Escrito em Azul - Capítulo 32 (Penúltimo)

Um conto erótico de Gatinha 007
Categoria: Homossexual
Contém 2849 palavras
Data: 11/04/2018 00:03:03

Capitulo 32 – Penúltimo

(Uma página antes do fim)

Depois do confronto com Maggie Carolina decidiu não ir a Agência pelo restante do dia, deu apenas instruções a Miguel e resolveu todo o restante de sua pauta do escritório de seu apartamento. Sua cabeça estava cheia. Não pretendia sequer ter noticias de Anna-Lú, proibiu Miguel de dizer-lhe qualquer coisa a não ser que fosse estritamente necessário, e não pretendia ver Anna-Lú antes do fim de semana, quando teriam que estar na fazenda da família dela para a gravação do comercial. Mas e apesar disso, sentia tanta saudade. O habito que adquiriram de estar sempre juntas fazia com que o pouquíssimo tempo longe uma da outra lhe desse uma sensação de perda e vazio. Sentia seu coração encolher dentro do peito a cada recordação desde que conhecera Anna-Lú. Procurou controlar um pouco de sua frustração inspirando profundamente. Era tão doloroso pensar que fora traída e mais doloroso ainda não tê-la ali, naquele exato momento. Sentia-se tão piegas por notar-se dessa maneira.

No dia seguinte dirigiu-se a Agência e fazia um frio incipiente naquela manhã. Sentia-se meio esquisita, para dizer a verdade, sentia-se perturbada, mal-humorada. Mesmo com tudo isto, não fora capaz de prever os acontecimentos que iriam desenrolar-se durante aqueles dias; apesar de não ter qualquer sensação definida seu instinto, entretanto, pressentia que estava para acontecer alguma coisa emocionante. Quando chegou ao escritório, Miguel já a esperava em frente à porta da sala da presidência. Carolina cumprimentou-o abraçando como de costume, indo então com o amigo para dentro da sala, fora impossível não deixar que seu olhar percorresse todo o ambiente buscando por certos olhos castanhos, sentiu-se ligeiramente desapontada por não encontrar Anna-Lú, durante percurso do elevador havia se preparado psicologicamente tanto para um embate oral, quanto para um embate sexual. Até porque durante seu último encontro com ela, havia perdido o controle de seus desejos vergonhosamente. Preparou-se para tudo, menos para não vê-la. A vontade de vê-la era tanta que pensava ter sido uma idiota de ter ficado em casa no dia anterior perdendo a oportunidade de observá-la.

Carolina fechou os olhos instintivamente e lembrou-se da primeira vez em que se beijaram, em pleno corredor hospitalar. Lembrou-se de como ela sentiu-se segura em seu abraço, de como acreditara em Anna-Lú quando ela disse que tudo ficaria bem. Sorriu triste e nem percebera que havia parado no meio da sala. Logicamente que este ato não passara despercebido por Miguel.

— Está tudo bem Carol — perguntou ele.

— Mais ou menos — ela respondeu.

— Nota-se — disse o amigo.

— Mesmo?

— Só pode, pois você está parecendo uma garotinha que se perdeu da mãe durante as compras de natal — Miguel observou.

— Tá tão ruim assim? — Ela perguntou depositando seus pertences em cima da mesa, indo ocupar sua cadeira.

— Quer conversar? — Perguntou ele e Carolina suspirou.

— O problema é que sinto tanta falta dela Miguel, mas ao mesmo tempo não consigo nem falar com ela, porque toda vez que me lembro do que vi me sobe uma raiva e o ciúme é tão gigante que fico cega — Carolina lamentou passando as mãos pelos longos cabelos loiros. — O que eu faço?! — completou escondendo o rosto entre as mãos.

— Calma meu amor, vamos por partes ok? Primeiro deixa eu me situar. Está falando da Senhorita Garcia, certo? — Carolina assentiu — O que aconteceu entre vocês?

— É uma longa história meu amigo... — Carolina narrou toda a história e os mal-entendidos que ocorreram entre elas e por fim da suposta traição de Anna-Lú. Miguel ouviu atentamente todo o relato da amiga sem fazer interrupções e balançou a cabeça negativamente antes de se pronunciar.

— Não sei quem é mais maluca, você ou ela, provavelmente as duas...

— Como assim Mig? — Interrompeu.

— Ou vocês são, tipo super fãs de novela mexicana e resolveram compor uma própria, ou são tão míopes que não conseguem enxergar um palmo diante do nariz — falou com indignação e continuou. — Ou na pior das hipóteses, gostam de autoflagelamento. Não dá pra entender como duas pessoas que se amam, e isso é visível para quem quiser enxergar, que gostam de se torturar dessa maneira. Primeiro você não pode julgá-la sem saber se realmente houve uma traição, segundo, você é a última pessoa que poderia tirar esse tipo de conclusão já que, todos esses mal-entendidos começaram justamente por você.

