Adair, dono de mim

Um conto erótico de Stocker
Categoria: Homossexual
Contém 4420 palavras
Data: 06/03/2016 23:05:06
Última revisão: 08/03/2016 02:16:01

Esta é a continuação do conto “Além de Adair” e de outros anteriores a ele.

***

Já eram três e vinte e Adair não tinha aparecido. Eu estava na sauna há mais de uma hora e a ansiedade se transformava em desânimo e decepção. Tudo soava muito parecido com o domingo anterior, quando ele me dera um bolo - até mesmo a mesa onde estava, no bar do primeiro andar e com vista para a portaria, para vigiar sua chegada. Já tinha feito três ligações pra ele – dessa vez, saíra do vestiário com o celular e carregava camisinhas presas na cintura, junto à toalha. Adair não atendera, embora na véspera tivesse confirmado nosso novo encontro.

Subi as escadas, rumo ao terraço. Mas não queria beber; não queria nada senão ele. No andar das saunas e das cabines, o banco do corredor estava vazio – o que era bem pouco usual, naquele horário. Sentei ali, à espera de não sei mais o quê. Não vira também Garcia.

O gostosão bronzeado conversava com uns dois coroas, de pé, numa rodinha frente à porta da sala dos chuveiros, atrapalhando a passagem. Fiquei apreciando aquele corpo magro e trabalhado, um conjunto harmonioso de ossos e músculos, sem excessos nem de um nem de outro. Ele virou o rosto, igualmente ossudo, mas atraente nos seus traços fortes, e me encarou por um tempo.

Fiquei pensando na possibilidade de ele ser um dos que me comeram na cabine, uma semana antes. Mas não: acho que eu o teria reconhecido, nem que fosse pelo bronzeado das pernas. Virou para os amigos e, me ignorando, continuou a conversa. Eu não desviei. Era bonito de se ver, e homens bonitos estavam longe de ser o forte daquela sauna. Se não me queria, não tinha como me impedir de admirá-lo.

Então, saindo da sauna a vapor, Adair passou ao lado do grupo, com a toalha no ombro e o cacete lindo balançando. Abriu aquele sorrisão e veio até mim. Eu era todo felicidade.

– Deixa eu tomar uma ducha e te pego aqui – disse.

Demorou um tempo que para mim pareceu enorme. Fez um cafuné e, conduzindo com a mão em minha cintura, fomos em direção ao corredor das cabines. Mas nos fez virar para a escada, para irmos ao terraço. Notou minha surpresa.

– Vou te comer daqui a pouco, mas agora deixa eu descansar – disse, sem parar nem largar minha cintura. – Meti agora pra caralho, naquele vapor todo. To um bagaço.

Não, não havia como eu não me entristecer. Não nos víamos há quinze dias e a primeira coisa que ele falava é que tinha acabado de transar com outro?

– Para de muxoxo. O cara nem se compara a você. E achei que não vinha mais. Você chegou tarde.

– Não. Eu cheguei há um tempão; logo depois das duas.

– Ué, então nos desencontramos, porque entrei logo que abriu. Só tinha uns três caras aqui.

Chegávamos ao balcão do bar. Pedi as duas cervejas.

– Por isso que não tinha mais a 20... Você deve ter pegado, antes. Fiquei com outra cabine, a 16.

– Então, estamos com duas – e complementou, com naturalidade: – Que bom. Assim um não atrapalha o outro.

– Atrapalhar? Você não me atrapalha – falei, com uma expressão meio ofendida.

O balconista pôs as duas garrafinhas e se dirigiu a mim:

– Ponho na tua conta ou na do teu macho?

Foi um impacto ouvir aquilo. Assustado, olhei para o rapaz. Sua expressão era raivosa.

– Poe na minha – respondeu Adair, em tom seco, pegando as cervejas e virando-se em busca de uma mesa.

– Macho corno... – resmungou o atendente, baixo mas de forma a poder ser ouvido.

– Você não vai fazer nada? – perguntei, enquanto seguia Adair. – Ele te chamou...

– Deixa quieto – interrompeu.

Sentamos.

– Esse cara não pode falar assim com você. Você é um cliente; não pode...

– Não cria caso, Flavinho.

