Éden - Capítulo I

Um conto erótico de Gu Alvarenga
Categoria: Homossexual
Contém 6586 palavras
Data: 05/07/2016 23:45:24
Assuntos: Gay, Homossexual

Gente seguindo para a direita, outros para a esquerda e todos em uma impaciência sem fim. Era estranho depois de tanto tempo sem utilizar o metrô de São Paulo passar por aquela correria. Mas era necessário, afinal, fizeram o favor de bater no meu carro quando estava saindo do trabalho e agora tenho que esperar ficar pronto. Era inevitável chegar atrasado em plena segunda-feira, mesmo tendo acordado diversos minutos antes (contra minha vontade) para isso não acontecer. O ônibus que precisava pegar para chegar até a estação de metrô mais próxima atrasou diversos minutos, minutos esses que seriam somados ao meu atraso.

Meu nome é Gustavo, tenho 23 anos, formado em COMEX e atuo na área desde o segundo ano da faculdade. Moro com meus pais, um irmão mais velho e minha avó que está com problemas de saúde. Sempre gostei de correr, nadar e agora descobrindo minha recente paixão: o crossfit. Graças a essas atividades o meu corpo estava definido, eu realmente estava contente com o meu físico. Tenho 1,76 de altura, cabelo preto e uso arrepiadinho com pomada modeladora, barba sempre aparada e marcando o contorno do meu maxilar e olhos escuros, bem escuros.

Normalmente, entro as 08:00 no trabalho. Mas aquele dia cheguei as 08:50 por conta do atraso. O ambiente de trabalho sempre foi muito agradável, exceto quando chega o fim do mês e começa a correria para os fechamentos e encerramento de diversas atividades, o que tirava todo mundo do sério. Assim que adentrei a sala do setor de importação, avistei a Lilian que fez o favor de olhar com aquela sobrancelha erguida.

- Isso é hora de chegar Gustavo Alvarenga? – perguntou fazendo um ar sério, mas não passava de uma brincadeira. Lilian sempre foi minha companheira dentro da empresa.

- Não tive culpa, eu juro – respondi com um sorriso no rosto – Acredita que bateram no meu carro quando estava voltando para casa na sexta-feira? Estou esperando ficar pronto, tive que vir de metrô.

- Sério? Como aconteceu? – perguntou curiosa.

Expliquei a ela o que ocorreu, que o dono do outro carro tinha se responsabilizado pelos danos, iria arcar com os prejuízos e que provavelmente meu carro seria entregue na terça-feira seguinte.

- Por que não pediu para o Natan te trazer? Ele não trabalha aqui perto? – Lilian perguntou com aquele ar desconfiado.

Natan é meu namorado ou atual ex-namorado, tem 27 anos e trabalha como analista financeiro em um banco bem conhecido. A agência que ele trabalha realmente é perto do meu trabalho, porém brigamos e terminamos por conta do ciúme dele que era incontrolável em muita das vezes. Discutimos na sexta-feira durante o meu horário de almoço e eu acabei terminando com ele, desde então não trocamos uma palavra sequer. Pensei que ele iria me ligar, como todas as outras vezes, mas ele fez questão de me falar que daria sua palavra de homem e nunca mais me incomodaria. Expliquei rapidamente a Lilian que fez questão de me dar o “maior apoio” possível no momento.

- Você sabe que nunca gostei muito daquele cara, certo? – Lilian não disfarçava sua alegria – Fico realmente contente que tenha terminado com ele, não acho que ele seja tão bonzinho e certinho assim como parece não.

- Sim, sei que você não gosta dele. Eu gosto do Natan, muito mesmo... Mas não quero viver assim, brigando e brigando. Eu quero namorar para ser feliz. – falei meio desanimado.

- Você ama o Natan? – Lilian não hesitou em perguntar.

- Não é amar, eu gosto muito dele, mas não sei se é amoooor de verdade mesmo. – respondi de forma sincera – Mas enfim, onde está a Jéssica?

- Verdade, se prepara que dela sim você vai levar uma bronca e logo em seguida receberá um pedido de desculpa quando explicar sobre o atraso. Ela estava te esperando para resolver sobre umas invoices, mas agora ela está na sala de reunião com um rapaz que veio fazer entrevista para a vaga do Cristiano. – Lilian me repassou as informações rapidamente – E você não vai acreditar, o cara que está aí dentro é um Deus grego. Já estou na fila em? E pra completar vai ficar na mesma sala que você.

- Relaxa, eu estou de boa mesmo. Olha bagunça que está minha vida afetiva, e também tenho até medo desses teus Deuses gregos, quando vejo pessoalmente... Me assusto – falei brincando.

- Não estou brincando Gustavo, tomara que ela contrate esse rapaz. Ele realmente é um bom colírio para os olhos, alegraria minhas manhãs – Lilian falou sorridente.

- Ah tá – falei de forma debochada – E eu estou servindo de que então?

- Igual anúncio de comida, vem a fome e não dá para tirar uma casquinha se quer. Lembra como foi difícil acostumar com a ideia de que você não gosta de mulheres? Um baita homem desse, jeito másculo e não gosta de pepeca... Achei um total desperdício no inicio. – Lilian falou e não conseguiu segurar o riso.

