ACRÔNICO. #Parte 18.

Um conto erótico de Ralph.
Categoria: Homossexual
Contém 2266 palavras
Data: 07/05/2017 15:09:48
Assuntos: Gay, Homossexual

“É sério. Você sempre demora mais do que necessário. Os meninos queriam sair, mas tinham que falar com você antes.”

Mesmo mantendo o olhar no celular, a mulher dava aquela bronca em Bernardo e só se calou porque ergueu seu olhar e encontrou o meu lhe cercando.

Ela desviou os olhos cintilantes para Bernardo e depois os voltou para mim, como se cobrasse dele alguma resposta ou explicação para a minha presença. De alguma forma ela parecia me conhecer.

Sabiamente eu me mantive calado e ela fechou completamente a boca. Cortando o silêncio estabelecido entre nós, os dois garotos apostaram uma corrida e chegaram às pernas da mulher, agarrando-a como prêmio.

– Mãe! – Gritou Luca. – Eu ganhei, você é minha.

–Mas é minha também. – Ben reclamou logo atrás.

– Eu sou... É. Eu sou dos dois. – Ela disse por fim para depois me olhar menos desacreditada ou desconfiada.

– Você é...

Ela cobrava de mim a resposta com a mão estendida. “Mentirosa!”, eu ouvi Bernardo falar em um espirro falso.

– Ralph. – Eu apertei a mão da mulher.

– Briana. – Foi calma, mas para Bernardo sobrou um olhar raivoso.

– Essa bicha é uma mentirosa de carteirinha. – É claro que ele interromperia aquele clima esquisito.

– Perdeu o respeito. – Ela suspirou.

– Ela sabe quem é você, Ralph. – Ele disse por trás dela, abraçando-a carinhosamente. – Isso aqui é atriz, cuidado. Ela sabe muito bem quem é você e o que representa.

– Hmm. – Ela suspirou outra vez fingindo desinteresse. Eu já não confiava mais nela.

– Você é ridícula. – Bernardo riu enfiando o rosto na bochecha dela para um beijo apertado.

– E você merece uns tapas. – Ela virou-se para mim. – E eu adoraria conversar com você, mas essas crianças precisam encontrar o pai ou eu ficarei bem louca.

Eu não consegui falar porque se eu abrisse a boca um suspiro sairia dela. Não de alívio pelas crianças não serem filhos de Bernardo, mas por, egoistamente, gostar de saber que ele não tinha seguido em frente. As crianças representariam a desesperança e a tentativa de me apagar e isso seria aterrorizante. No fim eu só sorri e ela sorriu de volta, esperando que Luca e Bem ganhassem os beijos de Bernardo. Para mim sobrou um aceno junto de uma risada presa.

Sabendo que eu queria aquilo, o homem à minha frente jogou os braços sobre meus ombros e laçou meu pescoço com sua pele macia quando a porta se fechou após a partida daqueles que preenchiam todo o espaço da casa. Mesmo abraçando-me, ele evitava encostar seu corpo completamente no meu.

– Adoro crianças, especialmente aquelas duas, mas eles são só meus sobrinhos. Pois é, Briana é minha única irmã. Você não a conheceu, mas ela sabe muito bem quem é você.

– Eu fiquei com vergonha. E medo. – Admiti memorizando cada detalhe da boca já memorizada próxima a minha.

– Medo? – Finalmente ele se ajeitou e agora eu sentia seu corpo. Bernardo parecia se esticar um pouco para conseguir igualar a altura de nossos rostos.

– Não sei o tipo de imagem que ela tem de mim. Eu posso ser um monstrinho para ela.

– Não ouse pensar isso – ele me calou. – Eu não mentiria para ela e não transformaria você em outra coisa.

– Você é lindo. – Eu não consegui falar nada além disso.

Ele quis soltar meu pescoço, mas eu segurei seu corpo no meu, envolvendo sua cintura com meus braços. Ele só sairia dali se eu permitisse.

– De novo isso de “você é lindo”? – Ele não estava falando sério quando tentou me imitar.

– É inevitável.

– Sabe o que mais é inevitável? - Eu queria um beijo. É claro que eu queria um beijo naquele exato momento. – A minha barriga roncando – ele completou.

– É saudade – eu brinquei.

Ele riu muito próximo do meu rosto. Seu hálito fresco e quente saiu só para mim.

– Não é. Saudade eu vou colocar na salada. Você me acompanha, como eu disse.

O safado aproveitou meu vacilo para se desvencilhar de mim e se mandou para a cozinha. Para mim restou a exploração. Ele tirava as compras do pacote e guardava, eu caminhava em passos lentos pela sala, contornando o sofá cinza de frente para as janelas sem cortinas. Ele lançou um olhar curioso sobre mim, e eu lancei um olhar na direção dele, analisando o balcão que o escondia de mim e sobre ele os girassóis dentro de um pote bonitinho.

