Escrito em Azul - Capítulo 27

Um conto erótico de Gatinha 007
Categoria: Homossexual
Contém 1820 palavras
Data: 10/04/2018 23:37:02

Capitulo 27

(Mal-entendido – a maior distância entre duas pessoas)

“Procrastinar” é uma palavra bem interessante e podemos encontrar seu significado em um dicionário, mas também nos leva a pensar que uma grande parte das pessoas gosta muito deste vocábulo em particular. Quantos de nós já conhecemos aqueles que costumam deixar para amanhã as tarefas que poderiam ser feitas hoje? Quando se trata de relacionamentos então, há certos assuntos que jamais devem ser postergados ou deixarão margem para dúvidas que podem acabar transformando-se em cicatrizes.

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Depois que Anna-Lú saiu da sala, não restava um pingo de ânimo em Carol para continuar a conversa com Henning, o que ela mais queria era ir atrás de Anna-Lú e explicar-se. “Mas, o que vai adiantar? Cabeça dura como ela é nem vai querer me ouvir” pensou Carol. Sentia-se principalmente culpada por nunca ter conversado com a namorada sobre sua vida antes de retornar ao Brasil, mais precisamente sobre o noivado rompido, até porque jamais passou por sua cabeça que não teria tempo de fazê-lo, afinal a última pessoa que Carol esperava ver seria Henning. Carol ficou olhando pensativamente para a porta por onde Anna-Lú acabara de sair, Henning percebeu a dispersão de Carol, porém anuiu que deveria ser por conta do trabalho e concluiu que estava a atrapalhar.

— Bem — levantou-se Henning — não quero mais interromper seu trabalho, creio que devas estar muito atarefada, mas queria marcar um encontro com você, gostaria de conversar melhor sobre nós. Que tal se jantarmos amanhã Car? — convidou.

— Amanhã? — surpreendeu-se Carol — Sim, pode ser, vamos jantar amanhã – por fim aceitou, pois tinha que por um ponto final naquilo e disto não tinha dúvidas.

— Às oito horas nesse restaurante aqui — falou estendendo um pequeno cartão a Carol.

— Ok! — assentiu e apertou a mão de Henning, antes que ele cogitasse a ideia de beijá-la novamente. Henning despediu-se das meninas deu meia volta e saiu.

Carol deixou-se cair sobre a cadeira, lamentando-se internamente por toda esta situação. Despediu-se de Alicia e Flávia, que nada comentaram sobre o ocorrido, pois perceberam o quanto foi constrangedor. Conseguiu ainda, forças para terminar aquele dia, não viu mais Anna-Lú pelo resto da tarde. “Está me evitando”, pensou Carol. Concluiu sua reunião e suas tarefas o mais rápido que pôde e retornou na esperança de encontrá-la na sala, mas para sua frustração ela não estava lá.

Esperou o máximo que pôde, pois queria lhe pedir desculpas. Passado um bom tempo de espera Carol decidiu ir embora, achou que Anna-Lú poderia ter ido direto para casa ou quem sabe a estaria esperando em seu apartamento, “quem sabe?” refletiu Carol esperançosa. Tentou ligar algumas vezes, mas apenas chamava e caía na caixa postal, tentou uma ultima vez e “ocupado?! Como assim?! A mim não atende, mas outra pessoa...!”, pensava indignada, “Com quem será que ela está falando?!”, o monstrinho do ciúme começava a manifestar-se. Ao entrar em seu apartamento deparou-se com Flávia e Alicia na sala conversando animadamente. Respirou fundo antes de perguntar.

— Olá meninas, boa noite. A Anna Luiza apareceu por aqui? — perguntou com a voz notavelmente vacilante. Alicia e Flávia emudeceram ao ouvir a pergunta, logo perceberam que Carol ainda não havia conseguido esclarecer as coisas com Anna-Lú. Ao notar o silêncio das duas, Carol entendeu que Anna-Lú não a procurou. Com um suspiro desejou boa noite as meninas e virou-se em direção ao corredor que levava aos quartos, Alicia seguiu a mãe até o quarto.

— Carolina... Quer dizer... Mãe! — chamou Alicia na porta do quarto de Carol.

— Pode entrar filha — Carol respondeu.