- Para de ser louca – falei e também ri – Bem, vou olhar o que tem para fazer.

- Isso, vamos trabalhar que o melhor que temos a fazer – Lilian falou.

Realmente foi engraçado quando contei a ela sobre a minha orientação sexual. Sempre fui muito discreto, mesmo sendo assumido e não tendo preconceito nenhum com os afeminados. Ela vivia fazendo gentilezas, tirando xerox sem eu pedir e me ajudando em tudo quando entrei na empresa. Achava gentil de sua parte, depois começou a trazer bolos, pães caseiros e a cortesia foi aumentando. Percebi que ela estava gostando de mim e foi um tanto complicado quando contei a ele que não curtia mulheres. Mas no fim, nos tornamos grandes amigos.

Diversas coisas para fazer e me envolvi nas tarefas, o tempo passou que nem percebi. Assustei quando o telefone tocou, era a Lilian ligando.

- Olha quem está vindo – ela falou e logo desligou.

De longe avistei a Jéssica e um rapaz que acompanhava os movimentos que ela fazia com as mãos. Provavelmente ele foi aceito na vaga e ela estava apresentando a empresa. Ele realmente era um cara muito bonito, muito bonito mesmo. De longe fiquei observando enquanto Jéssica apresentava a Lilian ao rapaz e mal me dei conta quando adentraram a pequena salinha em que eu ficava, aproximando longo em seguida da minha mesa.

- Pensei que não viria hoje Gustavo – Jéssica falou com uma expressão séria, mas não brava. Esse era um dos pontos que eu nunca gostei em Jéssica, ela nunca hesitava em chamar sua atenção na frente dos outros. Mesmo que você prove a ela que o erro não foi seu e que algum fato não foi culpa sua, ela permanecia firme e no máximo pediria desculpas de forma bem esfarrapada – Mas conversaremos sobre isso em outra hora. Estou aqui para te apresentar o Fernando Dantas, ele é o novo Analista de Importação e Exportação Senior (mesma função que a minha) aqui da empresa e trabalhará na mesa ao lado da sua. Espero que os dois tenham um bom relacionamento e você o auxilie em que for necessário para uma boa integração aqui dentro da empresa, os dois irão almoçar no mesmo horário. Eu e a Lilian iremos em outro horário alternado ao de vocês para o setor não ficar sem ninguém em caso de emergência.

Levantei para cumprimenta-lo. Fernando é um pouco mais alto que eu. Cabelo preto, uma barba densa e desenhada. E um olho castanho bem clarinho, cílios grandes, sobrancelha escura e alinhada, mas não era fininha, era normal. Estava vestindo uma calça social cinza que marcava suas coxas e suas panturrilhas grossas, camisa social azul de manga comprida que definia o desenho dos seus braços e o seu peitoral. Lilian realmente não mentiu, ele realmente é muito bonito e um sorriso estonteador.

- Tudo bem Fernando? Bem vindo à empresa – falei de forma educada.

- Tudo ótimo e contigo? Muitíssimo obrigado pelas boas vindas – respondeu de forma educada e um sorriso que mostrava seus dentes alinhados.

- Eu estou bem – falei – Bem, qualquer dúvida estou por aqui e o que precisar conta comigo.

- Obrigado – Fernando respondeu.

- Bem, irei deixar o Fernando contigo para vocês almoçarem e quando retornarem eu apresento o restante da empresa a ele – Jéssica falou e antes de sair me lembrou – Depois irei conversar contigo, tudo bem?

- Ok – respondi de forma seca.

Expliquei ao Fernando algumas coisas sobre o nosso sistema interno, algumas das nossas atividades mais comuns e também um pouco sobre os outros setores. A empresa que trabalho é realmente muito boa, os benefícios são ótimos, também temos programas de incentivos e diversas atividades extras são oferecidas aos funcionários. Uma das melhores coisas é o happy hour mensal que acontece sempre na primeira sexta-feira após o fechamento que acontece no dia 30 de cada mês, o próximo happy hour seria na próxima sexta-feira. Contei ao Fernando e o mesmo demonstrava grande empolgação em relação ao novo emprego, contou brevemente que estava desempregado há um tempo e que morava somente com sua mãe.

Embora a empresa seja grande, não temos restaurante próprio. Sempre temos que comer na praça de alimentação de um shopping que fica em frente a empresa ou em um dos diversos restaurantes que ficam nos arredores da empresa, realmente existe uma grande variedade e sempre encontramos boas opções. Perguntei ao Fernando se ele preferia algum lugar especifico e ele falou que não conhecia nada ali naquela região, perguntei o que ele tinha preferência em comer e ele falou qualquer coisa estava bom.

- Fernando, temos uma hora e meia de almoço – falei – Comida tradicional, massas, japonesa, chinesa, mexicana... O que você prefere?

- O que você sempre come? – perguntou.

- Eu gosto de diversos lugares aqui perto – falei alguma das opções que eu conhecia e frequentava.

- Bem, podemos ir ao seu preferido então – falou.

