Na Ordem do Caos 12 (Penúltimo Capítulo)

Um conto erótico de Hayel Mauvaisanté
Categoria: Homossexual
Contém 2570 palavras
Data: 28/10/2015 15:13:30
Última revisão: 29/10/2015 01:16:56

Na Ordem do Caos

Capítulo 12 (penúltimo) - Prelúdio e Presságio do Caos.

===== Casa 25 de Dezembro 15h40min =====

https://youtu.be/WgjiGDO7_EA

— Pólux?

Esbravejava explorando ao entrar na casa, que parecia normal, do mesmo jeito que eu deixara.

— Cástor?

Enquanto dava uma rápida visualização na cozinha com a cabeça, clamava por meus bichos afim de saber se eles estavam ali, com certeza estava com saudades dele e me sentindo mal por abandoná-los, assim como fui abandonado uma vez.

— Cadê vocês...

A casa estava um pouco escura devido estar fechada,dei uma rápida vistoria pelos cômodos procurando superficialmente meus gatos e nada. Estava começando a ficar mais preocupado, o que não fazia muito sentido, eles sempre saíam e voltavam para casa quando quisessem, era puramente estranho como me sentia, um mau agouro preso em mim. Logo me acalmei, bastava apenas ser paciente, a ração e água deles não estavam intactas, sinais que apareciam. Então cuidei de colocar meu celular para carregar em cima da minha cama, enquanto me abaixava para tirar o carregador de uma mochila, uma moeda de 50 centavos escapuliu juntamente com o carregador que eu acabara de retirar, deu um pulo voraz e caiu alguma distância atrás de mim.

"Ploft Ploft!"

A moeda prateada parecia ter tocado o chão nas bordas de sua circunferência, podia vê-la rodopiando intensamente, meus olhos podiam acompanhar aquela pequena bola de prata ilusória, seu som tilintante ecoava através de meus tímpanos por todo quarto, eu estava hipnotizado, meus pensamentos pareciam se esvair a cada volta da moeda, abrindo espaço pra uma estranha sensação. Era a segunda vez que estava tão atrapalhado que algo caía de mim no mesmo dia. A moeda já diminua seu movimento e lentamente se deitava no chão, parecia durar muito mais que seus segundos naturais na minha mente, era perturbador. Fiquei uns segundos parado sem piscar, até cair em si e pegar a moeda mais rapidamente possível, coloquei em cima da cama, e continuei a fazer o que devia, coloquei meu celular para carregar, esperei alguns minutos para ligar, para assim ligar para Lourenço, então disquei seu número.

"Click click click!"

— "O número chamado encontra-se desligado ou fora da área de cobertura".

Tentei novamente.

— "O número chamado encontra-se desligado ou fora da área de cobertura".

— Droga, Lourenço! – reclamava eu angustiado.

Tentei ser mais paciente, esperaria mais um pouco, comecei a olhar o quarto e pensava como aquela casa não seria mais minha, não saberia o que faria dali para frente para resolver o problema da moradia, mas estava demasiado cansado, a primeira que fiz foi tomar um banho longo no qual eu pudesse relaxar e pensar no que eu faria para me entender e reconciliar com Lourenço, claro, eu tinha que perdoá-lo, mas também errei com ele, disse coisas horríveis a ele também, era estranho como fomos destrutivos um para o outro, porém no fundo sempre soube o que ele era e o que ele sentia, eu fazia questão de não acreditar, eu não podia simplesmente largá-lo por isso, tornava-me um espelho do passado, assim como ele foi um. Comecei a achar que Lourenço estava magoado e não queria mais falar comigo. Bateu aquela tristeza profunda em mim durante o banho, talvez o chuveiro pudessem ser minhas lágrimas, eu não queria perder o amor de Lourenço, qualquer que ele fosse, dei vasão a estes pensamentos, tinha que ser racional e ser paciente, pensar em como reatar tudo. Eu era muito neurótico, sempre imaginava o pior, Murphy devia ter grande influência sobre mim.

— Certo, Claus. – disse a mim mesmo.

