encontrei em seu bolso esquerdo. Enfim, correu tudo na mais perfeita tranquilidade.

Saímos todos do cartório e seguimos para a casa da Penny. Decoraram o caramachão e estava coberto com lindas orquídeas. Ali serviram o buffet. Agradeci a Laura e a Penny por terem organizado tudo. Meu pai estava feliz demais que não desgrudava do Matteo.

Seus irmãos, menos o Roberto, nos parabenizaram e nos desejaram felicidades eternas.

Pedi licença e fui até a cozinha servir um copo de água. A Laura me chamou e veio até mim com um sorriso que me fez lembrar de minha mãe.

ㅡ deixa eu te abraçar direito, filho.

ㅡ obrigado, lindona. Sempre esteve ao meu lado nos meus piores e melhores momentos. Você é especial demais pra mim.

ㅡ poxa, fiz a melhor maquiagem pra você me fazer chorar? Assim não vale. Sabe Vini, admiro o amor de vocês, em todos os sentidos. Desejo que dure a vida toda. Vocês merecem toda a felicidade do mundo.

ㅡ morri de medo dele não assinar os benditos papéis kkkk.

ㅡ imagina que ele ia deixar escapar um homem tão maravilhoso igual a você. Seu pai e eu estamos muito felizes, Vini, de verdade. Lembra quando te disse que você encontraria alguém que te amaria com o coração? ㅡ eu poderia ter ficado meio espantado com o qué ela disse, mas eu estava tão acostumado com o fato dela ser tão igual minha mãe, que nem me dei ao trabalho de explicar o quê eu penso em relação às duas

ㅡ rsrs, lembro sim...e você estava certa!

Ela me abraçou, mas a frase que ela disse ter dito, nunca se quer foi mencionada por ela, mas pela minha mãe, meses antes dela falecer. Enfim, o universo é realmente muito estranho e nossa passagem por esse mundo é rápida demais para vivermos em guerras e tentando ignorar que pessoas são diferentes umas das outras. Respeitar as diferenças deveria ser um tipo de religião, quem sabe assim todos levariam mais à sério e não tomariam como verdade somente àquilo que as convém.

Fiquei pela cozinha e ouvi o Valter vindo em minha direção. Me abraçou e lamentou que não haveria ninguém mais nesse mundo a quem ele pudesse chamar de Amor, caso a Cruela lhe metesse o pé na bunda.

ㅡ kkkkkk, eu te dei moral quando nos conhecemos, mas você me desdenhou. Agora vai morrer sozinho. ㅡ disse e ele socou meu peito.

ㅡ kkkkk, viado mentiroso. Você nunca me deu mole, rapaz!

ㅡ isso é verdade, nunca mesmo. Engraçado, mas nunca tive interesse em você como homem, sempre tive por você um carinho imenso. Foi esse carinho que me fez perceber o quanto você seria um puta companheiro pra Penny e ótimo pai. Nunca me decepcione, porque você é um dos poucos homens nessa vida a quem eu respeito e quase coloco a mão no fogo.

ㅡ kkkkk quase? Poxa...

ㅡ sim, porque todos cometemos erros, mas poucos têm a decencia de admití-los.

ㅡ isso é verdade. E obrigado por esse carinho que sempre me dedicou. É recíproco, você sabe muito bem disso. Te amo como irmão, pai e um pouco de tudo. Te respeito acima de qualquer coisa e te ver feliz me faz feliz. Obrigado por ser meu cunhado e meu amor por você só faz aumentar todas as vezes que meus filhos sorriem quando te ouvem chegando. Felicidades! Me fez chorar...sacanagem!

ㅡ pau no seu cu, nunca mais te trato bem! Kkkkk...vem aqui!

Lhe abracei sorrindo com lárimas nos olhos e vi a Penny chorando feito uma idiota ao lado do Matteo que também bobo como só ele, secou todo seu estoque de lágrimas aquele dia.

Em um único abraço ficamos os quatro e como era bom estar com pessoas a quem meu amor era verdadeiro e honesto.

