Coração Ferido - Capítulo VII

Um conto erótico de William27
Categoria: Homossexual
Contém 8831 palavras
Data: 12/09/2017 03:34:52

Bom dia leitores, primeiramente peço desculpas pela demora, não irei justificar até por que minha ausência foi por motivos profissionais e por que meu notebook teve que ir para a assistência. Esse é o primeiro capítulo que posto que não foi escrito no Brasil, estava a trabalho no Cazaquistão e realmente é um pais muito, mas muito interessante e digo com toda convicção que será uma potência logo...logo, mas enfim, não estou aqui para falar disso e sim entregar mais um capítulo a vocês.

Agradeço de coração a todos os votos, comentários e também de leitores que sempre me acompanham na surdina.

Resposta aos comentários

VALTERSÓ: Sim, mas agora começam os capítulos mais quentes...Boa leitura.

nayarah: sim, como disse ao Valter, agora o conto toma outro rumo sendo só mais um capítulo no sul. Boa leitura.

Thay: Nem sempre consigo, mas postei, o outro será postado bem antes, isso se a empresa não me mandar para algum lugar exótico. Boa leitura.

Atheno: Quanto ódio nesse coração rsrsrs...Brincadeiras a parte o João vai sofrer muito.

Pedrolfm: Obrigado, logo começam os capitulos mais quentes. Boa leitura.

Martines: João estava na conexão em SP chegando de um voo de Marabá. Em relação as suas outras dúvidas você verá tudo nesse capítulo a não ser sobre o tico e teco que ficará para ser descrita no capítulo 8. boa leitura.

SweetLuck: Luciano está confuso, Fabrício machucado e João ficando lelé rsrs. Luciano ganha pontos com Fabrício, ambos tem o coração ferido e acabam se aproximando demais. Boa leitura.

Regi1069: Fico muito feliz leitor. no capítulo 8 tem um b.o entre os dois, ou seja Maxuel e Luciano. Acontece algo que mexe com os dois. Luciano tem um sentimento muito grande pelo Fabrício e nesse capítulo fica evidente.

Emiliano: E não é que atentou. Boa leitura.

Alex curte peludo: Como vai meu amigo? Acredito que você irá gostar muito desse capítulo e quanto a demora foi novamente viajem a trabalho, dessa vez Ásia Central. Boa leitura.

Plutão: Come stai Plutão?Bene? Quem bom que gosta, eu também sou, alias, eu sou ítalo brasileiro e tenho uma identidade cultural italiana muito forte, morei um ano em Turim entre 2006 e 2007, amo a Itália assim como amo o Brasil. Tenho descendência alemã e afro, mas minhas características são todas italianas tendo poucas das outras, sou quase um carcamano de Vicenza, capisce? Boa leitura.

Coração Ferido - Capítulo VII

Quando meus pais se deram conta da presença deles foi aquela algazarra fazendo com que todos olhassem na mesma direção.

- Carmem...Valmir – ela olhou surpresa e cutucou meu pai que estava abraçado a ela falando coisas “bonitas” em seu ouvido.

- Capaz que vocês estão aqui – disse meu pai em alto e bom tom.

- Meu amigo, Ana... – Valmir sorriu e puxou Carmem pela mão.

- Nós viemos de última hora – Carmem parecia um pouco envergonhada.

- Seu jaguara... – ele xingou Valmir, mas meus pais como bons anfitriões correram recebe-los, Valmir e Carmem inicialmente se mostraram um pouco tímidos, envergonhados, assim como Luciano que parece ao meu ver ter deixado a pose altiva em Belo Horizonte.

A timidez logo passou pois sabiam que eram de casa, logo Valmir se soltou com meu pai e com meu tio e Carmem com minha mãe. Foi aquela troca de beijos, abraços e tapas nas costas até por que faziam mais de 3 anos que eles não se viam. Logo depois os outros convidados foram cumprimentando eles formando aquele bolinho de pessoas curiosas ao redor, Carmem logo me olhou e sorriu, minha mãe e minha tia que estava com a cuia e a térmica convidaram ela para sentar e contar as novidades, Valmir foi para perto da churrasqueira com meu pai, tio e amigos e logo já estava com uma lata de “Polar” na mão, mas ao olhar e ver Luciano intimidado e sozinho meu coração apertou, pude perceber olhares atravessados para ele que ainda estava um pouco acanhado e sem graça me encarando, eu evitava olhar para ele quando ele me olhava. Luciano respondeu alguém em seu celular e desligou o aparelho.

- Mano, o Luciano é só seu amigo ou é algo mais? – Guilherme me perguntou desconfiado e um pouco desapontado.

- Não! – Exclamei - claro que não... ele é só meu amigo...– neguei, era só o que me faltava meu irmão pensar isso.

- Ele te olha de um jeito... – meu irmão se calou quando olhei para ele com repreensão.

- Me olha como alguém que está com raiva de mim e eu dele... – Guilherme só me observou e não falou nada, respirou aliviado e voltamos a beber.

Luciano foi andando pela área e cumprimentou Maxuel com desagrado, os dois nunca se deram bem, pelo menos não que eu me lembre, ele olhou Guilherme e os dois travaram uma guerra de olhares por alguns segundos, eles não se davam bem desde que ele foi preso, eu não sabia o motivo, mas isso acabaria nesse feriado eles teriam que se resolver. De longe observei meu pai se aproximar dele.

- Rapaz, não vai dar um abraço no teu padrinho não? – Perguntou meu pai com seu tom de voz mais alto atraindo a atenção de Luciano.

- A sim padrinho, como vai o senhor? – Disse Luciano timidamente recebendo um abraço de urso do meu pai que doeu em mim.

- Eu vou bem rapaz - disse ele, mas logo se aproximou e tocou o ombro de Luciano o encarando – depois nós vamos conversar, eu e você... – ele ficou sério, mas não mudou o tratamento com Luciano que só assentiu.

Então de repente como se eu tivesse ficado visível como se uma luz brilhasse em minha cabeça todos olharam na minha direção e do meu irmão, eu queria sumir, Luciano começou a se aproximar com aquele jeito intimidador dele junto da minha mãe e de Carmem, fiz menção de me levantar, mas Gui me segurou pelo braço.

- Fica, não sai – ele parecia saber que havia algo errado – vai pegar mal se você sair assim... – ele sorriu me passando confiança, eu só assenti.

Minha mãe e Carmem me analisavam com um sorriso tímido, ela cumprimentou meu irmão com um abraço e depois se dirigiu a mim.

- E esse menino Ana, que difícil é fazer ele comer – disse Carmem como se fosse a pior coisa do mundo e como se eu fosse uma criança pequena – emagreceu, nem meus grostoli ou meu risoto de galinha ou as bolachas pintadas deram jeito nele – disse ela me olhando torto fazendo com que minha mãe me olhasse em repreensão.

