Escrito em Azul - Capítulo 30

Um conto erótico de Gatinha 007
Categoria: Homossexual
Contém 2541 palavras
Data: 10/04/2018 23:58:21

Capitulo 30

(Estigmas)

O rosto de Anna-Lú encontrava-se sério e carregado de tristeza quando Caio entrou na sala. — O que houve Lú, por que essa carinha? — perguntou sentando ao seu lado. Anna-Lú esboçou um leve riso que logo desapareceu.

— A Carolina entendeu tudo errado cara, ela não confia em mim, tem noção do quanto isso dói? — lamentou-se.

— É eu sei que dói a falta de confiança, realmente é um golpe muito duro. Mas, não respondeste minha pergunta — disse ele sinceramente.

— Bem, é que a Mel passou a noite em minha casa, ficou tarde depois do jantar, e nós havíamos bebido um pouquinho além da conta. Então, pela manhã a Carolina esteve lá e entendeu tudo errado — respondeu dando de ombros.

— Mas, será possível que você ficou maluca Anna Luiza! — ralhou levantando e colocando as mãos nos quadris.

— Ei, Ei, espera aí sabichão, não preciso de mais alguém que me julgue, até porque a Carolina já o fez, ok — Anna-Lú também levantou-se ressentida.

— Não estou te julgando, sabes muito bem que jamais fiz uma coisa dessas, mas pensei que você estivesse realmente apaixonada pela Carol — defendeu-se ele.

— E o que te faz pensar que não estou? Apenas pelo que eu acabei de dizer?! — Anna-Lú o questionou elevando uma das sobrancelhas.

— E achas pouco? Acabas de dizer-me que a Mel passou a noite contigo e queres que eu pense o quê?! — falou erguendo os ombros.

— Cara se nem você que é meu amigo consegue confiar em mim, imagine a Carolina, eu tô bem hein — respondeu com ironia batendo as mãos três vezes de forma lenta.

— Desculpa vai... mas é que eu pensei que, ah sei lá... — Caio não conseguiu terminar e Anna-Lú apenas balançou a cabeça negativamente.

— Pois é, foi justamente o que a Carolina pensou. É o seguinte: primeiro eu disse que a Mel passou a noite em minha casa e não comigo, ou seja, eu passei a noite em MEU QUARTO me desmanchando por causa da Carolina e a Mel deve ter apagado no quarto de hóspedes. E segundo... Porra — xingou abrindo os braços — esses últimos meses eu não saí ou dei mole pra mulher alguma, simplesmente porque eu respeito a Carolina e respeito o que nós estamos construindo, será que eu não mereço ao menos ser ouvida ou no mínimo o beneficio da duvida?! – Anna-Lú questionava indignada.

— Ok, Ok, tens razão, vem aqui dá um abraço, pronto, calma tá! — Caio tentava consolar. — Que tal irmos jantar? Aí você aproveita e esfria um pouco essa cabeça. Não adianta ficar resmungando ou lamentando, uma hora ela vai ter que te ouvir, deixa essa raiva passar um pouco ok minha linda. — Anna-Lú suspirou nos braços de Caio antes de responder.

— Você tem razão, mas não se acostume não direi isso outras vezes — concordou recuperando um pouco de seu humor zombeteiro.

— Essa é a minha garota! E podes deixar que este dia não será esquecido, o dia em que me destes razão — Caio gargalhou puxando Anna-Lú pelo braço — Vamos a um restaurante de comida italiana que é divino!