– Mas você tem...

– Tenho o que, Flavinho? Ir lá e dar uma porrada no moleque? Dar queixa dele? Reclamar na gerência? Você acha que acontece o quê, se eu fizer isso? O menino perde o emprego. O que eu vou ganhar com isso? Deixa quieto que eu vou resolver isso de outro modo.

Fiz um olhar interrogativo.

– Dou umas metidas nele e ele fica calminho.

Entendi menos ainda.

– Eu já comi esse menino duas vezes, aqui, já com a sauna fechando. O terraço fica vazio; esse bar é a primeira coisa que fecha. Se descobrirem, ele tá ferrado – fez uma pausa. – Ele tá enciumado; só isso.

– Ciúme? De mim? Mas você come qualquer...

Interrompeu de novo:

– Mas ele nunca me viu com um preferido. Já atendeu a gente várias vezes aqui. Deve ter ficado de butuca; viu a gente conversando, rindo; percebeu que to te comendo direto. Queria tá no seu lugar e se irritou vendo nós tantas vezes juntos.

Pegou um guardanapo de papel, depois de dar um gole na cerveja.

– Vai lá e pede uma caneta a ele.

– Você tá de sacanagem, Adair...? Eu não vou falar com esse cara, depois disso.

– Faz o que eu to mandando. Diz logo que eu vou dar uma coisa que ele vai gostar, mas que eu preciso da caneta pra isso.

Levantei.

– Não deixa de dizer que eu preciso da caneta pra uma coisa boa pra ele.

Obedeci. O atendente fez uma expressão contrariada, disse que precisava da caneta para trabalhar e que eu não demorasse com ela, pra não atrapalhá-lo. Peguei a caneta, sem dar qualquer resposta.

– Agora vai lá e entrega isso – disse Adair, estendendo-me o guardanapo dobrado, após ter escrito algo nele. – É o número do meu celular. Pode abrir pra ler.

“Aqui é complicado. Me liga pra marcarmos”, dizia o bilhete, seguido pelo número.

– Vai lá e passa pra ele, na encolha, junto com a caneta.

Quando voltei, Adair me disse para relaxar, que estava tudo resolvido. Estendeu-se na cadeira, virado para as outras mesas, com a garrafinha na mão.

– Você tá estranho comigo – eu disse, timidamente.

Ele me olhou e sorriu.

– To não, meu doce. É que eu me enfezei com essa história – sorriu. – Eu tava doido pra te ver. Fiquei chateado de não ter te encontrado aqui. Mas agora eu tenho que dar uma descansada. Já comi dois, Flavinho. Eu não sou um super-homem.

Aproximou-se mais da mesa.

– A gente vai pra cabine; não fica ansioso. Sei que você tá doido pra isso; eu também to. Mas me dá um tempo, aqui.

Pegou no meu queixo – ali, diante de todo mundo:

– Tá bom assim, meu doce?

Eu sorri, meio envergonhado. Ele retornou o olhar para os demais clientes. O bar estava bem cheio.

– Adoro quando você faz essa carinha de virgem. Me dá tesão.

Ficou em silêncio por um tempo, observando sem muita atenção o movimento no terraço.

– Gostou do que ele te chamou?

Eu corei, mas ele não deu importância.

– Gostou, né, seu safado... Veio aqui só duas vezes e já tá ficando conhecido.

– Você acha? – respondi, meio aturdido.

– E nem é por minha causa, hein... Depois da festinha que você fez no domingo, virou um sucesso.

Eu já sabia que minha façanha chegaria aos ouvidos dele, mas não tinha preparado qualquer reação para quando o assunto viesse à tona. Falei a primeira coisa que me veio à cabeça:

– Como você soube?

– Sou teu macho aqui, não sou? Então. Claro que vieram me falar.

Eu estava meio zonzo. Não sabia se com medo de estar afamado na sauna, se envergonhado por o terem reconhecido como meu macho ou... excitado, justamente por causa disso!

