Escrito em Azul - Epílogo

Um conto erótico de Gatinha 007
Categoria: Homossexual
Contém 10248 palavras
Data: 11/04/2018 00:08:06

EPÍLOGO

(Cinco meses atrás)

Há quatro dias, o médico resolvera suspender os sedativos, alegando que Anna-Lú estava respondendo aos antibióticos e que o risco de infecção diminuíra, portanto, agora somente dependia de seu próprio organismo para acordar. Era domingo, primeiro dia da semana e primeiras horas do dia quando Anna-Lú finalmente despertou. Abrira os olhos com dificuldade, a luz incômoda fazendo-a apertar as pálpebras em desagrado. Tentou mais uma vez e tudo girou. Na terceira tentativa finalmente conseguira ver um teto branquíssimo, sentiu a boca seca e tentou chamar por alguém, mas sua voz não saíra. Por um minuto achou que realmente estivesse morta. Tentou levantar a cabeça para visualizar melhor o lugar, mas sentiu o peito arder e uma dor aguda finalmente libertara sua voz, um “AI” sofrível e bastante audível foi o suficiente para despertar quem quer que fosse a pessoa que estivesse ali também, por um instante desejou ver certo par de olhos azuis a lhe trazer o conforto e a segurança que só eles traziam. Decepcionou-se ao ver que quem mirava sua face na verdade, era um par de olhos marrons, um pouco mais escuros que os seus próprios.

Os olhos estavam cheios de água e logo ela sentiu-se ser beijada e abraçada por sua tão querida mãe, mas o último movimento desta apenas fez com que soltasse outro grito de dor. Imediatamente lembrou-se de que tinha sido atingida por uma bala, e não fora nada parecido com o que se mostra nas cenas de filmes em que o sujeito baleado consegue sair andando ou ver um filme de sua vida, não houve nada disso, nenhum pouquinho. Lembrava-se exatamente do momento em que, num salto, empurrara Fernanda para logo depois sentir as costas queimarem, recordara a dor intensa que tomou conta de todos os seus sentidos e não fora capaz de pensar em mais nada além daquela dor dilacerante e a dificuldade em respirar. Fora isso, apenas uma única lembrança havia ficado gravada em sua memória, totalmente em som off, apenas a imagem, o rosto de Carolina. Banhado por lágrimas. Um mar azul de total desespero. Somente depois de repassar pela memória tudo isso é que se deu conta de que, por certo estaria em um hospital, só não sabia há quanto tempo estaria ali.

Anna-Lú nem bem concluíra seus pensamentos e logo fora cercada por um pequeno tumulto que se formara quando médico e enfermeiras invadiram aquele quarto, absurdamente branco. Depois de o médico examinar todos os sinais vitais e fazer mil recomendações a Dona Cecilia, finalmente ela pôde se aproximar e envolvê-la em um abraço que só uma mãe amorosa como ela poderia oferecer, passou os braços em volta de Anna-Lú protetoramente e chorou emocionada por ter a filha de volta. Passados mais alguns minutos Anna-Lú viu entrar em seu quarto um Sr. Eduardo Garcia muito emocionado, arregalou os olhos ao notar que ele limpara algumas lágrimas quando a soltou de um longo abraço. Logo depois foi Marina quem a abraçou com todo o cuidado que as escoriações nas costelas, no peito e os dois tubos conectados em um dos braços de Anna-Lú permitiam. Agora já completamente desperta e lúcida, esperou que os pais saíssem e pudesse estar a sós com sua melhor amiga. Os olhos castanhos ansiosos fitaram a amiga por um longo tempo antes de questionar se somente eles estariam lá a aguardar por ela. Foi inevitável não transparecer a frustação que fez seu coração doer, o olhar castanho de ansioso mudou para opacos e tristes quando Marina dissera que todos – o que incluía Carolina - voltaram a capital e de lá aguardavam por notícias.

“Se fosse importante ela estaria aqui também, se ela ao menos se importasse um pouquinho comigo não me deixaria aqui, a carreira sempre foi sua única prioridade, ela não mudou nenhum pouco”, amargurados e ressentidos, os pensamentos vieram à cabeça de Anna-Lú. O simples fato de querer vê-la e de querer estar com ela, e descobrir que ela preferira voltar a magoou profundamente, os olhos marejaram libertando duas pequenas gotas que não fora capaz de segurar. Marina percebendo a mudança de fisionomia, logo lhe afagou o rosto carinhosamente já imaginando onde teriam ido parar os pensamentos de Anna-Lú. Ela soubera exatamente o porquê de Carolina ter voltado à capital, cinco dias atrás, o que não entendia era o pedido que Carolina havia feito. Não poder contar a Anna-Lú que ela estivera ali durante todos esses dias era o mesmo que sentir-se uma mentirosa, mas aceitara, prometera a ela. “Maldita promessa”, pensou ela, e apesar disso resolvera que deveria ao menos tentar apaziguar o que a amiga estava pensando. Completamente ferida, Anna-Lú nem sequer deixara que Marina iniciasse qualquer fala a respeito de Carolina, simplesmente decidiu que não queria ouvir explicações, e não queria mais vê-la, ou ao menos não tão cedo.

Nos dias que se seguiram, Anna-Lú fora transferida para um quarto, finalmente voltara a tomar banhos completos, e após quatro dias teve alta podendo finalmente voltar para a Fazenda, lá ficaria aos cuidados da mãe. Marina ainda passara mais um mês auxiliando Dona Cecilia nos cuidados com Anna-Lú, mas depois desse período realmente tivera que retornar. Passara esse primeiro mês praticamente recolhida à cama, mesmo com a mãe e a amiga insistindo em que ela fosse ao menos até o jardim. Depois que Marina também se fora, entre suas leituras passou a analisar sua situação. Pensar que praticamente jogara com a morte a deixava perplexa, não concebia a ideia de que realmente se atirara na frente de uma bala para salvar Fernanda, era surreal demais. Poderia realmente estar morta e pior era saber as circunstâncias em que quase perdera a vida. Tivera vontade de socar Fernanda quando esta, antes de partir, lhe viera visitar, “socar por transformar minha vida na grande merda de um clichê!”, pensava balançando a cabeça em negativa.

Depois que Fernanda partira Anna-Lú sentiu como se finalmente virasse aquela página de sua vida, Fernanda fizera mesmo o que havia lhe dito naquele “maldito dia”, vendera tudo para ir para bem longe e poder seguir em frente. No fim das contas estava alegre por Fernanda, afinal ela merecia ser feliz ainda. Em sua derradeira visita Fernanda dissera algo que não lhe saía da cabeça. “Só se joga cartas com destino uma única vez — dissera Fernanda — e, bem, você tem em suas mãos uma nova chance, não despreze ficando na escuridão, o orgulho é o pior dos conselheiros, sabes disso. Lute por sua felicidade, lute por você e por ela, lute como eu nunca fora capaz de lutar por nós...” “Além de casar com um louco, ainda fode com a minha cabeça, eu mereço!”, pensava Anna-Lú, pois as palavras de Fernanda não deixaram de criar ecos em sua mente.

Depois dessa conversa, e nos dias seguintes, caíra a fazer pequenas incursões pelo jardim, não caminhava por muito tempo, pois a dificuldade em respirar ainda persistia. Passava tardes inteiras conversando com Inácio ou deitada em uma das redes disposta na parte coberta do jardim, ficava pensando na vida, e inevitavelmente, pensando em Carolina. Praguejava-se mentalmente por não conseguir esquecê-la. Falava todos os dias com Marina e Caio que lhe atualizavam sobre a empresa, em muitas vezes Caio sutilmente insinuava alguma informação a respeito de Carolina, mas Anna-Lú logo o cortava. Apesar de não esquecê-la um segundo sequer, falar sobre ela em voz alta era assunto proibido entre eles e a família. Nitidamente, Dona Cecilia havia adorado Carolina, pois concordara em não falar sobre ela, muito contrariada. Anna-Lú só não entendia como a mãe conseguira gostar tanto dela se não conviveram nem por cinco dias. “Tudo bem que eu ainda seja loucamente apaixonada por ela, e talvez, só talvez, isso seja evidente, mas também é um grande motivo para o meu sofrimento, ela deveria estar do meu lado e não do lado de alguém que ela nem conhece. Até a minha mãe essa diaba conseguiu conquistar, céus”, pensava contrariada.

