"O Cretino Irresistível" Parte 15

Um conto erótico de Dany Bennitiz
Categoria: Homossexual
Contém 4609 palavras
Data: 14/04/2017 23:46:05

DANIEL

Nós lentamente voltamos da órbita. Abraçados debaixo dos lençóis, passamos horas conversando sobre nosso dia, sobre a reunião com o sr. Gugliotti, sobre seu jantar e minha noite com as amigas. Conversamos sobre a mesa quebrada e sobre eu ter trazido cuecas apenas para uma semana, o que significava que ele não poderia rasgar mais nenhuma.

Conversamos sobre tudo, exceto o estrago que ele estava causando em meu coração. Passei um dedo por seu peito e ele o agarrou, levando até os lábios e dizendo:

– Eu gosto de conversar com você.

Eu ri, arrumando o cabelo em sua testa.

– Você conversa comigo todos os dias. E quando eu digo “conversa”, quero dizer “grita”. Bate as portas. Faz beicinho...

Com os dedos, ele desenhava círculos em minha barriga, me distraindo.

– Você sabe o que quero dizer.

Eu sabia. Sabia exatamente o que ele queria dizer, e eu queria encontrar uma maneira de fazer esse momento durar mais, ali mesmo, até a eternidade.

– Então, me conte alguma coisa.

Ele subiu os olhos até meu rosto, sorrindo nervosamente.

– O que você quer saber?

– Primeiramente você e gay... ou Bi?

– Engraçado por um tempo me considerei bi, mais já fazem mais de 10 anos que não transo com mulher... ai apareceu você sim acho que sou gay,o que mais você quer saber?

– Honestamente? tudo. Mas vamos começar de um jeito fácil. Conte a história dos homens e mulheres na vida de Bennett.

Ele passou o longo dedo por cima da sobrancelha, rindo:

– Vamos começar com um assunto fácil. Claaaaro – limpou a garganta e então olhou para mim. – Algumas no colégio, alguns na faculdade, algumas na pós- graduação. Alguns depois disso. E então, um relacionamento longo quando eu morei na França.

– Detalhes? – enrolei uma mecha de seu cabelo ao redor do meu dedo, esperando não estar forçando muito a barra.

Para minha surpresa, ele respondeu sem hesitar.

– Seu nome era Steven. Ele era advogado de uma pequena firma em Paris. Ficamos juntos por três anos e nos separamos alguns meses antes de eu voltar para casa.

– Foi por causa disso que você se mudou de lá?

Um sorriso se pronunciou no canto de sua boca.

– Não.

– Ele partiu seu coração?

O sorriso se abriu de vez na minha direção.

– Não, Daniel.

– Você partiu o coração dele? – por que eu estava perguntando? Será que eu queria que ele respondesse... que sim? Eu sabia que ele era capaz de partir corações. Na verdade, eu estava quase certo de que partiria o meu. Ele se inclinou para me beijar, concentrando-se no meu lábio inferior por alguns momentos antes de sussurrar:

– Não. Nós apenas não funcionávamos mais. Minha vida romântica era totalmente sem graça. Até você aparecer.

Eu ri.

– Estou contente por quebrar o padrão.

Pude sentir sua risada vibrar ao longo da minha pele enquanto ele beijava meu pescoço.

– Ah, e você quebrou mesmo – longos dedos percorreram minha barriga, meus quadris, e finalmente chegaram no meu pau. – Sua vez.

– De gozar? Sim, por favor.

Ele circulou preguiçosamente meu pau, desceu um pouco o dedo e o fez deslizar para dentro do meu anel. Ele conhecia meu corpo melhor do que eu. Quando foi que isso aconteceu?

– Não – ele murmurou. – É a sua vez de contar sua história.

– De jeito nenhum eu consigo pensar em qualquer coisa enquanto você faz isso.

Com um beijo em meu ombro, ele moveu a mão de volta para minha barriga, desenhando círculos novamente. Fiz um beicinho, mas ele não viu, pois estava olhando seu dedo na minha pele.

– Deus... Eu dei pra tantos homens na minha vida, por onde devo começar?

– Daniel... – ele advertiu.

– Um na faculdade... e fim.

– Você só transou com um homem?

Eu me afastei para olhar em seu rosto.

– Ei, Einstein. Eu transei com dois homens.

Um sorriso convencido se espalhou em seu rosto.