Eu sempre tomara todo o cuidado para esconder meus namoros; para que ninguém percebesse que eu e o cara éramos mais do que amigos – e me aterrorizava a possibilidade de me identificarem como o passivo do casal. Agora, além de saberem de nós dois, sabiam que ele era o comedor, e portanto que eu era o enrabado. Acho que não devia haver quem desconhecesse que Adair era ativo; que quando alguém ia com ele é porque seria comido, ou daria uma mamada. Ele não escondia isso de ninguém.

Mas, ao mesmo tempo, a situação era diferente do que eu vivera com meus namorados. Não estava na faculdade, tendo de disfarçar até que era gay. Não estava com o namorado no meio da galera, precisando dar uma de macho e mostrar que éramos apenas amigos. Na sauna, só de entrar lá, já deixava claro a todos que era gay. E não havia qualquer mistério que mais de dois terços dos que estavam ali davam ou queriam dar a bunda.

Não tinha porque ficar constrangido: eu era só mais um. Ok, talvez chamasse alguma atenção; me destacasse porque andava pra cima e pra baixo com um dos ativões do pedaço. E porque estava levando direto aquele pauzão grosso que pesava entre as pernas abertas de Adair quando ele sentava, deixando uma fresta na toalha, para que todos vissem mesmo. Qualquer um deduzia o quanto eu era aberto, e o quanto devia gostar da coisa, só de me ver ao lado daquele caralho propositadamente exposto. Exatamente como, aliás, nós estávamos naquele momento.

– Não é todo dia que alguém fica de quatro levando ferro de uma fila de trinta caras. Isso não é comum aqui.

– Não foram nada de trinta! – me exaltei.

Ele caiu na gargalhada.

– Vinte.

Fiquei sem ação. Trinta eu sabia que não havia sido. Vinte também me parecia exagerado, mas, sei lá, podia até ser. Não tinha ideia de quantos me tinham fudido.

– Uma porrada; pronto. Não importa se foram quinze, dezoito. Deve ter sido por isso que o viadinho me chamou de corno – esvaziou a garrafinha num gole. – Foi um sucesso, de qualquer jeito. Não falam em outra coisa.

Olhei para os lados, receoso.

– Todo mundo aqui em volta sabe; na sauna inteira. Hoje você é o maior puto que essa sauna já viu.

E repetiu:

– Não falam de outra coisa.

Se pudesse, eu me escondia sob a mesa. Ele estourou numa gargalhada:

– Deixa de ser babaca, Flavinho!

Ele me fizera de bobo. Eu estava mesmo com cara de bobo.

– Você acha que alguém aqui tá interessado em quantas vezes você deu ou deixou de dar? Playboy, você não é nenhuma estrela – olhou e me deu uma piscadela. – Mas é muito gostosinho.

– Você me assustou.

– Eu vi... – sorriu. – Claro que me contaram. Sabem que você tá comigo. E é capaz que quem te fudeu passe pra um ou outro, até te apontem. Mas nada sério. Não é comum uma fila dessas aqui, mas viado dando pra um monte numa tarde não tem nada de novo. Agora vai lá; pega outra cerveja pra mim. Se ele perguntar se é na conta do teu macho, diz que é na tua. Eu que paguei da outra vez.

Fui logo falando, assim que retornei e me sentava:

– Você ficou chateado? É que eu tinha bebido...

Ele fez um ar sacana, enquanto girava a tampa para abrir a garrafa.

– Essa é a desculpa mais velha que existe, meu doce. Muito cara diz isso depois que perde o cabaço.

Tomou o primeiro gole.

– Mas eu não to nem um pouco chateado. Por que ia estar? Relaxa, Flavinho. Não sou egoísta, já te disse.

– Você me deixou sozinho aqui, aí eu...

Estava tão claro que ele não dava muita importância à história que nem terminei a frase.

– Além do mais, cu de bêbado não tem dono – sorriu, acenando para alguém que passava. – E, no teu caso, além de bêbado, tava jogado sem teu dono.

Estremeci por dentro com aquela última frase. Ele nem me olhou, como se não se desse conta do que tinha dito. Levantei-me, rapidamente, com a desculpa de que ia pegar uma cerveja pra mim.

Quando me aproximava do balcão, olhei para trás e me certifiquei que ele continuava de costas, de frente para as outras mesas, olhando o movimento. Desviei e desci as escadas. No andar das saunas, havia um lavabo minúsculo, um cubículo muito desconfortável, mas que tinha trinco.

