Folhas Secas - Capítulo 4

Um conto erótico de Hunno Saggie
Categoria: Homossexual
Contém 2210 palavras
Data: 09/11/2015 12:42:12
Assuntos: Gay, Homossexual, Romance

Esse capítulo eu deveria ter postado ontem, mas deu uns problemas com a minha internet, enfim. Tá aí, outra oportunidade dou reply nos comentários.

*

*

*

*

=========================================

Folhas Secas

Capítulo 4 – Uma Nova Convergência Entre o Passado e o Desejo.

— Espera, espera um pouco!

— ?

— Eu realmente tô com uma dúvida, esse Cristóvão... Esse Igor...

— Não. Não, não, não.

— Mas...

— Se quiser saber, terá que apenas me ouvir, quanto terminar talvez todas as dúvidas sejam sanadas. Posso continuar?

— Se não tem outro jeito, apenas te escutarei.

— Melhor.

*

*

*

*

Última semana de Março.

“Como vocês já devem saber, ao menos os que já trabalham aqui faz um tempo, a Páscoa e a Semana Santa estão próximas. E como muitos de nossos residentes ainda estão sentidos pela morte de Sebastião, temos muito do dever de cuidar do espiritual dos nossos velhinhos, então como nosso número de corpo médico diminuiu devido a saída de Juliana e Renan que se casaram, tô mudando os horários de cada um de vocês, e alguns de seus respectivos internos temporariamente“.

Explicava atenciosamente como uma líder, Nazaré, a chefia do corpo de enfermagem da Casa de Repouso de São Leopoldo das Graças, mulher responsável e de mão firme, era respeitada por seus subordinados, muito amiga da dona do Asilo, Lourdes Guimarães. Após seu pronunciamento, Nazaré entregava a cada enfermeiro, técnico e auxiliar que havia lá, pouco menos de 10 naquela ocasião, seus cronogramas e com prontuários precisos.

“Pelo jeito você vai ficar com o Seu Robson Neto.”, falava Eliza bisbilhotando a ficha de Igor que apenas observava.

“Você o conhece?”, questionava Igor que mal sabia do novo residente.

“Sim, é um senhor muito doce.”, afirmava Eliza indo para o balcão da recepção. “E muito triste também.”, comentou ela séria. “É novo aqui, tem duas semanas, mas cuidava dele no meu turno de madrugada.”, revelou ela pegando uma sacola.

“Entendo.”, suspirou Igor reflexivo imaginando o que podia ter seu novo interno.

“Vê se acorda!”, Eliza jogou uma sacola nele, era onde continha um uniforme. “E presta atenção, ele tem problemas cardiovasculares, deve tá aí no prontuário que a Nazaré te deu.”, disse ela segurando a ficha de Igor enquanto ele se ajeitava com a sacola.

“Tá, tá, já vi.”, resmungou Igor impaciente. “Pelo menos ainda cuido de Hilda, só vou conciliar com o meu turno.”, falava Igor organizando sua ficha. “Não precisa ficar me perturbando sempre, Eliza.”.

“O problema é que você ainda precisa de um puxão de orelha para deixar de ser pateta e impulsivo.”, falou Eliza gesticulando um puxão e passando na frente de Igor. “Parece que nem teve pais.”, comentou Eliza descuidada.

“Pais...”

De repente, Igor caiu uma profunda tristeza com o comentário insensível de Eliza, era como se tivesse o atingindo com uma bala, trazendo dores e lembranças de um passado. Eliza ainda pouco sabia de Igor, mas logo depois de palavras proferidas e de Igor totalmente cabisbaixo em um silêncio, saía de lá rapidamente para a sala onde a enfermagem se concentrava para se arrumar, quando Eliza percebeu o que tinha feito e foi seguindo Igor.

“Me desculpa, Igor!”, dizia Eliza atrás dele medindo as palavras. “É-é-é que...”, Eliza gaguejava.

“Não.”, disse Igor de súbito de costas. “Você soube disso faz pouco tempo mesmo, acontece.”, ele disse se virando com um sorriso, mas era visível os seus marejando.

