ENTRE PRIMOS - PARTE 07

Um conto erótico de Lord D.
Categoria: Homossexual
Contém 2757 palavras
Data: 21/01/2016 13:59:32
Última revisão: 28/01/2016 14:39:50

7. ÁGUAS PASSADAS...

- Henrique! – Giuliano pronunciou seu nome fazendo uma longa emocionada pausa.

- Giu! – o ruivo pulou nos braços do meu primo, quase me atropelando.

- Mas... Como?... Quando? – Giuliano gaguejava, enquanto outro o apertava, pendurado sem eu pescoço.

- Calma, que nós vamos ter tempo para tudo – Henrique disse, acariciando o seu rosto.

Discretamente a minha vó me puxou pelo braço e nos levou para o meu quarto. Eu obedeci sem protestar. Estava em choque diante daquela cena. Mal havia processado o que ele me dissera, e logo em seguida tomo um tombo daqueles.

No quarto, minha avó me fez sentar na quina da cama, enquanto ela, de pé, me observava, esperando o que ela parecia já saber que eu ia perguntar.

- O que foi isso que acabei de presenciar? – eu comecei a falar, depois de um breve silêncio.

- Aquele é o Henrique, que eu havia falado para você

- Eu sei! – falei com a agressividade, para o espanto dela. – Achei que a senhora estava do meu lado?

- E por que pensa agora diferente?

- Como por quê? A senhora entra no quarto de Giuliano trazendo aquele fulano a tiracolo, com um sorriso de um canto da boca ao outro, e ainda quer saber o que me fez mudar de ideia.

- Se interessa você saber, Benjamim, eu gosto muito de Henrique – vovó Elisa se defendeu – Ele é um excelente rapaz e fez Giuliano muito feliz durante o tempo que estiveram juntos.

- Viu? É disso que estou falando – eu retruquei. – Pensei que a senhora queria que eu Giuliano ficássemos juntos.

- O que eu mais quero é que vocês sejam felizes, juntos ou separado – ela arguiu.

- A senhora sabe muito bem que eu não vou ser feliz, ficando afastado dele.

- Não sei, meu neto – vovó Elisa se sentou ao meu lado. – Até agora não vi nenhuma demonstração de sua parte.

- A senhora vai defender o Giuliano agora? – levantei da cama bruscamente. – Sabe o que ele fez ontem comigo?

- Não sei – ela respondeu com paciência.

- Pois eu conto – minhas lágrimas já começavam a brotar dos olhos. – Ele me usou! Fez com que que pensasse que me amava, e depois me largou com se eu fosse um objeto velho, passível de descarte.

- E você não fez algo parecido com isso, no passado? – vovó Elisa não me dava apoio.

- As circunstância são bem diferentes – alterei o tom de voz.

- Benjamim, não quero julgar ninguém. Mas entenda uma coisa: Giuliano se entregou totalmente a você, e se empenhou tanto para provar que te amava. Responda a tudo que ele fez no passado por você. Ou desista e vá para casa vive a vida que sua mãe idealizou para você. Enquanto não decidi o que quer de verdade, só vai ferir o Giuliano, e principalmente você.

- Mas, vó... – baixei a cabeça.

- Uma vida cheia de arrependimentos, assombrada por “e se eu”, é uma vida cheia de amargura – ela completou. – É isso que você deseja para si?

- Não – respondi com um choramingo.

- Então limpe essas lágrimas e mostre ao Giuliano que vocês ainda têm muita coisa ainda para viver juntos.

- A senhora acha que posso reconquistar o amor dele?

- Claro que sim – vovó Elisa me abraçou – Mas você precisa jogar limpo. Seja sincero e fraco consigo e com ele.

- Mas e o Henrique?

- Quem disse que as coisas seriam fáceis? – e com essa frase de efeito, vovó Elisa saiu.

A solidão me fez repensar as minhas atitudes. Era verdade, eu não dei um passo que mostrasse para Giuliano que eu queria reconstruir aquilo que começamos quando crianças.

Passei horas a fio encarando o teto do meu quarto, ponderando sobre tudo que havia acontecido, até que resolvi descer um pouco. Apesar de temer encontrar um casalzinho romântico contando histórias, eu tinha que dar um passo de coragem.

Desci as escadas sentindo alívio a cada cômodo vazio que eu encontrava. Fui até a cozinha tomar um pouco de água, e lá também não havia ninguém. Abri a geladeira e retirei uma garrafa com água, e tamanha foi a minha surpresa, quando fechei a porta e bati os olhos em Henrique, que estava recostado na lateral da geladeira.