- Tia... – tentei argumentar.

- E eu não sei, achei que ele estava passando fome em Belo Horizonte, fiquei horrorizada, tive que preparar um sagu e um quentão e olha que ele nem comeu ainda - Carmem me olhou torto, eu queria morrer – mas os grostoli da dona Motta ele comeu, se bobear nem sobrou para dar ao Luciano – Carmem me olhou horrorizada, assim como minha mãe ela também não se dava bem com ela.

- Aquela velha não morreu ainda? – Perguntou ela a minha mãe e confesso que não gostei de ouvir elas falando assim.

- Olha o respeito tia... – fui ríspido e seco com as duas que nem me deram ouvidos, Luciano só ria timidamente um pouco mais atrás.

- Não, e agora ela deu de beber e ficar na janela espiando a vida dos outros – elas riram, eu não e nem o Gui – tu acredita que esses dias eu cheguei com um bolo de aniversário que era para uma das gurias do escritório e ela veio aqui toda curiosa querendo saber se era por que o Fabrício estava chegando, fiquei louca, quase peguei o chicote de rabo de tatu que dei de presente para o Rafael e surrei ela – minha mãe falava com uma raiva e como se fosse algo tão grave, coitada da nona - e teve outra vez que um dos filhos dela foi para os Estados Unidos, para Dallas e trouxe uma bota de cowboy para o Guilherme dizendo que era um presente da “nona” dele – minha mãe fez aspas - um dia desses ela vai levantar daquela janela e o cotovelo vai vim com a madeira grudada – elas riram e eu acabei ficando chateado.

- Mais respeito com ela mãe, se a nona é assim ela tem seus motivos – minha mãe me olhou com um semblante estranho – você também tia Carmem, não vamos falar de uma pessoa que não está aqui para se defender e que me ajudou muito no pior momento da minha vida até então – quando olhei, minha mãe Carmem estavam de boca aberta e Guilherme me olhava com um risinho torto sem graça – e antes das senhoras falarem algo eu admito, foi engraçado sim, mas cada um tem seus problemas... – elas me olharam e assentiram.

- Viu Carmem, levei um sabão do meu próprio filho – ela me olhou se fazendo de vítima o que não convenceu – isso prova que a educação que dei a ele foi boa – ela e Carmem riram da minha cara.

- Já levei um sabão dele também amiga – Carmem e minha mãe riram de novo.

- Olá Fabrício - Valmir que estava falando alto junto com meu pai logo veio ao nosso encontro e começou a conversar, meu pai de longe olhava enciumado.

Alguns minutos depois minha mãe pediu licença e foi para dentro de casa acompanhada de minha tia Meire, Carmem aproveitou e se aproximou mais junto de Valmir para falar comigo enquanto Luciano foi para o lado de Vanessa a solteirona boazuda como meu irmão dizia de junto de meu pai que fez questão de apresentar o afilhado dele a todos os presentes com se ninguém o conhecesse a não ser alguns colegas de serviço do meu pai.

- Como você está? – Ela perguntou com certa preocupação quando se aproximou e me abraçou.

- Bem, eu estou em casa – disse a ela – mas eu que pergunto, que surpresa vocês aqui! Vocês não deveriam a essa hora estar em Maceió? – Eu estava incomodado com o olhar de Luciano em mim, Guilherme pediu licença e saiu, sabia que ele era pavio curto, foi melhor assim.

- Decidimos vim para cá, é hora de voltar Fabrício, o passado sempre vai ser passado, não pode interferir no presente e nem no futuro – ela suspirou – o que aconteceu há dez anos aconteceu, deixar os amigos, a família, as pessoas de quem se gosta não é certo, foram seus pais e mais alguns familiares e amigos que nos ajudaram. Adriano gostava de uma boa festa, era amoroso e principalmente, adorava Caxias do Sul, então o Luciano nos fez ver isso, decidimos de última hora, como não tinha mais voo disponível para Caxias pegamos um até Porto Alegre, alugamos um carro e subimos a serra – Valmir segurava no ombro dela e sorria contido.

- No caminho eu ainda comprei salame, vinho de garrafão e um queijo colonial...deixei no carro, mas depois coloco na geladeira – disse ele empolgado mostrando a s

- Amor, tu sabe que depois passa mal né? – Carmem olhou torto para ele, ele ficou todo errado. Eu ri da situação.

- Deixa ele tia, o padrinho está em casa, vocês estão em casa... – olhei os dois - é bom ter vocês aqui – disse sincero.

- É bom voltar – disse Valmir com saudosismo dando as costas e indo conversar com meu pai. Nesse momento Luciano se aproxima com seu olhar em mim, ele parecia um homem mau, mas um belo homem mau.

- Mãe, nós vamos dormir por aqui ou a senhora quer ir para um hotel ou a nossa antiga casa? – Luciano veio até nós perguntar a ela.

- De jeito nenhum, a tua madrinha faz questão que dormimos aqui e depois que teu pai se animar ninguém tira ele daqui não – Carmem explicou a ele.

- Isso fiquem conosco hoje, vocês chegaram de viajem e devem estar cansados que nem eu, amanhã vocês decidem o que fazer... – dei as costas a eles.

Luciano me observava, não falou nada, mas eu senti um misto de receio e pena dele que se afastou. Olhei Valmir e o mesmo assentiu com a cabeça, eu não precisava ser um gênio para saber que ele contou o que aconteceu comigo ao filho. Carmem tocou meu ombro.

- Apesar de estar envergonhado o Luciano quer falar contigo Fabrício, de uma chance a ele, eu te peço como seu padrinho, deixa ele se explicar... – Luciano me olhava e nada dizia, ele e meu irmão não se davam bem, mas a educação de ambos permitiu um breve aperto de mão quando Guilherme passou por ele.

- Não – pensei bem - pelo menos hoje não, os problemas que eu deixei em BH, vão ficar em BH – disse decidido – quem sabe no sábado eu até converse com ele, pois não esqueci a bofetada que ele me deu e nem o machucado na minha mão... – passei os dedos no curativo da palma da mão, Carmem me olhou com um sorriso amarelo.

- Sua mão está melhor? – Perguntou preocupada pegando mina mão.

- Sim, só preciso do colo dos meus pais e estarei melhor... – eles riram a assentiram.

- Está certo, aproveite seu pai e sua mãe, eles merecem mimar o filho por esses dias, depois vocês conversam, só te peço que dê uma chance e deixe ele falar, é triste ver meu filho perdido, confuso, mas é mais triste ver ele sem você, aquele gigante lá está andando por caminhos escuros, sem a luz que é você... – não entendi o que Carmem quis dizer ou eu não quis entender.

