Ele tentou se matar e eu me apaixonei por ele

Um conto erótico de O.J. Carmo
Categoria: Homossexual
Contém 1226 palavras
Data: 04/10/2015 18:27:00
Última revisão: 04/10/2015 20:24:14
Assuntos: Gay, Homossexual, Romance

Estava comendo macarronada enquanto assistia televisão quando minha mãe entrou pela porta do apartamento suada e transtornada.

“Meu deus, o menino que mora lá em cima cortou os pulsos”.

“Como assim, mas...”.

Ela não deu atenção a mim, procurou as chaves do carro e saiu do apartamento sem me olhar. Desceu os degraus do prédio apressada, segurando no corrimão para não cair. Fiquei no corredor enquanto via o senhor que mora ao lado do nosso apartamento, descendo com Luís desacordado nos seus braços e com um pano amarrado nos dois pulsos. Os pingos de sangue demorariam dias para sair do piso.

Tirando o fato de acha-lo lindo, por ser alto, ter cabelos negros e ondulados, nariz reto, sobrancelhas grossas e perfeitas ter um mistério naquele olhar que me fazia ter pensamentos pervertidos em relação a ele, eu não sabia muita coisa sobre o vizinho que morava no apartamento de cima. Minha mãe uma vez por mês ia ao seu apartamento para limpá-lo, era um jovem solitário de 28 anos, com os pais na outra cidade. Já falei que era lindo?

Minha vida entrelaça com a de Luís justamente por essa tentativa de suicídio. Ele ficou dias e dias e dias internado, minha mãe resolveu ficar de prontidão, já que ninguém conseguia entrar em contato com alguém da família dele. E quando recebeu alta veio para minha casa; segundo os médicos era “muito perigoso um suicida ficar sozinho num apartamento sem ninguém”, e como desde que ele abriu os olhos apenas pronunciava frases monossilábicas, ninguém novamente conseguiu entrar em contato com a família dele.

Pois bem, minha mãe não poderia ficar mais dias somente para cuidar dele, ela tinha que trabalhar também, trepar com o novo namorado (minha mãe podia tá viúva, mas quem morreu foi meu pai :P), mesmo sendo caridosa com ele, poxa, ela também tem sua vida social. Já eu quase não saia de casa, 17 anos, nem trabalhava, meus amigos vinham a minha casa para ficarmos de boas, então minha mãe confiou a mim a cuidar do nosso hóspede.

“Pergunte a ele se quiser uma coisa, tente puxar conversa com ele, o doutor falou que ele tem que sentir acolhido amado, está num processo muito difícil da vida”

“E a senhora?”

“Já acolhi e amo demais, mas não quero desperdiçar a minha vida também”

“Mãe, a senhora sabe que está sendo muito cruel”

“Mamãe não é cruel”, dizia ela passando o batom “Mas esse garoto precisa é da família dele. Enquanto ele não fala nada, e enquanto eu não encontro contatos com alguém que o conheça temos de recebe-lo, mas também não devemos deixar de viver.

“okay”, respondi sorridente...

“Fique de olho nele, amorzinho”

“Okay”

Estando nós a sós em casa, tentei puxar conversar com ele, perguntava se queria bolacha (“Não”), ou outra coisa (”U-hmm), assistir televisão, jogar videogame, assistir um filme, navegar na internet, sei lá, matar pessoas, mas o cara só dizia não. Pensava comigo “se não fosse bonito não perderia meu tempo”.

Ele passava horas sentado na poltrona, de frente para janela, e era nesses momentos que eu não conseguia sair da sala, tinha medo dele saltar dali, porque da poltrona para o chão na rua era um pulo, e pra piorar ele nem ia morrer, o prédio tinha só dois andares, eu teria que ficar com ele no meio-fio tentando não ficar nervoso ao lado de seu corpo todo torto, cheio de fraturas expostas enquanto ele gemeria de dor esperando a ambulância chegar – okay, como pode perceber acabo pensando tragédias demais. Contudo ele só ficava reflexivo, seu olhar melancólico e distante, seu rosto plácido, numa calma que me fazia admirá-lo cada vez mais.

Estava sozinho no meu quarto, estava tocando uma música agitada do Johnny Cash e pirando loucamente, sem medo de ser ridículo, como se minha cama fosse o palco, o travesseiro a guitarra, quando o Luís abre a porta e faz aquela cara inexpressiva típico de quem tá te julgando como um ser de inteligência inferior.

