Diários de um Hétero - Difícil não lembrar do que nunca se esqueceu.

Um conto erótico de Biel Sabatini
Categoria: Homossexual
Contém 2384 palavras
Data: 20/09/2015 01:31:50
Última revisão: 20/09/2015 09:26:06

Será que se existisse um manual de instruções pra tudo, as coisas seriam mais fáceis? Será que se existisse um mapa pra todos os lugares do mundo, ainda existiria o que se descobrir? Será que se todas respostas fossem sim, existiria o que perguntar? Se todas as bocas fossem acessíveis ao beijo, o sabor seria o mesmo? A conquista é diária, não instantânea. O fraco desiste rápido, acaba por se auto descartar, como em uma seleção natural. Ninguém sabe do dia de amanhã. Há sonhos que nascem da onde menos se espera e há desejos que morrem precoces demais. Muito da ausência do entendimento sobre certas questões. Muito por não saber como lidar com aquilo que não se entende. É a falta de um querer genuíno que acaba por assassinar situações que poderiam acontecer, se não fosse o medo de tentar.

Depois do trampo na academia, resolvi correr um pouco. Os treinos acabaram mais cedo e estava um lindo fim de tarde, quente e eu sempre gostei de me exercitar ao ar livre. Correr é uma forma que eu encontro pra expurgar as coisas da minha mente, aluviar. É como se todos as coisas ruins saíssem com o suor e me sinto bem mais leve depois. Então eu corri. Corri por mais de uma hora, só parando quando senti que minhas pernas não aguentavam mais. Me sentei um pouco pra descansar e depois resolvi ir pra casa. Estava encharcado de suor, mas como eu tinha uma blusa na mochila, eu troquei para que a outra não ficasse grudada no corpo.

Estava andando distraído, com os fones no ouvido, quando senti um toque no meu ombro. Levei um susto e quando me virei, vi o Erick.

- Nossa, eu to te chamando desde lá da esquina. Ouviu não?

- Não rs. Desculpa, tava distraído.

Eu respondi.

- Eu tava na faculdade fazendo um trabalho e vim a pé. Nem imaginei que te encontraria na rua a essa hora.

- Pois é, eu terminei mais cedo na academia e resolvi dar uma corrida.

- Percebe-se rs.

Ele disse, sorrindo.

- To nojento.

- Hoje ta bem calor, pensei em tomar um chopp. Coisa rápida. Topa?

- Putz, Erick. Eu to todo suado, nem rola.

- Mas é rapidão.

- Mesmo assim. To fedendo, não vou me sentir bem.

- Você não ta fedendo, mas ficar suado é foda. Fica grudando. Quer passar em casa e tomar um banho?

Ele perguntou.

- Eu prefiro. Tomo uma ducha rápida e enquanto isso você toma uma cerva gelada. Lá em casa sempre tem umas latinhas perdidas.

- Já é.

Ele aceitou, de prontidão.

Fomos caminhando e conversando até chegar ao prédio. Entramos no apartamento, eu joguei a mochila no sofá e fui pegar uma cerveja pra ele. Corri pro banheiro e tomei uma ducha rápida, colocando uma bermuda e uma blusa qualquer, para voltar pra sala. Encontrei-o parado, com uma cara estranha.

- O que foi?

- Nada não.

Ele respondeu.

Eu não entendi nada. Fui até a cozinha e peguei uma pra mim, sacudindo o cabelo molhado para tirar o excesso de agua e quando voltei, ouvi uns sons esquisitos, abafados. Então eles foram ficando mais altos e explícitos. A batida seca era evidente ser barulho de cama batendo contra a parede. Os gemidos, cada vez mais altos, se revezavam com ordens de comando como: “assim”, “mais”, “caralho”, entre outras. Era possível identificar claramente duas vozes masculinas emitindo os sons e parada parecia estar pegando fogo. Eu fiquei congelado, ouvindo tudo aquilo com a boca semi-aberta, chocado. Olhei para o Erick, que parecia tão sem graça quanto eu, tentando entender o que estava acontecendo.

- Eu pensei que tava ouvindo coisa... mas, você também ta ouvindo, né?

Ele perguntou, tímido, deixando claro que estava ouvindo a movimentação vinda do quarto do Kadu há algum tempo.

- Meu Deus....Que porra é essa?!