Chegaram ao restaurante por volta das sete horas. Realmente um belo e pomposo restaurante, pensou Anna-Lú. Falaram algumas amenidades, pois Caio estava disposto a tentar dissipar um pouco da nuvem tempestuosa que se instalara no olhar de sua amiga. Uma hora depois, Anna-Lú observava ao redor distraída enquanto esperava a conta, a companhia de Caio era ótima, mas o que queria mesmo era um bom banho, enfiar-se debaixo das cobertas e pensar em Carolina. É e isso já estava virando um hábito. “Seria cômico se não fosse trágico”, pensava. Estava com esses aforismos quando se surpreendeu ao fitar a entrada do restaurante e ficou mais surpresa ainda quando viu o tal Henning, vulgo suposto noivo de Carolina levantar-se de uma das mesas e caminhar justamente para encontrá-la, ele estendeu para ela um buquê de rosas que portava. Ela apenas sorriu, e parecia um pouco confusa na percepção de Anna-Lú que sentia seu coração bater dolorosamente e um calafrio subir e descer ao longo de sua espinha ao observar Carol rir, exibindo aquelas covinhas que tanto amava. Afinal naquele momento o sorriso não era direcionado a ela. Sentiu-se enciumada e seu estômago revirou.

Caio que acabara de pagar a conta ao voltar-se para Anna-Lú percebeu que havia algo errado, então acompanhou a direção do olhar de Anna-Lú que, naquele momento, era um misto de fúria e descontentamento. Quase caiu para trás quando avistou Carol com o suposto noivo. Alarmou-se, pois o olhar assassino que vira no rosto de Anna-Lú não era um bom sinal. Levantou-se e pegou a bolsa da amiga e sem esperar reação à fez também ficar de pé e saiu arrastando-a com muito custo sem serem notados. Naquele momento o que Anna-Lú menos conseguia fazer era pensar direito, apertava o braço de Caio tentando dissuadi-lo para deixa-la voltar ao restaurante. Desesperada, quase cega pela raiva, tentava soltar-se chamando a atenção de algumas pessoas que chegavam e a olhavam com espanto. Queria voltar e dizer algumas verdades para Carolina. Não concebia a ideia de ela estar ali com o tal noivo depois de tê-la acusado, injustamente, diga-se de passagem.

— Me deixe voltar, por favor! — Dizia entredentes.

— Mas nem pensar! Tá louca?! — Caio a segurava pelos ombros quando chegaram ao carro.

— Eu preciso voltar lá Caio, preciso dizer o que está entalado aqui ó! — teimava apontando para a garganta, bufava. Tamanha era sua irritação.

— Já disse que não — Caio foi categórico. — Por favor, se acalme tá? Vai ficar tudo bem, ok? — Disse levantando as mãos.

— Não! — teimou. E a raiva apenas se intensificou. — Sabes que não está tudo bem e não vai ficar enquanto eu não arrancar a Carolina dos braços daquele projeto de modelo e falar algumas verdades pra ela, mas quer saber? Você tá um chato mesmo, já que não quer me deixar voltar lá, então, me leva pra casa antes que eu sove a tua cara pra poder descontar minha raiva! — berrou com o dedo em riste na direção do rosto do amigo.

Caio apenas massageou a têmpora e destravou as portas. — Primeiro as damas — disse com ironia e gesticulou apontando para o carro.

Observou Anna-Lú caminhar com passadas duras até o outro lado e entrar batendo a porta. “Ai Senhor! Dá-me paciência!”, pensou Caio já entrando no veículo. Seguiram em silêncio e Caio não ousou soltar nem sequer uma piadinha, sabia que Anna-Lú estava realmente abalada com aquela situação, queria poder ajuda-la de alguma forma, mas sabia que nesse momento ela precisava pensar, decidiu intimamente que mais tarde ligaria para Marina e quem sabe ela poderia abrir-lhe as ideias. Deixou-a em frente ao prédio desejando-lhe uma boa noite e partiu. Anna-Lú sentiu-se intimamente agradecida por Caio não mais a encher de perguntas, não tinha estômago suficiente para entrar em outra discussão com o amigo, era consciente que ele só a queria ajudar, porém neste momento tudo o que precisava era estar sozinha. Chegou ao quarto, abriu a enorme porta que levava a varanda e jogou-se na espreguiçadeira. Sentiu o rosto molhar e já não sabia se chorava por raiva, cansaço ou tristeza, talvez as três coisas juntas.

