Era Só Uma Noite. #13

Um conto erótico de Caio Alvarez
Categoria: Homossexual
Contém 3433 palavras
Data: 20/10/2016 04:47:24

Eu mirei aborda da piscina na outra extremidade e foquei nela alguns poucos segundos enquanto inspirava a maior quantidade possível de oxigênio antes de mergulhar. Afundei e tomei impulso pressionando meus pés contra a parede atrás de mim. A travessia pareceu durar minutos.

Após o acontecido com Alexandre e sua consequente partida, os dias eram mornos e nada convidativos. Ele não respondia minhas mensagens e muito menos estava acessível às minhas ligações. Eu estava sob o efeito da abstinência da relação tínhamos criado nos últimos dias. Vincenzo não me procurava e isso desencadeava uma série de pensamentos inseguros em mim. No fim eu ria da minha própria infantilidade. É claro que eu estava sozinho nessa partida. Um homem tão poderoso – ou pelo menos aparentava ser – jamais me procuraria para algo além do que já fazíamos. Eu também já tinha decidido que não mais responderia aos seus chamados. O único fato realmente motivador dos últimos dias tinha sido a resposta positiva da tal revista. Eu estava com uma entrevista marcada e um possível novo passo para dar. Eu só precisa me manter focado, assim como estava focando a borda coberta por azulejos azuis que naquela altura da travessia estava pouquíssimos centímetros à minha frente.

Voltei para a superfície e atravessei o espelho em que a água se transformava com meus movimentos calmos. Eliminei o resquício de água que me impedia de enxergar com clareza e assustei com o par de sapatos parados à minha frente. Instintivamente me afastei da borda e ergui meu olhar. Do meu plano inferior eu tinha uma visão completa do queixo bem formado e perfeitamente desenhado do homem acima de mim. Ele sorriu como se fosse não tivesse noção do quão assustado eu poderia estar. Nadei novamente para a borda e cruzei meus braços sobre ela ao mesmo tempo que repousava meu queixo sobre meus braços. Se meu cabelo não estivesse preso em um coque, certamente haveriam fios colados em meu rosto. Falei pausadamente ainda tomando fôlego:

– Você acabou de redefinir o conceito de surpresa.

– É tão improvável assim achar o seu endereço? – Vincenzo me respondeu em tom de brincadeira, colocando as mãos no bolso da calça cinza. – Eu posso chegar em qualquer lugar, só preciso de uma ou duas ligações.

– Ah, claro. “Bond. James Bond!” – eu imitei o personagem da forma mais caricata possível.

Ele riu inflando um pouco o peito para isso. Ele era ainda mais bonito do ângulo que eu o admirava.

– Digamos que eu precisei encanar o personagem mesmo.

– E como chegou à conclusão que eu poderia estar aqui nadando no meio da noite?

– O porteiro. – Ele disse com segurança. – Diga que é um parente distante querendo fazer uma surpresa e mostre o melhor sorrido. Adicione à cena um blazer e um carro chique e você não será visto como um suspeito. Ele avisou que você estava aqui, que aliás, parece ser o melhor lugar desse prédio. – Ele terminou com uma careta engraçada, admitindo que tinha falado algo desnecessário.

– É realmente a melhor parte disso aqui. Isso se não tiver um corpo ali no fundo.

Ele gargalhou e sua risada ecoou pelo espaço vazio demais antes de contrariar qualquer expectativa minha e sentar no chão, alguns centímetros afastado da borda. Finalmente eu estava vendo seu rosto por completo. Minha costela já estava sentindo os tradicionais arrepios.

– Fazia muito tédio no seu palácio?

– Um pouco – ele disse cruzando as pernas. – Espaço demais para um pessoa só.

– E então resolveu se aventurar pelo fim do mundo – eu completei.

– Não fale isso, é um lugar como todos os outros. Tirando é claro a possibilidade de encontrar um corpo na piscina.

Dessa vez eu fui obrigado a rir com ele.

– Não vai entrar?

Ele olhou além de mim por alguns segundos. A piscina não estava gelada, e se estivesse não seria um problema numa noite tão quente e abafada como aquela.

– Não, não. Mas obrigado pelo convite. Até porque... – ele disse mostrando a camisa social e o blazer sobre o banco atrás dele. – Inadequado.

– Nada é inadequado – eu disse me afastando da borda nadando muito lentamente para o meio da piscina. – E eu nunca vi ninguém tomar banho vestido.