- Eu prometo que vou ouvir, mas não sei se vou perdoar, o Luciano me magoou mais que o... – Me calei assim que me dei conta do que iria falar, Carmem entendeu também e engoliu em seco quando algumas lágrimas iriam brotar.

- Eu vou lá ajudar tua mãe a fazer a maionese e aproveitar e pedir para ela ir comigo em um lugar amanhã – ela saiu, eu sabia qual era o lugar, mesmo não acreditando que ele ainda estivesse lá para Carmem era importante, eu mesmo iria lá também.

A noite foi passando. Guilherme depois de ficar quase uma hora com sua namorada ao telefone voltou e sentou ao meu lado todo sorridente.

- Quando é que tu vai me apresentar essa guria que está te fazendo suspirar que nem um bocózão? – Perguntei curioso, ele abriu um sorriso, mas não sem antes me dar um soquinho.

- Hoje! – Exclamou animado – ela disse que ia dar um pulinho aqui para te conhecer, já deve estar chegando – ele sorriu, mas se aproximou – mano, ela é um pouco diferente, tu pode se impressionar ou estranhar, mas por favor, não seja indiscreto... – interrompi ele.

- Gui, eu sou gay – ele me olhou sem entender - moro em Belo Horizonte que é uma cidade grande que dá tudo quanto é tipo de gente e somos descendentes de italiano, não tem como sermos discretos, nascemos indiscretos rsrsrs, mas não se preocupe, ser diferente é normal apesar de não ter entendido em que sentido você disse isso eu não sou ignorante – ele riu e me deu um soquinho.

A comida ficou pronta, fazia muito tempo que eu não sabia o que era uma boa churrascada gaúcha, tinha até carne de ovelha e javali, realmente meu pai havia preparado tudo para minha chegada e modéstia a parte ele era um excelente assador, meu irmão também era assim como Valmir, mas isso meu pai não precisava saber. Estava sentado com meu prato na mão quando ele se aproximou.

- Filho, pega um pedaço de costela, o pai sabe que tu gosta mais bem passado, deixei essa ficar mais tempo para você – meu pai separou no meu prato alguns pedaços mais secos me fazendo ri – o que foi filho? – Ele perguntou.

- Pai, eu não como costela, quem come é o Gui... – Ele ficou todo errado, estava trocando nossos gostos, esse comentário fez ele ficar cabisbaixo – se tu deixar assar mais um pouco eu como um pedaço de javali, desse eu gosto e o senhor não esqueceu já que assou para mim – ele respirou aliviado.

- Tu quer carne de porco? – Perguntou tentando disfarçar, mas sei que ele ficou chateado.

- Sim – puxei ele pelo braço e sussurrei – tu sabe que teu churrasco vai ser sempre melhor que o do tio Valmir né? – Ele me olhou e sorriu.

- Daqui a pouco te trago umas tulipas e uma linguicinha e tem uma alcatra no tempero saindo também – seu Rafael estava enciumado, era óbvio! Ele faria de tudo para tirar a minha atenção do Valmir, bobo, ele era meu pai e Valmir meu padrinho, eram amor e consideração bem diferente um do outro. Fiquei me sentindo culpado.

- Pai, depois tu deixa a churrasqueira de lado um pouco com o tio e vem sentar aqui comigo - ele sorriu e assentiu. Meu irmão olhava a cena calado até que se pronunciou.

- Tu sabe que o pai tá enciumado com eles aqui – Guilherme me olhou – mano, ele espera por esse feriado para te ter em casa há um bom tempo, depois tira um tempinho com ele, leva ele para jogar bocha ou pede para ele te levar na plantação de uva lá em Pinto Bandeira, ele diz para todo mundo que a safra de uva desse ano vai ser melhor por que ele junto com os produtores melhoraram a terra... – esse último era uma boa, região de bons vinhos - ainda é difícil para o pai saber que foi ele mesmo que afastou o filho e... – Interrompi meu irmão.

- Não foi aquilo, foi o desejo de conhecer novos ares, lugares... – meu irmão se referia a vez que ele meu pai me tocou de casa com uma arma apontada para mim.

- Você sabia que ele vendeu aquela arma, disse que enquanto ela estivesse aqui você não voltaria mais... – Guilherme me olhava com culpa pois ele ajudou meu pai a me expulsar de casa – eu também nunca vou me perdoar pelo que te fiz, que irmão que eu fui...droga eu tô... – interrompi ele.

- Eu perdoei vocês ok – eu não queria falar disso – nada vai mudar o que aconteceu e também não vim para casa para revirar o passado, não é hora disso... – olhei meu irmão ficar envergonhado ao ponto de não me encarar, era engraçado, Guilherme e eu éramos muito parecidos era como se fosse uma versão mais velha – porra Guilherme, se fosse para ficar triste eu tinha me enfiado embaixo das cobertas ou então pedido para ficar na nona Motta... – ele me olhou surpreso.

- Você não faria isso né? – Guilherme arregalou os olhos – a mãe ia ter um treco – disse ele com tom indignado.

- Não, mas que eu te assustei isso eu consegui... – ele riu e eu também.

- Pau no cu – ele me cutucou com o ombro e voltamos a beber e conversar.

A namorada do Guilherme acabou não aparecendo e ligou avisando que tinha acontecido um imprevisto com a mãe dela o que deixou meu irmão azedo e de péssimo humor fazendo com que ele enchesse a cara mesmo. Em determinado momento achei melhor levar ele para dentro, ajudei ele a ir dormir, fiz sinal para o meu pai e por precaução passei bem longe do Luciano que observava a cena com um riso de deboche me fazendo revirar os olhos para ele notar que eu percebi. Meu pai acabou me ajudando no que resultou em um banho em um Guilherme manhoso que nos abraçou e beijou só para nos molhar, perecendo uma criança grande. Meu pai saiu me deixando sem escolha a não ser a de botar ele na cama para dormir.

- Boa noite Fah... – ele resmungou se virando me fazendo rir desse apelido.

- Boa noite Mano, dorme que amanhã é outro dia... – Apaguei a luz do quarto dele e voltei para a área de lazer e enquanto passava pelo corredor encontrei Maxuel que passou por mim e quase arrancou minha roupa com o olhar, não disse absolutamente nada, entrou no quarto de visita e foi dormir. Quando voltei para a área algumas pessoas já tinham ido embora, minha mãe e Carmem tiravam a mesa enquanto tia Meire lava a louça junto com a vizinha, meu pai e Valmir agora falavam alto e se abraçavam, visível sinal de que estavam para lá de Bagdá, os dois muito animados relembravam com meu tio da infância que tiveram em Farroupilha, era bom ver os três felizes.