Ver Igor assim, causou também causou um sofrimento em Eliza, mas a culpa por sua indelicadeza, fazia-a sentir um pouco da dimensão da dor de Igor, ela não se esqueceu mais sobre a história de Igor mais.

“Me desculpa, falei sem pensar mesmo, sabe que não foi a intenção.”, explicava Eliza sinceramente. “Eu sou assim mesmo, falo coisas fora da hora”, falou ela segurando o ombro de Igor.

“Tá tudo bem.”, respondeu Igor compreendendo a situação enquanto uma lágrima escorria de seu olho.

Igor sentou-se num banquinho onde ficou a pensar, seus olhos brilhavam de tanta mágoa e passado. Eliza sentou-se a junto dele para consolá-lo.

“Nem consigo imaginar como é viver sem ter meus pais.”, iniciou Eliza ressentida. “Parece que quem têm não pode nem imaginar isso...”, disse olhando para Igor que continuava triste. “Eu quero saber da sua história, sabe ao menos quem foram os seus os país?”, questionou curiosa.

“Não...”, murmurou Igor enquanto enxugava uma lágrima. “Nunca soube, nunca procurei saber. Apenas fui deixado no orfanato de Ribeirão Cruz, só isso que sei.”, revelou Igor indiferente.

“Nenhuma pista?”, indagou Eliza continuando.

“Nada. E não me faz falta”, afirmava com segurança. “Tenho minha vida e os amigos do Orfanato, que são minha família.”, E Igor sorriu por um instante.

Eliza pôde compreender melhor seu recente amigo e colega de trabalho, com certeza aquilo os aproximou mais do que pudessem imaginar, em um abraço singelo e reconfortante, era verdade para Igor que ele não precisa de seus pais biológicos para ter uma família feliz e amorosa, mesmo que nem sempre junta.

“Preciso de ajuda aqui, alguém...”, uma voz ressoava ao entrar na sala.

Em um súbito reflexo, Eliza e Igor se desprendiam do abraço, levantavam e Igor se afastou, virou para trás ao reconhecer a voz, na tentativa de esconder seu estado quando reconheceu de quem se tratava.

“O-o-olá, doutor Humberto”, dizia Eliza nervosa vendo quem era.

“Aconteceu algo?”, indagou Humberto estranhando a situação quando acabara de entrar.

“Nada, doutor.”, respondeu Eliza prontamente. “O que deseja?”, perguntou postergando o assunto.

“Sim, estou à procura de um enfermeiro ou alguém para me ajudar a tirar Dona Meire da cadeira de rodas na cama de seu quarto, Igor...”, explicava Humberto sua situação e fazia menção de chamar Igor se aproximando.

Percebendo a atitude de Humberto, e a questão de Igor que não queria ninguém o visse naquele estado, como boa amiga, Eliza bruscamente fica na frente de Humberto impedindo que continuasse.

“Eu posso, Doutor Humberto!”, oferecia-se causando espantou no médico. “Onde está Dona Meire, mesmo?”, já perguntava Eliza não deixando escapatória.

“Ah!”, suspirou Humberto confuso. “No meu consultório.”, disse ele apontando para porta.

“Vamos!”, E Eliza puxando Humberto pela mão saíram da sala.

Igor se sentiu agradecido pela atitude de Eliza, nem mesmo ele próprio entendia o medo que sentia com a presença pelo Humberto, por vezes tentava compreender como algum tipo de sentimento, mas era demais até pra ele. Assim Igor, depois de recompor começou a priorizar-se somente em seu trabalho, que poderia ser mais tumultuado que se esperava, mas a conversa com Eliza deixou um gosto de nostalgia nele.

|

|

|

|

“É... Parece ser por aqui.”