Ainda sentado ele tirou os sapatos e as meias e os deixou no canto. De pé eu o vi arrancar a camisa de dentro da calça enquanto me olhava prevendo coisas demais. Os botões saíram sem pressa pelas aberturas do tecido que os seguravam e com a camisa aberta, seu peitoral estava livre para o meu olhar curioso. Curioso e imaginativo. Admirei cada centímetro da pele exposta. O botão da calça estava livre e ele desceu o zíper com a mesma calma que usou para se livrar das outras peças. Ao deixá-la cair aos seus pés, ficou apenas de cueca. De corte perfeito, ela fazia o contorno da virilha e da nádega. Parecia até uma sunga, se não fosse o tecido leve demais. Pela primeira vez um homem estava absurdamente sensual num modelo daqueles. Ele riu quando viu a direção do meu olhar e cortou o meu barato, pulando de cabeça dentro da piscina. Ele pareceu ir até o fundo e depois voltou à superfície como um experiente nadador. Para minha surpresa ele mudou a direção de seu nado e emergiu atrás de mim, já emoldurando meus ombros com suas mãos precisas e buscando arrepios em minha nuca ao respirar pesadamente muito próximo de minha pele.

– Esse dourado dos seus ombros...

– O que foi – eu perguntei virando meu rosto um pouco para trás.

– Não faz isso – ele disse apertando seus dedos em minha pele.

– Você está me deixando confuso.

É claro que eu sabia do que ele estava falando. Eu o provocava quando olhava por sobre o ombro para ele.

– Eu senti saudade da sua pele e então você me olha assim. Eu não aguento.

– Não é intencional, eu juro. E você entrou porque quis, hein – eu o lembrei.

– Exatamente – ele disse beijando muito suavemente meu ombro enquanto nos esforçávamos para continuar boiando. – Entrei exatamente porque quis.

Nos demos um minuto de silêncio. Apenas a água fazia algum barulho ao ser movimentada.

– Se sentiu saudades, por que não me ligou?

– Tempo.

– Eu teria ido para te ver trabalhar, se quisesse.

Eu estava entregando o jogo cedo demais. Deveria existir uma cartilha que ensinasse o momento certo para entregar informações comprometedoras. Ele sacou minha intenção e sorriu em minha pele, fazendo um caminho de beijos que seguia até minha orelha. Precisamente a parte de trás dela.

– Posso dizer que gostei disso?

– Talvez devesse – eu falei com pressa. – Você não precisa de permissões.

– Eu gostei de saber disso – ele disse sussurrando em minha orelha.

Num riso brincalhão e até satisfeito eu me desvencilhei das mãos de Vincenzo e nadei para longe dele. Somente parei quando percebi estar na parte mais rasa da piscina e sentei em um dos degraus que servia de apoio ao banhista. Sentado, a água ainda alcançava a altura do meu umbigo. O vi nadar muito lentamente em minha direção. Cada braçada parecia um movimento muito bem ensaiado. Era perfeito e fazia seu corpo se deslocar, atravessando a água, com a leveza necessária. Dando uma dica de como eu o queria, abri minhas pernas para que ele me fizesse de porto. E assim ele fez: ancorou sua cintura entre minhas coxas e eu o apertei, como se ele precisasse de algum apoio para continuar ali. Minha reação intenção era impedir qualquer tentativa de fuga. Tomando os outros degraus como apoio, ele ergueu seu tronco até que seu rosto ficasse na altura do meu. Seus lábios estavam próximos demais de mim e isso me deixava sentir sua respiração numa aproximação perigosa demais. Ele sorriu e então fez outra linha de beijos que seguia do meu queixo ao meu pescoço. Sua boca estava quente e seu hálito, pelo que pouco que senti, estava fresco e delicioso.

– Eu me sinto um predador perto de você.

– Não estou reclamando.

– Não estou acostumado com essas proximidades todas.

– Como assim?

Ele parou os beijos e se afastou para me olhar. A distância novamente criada entre nossos corpos me fazia querer agarrá-lo.

– Nunca tive tempo para namoros. Cresci quase intocável. Meus pais me criaram para aquilo lá que você viu. Eu sou o projeto deles.

– E quando você vai ser o seu próprio projeto?

Com minha pergunta eu criei uma pausa entre nossa conversa. Ele pensava e por vezes seu olhar parecia me atravessar.

– É o tipo de pergunta que eu não consigo responder – disse por fim.

– Há outra coisa mais fácil, então.

– Mande – ele disse se ajeitando entre minhas coxas.