Havia fotografias nas paredes de concreto. Eram corpos muito brancos sobre fundos pretos e corpos negros sobre fundos muito claros. Eles, os corpos, pareciam reproduzir passos de danças quando foram fotografados e seu movimento foi capturado em forma de borrões. Eram quatro molduras dispostas atrás do sofá. Ao lado do móvel, uma mesinha de ferro torcido. Era estranha e muito artística. Ele sorriu quando me viu observando a peça de tampo de madeira. Abandonei a forma estranha para caminhar até a porta do quarto dele.

Parado ali, eu voltei meu olhar para o homem atrás do balcão e ele sorriu em permissão.

E eu entrei e tive a impressão de não mais estar no apartamento de Bernardo, mas somente por causa do branco que prevalecia. A decoração e os móveis antigos estavam ali, mas o branco cobria das paredes aos lençóis da cama. Eu ignorei o que mais pudesse ter naquele espaço e sentei sobre o colchão.

Instintivamente fechei meus olhos ao acariciar a maciez dos lençóis ao meu lado. Ciente de que eu poderia ser flagrado, arrastei mesmo assim a superfície com meus dedos e trouxe para mim aquela sensação. Ergui o tecido até meu rosto e o pressionei contra meu nariz, sentindo melhor a textura e o perfume deixado neles. Eu sentira aquele mesmo cheiro no corpo de Bernardo após a chuva e principalmente após o beijo. Eu respirei no lençol e beijei a maciez dele. Havia restos do meu Bê ali e eu queria tudo para mim. Das células deixadas para trás à essência do seu corpo. Eu me perdi naquilo que fazia e não vi quanto tempo passou. O tempo não importava mais.

Eu não assustei quando abri os olhos e vi que era observado. Encostado na lateral da porta, ele sorria assistindo-me ser acordado por vontades tão únicas e específicas. O silêncio instalado ali não me incomodou nem um pouco, diferente dos silêncios que existiram antes de sua partida. Havia tanta coisa sendo dita que restou para nós uma intensa troca de olhares e eu só os deixei quando ele se aproximou e me impediu de continuar olhando para cima. Eu não mais olhava seu rosto só porque agora tinha um corpo no meu campo de visão. Mais precisamente um tórax.

Eu não precisava do lençol quando poderia inspirar o cheiro diretamente da pele de Bernardo. E foi isso que eu fiz: grudei minhas mãos nas laterais da cintura, enfiando-as por baixo do tecido, e levantei a blusa um pouquinho. A calça folgada deslizava pela cintura e um pedaço da região que antecede a virilha estava sendo mostrado. A sensualidade daquele pedaço de pele forçou algo mais físico da minha parte. Só sosseguei quando encostei meu rosto ali, entre seu umbigo e o começo da penugem da virilha. O cheiro da pele era fresco e limpo, além de muito sedutor. Instigado pela maciez tão presente, eu arrastei meu rosto, subindo além da cavidade do umbigo. Um sorriso provocado pelas cócegas que eu fazia surgir com a saliência do nariz fez com que ele se contorcesse e brincando cobriu minha cabeça com sua blusa, me deixando encarcerado entre o tecido fino e a pele morna. Eu ri fazendo-o sentir meu hálito e despejei beijos por ali. E eu tentei subir esses beijos, mas é claro que a blusa não me deixaria sair. Num riso eu fugi daquela prisão tão deliciosa e me coloquei de pé, tomando outra vez sua cintura em meus braços.

– Temos comida, viu? – Ele sofreu para falar.

– Temos comida? Que sugestivo.

– Nem vem. – Ele brincou com os cabelos curtos da minha nuca, que espetam os dedos de quem os tocam.

– Eu já estou aqui e vai ser difícil me fazer sair.

– Não quero que você saia – ele se adiantou me puxando pelo quarto.

Era impossível não sorrir com aquele momento. O mesmo garoto que um dia me pediu para ir com calma, estava me pedindo novamente, mas silenciosamente, num retorno depois de anos. E é claro que faria acontecer cada pedido que saísse de sua boca, ou corpo. Ou até a própria pele. Para mim, tudo que ele quisesse. Para nós dois, o que o tempo decidisse.

E aparentemente o tempo nos queria juntos. Grudados.

Quando no sofá, pegamos nossas vasilhas coloridinhas com a salada e sentamos, cada um em uma extremidade do móvel. Ele tinha preparado aquilo em tempo recorde, eu acredito. Havia frango grelhado, queijo, cenoura, folhagens e estava muitíssimo bem temperado.

– Eu poderia fazer algo mais pesado, só que eu preciso me alimentar bem. Recomendações.

– Está tudo perfeito – eu disse já com uma garfada na boca. – Eu adoro salada!

– Eu adoro sua bondade – ele confessou de boca cheia.