Então assim ficou decidido e fomos ao restaurante que eu mais gosto na região. É um restaurante bacana, um estilo rústico e a comida realmente tinha um gostinho caseiro que sempre achei uma delicia. Ficava perto da empresa, por isso não precisávamos ir de carro. Escolhemos uma mesa que ficava em uma área externa e o único som era de uma música que tocava bem baixinho. Pedimos algo para beber e levantamos para nos servir. Logo voltamos e sentamos para comer. Conversamos bastante, Fernando realmente era um cara legal, perguntei sobre o seu antigo emprego e falou que gostava muito da empresa, porém havia sido desligado por causa de um mal entendido e que até abriu um processo contra a empresa. Mas não chegou a comentar ao certo o que era e também não quis perguntar. Descobri que apesar de aparentar ser um cara mais velho, ele era apenas três anos mais velho que eu. Disse que os seus pais se separaram há pouco tempo e que ficou morando com a mãe desde então. Conversamos, comemos e descobrimos um pouquinho de cada um. Logo voltamos para a empresa e o Fernando fora sequestrado pela Jéssica e eu voltei aos meus afazeres, sendo interrompido minutos depois que retornei por Lilian que queria saber de tudo e mais um pouco.

- E aí Gu, como foi o almoço com o bonitão? – perguntou.

- Bacana, ele é um cara legal e super inteligente. – falei.

- Namora? Casado? Solteiro? Acha que tenho chances? Meu, ele é um super gato – falou toda empolgada.

- Não perguntei nada de sua vida pessoal não, falamos bastante sobre o antigo emprego dele e a única coisa que sei é que mora com a mãe, portanto não deve ser casado não.

- Entendi, é uma pena que meu horário de almoço não ficou o mesmo que o dele. Queria mesmo me aproximar desse moço bonito, preciso arrumar um namorado Gustavo. – falou toda chorosa.

- Tudo tem seu tempo Lilian – falei – E calma, ele acabou de chegar na empresa. Você terá tempo de fazer amizade com ele e quem sabe rola alguma coisa entre vocês.

- Não acha que ele é gay, acha? Vocês tem esse negócio de reconhecer um ao outro – falou meio desconcertada.

- Não sei, eu realmente não entendo muito disso – falei – Mas enfim, vamos retornar ao trabalho? A Jéssica ainda quer falar comigo sobre o meu atraso.

- Beleza, ela tá uma fera hoje – falou para me “animar”.

Fiquei trabalhando e já estava quase na hora de ir embora, eu tinha até desanimo em lembrar que pegaria metrô e depois um ônibus até chegar em casa. Graças a Deus seria só mais um dia e logo iria pegar o meu carro de volta, graaaaaças a Deus eu pensei tentando ser positivo. Faltando uns 20 minutos para ir embora recebi um telefonema da Jéssica, pedindo para eu comparecer na sala dela. Desliguei meu computador e já peguei minhas coisas para ir embora direto da sala dela. Quando cheguei, ela estava arrumando sua bolsa também.

- Gustavo, por favor, entra e encosta a porta – Jéssica falou sem ao menos virar para trás.

Entrei e encostei a porta.

- Bem, gostaria de saber o motivo de seu atraso de hoje – Jéssica falou – Eu avisei na sexta-feira que precisava resolver aquela questão das invoices devido a auditoria que teremos, conseguiu terminar?

Expliquei a ela o que aconteceu e que também consegui adiantar boa parte do problema com as invoices e po.

- Entendo – foi a única coisa que ela falou sobre o meu atraso – Espero que amanhã cedo você consiga concluir, tenho que entregar toda a documentação exigida amanhã a tarde.

- Pode deixar, entregarei sim – falei.

A atitude de Jéssica me deixava estressado, era sempre a mesma coisa. Eu sempre fui um bom funcionário para a empresa, sempre gostei de trabalhar ali, mas essas atitudes de “liderança” que muita das vezes ela assumia, era desmotivador.

- Eu também queria falar contigo a respeito de um treinamento e conferência que ocorrerá em Buenos Aires na próxima segunda-feira – Jéssica me encarou ao falar dessa parte – Estava previsto para eu viajar e participar durante a próxima semana dessas atividades, porém eu não poderei participar devido a essa auditoria que teremos. Houve diversas irregularidades detectadas e pediram para eu ficar. Pediram para eu indicar alguém no meu lugar e conto com a sua colaboração. Tem algum problema quanto a isso?

Na hora fiquei sem palavras, seria uma oportunidade incrível e me daria uma credibilidade maior dentro da empresa.

- Não, posso ir sem problema algum – respondi meio apreensivo.

- Ótimo, então já fica programado que embarcará no próximo domingo a noite. Farei a solicitação de compra das passagens ainda hoje junto com o Thiago do setor de compras, ficarei um pouco mais na empresa – falou – E mais, o Fernando irá te acompanhar nessa viagem. Embora ele seja o funcionário mais novo do setor, ele possui amplo conhecimento em tarifação e processos aduaneiros.

- Sem problemas – respondi meio surpreso.

- Então é isso, nada de atrasos em? E já fica acertado que embarcará no domingo a noite. Assim que a compra das passagens for autorizada, eu te passo todas as informações de horário e de qual aeroporto irá sair.