- Ai, que susto? – tremi um pouco diante de sua súbita presença.

- Desculpe – ele pediu sem sinceridade.

- Boa noite – eu desejei sem graça. – Você é o Henrique, certo?

- Sou eu mesmo – ele responde, sem manifestar qualquer intenção de estender a mão para o cumprimento formal.

- Prazer, Henrique, meu eu sou o...

- Eu sei quem é você – ele me interrompeu. – É o priminho do Giuliano, Benjamim. Ele me falou TUDO ao seu respeito. Na verdade, acabei enjoando o seu nome de tanto ouvi-lo – Henrique soltou a gargalhada mais falsa que eu já ouvira, como se quisesse fingir que estava fingindo ter feito uma piada.

- Engraçado, ele nunca mencionou o seu nome – eu disse com o mesmo tom do meu rival.

- E como poderia, se faz dez anos que vocês não se falam – Henrique me derrubou mais uma vez. – Não lembro direito o motivo do afastamento... Ah, sim! Você é mal resolvido com sua sexualidade.

- Escuta aqui, Henrique...

- Você está aqui! – Giuliano entrou na cozinha, interrompendo o palavrão que eu ia soltar.

- Eu e Benjamim estávamos conversando um pouco – Henrique se fez de doce. – Aliás, ele dizer alguma coisa para mim, e sua entrada o atrapalhou.

Giuliano me olhou com indagação, mas eu sabia que não podia dizer realmente o que eu pensava, muito menos fazer qualquer menção sobre é como era o seu querido Henrique pelas costas.

- Eu ia dizer apenas que eu não sabia que ele era tão próximo da minha avó, ao ponto chegar de surpresa.

Henrique deu uma gargalhada jocosa, mas Giuliano franziu a testa me olhando com repreensão.

- Dona Elisa já me considerava como genro – Henrique disse. – É claro que eu posso mudar o tempo verbal para o presente – ele olhou para Giuliano, que forçou um risinho amarelo.

Lancei um olhar para Giuliano, que perguntava se era aquilo que ele também queria. Ele apenas desviou os olhos, seu desconforto em me encarar era nítido.

- Bom, eu vou deixá-los a sós – disse, saindo da cozinha.

- Foi um prazer conhecê-lo, primo do Giuliano – Henrique inclinou a cabeça discretamente.

Não ofereci como resposta para ele, mais do que um sutil erguer de sobrancelhas. Assim que deixei a cozinha, já subindo as escadas, ouvi uma gargalhada estridente de Henrique. Provavelmente estavam se divertindo as minhas custas.

Levantei muito cedo no dia seguinte, pois acordado eu fiquei a noite inteira. Fiquei me perguntando dentre muitas coisas, se Henrique havia dormido com Giuliano, e os dois decididos que iam reatar. A ideia de que passaram a noite fazendo amor me atormentava, principalmente, por ter certeza que Giuliano não o teria tratado como fez comigo na nossa noite. Henrique, encontrara então o meu Giuliano, que deixei para trás.

Desci para a cozinha, onde na noite anterior conheci o lado oculto de Henrique. Era tão cedo que nem mesmo Rosa havia se levantado. Então fiz um café bem encorpado, antes de começar a preparar umas panquecas. Naquele silêncio, já sentindo os primeiros cantos da manhã senti uma paz maravilhosa. Era daquilo que eu precisava. Estava tão concentrado nas panquecas, que nem percebi quando ele entrou.

- Já estou sentindo o cheiro delicioso do seu café, Rosa. – Giuliano veio até a cozinha só de cueca. – Ah, desculpa. Achei que fosse...

- Por favor, fique – pedi, quando percebi que ele recuara.

- Eu realmente achei que fosse a Rosa – ele tentou justificar. – Achei que ela tivesse adivinhado que eu ia sair bem cedo hoje, e resolveu antecipar o café.

- Senta! Eu sirvo café para você – peguei u bule.

- Não precisa se incomodar, eu como alguma coisa no caminho.

- Giuliano, eu sei que você me odeia e sente um profundo asco por mim, mas pode ficar tranquilo que o café não está envenenado – eu disse.

- Que é isso! Também não é assim – ele se defendeu.

- Se não é, fique – eu estava quase implorando. Tentando colocar os conselhos da minha avó em prática.

Ele sentou-se, enquanto eu enchia uma xícara generosamente com um café fumegante. Em seguida, servi-lhe de uma das minhas panquecas, embebedadas com mel. Para minha alegria, ele comeu com muita fome, e expressando que estavam saborosas.