Voltei para o meu lugar e nos minutos seguintes acabei engatando uma com meu pai que já bem animado me encheu de beijos e abraços além de conversarmos um pouco mais e ele me encher de perguntas se eu tinha um namorado bom ou não e de como eu faria para voltar para a faculdade agora que estava sem emprego e ainda como faria para comer e outras coisas, se eu desse muita corda logo ele estaria tentando me convencer a voltar para casa. Depois de uns 40 minutos eles resolveram jogar truco quando já se passava das 23:00h e quase todos já tinham ido embora, nesse tempo todo Luciano ficou próximo a Carmem, mas não deixou de olhar para mim.

Acabei me distraindo no celular já que não queria participar do passatempo dos “adultos” e também por que não tinha tido tempo de abrir e-mails e olhar mensagens de amigos e colegas.

- Oi – me assustei quando Luciano apareceu do nada e me cumprimentou com sua voz grossa e um pouco rouca – posso me sentar aqui contigo? – Perguntou meio sem graça.

- Oi – disse seco – acho melhor não, não quero confusão e nem stress, nosso último churrasco junto não acabou bem... – ele me interrompeu quando pôs sua mão em meu ombro, uma sensação estranha correu pelo meu corpo e a julgar pela sua reação ele também sentiu.

- Eu vim para concertar as coisas contigo – disse sem desviar seu olhar de mim me deixando surpreso ou nem tanto já que eu desconfiava.

- Luciano, eu não quero tocar nesse assunto agora e outra, foi você quem se afastou de mim, então por favor... – falei um pouco mais alto assustando ele – vai procurar o André, ele é seu amigo – me levantei, mas ele me segurou pelo braço.

- Por favor... – ele estava com um olhar triste, pesado – me ouve, eu estou tão arrependido de ter te tratado mal... – ele me olhou com um olhar tão o sofrido esperando minha resposta.

- Hoje não Luciano, eu bebi, você bebeu, eu quero aproveitar minha família... – tentei me esquivar, ele estava muito próximo.

- Ok, hoje nós ficamos por aqui, sexta feira santa não é dia de briga e nem de resolver problemas, mas amanhã você vai me ouvir e não adianta dizer que não, tanto eu como você precisamos ter essa conversa... – ele me soltou, se levantou e rapidamente foi para dentro de casa, depois disso não o vi mais, deve ter ido dormir.

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A noite foi terrível, dormi muito mal, não sei se era por que eu tinha bebido muito na noite passada ou se foi por ter tido aquele atrito com o Luciano, rolei de um lado para outro, andei pelo quarto, não tinha coragem de botar o nariz para fora da porta já que ele estava dormindo na sala, só sei que peguei no sono quando já se passavam das 5 horas da manhã e que fui acordado pouco depois das 8 horas pela minha mãe quase derrubando a porta do meu quarto.

- Filho, acorda, a mãe fez bolinho de pão para o café... – disse ela toda animada.

- Ahhh mãe – reclamei cobrindo a cabeça com a minha manta - me deixa dormir, eu demorei para pegar no sono – ela se aproximou e me encheu de cócegas.

- Se tu demorar os outros vão comer teus bolinhos e o creme de avelã que eu comprei – disse ela.

- Pronto, estou de pé – disse pulando da cama fazendo minha mãe rir.

- Eu sabia que se mencionasse avelã você pularia da cama – ela saiu do quarto e foi esmurrar a porta do quarto do meu irmão.

De banho tomado e arrumado, mas sem fazer a barba já que em dia de sexta-feira santa não se faz coloquei meus óculos e fui em direção a cozinha que a essa hora deveria estar cheia de cachaceiros em recuperação e com fome esperando os famosos bolinhos de pão da dona Ana.

- Da próxima vez tu me dá um laço, mas não me deixa beber desse jeito - disse meu irmão que me encontrou no corredor e vinha logo atrás de mim com uma cara de dar medo.

- Tá bom – concordei e ri – te dou uma camaçada de pau – ele deu um risinho e juntos entramos na cozinha. A cena era de pós-guerra, Valmir estava sentado de um lado, meu pai do outro e os dois tomavam chá de boldo com a cara nem um pouco amigável, minha mãe resmungava e Carmem acariciava a cabeça de Valmir que fazia cara de coitado na tentativa de conseguir mais atenção dela.

- Bom dia – cumprimentamos eu e Gui a todos.

- Bom dia – disse Carmem animada que se levantou e foi ajudar minha mãe que preparavam algumas torradas com margarina.

- Sentem meninos – disse minha mãe – Fabrício teus bolinhos com avelã estão no prato e teu leite com chocolate Guilherme está na xícara, as torradas estou preparando... – Olhei para o meu irmão pasmo e cai na gargalhada.

- Leite com Toddy? - Perguntei em deboche – tu tem quantos anos? 10? – Ele me olhou de cara virada – só falta tu me dizer que toma Danoninho enquanto assiste a Peppa pig na televisão – ele me deu um soquinho no ombro – aí – resmunguei.

- Mãe, tu não devia ter falando isso na frente do mano, agora ele vai ficar rindo de mim achando que eu sou um gurizinho – Guilherme reclamou com a minha mãe que deu de ombros me fazendo rir alto, meu pai e Valmir só sorriam.

- Vai chorar para a mãe é... – Debochei – mãe, traz a mamadeira dele com toddy que eu dou para ele – Guilherme estava a ponto de me bater da raiva que fiz nele.

- Mas tu é boca aberta mesmo em... – ele me olhou com raiva – eu gosto por que me dá força para lidar no trabalho – ele se sentou e eu também, mas fitei ele e quando ia pegar seu toddy ele foi mais rápido – faz um para você, esse é meu – ele pegou e tomou em um gole só – que delícia – ele riu.

- Bom dia... – Luciano chegou com seu humor matinal, ou seja, de cara fechada e com tom de voz áspero. Ele e meu irmão se olharam – vou tomar café na rua... – ele foi interrompido por Carmem.

- Se você não sentar nessa cadeira agora você não precisa voltar, pega suas coisas e vai para um hotel, seus problemas com os teus amigos você resolve depois, agora senta aqui, você não vai fazer uma desfeita para teus padrinhos e nem para mim e para o teu pai estamos entendidos? – Dona Carmem tinha uma autoridade com Luciano que até eu me surpreendia.

- Senta filho – Valmir pediu e Luciano envergonhado sentou, minha mãe passou por ele e fez um carinho em sua cabeça, meu irmão vendo a cena se fez de enciumado e ofendido pegou seu pão e ia se levantando quando minha mãe avisou.

- Nem pense em fazer isso... – ele só olhou para ela e sentou de novo, foi engraçado, os dois pareciam crianças, sim, crianças de quase 1,90 m, ficaram de cara fechada o café inteiro.