Em seguida veio meu pai, nos encheu de carinho, felicitações e roubando mais uma vez meu marido, que já deveria estar na quarta latinha de cerveja.

Eu, mais uma vez, na tentativa de tomar um copo d'água, acabei desistindo e fui tomar de meu pai, o homem que era meu por direito.

Subi com o Matteo até o andar de cima e o ajudei a se desfazer da gravata. Desabotoei quarto botões da sua camisa e descansei em seu peito.

Suas mãos me eram tão protetoras e com ele eu não sentia medo de nada, só alegria.

ㅡ enfim, sós! Kkkk ㅡ ele disse e pedi que não se animasse muito.

ㅡ bom nem enaltecer o momento, daqui a pouco a pirralhada sobe e pula no nosso colo.

ㅡ gosto da pirralhada. Sempre me lembro deles. Acho que andamos muito afastados dos seus sobrinhos. Depois que você foi morar lá em casa, você tem vindo pouco aqui.

ㅡ é, talvez...mas isso não é tão ruim. Porque depois que tivermos nossos próprios pirralhos, não vou ter tanto tempo pra eles, mas vou vir mais vezes na semana. Eles me adoram e te adoram também.

ㅡ vou conversar com sua irmã, quero ser mais presente na vida dos dois também. Acho importante isso. Quero que confiem em mim do mesmo jeito que confiam em você. Bom que vou treinando kkkk.

ㅡ poxa amor, você está me saindo melhor que a encomenda heim?

ㅡ sempre gostei de crianças, só não convivo mais com meus sobrinhos porque moram longe.

ㅡ então você ficaria feliz se seus irmãos morassem aqui?

ㅡ claro. Por mim, mesmo com algumas diferenças, poderiam estar todos aqui. Principalmente o André. Esse me faz muita falta e sempre tive por ele um carinho especial.

ㅡ falando em André, melhor descermos e ficar com o pessoal.

ㅡ estou morrendo de fome...

ㅡ e já te vi bebendo quatro latinhas de cerveja. Não estou reclamando, mas falo isso pelos seus remédios. Sei que está feliz, ou está bebendo pra esquecer que se casou comigo?

ㅡ kkkkk, que horror! Claro que to feliz. E como posso me esquecer de você se esse teu cheiro me acompanha em todos os lugares que eu vou? Você é o amor da minha vida, meu porto seguro, meu refúgio...

ㅡ te amo demais! Bora lá?

ㅡ vamos, a cerveja me abriu o apetite.

O ajudei a abotoar a camisa novamente e descemos. Serviram o buffet e ficamos conversando com os convidados.

O Matteo conversava com o André e de repente os dois se abraçaram e o Matteo sorria feito criança. Certamente o irmão comentou que se mudaria para a Capital como havia me dito antes. Fiquei feliz pelos dois. Eu estava feliz demais por ter minha família e amigos presentes em minha vida. Pedir mais do que eu já tinha, seria supérfluo, pois tudo que me era importante, cabia no meu coração.

Peguei no mês de fevereiro uma licença prêmio de três meses e coincidiu com as férias do Matteo na prefeitura.

Viajamos em lua de mel, foi incrível vê-lo animado, feliz e disposto como nunca o vi.

Ao seu lado fui seu guia de todas as horas e na cama, ele guiava meu desejo até ele.

Sempre me acordando de bom humor, mesmo com o frio de Bariloche. Melhor companhia impossível.

Conhecemos sabores que nunca haviamos provado antes. Sem contar os passeios por lugares incríveis e parecíamos duas crianças nos divertindo com bonecos de neve e reclamando da má educação de alpacas e lhamas atrevidas.

Dançamos tango com as dançarinas mais lindas que já vi. E tudo que me era visível, eu lhe contava com toda riqueza de detalhes.

Voltamos para casa depois de duas semanas regadas à vinho chileno e com o estômago espremido de chicharrónes peruano. Nunca comemos e bebemos tanto e, o resulto de tudo isso, foi três kilos à mais.

