Louco Amor TP2 CP8 - O destino ataca novamente.

Um conto erótico de Lipe
Categoria: Homossexual
Contém 4493 palavras
Data: 26/05/2016 21:13:17
Última revisão: 27/05/2016 03:54:16

De antemão peço desculpa por algum eventual erro no texto.

LOUCO AMOR TP2 CP8 – O destino ataca novamente.

Me levantei de cama, escovei os dentes e me troquei, tudo muito rápido e com cautela para não acordar os meus dois anjos. Inicialmente pensei em ir sozinho de ônibus até o hospital onde imaginei que eles pudessem estar, mas iria demorar muito, então fui até o quarto de meu pai e com cuidado para não acordar minha mãe, pedi que ele me levasse no seu carro, não expliquei muita coisa a ele no inicio, apenas no caminho, onde também fiz um desabafo e expliquei que não saberia o que fazer se fosse verdade.

_ Pode contar comigo, iremos enfrentar isso, juntos. – ele disse quando enfim paramos em frente ao hospital.

_ Quando foi que isso virou uma novela pai?

"Muitas pessoas devem a grandeza de suas vidas aos problemas que tiveram de vencer."

Uma vez li essa frase na traseira de um caminhão enquanto ia a algum lugar no interior com meus pais, desde então não a tiro da cabeça e reflito sobre ela sempre que posso ou sempre que a vida me passa uma rasteira como tem acontecido constantemente nos últimos meses.

_ Eles estão mortos... Os dois. – disse quase sem voz. – O que eu vou fazer? O que eu vou dizer pra ele Fagner? Como ele vai acredita nisso se nem ao menos eu acredito, e-u que eu ouvi da boca de meu pai que eram realmente os corpos deles sem vida e quase desfigurados em uma cama de metal fria. – mesmo não tendo visto nada por causa da situação dos corpos e também por ser de menor, eu conseguia imaginar tudo como se tivesse presenciado toda a cena de perto, e isso era horrível pois minha cabeça doía e anciãs de vomito viam a todo momento – coisas assim não deveriam acontecer de uma hora pra outra, não deveriam.

Um longo silencio se sucedeu de ambos os lados por alguns segundos sem que tivéssemos o que falar, estávamos ainda em negação, tudo se passou muito rápido para que pudéssemos acompanhar. Eu particularmente, com a cabeça próxima a janela do carro semiaberta sentindo a brisa secar minhas lágrimas só conseguia pensar em Caio e em como ele reagiria.

_ Se eles estavam desfigurados, como saber se eram eles mesmos?

_ Eu disse quase.

_ Mas o seu pai só os viu uma vez há meses, como...

_ Como explicar o fato deles estarem com um celular cujo o primeiro numero da lista era o de Caique? Como explicar a placa do carro que nós dá exatamente o endereço da fazenda? Como Fagner?

Por segundos o que eu ouvi foi apenas sua respiração, ele havia se calado novamente para pensar. Eu o entedia, entendia sua esperança. Ao contrário de mim que não queria chegar em casa e dizer “Caio, seus pais morreram, mas pode contar comigo, vai ficar tudo bem”, ele queria apenas poder chegar para o seu namorado e dizer “Eram outras pessoas, foi engano, seus pais estão bem” e assim tira-lhe um peso das costas.

Dado a hora que já ia além das seis horas, pensei que Caio não me ligaria perguntando onde eu estaria, até o celular do meu pai tocar e ele me mostrar o nome dele piscando na tela.

_ Atende e inventa alguma coisa pai. – pedi.

Ele balançou a cabeça e logo atendeu.

_ O que? – Fagner reagiu do outro lado. Confesso que até havia me esquecido dele.

_ Não foi com você. – disse quase sussurrando para que Caio que já falava com meu pai não me ouvisse. – Estou voltando para casa agora e ele está falando com meu pai para saber onde estamos.

_ Minha mãe não quer me deixar vê-lo Lucas. – desabafou com a voz chorosa. – ela não quer que eu faça esforços por causa da cirurgia.