— Como assim por mim? — Indagou ela surpresa.

— Nem me olhe assim, sabes que tenho razão. Você não viu absolutamente nada demais no apartamento da Senhorita Garcia...

— Como nada demais?! Uma mulher quase nua, agora não é nada demais?! — Interrompeu Carol indignada por Miguel estar defendendo Anna-Lú na cara-de-pau.

— Exatamente! Analise você mesma. Você viu a Senhorita Garcia no quarto e uma mulher um pouco mais à vontade na cozinha e, diga-se de passagem, bem familiarizada com o local. Não passou pela sua cabeça que poderia ser apenas alguém que sempre frequentasse a casa? Uma amiga? Faz-te pensar, não é?

— Tem razão, eu poderia ter pensado isso, mas quando cheguei aqui, eu lembrei que já tinha visto aquela mulher e o pior, aos beijos com a Anna-Lú, então as minhas suspeitas apenas criaram mais forças. Querias que eu pensasse o quê? — Perguntou como se tivesse toda a razão do mundo.

— Acho que mais que eu, ELA — frisou — queria que você tivesse um pouco mais de confiança. Será que ela já não mostrou que mudou o suficiente? — foi uma pergunta retórica. — Ela merecia ao menos o beneficio da dúvida, Cá. Não seja infantil, afinal quem pegou quem aos beijos foi ela e não você. Ela te viu beijando seu ex-Noivo e não o contrário. E como se não bastasse, ela te vê com o mesmo suposto noivo em um encontro e recebendo um buquê de flores, quem achas que tem mais razão de estar brava hein?

— Ãh?! Como assim?! A Anna-Lú me viu jantando com o Henning? — exclamou espantada.

— Pois é minha amiga, viu sim e segundo o Caio, saiu de lá soltando fogo pelas ventas.

— E você sabia de tudo isso desde ontem e não me disse nada?! — Perguntou ela indignada.

— Nem banque a indignada porque não fui eu quem saiu por aí proibindo os outros de falar sobre a Senhorita Garcia — defendeu-se e Carolina ponderou.

— Está certo, tens toda razão...

— Eu sei que tenho — continuou após dar-lhe uma piscadela — o Caio convidou-a para um jantar pra que ela pudesse esfriar a cabeça, mas não deu muito certo porque quando eles já estavam de saída ela te vê chegando e o Henning indo ao teu encontro, e no outro dia você simplesmente não me aparece para trabalhar. Ela só poderia pensar bobagens, então ela passou o dia, trancada aqui, saiu apenas no fim do expediente e hoje o Caio me disse que ela antecipou a ida pra fazenda e saiu ontem mesmo.

— Mas, assim?! Do nada?! E o trabalho aqui?!

— O Caio disse que ela estava mal e deve estar querendo fugir de você.

— Fugir de mim?

— Sim. E você deveria fazer alguma coisa para se acertar com ela chega dessa palhaçada de criança Carolina, ou você vai acabar por perdê-la — sentenciou fazendo Carolina ficar sem palavras. Miguel vendo que já havia alcançado seu objetivo de fazer Carolina pensar decidiu sair e deixa-la com seus pensamentos, mas tendo a certeza que a amiga tomaria a decisão certa.

“Você vai perdê-la, vai perdê-la, perdê-la”. As últimas palavras de Miguel ecoavam como uma sentença mortal. E de fato seria uma morte, não física, mas por mais que Carolina se sentisse traída, não suportava a ideia de perdê-la. Depois de muito pensar no que fazer, levantou determinada. Resolveu que não deixaria Anna-Lú pensando bobagens a seu respeito, já bastavam às bobagens que ela mesma havia criado, não era justo com alguém que ela tanto amava, não era justo com as duas. Solicitou para que Caio viesse até sua sala e pediu o endereço da Fazenda Valdez. Trabalhou duro e terminou suas tarefas do dia no meio da tarde. Depois pediu para a secretária remarcar todos os compromissos dos próximos dois dias para semana vindoura e saiu mais cedo da Agência, sem sequer despedir-se de Miguel, apenas mandou-lhe uma mensagem explicando a decisão que tomara.