— E então, não conseguiu falar com ela não é? — perguntou Alicia condescendente.

— Não tive a oportunidade, nossas tarefas eram diferentes — respondeu desanimada.

— Acho que não adianta dizer que eu sinto muito por isso, mas que tal se você ligasse pra ela? — falou tentando animar Carol.

— Eu já tentei filha, ela não atendeu, depois deu ocupado... Acho que não quer falar comigo — respondeu tristemente.

— Ela deve estar chateada, é compreensível, mas amanhã é outro dia, tome um banho e descanse. Amanhã vocês conversam e tudo ficará legal — disse Alicia abraçando Carol, desejou boa noite e saiu. “Assim espero”, pensou Carol lançando um meio sorriso em direção à filha que já havia dado as costas. Carol banhou-se imaginando o que Anna-Lú poderia estar fazendo, depois do banho ajeitou as cortinas de modo que pudesse contemplar a lua, foi para cama ainda com os pensamentos na namorada e adormeceu vencida pelo cansaço.

******

Do outro lado da cidade Anna-Lú, sentada à mesa de jantar, que raramente utilizava desde que começou a namorar Carol conversava tentando descontrair-se com algumas taças de vinho, verdadeiramente passara da conta; e Melissa, que agora era apenas e unicamente sua amiga, e é o que sempre foram na realidade. Amigas com benefícios costumavam dizer, mas isso já era coisa deixada atrás. Mesmo tentando forçar o sorriso, Anna-Lú não conseguiu disfarçar sua evidente tristeza, o que não passou despercebido por Melissa.

— Então, vai me contar o quê que tá pegando ou vou ter que tirar de você a força? — perguntou Melissa elevando uma das sobrancelhas.

— Não está “pegando” nada! Só estou um pouco cansada, o dia foi exaustivo na agência — tentou desconversar.

— E você pensa que engana a quem com esta conversinha de cansaço? — interpelou-a outra vez Melissa.

— Tá legal, você tem razão, mas é que não quero falar sobre isso — respondeu Anna-Lú.

— Ok, você é quem sabe, não vou insistir, mas que tal um banho e cama senhorita Garcia? — falou Melissa sorrindo com sinceridade.

— Pode ser, mas deixa-me levar você primeiro já está tarde — falou Anna-Lú.

— Você dirigir por aí nesse estado? Acho que não é uma boa ideia e eu só tomei umas duas tacinhas de vinho, não é nada, posso perfeitamente chegar em casa — respondeu Melissa lançando uma piscadela.

— Nem pensar! Não quer que eu dirija e quer sair dirigindo por aí? Nós praticamente esvaziamos duas garrafas — retrucou Anna-Lú repousando as mãos na cintura.

— Na verdade, nós as esvaziamos, minha querida! Falta o quê? Um dedo pra acabar o liquido desta por completo? Sim... Nós as esvaziamos senhorita Garcia! — falou Melissa rindo em alta voz antes de sorver, no próprio gargalo da garrafa, as últimas gotas do vinho.

— Elementar senhorita Bitencourt! Agora realmente as esvaziamos e quer saber, esse diálogo já está ficando sem sentido — constatou Anna-Lú rindo-se das caras e bocas que Melissa acabara de fazer — Mas, o fato é que já fizemos essas maluquices muitas vezes e acho que já foi o bastante pra uma vida inteira — refletiu.

— Está bem Lú, voltemos ao nosso assunto principal. Eu vou chamar um taxi ok?! Você tá ficando careta e sabe o que é pior? Está me fazendo ficar careta também! — disse Melissa, arrancando novas risadas de Anna-Lú.

— Muito engraçado! Está tendo aulas de palhaçadas com o Caio? E você não precisa ir, como disse, está tarde e é perigoso, lembra-se do nosso lema sobre taxis? — perguntou Anna-Lú.

“Se bebeu além da conta, taxi ou carona, mas se sozinha está, no taxi não vai entrar!” — falaram em coro.

— E você pode dormir no meu quarto, prometo não abusar de você — continuou Anna-Lú zombeteira.