– É mesmo. Eu fui o melhor por uma margem desconcertantemente grande?

– Responda primeiro se eu fui o seu melhor.

Seu sorriso desapareceu e ele piscou, surpreso.

– Sim.

Ele foi sincero. Isso fez algo dentro de mim derreter e se tornar uma pequena vibração quente. Eu me inclinei para beijá-lo no queixo, tentando esconder o que aquela informação tinha feito comigo.

– Bom.

Beijando seus ombros, eu gemi de felicidade. Eu adorava seu sabor, adorava sentir aquele seu cheiro de ervas. Mergulhando meus dedos em seus cabelos, eu o puxei para trás para poder morder seu queixo, seu pescoço, seu ombro. Mas ele se manteve parado, quase imóvel, claramente não me beijando de volta. Mas o quê?

Ele respirou fundo, abriu a boca como se fosse dizer algo, mas fechou novamente. De algum jeito eu consegui manter minha boca afastada tempo suficiente para perguntar:

– O que foi?

– Eu sei que você pensa que eu sou um galinha cafajeste, mas isso importa para mim.

– O que importa...?

– Eu quero ouvir você dizer.

Eu o encarei, e ele me encarou de volta, seus olhos começando a mostrar um familiar tom castanho-esverdeado de irritação. Mentalmente relembrando os últimos minutos de conversa, tentei entender o que ele estava falando. Ah.

– Ah. Sim.

Suas sobrancelhas se juntaram.

– Sim, o quê, Dan?

Senti um calor percorrer meu corpo. Sua voz estava diferente quando ele disse isso. Severa. Mandona. Sexy.

– Sim, você é o melhor por uma margem desconcertantemente grande.

– Acho bom mesmo.

– Pelo menos até agora.

Ele rolou para cima de mim, agarrando meus pulsos e prendendo-os acima da minha cabeça.

– Não me provoque, eu serei o único eternamente.

– Não provocar? Por favor! – eu disse, perdendo o fôlego. Seu pau pressionou contra minha coxa. Eu queria que estivesse mais para cima. Queria que estivesse entrando em mim. – Tudo o que fazemos é provocar!

Como se quisesse provar que eu estava errado, ele levou a mão livre para debaixo dos lençóis, pegou seu pau e o guiou para dentro do meu anel, puxando minha perna ao redor de sua cintura. Mantendo-se parado, ele me encarou. Seu lábio superior tremeu.

– Por favor, mexa – sussurrei.

– Você gosta disso?

– Sim.

– E se eu não mexer?

Mordi o lábio e tentei olhá-lo nos olhos.

Ele sorriu e grunhiu:

– Isto é provocação.

– Por favor? – tentei mover meus quadris, mas ele seguiu meus movimentos para que eu não conseguisse fricção do meu pau na sua barriga.

– Dan, eu nunca provoco você. Eu gosto é de te foder até deixar você maluco.

Eu ri, e seus olhos se fecharam enquanto meu corpo apertava-o ainda mais.

– Não que você seja muito bom da cabeça, para começo de conversa – ele disse, mordendo meu pescoço. – Agora, diga o quanto eu faço você se sentir bem – havia algo na voz dele, uma vulnerabilidade no final da frase, que me fez perceber que ele não estava brincando.

– Ele nunca me fez gozar antes. Seja com mãos, boca ou qualquer outra coisa. Era só o prazer dele que contava.

Ele já estava imóvel antes, e era possível perceber os sinais de que estava reprimindo algo: seus ombros estavam trêmulos e sua respiração entrecortada, como se o corpo inteiro quisesse explodir debaixo dos lençóis. Mas quando eu disse isso ele congelou completamente.

– Nunca?

– Apenas você – eu me inclinei e mordi seu queixo. – Eu diria que isso te coloca um pouco à frente dele.

Ele disse meu nome quando soltou a respiração e mexeu os quadris para frente e depois para trás. E de novo, para frente e para trás. A conversa tinha acabado. Sua boca encontrou a minha, e depois meu queixo, meu rosto, minha orelha. Sua mão subiu pelo meu corpo, passando pela minha barriga peito ate finalmente chegar ao rosto. E quando achei que estávamos perdidos no ritmo e eu já sentia meu gozo se aproximando, e enterrei meus calcanhares na bunda dele querendo mais, mais rápido, querendo- o inteiro, e ele sussurrou:

– Eu queria ter descoberto isso antes.