Apesar dos pensamentos confusos e muitas vezes obscuros, sua recuperação prosseguia as mil maravilhas. Estava louca para voltar ao trabalho e aquela sensação de morte já quase desaparecera, ao menos durante o dia a angustia de lembrar, do pior momento de sua vida, já não lhe consumia. Durante a noite já não poderia dizer o mesmo. Os pesadelos não a deixavam, o desespero a consumia e em muitas dessas noites só conseguia adormecer quando já era dia claro. Durante esses dias e noites pudera contar com seus pais, com Marta, com Inácio e Rosa, que apesar de ter negado, insistira em vir ajudar a cuidá-la. E claro, com Marina que a visitava em alguns finais de semanas, já que havia adiado o casamento para quando Anna-Lú já estivesse mais recuperada. Todas essas pessoas haviam velado por ela fazendo com que ela retornasse. Foram meses, ausente e sentindo-se indefesa. Agora finalmente após esses meses, era como se realmente estivesse de volta ao seu próprio corpo, de volta ao cheiro da terra, a beleza do jardim, ao som da natureza, a existência das coisas, sentia-se de volta à vida.

Faltava exatos, um mês e cinco dias para o casamento de Marina quando Anna-Lú resolvera voltar para a casa. Despediu-se após muitos abraços e recomendações dos pais, comprometendo-se a cuidar-se, e voltou acompanhada de Marina e Rosa. Já em seu quarto, quando se sentou em sua cama, inspirou e expirou pausadamente meia dúzia de vezes, embora se sentisse feliz por estar de volta, a expectativa acumulada davam-na um efeito de urgência e ansiedade. Naquela mesma noite não foram os pesadelos que lhe invadiram o sono. Na verdade ela sonhara com Carolina, as imagens eram tão vívidas. Entregou-se ao sonho de maneira voluptuosa, as imagens, dos corpos nus, passavam com uma calma nada existente, pois estava tomada pelo prazer de ser e pertencer a ela. Para abraçar, tocar, sentir, possuir. Beijar. Descobrir o quanto eram cobertas de pele. Macia, delicada, ardente, suplicante por toques. Viu claramente ela descer as mãos por seu colo e alcançar o abdome, soltara um gemido ao sentir os dedos dela em sua barriga. Passou as mãos ao redor da cintura dela e puxou-a colando seus corpos. Poderia passar a vida inteira assim, em brasas e ao mesmo tempo em êxtase total. Olharam-se profundamente, as bocas se aproximando, os hálitos misturando-se. Viu-a umedecer os lábios convidando sua boca para tomar a dela, e quando os lábios estavam quase a tocar-se o despertador tocou. Arrancando de Anna-Lú o seu mais profundo desejo. Hora da medicação.

Acordara ofegante, molhada, tanto de suor como entre as pernas, e no fim das contas, não sobrara nada além de uma sensação de vazio, de algo faltando, foi quase como sentir o sabor dos lábios, do beijo. Odiara-se no mesmo instante por deseja-la com tanta intensidade. Levantou-se, foi até o banheiro e lavou o rosto, fez a medicação e voltou para cama. Estar na mesma cidade que ela, fizera sua resistência abalar-se. Instintivamente sentia-se em perigo. Como se um iminente reencontro pudesse colocar todo o seu propósito a perder. Definitivamente ainda não estava preparada para isso, revirou-se na cama ainda por longos minutos até que a medicação fizesse efeito e a levasse aos braços de Morfeu por livre e espontânea pressão. Depois desta noite, com uma lucidez própria de quem está sendo infantil e se recusa a encarar seus verdadeiros desejos, Anna-Lú resolveu que ainda não voltaria a Agência, e programou-se para retornar apenas após o casamento de Marina, não porque ainda sentisse algo ruim, mas intimamente porque não conseguiria ainda, enfrentar Carolina.

Um mês se passou e chegara o dia inevitável, completava-se pouco mais de seis meses desde a última vez que a vira. O coração retumbava feito um louco dentro do peito, as mãos suavam e não era por ser a madrinha e fazer parte do cortejo de Marina, longe disso, na verdade esse era apenas um detalhe, é claro que estava feliz por sua melhor amiga, afinal era o dia mais importante da vida dela. Naquele momento chegara a pensar que precisaria de mais sorte do quê a própria noiva. Era um dia importante para si também. Chegada a hora Anna-Lú postou-se em sua posição, o cortejo começara e ela logo assumira sua pose, cumprindo o dever de esbanjar simpatia.

Por dentro era pura confusão, sobressalto, pressentia que ela estava ali, e olhando rapidamente em volta finalmente conseguiu descobrir a presença dela. Duas chamas azuis queimando-a por completo, ela não resistiu e sustentou aquele mar a invadir e causar dentro de si danos irreparáveis, várias emoções passando por seu peito. Dor. Raiva. Amor. Saudade. Todo esse turbilhão parecia também refletir nos olhos dela, de repente um azul escuro e carregado de uma tristeza fugaz apareceu fazendo-a desviar seu olhar. No piloto automático, Anna-Lú só pôde continuar seu caminho e esperar no altar, a entrada de sua amiga.

A cerimônia foi linda e Marina estivera o tempo inteiro radiante, abraçara Anna-Lú dezenas de vezes demonstrando uma transbordante felicidade. Durante a festa Anna-Lú recebera abraços de outras inúmeras pessoas por conta de sua recuperação, e por isso, após a maratona de abraços dirigiu-se ao terraço, um espaço reservado aos fumantes naquele salão de festas. Sentira um pouco de cansaço e como ali estava vazio achou uma grande ideia descansar um pouquinho. Encontrou elegante, um banco acolchoado em formato de L, e algumas cadeiras de verga viradas para o horizonte, através do vidro transparente era possível contemplar boa parte da cidade. Sentia-se aborrecida e não parava de pensar em Carolina e no quanto a proximidade dela a perturbava. “Tão perto e tão distante”, pensava.

Carolina que apesar de não conseguir sustentar o olhar de Anna-Lú num primeiro momento, contudo depois de se desviar do castanho fulminante, simplesmente não tirara mais os olhos dela, nem durante a cerimônia e muito menos depois que chegara a festa. Anna-Lú estava deslumbrante como sempre. Queria tocá-la, queria senti-la. Até então, não sabia de onde estava a tirar forças para segurar a vontade que tinha de ir até ela, agarra-la e beijá-la ali mesmo, a saudade estava sufocante demais. Falou com diversos conhecidos e com o pai de Anna-Lú, sem deixar, entretanto, de segui-la com o olhar, observou quando ela se dirigiu ao terraço. Conversava com a mãe de Anna-Lú quando isso aconteceu e foi Dona Cecilia quem incentivou Carolina a ir atrás de sua filha no terraço. Juntando forças para espantar o medo que sentia de ser rejeitada, Carolina inspirou profundamente antes de seguir em direção ao terraço, transpôs a larga porta de vidro e enxergou-a sentada em uma das cadeiras, de frente para a paisagem da cidade. De dentro do salão podia-se ouvir a música Now or Never da Halsey, riu-se de si mesma, “Agora ou Nunca, é bem a propósito”, pensou ela.

Parou para admirá-la uma vez mais, a lua iluminando-a tal qual um holofote, os prédios formando uma rua infinita e imaginária, demarcada por pontos de luz que se estendiam pelo horizonte. Aproximou-se vagarosamente. Imaginara muitas vezes esse momento, mas isso não o tornava menos complicado. Anna-Lú lhe parecera triste, apesar de linda. Vestia um longo vestido de festa azul turquesa. Estava resplandecente, o cabelo preso em um coque moderno que deixava algumas mechas arrepiadas estrategicamente. Admirá-la era apenas mais uma das coisas que a faziam estremecer em expectativa, quanto mais andava em sua direção mais o coração disparava, como que por uma espécie de hipnose, sentia-se presa, perdida e encantada ao mesmo tempo. Sentou-se na cadeira ao lado sem falar qualquer coisa. A voz parecia ter desaparecido. Poderia ficar ali a vida inteira, contemplando-a. não deixou de notar que ela fechara os olhos ao sentir sua aproximação.

— Carolina... — a voz saiu quente, pausada, sensual, fazendo-a estremecer novamente.

— O que quer aqui? — completou assumindo um timbre sério e totalmente oposto ao que degustara o nome de Carolina um segundo atrás. O momento de encantamento em que Carol se encontrava fora cortado tão bruscamente que ela despertara imediatamente, com todos os sentidos em alerta. Foi o suficiente para fazê-la voltar à realidade.

— Precisamos conversar — falou decidida.