Eu disse, mas ele só fez me olhar, enquanto ouvíamos os gemidos e as batidas cadenciadas.

- Vem.

Eu disse, puxando-o para fora do apartamento.

Bati a porta com bastante força para que ele pudessem ouvir lá de dentro. Fomos andando, lado a lado, mas sem que nenhum dos desse uma palavra sequer. Eu estava com muita vergonha pra falar qualquer coisa e acreditava que ele também. Minha garganta estava seca e no primeiro boteco que eu avistei, me sentei e pedi uma cerveja. Estava muito calor e depois daquilo tudo, só uma loira estupidamente gelada para amenizar as coisas.

Resolvi falar, visto que o apartamento era meu também e eu que o levei lá.

- Erick, me desculpa. Eu não sabia que o Kadu estava acompanhado. Isso nunca tinha acontecido antes... Eu sinto muito.

- Tudo bem, não precisa se desculpar. Eu fiquei surpreso, mas foi até divertido. Mas... nunca tinha acontecido antes dele levar alguém lá ou dele se pegar com outro homem?

Ele perguntou, fazendo com que eu ficasse mudo.

Eu não sabia o que responder. Era evidente que ele tinha percebido que eram dois homens dentro daquele quarto, transando. Não tinha nem como não perceber. Tinha que dar uma resposta.

- A gente não tem por hábito levar pessoas pro apê e eu nunca tinha ouvido ele com alguém antes.

Eu respondi.

- Entendi. Ah acontece, ainda mais quando dividimos a casa. Ele tem o direito de aproveitar também rs. Eu não sabia que ele também curtia homens. Não parece...

- Você tem que parar com essa mania de achar que a pessoa pra curtir outra, tem que ter um jeito pra isso. O Kadu é um cara normal, como eu, você ou qualquer outro.

- É, você tem razão. É que a gente acha que sempre reconhece esse tipo de coisa, mas eu to aprendendo que não. Biel, aquele seu amigo de infância... Vocês já..?

Ele perguntou.

Eu já tinha me arrependido de ter aceitado o tal chopp. Estava me custando bem mais que eu poderia supor. Porém, eu não estava disposto a mentir e não iria poder fugir. Era melhor falar logo.

- Sim. O Bernardo foi o primeiro. Antes dele eu não tinha me relacionado com homens e nem imaginava isso. Eu namorava uma guria linda, era moleque ainda. Eu e ele éramos amigos desde sempre e tínhamos muito intimidade, cumplicidade. A gente tinha umas brincadeiras de luta, de apertar a bunda um do outro de sacanagem e às vezes batíamos punheta juntos, coisa normal, de garotos. Só que as coisas foram mudando, um sentimento estranho foi surgindo. Ele ia viajar, fazer intercambio... E eu me sentia arrasado com a partida dele. Então, na véspera, a gente bebeu demais e acabou rolando. Achei que ele fosse desistir de ir depois daquilo, mas ele foi. Fiquei sem chão, me sentindo muito culpado de ter deixado aquilo acontecer. Não aceitava gostar de um cara e neguei isso durante muito tempo. Então depois de 2 anos, ele voltou.

- Nossa... E aí?

- E aí, que eu o odiava. Ele lutou bastante pra reverter isso, mas no fim acabou errando de novo. A gente viveu aquele sentimento, fomos felizes por muitos meses. Eu sempre fui discreto com a minha intimidade. Não sou de me pegar com mulher na rua, logo não faria isso com homem. A gente tinha nossa relação protegida e era só nossa, mas ele queria mais. Ele queria uma fachada. Ele estava preocupado demais com a carreira de medico renomado. Acho que éramos muito imaturos, não sei. Só sei que acabou.

- Caralho, que história! Eu vi que ambos ficaram tensos naquele dia no parque. Você principalmente, mas não podia imaginar que tinha rolado tanta coisa. Você deve ter sofrido muito com tudo isso.

- Foi difícil. Tudo foi difícil. Descobrir a atração por um cara, foi muito confuso pra mim. Acho que quando uma pessoa já nasce sabendo que gosta de uma coisa, se aceita melhor. Eu não sabia. Minha vida era tão mais simples antes dele bagunçar tudo. Hoje em dia eu vejo tudo mais claro, porém foram anos pra isso.