_ Eu sei que deve está sendo difícil pra você, mas ela está certa, você mal consegue rir sem sentir dor no peito, se você ver ele não vai conter o choro, vai querer abraça-lo e fazer esforços que por mais simples que sejam vai pô-lo em risco.

_ E você acha que eu não choro por causa disso? Mas de toda forma foi uma decisão dele também... Em meio a tudo isso ainda consegue pensar em mim.

_ Ele te ama.

_ Também o amo muito e é por isso que eu queria mais que tudo pode dizer a ele que tudo foi um engano.

Como imaginei.

_ "Muitas pessoas devem a grandeza de suas vidas aos problemas que tiveram de vencer." – disse. – amanhã será outro dia meu amigo, só temos que sobreviver a esse por mais algumas horas.

Ele suspirou.

_ Esse é o problema, eu não sei como.

Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, meu pai me chamou a atenção e disse sussurrando que Caio queria por quer queria falar comigo.

_ Amigo, ele quer falar comigo agora, você vai ficar bem?

_ Vou sim, meu pai está do meu lado, não se preocupe, pode ir lá... E ah, boa sorte.

_ Obrigado. Tchau.

Mal cheguei a tirar um celular do ouvido e já fui colocando outro no lugar.

_ Caio? – o chamei, meio temeroso.

_ Que história estranha é essa que teu pai está me contando em? Onde é que tu estás? – Perguntou impaciente.

Era claro que eu não fazia ideia que história meu pai havia inventado, mas mesmo assim, agi como se soubesse.

_ Olha, confia em mim?

_ Ah não vem com essa história. Onde tu tá? Porque saiu tão cedo sem me falar nada?

_ É melhor a gente conversar pessoalmente, estou quase chegando.

_ Estou lhe esperando. – ele disse por fim desligando na minha cara. Ele estava com raiva e isso era nítido em sua voz.

Entreguei o celular ao meu pai e então voltei a recostar a cabeça próxima à janela.

_ Não precisa fazer isso, eu falo com ele se quiser. – se ofereceu, com um semblante de preocupação.

_ Preciso sim, essa responsabilidade é minha.

_ Como quiser.

Fomos o resto do caminho que não durou mais do que alguns minutos em total silêncio. Assim que entrei em casa o vi sentado no sofá com Aquiles nos braços, ele o amamentava com a mamadeira e assim que me viu fez cara de reprovação.

Meu pai se aproximou dele junto comigo e então pegou a criança de seus braços e o levou para a cozinha para que pudéssemos conversar.

Assim que me sentei ao seu lado ele foi logo falando:

_ De acordo com o seu pai vocês tinham ido até a casa de uma tia dele que esta doente e que insistia em te ver, mas sua mãe disse que a única irmã que seu pai tem, mora em outro estado e que a mesma não está doente, e ao menos que vocês tenham voltado do caminho ou se teletransportado pra lá, seria impossível chegar lá e voltar em menos de duas horas.

_ Meu pai é péssimo em inventar histórias.

_ O que está acontecendo? – ele perguntou de forma séria.

Diante de tal pergunta, as informações se enrolaram quase que naturalmente na minha cabeça, o medo e a tensão aumentaram e me impossibilitaram de abrir a boca para poder falar, ao invés disso apenas o fiquei encarando, torcendo para que aquilo passasse logo. Por longos segundos o único barulho que era ouvido, mesmo que bem baixo, eram minhas pernas em ritmo frenético pra cima e pra baixo que ele logo tratou de interromper ao por as mãos sobre as mesmas.

_ Estou esperando Lucas.

_ Não é tão simples.

_ Então respira fundo (respirei) e fala.

“Seus pais morreram, todos os dois” – respondi mentalmente como forma de treinamento para poder falar em voz alta logo em seguida, mas as palavras mesmo que em pensamentos me pareceram tão perversas que eu duvidei seriamente se eu iria conseguir abrir o bico.

_ Eu não consigo. – disse me levantando abruptamente do sofá.