— Não temos nada para falar — respondeu já se levantando. Não podia ficar ali, tão próxima, seus sentimentos a traíam. Odiou-se por ser tão fraca ao ponto de não resistir tal proximidade. Tentara sair, mas Carolina fora mais rápida e obstruiu seu caminho.

— Por um instante que seja, tente me ouvir Anna Luiza, é tudo que te peço — falou tocando-lhe o braço gentilmente e como se não bastasse, um pequeno sorriso se desenhara exibindo as lindas covinhas que Anna-Lú tanto amava. No mesmo instante, Anna-Lú tentara respirar, mas o toque sutil tornou o ar rarefeito e o pequeno sorriso apenas causou-lhe um maior estrago, sentiu a pele arrepiar e ficar em brasas durante o ínfimo toque. Afastou-se imediatamente e colou as costas na mureta de vidro. O simples toque fez todas as defesas de Anna-Lú ruírem. Ficara muda, sem saber o que responder. A devastadora beleza de Carolina sugando toda a sua consciência. Sem conseguir conter-se, passeou os olhos em Carolina de cima a baixo. O decote revelara a pele alva e brilhante, a falta de tecido naquela parte descobria o contorno dos seios, os cabelos ainda mais dourados com a luz do luar, caíam como ondas sobre os ombros despidos e o olhar azul como sempre lhe invadindo a alma, “maravilhosa”, Anna-Lú a olhava com adoração.

— E..e...eu — gaguejou — preciso ir — Anna-Lú disse por fim.

— Vai fugir?

— Fugir? Fugir de quê? — perguntou Anna-Lú, incapaz de raciocinar. Mas, Carolina vendo que sua aproximação a abalara, não lhe dera trégua. Cortou a distância entre elas e foi implacável. Enlaçou-a pela cintura trazendo-a para junto de si, e cedendo à vontade que tinha não somente de abraça-la, mas de senti-la, colou o rosto em seu pescoço e aspirou o perfume que tanto amava. Aproximou a boca do ouvido de Anna-Lú e sussurrou de forma sedutora.

— De mim. Não fuja, por favor! — A voz saíra rouca, exigente, baixa, sensual. Em seguida, roçou os lábios contornando a curva entre o ombro e o pescoço ocasionando em Anna-Lú uma avalanche de sensações a muito adormecidas. Seu corpo respondera, covardemente, a cada toque dos lábios de Carolina. Fechou os olhos e em alguns minutos estaria totalmente entregue se não fizesse alguma coisa. Então, antes que Carolina aumentasse suas investidas, juntou todo o resto de razão que ainda tinha e gentilmente empurrou-a pelo ombro. Virou-se ficando de costas para ela e começou a falar, sem esconder a emoção em sua voz. Novamente os mesmos sentimentos fazendo seu peito inflar. Dor, tristeza, raiva, amor, saudade, desejo... Tudo junto e misturado. Carolina por sua vez apenas sentira a angústia crescer dentro de si, passou a mão pelos cabelos e esperou que Anna-Lú terminasse de falar.

— Será que você não consegue respeitar minha decisão? Esse nem é um bom momento para isso, Carolina. E, além disso, tudo o que você acha que tem a me dizer, agora já não faz a mínima diferença. Entenda que não quero ouvir explicações — suspirou exasperada antes de prosseguir. — Depois do que aconteceu comigo, eu analisei algumas coisas em minha vida e pretendo me livrar de tudo que me faz mal. E pode ser que você me odeie pelo que vou dizer, mas já que estamos aqui, eu vou falar. Você me fez muito mal nesses últimos tempos. E como disse a meus pais, não me interessam os seus motivos, pois tudo isso só serviu pra me mostrar que nem todo amor do mundo é o bastante para manter um relacionamento. Fazer dar certo e construir uma família requer de nós muitas mudanças. Trocas. Companheirismo. E talvez nós não soubéssemos lidar com tudo isso. Sabe, o meu avô sempre me dizia que se haviam três coisas que não se podia quebrar na vida, eram: a confiança, uma promessa e um coração. Hoje eu penso que não se pode quebrar apenas uma, a confiança, pois se esta se rompe, não há como manter uma promessa e muito menos deixar um coração inteiro. E a confiança parece ter sido algo que sempre nos faltou. Eu posso ter sido uma cafajeste, como você sempre fez questão de repetir, e não me orgulho disso, mas depois que nós passamos a nos relacionar eu jamais estive com qualquer outra pessoa. E tudo que eu queria é que você visse o quanto nosso amor havia mudado minha maneira de levar a vida. Eu posso ter tido diversas mulheres na minha cama, mas se um dia eu te disse que estaria só com você, era a mais pura verdade, posso ter todos os defeitos do mundo, mas trair não faz parte do meu caráter. Eu queria muito que desse certo, pois eu te amo, sim, é isso mesmo que você ouviu. Não vou negar o que sinto, porém, não continuarei a dar murros em ponta de faca. Por isso vou enterrar esse amor que sinto por você. Pois, penso que se não há mutualidade, não há como existir um relacionamento, pois o sentimento tem que ser reciproco. Eu preciso acreditar no seu amor e você precisa acreditar no meu. Mas, como acreditar se você sequer consegue confiar em mim? Se você primeiro se precipita nas suas conclusões ao invés de perguntar a mim? E nessas horas eu me pergunto, será que nunca fui capaz de demonstrar sinceridade? Como acreditar nesse amor, se você sempre pensa muito mais nas aparências e nas convenções sociais? Como acreditar, se você sempre dá preferência a sua carreira? Que na verdade, foi o que sempre importou pra você, Não é?! — balançou a cabeça em negativa. Por isso, essa montanha-russa de ora confia, ora não confia, não é o que eu quero de um relacionamento, acho que merecemos ser felizes, mas não acredito que juntas podemos conseguir. O melhor é seguirmos nossos caminhos e mantermos a relação profissional. O que passou, passou e só o que desejo é que possamos ter uma boa convivência. — concluiu e calou-se limpando algumas lágrimas. Esperou que Carolina se exaltasse, mas a voz com a qual ela respondeu fora quente e envolvente, do mesmo modo que se lembrara durante os últimos cinco meses longe dela. Seu coração novamente ribombou em resposta. Então, Carolina novamente a tocou fazendo com que Anna-Lú virasse para ela.

— Anna-Luiza, — falou encarando seus olhos que brilhavam por conta das lágrimas — só há uma coisa que você precisa saber sobre mim e deve ter certeza disso, eu não minto, não sou fingida e jamais deixo de honrar minha palavra. Seria muito mais fácil jogar tudo para o alto e esquecer essa história de uma vez. Poderia escolher viver em qualquer outro lugar do planeta, mas o problema é que não conseguiria viver sem o meu coração. E já que é aqui que ele está, então, é aqui que devo ficar. Podes chamar de piegas, de clichê, isso não importa, porque o que sinto por ti é verdadeiro e sei que no fundo sabes disso, e além do mais, me parece que vivemos esse clichê desde que nos conhecemos. Poderia aqui pedir desculpas por todo o sofrimento que te causei e pelas diversas vezes em que fui intransigente, porém, palavras não curam um coração partido. Eu sei bem disso, mas ainda assim, acredito que se não há como colar um cristal que fora quebrado, a única solução será comprar um novo. Não estou a te pedir para esquecer o que foi quebrado entre nós, mas podemos tirar os cacos e recomeçar. Você citou algo que seu avô te ensinou e, eu quero citar a você algo que aprendi ao longo da vida acadêmica e que guardo em minha mente até hoje, é uma citação do psicólogo americano Abraham Maslow, que diz: “Há sempre a escolha entre voltar atrás para a segurança ou seguir em frente para o crescimento. O crescimento deve ser escolhido uma, duas, três e infinitas vezes; o medo deve ser superado uma, duas, três e infinitas vezes.” O que eu quero dizer com isso? Estou nada mais que te convidando a superar o medo e deixar que o nosso amor cresça infinitamente. Por isso, eu não posso te prometer que vou desistir, porque eu não poderia. Assim, como não posso negar que meu coração voltou a aquecer-se por saber que ainda me amas — segurou-a levemente pelo queixo antes de completar. — Olhe bem pra mim, Anna Luiza, eu não vou esquecer o nosso amor, entendeu bem? Eu irei respeitar sua decisão, mas não me peça pra te esquecer, porque não irei fazer isso jamais. Sei que precisas pensar em toda nossa conversa e se ainda me quiseres estarei esperando por ti. Sei que sabes que não precisa ser assim. Não nos prive da felicidade. Era o que tinha a dizer. Agora está tudo em suas mãos. A decisão é sua — tão logo terminara de falar, Carolina retirou a mão que segurava o queixo de Anna-Lú e afastou-se como se não tivesse dito nada de importante.