Chegou a casa e arrumou tudo o que precisaria em uma pequena mala, preparou a banheira e decidiu relaxar por alguns minutos. Não parava de pensar em Anna-Lú e no quanto sentia sua falta, adormeceu. Acordou com a voz de Alicia que chegara da casa de Arthur, que finalmente retornara de sua longa viagem pelo mundo. Ao lado da filha jantou com a ansiedade crescente dentro de si, nem o comunicado de que Arthur estava furioso por não ter sido avisado do acidente de Alicia e exigira que conversasse com ele o quanto antes, fora capaz de distanciar Carolina de sua maior tensão naquele momento. Sentia-se uma completa imbecil e nunca pensara que estaria tão envolvida com alguém ao ponto de sentir-se uma retardada apaixonada com todas as inseguranças que estava carregando dentro de si. Quase não prestara atenção ao que Alicia dizia e isto não passou despercebido, que logo a questionou.

— Carolina! MÃE! — exclamou e finalmente obteve sua atenção.

— Oi?! — falou assustada.

— Eu estou aqui falando e falando a mais de meia hora e você tá tipo...em Marte!

— Desculpa filha, eu realmente estava longe — suspirou.

— Nota-se! E quase não tocou na comida também. O seu longe quer dizer Anna-Lú, não é? — perguntou dando de ombros.

— Sim filha, e por falar nela, vou atrás dela amanhã, então a casa é toda sua até domingo, mas se quiser podes ir para casa de Arthur, você decide.

— Você vai ficar na casa dela esses dias?

— Na verdade vou até a Fazenda da família dela em uma cidade não muito longe daqui.

— Certo — concordou Alicia. — Boa viagem e boa sorte também — disse por fim sorrindo cumplice para a mãe. Desejava realmente que Anna-Lú e sua mãe se acertassem.

Depois do jantar deitou-se e tentou dormir, mas fora impossível com tantos pensamentos a encher a cabeça, revirou-se na cama quase toda a noite e quando finalmente adormeceu o despertador tocou anunciando que já era hora de levantar. Aprontou-se e deixou um bilhete para a filha antes de sair. Pegou a estrada como coração cheio de esperança, queria estar perto de Anna-Lú o quanto antes. Dirigiu com atenção e o mais rápido que pôde, já era dia claro apesar de ainda estar muito cedo quando passou pelo centro da pequena cidade e continuou pela estrada principal como Caio havia lhe ensinado, após uma grande extensão de pasto a margem da estrada avistou uma placa onde se lia “Fazenda Valdez”, virou no ramal indicado pela placa até chegar a um grande portão de madeira envernizado, identificou-se para o senhor que estava em uma pequena guarita, e teve sua entrada autorizada.

Ao chegar estacionou no local indicado por um dos peões e dirigiu-se a entrada do casarão, onde o senhor Eduardo já a aguardava ao lado da esposa. Carolina havia informado apenas ao Dr. Eduardo que iria. Cumprimentaram-se e foram todos para dentro, já na sala a inquietação de Carolina era quase palpável, olhou em volta não por curiosidade, mas por almejar que Anna-Lú aparecesse a qualquer momento. Respondeu a todas as perguntas feitas por Cecilia, a mãe de Anna-Lú, que parecia estar radiante com a presença dela ali. Depois de mais alguns minutos de conversa Carolina não se conteve e perguntou onde poderia encontrar Anna-Lú, pois tinha urgência em falar-lhe. Dona Cecilia gentilmente explicou que a filha havia saído apenas alguns minutos antes. Correndo o risco de parecer mais do que idiota diante dos pais de Anna-Lú, Carolina perguntou onde ela poderia estar e pediu que lhe ensinassem o caminho, mas Dona Cecilia vendo a aflição em seus olhos pediu a um dos empregados que levassem Carolina até o grande lago, pois tinha certeza que era lá que Anna-Lú estaria.

Não foi preciso muita procura, pois o moço que estava com Carolina logo reconheceu uma moto, que disse pertencer a Anna-Lú, descansando em baixo de uma das árvores e próximo à trilha das pedras. Carolina então dispensou o rapaz explicando que voltaria com Anna-Lú e seguiu pelo o caminho que ele lhe indicara. Andou por entre as árvores e não demorou a finalmente enxergar a dona de seus pensamentos, o que fez seu coração saltar de antecipação. O único problema é que Anna-Lú naquele momento segurava o rosto de outra mulher entre as mãos. Tão próximas que seu estômago revirou em protesto ao ver aquela cena, não fora capaz de entender o que os lábios de Anna-Lú falavam para a mulher, aproximou-se lentamente e só pode ouvir quando a tal mulher, linda, diga-se de passagem, respondeu um “Sim” de uma forma tão meiga que Carolina sentiu o estômago embrulhar, e seu sangue que já fervia só com aquela cena, no mínimo comprometedora, borbulhou em completa erupção e não contendo os ciúmes interrompeu o clima íntimo.