- Tudo bem, fico no aguardo – respondi.

- Até amanhã então – Jéssica estendeu a mão.

- Até amanhã – respondi com um aperto de mão.

A verdade é que eu fiquei super contente com essa novidade da viagem, eu já viajei para outros países, mas a passeio. Viajar pela empresa é uma grande oportunidade de ser reconhecido pelos demais setores e logo embalar numa possível promoção, já que a empresa deposita uma confiança em você para representa-la. Era estranho o fato da Jéssica não ter colocado a Lilian para viajar, mas eu não estava realmente ligando para isso. Eu esperava há muito tempo por uma oportunidade como essa e iria aproveitar ao máximo. Até esqueci que voltaria de transporte público, desci pelo elevador e comecei a caminhar a longa avenida até chegar a estação de metrô mais próxima.

Faltando umas quatro ruas para chegar a estação, resolvi parar em uma Starbucks e pegar um frappuccino. Entrei e fiquei aguardando ser atendido, quando ouvi uma voz me chamando.

- Gustavo – chamou a pessoa.

Virei e avistei Fernando sentado, acenei com a mão e permaneci na fila. Ele fez sinal para eu ir lá junto com ele, avisei que iria pegar a minha bebida e iria até ele. Logo peguei minha bebida e fui em direção a mesa que ele estava.

- E aí, tudo bem? – cumprimentei o Fernando com um aperto de mão, mas não sentei.

- Tudo ótimo e contigo? Senta aí Gustavo – Fernando falou.

A voz grave dele era realmente gostosa de ouvir, era grave e meio rouca.

- Estou bem! Fica para uma próxima Fernando, eu ainda tenho que pegar o metrô para ir embora. Bateram no meu carro e só pego de volta amanhã, por isso cheguei atrasado hoje.

- Entendi, mas senta aí rapidinho. Onde você mora? – perguntou.

- Em São Caetano – respondi e não sentei.

- Então senta aí rapaz, eu moro em Santo André. Te deixo em casa, é pertinho – falou e puxou a cadeira para eu sentar.

- Imagina, não precisa mesmo – falei.

- Senta aí, você é sempre teimoso assim? – perguntou.

Fiquei envergonhado diante da situação e resolvi aceitar, não seria de todo um mal.

- Viu, não matou ninguém. A Jéssica comentou contigo sobre a viagem? Eu estou muito empolgado com essa oportunidade, realmente foi o melhor dia de trabalho que já tive na vida. – falou de forma engraçada e eu me segurei para não rir, afinal, eu também estava sentindo essa mesma alegria.

- Sim, ela comentou – falei – Realmente você teve uma sorte grande em? Faz tempos que espero por uma oportunidade dessas, não me leva a mal, mas você teve muita sorte mesmo.

- Ela comentou mesmo, disse que estava me mandando por conta da minha experiência e outras viagens que já fiz a trabalho. Sei que realmente demora, fui pego de surpresa também, mas como ela disse: Foi um caso de emergência. Mas eu confesso que curti muito a oportunidade.

- Entendi, realmente é uma oportunidade muito boa – falei.

- Sim, muito boa. Vamos nessa? – Fernando chamou.

Peguei minhas coisas que estavam em uma outra cadeira e o segui até onde seu carro estava estacionado, era um Civic preto e estava com um pequeno arranhão na lateral.

- Não repara a bagunça – falou assim que entrei no carro.

- Imagina, não ligo para essas coisas – falei.

Expliquei onde moro e logo seguimos viagem. Durante o caminho conversamos sobre algumas viagens e logo entramos em alguns assuntos pessoais. Fernando contou o motivo da separação dos pais, também falou que fora demitido porque namorava uma moça e trabalhavam juntos na mesma empresa. Em um determinado tempo, descobriram que um funcionário estava roubando a empresa. Começaram a investigar e descobriram que a Camila, ex-namorada do Fernando, também já havia desviado dinheiro para sua conta pessoal. Esses valores eram provenientes de estornos feitos por fornecedores que ao invés de repassar para os fundos da empresa, Camila pedia o estorno direto para sua conta pessoal. Quando descobriram a trama, mandaram Camila embora por justa causa e logo em seguida demitiram Fernando com a desculpa de “reestruturação empresarial” e por isso ele entrou com uma ação contra a empresa, em seguida terminou o relacionamento de quase 4 anos.

- Puts, que foda cara – foi a única coisa que consegui comentar.

- Sim, de mais. Eu fiquei sem chão quando tudo isso aconteceu. Meus pais em crise, terminei com a namorada, muitos colegas de trabalho e amigos não acreditaram que eu não tinha nada a ver com o desvio de dinheiro. Tive muita dificuldade para conseguir emprego, por isso realmente estou contente, só consegui a vaga porque acharam uns arquivos e comprovantes que provam que eu não tive nada a ver com as movimentações. E logo ganharei a causa na justiça e a indenização, fui muito prejudicado em tudo isso. – falou meio estressado por comentar sobre o assunto.

- Sim, imagino o quanto – falei – Mas que bom que está dando tudo certo.

- Sim, não vejo a hora de tudo realmente acabar – falou.