Na cultura italiana a matriarca é a figura de poder da família, levando o maior respeito dos demais, então é comum as mães darem a última palavra, mesmo que elas deixem os homens achar que tem isso, mas enfim, o café foi tranquilo com os dois se encarando e trocando olhares mortais. Meu pai se abriu mais e começou a conversar assim como Valmir que pediu para Carmem fazer uma torrada de salame para ele. Enquanto todos comiam a campainha tocou.

- Deixa que eu abro – me levantei e fui em direção a porta, abri e quando vi abri um sorriso – Nona! – Dona Tiziana quando viu que era eu ela quase me derrubou no chão com o abraço apertado que me deu.

A nona Tiziana estava igual a última vez que eu a vi, uma senhora de 70 anos, mas aparentava ter menos por causa das cirurgias plásticas que ela fez, italiana dona de um temperamento forte, com 1,70m, cabelos castanho-escuros e olhos verdes com um corpo esbelto, era uma mulher brilhante, criou os dois filhos sozinha pois o velho Enrico era um vadio e mulherengo, então coube a essa geniosa carcamana de Imola cuidar dos filhos que hoje administram a vinícola da família.

- Sacramento – disse ela me enchendo sorrindo e me enchendo de beijos e logo depois apertando minhas bochechas – mas que rapaz bonito que tu tá, dá um beijo na nona - disse ela me dando o rosto para beijar, sorri e a beijei, minha mãe nos observava com uma cara de que ia matar um, ela me observou melhor e ficou horrorizada – não te dão comida aonde você mora ragazzo? – Disse ela surpresa – tu tá magro, tá passando fome? – Ela disse enquanto conferia minhas unhas, para um italiano passar fome é a morte.

- Não dona Tiziana ele não passa fome, ele só perdeu alguns quilos – disse Carmem se pondo na frente da minha mãe que ia responder. Nona então olhou para ela.

- Carmem... – ela olhou para Carmem num misto de respeito e tristeza pois ela presenciou o que aconteceu na época – como vai você? – Perguntou calmamente.

- Bem, obrigado - agradeceu ela. Dona Tiziana então entrou um pouco mais.

- Bom dia Ana, Rafael – ela cumprimentou cordialmente meus pais.

- Bom dia dona Tiziana– responderam meus pais juntos.

- Eu vim aqui para ver vocês e... – Ele se calou quando Luciano apareceu na sala com aquela cara de sempre, encarando os outros nos olhos.

- Dio santo... – ela disse baixinho encarando Luciano – é você... o que matou o assassino do irmão para fazer justiça... – Luciano murchou envergonhado, Valmir foi segurado pelo meu pai, a nona se aproximou dele e pegou em suas mãos, mas antes de qualquer um falar alguma coisa ela continuou – eu tinha feito pior, teria dado mais três tiros e dois deles no saco dele para aquele maledetto ficar sem as bolas no inferno... – disse ela logo abraçando ele.

- Deveria mesmo... – respondeu Luciano aliviado.

- Como você está ragazzo? Que bello, parece até um gangster da “Cosa Nostra” da minha amada Itália – disse ela se apertado nele que retribuiu o abraço e estranhamente fechou os olhos.

- Obrigado dona Tiziana...eu acho...– disse ele sem graça.

- Pode me chamar de nona – disse ela com um sorriso materno fazendo Carmem abrir a boca e minha mãe a segurar sutilmente pelo braço.

- Obrigado...nona... – ele ficou envergonhado, suas bochechas ficaram vermelhas.

A nona Motta acabou ficando com a gente para o café da manhã alegando que tinha saído muito cedo para ir na missa, tanto é que o rosário dela de madre pérola que ela havia ganhado de presente de aniversário do meu irmão estava na bolsa. Meus tios que até então não estavam em casa chegaram com Maxuel emburrado, mas assim que me viu sorriu. Estávamos todos a mesa quando ela se levantou.

- Gostaria de convidar, ou melhor...intima-los para almoçarem comigo lá em casa hoje, estão todos convidados e não aceito não como resposta – disse nona largando a xícara de café.

- Mas... – minha mãe foi interrompida.

- Nada de mais Ana querida – disse séria - gostaria muito de passar o feriado com pessoas queridas e vocês são o mais próximo de família que eu tenho aqui – ela disse quase chorando olhando para minha mãe o que desarmou ela arrancando quase um suspiro, o famoso drama italiano.

- Tudo bem, quer dizer, se todo mundo aceitar não me oponho... – disse ela olhando para todos que assentiram.

- Ótimo, hoje vou fazer uma polenta e peixe frito no disco, também vou fazer uma salada Caprese, trouxe um bom parmesão da última vez que fui a Itália e tem uma refratária com Tiramisu pronta também e sei que é a sobremesa preferida de um certo rapaz – ela disse animada olhando para o meu irmão – meus meninos vão mexer a polenta para mim, Ana querida, você poderia levar uma salada a mais, ou então um arroz para quem não gosta de polenta, cálculo que vai dar para umas 15 pessoas comerem tranquilamente e ainda sobrar – minha mãe assentiu e eu sorri.

- Nós agradecemos o convite dona Tiziana – disse meu pai a levando até a porta.

- Eu também – disse Valmir.

- Eu espero vocês então, vamos almoçar a as 13:00h pode ser? – Perguntou ela a minha mãe.

- Pode sim, dá tempo de eu dar um pulinho em um lugar com a Carmem – disse ela acompanhando a nona até o portão.

- Pai, desde quando a nona e a mãe se dão tão bem assim? – Perguntei bobo com e cena delas duas conversando.

- A tua mãe sempre gostou dela, mas as vezes a dona Tiziana é meio xarope e sistemática, acaba que elas ficam meio de mal uma com a outra – ele deu de ombros – vem filho, vamos comigo na adega escolher uma boa garrafa de vinho branco para levar para o almoço - ele me tocou no ombro e então seguimos para a adega que ficava no escritório, meu pai e eu decidimos por um vinho branco de uvas trebiano.

De manhã ainda sai com meu irmão, fui rever algumas pessoas e ele quis por que quis passar um tempo sozinho. Relembramos de quando éramos mais novos e quase não nos dávamos bem. No fim acabou sendo um passeio bem legal, inclusive encontrei alguns dos meus antigos colegas de sala ao retornar para casa.

- Ele te encheu o saco ontem? – Perguntou meu irmão se referindo ao Luciano.

- Um pouco, mas não quero falar sobre isso... – meu irmão assentiu.

- O Luciano não muda mesmo, ele nunca parece que está relaxado, não depois que saiu da cadeia... – Meu irmão comentou comigo.

- Mano, o que realmente aconteceu para vocês deixarem de ser amigos? – Perguntei, Guilherme me olhou e com seu olhar de repreensão.

- Vamos falar de coisas mais legais – ele disse tentando mudar de assunto.

- Vamos... – então mudamos de assunto.