- Estava tudo ótimo – agradeceu Giuliano, limpando a boca depois de devorar a terceira panqueca.

- Mas só as panquecas vão bem – eu aproveitei a oportunidade.

Percebendo a minha intenção, Giuliano logo ficou na defensiva:

- Benjamim, eu não quero mais falar sobre isso – ele foi incisivo – Esse assunto já deu para nós dois.

- Tudo bem, não falamos mais no passado, desde que você faça um acordo comigo.

- Que acordo?

- Estou cansado dessa situação, e sei que você também está – comecei – Nós já provamos de feridas bem dolorosas, mas insistimos em fazer mais, em vez de tratar as que já temos. Giuliano se você não pode deixar de me odiar, então pelos menos vamos conviver em paz. Não é muito o que eu te peço. Logo eu terei ido embora e você poderá ser feliz com Henrique. Estará livre da minha presença para sempre.

- Eu não odeio você – Giuliano afirmou, mas sua voz era uma miséria.

Imaginei que ele havia feito um esforço danado para dizer aquilo.

- Eu fui um animal naquela noite – ele continuou. – Nunca fiz aquilo com ninguém. Mas a minha raiva e mágoa eram tão grande, que agi por um impulso. Eu queria que você sentisse o que ser tratado como algo qualquer.

- Éramos crianças! O que poderia ter feito naquele momento? Que forças eu tinha para ir contra a minha mãe?

- Tem toda razão – ele parecia ter entendido – Sabia que naquele momento você não poderia fazer quase nada, mas e depois? Depois que os anos te deram maturidade? Todos os dias, desde que você foi embora, por muitos anos, fiquei a espera de uma carta que nunca veio. Nenhuma notícia, nenhum sinal de vida. Foi muito difícil sufocar tanto amor. Mas eu consegui. Isso me fez ser forte.

- Faz alguma diferença eu te pedir perdão?

- Não! – Giuliano foi imperativo.

- Mas eu vou pedir mesmo assim – disse segurando em suas mãos, que trêmulas e frias, tentaram resistir, mas eu as domei.

- Perdoe-me por ter sido covarde! Perdoe-me por não ter retribuído o seu amor na intensidade que ele merecia! Perdoe-me por ter causado tanta a dor a você, quando eu poderia oferecer o calor dos meus braços! E obrigado por ter me amado com tanta dedicação.

Eu era um jorro de lágrimas. Giuliano também não conseguiu evitar que algumas gotas escorressem de seu rosto, fazendo lindo fios prateados pelo seu rosto meio imberbe.

Beijei suas mãos demoradamente, e ele não resistiu, contudo as soltou assim que ouviu uma voz familiarmente inconveniente se aproximar.

- Ah, você está aqui – Henrique nos olhou desconfiado, se postando atrás de Giuliano, fazendo uma massagem em suas costas nuas. Ele estava vestido para sair.

Levantei e fui para pia lavar nossos copos. Não queria olhar para a cara de Henrique e muito menos que ele olhasse para minha.

- Dormiu bem? – Giuliano perguntou para ele.

- Como um anjo – Henrique disse derretendo a voz. – Pela modulação da voz, supus que ele havia inclinado o corpo para abraçar Giuliano.

- Tá com fome? Benjamim fez panquecas maravilhosas.

- Adoro panquecas – Henrique bateu palminhas, e sem cerimônia se serviu da forma como queria.

Fiquei de costas o tempo todo lavando um copo com tanta dedicação, que acho que ele já estava invisível de tão limpo.

- Você vai sair, Giu? – Henrique perguntou, com a voz cheia de comida.

- Eu estou vacinando o gado da região contra febre aftosa – ele respondeu. – Tenho muitas fazendas para visitar hoje.

- Posso ir com você? – Henrique falou com uma voz melosa. – Prometo que vou ser um bom menino, e vou te obedecer em tudo.

Giuliano deu um risinho desanimado antes de dizer:

- É um trabalho muito cansativo, Henrique e provavelmente vai ficar entediado.

- Vê-lo suado, se esforçando, e em algum momento sem camisa, não vai ser nada tedioso.

Quebrei o copo na minha mão depois de ouvir aquilo. Esse Henrique era uma vadiazinha descarada. Que coisa mais apelativa e ridícula o que ele estava fazendo.

- Merda! – xinguei vendo minha mão cheia de sangue.

- O que foi? Você se machucou? – Giuliano foi até mim, pela primeira vez, desde que nos reencontramos, com o semblante preocupado.

- Pus muita força no copo, e ele se partiu. – tentei esconder a minha mão.

- Deixa eu ver – Giuliano pediu a minha mão.