Chegamos em casa e meu celular pulava sobre a mesa da cozinha. Era a Penny. Pedi que me deixasse em paz por pelo menos dois dias. Brigou comigo, dizendo que eu não a amava mais, que eu só preferia o Matteo e que ela poderia morrer que ninguém se importaria.

Mais chantagista do que nunca. Socorro!

ㅡ você deveria ser atriz, peste!

ㅡ kkkkk, só me diz se estão bem. E o Matteo? Como ele está?

ㅡ poxa, Cruelinha...foi a viagem mais incrível que já fiz. O Matteo não se cabia te tão feliz e ganhamos alguns kilos kkk. Ele está ótimo. Foi direto pro quarto e está roncando. Sabe? Estou meio preocupado com os exames que ele fez. Teimou comigo que queria fazer essa viajem antes de pegar o resultado e levar pro médico. Mas respeitei!

ㅡ ei, fica calmo e deixa ele um pouco. Sei que se preocupa, mas pensa que ele preferiu assim com medo do resultado. Pelo menos vocês viajaram, se divertiram e isso ninguém mais vai tirar. Caso aconteça alguma coisa e espero que não, vocês passaram momentos incríveis juntos. Ele fez isso por você, por ele. Mas não pensemos negativo...ele está ótimo, sempre bem disposto e você vai ver...tudo está correndo bem.

ㅡ eu sei que devemos pensar positivo, mas da um certo medinho...enfim, vou dormir. Trouxe vinho pra você e uns torresmos maravilhosos.

ㅡ vai lá, meu neném...nos vemos!

ㅡ ei? Te amo demais!

ㅡ eu também! E não me esqueça! Kkkk

ㅡ impossível, você me liga até de madrugada. Kkkk

Desliguei meu celular e fui até o quarto. O Matteo dormia feito um rei e me deitei com ele.

O abracei e ele sentindo que eu estava ali, se virou de frente pra mim.

ㅡ porquê demorou tanto?

ㅡ rsrs, só quinze minutos. A Penny me ligou, aí já viu?!

ㅡ e já desligou? Que milagre! Kkkk

ㅡ eu disse que você estava dormindo e que iria fazer o mesmo.

ㅡ então me abraça bem forte.

ㅡ amor...sei que não é a hora, mas...

ㅡ mas você quer saber o resultado dos meus exames. É isso? Já agendei de levarmos no médico amanhã à tarde.

ㅡ tudo bem... ㅡ me senti aliviado e tudo que eu queria era ver o Matteo despreocupado.

No dia seguinte, fomos até o hospital pegar o resultado da ressonância que ele fez antes de viajarmos. E lá mesmo o médico nos esperava.

Ele estava apreensivo, eu sentia.

O médico nos chamou, deu uma puta bronca no Matteo que tentando se fazer de vítima, foi chamado de irresponsável, mas o médico acabou sendo persuadido por ele e corrompido por uma garrafa de vinho chileno. Impressionante como o Matteo coloca todo mundo no bolso. É um sedutor da melhor qualidade. Só que comigo não funciona mais.

O médico pediu os exames de fígado, hemograma, hormônio e vendo os resultados, sorriu dizendo que estava tudo bem.

Pediu o resultado da ressonância e entreguei o envelope.

Ele abriu, viu as imagens, leu o laudo e perguntou o quê o Matteo estava fazendo de direfente, em sua rotina.

ㅡ nada de mais, acho. Caminho, corro e o Vini andou mexendo um pouco na minha alimentação. Ele cortou o açucar e gordura vegetal. Ando comendo mais saudável, bom, exceto nessas duas ultimas semanas. Fizemos uma viagem e exageramos um pouco, mas só isso.

ㅡ bom, vendo os resultados anteriores e comparando com esse de agora, seu tumor está diminuindo. É um progresso e tanto. Ficou tanto tempo parado. Continue com a alimentação saudável e vou te passar uma lista de alimentos que aumenta a imunidade. Vai te fazer bem. Ah, não fique sem fazer os exames. Voltamos a fazer outra ressonância ano que vem.