Após meu banho de 19 minutos, fui me vestir, nada de retorno de Lourenço no meu celular. Eu nunca liguei para como me vestia, mas às vezes sentia ser necessário vestir algo apropriado em certas ocasiões, pretendia ir à casa de Lourenço que era longe e a casa dos pais dele, já que ontem fora véspera de natal, ele deveria estar com a família, por isso queria vestir algo mais simples possível para casa deles. Arrumado procurei mais minuciosamente a casa atrás do meus gatos, e ainda nada deles. Então desisti, continuaria a aguardar.

"O número chamado encontra-se fora da área de cobertura"

"O número chamado encontra-se fora da área de cobertura"

"O número chamado encontra-se fora da área de cobertura"

— Eu preciso falar com você, Lourenço...

Enquanto eu estava no sofá da sala tentando me comunicar com Lourenço novamente por várias vezes, já desanimado e nervoso, eram minhas últimas tentativas antes de pensar ir a sua procura na sua casa e de seus pais, ir à casa dos pais me trazia receio após saber o que eles achavam de mim. Já estava me preparando para sair, quando eu ouvi a porta bater, uma visita naquela hora e naquele dia, só podia ser Lourenço, certo? Fui atender ansiosamente.

"Toc Toc!" "Toc Toc!"

— A senhora é... – cochichava eu impressionado.

— Olá, Claus – olhou-me examinando. — Posso entrar? – indagava aquela senhora na minha porta.

https://youtu.be/_bgiUWnlt7s

— S-s-sim... Pod... – balbuciava estático.

A senhora era formosa, toda vestida de preto, elegantíssima, muito bem conservada, sinal que tinha dinheiro para fazer tratamentos e plásticas. Com certeza uma dama da sociedade, ela entrou e sentou-se na cadeira perto do meu sofá sem qualquer tipo de hesitação ou desgosto. Aquela senhora ao mesmo que exalava bons modos, tinha aura triste, estava abatida. Pude visualizar chegando próximo dela que estava com uma bolsa carteira preta que com certeza valera muito e um chapéu de viúva, indiscutivelmente ela estava toda de preto. Acredito que no instante que eu me aproximava dela, a realidade desabava em mim, era surreal demais para eu acreditar, estava muito chocado.

— Preciso falar com você, Claus... – dizia ela com uma voz sofrida.

— Sim, pode falar dona Magda. – suspirei caindo sentado no sofá.

Eu realmente não desejava acreditar, minha mente estava parada no tempo, lenta, não processava tudo direito. No fundo eu sabia o que estava acontecendo, mas eu precisava ouvir dela para cair em si, meu corpo estremecia por saber, a dor que aquela senhora emanava chegando a mim.

— Lo-Lou.... – ela parecia hesitar ao falar, era como se o coração dela se partisse a cada letra, ela pensou e respirou. — Lourenço se matou, Claus. – revelou ela com mais ímpeto.

Sequer conseguia proferir uma palavra do fato dito, estava sem chão. Era tudo muito esquisito, eu sentia um frio... Um frio dentro de mim. Tentei enxergar a dona Magda, seu olhar severo e padecido. Atingido pelas suas palavras, imerso em vazio. Dona Magda mudou seu semblante severo e impetuoso e seus olhos começaram a brilhar, podia ver mais claramente a dor.

— Estávamos tão felizes, eu e o pai dele. – dizia ela com a voz chorosa. — Ele tinha dito que passaria a noite de natal com uma pessoa muito especial... – ela pausou ao olhar para baixo. — Pensávamos "tudo bem, deve ser Lisa", mas estávamos tristes por ele não passar a ceia conosco, em família. – uma lágrima caiu do rosto dela.

— Dona Magda... – murmurava eu padecido com tamanho sofrimento.

— Era muito suspeito, ele poderia trazer Lisa e seus pais que eram nossos amigos, então pedimos para convidá-la. – suas mãos estremeciam segurando forte a bolsa. — Ele disse "não, não é Lisa", ficamos muito intrigados com quem seria, mas ele nada nos disse. Apenas saiu de casa. – podia sentir sua voz trêmula. — No fundo sabíamos quem era, mas não queríamos acreditar. – seus olhos marejados me fitavam com dor e rispidez.

— Dona Magda, e... – eu não conseguía fazer nenhuma sintaxe nas palavras.

Sua dor me atacava, podia sentir cada pedaço de seu corpo em luto, perguntava-me se ela estava me odiando por tudo... Eu não queria olhá-la, eu sentia vergonha de tudo. Mas precisava encará-la.