Na manhã seguinte, Anna-Lú acordara cansada e mal dormida, depois da “noitada” de festa esperava cair em sua cama e “capotar” como diria Caio, mas o que tivera foi um revirar inquieto, uma insônia, com gosto ingrato e desagradável. Agora seu corpo estava dorido e as olheiras eram profundas. Pensara em Carolina e na conversa que tiveram, durante toda a madrugada. Levantou-se, pois já não aguentava mais ficar na cama, banhou-se e saiu do quarto. Seus pais, que estavam hospedados em sua casa já estavam de pé e ela os encontrara a mesa do café da manhã, sorriu sem muita vontade, saudou-os com um bom dia e também se sentou para fazer o desjejum. Sua tristeza e cansaço eram visíveis, o que fez seus pais se entreolharem, mas nada disseram. Conversaram por algum tempo até que Eduardo convidou a filha para irem até o escritório a fim de conversarem sobre a Agência. Falaram sobre os últimos projetos e, então marcaram o retorno de Anna-Lú. Antes de sair do escritório, Eduardo lembrou-se dos documentos que Anna-Lú havia esquecido na fazenda. Pegou-os de dentro de uma pasta e estendeu-os para a filha, ao fazê-lo um envelope caiu do meio deles e Anna-Lú logo se abaixou para pegá-lo, estranhou quando vira seu nome escrito em letras garrafais e ficou mais admirada ainda, por ver o nome de Carolina como remetente.

— O que é isto, papai? — Eduardo ficara pálido na mesma hora, esqueceu-se completamente da promessa que fizera a Carolina.

— Uma carta... — suspirou ao dizer o óbvio —... Uma carta que deveria ter sido entregue assim que você acordou, mas esqueci-me completamente, filha — respondeu balançando a cabeça.

— Você quer dizer, que a Carolina deixou uma carta para mim antes de voltar para a capital? — questionou-o somente para ter certeza.

— Sim filha, ela deixou-a comigo no dia em que voltou para a capital, e peço perdão por tê-la esquecido — pediu ele com pesar.

Anna-Lú olhou para o pai com o desagrado estampado em seu rosto, apertou a têmpora direita e depois abriu o envelope no mesmo instante em que sua mãe atravessava a porta trazendo um suco para os dois, o sorriso de Dona Cecilia morrera tão logo sentira a tensão entre pai e filha. Olhou para o papel nas mãos de Anna-Lú e questionou-a com o olhar.

— É uma carta de Carolina — Eduardo adiantou-se em explicar — uma carta que ela deixara e eu esqueci-me de entregar a nossa filha. Eduardo teve de encarar outro olhar de reprovação por parte da esposa.

— Desde quando você está com essa carta, Eduardo?

— Desde que Carolina partiu, mas como já disse a nossa filha eu acabei por esquecê-la no escritório.

— Mas, como você pôde ser tão irresponsável, Eduardo?! — foi mais uma afirmação que uma pergunta — Mas, deixemos isso para depois, vamos Luluzinha, leia logo esta carta! — Cecilia incentivou.

Anna-Lú novamente passara os olhos pela carta, era a letra de Carolina, não havia duvidas, mas o que mais chamara a sua atenção foi a data em que a carta fora escrita e, por isso não pudera deixar de questionar o pai novamente antes de começar a leitura de fato.

— Você disse que ela deixou essa carta no mesmo dia que voltou a Capital?

— Sim — ele assentiu.

— Mas... mas... — ela quase não conseguira completar — isso foi somente cinco dias antes do dia em que acordei! — Exclamou.

— Sim, minha filha, ela partiu apenas cinco dias antes de você acordar — foi sua mãe quem respondera desta vez.

— Mas, então, ela ficou na fazenda todo esse tempo? E porque me fizeram pensar que ela havia me abandonado?! — Perguntou sem esconder sua indignação.

— Desculpe-nos, mas você não deixava nem tocar no nome dela quando acordou — Cecilia respondeu uma vez mais e afagou o rosto da filha. — Mas, vamos deixa-la a vontade para que possa ler com mais tranquilidade — dito isso saiu puxando Eduardo junto a si.

Anna-Lú pegou seus óculos de leitura novamente e sentou-se em uma das poltronas e respirou fundo antes de começar a leitura.

Anna Luiza, — dizia a primeira linha da carta.

“Queria tanto esperar até você voltar pra mim, meu amor. Você passou por coisas demais nesses últimos dias. Quase oito meses se passaram desde que te conheci, parece tão pouco, não é? Você mudou tanta coisa em mim, meu amor. Sinto tanta saudade, tenho tanta falta de você, do seu perfume, do seu jeito de me fazer sorrir, do jeito que me olha, com toda aquela luxúria e desejo que me fazem corar. Odeio este vidro que me separa de ti e me impede de te tocar e te sentir, mesmo que estejas nessa cama. Perdoa-me por não ter sido capaz de te entender, por tudo que a fiz sofrer e pensar, e perdoa-me por ser tão covarde em relação ao nosso amor. Maggie jamais teria estado entre nós se eu tivesse a atitude de enfrenta-la, mas fui tão medíocre e hipócrita por pensar apenas nas aparências. Você é tão melhor do que eu, meu amor. E tudo seria tão diferente se eu fosse capaz de enxergar além de meus ciúmes idiota. Ter você ao meu lado é o que de mais precioso aconteceu comigo em anos, antes eu vivia por viver, hoje vivo com a esperança de realmente me sentir viva. Esses poucos meses ao teu lado foram os melhores de minha vida e são essas lembranças que me mantém respirando e a te esperar. Estou tentando não desfalecer somente com ideia de deixar-te e de não poder está aqui quando acordares. Dói-me tanto deixar-te, mas é preciso. Nesse momento a empresa que você tanto ama, e todo o seu trabalho precisam de mim, mas somente enquanto você não volta. Desejo fervorosamente que você se recupere e volte pra mim, pra todos nós que te amamos. Nunca desistirei do nosso amor se você ainda me der outra chance. Por isso, esta carta não é um adeus, pois sei que nos veremos em breve. Então, tudo que peço que lembres, é que te amei desde o instante em que a vi, e desconfio que eu vá amar-te para sempre! Vejo-te em breve, meu amor”.

Com todo meu amor... Carolina

Anna-Lú ergueu os óculos para o alto da cabeça enxugando os olhos marejados e limpando com o dorso das mãos as lágrimas que insistiram em rolar por seu rosto. Fitou o papel em suas mãos e não soube precisar o tempo que se passara. Perdida e afogada por seus pensamentos e sentimentos deixou-se levar em devaneios dúbios. Julgara-se tão melhor que Carolina e acabou por cometer o mesmo erro. Enxergara em si mesma naquele momento, os mesmos defeitos que tanto apontara em Carolina. Precipitação, procrastinação e desconfiança. Fechou os olhos, como se tentasse manter a calma e odiou-se por sequer cogitar a possibilidade de um diálogo mais aberto com quem tanto dizia amar. ‘Que espécie de amor é esse?’, perguntava-se. Sentira-se tão hipócrita. Mesquinha. E infantil. Acusou-a tantas vezes e fez a mesma coisa com ela, ficara tão cega por se sentir abandonada que não fora capaz de pensar com clareza. Absorta em pensamentos que a remetiam para Carolina, Anna-Lú assustou-se quando bateram na porta.

— Desculpe interromper minha filha — disse sua mãe ao entrar — está aqui alguém que quer muito falar com você — concluiu deixando que sua convidada passasse. Anna-Lú levantou-se.

— Você?!

— Oi, Anna-Lú — saudou-a beijando-lhe as faces com carinho.

— Não esperava você aqui, Alicia, aconteceu alguma coisa?

— Sim, aconteceu. E você sabe o que foi.

— Eu??

— Sim, Anna-Lú. Não achas que estás sendo dura demais com a Carolina? — perguntou sem rodeios. Anna-Lú engasgou com o ar. Tossiu, fora pega de surpresa por essa inquisição.

— Não achas que esse é um assunto meu e da Carolina? — Anna-Lú rebateu depois de tossir.