O almoço na nona foi tranquilo, Giancarlo e Federico que estavam acompanhados de suas namoradas ficaram feliz de me ver e a todo momento se referiam a mim como “nipote” principalmente para fazer média com as companheiras que eu fiquei sabendo já eram noivas e logo se tornariam mulheres, me surpreendi quando descobri que já eram parte da vida deles há mais de 15 anos, sendo que nunca me dei conta. A nona estava feliz, tomou Aperol até dizer chega e quando deu umas 4 horas pediu licença e se retirou, meus pais ficaram mais um pouco, mas logo foram embora e eu fiquei aproveitando a piscina e botando a conversa em dia com meu “zios”.

- Filho, estamos indo para Bento, tu não quer ir junto, vamos visitar o Laércio, lembra?Aquele amigo do pai que tu deu uma pedrada no vidro do fusca, entãoeles convidaram e gente para jantar por lá pois ficaram sabendo que o Valmir estava por aqui e a gente deve pousar lá, tem problema... – decidi nã

Meus pais decidiram ir com Valmir e Carmem até Bento Gonçalves comprar vinho e onde um grande amigo deles morava e meu pai trabalhava e passava a maior parte da semana. Eu decidi não ir e após passear um pouco com a nona pela vizinhança revendo alguns vizinhos e até de ir tomar um chimarrão na praça com ela os 2 filhos e suas namoradas decidi voltar para casa. Logo quando entrei ouvi o barulho da discussão entre o meu irmão e Luciano vindo do fundo da casa. Corri até a área de lazer e quando saiu porta a fora os dois estavam a ponto de se pegar.

- Você não podia ter feito isso, você era meu melhor amigo – Luciano estava próximo a piscina, ele estava nervoso, seus olhos quase vermelhos de ódio.

- Eu não fiquei com ela, nunca trairia você seu boca aberta – ele também estava nervoso, Guilherme era um perigo quando estava alterado, cansei de ver ele estourar quando éramos mais novos, mas a pergunta é, quem era ela?

Eu tinha que fazer alguma coisa, eu precisava fazer caso contrário eles iriam se pegar de laço e não seria nada legal.

- Que porra que está acontecendo aqui, vocês estão ficando malucos! – Berrei atraindo a atenção dos dois que me olharam assustados.

- Não te mete Fabrício, esse assunto é entre eu e o seu irmão – disse ele apontando o dedo para mim.

- É mano, não se preocupa... – tentou meu irmão me tranquilizar, mas nem ele acreditava nisso. Com raiva cheguei na frente de Luciano peitei ele.

- Primeiro não me aponte esse dedo e olha o respeito comigo Luciano que você está na casa dos meus pais, então baixa essa voz que não sou sua nega, muito menos você é meu macho... – peitei Luciano que respirava forte e quase não me ouviu - e você Guilherme não deveria ter caído na pilha dele, não dentro da casa dos nossos pais, que vergonha vocês dois – encarei ele que estava sem graça – está na hora vocês se acertarem, chega de tanto rancor e ódio, amigos que são amigos se perdoam – disse cansado, mas notei a surpresa no rosto de Luciano quando disse isso. Ele fechou a cara.

- Nunca! Teu irmão me traiu – Luciano disse entredentes – pergunta o que ela fazia com a Patrícia quando eu estava na cadeia, com certeza ele dava a força para ela – ela me contou em uma das visitas que me fez na cadeia que você ficou com ela no dia do teu aniversário de 21 anos...- Meu Deus, foi então que a ficha caiu, Patrícia a ex-mulher de Luciano, ela era o motivo da briga dos dois e pior, por causa de uma suposta traição.

- Eu nunca transaria com a Patrícia, principalmente no dia do meu aniversário, ela dava em cima de mim, mas eu não tinha a cara de pau de trair meu melhor amigo, ainda mais estando ele preso, eu nunca faria isso contigo – Meu irmão tomou a minha frente, ficando colado rosto a rosto com Luciano.

- Mentiroso – então o que eu temia aconteceu, Luciano deu um murro em meu irmão, que caiu quase em cima de mim, mas após se recuperar do impacto devolveu outro murro igual em Luciano que caiu no chão, foi a gota d`água.

- Parem... – eu berrei – chega! - Eu me apavorei na medida que a briga ficava mais séria com socos na barriga, no olho, chutes, ofensas, esses dois só iam parar quando alguém acabasse seriamente ferido, eu precisava fazer algo. Quando me meti no meio dos dois para tentar apaziguar tomei uma bofetada do meu irmão que me fez cair para trás e sentir uma dor forte no meu rosto.

- Ai...! – Com o meu grito de dor eles pararam e se deram conta do que havia acontecido.

- Mano! – Guilherme se deu conta do que fez e apavorado correu me ajudar – me desculpa, era para acertar nele – disse apontando para o Guilherme.

- Não chega perto de mim – apontei o dedo para ele que me olhava desesperado.

- Desculpa... – ele começou a tremer e encheu os olhos de água.

- Seu babaca, você quebrou o nariz do Fabrício – Luciano ia para cima do meu irmão, mas eu iria acabar com isso.

Toquei a mão no nariz e não senti uma dor tão alucinante, mas doía, não havia sinal de fratura o que me deixou mais aliviado, seria estranho voltar para BH com o nariz quebrado e seria ruim estar na pele do meu irmão se isso acontecesse.

- O Guilherme nunca ficou com a piranha da tua ex – mulher por que no dia que ela te disse que ficou com ele eu estava sendo tocado de casa por ele e pelo meu pai – Guilherme me olhou consternado, pude notar um arrependimento tão grande em seu rosto – então Luciano, a Patrícia pode ter dado pra Caxias do Sul inteira, menos para o meu irmão que estava me ofendendo de tudo quanto era maneira... – me levantei, dei as costas e fui até a copa onde peguei um pano para estancar o sangue que escorria do meu nariz e lábio, lavei as mãos e passei no pescoço, era ruim relembrar de algo que machucava, mas era mais ruim ainda sentir a dor que eu estava sentindo.

Voltei e área de lazer e Luciano estava aéreo enquanto meu irmão encarava ele com pena, sim, pena pois foi vítima das mentiras de Patrícia.

- Não pode ser.…. Ela me disse, jurou que não estava mentindo...eu no início não acreditei, mas ela jurou... – Luciano tentava justificar, barganhar, a dor de ser enganado era tão grande. Meu irmão abaixou de frente para Luciano.

- Eu te falei, nunca ia trair um amigo, nos conhecemos desde os 3 anos Luciano, eu nunca faria isso contigo... – meu irmão sentou e se escorou na pilastra de madeira da parte coberta da área de lazer.