— Então ontem à noite ele disse que ficaria para ceia conosco – disse ela recobrando o fôlego. — Você pode imaginar a minha alegria, Claus? – indagou ela me fitando com furor. — Eu estava tão feliz por meu filho Lourenço nos escolher... E passar o natal em família. – ela olhava para o alto, como se o visse. — Só que nem tudo é como a gente espera, havia algo errado com meu filho. – ela respirou fundo, lágrimas caiam sobre seu rosto.

Queria tanto consolá-la, mas eu era indispensável. Talvez eu já tivesse interferência demais naquela família totalmente abalada, devia me limitar a ouví-la, pelo menos por respeito.

— Ele veio ontem à noite para nossa ceia. – tentava ela se recompor. — Mas... Mas... – suas tentativas eram vão, as lágrimas teimavam em cair. — Ele chegou em casa transtornado, muito abatido. – Ela voltou a me olhar com toda dor que uma mãe pudera ter. — Ele estava bêbado, muito bêbado... – comentava ela sofridamente. — Meu filho nunca foi de beber, Claus – ela me olhava com misto de tristeza e indignação.

— E-eu... – gaguejava ao tentar falar algo.

— Eu fui preocupada para o quarto dele, mas ele não me ouvia... Ele trancou o quarto. – ela chorava incessantemente. — Eu tentei falar com ele, mas ele não queria... – tentava falar entre o choro. — Ele disse, "eu vou descer quando for hora da ceia", eu apenas aceitei, mas sentia uma dor no peito Claus. – seu corpo todo estava trêmulo. — Foi quando ouvimos aquele som... – ela só chorava em pleno desespero segurando com força sua bolsa.

Ela chorou e chorou, debulhava-se em infinitas lágrimas, uma mãe cheia de lamúrias na minha frente, eu me sentia imprestável, minha dor não se comparava a dela.

— A-a-a porta estava aberta. – estava ela aflita apontando para baixo. — Ele tinha saído e quando o vimos, ele esta-ta-ta-va.... – parecia ser seu limite, ela mal conseguia falar.

— Senhora... – disse me aproximando.

Tentei abraçá-la, mas logo de sobressalto evitou sinalizando que não chegasse perto. Chorou por uns minutos e eu me martirizava, ela conseguiu se recompor o máximo que pôde.

— Encontramos Lourenço estirado no chão, o chão de seu quarto estava todo ensanguentado. – dizia ela com mais calma. — Loureço pegou a arma de seu pai e atirou em sua própria cabeça. – Era difícil ela dizer o que me falava, mas parecia que ela estava mais forte. — Lourenço se matou, meu Lourenço... – dizia ela com olhos marejados olhando para o vazio. — Meu Lourenço, um gênio, se foi... – suas mãos apertavam com força sua bolsa.

— Eu sinto muito... – foi só o que pude dizer cabisbaixo.

Ela me olhou com frieza com seus olhos marejados, analisando-me, eu não tinha certeza sobre seus pensamentos sobre mim, sua dor me pesava, eu só tinha certeza da minha inutilidade naquela situação.

— Eu sei que sente. – disse ela rígida fixando em mim. — Mas isso não é o suficiente, não vai trazer meu Lourenço de volta. – dizia ela com a voz trêmula.

Reinou o silêncio entre nós por minutos, esperava algum tipo de reação dela me culpando ou me repreendendo pela morte de Lourenço, mas nada. Não dizia sequer uma palavra, eu ficava olhando para baixo para tentar achar alguma razão, mas eu só devia respeitar seu luto mesmo.

— Você não imagina como é perder um filho logo na natal... – comentava ela com semblante triste. — O que vai ser dos nossos natais sem Lourenço? – ela caiu em um choro inconsolável.

Fiquei a ouvir suas lamentações, sentir sua perda, porque era minha também, mas não da mesma forma. Eu nunca sentira alguém tão triste assim, até então a maior dor que eu via e existia, até que ela parou e tentou se recompor, voltou a me encarar impetuosamente. Mas tinha que lhe dizer algo, minhas mãos arranhavam o estofado do sofá com força, tentei encontrar palavras, mas nada.

https://youtu.be/7lH9HqiZjH4

— Bem... – iniciou ela. — Tenho que ir embora. – disse ela se levantando. — Preciso enterrar meu filho. – disse ela me entreolhando. — Agora a tarde foi o velório de Lourenço, agora é hora do enterro. Não queremos que você vá, Claus. Augusto principalmente poderia ficar fora de si com sua presença. – avisou ela friamente.