Cristóvão chegava ao local, era uma vizinhança pacata em área residencial, cheio de campos e lugares abertos, mas a Casa de Repouso de São Leopoldo se destacava, era grande, tinha muitas áreas verdes, plantas e árvores exóticas para aquela região. Cristóvão reconhecendo o lugar, sentia-se em frente um banco debaixo de uma árvore que tinha no meio entre duas ruas, bem em frente ao asilo, passava raramente alguns carros, a maioria era de pessoas em bicicletas. Porém Cristóvão não estava interessado no local, queria só ficar observar primeiramente o asilo, caso algo acontecesse, ele tinha em mente, mas o lugar era de um silêncio e calmo demais, só uns guardas em vigilância lá dentro. Um lugar onde Cristóvão se relaxava, pelo menos até o mundo digital se manifestar.

“Trim trim!”

Nova mensagem de Cauã

“E aí? Chegou? O que pensa em fazer?”

Mensagem de Cristóvão

“Nada. Só vim visitar a vovózinha. Que mal há nisso?”

“Trim Trim”

Nova mensagem de Cauã.

“Chapeuzinho vermelho não gostaria nada disso. E o mal tá em você mesmo, Cris”

Mensagem de Cristóvão.

“Não seja fuxiqueiro, tenho ódio disso. Não precisa ficar me enchendo o saco o tempo todo. Flw”

“Trim trim!”

Cristóvão não respondera mais seu amigo Cauã, depois de tanta persistência achou melhor desligá-lo, não que ele odiasse seu amigo virtual, era o único talvez que ele contasse sobre sua vida, desejos e temores que andavam em uma sintonia declinante pessoal e emocional. Então Cristóvão quase enfadonho em sua circunstância de espera, começa a se questionar se deve ir até lá e explorar o ambiente ao menos.

“Esse lugar é calmo demais, muito diferente do que imaginava dos asilos.”, falava Cristóvão a si mesmo atenuando-se à questão.

Por momentos, Cristóvão tomado pela indecisão, decidia ir até lá e entrar para obter alguma informação conivente, mas ora hesitava e voltava a sua posição de sentinela de tão fastio.

|

|

|

|

“Alô? Alô, gente?”, Igor meio desnorteado falava no telefone da cozinha.

“ ’EU TAMBÉM QUERO FALAR COM ELE!’ ‘MEUS ÓCULOS, NINGUÉM SAI!’ ESPERA, UM DE CADA VEZ, TÁ!? BRUNO PEGA O ÓCULOS DA AMANDA!”, gritos e balbúrdia do outro lado da linha.

“Gente, tenho pouco tempo pra falar com vocês, tenho que trabalhar”, sussurrava Igor com a mão na boca entre o telefone com certo receio.

Igor ligara para seu antigo orfanato de Ribeirão da Cruz, o qual não mantinha certo contato há algum tempo, bem no período de seu trabalho, mas na cozinha onde era domínio de Zuleide e Ivanilda, duas cozinheiras de mão cheia, de confiança de Igor também para poder ligar da cozinha. Mas a ligação estava sendo mais caótica do que Igor esperava, deixando-o alheio à confusão.

“Desculpa, Desculpa!”, falava agora só uma voz feminina.

“Vanessa?”, indagou Igor hipotético.

“VAI DEVAGAR AÍ, COISINHA.”, gritava um tanto alto causando afastamento de Igor do telefone. “Desculpa, Desculpa de novo, Igor. São as crianças daqui, estão endemoniadas só porque souberam da sua ligação, Thiaguinho não parava de me atazanar, uffa!”, falava Vanessa já estressada.

“Agora tô me sentindo especial Ahaha”, sorria Igor com o falado. “Saudades tua, Vanessa, do Jean, da Pâmela, do Thiaguinho, da Amandinha, do Bruno, de todos.”, dizia Igor nostálgico e saudoso do que pudera lembrar. “Como estão todos vocês aí?”, perguntava preocupado.

“Mas é pra se sentir mesmo.”, respondeu Vanessa um pouco mais dentro da conversa. “Olha, lugar com crianças é sempre difícil, você sabe. Mas nos viramos bem, Jean tá sempre ajudando aqui a cuidar deles. A Raimunda tá sempre a mesma, mas confia mais em nós e assim vamos”, Vanessa explicava a situação. “E você como tá? Como de tá a vida aí em São Leopoldo e o trabalho?”, perguntava Vanessa também.