– Por quê? – falei com dificuldade no meio da minha respiração pesada. Mais rápido, gritava meu corpo. Mais. –Você teria sido menos filho da puta comigo?

– Não sei. Só queria saber antes – ele grunhiu, entrando em mim novamente. – Deus. Tão fundo assim...

Seus movimentos eram fluidos, como uma superfície de água ondulante, como um raio de sol percorrendo um quarto escuro. As molas da cama rangiam debaixo de nós, a força de suas estocadas me empurravam pelo colchão acima.

– Quase – agarrei os lençóis e implorei para ele continuar. – Quase. Mais forte.

– Merda. Está tão perto. Vai – ele sincronizou cada movimento com o último, sabendo que aquele era o ponto do qual não havia mais volta. – Vai.

Seu rosto, sua voz, seu cheiro – cada parte sua preenchia minha mente quando eu obedientemente gozei debaixo dele.

Ele estocou com força, então todos os seus músculos congelaram e ele se derreteu em mim quando também gozou.

– Merda, merda, merda... – ele soltou o ar em meu cabelo antes de cair, pesado e silencioso, em cima de mim. O ar-condicionado ligou automaticamente e ficou emitindo um zumbido. Após recuperar o fôlego, Bennett rolou para o lado, passando a mão por minhas costas suadas.

– Daniel?

– Hum?

Quando ele falou, sua voz estava tão grave e pesada que eu não tinha certeza se ele estava acordado.

– Eu quero mais do que apenas isto.

Eu congelei e meus pensamentos explodiram em uma bagunça caótica.

– O que você disse?

Ele abriu os olhos, com esforço aparente, e olhou para mim.

– Eu quero estar com você.

Apoiando meu corpo no cotovelo, eu o encarei, completamente incapaz de produzir uma única palavra.

– Tanto sono – seus olhos se fecharam, ele colocou o braço pesado em cima de mim e me puxou para perto. – Garoto, venha aqui – ele pressionou o rosto no meu pescoço e murmurou: – Tudo bem se você não quiser. Eu aceito qualquer coisa que você disser. Só me deixe ficar aqui até amanhã, certo?

De repente, eu estava mais do que acordado e fiquei encarando o vazio escuro e ouvindo o zumbido do ar-condicionado. Fiquei apavorado pensando que aquilo mudava tudo, e ainda mais apavorado pensando que talvez ele não soubesse o que estava falando e que aquilo não mudaria nada.

– Certo – sussurrei na escuridão, ouvindo ele respirar lentamente, em um ritmo constante de sono profundo. Rolei para o lado e abracei um travesseiro, buscando conforto. O cheiro dele me acordou, mas os lençóis frios do outro lado da cama me disseram que eu estava sozinho. Olhei para a porta do banheiro, tentando ouvir qualquer som vindo de dentro. Não havia nenhum.

Continuei deitado ali, abraçando seu travesseiro enquanto meus olhos se tornavam pesados. Eu queria esperar por ele. Precisava da segurança de seu corpo quente ao meu lado e precisava sentir seus braços fortes ao meu redor. Imaginei ele me abraçando, sussurrando que aquilo era real e que nada mudaria naquela manhã. Logo meus olhos se fecharam e voltei a cair em um sono inquieto.

Algum tempo depois, acordei novamente, ainda sozinho. Rolando rapidamente para o lado, olhei para o relógio: cinco e quinze da manhã.

O quê? Procurando na escuridão, vesti a primeira coisa que encontrei e andei até a porta do banheiro.

– Bennett? – sem resposta. Bati na porta suavemente. – Bennett? – ouvi um grunhido e algo se mexendo levemente do outro lado da porta.

– Só vá embora – sua voz estava rouca, ecoando pelas paredes do banheiro.

– Bennett, você está bem?

– Não estou me sentindo bem. Vou melhorar, apenas volte para a cama.

– Posso fazer alguma coisa?

– Estou bem. Apenas, por favor, volte para a cama.

– Mas...

– Daniel!! – ele grunhiu, obviamente irritado.

Eu me virei, sem saber o que fazer, lutando contra uma sensação ruim. Ele estava mesmo doente? Em pouco menos de um ano, eu nunca o tinha visto nem mesmo resfriado. Estava óbvio que ele não me queria encostado na porta, mas também eu não poderia simplesmente voltar para a cama.