Ele segurou forte minha mão e sorria feliz. Eu estava radiante. Certamente os meses que o fiz se alimentar melhor, ajudou na redução do tumor. Fiquei feliz demais em saber que o ajudei e que teve resultados satisfatórios.

Saímos do hospital com o ar renovado e, claro, ele não poderia estar mais feliz.

Fiquei nervoso, confesso, mas ele estava bem e forte como nunca.

Passamos o resto das férias do Matteo nos curtindo em casa e caminhamos na praia todos os dias.

Aproveitamos para organizar nosso apartamento, nos desfazemos de coisas que não usávamos mais e no meio de tanta bagunça, encontrei umas caixas que ele guardava. Perguntei se poderia abrir e disse que tudo bem, pois nem ele se lembrava do que havia dentro.

Comecei a mexer e eram fotos do início de sua adolescência. Ele deveria ter uns catorze ou quinze anos. Não havia mudado muita coisa.

Eu via cada uma das fotos e como ele era bonito.

Guardei a caixa e ele me puxou, me fazendo cair sobre a cama e tirou o celular do bolso.

ㅡ tira uma foto nossa? Quero deixar no protetor de tela do meu celular. ㅡ ele disse e sorri.

ㅡ claro. Chega mais perto, faz uma cara de despreocupado e relaxa.

ㅡ sem óculos?

ㅡ só se você quiser.

ㅡ sem óculos!

Ele tirou os óculos e propositalmente olhando meio de lado, dei um beijo em seu rosto e bati.

ㅡ ficou boa?

ㅡ hahaha, ficou ótima!

ㅡ claro, sou lindo demais.

ㅡ kkkkk, concordo!

ㅡ você é mais e ainda por cima cuida de mim. Se não fosse pelos seus cuidados...

ㅡ ei, não me agradeça por cuidar de você. Eu gosto. Você também cuida muito bem de mim.Agora me passa essa foto por bluetooth que vou usar também.

ㅡ você sempre diz que é coisa de gente brega kkkk.

ㅡ é, mas a gente pode.

ㅡ kkkkk...cara de pau.

Depois do resultado maravilhoso. dos exames do Matteo, continuei com sua dieta e bebida alcóolica somente nos fins de semana e no máxino uma taça de vinho e uma latinha de cerveja.

Fomos na casa da minha irmã e reunimos meu pai, a Laura e, claro, meus sobrinhos. Fizemos um jantar despretencioso e ficamos bem à vontade no quintal, embaixo do caramachão. Levamos os vinhos, os torresmos peruanos e nossa felicidade em compartilhar bons momentos em família.

Enquanto entrei para pegar um saca rolha na cozinha, senti meu celular vibrar no meu bolso. Eu não ia atender, mas por desencargo de conciência, resolvi ver quem era.

Era o Roberto, irmão do Matteo, me perguntando se o Matteo estava por perto e se eu podia falar.

Vi a Nina saindo do banheiro e pedi à ela que levasse o saca rolhas pro tio Matteo, e que dissesse que fui fazer um "xixizinho".

Entrei no banheiro fechando a porta e perguntei se estava tudo bem.

ㅡ desculpa te ligar agora, mas é que eu preciso desabafar com alguém. Está ocupado?

ㅡ não, pode falar.

ㅡ a Melina e eu conversamos. Eu contei a ela sobre meu rapaz, Vini. Tentei buscar forças não sei de onde pra dizer que sempre fui gay. Quase não consegui, mas quando ela disse que eu precisava sair de casa e viver minha vida ao lado da "mulher" que eu amo, eu não aguentei e contei tudo.

ㅡ santa maria...você está bem? Como vocês estão?

ㅡ eu estou aliviado, mas ela não saiu do quarto até agora. Já faz mais de quatro horas que ela está trancada lá dentro e não me deixa entrar. Sei que está "bem", porque a ouço chorar. Ela chora, pára e volta a chorar de novo. Fui um puta babaca não contando a ela toda a verdade desde sempre.

ㅡ não, era um direito seu, mas foi babaca em trair sua esposa à quem dedicou sua vida a te cuidar, pra você sair com outro cara. Não confunda tua sexualidade com teu caráter. E nessa ocasião, meu cunhado, você foi bem mal caráter e sacana com ela. Pow, fosse honesto com ela quando conheceu àquele cara!