– Qual a sua idade? Eu sei, eu sei... pergunta superficial demais para o momento, mas eu queria matar a curiosidade.

– 30 anos é uma boa idade para você?

Ele colou suas mãos em minhas cintura e apertava minha pele suavemente com um dedão de cada lado.

– Está perfeita – eu disse levando minha mão direita ao pescoço dele. Ao sentir meu toque ele inclinou levemente a cabeça enquanto tencionava o ombro, fazendo minha mão escorregar e ser pressionada contra seu rosto. Sua barba rala brincou em meus dedos e eu brinquei de acariciar a pele macia. – Posso pedir só mais uma coisinha?

Ele riu confortavelmente e brincou comigo, num riso muito suave e baixo.

– Está abusando de mim.

– Claramente – eu concordei sorrindo. – Me beija? – eu pedi mantendo meu olhar nos lábios dele.

Ele sorriu em silêncio novamente erguendo seu tronco. Manteve seu corpo muito próximo de mim apoiando suas mãos no degrau que eu estava sentado. Seus músculos não evoluídos do braços ficaram visíveis ao serem tencionados. Eu não escondi meus desejos e toquei seus braços, sentindo sua pele. Nossos lábios se encontraram enquanto ele ainda sorria e então encaixamos nossas bocas em um beijo tão calmo quanto a superfície espelhada da piscina. Ele me deixou chupar os lábios e depois me presenteou com sua língua grossa e absurdamente gostosa. Ele a movimentava e era divertido caçá-la. Quando a capturava, ele suspirava para mim, mostrando o quanto gostava da minha travessura. Era uma travessura leve e um beijo molhado e quente. Eu subi minhas mãos e aproveitei para sentir novamente seu rosto. Como se tocasse uma peça rara e valiosíssima, eu emoldurava seu queixo com meus dedos, sentindo o movimento dele enquanto nos beijávamos. Uma dessas mãos escorregou naturalmente. Meu dedão parou em sua orelha e os outros brincaram entre os cabelos curtos e molhados da nuca. Aquela região parecia ter o tamanho perfeito para meu toque. Era absurda a forma como meu corpo se encaixava ao dele.

Uma tosse repreensiva cortou o silêncio e chegou até nós com a mesma força que saíra do emissor.

Em pleno susto eu mirei o rosto paralisado de Vincenzo e então sorri, inclinando um pouco a cabeça para o lado com a intenção de ver quem chamava nossa atenção. Seu Alceu, o porteiro, estava em pé do outro lado da piscina e nos olhava com cara de poucos, ou quase nenhum amigo. A mensagem era clara: ele queria nos ver fora da piscina em dois passos.

Aos risos eu levantei e Vincenzo veio atrás de mim. Naturalmente mais alto, o porteiro tinha que erguer levemente a cabeça para olhar diretamente nos olhos do mentiroso que se aproximava. Eu estava segurando o riso com toda força que tinha e quase explodi em uma série descontrolada de gargalhadas quando vi Vincenzo tapando a região de sua virilha com as duas mãos. Eles não estava excitado, ou melhor dizendo, não parecia estar duro ali embaixo, mas o tecido fino demais deixava quase tudo visível. Eu joguei as roupas dele em sua direção e ele as usou para tampar melhor a cueca transparente. Eu peguei seus sapatos e vi Seu Alceu caminhar para longe de nós. Aproveitei minha toalha para secar o rosto de Vincenzo, que sofria com os pingos que rolavam do seu cabelo para os olhos. Lhe dei um selinho rápido antes de provocá-lo:

– Aventura demais para um senhorzinho de 30 anos?

Aparentemente havia uma gargalhada presa na garganta dele, pois quase cuspiu ao segurar o riso.

– Vamos sair daqui – eu completei indo na frente, mostrando o caminho para dentro do prédio.

.

A luz amarela do corredor estreito demais pintava de dourado o corpo de Vincenzo quando ele me encostou na parede, me impedindo de tocar a maceta do meu apartamento. Eu ainda segurava os sapatos dele em uma mão e a toalha na outra. Ele pressionou seu corpo contra o meu e me prendeu na parede fria.

– Vai com calma – eu disse passando meu braço em torno de sua cintura dura.

Seus lábios, naquele momento cruéis, beijavam cada mínimo espaço do meu pescoço enquanto ele me pressionava cada vez contra a parede. Ele aplicava uma certa força e me mantinha imóvel embaixo de seu corpo. Eu estava gostando daquilo. Propositalmente forcei meu quadril contra o dele e nossos volumes, já acordados, se roçaram. Ele tomou uma respiração profunda e lambeu, insinuativamente, minha orelha.

