O mistério Debs 1

Um conto erótico de Júlia
Categoria: Homossexual
Contém 1756 palavras
Data: 22/11/2015 11:33:03
Última revisão: 22/11/2015 11:48:35

- Não vai atender? - Igor tinha acabado de sentar no sofá e colocar meus pés que estavam lá, encima das pernas dele. Ele balançou o celular, que tocava pela…4º vez.

- É Arthur – falei.

- Eu sei.

Fez-se um silêncio quando o celular parou de tocar e ficamos ouvindo as vozes dos personagens do filme que eu nem sabia o nome.

E lá o celular toca de novo. Igor olha pra mim e eu balanço a cabeça, negando. Ele arqueou as sobrancelhas e atendeu, tentei bater nele, mas ele foi mais rápido.

-Oi Arthur – pausa – tá, tá sim, ela tá no banho – pausa – ah – pausa – sair…? Vai sim, ela até pediu pra eu te avisar, mas acabei esquecendo… - pausa – tá, cara. Acho que ela não vai demorar muito não – pausa – pode sim – pausa - falou, cara.

- EU. NÃO. VOU.

-Ah, vai. Júlia você está quase virando um móvel dessa sala – tentei não rir, joguei um travesseiro nele – vai tomar um banho, vai. Você tá com cara de ontem. Tua pele está transparente por falta de sol.

- O sol já se pôs.

- Cuida! Eu te dou cobertura quando a mamãe chegar.

Soltei um suspiro. Eu realmente não estava a fim de ir. Mas ele tinha razão, fazia bastante tempo que eu nem pisava do lado de fora do apartamento.

- O.k. Eu vou, se der algo errado, vou colocar a culpa em você!

- Nada mais justo. E se… Acontecer algo legal? - eu estava indo pra banheiro, tirei a blusa maior que eu e que ele juntos – Ganho R$ 20?

- Se me acontecer algo perto do legal te dou até o dobro.

Ele sorriu e eu entrei numa chuveirada sem fim, a água lavou meu corpo e minha alma.

Arthur chegou antes que eu estivesse pronta. Igor ficou conversando com ele. Coloquei uma calça jeans apertada e uma regata preta, amarrei o cabelo num rabo-de-cavalo e maquiagem básica.

- Pronto – os dois viraram pra mim.

- Caprichou heim, maninha – dei um beijo na cabeça dele e ele sussurrou – pra quem nem queria ir…

- Tchau...idiota.

Arthur abriu a porta e me deixou passar. O primo dele estava nos esperando lá embaixo, de carro.

Sabia que tínhamos chegado antes mesmo de realmente termos chegado, muitos carros, muita...gente.

O caminho não foi tão longo quanto eu esperei, estava ainda em processo de adaptação em relação a multidões. Pra quem estava num habitat onde a população eram 3 pessoas, uns minutos apenas não era o suficiente.

Quando chegamos à porta ele entregou os dois ingressos, o tal primo dele ficou atrás de uma vaga pra estacionar, o carinha da portaria nos deu pulseiras e carimbou os nossos ingressos com um “sábado” e devolveu. Depois que entramos perguntei pra Arthur o que significava aquilo.

- É que amanhã também terá, caso você queira vir... Aí é só usar o mesmo convite, entende?

Balancei a cabeça afirmando que entendi, mas mentalmente negando o convite indireto.

Lá era um espaço enorme o que significava muita gente. Tinha coisas pra vender, como camisas, gorros, brinquedos para colecionadores, tatuagens de hena, sala pra jogos, área de apresentações de danças, área de alimentação e o que antes era um vão, agora lotado de gente em frente a um palco onde tocava uma bandinha de rock.

- Teu primo…? - perguntei, puxando conversa.

- Não se preocupa, ele vai encontrar com alguns amigos. A escola que ele estuda é aqui ao lado, vai vir praticamente “todo mundo” – ele apontou.

- Ah…

- Quer beber algo?

- Sim, quero sim, o que você escolher.

Ele foi e se perdeu na multidão. Fiquei olhando pessoas, elas eram o suficiente para preencher as lacunas, então todos as propostas de entretenimento estavam sendo bem utilizadas. Eu olhava pra todo mundo, as pessoas paradas, as que passavam por mim, estava me sentindo meio perdida. Sentei em um banco solitário perto de uma árvore.

Tinha uma garota com o maior pacote de doritus já criado na mão, discutindo com dois garotos, sentados na grama. Eles falavam sobre depressão. Os dois garotos dizendo que era besteira, já ela dizia que era real, que existia e que era... Complicado. Eles falavam alto e ela gesticulava bastante, aquilo me prendeu a atenção. Era o tipo de conversa que eu gostaria de participar. Arthur logo chegou e sentou lá comigo. Tentou conversar, mas não dei muita brecha. Ficamos bebendo umas cervejas, e fomos dar uma volta pelo evento. Comecei a ficar um pouco melhor, mais animada. Ainda encontrei com dois amigos meus, nos cumprimentamos e eles logo saíram, estavam em casal. Fiz uma tatuagem de hena no meu braço esquerdo, uma rosa. Compramos mais algumas bebidas, ele me chamou pra ir pra perto do palco que o próximo show já começaria.

Curtimos um pouco, eu já estava mega animada. Até que alguém tocou no meu braço com a mão fria, virei. Era a garota do debate, do doritus.

- Posso falar com você um minuto? – ela falou no meu ouvido.

Olhei pra Arthur e ele me olhou de volta.

- Sim – respondi e não sei exatamente o que passou pela minha cabeça.

Ela andou pra lateral do palco, onde tinha poucas pessoas e a música um pouco mais baixa – um pouco, bem pouco -, fui atrás dela, ela parou e sorriu. Aproximou-se mais um pouco. Bastante, na verdade.