- A Patrícia não valia nada, ela deu em cima de mim inúmeras vezes, mesmo eu dizendo a ela que era gay...mas parece que ela não entendia – ele me olhou surpreso como se tivesse dito algo novo – qual é Luciano, ela era uma piranha, você mesmo sabia disso e casou com ela – joguei na cara dele o que ninguém tinha jogado – então não venha se fazer de desentendido ou de vítima, meu irmão sempre foi a vítima nessa história, tentou 10 anos te contar a verdade, mas você sempre prefere ouvir os outros do que os próprios amigos não é mesmo? – Luciano só me encarou confuso até que entendeu ao que eu me referia. Guilherme passou a mão no rosto e gemeu de dor.

- Mano... – Guilherme estava mais preocupado com a minha situação do que com a dele, se minha mãe ou meu pai visse nosso estado provavelmente teriam um surto.

- Me deixa, eu quero ficar sozinho e além do mais você e ele tem 10 anos de confusões e mentiras para consertar.

Acabei indo para rua espairecer. Eu estava fodendo para o que aconteceria com os dois. Eu estava com raiva de tudo, do babaca do João que ainda no fundo mexia comigo, do Luciano que começava a mexer comigo de uma maneira que eu não queria e do meu irmão a quem eu amava, mas estava com raiva por ter tomado um soco dele. Meu feriado estava indo de mal a pior.

Quando cheguei em casa já era de noite.

- O que aconteceu ragazzo? – Perguntou dona Tiziana que por acaso passava pela rua com as noras, acredito eu que ela conversava sobre o futuro.

- Não foi nada nona – tentei desconversar – deixa eu ir agora – fui saindo, mas ela me segurou.

- Conta para nona o que aconteceu – disse ela me passando confiança.

Então resumidamente contei a ela que tentei separar a briga dos dois e que no calor do momento meu irmão me deu um soco na cara sem querer e que eu sai de casa por que estava com raiva deles e não queria me estressar.

- Porco cane – esbravejou ela – tu fica lá em casa com as minhas noras que eu vou lá resolver isso e já volto – ela atravessou a rua e entrou na minha casa sem bater, mas era possível ouvir ela xingar em italiano, eu que não gostaria de estar na pele deles.

Acabei saindo de fininho sem nem mesmo me despedir das duas mulheres que olhavam assustadas em direção a minha casa. Fiquei umas 4 horas na rua e só voltei perto das 21::00h. quando me aproximei de casa ouvi vozes, risadas e rock nacional do início dos anosOnde tu tava Fabrício? – Perguntou um Guilherme nervoso e preocupado assim que adentrei a sala. Olhei para ele e não respondi, passei por ele que ficou com cara de bobo e dei de cara com Luciano que me encarava de braço cruzado.

- Seu irresponsável, eu e seu irmão estávamos preocupados com teu sumiço – percebi então que Luciano e Guilherme estavam sem camisa e tudo indicava que tinham feito as pazes – eles me cercaram me deixando encurralado – nunca mais some desse jeito, o tempo que tu ficou fora eu e o Gui fizemos as pazes e nos acertamos, mas você é difícil demais, sai correndo e ainda fala para nona que a gente brigou e que teu irmão te bateu e que... – interrompi ele.

- Eu falei mentira por acaso? – Ergui o tom de voz com ele – você e o meu irmão ficaram 10 anos sem se falar por causa de uma puta mentirosa, então não venha me dar lição de moral, eu estou muito puto com vocês dois... – olhei para o meu irmão que me encarava pasmo pois poucos peitavam Luciano do jeito que eu fazia.

- Chega vocês dois – disse meu irmão com tom de voz repreensivo – o Fabrício já voltou e a gente já tá de bem, não vamos estragar isso – disse ele vindo em minha direção – eu quero falar contigo, vem – olhei para Luciano que desviou seu olhar do meu e se afastou.

- Vou deixar vocês conversando e vou dar uma olhada nos meus e-mails – disse ele sem graça – Guilherme, me empresta seu notebook? – Meu irmão assentiu e Luciano sumiu no corredor.

- Sobre a bofetada não foi minha intenção – disse ele coçando a cabeça sem graça – e sobre ajudar o pai a te tocar de casa você não sabe como eu me arrependo disso – ele estava realmente triste.

- Está tudo bem mano, eu sei que você não teve a intenção de me bater... – ele suspirou aliviado – eu não quero falar do passado Guilherme, eu fico feliz que você e o Luciano tenham feito as pazes, mas eu tenho os meus próprios problemas, não posso somar mais, você entende? – Falei demais.

- Sim, o pai me disse que tu se demitiu... – olhei para o meu irmão que se aproximou e alisou meu ombro – barbaridade, volta para casa mano, tu pode trabalhar e estudar aqui e... – Meu irmão é interrompido.

- Seu irmão não vai voltar Guilherme – Luciano apareceu com o notebook em mãos - o lugar dele é em BH, estudando e trabalhando com a gente – ele me encarou, sua voz com raiva evidente.

- Eu fui demitido Luciano, eu pedi para me demitirem...e quem decide isso sou eu, ou não sou? – Disse olhando de um para o outro – o Roberto já me convidou para trabalhar com ele... – Luciano já havia largado o notebook na mesa e veio sentar do meu lado.

- Você não vai trabalhar para aquele desgraçado, está me entendendo? – Ele esbravejou me encarando de um jeito que me deixou muito sem graça – eu não vou permitir que isso aconteça – Guilherme me olhou sem entender.

- Por que não Luciano? – Perguntou a ele – por que o mano não pode trabalhar para ele, se ele foi demitido... – Luciano olhou depressa para Guilherme.

- Esse Roberto é um babaca Gui, ele tem uma empresa de projeto no edifício do lado e sempre que encontra teu irmão e pode joga charme para ele, principalmente na minha frente, o que chega a ser patético... – interrompi ele.

- Não é bem assim Luciano, o Roberto é simpático, atencioso... – Luciano ficou impaciente.

- E quer te comer! – Exclamou ele para mim me fazendo ficar sem graça, meu irmão só ria.

- Não quer não, ele vai me dar um emprego... – disse a Luciano.

- Emprego você já tem! Se você mesmo não percebeu não foi feito sua recisão de contrato Fabrício, portanto você ainda é meu funcionário! – Disse ele com um sorrisinho sarcástico. Minha ficha caiu, eu não tinha recebido minha recisão ainda.

- Você me enganou? – Levantei encarando ele que deu de ombros.

- Foi necessário – ele disse apenas isso e se levantou – Guilherme ainda tem aquela pizzaria que a gente ia mais novo e fazia aquela pizza de strogonoff? – Perguntou ao meu irmão.

- Sim, tem – disse ele olhando nós dois – bah! Vocês vão querer comer carne hoje, não é pecado? – Perguntou ele em dúvida.

- Pecado! – Exclamei rindo – aqui vai todo mundo para o purgatório – ele me olhou de cara fechada.