ㅡ nem posso brigar contigo. Fui tudo isso que está falando e mais um pouco. E vou ser sincero em te dizer que não me arrependo. Não pela Melina, que sempre foi correta comigo, mas com o Luciano. Amo o cara e ele foi paciente em me esperar. Eu só queria que fosse em outras circunstâncias. Meu filho sofreu esse acidente e a Melina me pressionando...

ㅡ Roberto, a única coisa que posso te dizer agora, é que você cuide da Melina. Ela com certeza está se sentindo péssima. Não sai de casa e vá conversando com ela devagar. Faça com quê ela se sinta protegida por você mesmo depois da separação e que você não vai deixá-la desamparada com os meninos. Afinal, é sua família e você os ama.

ㅡ tenho medo que ela tente alguma coisa, mesmo não sendo o jeito dela resolver as coisas. Sei que daqui a pouco ela vai sair daquele quarto e vai vir igual um furacão pra cima de mim. Sempre foi assim. Brigamos e ela se tranca no quarto, chora e depois sai de lá cospindo marimbondo na minha cara. Só que agora é diferente e realmente estou com medo.

ㅡ então não saia de casa, fique perto dela e deixa ela desabafar. Você deve isso a ela.

ㅡ vou ficar em casa, como sugeriu e esperar ela esfriar a cabeça. Como vocês estão, e o Matteo?

Contei a ele os resultados dos exames e pelo menos ele teve algums minutos de alegria. Ficou feliz pelo irmão e conversamos mais alguns minutos.

Ouvi alguém batendo na porta e era o Matteo. Disse ao Roberto que precisava desligar e quando abri a porta, o Matteo já havia saído.

Fiquei quase trinta minutos com meu cunhado no celular e quando o Matteo me viu chegando, perguntou se eu estava bem. Disse que sim, mas percebi que ele estava chateado.

Saquei na hora que ele poderia ter ouvido eu falando com alguém e certamente estava imaginando várias coisas que não deveria.

Antes dele colocar mais minhoca na cabeça, me sentei ao seu lado e segurei sua mão.

ㅡ seu irmão contou tudo à Melina. ㅡ ele tirou os óculos, coçou os olhos e colocou minha mão em seu peito.

ㅡ estava falando com ele?

ㅡ estava. Por isso demorei. Ela se trancou no quarto e...bem...está desabafando sozinha.

ㅡ ele vai ouvir tanta coisa quando ela sair de lá.

ㅡ foi o quê ele disse. Mas não se preocupe. Eles são adultos e precisam resolver isso da melhor maneira possível. Pro bem deles.

ㅡ agora a coisa toda já está feita. Só esperar. Fico com dó das crianças. Elas sempre sofrem mais.

ㅡ isso é verdade. Pelo menos ele tomou coragem e contou tudo.Você quer alguma coisa? Vou comer mais um pouco.

ㅡ quero! Um beijo!

ㅡ rsrs, nem precisa pedir.

Lhe dei um beijo apaixonado e deslizei meus lábios até seu ouvido e disse:

ㅡ não se desprecupe, eu sou só teu.

ㅡ deu pra perceber minha cara de bunda?

ㅡ kkkkk, deu. E é impossível ter um amante com todo esse tempo que dedico pra te amar. Abestado!

ㅡ kkkkk, bom mesmo. Agora é sério, não pensei nisso, mas fiquei preocupado imaginando ter acontecido alguma coisa de ruim e estar me escondendo.

ㅡ ele só queria desabafar. Mas não queria te preocupar.

ㅡ tudo bem! Eu só espero que tudo acabe bem. E por outro lado, estou tão feliz que meu mano caçula vai vir morar na Capital.

ㅡ ele também está. Quer ir pra casa?

ㅡ vamos ficar mais um pouco. Seu sobrinho quer brincar de advinhação. Ele fecha os olhos e tenta advinhar o quê dou pra ele. Problema é que ele tem uns brinquedos estranhos que nem eu sei o quê é.