Em vez disso, arrumei os lençóis e fui até a sala de estar da suíte. Peguei uma garrafa de água do minibar e sentei no sofá.

Se ele estivesse passando mal, quer dizer, realmente passando mal, não conseguiria participar da reunião com Gugliotti dali a algumas horas.

Liguei a televisão e comecei a zapear entre os canais. Infomercial. Filme ruim. Nickelodeon. Ah, quanto mais idiota melhor. Relaxado no sofá, dobrei as pernas por baixo do corpo e me preparei para esperar. No meio do filme, ouvi a água correndo no banheiro. Sentei e fiquei ouvindo, já que era o primeiro som em mais de uma hora. A porta do banheiro se abriu e voei do sofá, peguei outra garrafa de água e entrei no quarto.

– Você está se sentindo melhor?

– Sim. Acho que só preciso dormir agora – ele desabou na cama e enterrou o rosto no travesseiro.

– O que... o que é que você tem? – coloquei a garrafa de água no criado-mudo e sentei no canto da cama.

– É o meu estômago. Acho que foi o sushi do jantar – seus olhos estavam fechados e, mesmo sob a fraca luz que vinha do outro quarto, eu podia ver que ele parecia mal. Ele se afastou um pouco de mim, mas eu o ignorei e coloquei uma mão em seu cabelo e a outra em seu rosto. O cabelo estava molhado e o rosto estava pálido e suado. Apesar da reação inicial, ele relaxou com meu toque.

– Por que você não me acordou? – eu perguntei, movendo algumas mechas molhadas de sua testa.

– Porque a última coisa que eu precisava era ter você lá assistindo eu vomitar – ele respondeu, mal-humorado. Eu revirei os olhos, oferecendo a garrafa de água.

– Eu poderia ter feito alguma coisa. Você não precisa ser tão machão.

– E você não precisa ser tão mulherzinha. O que poderia fazer? Comida estragada é uma coisa que a pessoa precisa cuidar sozinha.

– E então? Eu devo ligar para o Gugliotti?

Ele grunhiu e esfregou a mão no rosto.

– Merda. Que horas são?

Olhei para o relógio.

– Sete e pouco.

– Que horas é a reunião?

– Às oito.

Ele começou a se levantar, mas eu facilmente fiz com que ele se deitasse de novo.

– De jeito nenhum você vai para aquela reunião desse jeito! Quando foi a última vez que vomitou?

Ele grunhiu.

– Alguns minutos atrás.

– Exatamente. Nem pensar. Vou ligar para remarcar.

Ele agarrou meu braço antes que eu pudesse me aproximar da mesa para pegar o telefone.

– Daniel. Você faz a reunião.

Ergui as sobrancelhas quase até a linha do cabelo.

– Como é?

Ele esperou.

– Eu fazer a reunião?

Ele assentiu.

– Sim você?

Ele assentiu novamente.

– Você vai me enviar para uma reunião sozinho?

– Sr. Bennitiz, como você é inteligente!

– Vá se ferrar! – eu disse, rindo e empurrando-o gentilmente. – E eu não vou fazer isso sem você.

– Por que não? Aposto que você conhece a conta tão bem quanto eu. Além disso, se remarcarmos, ele vai acabar fazendo uma viagem para Chicago com tudo pago e depois nos enviar a conta. Por favor, Dan.

Fiquei encarando seu rosto, esperando que ele começasse a sorrir e dissesse que estava brincando. Mas não estava. E, na verdade, eu conhecia sim a conta, e sabia todo o procedimento. Eu conseguiria fazer isso.

– Certo – eu disse, sorrindo e sentindo que talvez fosse possível resolver a nossa situação, afinal de contas. – Eu topo.

Seu rosto se tornou sério e ele usou uma voz que eu mal tinha ouvido nos últimos dias. Aquilo enviou pequenas ondas de desejo por meu corpo.

– Diga qual é o seu plano, sr. Bennitiz.

Assentindo, eu disse:

– Preciso me certificar que ele sabe os parâmetros e os prazos do projeto. Ficarei atento com promessas exageradas, sei que o Gugliotti é famoso por fazer isso – quando Bennett assentiu, sorrindo um pouco, eu continuei.

– Vou confirmar as datas do início do contrato e das apresentações.