- Eu e você brigamos de porrada, a nona veio aqui e encheu a gente de sermão, xingou a gente em italiano e ainda nos fez rezar com ela em italiano, teu irmão saiu fugido, acho que ninguém hoje está mais casto e puro né? – Ele se posicionando dessa maneira estava certo.

- Por mim tudo bem, tem vinho em casa mesmo – disse a eles.

- Só não pega o pinot noir premiada safra 1995 do pai senão ele dá um laço em nós três ainda – disse meu irmão me seguindo – vou ligar para a pizzaria, Luciano você ajeita a sala então.

- Que tal a gente ouvir rock agora? – Perguntou Luciano trocando a música no player.

- Pode ser

Por fim acabamos escolhendo 2 pizzas, uma portuguesa e outra de strogonoff, ou era isso ou ouvir Luciano reclamar a noite inteira. A noite foi regada a vinho, pizza, pop rock dos anose as lembranças de Gui e Luciano que após 10 anos tinham muito que conversar, eu fiquei calado a maior parte do tempo, estava feliz pelos 2, meu pai ligou perguntando se estava tudo bem com a gente e foi só. Já estávamos bem faceiros quando meu irmão se despediu e foi para o seu quarto ficando apenas eu e Luciano na sala.

- Boa noite - ele se levantou e foi para o quarto.

Um clima estranho se instalou na sala. Luciano estava com um shorts acima do joelho, como havíamos tomado banho antes da pizza chegar o cheiro do seu sabonete chagava ao meu nariz, ele estava sem camisa deixando seus pelos livres para pegar um ar, eu estava de camiseta e shorts de pijama de tecido fico.

- Quer mais vinho Fabrício? – Me ofereceu ele olhando em meus olhos.

- Quero, mas não significa que eu te perdoei – disse já meio grogue.

Luciano estava sentado no chão escorado em um dos sofás e eu estava escorado no outro, na sala havia um tapete e a mesa de centro mais à frente onde estava a garrafa de vinho e as caixas de pizza vazias. No player tocava Linger – Cranberries o que deixava o ambiente estranhamente romântico e meu melhor amigo sem camisa parecendo um ursão de pelúcia não ajudava.

- Pega aqui – disse ele com a garrafa na mão.

- Seu covarde, podia me alcançar a garrafa – ele chacoalhou a garrafa.

Eu já estava um pouco tonto e acabei rastejando até ele para pegar a garrafa e encher minha taça. Luciano acompanhou meus movimentos com o olhar e quando encarei ele, senti sua mão me acariciar o rosto aonde ele tinha me dado a bofetada no dia do churrasco fazendo com que uma sensação boa percorresse meu corpo assim como deve ter percorrido o dele. Fechei os olhos e senti o calor do seu toque no meu.

- Me desculpa – disse ele sério e triste ao mesmo tempo.

- Luciano... – e então tudo ficou estranhamente excitante. Luciano passou o dedo pelo meu lábio e foi se aproximando, eu senti uma vontade imensa de beijar aqueles lábios rosados e roçar meu rosto naquela barba no mesmo instante que ele encarava a minha boca.

- Fabrício... – ele gemeu quando eu comecei a recuar e sem querer toquei em seu membro que parecia um perfil I de tão duro.

- Desculpa... – pedi sem graça, foi quando senti suas mãos em minha cintura.

- Está tudo bem... – ficamos frente a frente em uma distância muito perigosa, então minha mão encontrou sua barba com ao toca-la fez Luciano gemer e me segurar com força pela cintura. Alisei sua perna e apertei seu membro arrancando um gemido dele.

- Foda-se a porra do autocontrole – disse ele me puxando e me dando um beijo urgente e bruto ao mesmo tempo – eu quero você agora! – Ele me olhou e voltou a me beijar.

- Lucia... – eu não resisti e nem queria, me ajeitei em seu colo e passei meus braços pelo seu pescoço aumentando a intensidade do beijo.

- Diz que não e eu te deixo em paz, não farei nada que não queira – ele sussurrou em meu ouvido – não vou machucar você.

Minha resposta veio na forma de puxar sua barba com o dente. Foi o sinal verde para Luciano continuar.

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Acordei quando com os gritos de minha mãe e Carmem que ao contrário do que parecia estavam comemorando alguma coisa

- Amiga, pega a Carmem, olha que lindo eles juntinhos – disse minha mãe a Carmem.

Como eu estava de ressaca demorei para abrir os olhos para me dar conta que estava na dormindo na sala sobre o tapete e usando as almofadas e uma manta muito gostosa e quentinha e nada a mais, eu estava nu e com cheiro de vinho pelo corpo.

- Mas o que... – foi quando eu senti um ar quente no cangote e um braço me abraçando pela cintura.

- Bom dia... – Luciano roçou sua barba no meu rosto quando foi me beijar na boca.

- Ahhh..... – Não, não...não pode ser, eu transei com meu melhor amigo que me olhava com um brilho nos olhos e um sorrisinho lindo e o pior é que eu estava achando lindo o jeito dele me olhar.

- Eu sabia! – Disse meu irmão estava rindo quando apareceu de surpresa na sala, enquanto meu pai e Valmir se entreolhavam sem entender o que estava acontecendo...

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Comentários

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AFINAL QUEM DESFERIU O SOCO FOI GUILHERME OU LUCIANO? UMA HORA VOCÊ DIZ QUE É UM E DEPOIS DIZ QUE É OUTRO. ATÉ Q ENFIM A PAZ PARECE REINAR DEPOIS DE 10 LONGOS ANOS. AH E O AMOR TAMBÉM PARECE QUE SURGIU. OU RESSURGIU. AGORA LUCIANO TEM QUE ESCLARECER COM PATRÍCIA A VERDADE DE TUDO.

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Puta que Pariu casa comigo ❤️

Amo seus contos em geral mais esse tá maravilhoso

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sem palavras, mas acho que foi muito precipitado, e o modo fácil que o Luciano lidou aí no final do conto, meio que é estranho...

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William minerin que bom que voltou, pelo visto a viagem foi boa.. E esse final, quem diria, entre barracos e porrada tudo achou em vejo e amorzinho. Rs

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Que bom que voltou demorou mas valeu a pena estou amando este conto.

Fabrício foi precipitado eles nem conversaram e já foderam e será que Luciano vai ficar bem com esta situação? Sei que perdoar é um ato nobre mas cara eu no lugar dele não queria vê los mais. Se eles que maltrataram ele apontou amar foi espancado pelo pai apanhou e foi humilhado por Luciano ele os perdoou então tbm ele vai perdoar João que o estuprou.

Por falar nisso João ainda volta ao conto?

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Rindo com o comentário do Atheno!!! É por aí! =]

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Se expulso de casa e ameaçado com uma arma pelo pai, eu não voltava para casa nunca mais. Mas, como ele é Jesus é perdoa todos, aff

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