“Ah, tudo normal.”, Por um instante Igor pensou em falar tudo que ocorrera desde o início de seu trabalho, mas sentiu que não devia compartilhar tal coisa. “Os velhinhos daqui são muito doces e gentis, as pessoas com quem trabalho igualmente. Tô me acostumando à cidade.”, Relatava Igor sinceramente.

Vanessa era amiga de infância de Igor, junto com Pâmela e Jean, irmão de Vanessa, eram o grupo que sobrara no orfanato de Ribeirão da Cruz de sua época, não apenas o fato de terem crescido juntos, mas por decidirem viver toda vida juntos como uma família e a cuidar daquele que foi o lar deles. Vanessa com certeza era a mais velha e responsável do grupo, aquela que sempre avisava e dava sermões, talvez a com mais cara de mãe e irmã mais velha para Igor.

“Ah tá, que bom. ‘me dá, me dá me deixa falar com ele' espera um instante!’”, Vanessa e outro se debatiam pelo telefone. “Ei, Igor!”, Vanessa falava agora.

“Oi? Que tá acontecendo?”, perguntava Igor confuso novamente com o que acontecia no telefone.

“Jean quer falar com você, ui.”, disse Vanessa com a voz bruscamente desaparecendo. “Oi, Oi, Oi Igor”, falava uma voz entusiasmada na linha.

“Oi Jean!”, Igor sorria bobo.

“Como tá? Saudades de ti, guri.”, dizia Jean nostálgico.

“Bem, bem.”, respondeu de súbito olhando Zuleide e Ivanilda. “Também senti”, disse corado.

“Vem pra cá na semana santa?”, questionava Jean esperançoso.

“Olha, não sei ainda. Preciso ver meus cronogramas e tudo como fica aqui.”, respondia Igor totalmente perdido.

“Hum, tá certo.”, murmurava Jean desconfiado. “Tem amigos novos já?”, perguntou indiscretamente.

“Tenho só os daqui da Casa, me afeiçoei mais a Eliza, minha colega.”, dizia Igor categórico, tirando qualquer má ideia. “E a Pâmela, cadê? Não a vejo desde Janeiro.”, perguntou Igor evitando ficar no assunto.

“Ah, sabe como é a Pâmela. Vem aqui uma vez ou outra pra ver todos.”, Jean dizia com receio. “Tem vergonha desse lugar, acredito. E tá sempre na cola daquele playboy do Ivan.”, resmungava Jean irritadiço.

“A Pâmela não é assim, Jean. Se fosse nem aparecia mais aí.”, Igor defendia sua amiga. “Ela só não gosta de ficar relembrando coisas ruins do passado, eu compreendo isso.”, complementava reflexivo.

“Tá, tá, pode ser.”, Jean falava não querendo discutir com o amigo.

Jean era o melhor amigo de Igor, sempre esteve ao lado dele, em especial quando faziam vistoria para serem analisados por pais que queriam adotar, raramente os escolhiam. De certo foi o que os uniu, para algo até além de uma amizade às vezes.

“Tenho que sair agora, me deixa me despedir das crianças.”, Igor pedia ansiosamente.

“Tudo bem, espera um pouco.”, Jean disse enquanto tampava o telefone com um mão, dando para ouvir alguns ruídos, algo como: “Crianças, tio Igor vai ter que desligar, mas quer ouvir todos vocês se despedindo, então organização”. “Pronto.”, avisou Jean.

“Tchau Crianças!”, esbravejava Igor se contendo na cozinha, emocionado.

“TCHAUUU TIO IGORRR!”, gritavam em um uníssono.

Igor mais emocionado, demorou para desligar, depois de agradecido à Zuleide e Ivanilda, saiu da cozinha e voltou ao seu trabalho, talvez com mais amor e esperança do que antes.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive Hayel Mauvaisanté a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

gostei ... Beijos de sangue e fogo de um targaryen .

0 0
Foto de perfil genérica

hahaha... ri com esses virais da internet... estou como o ouvinte do prólogo da estória...

0 0