Eu ficava ludibriado em vê-lo falar, percebi que ele gosta de conversar, de falar bastante e era muito educado também. Dava atenção quando eu estava falando e demonstrava interesse no assunto, bem diferente de muitas pessoas. Fernando se ofereceu para ir comigo até a oficina onde estava meu carro, disse que Jéssica havia o liberado no período da manhã para resolver umas documentações e logo estaria de volta a empresa. Anotou meu telefone para manter contato caso precisasse de alguma informação. Logo chegamos e paramos em frente de casa, era quase 19:30 e perguntei se ele não queria entrar e ficar para jantar, disse que aceitaria só um pouco de água.

Entramos em casa e meus pais não estavam. Meu irmão Danilo avisou que tinham saído para fazer comprar no Supermercado Joanin e que minha avó estava no quarto dormindo. Fernando cumprimentou Danilo que largou o videogame para dar atenção ao rapaz que estava nos “visitando”, Fernando ficou aguardando na sala enquanto eu fui pegar a água e logo ficou conversando sobre games com o Danilo. Entreguei o copo de água ao Fernando e logo pediu mais um pouco, coloquei mais água e fiquei aguardando para colocar o copo na pia. Guardei a água na geladeira e quando voltei Fernando estava em pé, avisou que ia embora. Acompanhei ele até onde tinha estacionado o carro.

- Obrigado pela água, vou nessa Gustavo – falou.

- Imagina, obrigado você pela carona – falei – Valeu mesmo.

- Que isso, além de tudo conversamos bastante e isso foi bom. Então já sabe, te ligo amanhã no horário do almoço assim que eu terminar de resolver essas documentações, daí almoçamos e aproveitamos para pegar seu carro.

-Beleza, valeu mesmo – falei.

- Que isso, não precisa agradecer – falou – Vou nessa, boa noite e até amanhã.

- Até, boa noite.

Fernando entrou no carro e arrancou em uma velocidade bem alta até. Entrei e fui tomar banho, quando saí do banheiro ouvi que meus pais haviam chegado pelo barulho que estavam fazendo na cozinha. Saí do meu quarto e fui me juntar a eles.

- Vai Gu, não fica olhando não meu filho e ajuda a descarregar as coisas do carro – falou meu pai, percebi que estava estressado.

- Boa noite para você também – falei.

- Não liga Gu, seu pai está bravo por causa do valor das coisas do mercado – minha mãe falou e logo veio beijar minha testa – Boa noite meu filho, está com fome?

- Boa noite mãe, estou com um pouco de fome só – falei e fui ajuda-los a descarregar as compras.

- Filho, as coisas no mercado estão um absurdo. Desculpa o pai, mas o pai está de cabeça quente. Acabei discutindo com a mocinha do caixa ainda que passou algumas coisas a mais. – meu pai falou.

Meu pai sempre foi jururu mesmo, todo bravão. Mas era um bom pai, se empenhava muito pela família e sempre fez o possível por nós. Ele aposentou na empresa em que teve seu primeiro emprego e vivia brigando com o meu irmão que não tinha estabilidade alguma, sempre trocava de emprego e não concluiu a faculdade de engenharia civil. Apesar de termos uma condição financeira razoável, meu pai sempre foi bastante “econômico” e não me deixou em paz até que investi parte do meu dinheiro em um apartamento que logo seria entregue. Minha mãe fez a janta e durante o jantar eu contei a eles sobre a viagem, que logo me parabenizaram e ficaram contentes por mim. Contei sobre o Fernando e minha mãe fez questão de brincar sobre a maneira que eu falava do rapaz.

- Pelo jeito era um galã mesmo, já que fala mais dele do que da própria viagem em si – minha mãe falou sorrindo.

- Nada a ver mãe, ele é um cara gente boa mesmo. E me trouxe em casa, graças a Deus porque ninguém merece pegar esses metrôs de São Paulo e ainda ouvir bronca da gerente. – falei.

- Pelo menos ela te recompensou na viagem meu filho, é uma ótima oportunidade – meu pai falou – E que sorte do rapaz novo em? Deve ser muito bom mesmo. E o Natan ligou aqui hoje mais cedo, brigaram de novo foi?

- Não brigamos, terminamos – falei meio ressabiado.

- Xii, vocês não tem jeito mesmo em? – minha mãe falou e meu pai assentiu com a cabeça.

- Pois é, bem vou deitar – falei – amanhã tenho que madrugar de novo para ir trabalhar de metrô, ultimo dia graças a Deus.

- Para de ser mole rapaz, só não te levo porque já fiz muito isso na vida e é bom pra você também, te ensina a ser humilde – meu pai falou.

- Isso não é aprender – resmunguei - e sou uma pessoa humilde, o senhor sabe muito bem disso.

- Eu sei meu filho, mas é sempre bom não esquecer. Certo? – falou.

- Vou nessa ,boa noite e durmam com Deus – falei e dei um beijo na testa dos meus pais, nem reparei que meu irmão já estava enfiado de novo no vídeo game, nem parecia ser mais velho que eu.