— Tudo bem. – apenas aceitei olhando para baixo.

Acompanhei Magda até a porta, eu estava profundamente abalado, queria dizer algo, mas sentia que não devia. Porém, do lado de fora enquanto pretendia fechar a porta, ela me avisou.

— Claus... – clamou ela mais em si. — Eu sei que você não teve culpa da morte de Lourenço. – dizia com a voz sofrida. — Mas eu não deixo de pensar... – suas mãos apertavam a bolsa, seus olhos voltaram a brilhar. — Se ele não tivesse te conhecido, ele ainda estaria com nós. – ela se debruçou em choro, tentando abafar.

E mais uma vez, só pude observar sua dor, parecia uma dor sem fim. Acabava comigo, mas ela se recuperou mais rápido que anteriormente e voltou com seu olhar frio para mim entre a porta.

— Bem, vou indo agora. – disse ela se movimentando.

— Senhora... – iniciei tomando impulso. — Lourenço também era muito especial pra mim. – disse por fim confrontando-a.

Em um súbito senti sua reação de que sua postura se desconfigurou, pois logo ela postergou e voltou a sua postura impetuosa diante de mim, olhou-me com furor, mas agora com admiração também.

— Você também era muito especial para Lourenço, Claus.

Foi somente o que escutei de seus sussuros longínquos, talvez pudesse perceber um sorriso triste em sua face já totalmente abalada. Então Dona Magda se foi em passos morosos.

Somente observei com tristeza uma mãe que perdeu parte de si. Quando percebi, ela sumiu no horizonte, eu me virei e apenas com um leve toque na porta, ela fechou-se, expelindo um estrondo forte, era como se todo um mundo tivesse se fechado para mim, o mundo de Lourenço.

Desloquei-me prostrando meus passos até o sofá, onde pude ruir confrangido, minha vida se tornava uma tela de Salvador Dalí, meus sentimentos mortos desprendiam-se de dentro de mim, perambulavam pela sala em toques sôfregos, até onde o desespero poderia se propagar? Meu corpo não era mais um baú secreto, era limitado em minha realidade. Queria chorar, chorar incessantemente pela morte de meu único amigo que se fora, mas não conseguia sequer soltar o brilho de meus olhos, eram petrificados. Porém meu corpo por dentro se lamentava, corroía como nunca antes, não tinha noção de quanto tempo estático nesse estado sentindo a imensidão fúnebre e confusa ao meu redor espargindo, até que em um súbito relapso de memória de Lourenço comigo naquele dia que nos conhecemos, consegui envolver minhas mãos nas estofas do sofá, com tanta violência, que poderia acreditar rasgar, minhas unhas podiam se agarrar ao leve tecido em uma constante revolta pessoal, minha mente me levava a ele. Perguntando-me, quanto caos teria uma pessoa dentro de si para tirar a própria vida? Lourenço não mais existia fora daqueles o amavam, minhas lembranças alegres e boas com ele logo se apresentavam a mim, toda vez que ele tentou me ajudar, que ele tocara e cantara lindamente, que esteve ao meu lado, que me amou sofridamente. Eu não entendia o luto, podia não compreender a perda de alguém que você ama desse modo, por isso só podia observar Dona Magda, era a dor mais intensa que podia ver, mas eu não conseguia sentí-la, eu queria sentí-la, isso só me deixava mais abatido, sentia que Lourenço não fora tão especial como lhe dissera. Eu tinha me lamentado muito pela morte de pintinho quando criança, fiz algo que volga até hoje em mim na vida, mas não podia fazer o mesmo por Lourenço? De certo, era uma dor diferente, mas Lourenço era mais importante. E eu precisava fazer algo a sua altura.

— Lourenço... por que...

«O amor nos torna monstros, ou às vezes nos torna nossos próprios monstros, e o fim é apenas só consequência da monstruosidade que é o amor»

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Comentários

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Eu estou extremamente chocado com o que li, completamente desnorteado

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