- É que eu quero ficar com você.

- Quê?

Parei.

Olhei pra ela, olhei mesmo. Branca pálida, cabelos pretos, shorts curto , uma blusa cinza grande e um nike cano médio branco.

- Eu disse que quero ficar com você – ela repetiu como se eu não tivesse escutado.

Me aproximei pra responder.

- É que eu gosto de... Meninos – recuei – não é preconceito, nem nada... Só, gosto de meninos.

Ela sorriu, simples. Ela era bonita e seu sorriso meio cativante e os olhos eram tão pretos que me intimidavam um pouco.

- Tudo bem. Entendi. Qual teu nome?

- Júlia.

Ela ia saindo, peguei no braço dela.

- E o teu?

- É Débora. Eu estudo aqui.

Ela deveria estar muito bêbada. Aqui? Aqui onde?

- Você está bem? – perguntei.

- Sim. Sim. Tô. Tô bem.

Ela falou meio rápido demais e dessa vez foi embora de verdade.

Voltei devagar pra onde estava antes.

- O que era? – Arthur perguntou como quem nada quer.

- Nada.

- Quer outra cerveja?

- Por favor.

Ele se perdeu pela segunda vez em meio à multidão e eu me perdi em meus pensamentos. Que garota mais... Atrevida. E o que diabos ela tinha? Estava estranha e não senti cheiro de álcool ou balinha de menta. Olhei ao redor, procurando alguma coisa. A música, de repente, me pareceu alta demais e eu me afastei um pouco. Precisava respirar. Nenhuma menina tinha peço pra ficar comigo até aquela noite, e foi justo daquele jeito... Era como engravidar na sua primeira noite de amor.

Fiquei sentada numa pedra grande, esperando. Não sei o quê, mas estava. Olhei meu celular uma, duas, três vezes. Olhava de um lado pra outro. Arthur voltou e me entregou uma cerveja. Tomei um gole atrás do outro.

- Tudo bem, Jully?

Arthur me olhava com as sobrancelhas franzidas.

- Sabe onde fica o banheiro?

Ele apontou a direção. Mil cabeças no caminho.

- Quer que eu vá com você? – ele se ofereceu.

Neguei com a cabeça e saí, antes que ele resolvesse realmente ir. Fui até o tal banheiro, mesmo sendo só uma desculpa pra sair. Não sabia exatamente o que estava fazendo. Fiquei andando e andando, subi escadas, desci, fui até a portaria e dei uma espiada pelos vidros das janelas. E buuum! Lá estava ela. Junto com os mesmos dois meninos da discussão e outras 4 pessoas. Eles estavam em pé mais ou menos no meio da pista, ela conversava com uma garota de cabelo curto e ruivo que a fazia sorrir uma hora ou outra. Fui até a porta e saí. Caminhei um pouco, mas ela não olhou e eu não sabia o que faria se ela olhasse. Fui indo pra esquerda, devagar. Achei um ambulante e comprei uma água. Encostei-me a um carro parado e fiquei olhando pra lá. O.k. Psicopatia total. A garota de cabelo curto estava falando próximo demais, e Débora desviava um pouco, não dava de ouvir o que elas falavam, é claro. Ela colocou a mão no bolso detrás do short e tirou uma carteira de cigarros. Colocou um no canto da boca e voltou a colocar a mão no bolso e tirou um isqueiro. Quando ia acender o cigarro a garota tirou o cigarro de seus lábios, o jogou no chão e beijou Débora. Fechei os olhos. Um, dois, três segundos. Não aguentei, abri meus olhos e vi Débora parando o beijo, não empurrou a outra garota, mas parou o beijo. Ela pegou outro cigarro e dessa vez acendeu. Fumava e conversava com a garota. Até que apareceu uma L200 e parou lá perto. Eles subiram na carroceria e o carro saiu com uma pressa assutadora. INFERNO. Pra onde será que ela ia? Com absoluta certeza ela ia ficar com aquela garota. Fiquei com raiva. Ela só queria alguém pra ficar, se não fosse eu ela ia chegar a qualquer outra.

Meu celular vibrou no bolso. Era Arthur. Ignorei a chamada e entrei. Já queria ir embora, não queria ficar ali pensando bobagens. Pensar bobagens em casa, na cama, era melhor. Demorou um pouco, mas consegui achar Arthur e ele estava com o primo que nos deu carona. Ótimo. Falei que queria ir e ele não pestanejou. Falou com o primo, mas ele ainda ficaria e voltamos de táxi.

Admito, não parava de pensar naquela garota. Débora. Não sei o que houve. Aquela sensação... Eu nunca tinha sentido nada nem parecido. Eu não sei. Quando ela me pediu, eu disse “não”, sem pensar e agora não pensava em outra coisa.

Chegamos e me despedi de Arthur com um beijo no rosto, e ele seguiu no táxi até sua casa. Subi até o sexto andar pelas escadas, respirando fundo a cada lance.

Igor abriu a porta pra mim.

- E aí maninha? Chegou cedo, hein! Pensei que ia inventar uma desculpa qualquer pra dormir fora.

Entrei em silêncio e fui em silêncio pro meu quarto.

- Quê??? – o ouvi dizer, voltando pro videogame.

Do quarto voltei na sala e coloquei R$ 50 ao lado dele no sofá. Ele sorriu e colocou o dinheiro na bermuda.

- Não precisa me dar troco – falei e voltei pro quarto.

Me joguei na cama. Eu não sabia o que eu queria, mas senti uma falta imensa de algo. Peguei meu celular e digitei rápido. Para Arthur: “passa aqui amanhã no mesmo horário”. Eu iria lá. Eu tinha que ir.

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Comentários

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Huum.. Legal.. Gostei =D . Continuuaa ^^

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