ㅡ kkkkkk, ai senhor! Vamos lá que eu te ajudo.

Brincamos um pouco com as crianças e fomos pra casa.

Os dias foram passando e voltei à minha rotina de trabalho e "dono de casa". Mesmo trabalhando fora e tendo nossa querida secretária do lar uma vez na semana, eu preferia cuidar das coisas do Matteo. Com o tempo fui desenvolvendo habilidades para não deixá-lo rabugento por às vezes não encontrar algo que ele achava indispensável e para não ficar invocando demais com a moça.

Sempre dava certo minhas desculpas de ter sido eu o culpado por ter achado melhor trocar o lugar em quê estava, pois o local em questão estava com pouca luminosidade ou mofo. Ele me agradecia, não implicava com ninguém e todo mundo ficava feliz.

Certas discusões mereciam ser evitadas. Não valia a pena se estressar por algo que ele se esqueceria meia-hora depois. Sempre fui assim, até com o pessoal lá de casa; principalmente com a Penny.

Uns dois meses depois o André se mudou pra Capital e em um bairro perto de onde morávamos.Coincidiu com o mês do meu aniversário e fizemos uma reuniãozinha só para os mais íntimos e a família.

O Matteo estava feliz demais em ter o irmão tão perto e eu achava lindo como os dois se davam bem e se respeitavam. O Matteo o tinha como um filho.

Passei um mês planejando uma excursão com meus alunos e os levei acampar. Ficamos o fim de semana e foi uma experiência incrível. Nos divertimos e claro, a aula de inglês corria solta durante os passeios.

Cheguei em casa no domingo à noite e quando abri a porta, vi o Matteo sentado no sofá e quando me viu entrar, me abraçou e alí senti a saudade que ele sentia. O beijei como munca e tentando levar ele pro quarto, me informou que estávamos com visita.

ㅡ quem está aqui?

ㅡ a Melina. Não me pergunta nada porque faz uma hora que ela chegou, tomou um suco e pediu pra descansar.

ㅡ vou levar minhas coisas pro quarto e tomar um banho. Toma banho comigo?

ㅡ acabei de tomar, mas vou dar banho em você. Esrou morrendo de saudades de vicê e do vinizingo, porra!

ㅡ kkkkk, então vem lavar o vinizinho.

Ele me banhou e fui até a cozinha preparar alguma coisa pra comer.

Eu estava comendo enquanto o Matteo falava no celular com o Roberto e ouvi a porta do outro quarto destrancar.

Ela veio até a cozinha e me levantei a cumprimentando, mas foi inevitável o desabafo. Senti seu corpo pesado sobre o meu e ela chorava demais. A levei até a sala e me sentei ao seu lado. Lhe ofereci meu ombro e o Matteo se sentou ao lado dela a consolando e pedindo calma.

Dez minutos de desabafo e ofereci um copo d'água. Ela bebeu e suspirou me olhando firmemente nos olhos, como se estivesse procurando respontas, até que quebrou o silêncio.

ㅡ você o viu em Eldorado! Ele me falou!

ㅡ vi sim!

ㅡ e mesmo ele tratando vocês daquela forma, você não fez nada contra ele?!

ㅡ não fiz!

ㅡ por quê?

ㅡ por mais errado que ele estivesse sendo contigo, eu não poderia tirá-lo do armário. Não aprovo o quê ele fez com você e disse isso a ele. Ele mentiu e preferiu te enganar, mesmo sabendo que te magoaria e isso você tem o direito de nunca perdoar.

ㅡ eu não sei o quê fazer. Juro que me deu nojo. E não por ele ser quem é, mas por dividir a mesma cama comigo estando nos braços de outra pessoa. Homem mulher...não me interessa. Ele deveria ter me contado e eu juro que não ficaria com a raiva que estou agora. Quando ele conheceu esse rapaz, deveria ter vindo falar comigo e eu certamente iria ficar desapontada, mas não! Ele preferiu me enganar e pior, fingindo ser o quê não era pra atacar vocês dois. Eu estou com raiva dele, muita raiva, mas sinto pena por ele ter feito isso e nos magoar tanto. Agora me fala, o quê eu faço com aquele homem?