Entrei, fechei a porta e apoiei a toalha nos ombros. Meu coração batia forte. Peguei meu pinto e comecei a massageá-lo, sofregamente.

É curioso como algumas pequenas coisas, talvez num efeito gota d’água, são capazes de mexer conosco mais do que aquelas que se apresentam grandiosas, ou expressas, anunciadas. Adair já falara ou agira de maneira mais incisiva do que aquela. Já dissera antes, inclusive, que era meu dono, mas minha atenção se desviara porque, em seguida, me chamara de “namoradinho”.

Dessa vez, aquela palavra me acertara em cheio. Talvez até pela displicência com que fora pronunciada: como a de um fato consumado, uma verdade que, de tão notória, nem merecia muita atenção. Ali dentro, ele se considerava, e era mesmo, dono de mim. Até hoje, sinto uma pontada no meio do peito quando me lembro daqueles momentos.

Desisti de tentar me masturbar. Estava nervoso demais pra isso. O pinto não subia, apesar de eu estar sozinho e procurar me concentrar, como fazia em casa, após chegar de uma foda. Tornei a subir.

– Foram fabricar a cerveja?

Com sua pergunta, me dei conta que não trouxera cerveja alguma. Ele se virou, me vendo de mãos abanando.

– Aproveita e pega outra pra mim, também – e nem pensou em perguntar o que, afinal, eu tinha ido fazer.

Na cabine, ele me possuiu magistralmente, como sempre. Mas, com ele dentro de mim, tive uma sensação que agora parecia nova: estava sendo usado pelo cara que tinha acabado de dizer que era dono de mim, sem fazer qualquer auê por conta disso. Não era mais simplesmente aquela sensação comum a todo passivo quando é penetrado, de pertencer ao outro pelo fato de o corpo estar sob a posse do macho naquele momento. Também não era uma fantasia minha; um pensamento unilateral de quem se deixa levar pelo êxtase de estar tomando no cu.

Era real; era verdadeiro, concreto: a consequência natural por pertencer a outro homem – maior, mais seguro, viril. Esse cara me fudia me considerando propriedade dele – ao menos, ali naquele universo da sauna – e eu me sentia sendo mesmo sua propriedade. Naquela foda, ele mais uma vez tirava prazer do meu corpo, mas dessa vez meu maior prazer era o de sentir, finalmente, que estava no lugar certo.

Separamo-nos após a trepada. Fui para a sauna seca. Havia uns oito caras, além de mim; não estava vazia. Mesmo assim, um sujeito magro e alto, daqueles com barriga tipo azeitona, levantou a toalha e ostensivamente ficou se punhetando pra mim. Os outros agiram como se nada acontecesse, mas um infeliz passou a observar atentamente, como se quisesse tomar o meu lugar.

O macho fez um sinal com a cabeça e levantou-se. Encontrei-o do lado de fora. Fui à frente e, quando ia entrar no corredor para levá-lo à cabine, ele cutucou de leve o meu braço e pegou a dianteira, subindo as escadas. Eu o segui até o quarto-escuro em forma de labirinto. Lá, me agarrou, beijou meus peitos e me perguntou se eu tinha camisinha – foi a única frase que ouvi de sua boca. Eu entreguei uma e ele praticamente arrancou minha toalha, me entregando para que eu a segurasse, junto com os outros preservativos. Virou-me de costas e começou a me sarrar, acariciando todo o meu corpo. Senti na bunda o calor do seu pau duraço. Tentou me punhetar, mas logo desistiu, e vestiu a camisinha com rapidez. Fudeu ali mesmo, de pé, respirando muito forte o tempo todo, até gozar. Não demorou muito pra sair, sem dizer qualquer palavra.

Reencontrei Adair um bom tempo depois, no bar do primeiro andar, entretido com um prato de salgadinhos, numa mesa com um coroa que não era Garcia.

– Vem cá, meu doce.

Pôs o braço transversal à minha bunda, mantendo-me de pé a seu lado, frente ao outro homem. Eu já me acostumara com esse modo dele. Já não me envergonhava tanto de ser exibido assim.