Quando terminei de contar nos meus dedos esses cinco itens, seu sorriso aumentou.

– Você vai se sair bem.

Eu me inclinei e beijei sua testa suada.

– Eu sei.

Duas horas depois, se você me perguntasse se eu podia voar, eu diria em um instante que sim. Tudo foi perfeito na reunião. O sr. Gugliotti, que inicialmente não gostou muito de encontrar um estagiário no lugar de um executivo da Ryan Media, amoleceu depois de ouvir as circunstâncias. E mais tarde pareceu impressionado com o nível de detalhes que eu providenciei.

Ele até me ofereceu um emprego.

– É claro, depois que você terminar com o sr. Ryan – ele disse com uma piscadela, e eu educadamente sorri de volta.

Eu não sabia se queria realmente terminar com o sr. Ryan.

No caminho de volta da reunião, liguei para a Susan e perguntei o que o Bennett gostava de fazer quando estava doente. Como suspeitei, a última vez que ela cuidou dele foi com canja de galinha e sorvete tinha sido ainda no colégio. Ela ficou encantada de receber minha ligação, e tive de engolir o sentimento de culpa quando ela perguntou se ele estava se comportando. Assegurei que tudo estava indo bem e que ele tinha apenas uma indigestão e, claro, que eu diria para ele telefonar. Com uma sacola de supermercado nas mãos, entrei no quarto e parei na área da cozinha para guardar a comida e tirar meu casaco de linho. Vestindo apenas minha roupa de baixo, entrei no quarto, mas Bennett não estava lá. A porta do banheiro estava aberta, mas ele também não estava lá. Parecia que a camareira tinha arrumado o quarto, os lençóis estavam limpos e dobrados, e nossas roupas já não estavam mais espalhadas pelo chão. A porta da varanda estava aberta, deixando uma brisa entrar. Lá fora, encontrei ele sentado em uma cadeira, com os cotovelos apoiados nos joelhos e a cabeça nas mãos. Parecia ter tomado banho e estava vestindo um jeans escuro e uma camiseta verde de mangas curtas.

Minha pele se arrepiou com sua imagem.

– Oi – eu disse.

Ele olhou para cima e seus olhos percorreram cada curva minha.

– Caramba. Espero que você não tenha usado isso na reunião.

– Bom, eu usei – eu disse, rindo. – Mas usei debaixo de um lindo terno preto.

– Bom – ele me puxou para perto, envolvendo completamente os braços em minha cintura e pressionando sua testa em minha barriga. – Eu senti sua falta.

Senti uma pequena pontada em meu peito. O que estávamos fazendo? Aquilo era real ou estávamos brincando de casinha por alguns dias para depois voltar ao normal? Não sabia se conseguiria voltar ao normal depois daquilo, e não sabia como seria o futuro.

Pergunte para ele, Daniel seja homem!

Seu olhar queimou meu rosto enquanto ele esperava que eu dissesse alguma coisa.

– Você está se sentindo melhor?

Covarde.

Seu rosto mostrou um pouco de decepção, mas ele logo escondeu isso.

– Sim. Como foi a reunião?

Embora eu ainda estivesse animado por causa da reunião e morrendo de vontade de contar cada detalhe, ele retirou seus braços da minha cintura e se arrumou na cadeira ao perguntar isso, e eu tive uma sensação irracional de frio e de vazio. Eu queria voltar dois minutos no tempo, quando ele disse que sentiu minha falta, e então eu poderia responder “Também senti sua falta”. Eu o beijaria e acabaríamos nos distraindo, e eu contaria sobre Gugliotti apenas horas mais tarde.

Mas em vez disso contei todos os detalhes da reunião – como o Gugliotti reagiu ao me ver, e como eu redirecionei seu foco para o projeto. Contei cada aspecto da discussão com tantos detalhes que, no fim da minha história, Bennett estava rindo baixinho.

– Meu Deus, você fala demais.

– Acho que deu tudo certo – eu disse, dando um passo adiante. Envolva seus braços em mim de novo. Mas ele não fez isso. Recostou-se na cadeira e mostrou um sorriso endurecido, do tipo que fazia quando encarnava o Cretino Irresistível.

– Você foi ótimo, Daniel. Não estou nem um pouco surpreso.