O Matteo segurou suas mãos e a encarando disse:

ㅡ você pode viver odiando ele pra sempre e se amargurando pro resto de sua vida, ou aceitá-lo do jeito que ele é e viver em paz com tua família.

ㅡ ele disse qur nunca iria me abandonar, mesmo separados e acredito nele. E pode ter sido um canalha à ponto de me trair, mas nunca teria coragem de me largar sem nada. Não sei se vou perdoá-lo algum dia por ter me traído, seja com quem fosse, mas também entendo como foi difícil pra ele guardar por todos esses anos esse segredo. É uma faca de dois gumes.

Quando ele disse que era um cara, eu senti raiva porque o fato dele também estar sofrendo, parecia anular tudo de ruim que ele fez pra mim...entendem?

ㅡ sim, minha querida...realmente é uma questão complicada. E ainda tem as crianças.

ㅡ nunca vou colocar meus filhos contra ele. Isso ele pode ter certeza. Vou ensiná-los a respeitar o pai independente de qualquer coisa. É um problema nosso! Eu só queria sair um pouco de perto dele e colocar a cabeça no lugar. Porque minha vontade era de quebrar a cara dele.

ㅡ fica aqui se quiser, pelo menos até amanhã.

ㅡ se importa, Vini? ㅡ ela me perguntou com os olhos marejados e a abracei.

ㅡ claro que não me importo. Fique o tempo que precisar. Eu vou preparar alguma coisa pra você comer, quer?

ㅡ quero sim, obrigada.

Ela ficou na sala com o Matteo e o Roberto me ligou. Atendi na sacada e ele estava preocupado. Disse pra ficar tranquilo e que ela dormiria na Capital. Ele desligou e fui até a cozinha terminar de preparar uma sopa que o Matteo adorava.

Poucos minutos depois perguntei se ela queria tomar banho e lhe dei uma toalha limpa e sabonte. Fiquei na sala com o Matteo e ele se sentou ao meu lado dizendo que provavélmente seria seu futuro se ele tivesse seguido sem mim.

ㅡ cruz credo, bate na madeira. ㅡ disse e ele ria.

ㅡ rsrs, estou rindo, mas é sério. Eu seria infeliz no casamento igual ao meu irmão; amando outra pessoa, mesmo estando casado com outra. Caramba, não quero nunca passar por isso.

ㅡ eu sei. E nem consigo imaginar você longe de mim, quem dirá com outra pessoa. Só espero que isso tudo se resolva logo, e que ninguém se magoe mais.

ㅡ assim espero!

*

*

*

Continua...

Pessoal, desculpa a demora. Muito obrigado por sempre baterem cartão, mesmo demorando à postar. Obrigado à todos que comentam, gosto muito, e obrigado à todos que tiram um tempinho pra ler. Espero não demorar muito pra postar o final, vai depender do meu tempo. Tenho dormido pouco por conta do trabalho e quando chego em casa só quero cama. Desculpe a demora e espero que tenham gostado. Grande abraço! 😉✌

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Comentários

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Encontro lições de vida nesse conto

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Gostei muito deste capítulo, muito bom.

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O tempo é o senhor da razão. Parabéns pelo seu belíssimo conto.

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Ame e seja feliz. Que pena que já vai acabar o conto.Abracos.

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MARAVILHOSO ESSE CAPÍTULO. NÃO PERDOO TRAIÇÕES NEM APÓS A MORTE. MAS SEMPRE TORÇO PELA MELHOR SOLUÇÃO. ROBERTOE A ESPOSA ESTÃO SOFRENDO COM CERTEZA MAS VÃO SE REERGUER E OS OUTROS TB. AS CRIANÇAS SIM, VÃO PRECISAR DE MUITO APOIO. FELIZ AQUI PELA SAÚDE DE MATTEO. COM AMOR TUDO FICA MAIS FÁCIL DE AGUENTAR. SEMPRE!

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