– Eu adoro você. – Eu o fiz sorrir.

Ele encostou-se no braço do sofá virado para mim e eu fiz o mesmo, colocando os calcanhares sobre o sofá. Aproveitando nossa posição ele jogou seus pés em meu colo e mexeu na minha barriga com a ponta do dedão. Isso me excitava. Muito. Mas não era o momento de jogar meu corpo sobre o dele e o consumir inteiro como complemento daquela salada. Seria estranho. Nem tanto.

– Quantos passaram por você?

Se eu não cortasse o silêncio e aquela provocação, o atacaria. Sem sombra de dúvidas.

– Do que estamos falando? – Ele continuava mexendo em minha camiseta com o dedão.

– Estamos falando de homens.

– Ah, homens. – Ele ergueu as sobrancelhas como se aquele fosse um assunto óbvio demais. – Tive alguns, mas nada durável.

– Alguns? – Eu dei outra garfada pesada.

– É. Tive um surfista na Jamaica. O sexo dele era quente demais pra mim. Passou por mim também um berlinense que morava na Groenlândia. Esse, por outro lado, era muito frio. Tive um paulista, mas ele era descolado demais. Era novinho e estava no começo da vida, e previ que ele iria me trair com a primeira coisa móvel que passasse por nós.

– Credo! – Eu murmurei do outro lado.

– Pois é. – Ele disse no meio de um riso. – E você? Atraiu muitos com suas palavras?

– Ah, sim. Impossível de contabilizar quantos homens eu atraí com meu sucesso astronômico. – Ele entendeu a ironia das minhas palavras e riu, cutucando meu peito com seu pé e eu continuei falando no meio das garfadas. – Você me conhece. Eu sou das intuições, então já pode imaginar que raramente eu estive com alguém.

– Eric não parece alguém que se enquadre no seu tipo de homem. – Ele não queria ser irônico. Era uma observação séria.

– Exceções. Eu me abri mais por causa do momento.

– Momento? – Ele fingiu não se importar muito, catando os cubinhos de queijos da sua tigelinha.

– Eu estava tentando ser menos profundo e deixar as pessoas se aproximarem com facilidade. – É claro que eu mentiria sobre as fantasias em que me metia, mas eu era verdadeiro com relação a aproximação das pessoas. – Agora eu estou vendo que deveria ter esperado só mais um pouquinho.

Ele entendeu as intenções da minha afirmação e sorriu elevando aquele pé que estava quase em meu peito. Eu deixei minha tigela de lado para segurá-lo. Os dedos macios e cheirosos foram direto para os meus lábios e eu beijei os dedos com uma calma admirável e insinuativa.

– Por que deveria ter esperado? – Perguntou mais com os olhos do que com a própria boca.

– Você. – Respondi somente.

A resposta se mostrou um acerto quando ele colocou sua tigela de lado e me estendeu seus braços, dizendo em uma linguagem corporal que me queria sobre si. Não demorei. Não poderia demorar. Só me arrastei para frente e por ele estar mais deitado do que sentado, suas pernas abertas caíram sobre minhas coxas quando eu encaixei nossos corpos. Ele soltou um suspirinho, pois talvez não imaginasse que eu seria tão ousado.

A proximidade entre nossas bocas era perigosa e atrativa demais. Pegamos-nos admirando os lábios entreabertos um do outro e eu quis ceder aos desejos que gritavam, mas Bernardo mostrou-se mais ansioso. Um beijo era inevitável. O calor também. Beijamos-nos com toda a calma do mundo. Eu entreguei ao homem morno minha língua e depois de chupá-la, ele me entregou a sua. Eu suguei todo o sabor e saliva dela. Eu bebi mais dele naquele momento do que imaginava que poderia ser possível. Ele emoldurou meu rosto com suas mãos macias e tremulas e eu abracei seu tórax com meus braços, forçando meu corpo contra o dele. Quando não chupava sua língua, eu chupava os lábios grossos e só diminui o ritmo quando o fiz gemer para mim e em mim. Dentro de minha boca, eu abafei o gemido e parei o beijo para admirá-lo em pleno êxtase.

– Misericórdia. – Disse sofrendo em um suspiro profundo.

Eu caí aos risos sobre o peito dele.

– Que Deus te ajudará nesse momento?

– Você não perguntou se eu quero ser ajudado. – Ele riu. – Acho que eu endureci.

– Acha? – Eu perguntei passando meus dedos sobre o volume que cutucava minha barriga.

– Tira a mão daí. – Ele sofreu outra vez, se contorcendo.

– Isso aqui é meu, Bê.

– Tira a mão daí! – Ele foi mais grosso e o espasmo que seu corpo deu foi mais violento.

Eu gargalhei do sofrimento que causava ao homem sobre meus braços e voltei para os seus lábios entreabertos, que me receberam em um beijo mais calmo e apaixonado, mas não menos perigoso.

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