- Imagino... Sentimentos são algo complicados. Não se explica. Eu sempre gostei de meninas, mas confesso que quando rolaram aquelas coisas quando eu era mais novo, eu curti muito. Só que fiquei com medo daquilo virar uma rotina e eu me tornar um viado, sabe? É ridículo, eu sei. E ouvindo você falar assim, eu vejo que na verdade isso não existe. O que existe é o que sentimos e só.

Ele disse, serio.

- É... Acho que o Kadu me ajudou bastante nisso. A entender melhor. As coisas acontecem sem que a gente tenha muito controle. Com o Allan foi assim também. Eu não queria me envolver com outro cara, muito menos com um tão novo, mas aconteceu.

- Como assim?

- É que depois que o Bernardo viajou, a gente acabou se aproximando. Depois de muito tempo eu tive coragem de contar o que tinha acontecido. E ele tinha um jeito tão leve de encarar tudo. Eu soube que ele também se relacionava com homens e pra ele tudo era tão normal. Eu fui mudando a minha cabeça.

- Então você e o Kadu também....?

Ele perguntou.

- É...

- Nossa! Todo mundo pega todo mundo, que loucura. O mundo é gay, é isso?

- Erick, não fala merda. Não é assim. Eu tenho muito amigos e eu não saio me pegando com eles. Na real, ninguém nem sabe dessa minha particularidade. Eu e o Bernardo somos amigos de infância e tudo aconteceu naturalmente. O Kadu e eu somos parceiros da vida toda e naquela confusão toda, nos sentimos a vontade pra nos permitir aquilo. O Allan eu conheço há muitos anos, desde que ele quase uma criança. As coisas não são simples e nem banalizadas como você colocou. Todos que eu me envolvi foi porque já conhecia há bastante tempo.

- Desculpa. Foi uma brincadeira infeliz. É que eu não podia imaginar mesmo. É novo pra mim, entende? A gente cresce com uma cabeça, com uma criação e com o tempo vai vendo que nada é como se pensava. Te agradeço por ter se aberto comigo e ter contado mais da sua vida. Não tem ideia como isso abriu meus horizontes.

- Eu te entendo, porque eu já fui assim como você. Relaxa, não me chateou. Acho que é complicado pra qualquer um.

Eu respondi, dando mais uma golada farta na tulipa de cerveja.

- Eu me excitei ouvindo eles transarem. Fiquei durão.

Ele disse.

Aquilo me pegou de surpresa, fazendo eu me sobressaltar e cuspir a bebida que ainda estava na minha boca, antes que eu engasgasse.

- Meu Deus!

Eu disse, limpando a boca com as costas da mão.

- Desculpa hahahaha. Acho que bebi rápido demais a cerveja e já to falando besteira.

- Tudo bem, você me pegou de surpresa. Só isso.

Eu disse, bebendo mais gole, dessa vez conseguindo engolir tudo.

- Eu só muito curioso, sabe? Como é? É melhor do que transar com mulher? Você gosta mais de homem do que de mulher? É muito diferente?

- Calma, Erick. Assim você vai me matar. Eu sou tímido pra falar dessas coisas...

- Eu sei, mas por favor. Com quem mais eu vou poder tirar essa curiosidade?

Ele pediu.

- É diferente, claro. Com mulher eu tento ser mais suave, mais delicado e com homem eu posso ter uma pegada mais bruta, mais forte. Eu não tenho uma preferência, porque meu desejo ta ligado a pessoa e pode ser um homem ou uma mulher, depende do momento.

- É mais intenso com homem, né?

- Na maioria das vezes. Depende da química. Eu me relacionei com caras que eu tinha muita química, muito sentimento envolvido, então era uma coisa surreal. De sair todo marcado, arranhado, mordido, o outro gozar sem nem tocar. Eu não me interesso por caras, eu me interessei por eles. Então tudo fluiu.

- Gozar sem tocar? Isso existe mesmo?

- Existe, mas não posso te dizer como é a sensação porque...eu...Eu...met..

- Ah, você é ativo? Entendi.

- É... Erick, Meu Deus, vamos mudar de assunto, porque parece que eu comi pimenta. Já to todo suado, com a cara queimando.

- Tudo bem, acho que exigi demais de você já. Valeu por responder. Rsrs

Ele disse, apertando de leve o pau por cima da bermuda, mostrando que estava excitado.