Deitei e fiquei pensando na vida, no dia de hoje, na viagem, no Fernando... puta que pariu, no Fernando. Eu realmente não queria me aproximar ao ponto de ter aquelas paixonites que você sofre, sofre, sofre e sofre... já falei sofre? Enfim, mas eu realmente gostei dele. Peguei o celular e tinha algumas mensagens no whatsapp.

Natan: “Liguei na sua casa, mas não tinha chegado ainda do trabalho. Espero que esteja tudo bem e queria saber se podemos conversar.”

Li e ignorei, não queria estragar o resto do meu dia com isso. Tinha algumas mensagens em um grupo da minha família, minha tia que mora em Piracicaba encheu o grupo de mensagens com imagens engraçadas, vídeos sem graça, um monte de piadinha e correntes do amor e logo vi a mensagem de um número que eu não tinha salvado nos contatos.

Desconhecido: “E essa foto aí? Brincadeira. Salva aí meu número, é o Fernando. E obrigado por tudo hoje, gostei de mais de ter te conhecido. Fico feliz que iremos trabalhar juntos, meu santo bateu com o teu”.

Salvei o contato dele e logo a foto atualizou, ele estava lindo na foto. Estava sem camisa e deu para ver que ele tirou a foto na praia, mostrava o mar no fundo da foto. E o sorriso? Aquele sorriso lindo. Respondi assim que visualizei.

“Olha quem fala, rsrs. E de nada, qualquer coisa estou por aqui” – respondi.

Logo ele visualizou e começou a digitar.

“Estou ansioso pela viagem, de verdade” – Fernando mandou.

“Eu também estou, vai ser correria. Mas vai dar para aproveitar”. – mandei e logo em seguida mandei outra “Vou dormir Fernando, até amanhã. Boa noite, dorme com Deus”.

“Amém! Você também! Até amanhã e mais uma vez obrigado”. – ele respondeu.

“Que isso, não precisa agradecer” – respondi e acabei pegando no sono.

Tive diversos sonhos estranhos, sabe aqueles sonhos nada a ver? Foram vários deles. Acordei antes que o despertador tocasse e logo levantei para tomar banho, não queria me atrasar. Quando passei pela cozinha avistei minha mãe terminando de fazer um café.

- Bom dia meu filho, caiu da cama hoje foi? – Me deu um beijo na testa – Aproveita que está cedo e toma um café junto com a mãe.

Minha mãe tinha comprado pão de queijo, pão francês, mortadela defumada e já tinha esquentado o leite também.

- Pelo visto quem madrugou foi a senhora em? – Falei sorrindo e servindo café para mim e para ela.

- Eu tenho exame para fazer hoje cedo, daí aproveitei e fui na padaria aqui do lado comprar umas coisas para o seu irmão tomar café quando acordar também, ele tem uma entrevista de emprego hoje cedo.

- Que bom, tomara que dê certo! Exame do que? – perguntei.

- De rotina meu filho, faz tempos que não faço exames – minha mãe falou.

- E você parece que está animado hoje, é por causa da viagem? – minha mãe perguntou.

- Sim, estou realmente muito contente. É gratificante sabe? Finalmente estou sendo reconhecido – falei.

- Você merece meu filho, como você merece tudo isso! – minha mãe falou e passou a mão sobre os meus braços, bagunçando os poucos pelos que tinha de um lado para o outro. – A mãe ama muito você, você sabe né? Nossa personalidade é igual, nunca vi alguém para se parecer tanto comigo quanto você meu filho. Eu só quero te ver feliz.

- Eu também te amo de mais mãe, você é a melhor coisa que tenho na vida – falei – Vou nessa para não atrasar, o pai pelo visto está dormindo! Vai te levar no hospital né? – perguntei.

- Sim, ele vai me levar no hospital e dar carona ao seu irmão também – ela informou.

- Me deixar no trabalho que é bom, nada né? – falei meio bravo – Mas enfim, foi até bom... Consegui carona ontem e não foi tão mal assim.

- Esse garoto, está mexendo com você ou é impressão minha? Já se acertou com o Natan?

- Ele é um colega de trabalho mãe. Simpático de mais, só isso. E o Natan mandou mensagem ontem, mas não respondi ainda.

- Olha olha em? Juízo meu filho – minha mãe advertiu – Só quero te ver bem.

- Pode deixar, sei me cuidar mãezona – falei – Vou nessa.

Sai de casa e quase perdi o ônibus, sorte que o motorista esperou. Graças a Deus era o ultimo dia que iria de transporte público. Ficava complicado ir trabalhar, já que fica distante de onde eu moro. Entrei no whatsapp e vi que o Fernando visualizou há pouco tempo. Pensei em mandar mensagem, mas desisti. Graças a Deus não iria chegar atrasado no trabalho, entrei no metrô e estava lotado. Fiquei em pé, não tinha nem como movimentar direito. Coloquei minha mochila entre os pés e fiquei segurando no apoio, recebi uma mensagem e peguei o celular para visualizar.

“Bom dia, tudo bem? Passando para desejar um ótimo dia. Já estou na correria para resolver alguns problemas, logo mais estou na empresa. Já chegou?” Era uma mensagem do Fernando, meu coração quase saltou pela boca e ansiedade bateu forte.