“Desculpe”. Ficou um tempo segurando a maçaneta da porta olhando-me.

“Eu. Tava. Matando. Uma. Aranha”, disse pausadamente, morto de humilhado.

“Com o travesseiro?”

“Morro de medo de aranha”, disse com toda a minha dignidade.

“Ahh... Eu ouvi do outro quarto...” ele alisou seus cabelos ondulado, falando sem jeito “Cash, cara, amo esse cara”

“Sério, cara?”, perguntei descendo da cama e colocando o travessei sob ela.

“Pois é cara”

“Que massa cara”.

Então entramos num silencio constrangedor. Era a primeira vez que mantinha um diálogo com ele que foi além de frases monossilábicas, e não conseguia continuar, nada vinha a minha mente. Até que...

“Quais músicas você tem ai no seu computador?” ele perguntou sério.

“Ah, muitas, sabe...” respondi sentando-me na cadeira em frente ao meu computador. Senti-o aproximar-se de mim, mais tão próximo que senti o calor de corpo. Cliquei na minha pasta de músicas e fiquei mostrando minhas músicas para ele.

“Beatles, massa, Capital inicial, curto um pouco, Led Zeppelin muito bom... Lady Gaga?”

“É Lady Gaga”, falei um pouco chocado com o seu tom desdenhoso.

“Okay, tem uma discografia quase boa e tem um bosta para estragar...”

“Lady Gaga não é uma bosta”, retruquei indignado, “Ela é tão rocker-punker-metal quanto a maioria dessas bandas que tem por aí. Você não sabe do que tá falando...”

“Sei muito bem do que estou falando, fiz faculdade de música antes de administração. Identifico uma bosta de longe” ele disse todo orgulho sentando-se na minha cama.

“Você é muito preconceituoso. Lady Gaga salva pessoas, suas músicas são motivadoras, ajudam as pessoas a serem que são e sua capacidade vocal é impressionante”

“Bla, bla, bla” ele desdenhou.

Fiquei tão irritado, que nem sabia o que falar naquele momento. Na verdade, tinha muita coisa para falar, argumentos ótimos, mas que preferi não os desperdiça.

“Não tem papo com você”, respondi tentando não demonstrar irritação.

Ele riu e coçou a barba que crescera desde que ele voltou do hospital, dando mais charme rustico a sua pele morena.

“Só prova que estou certo” ele disse presunçoso, o que me fez responder sem pensar “Ah, mano se mata”, e a tensão pesou no ar. Ficamos nos encarando, naquele clima tenso quando desesperado tentei me desculpar “Ai, desculpa, desculpa, desculpa, não foi minha intenção”.

Ele riu novamente, dessa vez mostrando seus dentes claros contrastando com a sua pele barbada morena. “Você é muito besta, garoto”.

Acabei rindo também, quando senti sua mão sobre a minha – me arrepiei por inteiro – mas ele só iria pegar no mouse que estava sob a minha mão.

“Então vamos ver o que encontramos aqui”, ele disse enquanto eu largava o mouse e passa para ele.

Como a minha cama ficava ao lado da mesa do computador, praticamente grudada a ele, e Luiz sentado nela, seu corpo estava muito próximo ao meu. Podia sentir todo o seu calor. Enquanto ele parecia escolher uma pasta, dava olhadelas pelos os cantos para ele.

“The Smiths”, ele disse enquanto clicava na pasta. Eu sentia meus lábios tremerem, era aquele balão que inflava no meio do seu peito e crescia impressionantemente tão rápidos, que você nem nota o mundo ao redor. Eu só conseguia pensar em como o seu rosto estava perto do meu. No primeiro instante senti os pelos de sua barba roçarem no meu nariz. No segundo, quando ele colocou uma música para tocar, beijei-o instintivamente, surpreendendo-o.

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Comentários

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Conto q me chamou atenção, título curioso, curti

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Título cômico e texto idem, como eu supus. Você conseguiu me fazer rir, com certeza sabe fazer humor muito bem. E esteriótipos interessantes também.

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O conto é ótimo e tem Lady Gaga no meio ? AMEI, já vou comecar a acompanhar. Abracos man...

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Ótimo primeiro capítulo esperando continuação

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Set list ótimo! E sim,lady gaga é muito boa...Começou bem... Vou acomoanhar

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Ja me ganhou com The Smiths <3 Veridico teu conto?

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Começou muito bem, parabéns. Esperamos ansiosos a continuação.

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