— Poderia até ser, se vocês se comportassem como adultas que são, — respondeu com ironia e sem intimidar-se continuou — podes pensar que sou nova demais para falar sobre as “coisas de adultos” — fez aspas com as mãos e revirou os olhos antes de continuar — mas, o fato é que tudo isso que aconteceu e está acontecendo entre vocês está acabando com a minha mãe, então, nesse caso sim, a coisa vira assunto meu também. Ela está péssima desde que você sofreu aquele maldito atentado. Ela passou quase um mês inteiro plantada naquele hospital, sem sair de lá nem pra sequer trocar de roupa, tomar banho, pra tudo ela usava as dependências daquele hospital. Ela simplesmente decidiu que só sairia do hospital quando você acordasse e não teve quem a fizesse mudar de ideia.

Alicia iria continuar seu discurso, mas Anna-Lú a interrompeu de forma brusca.

— Espera aí. Você está dizendo que a Carolina esteve todo esse tempo no hospital e não na fazenda?!

— Sim, você não sabia?

— Não, eu soube a pouco que ela só veio embora apenas cinco dias antes do dia em que acordei, mas eu achei que ela havia ficado na fazenda e só comparecia ao hospital nos horários de visita, eu realmente não sabia disso... Meu Deus! Ela estava dormindo naquele sofá minúsculo, que coisa ela tinha na cabeça?!

— Na cabeça eu não sei, mas no coração, com toda a certeza era amor.

Olhando para Alicia falando tão segura sobre o amor, Anna-Lú notou que para falar de amor não havia necessidade de se fazer um discurso poético, na verdade tudo o que precisara foi ouvir seu coração e já fazia algum tempo que ele clamava por Carolina. Dera-se conta de que os meses que haviam passado não foram nada fáceis, mas se não foram fáceis para si, também não foram melhores para Carolina, e também compreendeu que por mais que você fuja de seus desejos eles acabam encontrando um meio de aflorarem. Descobriu ainda, que aquelas vontades adolescentes de viver um grande amor com alguém especial, bem, na verdade isso já estava acontecendo e tudo o que precisava a partir de então, era habituar-se a um novo começo. Pensou na última frase que Carolina dissera na noite anterior, “A decisão é sua”. A mente de Anna-Lú logo pipocou em uma pequena ideia de reconciliação.

— Você tem toda razão, eu amo a sua mãe e tenho sido dura demais com ela. Preciso desculpar-me, mas vou precisar da sua ajuda.

Falando isso puxou Alicia para junto de si e começou os preparativos para uma noite especial. Pediria perdão, mas pediria de uma forma muito peculiar. De uma coisa Anna-Lú tinha certeza, mulheres adoram uma surpresa. Mas, sabendo que teria pouco tempo e querendo fazer tudo naquele mesmo dia, pois não suportaria esperar mais tempo, saiu com Alicia para preparar a surpresa de Carolina. Era domingo e a primeira coisa que fez foi combinar com Alicia um jeito de tirar Carolina de casa. Precisava da casa livre, chamou também Caio e Flavia para ajudar. Caio ficara mais que saltitante com a empreitada e fizera tudo o que Anna-Lú recomendara. Anna-Lú estivera nervosa, mesmo com tudo o que planejara totalmente encaminhado, esperava com fervor que Carolina a perdoasse. Sabia que ela havia prometido que esperaria "mas, nunca se sabe" pensava Anna-Lú. Se tudo estivesse como o planejado, Carolina encontraria uma grande surpresa logo ao entrar em seu apartamento. Sentia o coração acelerar a cada minuto que passava, deixara uma caixa de presente em cima da cama de Carolina, em seu interior, um tablet e um bilhete.

Carolina não estava pouco ou nada animada para sair, sentia-se triste e esgotada, mas como havia prometido para a filha que reagiria, decidiu que para começar, a melhor forma de fazê-lo era aceitando o convite para irem ao cinema. Apesar de estar a maior parte do tempo dispersa, Carolina até que conseguira se divertir. Ao saírem do shopping Alicia deixou que sua mãe voltasse para casa sozinha com a desculpa de ir encontrar-se com Flávia, Carolina deu de ombros sem desconfiar de coisa alguma. Foi com grande admiração que Carolina deparou-se com seu apartamento naquele entardecer de domingo, a sala principal estava coberta por pétalas de rosas que faziam um caminho em direção ao corredor que levava aos quartos, pôs as mãos sobre a boca arregalando os olhos, e seu único pensamento se resumia a Anna-Lú. Um sorriso bobo nasceu em seus lábios e se Anna-Lú pudesse vê-la naquele momento, veria as covinhas que tanto lhe chamavam a atenção, totalmente escancaradas. Como uma criança que acabara de ganhar um lindo presente rodopiou pela sala em uma dança silenciosa. Com felicidade seguiu o caminho de pétalas e não pôde evitar o retumbar de seu coração antes de atravessar a porta de seu quarto, o que mais desejava era encontrar com Anna-Lú e poder beijá-la e abraça-la.

Ao entrar pela porta, por um instante ínfimo, Carolina decepcionou-se por não encontra-la, mas o sentimento ruim logo dera lugar a uma nova surpresa. Com mais atenção, reparou que seu quarto, sempre tão cleam, estava totalmente diferente, deu um giro de 360 graus e observou a decoração com fios de luzes espalhados pelo teto, no chão novamente as pétalas de rosas, acima da cabeceira um varal de fotos (fotos dela com Anna-Lú, diga-se de passagem), adornado com luzes de pisca-pisca. E ainda, luminárias de garrafas de vinho espalhadas por toda a parte dando um toque romântico e ao mesmo tempo sexy. Porém, o que mais lhe chamou a atenção fora a cama, coberta por rosas inteiras e bem ao centro havia uma caixa, como um presente. Sem perder tempo, Carolina correu até a cama e abriu a caixa, tamanha era sua curiosidade e ansiedade.

Ao abri-la encontrou um bilhete e um tablet, achara um tanto inusitado o que encontrara na caixa, sorriu e ansiosa leu o bilhete.

"A boa noticia é que não tens que esperar mais - dizia o bilhete - hoje se tornará uma noite mais que especial, então espero que estejas preparada. Por favor, desbloqueie o aparelho em suas mãos, aperte o play e assista a um pequeno vídeo que lhe preparei. Quando terminar abra o bilhete que deixei na bancada do banheiro."

Carolina fez exatamente o que Anna-Lú lhe pedira, desbloqueou o aparelho em suas mãos, respirou fundo e apertou o play. O som do violão em paralelo com a voz de Elektra dera início a música. “SE PENSAR” em letras garrafais apareceu escrita em giz azul numa pequena lousa verde que preenchia a tela. Logo depois, a imagem de Anna-Lú apareceu fazendo Carolina sorrir, um sorriso enorme. Conforme a música tocava Anna-Lú levantava várias outras plaquinhas com frases que ditavam a declaração de seu amor.

“Jamais deixei de fazê-lo...”

“... Pensar em ti é inevitável a cada hora do dia.”

“Acredito que tenhas pensado em mim em todo esse tempo...”

“... pois os meus pensamentos...”

“... jamais deixaram suas lembranças.”

“E, sim, eu espero mesmo que também penses em mim.”

“Na verdade, mesmo sem admitir...”

“... foi o que sempre desejei...”

“... desde que te conheci.”

“Você sabe como me sinto, não sabe?”

Os olhos castanhos brilhavam intensamente para a câmera.

“Eu te amo Carolina.”

“Não tenho mais escolha.”

“Meu coração tem vontade própria.”

“Erros, cometemos e seguimos adiante com um novo aprendizado...”

“... e assim, eles fazem parte de nossa história.”

“Hoje, meu único desejo...”

“... é o seu perdão.”

“E espero conseguir.”

“Para que assim...”

“... você possa ficar comigo.”

“Pra que eu seja sua...”

“... e você minha...”

“... Por toda a vida!”

“E como diz a música“Talvez seja a hora, talvez seja agora.”

“Se você ainda me quiser.”

“Amo-te,” Anna-Lú soprara ao final da música, sem emitir som e Carolina vira o brilho que os olhos castanhos emanavam, e não somente isso, pudera sentir o amor intenso que ambas compartilhavam. O vídeo terminou e Carolina apertou o aparelho junto ao peito como fazem aquelas personagens bobas de filmes adolescentes. Suspirou limpando seus olhos marejados e lembrou-se das instruções de Anna-Lú, Carolina correu até o banheiro e encontrou o outro bilhete dobrado ao meio, desdobrou-o e leu-o apressadamente.