Fechou os olhos e apertou o rosto entre as mãos como se tal gesto pudesse fazer a dor diminuir, repassou mentalmente toda a confusão em que se transformaram seus sentimentos desde que o tal noivo de Carolina apareceu. Era tão dolente pensar em perdê-la, era tão dolente não tê-la por perto. Anna-Lú passava as mãos pelos fios castanhos na tentativa frustrada de se acalmar, queria tanto arrancá-la de seu coração, mas há muito descobriu que era impossível. As lembranças não permitiam. Pensava no toque, no olhar, no sabor. Em cada sensação, cada sorriso em que era presenteada com as lindas covinhas, sorriu triste com esta lembrança. O andar sexy e até o perfume estava impregnado em sua memória e Anna-Lú suspeitava que tais sensações não a deixassem por muito tempo. As horas passaram e quando se deu conta o sol já despontava e ela ainda estava ali, deitada, em posição fetal e com as mesmas roupas do dia anterior. Quando a luz do sol finalmente a alcançou por completo suas ideias também ganharam um brilho intenso, talvez não com a melhor decisão, mas ainda assim, uma decisão. Não viveria amargurada ou chorando aquela dor e faria tudo o que pudesse para enterrá-la. “Se Carolina não pode confiar em mim, então não era digna de suas lagrimas”, pensava com pesar. Mas, com a força suficiente para fazê-la levantar-se.

Para Carolina aquela manhã ensolarada parecia mais carregada que um dia de intensa tempestade. Ela acordara com a sensação de ter sido atropelada, tantas eram as dores por seu corpo, todas resultadas de uma noite totalmente mal dormida. Ainda não conseguia acreditar que Maggie se metera outra vez em sua vida e da forma mais baixa possível. Quando Henning contou-lhe que sua mãe o havia procurado dizendo que fora a seu pedido, teve ganas de trucida-la, seria um exagero, sabia ela, por isso essa vontade logo passou. Mas, com certeza não deixaria isso ficar assim. Precisava dar um basta em Maggie. Explicou a Henning tudo o que realmente estava acontecendo e deixou claro que amava outra pessoa e que para eles não haveria mais volta. Henning sempre fora um lorde e pesaroso aceitou sua decisão, claro que sua decepção fora evidente, mas não poderia enganá-lo, seu coração pertencia a Anna-Lú e apesar, de ainda estar chateada com ela, apesar de ainda sentir-se traída, não poderia simplesmente esquece-la do dia para noite. Tentava muito não pensar nela, porém era praticamente impossível, pois seu coração não obedecia a sua razão. Só de não tê-la por perto neste tempo que ainda nem chegara a serem dias, já sentia uma saudade louca de Anna-Lú.

Carolina ainda encarou o teto por um longo tempo antes de se levantar, deixou os pensamentos sobre Anna-Lú um pouco de lado, pois precisava resolver algo mais urgente naquele momento. O confronto seria inevitável e a dor de cabeça maior ainda. Um mal necessário, ela pensava. Entretanto, isso não a animava muito, já que enfrentar Maggie sempre fora algo muito distante de sua realidade, porém esta passara de todos os limites. E Carol decidiu que era hora de encarar seus demônios. Ainda não fazia a menor ideia de como confrontar Maggie, mas não retrocederia, não iria permitir que ela a dominasse como fizera quase a vida toda. Saiu da cama e após um banho demorado sentiu-se mentalmente aliviada e parcialmente pronta para sua iminente batalha. Carolina chegou à cobertura que pertencia à família e respirou fundo diante da porta. Coragem Carolina você consegue, repetia para si mesma como um mantra. Quando a porta se abriu foi recebida por uma empregada impecavelmente uniformizada. Tão a cara de Maggie, pensou Carol. Foi informada pela mesma que Maggie encontrava-se a mesa a tomar café da manhã, então caminhou até lá sem esperar ser anunciada. Maggie a encarou com surpresa por alguns segundos, mas logo seu olhar voltou a sua habitual altivez.

— A que devo a honra de sua visita? — perguntou com ironia.

— Bom dia Maggie! — saudou seca.