Nervoso, minhas mãos se encontraram e começaram meio que uma guerra entre si.

_ Pergunto ao seu pai então. – retrucou já tomando o caminho da cozinha. Parte de mim quis seriamente que ele fosse perguntar ao meu pai, tiraria uma responsabilidade enorme das minhas costas, mas a outra parte gritava e dizia que era eu o responsável a dá a noticia, pois seria o mínimo que eu poderia fazer como seu noivo.

_ Deixa de ser tão rude. – disse segurando em seu braço.

_ Então fala. – disse de forma bruta. – Se quisesse ter segredos comigo que fosse mais inteligente.

_ Seus pais. Eles sofreram um acidente vindo pra cá. – disse por fim, deixando uma lagrima rápida cair.

_ Se isso for mais uma de suas desculpas pode ir parando. – repreendeu.

Balançando a cabeça eu neguei.

_ Ligaram para o teu irmão dizendo... dizendo que...

_ Fala logo Lucas. – perguntou de forma nervosa e impaciente. O medo do que poderia ouvir já era evidente em seu rosto.

_ Eles morreram. – disse já não conseguindo mais segurar as lágrimas, o peso daquelas palavras soaram ainda mais pesadas do que eu havia imaginado.

Ele elevou às mãos a cabeça, engoliu em seco as informações, arregalou os olhos que no mesmo estante se enchiam de lágrimas e quando fui o abraçar, ele não quis, me segurou pelos braços.

_ Que história... – lagrimas desceram. – que história é essa Lucas?

_ Eles foram desviar de algo na estrada e quando o fizeram desceram capotando morro abaixo, eles estavam sem o cinto e também sem vários documentos que pudesse os identificar. Um número no celular do seu pai ajudou e muito a encontrar um parente, ligaram para o seu irmão e deram a notícia. – ele com a cabeça baixa já chorava de soluçar. Aquilo cortou meu coração e ainda o dilacerou por suas mãos em meu braço me impedir de abraça-lo. – Eu sinto muito.

_ Não... Não é possível.

_ Me deixa te abraçar amor. – pedi já bastante emocionado.

_ Não, não, isso tá errado... Eu quero vê-los. – disse praticamente passando por cima de mim.

Ali já me desesperei porque ele não estava em situação de sair, ainda mais de carro. Sem pensar duas vezes fui atrás dele para impedi-lo, mas meu pai estava mais perto e chegou até ele já próximo a porta bem antes de mim, meu pai tentou segura-lo, mas ele parecia um trator, queria por queria sair.

_ Não vou te deixar sair assim Caio, se acalme rapaz. – disse meu pai tentando-o segurar.

Antes havia decidido deixar meu pai agir para o impedi de sair, porque obvio, Caio tinha o dobro do meu tamanho, mas Temendo que as coisas esquentassem ainda mais e dali saíssem socos, não tive alternativa a não ser entrar no meio. Minha mãe estava entre a sala e a cozinha observando tudo de forma apreensiva com Aquiles nos braços que começou a chorar por causa de todo aquele clima, dizem que os bebês são mais sensíveis com essas coisas e sabem como ninguém quando algo está errado.

_ Caio para. – disse segurando em seu rosto e o forçando a me olhar, mas ele resistiu e continuou a tentar tirar meu pai de sua frente, além de tentar a todo custo se desvencilhar de minha mão. – Não há o que fazer, por favor, meu amor, me ouve, eu estou do seu lado – ele foi parando gradativamente. – Pensa no seu filho, olha como ele está agitado.

Por fim ele parou totalmente, cambaleou até próximo a parede ao lado da porta e com as costas na mesma, escorregou até se sentar no chão. Com a respiração pesada, ele chorava e soluçava ao mesmo tempo numa tentativa desesperada de extravasar a dor que sentia.

Me ajoelhei a sua frente em meio as suas pernas e com as mãos trouxe sua cabeça até meu peito, as suas envolveram a minha cintura e a apertaram com força.