— Está certo, você tem razão, mas não é necessário dormir no seu quarto. Eu me jogo em qualquer lugar... Posso dormir agarradinha com a Rosa, não é Rosinha linda do meu coração? — disse Melissa abraçando Rosa, a governanta de Anna-Lú que acabara de entrar, e a enchendo de beijinhos pelo rosto. Rosa era como uma segunda mãe para Anna-Lú, sempre perto, a protegendo, cuidando, amando.

— Me respeita menina! Que eu não gosto dessas coisas! — falou Rosa dando umas leves tapinhas em Melissa, que apenas se divertia com tudo aquilo. Anna-Lú não pode deixar de também rir-se daquela situação cômica.

— Ok... Ok! Eu me rendo, não preciso ficar no seu quarto e nem no seu Rosa — lançou lhe uma piscadela — posso muito bem dormir no quarto de hóspedes — Melissa ponderou e Anna-Lú anuiu.

— Precisam de mais alguma coisa crianças? — perguntou Rosa.

— Não Rosa, você pode ir deitar-se. Boa Noite — respondeu Anna-Lú depositando um beijo na face da pequena senhora.

— Boa Noite Rosa e desculpa pela brincadeira — sorriu Melissa.

— Boa noite minhas crianças. Descansem! — respondeu e retirou-se.

— Então vamos dormir senhorita Garcia, pois, ainda precisamos encarar a ressaca amanhã — disse Melissa.

— É verdade Mel, vamos dormir, deixa tudo aí que amanhã quando a Rosa voltar do mercado ela dá um jeito nessas garrafas e nessas taças. Podes pegar uma das minhas camisetas em meu quarto você já sabe onde fica tudo, então, tem uma boa noite — falou Anna-Lú dirigindo-se a cozinha para beber água.

— Boa Noite pra você também senhorita Garcia — despediu-se zombeteira e Anna-Lú revirou os olhos por causa do senhorita.

Já no quarto, Anna-Lú sentiu novamente aquele vazio no peito, era inevitável pensar em Carol. Mergulhou em baixo do chuveiro e desejou que a água fria pudesse levar todas as suas inseguranças com ela para o ralo, mas as angústias de um coração apertado não se curam assim. Deixou-se ficar ali por um longo tempo, até sua pele enrugar e os dentes começarem a bater uns contra os outros. Saiu do box, vestiu o roupão passou pela porta e caminhou até as janelas, contemplou a lua, com seu brilho exuberante, sem deixar de pensar, nem ao menos por um segundo, na única pessoa que veio ocupando todos os seus pensamentos durante os últimos meses. Fechou as cortinas, caminhou até a cama, tirou o roupão e deitou completamente nua, pois sentia que naquele momento tudo a asfixiava. Adormeceu ainda pensando nela. Carolina.

******

Na manhã seguinte, Carol acordou cedo, como era de hábito, e pensou imediatamente em Anna-Lú e isto também havia se tornado rotina. Decidiu que resolveria essa história toda, o quanto antes. Arrumou-se e foi diretamente ao apartamento de Anna-Lú. Entrou sem bater ou anunciar-se, já que tinha as chaves. Como sempre fora atenta aos detalhes, seus olhos logo encontraram os vestígios da noite anterior: garrafas de vinho, totalmente vazias, e duas taças sujas de batom em cima da mesa de jantar. Mas, antes que sua mente começasse a maquinar maus pensamentos se dirigiu ao quarto de Anna-Lú. Soltou a respiração que havia ficado presa ao constatar que ela estava sozinha. A encontrou completa e lindamente nua, ao que parecia, não fosse o lençol que apenas cobria-lhe entre o final da coluna e o início das coxas. Deitada de bruços parecia ainda mais sexy e “Gostosa!” pensou Carol e riu-se de seu pensamento impudico, a cama, uma completa bagunça. Não pode deixar de admirá-la, era incrível a sensação que a simples presença de Anna-Lú lhe causava. Teve a ideia de fazer um mimo a ela, era a oportunidade perfeita para se desculpar. Todavia, Carol não contava com o fator surpresa. Ao entrar na cozinha para preparar um café, deu de cara com Melissa usando apenas uma camiseta larga, que Carol podia supor pertencia a Anna-Lú. Não demorou em que Carol juntasse as peças do quebra-cabeça de maneira totalmente errada.

Continua

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