– Você tá molhado – observou, acariciando minha pele úmida.

– É que eu saí da sauna a vapor. To até cansado; fiquei um tempão lá.

Ele me apresentou ao sujeito que, após eu sentar e conversarem um pouco, foi embora.

– Não sei como você não come. Sauna não te dá fome, não?

Balancei a cabeça, negativamente, sorrindo.

– Teu cara taí. Ali, ó – apontou com o salgadinho.

Era o gostosão bronzeado, sentado numa mesa com mais três coroas.

– Eu vi que você tá de olho nele. Gosta de um marombado? É difícil ver um por aqui. Esse tá sempre.

– Você conhece ele?

– Não. Não faz meu tipo – fez uma pausa. – E, na verdade, nem o teu.

Não entendi o que ele quis dizer.

– É passivo; passivão mesmo – e emendou: – Pega umas cervejas lá pra gente, meu doce. Juro que a próxima eu pego.

Trouxe um copo de refresco pra mim e lhe entreguei a cerveja.

– Você não tem a menor chance com ele – fez uma pausa. – Bom, a não ser que resolva curtir uma diferente.

Fiz uma careta.

– Mas ele tem um corpo bonito, bem tesudo. Quem sabe você não consegue que ele te coma? Difícil, mas gostoso como você é, quem sabe...

– Nem assim. Não transo com quem é passivo; você sabe disso.

– Pelo menos quem não é na sua frente, né, playboy?

Riu. Eu desarmei a cara e ri também.

– Mas nem sempre precisa de penetração – ele insistiu. – Pra mim, foda tem que ter meteção, você tá careca de saber. Nem com mamada eu chamo de foda; tem que ter meu pau no cu. Mas muita gente se amarra. Ficam só nas... preliminares. Imagina você lambendo aquele corpo todinho.

– Para, Adair...!

– Olha lá, aquele peito dele... Todo depilado, mamilos grandes...

Falei de supetão:

– Pra mim, transar com outro passivo é humi... – interrompi.

Esvaziei o copo, pra disfarçar.

– Fala.

Olhei em volta, como se não fosse comigo.

– Fala, Flavinho. Continua o que você ia dizer. Eu quero escutar.

Permaneci calado. Ele não deu importância. Ao contrário, agiu como se eu tivesse completado:

– E não foi humilhante quando eu te pus pra fazer um agrado nos meus colhões, quando eu comia aqueles dois na cabine?

Hesitei, mas respondi:

– Foi.

– Mesmo assim você gostou. Gostou de lamber os ovos do teu macho enquanto ele fudia outro. Gostou, e gostou muito.

– Tá. Eu gostei. Não dá pra esconder nada mesmo.

– E também gostou de lamber o cu do outro, depois de eu ter acabado de tirar a pica. Lambeu com gosto o passivão.

Fiquei em silêncio.

– Também humilha qualquer um. Mas você gostou.

Ele me encarava, mas seu tom não era ameaçador. Eu tentava me esconder do seu olhar.

– Você gosta disso.

Eu quis fugir dali. Desviei o assunto para o caso específico do cu do outro:

– Foi. Foi com gosto. Mas porque você mandou.

– Então... Se eu mandar você... – sorriu, aceitando meu desvio.

Completou, enfatizando as palavras, com deboche:

– ...você “fazer amor” com uma passiva você também vai fazer com gosto. Porque eu vou tá mandando, não é isso? Ainda mais com aquela ali, que você gostou.

Eu estava mais uma vez perplexo com ele, que deu um novo tiro:

– Você não sabe que todo homem tem a fantasia de ver duas mulheres se pegando? Então... É isso.

Foi a primeira vez que ele me associou a uma mulher. Depois, em outras ocasiões, ainda faria isso, embora sempre timidamente, sem desenvolver o assunto. Creio que foram as únicas vezes que o vi sendo tímido comigo. Sabia que isso ia me incomodar, mas de vez em quando jogava uma dessas.

– Você quer mesmo me ver com ele? Não te entendo.

– Já expliquei. Sou homem; tenho minhas fantasias. Dá tesão; quero ficar olhando vocês. Mas não vai ser hoje – mudou o tom: – Deixa que eu armo isso. Ele curte mais coroa, do tipo barrigudo, paizão. Pra eu chegar nele e te botar na fita vai ter que ter uns cuidados. Mas, fica tranquilo: eu conheço uns coroas que comem ele.