_ São meus pais Lucas, meus pais, o que vai ser de mim agora?

_ Chora, coloca tudo pra fora meu anjo.

E assim ele fez, chorou até os olhos secarem.

O restante do dia ele passou deitado em minha cama agarrado a um travesseiro, ele não dormiu, não chorou mais, não quis comer, não quis conversar comigo – o que não me impediu de lhe dá conselhos – e nem quis pegar no filho – o que me preocupou bastante.

Quanto aos corpos dos pais, meu pai se prontificou a providenciar tudo, eles iriam ser mandados para a cidade natal deles já na manhã seguinte onde haveria o velório.

_ Caio, acorda. – o chamei com pena de acordá-lo já que ele só veio dormir as três da madrugada, mas era preciso que ele acordasse, pois tínhamos que pegar a estrada até a fazenda de seus pais. Ele abriu os olhos e me viu ali, coloquei minha mão carinhosamente na lateral do seu rosto e continuei. – está na hora, vamos para sua cidade, será lá que vai ocorrer tudo, acho que você não vai querer deixar de ir. Eu vou tomar meu banho, usa o tempo pra... Ah sei lá, se preparar.

Não esperei reposta, pois claramente ele estava com a mesma cara do dia anterior – cara de quem não estava afim de conversar –, mas ao me virar ele me surpreendeu e segurou a minha mão. Se apoiou, se sentou e por fim se levantou.

_ Posso te acompanhar? – perguntou com a voz serena.

Beijei sua bochecha e o guiei até o banheiro, onde tirei sua roupa e lhe ajudei a tomar banho, o gesto me fez me sentir bem por está cuidando dele, mas por outro lado, sua feição triste era de cortar o coração. Não ouve sexo, obviamente, apenas gestos de carinhos. Ao terminamos, nós vestimos – ele com uma blusa preta delineando sue corpo, calça jeans e um tênis preto cano alto, já eu optei por uma camisa social preta, uma calça marrom e um tênis também preto. Em seguida ele se jogou na cama de barriga pra cima e eu fiquei por alguns segundos observando-o de forma apreensiva, pois odiava vê-lo daquele jeito, mas o deixei respirar um pouco e fui até o berço onde Aquiles ainda dormia.

_ Dorme como um anjo, não vou ter coragem de acorda-lo. – disse pra mim mesmo enquanto segurava sua mãozinha.

_ Deixa comigo. – Caio disse ao se levantar e vir em nossa direção.

Me surpreendeu na mesma medida que me deixou feliz tal atitude progressista.

_ Deveria conversar mais, isso me ajudou quando Teresa... Bem, você sabe – Constatei enquanto ele tirava Aquiles do berço que nem mesmo assim acordou.

_ Não sou você! – disse de forma ríspida.

Não fiquei com raiva, e nem poderia dada a situação, apenas me senti surpreso e meio sem graça com tal atitude, mas não fiquei com tais sentimentos por muito tempo, pois assim que proferiu a frase, vi arrependimento em seu rosto. – Me perdoa, eu não quis ser grosso. – disse se aproximando mais de mim com cara de cachorro abandonado.

Cada pessoa tem maneiras diferentes de expressar sua tristeza, uns querem conversar a respeito, como eu, já outras preferem se calar e ficar perto de quem se gosta, como Caio. Com certo tempo de convivência aprendi que características assim raramente mudam, pois é a forma que cada pessoa em particular encontra pra se sentir melhor, com Caio não foi diferente.

_ Tudo bem, eu entendo e irei respeitar seu silencio, só quero que saiba que estou e sempre estarei do seu lado.

Depois de mais de doze horas sem derramar uma lágrima, ele voltou a chorar na minha frente assim que terminei de falar, talvez pelas palavras ou não. Como atitude, colei sua testa na minha, Aquiles estava entre nós então ficaria difícil um abraço sem machuca-lo.

_ A morte nos acompanha tão de perto ultimamente que tenho medo de te perder ou perder meu pequeno também, não iria conseguir sobreviver um dia se quer sem ter você ou ele comigo.