Se estiveres a ler este bilhete é porque ainda tenho um resquício de chance com você (risos) — Carolina não pôde deixar de também sorrir do que Anna-Lú escrevera. “Boba”, pensou ela e continuou a ler com o coração transbordando em felicidade — Como disse antes, hoje será uma noite especial e por isso, quero fazer-te um convite: Janta comigo essa noite? Se a resposta for um SIM, vá até a sala às 20h em ponto, se não apareceres entenderei como um NÃO. Mas, antes de qualquer coisa, preparei um presente igualmente especial e se você se dirigir até a banheira, verá que lhe preparei um banho revigorante, espero que goste. Ao lado da banheira deixei um balde com seu champanhe favorito, sirva-se de uma taça e sinta-se a vontade, a água está na temperatura que você adora, aproveite e relaxe um pouco. As 19h saia da banheira e arrume-se para o nosso encontro, estou muito ansiosa para vê-la. Até mais logo meu amor!

Carolina correu até a banheira e encontrou tudo como Anna-Lú dissera, tocou a água com a ponta dos dedos e sorriu bobamente ao pensar em como Anna-Lú ainda lembrava-se da temperatura ideal para ela. Aspirou profundamente e o odor levemente cítrico com notas de peônia rosa e jasmim, invadiu seu olfato como um convite a relaxar. Avistou o balde com o champanhe e a taça repousando ao lado, despiu-se sem pressa. Procurou pelo celular e programou o despertador para as 19h, entrou na banheira cuja superfície da água estava coberta também com pétalas de rosas. Mergulhou sentindo a água cobrir-lhe a cabeça, serviu-se do champanhe e relaxou como Anna-Lú recomendara.

Quando saiu do banho, depois que o despertador tocara, não cabia em si de ansiedade. Ao entrar no closet, outra surpresa, um de seus vestidos de noite fora cuidadosamente separado, assim como, um par de sandálias de salto. Carolina novamente abriu um largo sorriso ao perceber sobre o vestido, outro bilhete cuidadosamente dobrado ao meio. Abriu-o e pôs-se a ler.

Mãe — dizia o terceiro bilhete da noite — esta noite foi preparada com carinho e com muito amor, e ela é toda sua. Você merece tudo isso e muito mais, desejo que tudo esteja saindo como a Anna-Lú planejou. Lembra o que eu disse ontem sobre a hora de reagir? Pois é, essa é a hora Carolina, de reagir, de amar com intensidade, então, ame. Sorria. Viva... E seja muito feliz ao lado de quem você ama. E aproveite a noite. Amo-te mãe. Beijos.

Ass. Alicia

P. S.: Espero que tenhas gostado da minha escolha para essa noite, esse vestido é realmente sexy (risos).

Carolina terminara de ler muito emocionada, e sorriu ao dar-se conta do quanto sua relação com Alicia havia evoluído, e grande parte disso ela devia a Anna-Lú e seu jeitinho de sabichona. Riu-se. Consultou o relógio e passou a arrumar-se. O vestido longo, que Alicia escolhera, tinha uma fenda que ia até a altura da coxa, era em veludo de um ombro só na cor Azul Royal, a sandália na cor prata dava um toque sutil, mas elegante, além de delicado e sexy. Terminara todo o seu look exatamente às 19h55min. Seu coração batia como um louco em antecipação, apenas por saber que Anna-Lú a esperava a alguns passos dali. Respirou fundo e saiu do quarto, caminhou devagar em direção à sala. Antes mesmo de Anna-Lú entrar em seu campo de visão, Carolina sentira o fragrante odor de seu perfume a invadir suas narinas, aspirou sentindo a saudade esmagar o peito. Quando finalmente chegou a sala, sorriu corando. Anna-Lú, simplesmente, linda, avassaladora, usava um vestido que marcava cada parte de seu corpo, preto tomara que caia na altura dos joelhos sem ser vulgar, mas terrivelmente sexy, na percepção de Carolina. Ela estava ao centro da sala onde fora posta uma pequena mesa de tampo circular, e pelo que parecera para um jantar a dois. Em pé, Anna-Lú segurava em suas mãos um buquê de lindas rosas vermelhas. E o melhor de tudo para Carolina, ela lhe sorria. Um sorriso largo e luminoso, e claro o olhar muito brilhante. Olhar este, que não conseguira esconder a avaliação descarada que fizera do corpo de Carolina ao passear os olhos de cima a baixo.

Anna-Lú batia os pés descontroladamente conforme os minutos iam-se passando. Faltando dez minutos para as 20h, posicionou-se próxima a mesa que arrumara com a ajuda de Alicia, Flávia e Caio. O jantar já estava totalmente providenciado, apenas esperando a hora de ser servido. Colocara um som ambiente e o local estava à meia luz e novamente enfeitado com garrafas luminárias ao redor. Ao avistar Carolina no inicio do corredor seu coração disparou e não pudera conter seu sorriso, muito menos a vontade que teve de passear pelo corpo de Carolina com os olhos. Viu o exato momento em que Carolina corou, e sorriu ainda mais. Os cabelos de Carolina estavam soltos, como Anna-Lú adorava. Sentira suas mãos tremerem quando finalmente encontrou o mar azul a encarar-lhe. Foi ao encontro de Carolina e estendeu-lhe as flores que segurava. No ato as peles tocaram-se e sua boca secou de repente, Carolina lhe sorriu agradecendo, mas nada era ouvido, além do retumbar descompassado dos dois corações.

— Boa noite, Carolina, obrigada por aceitar meu convite — beijou-a suavemente na face e pôde sentir o aroma tão característico do perfume dela.

— Boa noite, Anna Luiza, eu é que agradeço o convite.

— Você está linda — Anna-Lú tentara disfarçar a emoção.

— Você também.

Ficaram em silencio, apenas olhando-se, uma dentro dos olhos da outra. Sorriram envergonhadas depois de um tempo.

— Quer dançar? — Anna-Lú convidou.

— Claro — respondeu sorrindo.

Anna-Lú pegou as flores das mãos de Carolina e as colocou em um vaso, e trocou a música. Carolina não pôde deixar de sorrir quando a voz de Bon Jovi preencheu a sala, cantando “Have a Little Fifth in Me”, a primeira música que Carolina cantara para Anna-Lú. Sorrindo Anna-Lú veio ao encontro de Carolina, ficou em sua frente e fez uma firula reverencial fazendo Carolina rir gostosamente. Levantou-se e tomou Carolina nos braços, repousando as mãos em sua cintura. Carolina por sua vez, passou os braços ao redor do pescoço de Anna-Lú e aproximou seus rostos. Ficaram naquela dança cadenciada, sentindo o calor que emanava de seus corpos, e como cada parte se respondia de forma mutua. Aproveitando-se do momento Anna-Lú procurou o ouvido de Carolina e sussurrou.

— Eu te amo, eu sempre te amei. Você me perdoa? — procurou o olhar azul. Carolina encarou-a, sem, contudo parar a dança.

— Não há o que perdoar desde que você fique comigo — respondeu abrindo um largo sorriso.

Sem mais se conter Anna-Lú abraçou-a e rodopiou com ela no ar, fazendo Carolina soltar um grito de surpresa. Anna-Lú repetiu várias vezes, “Eu te amo”, com Carolina no ar para depois beijá-la apaixonadamente. E como sentira falta daqueles lábios.

— Te amo — Carolina olhava para ela apaixonada, beijou-a antes de voltar a falar — E nada vai mudar o que eu sinto por você.

— Eu também te amo demais, gostou?

— Exatamente do quê?

— Da surpresa!

— Amei! Você é louca e eu amo isso em você! — beijou-a e riu jogando a cabeça para trás.

Carolina estava em êxtase e sentiu um arrepio gostoso subir por toda a extensão de seu corpo quando sentira a boca de Anna-Lú apossar-se de seu pescoço e estremeceu ainda mais quando ao mesmo tempo ela buscara ainda mais contato apertando sua bunda com as duas mãos. “Você me enlouquece”, sussurrou quando Anna-Lú voltou seu rosto para beija-la outra vez.

— Então, se prepare para enlouquecer ainda mais — respondeu maliciosa entre os beijos.