Eu não estava acostumado com esse tipo de elogio vindo dele. Melhoria na caligrafia, uma boa chupada – essas eram as coisas que ele sabia notar. E fiquei surpreso ao perceber o quanto sua opinião importava para mim. Será que sempre foi assim? Será que ele começaria a me tratar diferente se nos tornássemos amantes ao invés de apenas termos umas transas casuais? Eu não sabia se realmente queria que ele fosse um chefe mais educado, ou que tentasse misturar o papel de mentor e amante. A verdade é que eu gostava muito do Cretino Irresistível no trabalho, e também na cama.

Mas, assim que pensei nisso, percebi que agora a maneira como interagíamos antes parecia distante, como um par de sapatos que já não cabia mais nos pés. Eu estava dividido entre querer que ele dissesse algo cretino, me atirando de volta para a realidade, e querer que ele me puxasse para perto e beijasse.

De novo, Daniel. Essa é a razão número 750 mil para não transar com seu chefe. Você acaba transformando um relacionamento bem definido numa confusão onde os limites não estão claros.

– Você parece tão cansado – sussurrei quando comecei a passar meus dedos nos cabelos atrás do seu pescoço.

– Eu estou – ele murmurou. – Ainda bem que não fui. Eu vomitei. Bastante.

– Obrigada por me contar – eu ri. Relutantemente, me afastei e pousei as mãos em seu rosto. – Eu trouxe sorvete, refrigerante e bolacha de água e sal. Qual você quer primeiro?

Ele encarou meu rosto, completamente confuso por um momento.

– Você ligou para a minha mãe?

Desci até a convenção por algumas horas durante a tarde para que ele pudesse dormir um pouco. Ele tentava mostrar um exterior forte, mas eu podia ver de longe que só um pouco de sorvete já fazia seu estômago embrulhar. Além disso, naquela convenção em particular ele mal podia dar dois passos sem ser parado e paparicado. Mesmo sem estar doente ele não conseguiria se concentrar em qualquer coisa que valesse a pena. Quando voltei para o quarto, ele estava esparramado no sofá em uma pose que não tinha nada de irresistível: sem camisa e com a mão dentro da cueca. Havia algo tão comum na maneira como ele estava sentado, entediado, olhando para a televisão. Fiquei grato pela lembrança de que aquele homem era, às vezes, apenas um homem. Apenas outra pessoa, andando pelo mundo, cuidando de suas coisas, sem passar cada segundo ateando fogo na vida dos outros.

E, no meio dessa epifania de que Bennett era apenas Bennett, fiquei com uma sensação louca de que havia a chance de ele estar se tornando o meu Apenas Bennett. E, por um instante, desejei isso mais do que qualquer outra coisa no mundo.

Uma mulher com cabelos impossivelmente brilhantes virou a cabeça e sorriu para nós na televisão. Eu desabei no sofá ao lado dele.

– O que você está assistindo?

– Comercial de xampu – ele respondeu, tirando a mão de dentro da cueca para me tocar. Comecei a fazer uma piada sobre a mão na cueca, mas parei no momento em que ele começou a massagear meus dedos. – Mas O balconista acabou de começar.

– Esse é um dos meus filmes favoritos.

– Eu sei. Você estava falando sobre esse filme na primeira vez em que te vi.

– Na verdade, eu estava falando sobre a sequência – esclareci, e depois parei. – Espera, você lembra disso?

– É claro que eu lembro. Você soava como um adolescente falando, mas parecia um modelo. como não lembraria disso?

– Eu daria tudo para saber o que você estava pensando naquela hora.

– Eu estava pensando “Estagiário altamente comível à frente. Recuar, soldado. Recuar”. Eu ri e me encostei em seu ombro.

– Deus, aquele primeiro encontro foi terrível.

Ele não disse nada, mas continuou passando o polegar em meus dedos, pressionando e acariciando. Nunca tinha recebido uma massagem na mão antes, e se ele tentasse começar sexo oral, eu talvez recusasse só para ele continuar com aquilo.

Uau, que grande mentira. Eu aceitaria aquela boca no meu a pau qualquer hora do dia...

– Como você quer que as coisas fiquem, Dan? – ele perguntou, tirando minha mente daquele debate interno.

– O quê?

– Quando voltarmos para Chicago.

Encarei seu rosto, sentindo o sangue bombear com força pelas minhas veias.