_ Não ocupe a cabeça com esses pensamentos, nada de ruim vai nós acontecer. – disse lhe dando um selinho. – Te amo.

_ Também te amo. – disse e então voltou a me beijar, só paramos quando Aquiles começou a chorar.

O trocamos de roupa juntos – aliás, um bom remédio para afastar por um momento, boa parte de sua tristeza:

_ Que coisa mais linda papai, agora tá bonitão. – ele dizia enquanto brincava com as mãozinhas de Aquiles.

Em seguida pegamos a estrada no carro de meu pai junto com minha mãe que decidiram nós acompanhar, além de Laura que havia ficado sabendo por Fagner do acontecimento já que Caique estava incomunicável, aliás, a essa altura ele já estava embarcando lá em São Paulo, deverá chegar no final da velório, Laura por sua vez queria provavelmente prestar sua solidariedade, afinal, conhecia Caique há um bom tempo.

_ Não sei se vou conseguir. – ele disse quando estacionamos em frente a fazenda, a mesma já lotada de carros e de várias pessoas. Aquela altura a funerária já haveria ter chegado com os corpos como foi combinado previamente com meu pai.

_ Não pense muito, apenas respire e ande. – disse.

_ E não tenha vergonha de demonstrar sentimentos em frente as pessoas. – Laura aconselhou.

_ Exatamente. – reforcei.

_ Seus pais eram muito queridos, olha só a quantidade de pessoas. – Laura observou.

Saímos do carro todos juntos e seguimos até o casarão, mas não antes de ser parado por várias pessoas que fizeram questão de dar os pêsames a Caio. Uma dessas pessoas foi Dona Cleusa – lembram-se dela? A mãe do pequeno Vinicius, o mesmo que se dava super bem com Caio e que agora inclusive já se encontrava em seus braços mesmo a mãe ter se mostrado temerosa dada a situação, já que o pequeno só queria brincar, mas Caio soube levar e mesmo não estando no clima sorriu e também fez ele sorrir e claro, eu e Laura também ajudamos. Foi muito bom rever os dois, me fez lembra da primeira vez que estive ali, das coisas boas e também das loucuras que passamos.

A um passo dá entrada já era possível ver os caixões, um fechado e o outro aberto, sabia que ali ninguém tinha conhecimento de mim e de Caio e por isso deveríamos manter a discrição – pelo menos eu achava que ele iria querer isso – sem mãos dadas ou beijo, mas não resisti e segurei em sua mão que por sua vez a apertou firme no mesmo estante. Ninguém olhou torto, para a minha completa surpresa, talvez pelo clima propiciar gestos assim, mesmo que entre dois homens.

_ Porque só um caixão se encontra aberto? – ele perguntou, a ninguém em especial.

Meu pai que estava com Aquiles nos braços respondeu:

_ A situação do corpo do seu pai... Sinto muito.

Temia a reação de Caio ao ver os caixões, temia que ele fosse surtar novamente e acima de tudo, temia que aquilo fosse um tiro de misericórdia em sua alma para que ela nunca mais se recuperasse, no entanto ele só derramou algumas lágrimas, conversou um pouco com os pais sobre os sentimentos dele e só, nos restante das horas se manteve calado e com Aquiles nos braços como se fosse sua ancora para a lucidez. Vinicius vez ou outra nós encontrava e não perdia a chance de tentar “brincar” com Aquiles, fosse trazendo brinquedos que quase sempre não se sustentavam na mão dele, fosse apenas fazendo “palhaçadas” para ele sorrir. Presenciar aquilo foi no mínimo gratificante, não só pra mim como para todos que estavam a nossa volta, tenho certeza que muitos ali desejaram voltar a se criança.

Era três da tarde quando Caique chegou sozinho e de taxi, o recepcionamos ainda na entrada, Caio foi o primeiro a abraça-lo, passaram vários minutos assim enquanto trocavam palavras de apoio, já bastante emocionado abraçou Teresa e em seguida eu.