“Bom dia, estou ótimo e você? Que nada, estou no metrô ainda. Um aperto só, quando chegar na empresa te mando mensagem” – respondi e vi que errei algumas coisas por causa do mal jeito que estava para digitar.

“Beleza, manda sim. Eu estou bem suave, mais tarde vamos pegar seu carro e daí acaba esse martírio.” – Ele respondeu e logo em seguida mandou uma foto dirigindo, estava muito lindo e com um óculos preto que combinava com o formato do seu rosto.

Puta que pariu, esse menino me mata ainda... pensei comigo.

Cheguei na empresa e cumprimentei a todos, eu estava super animado para que a semana passasse o mais rápido possível. Lilian não me deu atenção direito, disse que estava ocupada de mais. Como a maioria das pessoas estavam sabendo que eu e o novato iriamos viajar a trabalho, cheguei a conclusão que ela estava sabendo. Tentei conversar, mas ela mal me respondeu. Preferi deixar quieto e me envolvi nas tarefas. O dia passou rápido, Fernando chegou antes do horário de almoço e saímos juntos para almoçar, notei o olhar da Lilian em nossa direção quando passamos. Almoçamos e conseguimos pegar o meu carro na oficina que deixei para consertar, conversamos bastante e logo estávamos de volta à empresa.

Precisei levar uns documentos para a Jéssica e ela aproveitou para entregar as passagens, partiríamos às 12:05p.m. no próximo domingo. Ela explicou que houve algumas alterações no horário devido ao check-in que deveríamos fazer no hotel. Pediu também que eu entregasse as passagens para o Fernando e as reservas de hotel.

- Gustavo? Ligaram no seu ramal e como você não estava eu puxei a ligação. Era o Natan, ele pediu para você retornar a ligação assim que possível. – ela deu o recado e olhou os papeis que estavam na minha mão – Então vai mesmo viajar no lugar da Jéssica?

- Irei retornar sim, pode deixar – respondi meio surpreso pela segunda pergunta que ela fez – Sim, ela conversou comigo ontem no final do expediente.

- Bacana, o novinho também vai? – Parecia incomodada.

- Sim, a Jéssica também solicitou que ele fosse nessa viagem – falei meio ressabiado pela curiosidade da Lilian, ela realmente parecia incomodada com a questão.

- Eu acho muito injusto, sabia? Não por você, você é um ótimo profissional. Mas é injustiça, eu estou aqui há tanto tempo e nem me promover a sênior ela fez, você entrou como júnior e já é sênior. O Fernando entrou direto como sênior, tudo por causa de um currículo extenso de 4 folhas. – Lilian parecia que ia ter um ataque, mas controlou a altura da voz – Eu realmente estou desanimada, cansada disso tudo.

- Calma, tudo tem seu tempo. Você mesma sabe que a Jéssica cobra de você um aprimoramento no inglês e que você enrola para voltar a estudar desde o começo do ano. – falei sem rodeios – Ela mesma já te advertiu que deixou de te promover por causa disso.

- Não justifica, quando você entra de férias sou eu quem ela chama para cobrir suas tarefas – falou sem pensar – Ela só me deixa para escanteio.

- Bem, eu acho então que você deve conversar com ela diretamente – falei – Assim você resolve essa questão com ela e vê em que ela pode te ajudar.

- Eu realmente irei conversar com ela – Lilian falou – Não esquece de ligar para o seu namorado.

- Pode deixar, não irei esquecer não. – falei.

A minha sala e do Fernando ficava em frente à mesa da Lilian. Quando entrei, vi Fernando concentrado em alguns processos de importação. Fiquei me perguntando se ele havia escutado o que a Lilian havia falado. Pedi licença e entreguei suas passagens e a reserva de hotel. Ele guardou dentro da sua pasta e perguntou se eu havia pegado as minhas também, falei que sim. A correria estava tão grande que não consegui ligar para o Natan, não conversei direito com o Fernando, até porque ele saiu e voltou para sala quase no fim do expediente. Fiquei aliviado quando recebi o email da Jéssica falando que a documentação que entreguei estava correta e que o nosso setor estava livre de não conformidades na auditoria. Já estava quase na hora de ir embora e Fernando voltou para a sala.

- Já está indo embora também Gustavo? – perguntou e continuou a arrumar suas coisas.

- Sim, estou descendo já – falei e guardei minhas coisas também.

- Te espero na recepção então, beleza? – parou próximo a porta e ficou esperando minha resposta.

- Beleza. Já estou indo – falei – Estou procurando o cartão do estacionamento.

Fernando saiu e fiquei procurando o cartão do estacionamento. O encontrei parado próximo a sala de café conversando com a Lilian. Ela estava fazendo um “breve” interrogatório e ele não parecia nem um pouco desconfortável com o falatório da minha amiga atacada por uma leve onda de inveja, se é que eu poderia falar assim, não soaria muito feio? Mas era a verdade.

- Vamos nessa então Gustavo? – Fernando convidou.

- Sim, estava procurando o cartão do estacionamento – falei e mostrei o cartão do estacionamento.

- Consegui fechar com eles no mesmo dia que recebi a ligação avisando que passei na entrevista, ainda bem que tinha vaga – falou aliviado.