Virou-a de costas para si tirando as mechas loiras do caminho e sussurrando, disse “Eu quero você”. E não parou mais de beijá-la. Continuou. “Adoro quando você se arrepia assim”. As mãos passeavam sem controle pelo corpo de Carolina. Anna-Lú começou a subir o vestido Carolina ali mesmo, na sala, Carolina deu um pequeno espaço para que ela o tirasse por completo, estava louca de desejo. Anna-Lú voltou a colar-se nas costas dela apertando os seios por cima do sutiã sem alças que ela usava, ouviu Carolina soltar um primeiro gemido assim, que uma de suas mãos alcançou sua intimidade, que foi acariciada por Anna-Lú por cima da calcinha já úmida. Abandonaram imediatamente o jantar que Anna-Lú preparara e seguiram para o quarto.

Carolina tirou o vestido que Anna-Lú usava e assim que se viram nuas não houve resistência, seus corpos se encontraram e Carolina se perdera nos carinhos de Anna-Lú. Foi com gemidos abafados pelos beijos cada vez mais ardentes, que elas andaram vagarosamente até a cama. Anna-Lú não queria pressa naquele momento. Passara os últimos meses, sufocada pela saudade do corpo de Carolina, então parou para admirá-la um pouco mais. Os feixes de luz vindos de cada luminária se derramavam pelo quarto e iluminaram a silhueta de Carolina fazendo-a ainda mais sexy, “muito melhor que minhas lembranças”, Anna-Lú pensou sorrindo safadamente. Começou a explorar o corpo de Carolina com beijos delicados, experimentou cada pedacinho dela, saboreava com deleite cada parte que encontrava, pois ela já conhecia muito bem quais eram as que mais a faziam sentir prazer. Carolina experimentou ondas de arrepio ao sentir o corpo de Anna-Lú sobre o seu, as bocas buscaram-se e ao mesmo tempo Anna-Lú encaixara delicadamente sua coxa sobre o sexo úmido de sua amada. Carolina gemeu alto ao sentir a pressão sobre seu sexo quente, Anna-Lú não pôde deixar de sorrir e começou a mover-se languidamente sobre ela.

Carolina delirava com cada mexer e instintivamente começou a também rebolar almejando por mais contato. Como se interpretasse seus pensamentos, Anna-Lú ergueu-se trazendo Carolina junto de si. Cruzou suas pernas com as de Carol fazendo com que seus sexos se encontrassem de modo pleno. Abertas, uma para a outra, não foram capazes de segurar o gemido rouco que escapara de suas bocas, quando ambas sentiram seus líquidos se misturarem com o roçar de suas intimidades. As bocas se chocaram com desespero e os seios de bicos intumescidos também se encontraram fazendo a vontade crescer. A cada movimento Carolina se deliciava com todo toque de Anna-Lú em seu corpo. O mover acelerou conforme o desejo as consumia, até que os pensamentos uniram-se dentro de um turbilhão. O suor fazendo os corpos deslizarem ainda mais. Por uns breves momentos não pensaram em mais nada. As palavras desconexas eram apenas jogadas ao vento, enquanto a mão de uma mergulhara nos cabelos de outra. Os corpos balançaram quase que ao mesmo tempo e ambas gemeram alto, como se algo explodisse dentro do peito de cada uma. Perderam a conta de quantas vezes chegaram ao clímax somente naquela posição. E só então, com a respiração descompassada, relaxaram.

Mal se recuperaram e Carolina ainda encheu Anna-Lú de beijos, antes de fazê-la cair de costas sobre a cama e voltar a cobrir o corpo dela com o seu. Desejosa de ser tocada, Anna-Lú olhou-a bem dentro dos olhos e sorriu largamente, “Você me faz sentir a pessoa mais feliz do universo, eu te amo demais”, sussurrou fazendo o coração de Carolina desacertar o compasso. “Eu também amo você”, foi tudo o que Carolina conseguiu dizer de volta, antes de provocar um verdadeiro tsunami de prazer. Os lábios que percorreram o corpo de Anna-Lú, alastraram um ardor de desejo latente por onde passavam. Carolina provou, com a ponta da língua, os mamilos rijos e deliciou-se com o gemer e o arquear do corpo que se oferecia sem pudores para ela. Anna-Lú entregou-se louca e apaixonadamente às carícias de Carolina, fechou os olhos e apertou o lábio inferior num anseio mudo, assim que Carolina com a boca alcançou o baixo ventre. Sentira seu sexo se contrair de antecipação ao perceber os dedos que lhe acariciavam a parte interna das coxas. Carolina continuou usando a boca e as mãos sem pressa, o que fazia o prazer que Anna-Lú estava a sentir, beirar ao desespero. Delirou ainda mais quando Carolina aproximou a boca de sua região pulsante, jogou os quadris em sua direção, pedindo que ela a invadisse. Gemeu alto ao escutar Carolina segredar palavras gostosas de ouvir, mas inconfessáveis se fora da cama.

Anna-Lú contraiu-se agarrando os lençóis da cama, pois Carolina finalmente lhe acariciou a região íntima com o polegar. Um grito gutural saiu-lhe do fundo da garganta. Carolina mergulhara com a língua no mais profundo de sua intimidade, fazendo-a gemer sem restrições. Anna-Lú entregou-se a boca que a fizera chegar ao êxtase vezes sem conta. Amaram-se, deliciosa e loucamente noite adentro e, assim ficaram até as pernas fraquejarem, pedindo por descanso.

— Assim você me mata — Carolina reclamou falsamente, aninhada ao peito de Anna-Lú. Jocoso foi o tom que Anna-Lú usara para retrucar.

— Ao menos morrerá feliz.

— Tão convencida! — beliscou-a de leve.

— Mal voltamos e já estás a me agredir? — disse sorrindo.

— Claro que não! — Roçou os lábios onde beliscara a um segundo. Anna-Lú arrepiou-se.

— Assim quem me mata é você.

Disse e arrebatou a boca de Carolina apertando-a entre os braços. Teriam continuado se o estômago de Carolina não reclamasse. Riram entre o beijo, Anna-Lú soltou-a e saiu da cama. Procurou algo para vestirem e voltou para onde Carolina estava, encontrou-a já sentada, sorriu para ela com desvelo, como se fosse a primeira vez que a visse, e na verdade era. Era a primeira vez que a vira como sua, verdadeiramente. Como se esta noite fosse o start para o que elas realmente haviam guardado uma para outra. Um amor somente delas. O começo para quem tem o resto da vida para se conhecerem. Anna-Lú levou a mão até o rosto de Carolina e afagou-a carinhosamente. O toque que Carolina sentiu fora suave, fechou os olhos e entregou-se àquela carícia a muito esperada. Levantou-se ainda sentindo os dedos que lhe acarinhavam, ao abrir os olhos fitou a boca que já se inclinava em sua direção e a recebeu com toda a volúpia com que sempre se tomaram, desde a primeira vez.

O beijo fora quase como respirar, cederam a toda a saudade ainda guardada, a todo o desejo de estarem nos braços de quem se ama. Separaram-se lentamente e num movimento sutil Anna-Lú dera um passo para trás, tomou uma das mãos de Carolina e a conduziu para fora do quarto sorrindo. Palavras naquele momento eram desnecessárias. Voltaram à sala e já passava das duas da manhã, Anna-Lú pediu para que Carolina assentasse a mesa que havia preparado, puxou a cadeira para ela e se dirigiu a cozinha. Lá, colocou o jantar simples, que ela mesma fizera questão de preparar, para esquentar e voltou à sala para ligar a música novamente. Colocara a playlist, que havia gravado para aquela ocasião, no modo aleatório e sorriu quando “All For You” de Alex e Sierra, começou a tocar. Impossível não remeter ao momento que estava vivendo. Foi até Carolina e a beijou terna e languidamente. Jantaram já na madrugada num clima cheio de romance.

Na manhã seguinte, Anna-Lú foi a primeira a acordar, sentiu o peso sobre o seu corpo e sorrira antes mesmo de abrir os olhos. Quando finalmente os abriu seu sorriso era ainda maior, olhou-a ternamente e reviveu a noite anterior com o peito repleto de alegria. Depois de um tempo, desvencilhou-se vagarosamente afim de não acordá-la. Vestiu um roupão e antes de sair do quarto, deixou um último bilhete sobre a cama, no mesmo lugar que ela desocupara, seria a primeira coisa que Carolina veria ao acordar, ao menos era isso que planejara. Foi para a cozinha preparar o café da manhã, sentia-se imensamente feliz e um pouco ansiosa.

Ao acordar Carolina estranhou o espaço vazio ao seu lado, tudo o que mais queria era encontrar o olhar de Anna-Lú. Um súbito medo a invadiu, medo de que Anna-Lú caísse em arrependimento e já não estivesse mais ali. Olhou em volta até avistar sobre a cama um pedaço de papel azul, pegou-o com pressa e o abriu de imediato.