- Não precisa! – falei um pouco agressivo, mas abrandei o tom, antes prosseguir: - Está tudo bem.

Contudo meu primo mesmo pegou minha mão e a examinou.

- Henrique pega maleta branca lá no meu quarto, tem material de curativo – Giuliano pediu.

Ele obedeceu ao meu primo com certa relutância.

- Giuliano, isso é um corte simples – eu falei.

- Fica calado, enquanto eu retiro os estilhaços – ele pôs minha mão de baixo do jato de água da torneira, e foi lavando com cuidado, retirando uns pedacinhos de vidro.

Logo o Henrique voltou a maleta solicitada. Giuliano limpou o ferimento com água oxigenada e começou a enrolá-la fazendo um curativo bem seguro. Eu observava sua dedicação em cuidar do meu corte. Não tive como não lembrar de como ele se feriu os espelhos do casarão abandonado, quando éramos crianças e eu não prestei socorro.

- Bom, por hora isso é o suficiente – ele disse guardando os materiais, e sem me olhar. – Vou me vestir, pois já estou atrasado.

Ele me deu as costas, e pude contemplar sua bela bunda dentro de uma cueca branca de tecido um pouco transparente.

- Fica tranquilo – Henrique me despertou do meu transe. – O seu corte não vai infeccionar, já que Giuliano é um excelente veterinário.

- O que você disse? – meu sangue ferveu.

- Que Giuliano cuida bem dos animais – Henrique arqueou a sobrancelha em desafio.

- Talvez tenha sido por isso que você veio correndo para cá, a procura de uma consulta particular. – eu mandei de volta.

- Vamos deixar uma coisa bem clara, Benjamim – Henrique me chamava pelo nome pela primeira vez. – Você não tem a menor chance com Giuliano. Ele não vai te perdoar nunca. O próprio Giuliano me disse isso. Sabia que nós estamos de plano a reatar? Agora se eu fosse você sumia daqui logo, pois vai ser constrangedor ver sua cara de decepção.

- Engraçado, até agora não vi nenhum sinal verde da parte dele – respondi.

- Você quer um sinal? Vou te dar um!

Giuliano voltou já arrumado para sair.

- Vamos? – ele chamou Henrique.

- Claro, amor – Henrique disse, enlaçando o pescoço do meu primo com os braços, e lhe dando um beijo repentino. Percebi o espanto com que Giuliano recebeu o beijo, mas ele não interrompeu, deixou que o próprio Henrique finalizasse.

- Então, Benjamim, como eu estava te dizendo, depois eu te empresto aquele filme “Sinais”, é um clássico. Tenho certeza que você vai adorar.

Giuliano nos olhou sem entender bem, mas não deu bola. Os dois saíram, com Henrique com braço enlaçado no do meu primo.

Então era isso. Game Over. Os dois estavam juntos. Tudo parecia estava perdido.

Quando ouvi o carro de Giuliano saindo, caí em um choro compulsivo. Sentia meu peito arder como se meu coração estivesse sendo esmagado por uma mão de ferro. Fui para o meu quarto e isolei-me de todos por quase toda manhã, até que a minha avó veio falar comigo. Já estava perto do meio-dia.

- As coisas não andam nada bem – eu disse para ela, já com os olhos vermelhos e ardidos de tanto chorar. – Não tenho mais esperança.

- Essa é a parte mais difícil – minha vó sentou-se ao meu lado, fazendo um carinho na minha perna. – Mas para que uma ferida se cure, é preciso que ela seja bem limpa, e é inevitável que não se sinta dor. As cicatrizem deixam marcas, mas marcas que já não doem mais.

- Obrigado, vó, por tudo – eu levantei e abracei.

Neste momento percebi que ela não estava bem. Seu coração estava muito agitado, e seus olhos haviam sido preenchidos de tristezas.

- O que aconteceu? – perguntei – A senhora está sentido alguma dor?

- Sim – ela disse cheia de lágrimas. – Na alma. Acabei de falar com seu tio Hélio, e ele me disse que não vai vir para o Natal. De sua mãe nem espero qualquer consideração a essa altura. Não queria chegar ao final da minha sendo ignorada pelos meus filhos.

- Eu estou aqui com a senhora, e daqui não saio – a abracei mais forte.

- Queria tanto... eu só queria que você e Giuliano se entendesse antes de eu... – minha vó disse isso, seu corpo foi desfalecendo em meus braços.

- Vó? – chamei.

Ela não respondeu, e sua respiração estava fraca.

- VÓ?!!!!! – gritei desesperado.

CONTINUA...

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