— Vamos pular as partes politicamente corretas e vamos logo ao que interessa, sou toda ouvidos — respondeu Maggie com o semblante inexpressivo.

— Ótimo! Tudo é muito simples — fez uma pausa para tomar um pouco de ar. — Eu sei o que você está tentando fazer e quero deixar bem claro que perdeu o seu tempo. Eu não vou voltar a ter um relacionamento com Henning e não vou mais admitir que você interfira em minha vida. Por muito tempo tive medo e vivi todo esse período debaixo de uma submissão que estava impregnada em minha mente como um fungo venenoso. Sempre me perguntado se você aprovaria minhas decisões. Quase sempre acreditando nas palavras que você continuamente fizera questão de proferir a meu respeito, me chamando de fraca e estupida tantas vezes que mal consigo lembrar-me a última vez que me fizera qualquer elogio. E quer saber mamãe? — disse com sarcasmo. — Hoje eu posso dizer que realmente eu fora muito estupida, por um longo e absurdo tempo, principalmente ao deixar que suas palavras me atingissem. Nem com todo o status que eu consegui em minha profissão você foi capaz de me aceitar. E eu sinto muito, se não sou a filha perfeita que você gostaria que eu fosse. E me desculpe, mas eu não sou o James e não tenho culpa se ele se foi, eu o amava tanto quanto você. Mas, não faça comparações entre nós, pois nunca seremos iguais. E eu espero muito que um dia você possa mudar o seu comportamento e deixar de ser essa mulher tão cruel e arrogante, quanto é o vazio em seu coração, suas atitudes invasivas afastaram James, e não me culpe se o ultimo contato que tiveram foi uma briga. Eu não o impedi de sair àquela noite porque eu não tinha como fazer isso. Você e suas palavras duras o magoaram sim, mas tenho certeza que a raiva logo passaria como sempre acontecia, ele sempre fora muito mais apegado a você do que eu. O que sucedeu foi um acidente e tenho certeza que ele já não sentia mais raiva quando aconteceu. Então, ao menos pela memória dele você deveria refletir sobre suas atitudes. Hoje você só tem a mim e a Alicia, não perca o pouco que tem sendo tão desumana. Seja a minha mãe ao menos uma vez na vida. Seja alguém que a Alicia possa admirar. Será que a minha felicidade não importa nenhum pouco pra você? Eu queria muito que importasse, mas já não sei se tenho tanta esperança. E se você não mudar, eu acho que devo dizer e pedir educadamente que não mais me procure e nem a minha filha, não quero que Alicia passe por tudo o que você me fez passar durante tantos anos — Carolina finalizou sentindo os olhos marejarem era doloroso demais falar com a própria mãe daquele jeito.

— Impressionante — comentou Maggie. E podia-se apenas vislumbrar uma expressão distante em seus olhos. Carolina achou-a surpreendentemente calma, até demais para os padrões Maggie de ser. Esperava tudo de sua mãe, que ela surtasse ou fizesse qualquer coisa, mas não aquela calmaria. Maggie levantou-se e pôs-se a mirar o horizonte através da janela, a figura imponente parecia tão perdida em seus próprios pensamentos e isso assustava Carol, que neste momento já pedia aos céus que aquela aparente calma não se transformasse numa grande tormenta. Depois de um longo tempo naquele silêncio constrangedor Maggie voltou-se para Carolina, seu olhar sempre altivo, neste momento era sombrio e Carol não conseguiu decifrar o que isso significava.

— Está bem Carolina, não irei mais interferir em sua vida de promiscuidade, se é isso que quer. Voltarei amanhã mesmo para Nova York. Você é independente e tem sua própria vida em mãos, não precisas mais de mim. Agora apenas deixe-me, preciso ficar sozinha — pronunciou sem alterar a voz e desviou o olhar. Não se despediu de Carolina e sequer olhou-a novamente. As palavras a tinham acertado como um soco na boca do estômago, mas não se sentia à vontade em demonstrar sua fraqueza, não naquele momento, então deixou que Carolina saísse de sua vida. A dor que sentia era grande, mas seu orgulho era muito maior.

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