Carolina, eu estou meio confusa — o coração de Carolina disparou de medo para logo depois desanuviar com o restante das palavras. Pensei que nossa lua de mel fosse para acontecer somente depois do casamento. Meu Deus! Começamos antes da hora (risos)! Isso me faz pensar que preciso reparar este erro imediatamente, então:

Carolina Vandré quer casar comigo?!

P. S.: Aguardo-te para o café, e estou ansiosa pela resposta, sem pressão (risos).

P. S. (2): Amo-te!

Carolina não pôde deixar de sorrir largamente com a proposta tão inesperada, já estava imensamente feliz por Anna-Lú ter voltado atrás com relação as duas, mas jamais passara por sua cabeça que ela fosse querer um relacionamento tão comprometido. Escorregou para fora da cama e alcançou a camiseta que vestira para jantar e saiu em disparada atrás de Anna-Lú. Encontrou-a na sacada com uma mesa repleta de guloseimas, mas não fora isso que mais chamou sua atenção, e sim as íris castanhas, ardentes e apaixonadas, com qual Anna-Lú a esperava, em pé com um sorriso deslumbrante. Poderia ter respondido de várias formas, mas resolveu apenas ser prática e objetiva. Avançou em direção a ela e com o mesmo ímpeto pulou em seu colo abraçando-a com as pernas em sua cintura, apertou-a com força contra o peito e gritou “SIM”, vezes sem conta. Anna-Lú a fez escorregar de seus braços e ainda sorrindo encostaram as testas, olhou dentro daquele mar azul que sempre a invadia e disse “Eu te amo, eu nunca deixei de te amar um instante sequer”, ganhou um lindo sorriso de volta e sem mais esperar por resposta beijou-a com a respiração no mesmo ritmo que a de Carolina, um beijo quase delicado no inicio, apenas o roçar dos lábios para não obstante se multiplicarem em muitos outros, só que, mais ardentes e mais intensos.

(Um ano depois...)

— UAU! — Exclamou Anna-Lú. Essa caixa está cheia, precisamos de um pouquinho maior.

— Você não para de imprimir fotos.

— Exagerada...

— Essa é a prova de que a exagerada não sou eu! — retrucou Carolina espalhando o conteúdo da caixa sobre a cama. Aqui tem quase o álbum inteiro do nosso casamento e lua de mel — completou rindo a valer.

Anna-Lú revirou os olhos fazendo uma careta para Carolina e depois pegou do monte um folder que não via há muito tempo. Passou os olhos por ele e sorriu de si mesma, na época era uma cética quanto ao amor, guardou aquele papel depois que conhecera Carolina quando o havia encontrado junto a algumas coisas do tempo da faculdade.

— Afinal, por que você guardou esse folder? Pois não me lembro dele. Carolina indagou tirando-a de seus devaneios.

— Bom, eu achei bem a propósito o que estava escrito em azul, depois que te conheci para mim fez todo o sentido.

— Quero ler também. Pegou o papel das mãos de Anna-Lú, mas antes de ler, não pode deixar de notar a data no panfleto. E acrescentou. — Olha só que coincidência, eu me lembro desse dia, foi no mesmo dia da audiência final do meu divórcio e também, o dia em que ganhei um emprego fora do país. Lembro que eu estava tão atrasada que quase derrubei uma moça distraída. E por falar nisso, foi a primeira vez que me sentir despida por uma mulher. Carolina sorriu ao lembrar-se.

Anna-Lú no mesmo instante teve um estalo, foi como se Carolina descrevesse o que havia acontecido naquele dia. Há anos atrás. Não podia ser, mas claro que podia, “os olhos azuis, claro” pensou ela. Riu de se acabar. E Carolina tão pouco entendeu o motivo de tamanha risada.

— Afinal, posso saber qual a piada?

— Não é piada, por acaso essa sua entrevista foi perto do Campus da Federal?

— Sim, como sabes?! Espantou-se.

— A garota que você atropelou e que te comeu com os olhos era eu! — riu novamente.

— Você??? Mas... Como??

Carolina foi invadida com a mesma lembrança, só então percebeu que era a verdade, realmente era Anna-Lú, puxou pela memória e olhou-a arregalando os olhos e caindo em si. “UAU”, foi tudo o que disse.

— Realmente as linhas azuis agora fazem mais sentido ainda. Concluiu Anna-Lú, fazendo Carolina voltar-se novamente para o papel em suas mãos, pôs-se a ler.

“Amor verdadeiro...” – dizia o texto. “... é aquele, onde duas pessoas se amam independente das situações e problemas que possam viver; é aquele onde nada o abala e que resiste a qualquer dificuldade, é aquele em que o casal se une nos momentos difíceis e celebra todos os momentos alegres juntos. Amor verdadeiro é um tema muito discutido, muitas pessoas duvidam se ele realmente existe.”

E “ele realmente existia” pensou Carolina, olhou para Anna-Lú sorrindo e sussurrou “Concordo redondamente”, recebeu um sorriso ofuscante e ao mesmo tempo malicioso, como recompensa. A distância foi transposta rapidamente. Beijaram-se e as carícias se intensificaram aos poucos, sem pressa, apenas deliciando-se uma nos braços da outra, externando todo o afeto, carinho e amor que agora, já eram tão seus conhecidos.

(FIM)

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Comentários

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Sua história é incrível, já li e reli algumas vezes e provavelmente voltarei a ler, cada conto é muito bem escrito, parabéns!

Espero que volte algum dia!!!

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Sou sim, KKK

Me chama lá no Instagram que agora fiquei curiosa kkj

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Gostou do porta? Kkkkk não és tu que tens dois gatinho amarelos?

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Porta foi ótimo kkkk

@.@ como assim me vê no insta????

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Gentiiiiiiiiiii kkkkkkk....nossa fiquei super feliz com os comentários um valeuzão kkkk bem.grandão pra vcs...Roge852, Angeline, R Porta (sempre te vejo no Instagram), s.veneno kkkk e vou postar aqui um palhinha do meu novo conto...mas o restante vcs poderão encontrar no site do Lettera. BJS

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Mulher gracas ao conto do Meu anjo voltei a ler os contos aqi e estou tentando terminar o Meu e tive a honra de reler os seus nossa eu Amo seu conto e sempre qe puder irei reler suas palavras seus contos inspiram assim como mtos outros aqi iria ser uma honra para mim ter contato com vc, me manda um email uma carta rsrsrs viiinhamp@gmail.com aguardoooook

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Deveria ter nota maior pois fiquei dias lendo e relendo, é lindo, intenso, triste ou seja sensacional. PARABENS

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Oi Day90, eu uso o perfil Eri Oli...mas é só procurar por Escrito em azul...que vc me acha kkkk...também postei lá...vc vai gostar do site...é somente de Literatura Lésbica

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Vou procurar você lá, não conhecia esse site. Usa o mesmo perfil "gatinha_007"?

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May....kkkk sei bem como é...agradeço por ter acompanhado e peço desculpas pela demora.

Day90, a procrastinação é um defeito que tenho kkkk, mas antes tarde do quê nunca, não é? Então, bem clichê hein, mas agradeço pelos elogios e, atualmente eu publico no Lettera....procura lá...bjs

Obrigada Garota Atrevida, fico imenso feliz ☺ por seu comentário... É gratificante ter um retorno tão bom.

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Viciante seria a palavra para descrever esse conto. Li tudo essa madrugada, não conseguia parar. KkkkFinal perfeito. Um dos melhores que já li com certeza.

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Li em 3 dias o que você demorou quase 3 anos para publicar. História típica de um enredo lésbico, porém a forma que você escreve é fantástica e excitante. Obrigada Bocê tem blog ou publica somente aqui ?

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Nossa, pensei q nunca mais te veria por aqui kkkkkkk acho q nunca comentei antes mas sempre acompanhei a história, e foi mt legal. Parabéns!

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Obrigada s.veneno que bom que vc acompanhou...eu deveria ter postado a mais tempo...mas alguns contratempos me impediram...obrigada pelos comentários...eu fico muito feliz ☺

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Meu anjo fiquei tão feliz quando vi que voltou a postar e bem dizer tudo de uma vez nossa amei cada capitulo parabens. Astrogildo kabeça vc tem razao pode ficar cansativo mais para quem gosta e acompanha ficou perfeito.. amei o final Gatinha 007

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Deve ser porque hum epílogo e não um prólogo. Obrigada pelo comentário...bjs

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