Virou-se pra mim e arrastou a cadeira para bem perto da mesa.

– Tem outra coisa.

Olhei, atento.

– Vou querer que você faça uma outra coisa. Você não vai gostar muito, mas eu quero.

– O que? – perguntei, atento.

– O Garcia.

– Mas eu concordei em dar pra ele. Ele quem não quis.

– Não quis, mas vai querer. To te vendendo pra ele e vai chegar uma hora que vai rolar. Aquele velho tem que gozar; tem que meter, caralho. Ele fica por aí rodando; vai pro quarto escuro só dedando os caras, pondo aquele cacete meia-bomba pra mamarem e não dá em nada.

Era curioso como ele assumia um tom revoltado quando falava da situação de Garcia. Devia realmente gostar muito dele.

– Ele vai te comer e você vai dar gostoso pra ele. Mas tem uma coisa.

– O que?

– Sem camisinha.

Gelei.

– Eu não transo sem camisinha.

– Eu sei. Mas com ele você vai transar.

– Não vou.

– Vai. Vai porque se não for assim não vai dar certo. E aí vai ser pior ainda.

– Adair, não me pede isso. Eu não vou fazer isso.

– Vai, sim. Vai, porque eu to mandando, e você sabe que pode confiar em mim. Você sabe o quanto eu te quero. Não ia te pôr numa roubada. Se você conseguir endurecer o pau do Garcia e ele tiver que parar pra colocar camisinha, ele vai broxar. E aí, fudeu de vez. Por isso, você vai deixar ele te meter sem capa.

– Adair...

– Ele não vai gozar em você. Isso eu te garanto. Não to te mandando deixar ele gozar dentro.

Olhei para ele, mais condescendente, mas ainda assim contrariado. Eu entendia porque ele estava me pedindo aquilo; compreendia a situação. Mas ele me pedia algo além da conta, por mais que eu quisesse agradá-lo.

– O Garcia não entra num cu há quase um ano, Flavinho. E ele sempre usou camisinha; sempre se protegeu. Esse coroa vive no médico; faz exame toda hora. Não tem cara mais seguro pra você dar sem camisinha do que ele. E olha que nem to mandando você deixar ele gozar dentro.

Eu ponderava. Sorri. Era bonito ver como ele queria ajudar o amigo.

– Faz isso por mim? Faz isso pelo teu macho, playboy.

Eu assenti, finalmente. Abriu aquele sorriso largo, lindo, que ele tinha.

Ir à sauna aos domingos passou a ser uma rotina, como já era para Adair. Eu passava a semana inteira ansiando por estar lá, novamente, com ele. Não ia mais aos banheiros de pegação; não procurava mais: tudo o que eu queria, que eu precisava, estava naquele lugar, com Adair.

Não era um namoro. Nós só nos víamos lá, e em nenhum outro lugar ou dia. Depois de mais algumas vezes, sequer nos comunicávamos durante a semana para marcar, porque não era mais necessário. Eu quase não falava da minha vida; ele um pouco mais: da modorra e de seu desânimo com o trabalho; dos problemas de Adaílson, o filho, às voltas com a mulher grávida e com as outras duas ex-mulheres; das peripécias de médicos e exames da mãe dele...

Também não era amizade, porque com amigo não se trepa. E também não era mera sacanagem, porque havia um compromisso entre nós, embora eu notasse como esse compromisso às vezes era meio difuso.

Acabou se tornando um hábito, por exemplo, pegarmos cabines diferentes, como ocorrera por acaso aquela vez. E, quando ele furou em uns dois domingos, não se sentiu obrigado a me avisar nem a dar qualquer satisfação, depois. Mas, salvo por algum incidente, eu era sempre o primeiro que ele pegava – e era evidente que ele fazia questão disso. Também era comigo, e só comigo, que ele gozava: não houve uma vez sequer que a última metida não fosse em mim e que eu não visse, extasiado, ele jogar de lado a camisinha cheia.