Eu desviei o olhar, para não me sentir ainda mais envergonhado com aquela situação. Estava disposto a ir embora o mais rápido possível, porque até aquele momento tudo que eu não tinha feito foi relaxar. Porém, ele realmente mudou de assunto e fui me distraindo, pedindo mais cerveja, ficando e quando me dei por mim já estava bem tarde. Eu não estava afim de ir pro apartamento e dar de cara com eles dois depois daquilo tudo, mas àquela hora, provavelmente o Guto já tinha ido embora e com sorte o Kadu estaria no quarto e eu não ria precisar falar com ele.

Pagamos a conta e fomos embora caminhando. Estava uma noite gostosa, com uma brisa leve que aplacava o calorão que fez durante o dia. Resolvi ir com ele até a casa dele, para que ele não voltasse a pé sozinho. Paramos quase em frente ao seu prédio, que eram daqueles antigos que não tem porteiro. A rua estava escura e quase não tinha movimento.

- Então é isso. Está entregue.

- Obrigado, Biel. Eu gostei muito da nossa conversa. A cerveja gelada caiu muito bem hoje.

- Também gostei, apesar de tudo rs.

- Pode confiar em mim. Eu gostei muito de saber mais sobre você e pude entender tudo. Eu sei que pode parecer loucura, mas eu quero muito fazer uma coisa.

Ele disse.

E antes que eu pudesse perguntar o que era, ele partiu pra cima de mim, me segurando pela nuca e me beijando com vontade. Eu cambaleei para trás, sentindo ele pressionar o corpo contra o meu. A língua dele invadiu a minha boca, faminta, se enroscando a minha, enquanto eu, sem reação, não me mexia.

- Erick, espera!

Eu disse, o afastando.

- Não, Biel. Deixa...

Ele disse, com a boca muito próxima a minha, voltando a me beijar.

-x-x-x-x-x-x-x-x-x

Continua.

Hey Galera,

Ta aí, mais um capítulo da minha nada mole vida. Acho que ao invés de “Diários de um Hétero”, deveria ser “Só me fodo.com”, porque é quase isso hahaha.

A continuação do capitulo está no blog: www.bielsabatini.wordpress.com. Comentem a vontade e eu respondo tudo lá no blog.

Quem quiser trocar uma idéia por email, manda lá biel.sabatini@yahoo.com

Abraços em cada um de vocês.

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Comentários

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Intro perfeita e o conto porreta. Você como sempre fodão em tudo o que faz. Continue assim sempre. :*

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Estive muito ocupado, mas aqui estou! EU SEMPRE ESTOU CERTO! KKK. Se eu fosse você teria me enfiado a cabeça em um buraco no chão nesse dia kkkk

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Gente! Eu não esperava isso do Erick, não esperava a volta do Bernardo, não esperava o Allan se drogando, aí jesus quanta coisa acontecendo de uma vez, estou de boca aberta aqui!

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Sobre o final da historia. Isso acontece bastante e falo com priordade sobre isso... não vou afirmar q foi o seu caso e vc seja tão vazio assim. Mas o mundo gay e extremamente futil em relação a aparência isso de fato é real.na maioria das vezes a aparência conta mais do q o bom papo e o carater das pessoas. (Infelizmente) e isso nem sempre esta ligado a baixa estima da pessoa e sim sobre a super exaltação do outro em achar q é sempre bom de mais pra dar uma chance a alguém q ele ache inferior vizualmente.

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Sabia que o Erick queria algo. Tá aí. E agora? Sera que rola?

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Biel..... Saudadespena que não vou saber vomo terminou pois continuo sem conseguir assessar seu blog 😢😢😢😢

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Você como sempre arrasou. Intro linda e conto emocionante. Correndo no blog pra saber o que aconteceu. Só você pra me fazer acordar cedo no domingo. Kkkk. Beijos seu lindo

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Eu vejo os outros aki escrevendo por voto e vc naum. Vc realmente eh carinhoso com os leitores e lah no blog issu fika bem claro. Por issu eu te amo e te sigu srmp. Vou comentar lah seu lindu.

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KKKKKKK, foda man. Que vida agitada vei, slc uahsauhshuas.

Esperando a continuação auahsuahsuas

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Verdade,acontece muita coisa nessa vida viu,uma loucura. Mas,como diz o ditado "depois da tempestade,vem a bonanza" acho q é isso. To ancioso pelo proxímo. Ah biel,vc tem um email pra contato ?

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