– As coisas entre nós – ele acrescentou, com uma paciência forçada. – Você e eu. Daniel e Bennett. Gato e rato. Eu sei que isso não deve ser fácil para você.

– Bom, eu tenho certeza que não quero brigar o tempo todo – bati em seu ombro de brincadeira. – Apesar de até gostar um pouco dessa parte.

Bennett riu, mas não pareceu um som completamente feliz.

– Existe muito espaço depois de “não brigar o tempo todo”. Como você quer ficar?

Juntos. Quero ser seu namorado. Alguém que vê o interior da sua casa e fica por lá de vez em quando . Comecei a responder, mas as palavras evaporaram em minha garganta.

– Acho que depende de saber se seria realista pensar que isso pode dar em alguma coisa. Ele deixou minha mão cair e esfregou o rosto. O filme voltou do comercial e nós caímos naquele que deve ter sido o silêncio mais constrangedor da história do mundo.

Finalmente, ele pegou minha mão de volta e beijou a palma.

– Certo, garoto. Eu consigo não brigar o tempo todo.

Fiquei olhando para seus dedos entrelaçados com os meus. Após o que pareceu uma eternidade, consegui dizer:

– Desculpe. Tudo isso ainda parece um pouco novo demais.

– Para mim também.

Caímos no silêncio novamente e continuamos a assistir ao filme, rindo nas mesmas cenas e lentamente mudando de posição até eu praticamente estar deitado em cima dele. Com o canto do olho, espiei o relógio na parede e mentalmente calculei as horas que nos restavam para continuar juntos em San Diego. Quatorze.

Restavam quatorze horas naquela perfeita realidade em que eu podia ter o Bennett a qualquer hora que quisesse, e não precisava ser em segredo, nem por causa de um desejo incontrolável, nem usando a raiva como nossa única maneira de fazer as preliminares.

– Qual é o seu filme favorito? – ele perguntou, virando meu corpo e pairando sobre mim. Sua pele estava muito quente e eu queria tirar minha camisa, mas não queria que ele se movesse nem um centímetro, nem por um segundo.

– Eu gosto de comédias – comecei. – Gosto de O Balconista, mas também gosto do Mong & Loide, Todo mundo quase morto, Chumbo grosso, Os sete suspeitos, coisas desse tipo. Mas tenho que dizer que meu filme favorito de todos os tempos provavelmente é Janela indiscreta.

– Por causa do Jimmy Stewart ou da Grace Kelly? – ele perguntou, inclinando-se para beijar uma trilha de fogo em meu pescoço.

– Os dois, mas provavelmente mais por causa da Grace Kelly.

– Entendo. Você tem muito em comum com a Grace Kelly – sua mão subiu e ajeitou uma mecha de cabelo. – Ouvi falar que ela também tinha uma boca suja – ele acrescentou.

– Você adora minha boca suja.

– É verdade. Mas eu prefiro quando ela está cheia – ele disse, com o sorrisinho apropriado no rosto.

– Sabe, se você calasse a boca de vez em quando você seria quase perfeito.

– Mas então eu seria um rasgador de cuecas silencioso, o que acho que é bem mais esquisito do que um chefão rasgador de cuecas.

Eu me dissolvi em risadas enquanto ele fazia cócegas nas minhas costelas.

– Eu sei que você adora isso – ele grunhiu.

– Bennett – eu disse, tentando soar desinteressado –, o que você faz com elas?

Ele me lançou um olhar sombrio e provocante.

– Guardo num lugar seguro.

– Posso ver?

– Não.

– Por quê? – perguntei, apertando os olhos na sua direção.

– Porque você vai tentar pegá-las de volta.

– Por que eu iria querer de volta? Você rasgou todas!

Ele sorriu maliciosamente, mas não respondeu.

– Por que você faz isso, afinal de contas?

Ele me estudou por um momento, obviamente considerando uma resposta. Finalmente, se apoiou no cotovelo e colocou o rosto perto do meu.

– Pela mesma razão pela qual você gosta quando eu faço isso.

Então ele se levantou e me puxou para o quarto.

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Comentários

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DANIEL GRANDE BABACA DA VEZ. TÁ FAZENDO O SEU AMOR SOFRER. VOU REPETIR A PERGUNTA: QUANDO ESSES DOIS VÃO DIZER "EU TE AMO"?

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O Daniel tá deixando de ser feliz por mero egoísmo!

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