— Sim?!— As duas mulheres viraram-se abruptamente para ela. — Não acham que está cedo demais para um pedido de casamento? — Carolina completou sem conseguir conter a ironia em sua voz.

— Carolina! — Foi tudo que Anna-Lú conseguiu exclamar. Fitou-a incrédula, como se não conseguisse compreender e como quem é pega no flagra fazendo algo de errado. Abriu e fechou a boca várias vezes não sendo capaz de pronunciar algo compreensível. E mesmo sem entender o que ela fazia ali sentiu um calafrio atravessar-lhe a coluna e teve um vislumbre de que algo estava pra acontecer, e não de um jeito bom, apenas um vago e indefinido pressentimento.

— O que faz aqui? Como me achou? — Perguntou depois de alguns segundos ainda sentindo a eletricidade passar por seu corpo pela surpresa de ver Carolina ali.

— O que faço aqui deveria ser óbvio e como cheguei não importa — respondeu ela com sarcasmo. — Mas vejo que não cheguei num bom momento, desculpe — completou e fuzilando-a com o olhar, tentando controlar sua perturbação por encontrar Anna-Lú em uma cena tão íntima.

Anna-Lú sentiu a cobrança na voz e no olhar de Carol, e achou o cúmulo que ela estivesse insinuando algo. Sentiu a chateação subir-lhe a cabeça no mesmo instante. Não queria ter essa conversa logo na frente de Fernanda, que por não saber o que estava acontecendo encolheu-se enfiando as mãos nos bolsos da calça.

— Veio até aqui porque quis, não precisava se incomodar, bastava esperar-me lá na fazenda — respondeu sendo grossa de propósito. Carol franziu o cenho antes de responder.

— Claro, atrapalhei seu encontro não é?

— Não seja ridícula, Carolina! — falou cruzando os braços.

— Ridícula?! Vai se foder Garcia! — alterou-se.

— Vai se foder você Carolina, mas se quer saber, atrapalhou mesmo. Não um encontro, mas uma conversa importante. E se veio aqui apenas pra continuar com essa briga ridícula sobre minhas supostas traições, que você mesma criou e colocou dentro dessa sua cabeça ciumenta, vou logo dizer-te uma coisa... Já deixo você dar meia volta, não estou com saco pra isso! — Anna-Lú expôs toda sua frustração e descontentamento com o rumo daquela discussão.

Antes que Carolina pudesse dizer que só queria conversar, que só estava ali pra que pudesse deixar as coisas melhores entre elas, um homem totalmente transtornado surgiu do mesmo caminho que a levara até ali.

— Você tá tentando se livrar de mim?! Achou que eu não iria descobrir?! Tá pensando que pode se livrar de mim?! — Chegou gritando. Só então Carolina percebeu o pânico que acometeu a mulher que estava ao lado de Anna-Lú, eram para ela todas aquelas palavras.

— Mas que surpresa — falou entredentes virando-se para Anna-Lú — olha se não é minha antiga rival — completou dando um meio sorriso, que mais pareceu um riso diabólico na opinião de Carolina. E depois ele gritou novamente revezando o olhar de uma para outra — Viraram amantes agora?! O olhar daquele homem transbordava fervor, raiva, ódio puro. Sentiu um aperto no peito e novamente uma sensação estranha lhe percorreu a espinha. Engoliu em seco antes de se pronunciar.

— Acho melhor que o senhor se acalme — Carolina tentou tomar as rédeas da situação, já que, as outras duas permaneciam estáticas diante da fúria daquele homem.

— E ainda trouxeram mais uma amiguinha pra brincadeira pervertida de vocês! — falou olhando para Carolina. — Talvez eu possa brincar com ela também — lascivo, percorreu o corpo de Carolina com os olhos e ameaçou ir até ela, isso foi o bastante para tirar Anna-Lú da catatonia que se encontrava. Carolina podia jurar que era possível ouvir os batimentos acelerados de cada uma, cheios de apreensão.

— Fica longe dela ou juro que acabo com você — Anna-Lú gritou fazendo a atenção de Gustavo voltar-se para ela.

— Está louco! Seu problema é comigo, vamos embora! — Fernanda tentou intervir.

— Ainda tem coragem de defender essa vagabunda! — Ele gritou novamente. — Acha que pode me fazer de otário? — esbravejava a cada palavra. — Eu posso acabar com todas vocês!

O coração de Carolina deu um salto para fora quando ao terminar a frase ele puxou um objeto metálico da cintura. Empalideceu sentindo o ar faltar. E tudo aconteceu rápido demais. Todos os sons foram para longe. Depois, um tiro. Carol sabia que era um tiro de revólver. Mas tudo se tornou apenas um borrão.

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