_ Eu sinto muito.

_ Sei que sim. – disse ao me soltar.

_ Como estais?

_ Destruído.

_ E Fagner?

_ Bem, graças a Deus.

_ Falasse com ele antes de sair? Fiquei sabendo...

_ Sim, eu falei com ele, só estava dando um tempo, pois ele ainda estava se recuperando.

_ Não precisa se explicar, eu sei.

_ E essa coisinha fofa aqui, não me vão dizer que é meu sobrinho? – perguntou quando viu Aquiles nos braços de minha mãe.

_ Ele mesmo mano. – Caio disse. – pega, pode pega-lo.

_ E se eu derruba-lo?

_ Não exagere. – Laura disse.

_ Vou pegar então.

Ele pediu com licença a minha mãe e o tomou nos braços, um sorriso tímido logo surgiu no rosto de ambos. Um sorriso que durou pouco, infelizmente. Assim que ele entrou na sala e viu os caixões, desmoronou a chorar e falar palavras muitas vezes sem nexo. Caio o abraçava e o ajudava como podia, enquanto eu e Laura absorvíamos todo aquele clima de tristeza para nós e apenas trocávamos olhares perdidos um com o outro.

Só quando ele se acalmou foi que seguimos em caminhada em meio a varias pessoas rumo ao cemitério. Eles por sua vez ajudaram a levar os caixões juntos com alguns parentes e conhecidos.

Tudo ocorreu normalmente como se acontece em todo enterro, eles foram enterrados, várias pessoas jogaram flores e algumas inclusive discursaram, Caio e Caique choraram mais um pouco no final, mas logo pararam. Depois voltamos para a fazenda onde passamos aquela noite. Com as mortes de seu Joaquin e a sua esposa, a fazenda teria que ser tocada pra frente de alguma forma, e foi por isso que antes de voltamos, Caio deu plenos poderes a um homem de confiança da família que já administrava tudo aquilo antes, uma espécie de gerente.

_ Pretende voltar para São Paulo Caique? – perguntei quando estávamos no carro voltando pra casa.

Eu na frente, Aquiles na cadeirinha atrás de mim, Caio ao seu lado, Caique perto da janela e meu pai a sua frente dirigindo. Minha mãe e Laura viam atrás em um taxi.

_ Depois de amanhã já estarei voltando.

_ Fica lá em casa esses dias então, vai ser melhor está perto de quem se gosta. – proponho.

_ Se não for incomodo, irei aceitar sim.

_ Combinado então.

Caio bagunçou um pouco seus cabelos e então lhe beijou próxima à pestana, arrancando do irmão um sorriso tímido.

Os dias se passaram e com eles boas parcelas de tristezas foram se esvaindo graças ao nosso convívio e a felicidade de se ter uma criança em casa. Caique voltou pra São Paulo no dia combinado e por Fagner fiquei sabendo que os dois já conversavam como antes, Natal e ano novo passamos sem muitas comemorações dada a recente perda que tivemos, dois meses após eu já estava entrando na faculdade no curso de história e Caio começava a se preparar para o concurso da PM. Um mês após, Caique retornava junto com Fagner e seus pais para perto de nós, um dia de extrema felicidade, eu tinha meus dois amigos de volta e tinha motivo de sobra para abraça-los varias e varias vezes a fim de matar a saudade. Em abril do mesmo ano, Caio fez a tão sonhada prova da PM e dias após teve o resultado que não havia passado, ele claro, ficou triste e tudo mais, porém como de costume não se deixou abater por muito tempo, continuou trabalhando ao lado de meu pai no supermercado e recebendo os lucros que viam da fazenda, além de continuar sendo um ótimo companheiro e também um ótimo pai. Em maio, dada à boa relação que Fagner, Caique e Laura haviam desenvolvido com Aquiles e também por serem nossos amigos, acabamos por chama-los para serem padrinhos do batismo que ocorreu um mês após com o animado “sim” deles. E por falar em Aquiles, seria impossível não citar a alegria que ele nós proporcionava dia após dia, era o garoto mais inteligente e bonito que eu já tinha visto, o que eu atribuía aos pais dele – traços como a cor da pele, morena, o cabelo e a forma de sorrir eram iguais a do pai, já os olhos meio esverdeados e a inteligência impar eram com certeza da mãe. Um dia em especial, ele me proporcionou algo que ficaria guardado pra sempre em minha memoria. Ele tinha dez meses e estava sentado entre min e Fagner na cama, ele brincava de morder uma bola enquanto eu e Fagner conversávamos banalidades, em dado momento Aquiles se virou mais pra mim e com a mão erguida tentou me dá a bola, eu a principio nem liguei muito, pois ele sempre fazia isso quando estava brincando, mas uma pequena palavra fez toda a diferença naquele momento, fez com que meu mundo simplesmente parasse, tudo se silenciou a minha volta e tomou como foco, aquela criança adorável.