– Eu deveria fazer o que eu quero aqui mesmo no corredor, por pura provocação.

– E olha que de provocar você entende – eu disse forçando meu antebraço no tecido molhado de sua cueca. Eu conseguia sentir a divisão das nádegas.

– Você gosta disso, não é?

– Eu adoro – confirmei em um quase sussurro. Aposto que minha voz estava falhada.

– Você vai me convidar para entrar?

– Se eu sobreviver ao ataque, sim.

Ele sorriu e se afastou alguns centímetros. Com o espaço, olhei para baixo e me excitei ainda mais com a saliência que seu membro criava na cueca molhada. Eu conseguia ver a forma perfeita de seu membro, desde a base até a ponta. Era perfeito e muito, muito convidativo.

– Isso é para mim?

Mais uma vez eu estava sussurrando.

- Todo para você – ele respondeu com precisão.

Eu coloquei a toalha pendurava em meu ombro e com a mão livre, escorreguei meus dedos delicadamente pela extensão do membro perfeitamente forçado para o lado esquerdo. Ele parecia estar violentamente pressionando contra a pele. Provocativamente, Vincenzo o fazia pulsar em meus dedos.

– Consegue imaginar o quanto você é gostoso?

– Você me faz perceber isso.

– Faço? - Havia uma inocência irreal em meu olhar.

– Ah, sim. Faz. E faz perceber muitas outras coisas.

– Tipo o quê?

Eu estava segurando seu pau com força. A região onde ele estava guardado queimava.

– Cedo demais para revelações. – Ele me entregou um daqueles sorrisos sonoros, brincalhão demais. – Me leve para dentro.

– Não é como seu apartamento – eu disse girando a maçaneta. – Não repare demais.

– Como se eu tivesse tempo de olhar outra coisa.

Ao olhar para trás ele encarava minha bunda coberta pela sunga azul com a sede de dois mil homens do deserto.

.

Não deu tempo de me acostumar com sua pulsação dentro de mim. Eu que estava sensualmente de quatro sobre a cama, senti meu corpo sendo girado e agilmente Vincenzo me escalava, numa misto de pressa e experiência. Cada joelho dele ficou de um lado do meu corpo, a pele morna de sua bunda tocava meu peitoral e seu membro, completamente inchado e vermelho, era masturbado por ele na altura do meu rosto. Eu ainda gemia sentindo o efeito daquele homem dentro de mim. Toda sua energia ainda circulava em meu corpo e minha entrada continuava aberta, sentindo a falta que ele fazia. Minha respiração estava ofegante e falhava, os gemidos dele cresciam e quase se tornavam bramidos sendo lançados sobre mim. Eu cravei minhas unhas pequenas nas laterais de suas coxas e usei toda minha força para marcar sua pele. Ele se violentava na masturbação. Suas mãos apertavam a base grossa e pulsante do próprio membro quando ele explodiu em meu rosto. Uma camada grossa de esperma caiu precisamente em meus lábios entreabertos, no meio de um gemido. Ele se contorcia enquanto outro jato foi liberado e caiu em meu rosto. Grossa e deliciosamente quente, sua porra quase escorria por meu queixo. Os gemidos que Vincenzo liberava cessaram e ele caiu para o lado, numa falta de ar ainda mais excitante. Sentindo meu corpo tremer, subi em seu corpo e me encaixei entre suas pernas. Ainda estávamos duros e isso fez meu membro quase se alojar entre as nádegas dele. Não houve reclamação. Me ajeitei melhor em seu corpo suado e quente, passei meus dedos coletando parte do líquido que escorria em minha bochecha com os dedos e levei até a boca do meu homem, que sorria totalmente satisfeito sob o meu corpo.

– Prove!

Ele abriu os lábios sensualmente e deixou que eu penetrasse meus dois dedos na abertura que ele me servia. Ele os chupou com uma lentidão que me deixou louco enquanto lutava para recuperar o ar que tinha perdido. Mesmo sem resquícios do seu próprio líquido, ele continuou me chupando, arrastando sua língua grossa em meus dedos. Não demorou e ele puxou meu rosto, passando a língua agora em meu queixo. No lugar do esperma dele, agora meu rosto exalava o cheiro do tesão e de sua saliva. Ele me beijou e então eu senti o gosto forte do seu sêmen pela segunda vez. Paramos o beijo longo demais com selinhos curtos e rápidos.

