Amor de verão -Demitri (02)

Um conto erótico de Demitri
Categoria: Homossexual
Contém 927 palavras
Data: 29/10/2017 13:55:55
Assuntos: Gay, Homossexual

— E então — Bryan encontrou o chocolate que havia colocado no bolso da calça e começou a tirar o invólucro — qual é o plano?

— Continuar indo atrás de informação — respondeu Gabriel, quase resmungando.

— Tenho uns contatos na Horizon, a editora dele. Talvez algum

deles apareça com alguma coisa.

— Sem se dar conta, batucou na mesa, — Droga, Bryan, é como se ele não existisse. Não consigo nem saber em que estado ele mora.

— Estou meio inclinado a acreditar em alguns dos boatos — disse Bryan, pensativo. Do lado de fora do escritório de Gabriel alguém estava tendo um ataque

histérico em relação ao fechamento de um artigo.

— Eu diria que o cara vive

em alguma caverna por aí, cheia de morcegos e uns lobos vira-latas. Ele provavelmente escreve os livros com sangue de ovelha.

— E sacrifica virgens a cada lua nova.

— Isso não me surpreenderia. — Bryan balançava preguiçosamente os pés

enquanto comia a barra de chocolate.

— Estou lhe falando. O cara é esquisito.

— Grito silencioso já está na lista de best-sellers.

— Eu não disse que ele não era brilhante — opôs-se Bryan. —Disse que era esquisito. Que tipo de mente ele tem? — Ele balançou a cabeça com um sorriso

meio acanhado.

— Posso lhe dizer que desejei jamais ter ouvido falar de Hunter Brown ontem à noite, quando estava tentando dormir com os olhos abertos.

— É exatamente isso. — Impaciente, Gabriel se levantou e correu na direção da pequena janela à direita. Ele não estava olhando para fora; a vista de Los

Angeles não lhe interessava. Precisava apenas se mexer.

— Que tipo de mente

ele tem? Que tipo de vida ele leva? É casado? Tem 65 ou 25 anos? Por que escreve romances abordando o sobrenatural? — Ele se virou, a impaciência e a perturbação visíveis sob a superfície da sofisticada aparência.

— Por que leu este livro?

— Porque era fascinante — respondeu Bryan, imediatamente —, porque já na página três eu estava tão envolvido na história que ninguém poderia me tirar

o livro, nem com um porrete.

— E você é um homem inteligente.

— Certíssimo — concordou Bryan e sorriu. — E então?

— Por que pessoas inteligentes compram e leem algo que vai aterrorizá-las? — perguntou Gabriel.

— Quando pega um Hunter Brown, sabe o que ele vai

fazer com você, ainda que os livros dele cheguem insistentemente ao topo das

listas de best-sellers para nunca mais sair. Por que um homem obviamente inteligente escreve livros dessa natureza? — Ele começou a fazer uma coisa que

Bryan sempre identificou como uma característica dele, mexer em tudo que estava à mão: as folhas de um filodendro, a ponta de um lápis, o brinco esquerdo

que havia removido durante uma conversa telefônica.

— Estou ouvindo uma certa desaprovação?

— É. De repente. — Franzindo o cenho, Gabriel levantou novamente o olhar.

— O cara é o maior colorista em atividade no país. Se ele está descrevendo uma sala numa casa antiga, você sente até a poeira. Suas caracterizações são tão

reais, você jura conhecer as pessoas nos livros dele. E ele usa esse talento para escrever sobre criaturas da noite. Quero descobrir por quê. Bryan fez uma bolinha da embalagem de chocolate.

— Conheço um homem que tem uma das cabeças mais afiadas e precisas que jamais encontrei em toda a minha vida. Tem um talento para desencavar

fatos obscuros, alguns incrivelmente áridos, que depois transforma em histórias

fascinantes. É ambicioso, tem um notável talento para lidar com as palavras, mas trabalha em uma revista e deixa um romance parcialmente acabado

jogado em uma gaveta.

É encantador, mas raramente seus encontros não se

relacionam com os negócios. E ele tem a mania de entortar clipes enquanto fala.

Gabriel baixou os olhos na direção do pequeno pedaço de metal desfigurado em

suas mãos e depois olhou friamente para Bryan.

— Sabe por quê? Havia um certo bom humor no olhar de Bryan, mas seu tom era bastante

sério.

— Venho tentando entender isso há uns três anos, mas não posso precisar exatamente a resposta.

Com um sorriso, Gabriel jogou o clipe na lixeira.

— Afinal, você não é repórter.

Como não era muito bom em seguir conselhos, Gabriel acendeu a luminária de cabeceira, esticou-se e abriu o último romance de Hunter Brown.

Decidiu que leria um ou dois capítulos e depois dormiria logo.

Dormir logo era quase um luxo

pecaminoso depois da semana que tivera com a revista. Seu quarto tinha um tom marfim predominante mesclado com vários tons

de azul — do azul-piscina até o índigo. Ele esquecia do mundo ali, com suas dúzias de travesseiros macios, um enorme tapete turco e uma estante estilo Queen Anne, que acomodava uma urna cheia de penas de pavão e folhas de

eucalipto. Sua última aquisição, uma grande figueira, ficava perto da janela e estava florescendo.

Ele considerava o quarto o único espaço verdadeiramente privado de sua vida. Como repórter, Gabriel precisava aceitar que era uma entidade pública tanto

quanto as pessoas que entrevistava. Privacidade não era algo que podia levar em

consideração quando estava fuçando a vida de outras pessoas.

Mas naquele pequeno canto do mundo, conseguia relaxar por completo, esquecer que havia

trabalho a fazer, degraus a subir. Podia fingir que Los Angeles não era aquele burburinho lá fora enquanto contasse com seu oásis de paz. Sem ele, sem as

horas que passava dormindo e desacelerando ali, sabia que ficaria sobrecarregado.

Como se conhecia muito bem, Gabriel percebia que tinha uma tendência a forçar muito a barra, a correr demais.

Na quietude de seu quarto, conseguia recarregar as energias a cada noite para poder ficar pronto para a nova jornada

de correrias do dia seguinte.

Relaxada, abriu o último esforço literário de Hunter Brown.

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