Fagner o olhava com um sorriso no rosto evidenciando que não tinha sido coisa da minha cabeça. Mas mesmo assim, boquiaberto tive que perguntar pra ter certeza.

_ Eu ouvi errado ou...

_ Ele te chamou de pai, amigo, pai, a primeira palavra dele foi pra você. – Fagner falava atônito, ainda mais de que eu.

Papa foi exatamente o que ele disse.

Quando minha ficha caiu totalmente e eu me dei conta do quanto aquilo era importante eu fiz a maior festa, até chamei a minha mãe e tentei fazer com que ele falasse novamente pra ela ver, mas não teve jeito, ele não repetiu. Desde muito cedo Caio já motivava ele a chama-lo de papai, era um grande sonho dele ouvir isso... Ironicamente eu fui o primeiro a ouvir aquilo, será que ele ficaria chateado ao chegar do trabalho e receber essa notícia?

_ Filho, vai contar isso a Caio? – minha mãe perguntou depois que Fagner se foi. Estávamos na sala assistindo novelas mexicanas, e Aquiles estava no meu colo.

_ Porque não contaria?

_ Ah sei lá, sabe o quanto ele queria que ele o chamasse de “papá” e você meio que é agraciado com isso...

_ Acha que ele vai ficar chateado com isso?

_ Não posso afirmar.

A porta no mesmo estante se abriu e ele entrou junto ao meu pai.

Continua...

Boa noite pessoas lindas, estou de volta!!! Principalmente pra agradecer o imenso carinho e incentivo de vocês para que eu continuasse, fiquem tranquilos, pois irei até o fim :)

Pra quem ainda não tem conta aqui na casa, façam como a rezinha27 pois é muito importante receber comentários construtivos, seja bem vinda(o) viu ;)

Próximo capítulo prometo que respondo a cada um.

Acho que vocês perceberam que já no finalzinho desse capítulo ouve uma passagem de tempo, alguns meses para ser mais exato. No próximo capítulo isso irá continuar até que Aquiles atinja a adolescência, onde irá haver uma nova fase da história. Não se preocupem, pois tanto narrador principal como o dramalhão principal continuará sendo voltado para Lucas e Caio com alguns focos em Vinicius e Aquiles. A todos se sintam abraçados e beijados, até a próxima.

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Comentários

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Amo a tua saga. Um abraço carinhoso,

Plutão

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Já estou ansioso pela continuação! Adorei a história. Grande abraço!

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Nossa, esse capítulo tà emocionante, me fez sorrir e chorar ao mesmo tempo. Bom saber q vc ainda vai escrever sobre o Aquiles na adolescencia e ainda tem vàrios capítulos pela frente. Muito bom, continua logo!

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Amei. Muito bom. Foi triste essa perda do caio mas o aquiles ta ai pra consolar um pouco o coraçao deles. bjos

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VINICIUS ????? OPA GOSTEI, KERO, TE AMO, NUNCA PARE DE ESCREVER

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Nossa q triste a morte dos pais de Caio... nossa como o Aquiles é muito fofo!

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