– Nada mal para um orgasmo – eu sorri colocando uma mecha travessa do meu cabelo atrás da orelha.

– Eu que deveria dizer isso para você. – Ele me deu uma pausa. – Como me aguenta?

– Não aguento. Vou andar amanhã? Não sei. Mas tenho que fazer bonito hoje.

Ele riu e girou nossos corpos sobre os lençóis bagunçados demais. Nossas pernas roçavam, eu sentia os pelos grossos de sua canela se arrastarem nos meus. Nossas coxas quentes e suadas também eram pressionadas enquanto nos encaixávamos. Sua cintura pesada sobre minha fazia nossos corpos se manterem colados. O suor fazia sua parte.

– Você vai ficar aqui, não é?

Eu provocava suaves arrepios nas costas de Vincenzo quando a acariciava com as pontinhas dos dedos, compondo uma tela com formas abstratas.

– Não há outro lugar para mim que não seja aqui, em você.

A frase queria dizer muito. Eu sabia disso pois logo em seguida ele me beijou com a calma e delicadeza que o momento pedia. Ele me deu o famoso beijo doce quem vem depois do ato.

.

Como se sempre fizesse isso, ele deixou a cueca secando no vidro do banheiro após o banho. Nem eu mesmo fazia aquilo. Mas naquele caso era uma necessidade, afinal. Ele caminhou para o quarto completamente pelado e eu o segui. Vincenzo deitou na cama com a cabeça levemente erguida encostada na cabeceira enquanto eu vestia uma cueca limpa.

– Não. Fique como eu estou – ele falou calmamente.

O obedeci e abandonei a peça na gaveta. Escalei a cama e deitei ao seu lado, como na última vez que deitamos juntos. Ele me ofereceu seu braço e eu o usei como travesseiro. O mais gostoso e cheiroso dos travesseiros. Meu cabelo estava mais para seco que molhado, e isso facilitava os dedos de Vincenzo que entravam carinhosamente entre as mechas.

Nossas pernas estavam entrelaçadas. Havia uma intimidade em nossos toques que me encantava. Talvez eu não estivesse tão só nessa jogada.

Sorri comigo mesmo quando pensei nas muitas possibilidades que a vida me entregava.

– O que foi? – ele perguntou mirando o teto desbotado.

– As surpresas.

– O que é surpresa para você?

– Você aqui no meu apartamento que mais parece um buraco cheio de coisas desnecessárias – eu lhe entreguei outra verdade. Eu não estava mentindo, afinal.

– Você exagera. É confortável. Abraça a gente. Não é como aquele apartamento frio.

– Preciso concordar com você. Eu não saberia viver com tanto espaço à disposição.

– Viu só? Gosto até desse pôster pendurado na parede. A decoradora daquele lugar vomitaria nele. – Vincenzo gargalhou ao falar. Ele se referia ao pôster de Bastardos Inglórios do Tarantino colado ao lado do guarda-roupas.

– Isso é peça de decoração. Relíquia – eu completei aos risos.

– Aposto que é – ele concordou.

Novamente me guiando, ele girou nosso corpos e ambos de lado, ele encostou todo seu corpo em minhas costas. Ele laçou minha cintura com seu braço longo e másculo e roçou seu queixo em meu pescoço enquanto falava:

– Podemos dormir?

– Devemos dormir – eu confirmei.

Sua fala ainda era um sussurro confortável:

– Obrigado.

– Pelo quê? – eu soltei ao escuro do quarto.

– Por tudo isso.

Eu poderia pedir por detalhes. Eu poderia implicar até que ele falasse o que significava aquele “tudo isso”, mas a verdade é que eu sabia o que ele queria dizer. Era sobre o tudo. O tudo indescritível. O tudo era um sentimento equivalente ao que eu sentia. Ele agradecia o despertar de novas engrenagens dentro dele. “Por tudo isso” eu repeti em pensamento antes de mergulhar em um sono profundo e necessário.

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Comentários

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Beijos. Sem palavras de tão admirado. Você é perfeito...

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Paaaaaaarem. Mentira, não parem! Vocês me deixam todo entusiasmado. Reproduzindo um aspecto da cultura contemporânea: "segurem o forninho!" Aliás, tudo bem responder por aqui mesmo, não é? Beijos!

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UAU. num sei o que dizer nem o que sentir. Mas manda mais que a gente gosta

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