Ficamos assim bem uns três meses. Ele me comia e depois me dispensava, dizendo para eu “ir brincar”. Então, eu me entregava a algum outro, de vez em quando mais de um. Às vezes, era só uma mamada; em outras, uma foda completa. E também rolava de alternar uma coisa com a outra.

No meio da tarde, me chamava para uma nova foda.

– Acabou o recreio – dizia, já me levando para um novo abate.

E aí me punha na cabine e me metia gostoso. Às vezes, a sós. Mas, na maioria das vezes, começava com a porta aberta até aparecer alguém. Ele deixava o cara entrar. Gostava de me ver sendo comido. Ficava de lado, apreciando, depois de me chamar de “namorado” na frente do outro. Era um fetiche; eu não levava a sério, claro. Depois, ia se chegando, começava a acariciar o sujeito, elogiava o modo como estava me comendo.

Então, invariavelmente punha o cara para mamá-lo ou fazia com que o outrora comedor fosse humilhado na minha frente, metendo o cacete nele. Era explícita essa sua intenção, bem como a de exibir-se pra mim. Isso me excitava – e muito.

Com boa parte dos caras ele não conseguia chegar a esse ponto – acho que mais pelo temor que seu caralho inspirava do que por qualquer outra coisa. Mas a mamada era obrigatória, e longe de ser uma tarefa difícil de ser conquistada. Não havia quem resistisse a provar daquele cacete; em alguns eu via o olhar ansioso para tocá-lo. Às vezes, Adair era compreensivo e fechava a porta nessa hora, para que o coitado conseguisse se liberar sem o temor de ser pego em flagrante.

Fazíamos a três, a quatro. Ele me exibia, me oferecia, orgulhoso. Muitas vezes, era uma sucessão de dois ou três caras: entrava um, comia, depois mamava ou dava, e ia embora; depois de um tempo, entrava outro.

Após isso, ele me deixava e partia para novas conquistas. Eu, geralmente, me limitava a fazer sauna e a relaxar no bar, para ir me recuperando. Algumas vezes fiz alguma coisa com outro, mas era raro. No fim, me dava mais umas caralhadas para liberar o esperma. E eu seguia pra casa feliz, após deixá-lo no terminal de ônibus.

Até que, finalmente, houve um domingo em que ele conseguiu que Garcia chegasse a uma ereção e me comesse. Aí, então, as coisas mudaram muito entre nós.

***

Este conto teve início com o texto “Admirando o calibre de Adair”.

Entre os dois, a história se desenrola, em ordem cronológica, nos seguintes textos:

- “No hotel, com Adair”.

- “O preço para ter Adair”

- “Guiado por Adair”

- “O desafio de Adair”

- “Exposto por Adair”

- “Sob o teste de Adair”

- “Entendendo Adair”

- “Entregue a Adair”

- “Presença de Adair”

- “Além de Adair”

Os links para cada um dos textos estão na página do meu perfil de autor, em

http://www.casadoscontos.com.br/perfil/160138

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Comentários

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Não posso acreditar que esse conto tenha parado aqui!

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Estou ansioso demais esperando o próximo, pra poder ler mais desse conto 😬😬😬😬

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10 como sempre, mas quero ver q mudança eh essa aí, hein

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Dos que eu li até agora achei esse o mais tesudo e praticamente não tem cenas de sexo! Quanto ao Garcia sinceramente não acredito que vc tenha trocado o Adair por ele. Faça-me o favor! Mas vamos ver, a vida dá voltas. De resto só parabéns por essa história maravilhosa e excitante que você está tendo a generosidade de compartilhar conosco!

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Com o Garcia nãããããooooooooooooooo! Queremos Adair! Adair! Adair! Adair!

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Huuum, será que você se apaixonará pelo Garcia? Seria interessante se o Garcia se recuperasse do problema de ereção contigo e vocês se firmassem. Um abraço carinhoso,

Plutão

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Toda vez que eu leio um capítulo novo eu fico surpreso com o erotismo dessa história. Parece que o repertório de putarias não tem fim!!!!!! E agora ansioso para ver que caminho vai tomar. Não demora a postar a contiunuação, ok?

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eu kero o adair pra mim, eu queroooooooooooooooooooooooooooooooooooo

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