- É complicado mesmo achar vaga aqui nessa região, sempre tem, mas o preço é meio salgado. – saímos os três em direção ao elevador.

Entramos no elevador e Lilian parecia inquieta, eu fiquei conversando com Gustavo normalmente e a Lilian parecia boiar no assunto.

- Cara, fiquei de emprestar um jogo para o seu irmão. Avisa para ele que amanhã eu te entrego? Sem falta – falou.

- Eu nem sabia que você ficou de emprestar jogo para o Danilo, ele não comentou nada comigo – falei - Mas aviso sim.

- Sim, eu fiquei de emprestar pra ele um jogo novo. Eu já zerei, daí ele falou que não tinha jogado ainda e eu ofereci ontem quando estava na sua casa. – Fernando falou de forma normal.

Lilian me olhou com uma cara esquisita e logo perguntou.

- Vocês já se conheciam? – Lilian perguntou.

- Não, conheci o Gustavo ontem – Fernando falou de forma tranquila.

- Verdade, nos conhecemos ontem – falei.

- Estranho, e já foi na casa do Gustavo? Eu demorei quase três meses para conhecer a família dele – Lilian soltou.

- Ontem o Fernando me deu carona até em casa, por isso ele acabou conhecendo a minha casa, conhecendo não... Entrou e bebeu água. – falei.

- Outro dia fico para jantar – Fernando falou rindo, os olhos dele ficavam puxadinhos quando ria e era muito bonito mesmo.

- Opa, sem problemas – eu falei de forma educada – Vou marcar algo e vocês vão em casa.

- Hum, entendi – Lilian respondeu em um tom chateado – Ligou para o seu namorado Gustavo? Ele parecia bem apreensivo para conversar com você, ligou mais de uma vez.

Na hora meu coração de uma pontada. Lembrei que não tinha comentado nada com o Fernando sobrea minha orientação sexual, não porque queria esconder, mas porque eu sempre fui muito discreto quanto a isso e sempre conto quando me sinto confortável em relação a pessoa. O que a Lilian acabara de fazer me deixou super chateado mesmo, ela não tinha o direito de fazer isso e muito menos na frente do Fernando, ela sabe que não gosto de expor minha vida assim. Mas mantive a calma e tentei ser o mais natural possível.

- Ex-namorado você quis dizer, certo? E não, não liguei para ele – falei.

Fernando me olhou e eu fiquei sério, eu realmente fiquei sem graça em meio a essa situação. Afinal, nem sabia o que ele acha disso tudo e etc, sempre acho complicado e desconfortável permanecer muito tempo no meio de diversos homens héteros, não tenho paciência para idiotices e por isso tenho um ou outro amigo hétero.

Aqueles breves minutos no elevador, pareceram ser uma eternidade. Mal me despedi de Lilian e segui calado até o estacionamento, Fernando me perguntou se estava tudo bem e respondi que sim, mas não prolonguei a conversa. Entrei no carro e Fernando seguiu meu carro por um longo período, buzinou e foi para uma direção contrária a minha. Cheguei em casa, tomei banho e fui direto para academia. Lilian mandou mensagem pedindo desculpas e me perguntando se eu havia ficado chateado, nem respondi. Natan mandou mensagem também, não respondi. Eu estava irado, eu estava sentindo a minha privacidade totalmente exposta. Gastei toda minha raiva no treinamento que fiz, malhei pernas e braços. Fui para casa e coloquei meu celular para carregar, já que não havia carregado durante o dia e usei a bateria durante o treinamento na academia.

Tomei banho e desci para jantar, mal consegui comer. Conversei um pouco com meus pais, assisti TV e peguei o celular para visualizar o whatsapp. Ele estava online, mas não quis puxar assunto com ele. Bloqueei o celular e logo vibrou com uma nova mensagem.

“E ai Gustavo, tá tudo bem meu?” – Fernando perguntou.

Eu li a mensagem sem abrir o aplicativo, pensei em não responder. Mas não iria fazer isso, afinal, eu iria trabalhar com ele todos os dias.

“Tudo sim e por aí?” – Respondi.

“Por aqui está tudo ótimo, desculpa perguntar, mas você ficou chateado pelo que a Lilian falou”? – Fernando perguntou

“Achei desnecessário, mas enfim, uma hora ou outra você ia ficar sabendo também” – respondi – “Não me leva a mal, mas estou de saída. Preciso descansar um pouco, acabei de chegar da academia”.

“Ficou preocupado com o que eu ia achar? Aiai, que nada a ver. Depois conversamos então, mas só para você ficar sabendo: Eu escutei tudo o que ela falou na hora que ela te chamou e falou sobre o meu currículo de quatro páginas, quase levantei e falei que era sei páginas. E também a ouvi te dando o recado sobre o seu ex-namorado, relaxa, eu já estava ciente”. – mandou com uma carinha de sorriso e uma lágrima.

“Beleza então, conversamos depois” – respondi.

Ele começou a digitar, mas logo parou e não veio nenhuma mensagem.

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Comentários

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Adorei. Por favor continue. E odiei essa Lilian..

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